CAP Historia_do_Brasil_Colonia_Aula_5
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POLÍTICA E LEGISLAÇÃO
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INDIGENISTA, O TRÁFICO
NEGREIRO E O SERTANISMO
META
Apresentar a política indigenista e a atividade sertanista como alternativas ao tráfico negreiro.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
compreender a política e a legislação indigenista nos dois primeiros séculos da colonização;
identificar a contradição existente entre o projeto colonizador e o projeto missionário;
refletir sobre o papel que os europeus desempenharam no imaginário indígena, associando-o ao
processo de dominação e aculturação dos índios;
compreender a relação existente entre o sertanismo e o tráfico negreiro.
A Coroa portuguesa esperava contar com colaboração e participação dos nativos no processo
de ocupação. Já que na colônia havia cerca de 3 milhões de índios.
(Fontes: http://www.ipahb.com.br)
História do Brasil Colônia
INTRODUÇÃO
A historiografia brasileira se, por um lado, reconhece que a questão indígena
ocupa um lugar central na colônia, não reconhece, porém, a legislação indigenista
como um tema relevante. Estabeleceu-se a noção de que as leis são apenas uma
formalidade que não revela a realidade subjacente. O que predomina neste tipo
de historiografia é a simplificação do tema, em que a legislação é apresentada
sempre como contraditória e hipócrita, havendo generalizações como se as leis
se referissem a todos os índios sem distinção. Estudos recentes, porém, têm
mostrado que o tema é muito mais complexo do que se supõe.
Uma nova abordagem vem ganhando terreno na historiografia
brasileira. Essa nova visão sobre o tema considera que o sistema jurídico
é um dos fundamentos das ações dos homens. As ideias nele contidas são
muito mais do que mera retórica, pois refletem valores, princípios, projetos
e políticas “públicas” de uma determinada sociedade. Portanto, vale a pena
resgatar a legislação indigenista, porque ela representa a existência de uma
Política Indigenista e de um Projeto de Colonização forjados no conflito e
nas práticas cotidianas daquele período. Além disso, a legislação indigenista
permite a compreensão das ações do Estado e dos colonos, relacionando-as
com o sertanismo e o tráfico de escravos africanos.
Vamos por partes para não haver confusão. Inicialmente é importante
destacar os atores sociais dessa história. São eles: o Estado metropolitano
e seus agentes na colônia (a Coroa e as autoridades coloniais); os colonos,
nesse contexto também chamados de “moradores” ou fazendeiros (pro-
prietários de terras); os missionários, membros do clero regular de diversas
ordens, com destaque para os jesuítas; e os índios, é claro.
As atividades sertanistas tinham como principal objetivo a captura, legal ou ilegal dos índios. No Planalto
do Piratininga, na Vila de São Paulo, o sertanismo moldou um certo modo de vida, que caracterizava pelos
moradores fazendeiros, pobres criadores de gado, utilizarem da mão de obra indígena (legal ou ilegal).
(Fontes: http://www.domaracional.com.br)
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próprio em que não exercia poder nenhuma autoridade secular. Uma al-
ternativa igualmente ilegal, pois a legislação portuguesa previa a integração
dos índios à sociedade colonial. Desse modo, os padres se envolveram em
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conflitos incontornáveis pela disputa das terras e do governo dos índios.
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foi instalada em junho, pra cumprir a Lei de 1609 publicada em julho. Mas
nem tudo ocorreu como esperado porque houve uma violenta reação por
parte dos colonos, quando tomaram conhecimento dessa nova lei. Nas
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palavras de Stuart Schwartz:
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outrora a nossa nação era tão temida e respeitada das outras que a
ela ninguém resistia?Deixará a nossa covardia que os margaiá e os
pero-angaiapá que nada valem invistam contra nós?Não, não gente de
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minha nação, poderosos e rijos mancebos não é assim que devemos
proceder; devemos ir procurar o inimigo ainda que morramos todos
e sejamos devorados, mas vinguemos nossos pais”.
A vingança se prolongava como uma trama sem fim, visto que os ataca-
dos de hoje serão os vingadores de amanhã, e assim por diante. Segundo
Monteiro, “a vingança se consumava de duas maneiras tradicionais: através
da morte do inimigo durante a batalha ou através da captura do mesmo
e execução posterior no terreiro”. A execução a que se refere Monteiro
consiste na morte do prisioneiro com um só golpe de tacape, e a prática
do canibalismo ritual em que se acreditava poder assimilar as virtudes do
guerreiro morto tais como coragem e bravura.
