DILIGÊNCIA - Zenite
DILIGÊNCIA - Zenite
DILIGÊNCIA - Zenite
Art. 37, CF
(...)
Eis que o novo regime de licitações e contratos e a respectiva plêiade dinâmica dos princípios
licitatórios está em compasso com a pedra angular do ensinamento do mencionado administrativista.
Destaca-se o contido no artigo 5º da Lei nº 14.133/2021:
Art. 5º. Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade, da publicidade, da eficiência, do interesse público, da probidade administrativa, da
igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da segregação de funções, da motivação,
da vinculação ao edital, do julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da
competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da economicidade e do desenvolvimento
nacional sustentável, assim como as disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942
(Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
I - assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado de contratação mais vantajoso para a
Administração Pública, inclusive no que se refere ao ciclo de vida do objeto;
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IV - incentivar a inovação e o desenvolvimento nacional sustentável.
Parágrafo único. A alta administração do órgão ou entidade é responsável pela governança das
contratações e deve implementar processos e estruturas, inclusive de gestão de riscos e
controles internos, para avaliar, direcionar e monitorar os processos licitatórios e os
respectivos contratos, com o intuito de alcançar os objetivos estabelecidos no caput deste
artigo, promover um ambiente íntegro e confiável, assegurar o alinhamento das contratações ao
planejamento estratégico e às leis orçamentárias e promover eficiência, efetividade e eficácia em
suas contratações. (Grifo nosso.)
III - terceira linha de defesa, integrada pelo órgão central de controle interno da Administração e pelo
tribunal de contas.
§ 1º Na forma de regulamento, a implementação das práticas a que se refere o caput deste artigo será
de responsabilidade da alta administração do órgão ou entidade e levará em consideração os custos e
os benefícios decorrentes de sua implementação, optando-se pelas medidas que promovam
relações íntegras e confiáveis, com segurança jurídica para todos os envolvidos, e que
produzam o resultado mais vantajoso para a Administração, com eficiência, eficácia e
efetividade nas contratações públicas. (grifo nosso)
Reiteramos a lição do professor Dallari, de que licitação não é um concurso de destreza, mas
ideário para o alcance de interesse público, justa competição no sentido material e a busca de
proposta mais vantajosa.
Com efeito, a estrela-guia constitui-se no paradigma do interesse público, a ser avaliado no caso
concreto, afastando-se sofismas e influxos inadequados do processo licitatório. O procedimento
constitui-se formalmente estruturado, para se evitar surpresas em seu rito, mas essa perspectiva
formal não pode macular os objetivos da licitação.
Nesse sentido, deve-se avaliar o núcleo central do princípio do interesse público e a legitimidade
do ato administrativo para o alcance dos objetivos licitatórios. Deve haver congruência na atuação da
função pública de modo que o agir do pregoeiro e do agente de contratação dever ser fundamentado
na razoabilidade e proporcionalidade.
A alegação de interesse público, conceito jurídico indeterminado, não pode alicerçar decisão
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cunhada de abuso de poder ou de ilegalidade, pelo contrário, deve estar plenamente motivada, de
forma circunstanciada e transparente.
O interesse público remete a conceito jurídico indeterminado, porque não se consegue com o conceito
identificar de forma objetiva o que lhe corresponde ou não. A expressão traz consigo uma relatividade,
uma vagueza, uma boa dose de subjetividade que não se consegue e não se deve afastar.
Logo, o interesse público remete a conceito que é aberto e dinâmico, que evolui ao passo da
sociedade e de seus valores, sempre vinculado, a qualquer tempo, ressalva-se, aos valores
plasmados nos princípios e direitos fundamentais da Constituição Federal, que formam uma espécie
de substrato mínimo a que os poderes constituídos e todos os agentes públicos se encontram
vinculados.
Nesse contexto, reforça-se também a reflexão acerca da faculdade de se utilizar a diligência, por
ser instrumento efetivo de c ompliance das aquisições e contratações públicas, inclusive, em razão do
que preceitua o artigo 64 da Lei nº 14.133/2021:
Art. 64. Após a entrega dos documentos para habilitação, não será permitida a substituição ou a
apresentação de novos documentos, salvo em sede de diligência, para:
II - atualização de documentos cuja validade tenha expirado após