Foram as incessantes guerras entre os grupos indígenas que pos-
sibilitaram a formação de alianças com os europeus cujo objetivo era o
fortalecimento da tribo em guerra. A princípio, os índios encaravam os
europeus como aliados que os ajudariam a combater seus inimigos. Qual
deles poderia prever as consequências nefastas dessa aliança? Isso não era
perceptível, pois os europeus estavam em menor número e pareciam não
oferecer qualquer ameaça a longo prazo. Martim Afonso Tibiriçá, quando
permitiu que os padres entrassem na sua aldeia, estava firmando uma aliança
com os portugueses para combater os vizinhos tamoio que, por sua vez,
aliaram-se aos franceses. A guerra entre os tupinambá e os tamoio durou
vinte e sete longos anos (1540 a 1567) com a derrota desses últimos e de
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CONCLUSÃO
Durante o período colonial produziu-se um enorme corpus legislativo
sobre a questão da liberdade dos índios, considerada a mais embaraçosa
questão que a Coroa portuguesa teria que enfrentar, visto que, ao mesmo
tempo em que pretendia inserir os nativos nas atividades produtivas como
trabalhadores livres, não poderia deixar de considerar as pressões econômi-
cas que levavam os colonos a burlar a legislação existente. O governo met-
ropolitano acreditava que o tráfico de africanos resolveria o problema da
mão de obra para as fazendas. Todavia, o tráfico negreiro era uma atividade
extremamente instável e irregular fazendo com que o preço do escravo
negro fosse inacessível para a maioria dos fazendeiros da colônia, os quais
procuravam na atividade sertanista de caça ao índio o chamado “remédio
para sua pobreza”, ou seja, a escravização dos indígenas.
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RESUMO
Desde os primórdios da ocupação do Brasil, a Coroa portuguesa tinha
bem claras e delineadas as estratégias de inserção dos nativos na econo-
mia colonial traduzidas naquilo que denominamos política indigenista. O
objetivo era transformar os nativos em trabalhadores livres, porém, tute-
lados ora pelos fazendeiros, ora pelos missionários. Essas estratégias se
mostraram insuficientes para lidar com a questão da liberdade dos índios
gerando incessantes conflitos entre os colonos e as ordens missionárias.
Havia uma brecha na legislação que distinguia índios aldeados e aliados dos
índios bravios ou hostis. Aos primeiros destinava-se a liberdade tutelada,
enquanto aos segundos, o cativeiro. Impossibilitados de adquirir mão de
obra africana para suas fazendas, muitos colonos se dedicaram à atividade
de caça ao índio e consequente cativeiro, criando as oportunidades para
escravizá-lo, de acordo com os interesses locais. Os moradores do planalto
de Piratininga se destacaram nesta atividade estabelecendo um gênero de
vida e uma sociedade completamente diferentes da zona açucareira. Uma
sociedade que se dedicava à pecuária e à produção de alimentos para o con-
sumo interno caracterizada pela rudeza de seu cotidiano e pelo isolamento.
Prezado estudante, você compreendeu as razões que permitiram com
que a organização tribal dos nativos habitantes da colônia fosse subvertida
e descaracterizada pelos colonizadores? Você é capaz de analisar a política
indigenista e sua relação com o tráfico negreiro? As atividades abaixo podem
ajudá-lo a entender e articular estes elementos extremamente importantes
para a compreensão do processo histórico do período colonial.
PRÓXIMA AULA
Vamos estudar aspectos culturais da América portuguesa, destacando
a religiosidade de sua população.
ATIVIDADES
1. Qual é o principal escopo da questão indígena?
2. De que maneira os aspectos da cosmologia e do imaginário Tupi ajudam
a explicar as bases históricas e os meios pelos quais a dominação portuguesa
foi possível?
3. O tráfico negreiro deveria contribuir para a consolidação da legislação
indigenista. Por que isso não aconteceu?
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REFERÊNCIAS
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz – O Feudo. A Casa da Torre de Garcia
D’Ávila da Conquista dos Sertões à Independência do Brasil. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2000.
MONTEIRO, John Manuel – Negros da Terra. Índios e Bandeirantes nas
Origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
SCHUWARTZ, Stuart B.- Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial. A Su-
prema Corte da Bahia e seus Juízes 1609-1751. São Paulo: Perspectiva, 1979.
ALENCASTRO, Luiz Felipe de – O Trato dos Viventes. Formação do
Brasil no Atlântico Sul. Séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000.
PERRONE-MOISÉS, Beatriz – Índios Livres e Índios Escravos. Os
Princípios da Legislação Indigenista do Período Colonial, Séculos XVI a
XVIII In CUNHA, Manuela Carneiro da - História dos Índios no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura, Fapesp, 1992.
FAUSTO, Carlos – Fragmentos da História e Cultura Tupinambá. Da
Etnologia como Instrumento Crítico de Conhecimento Etno-histórico In
CUNHA, Manuela Carneiro da - História dos Índios no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura, Fapesp, 1992.
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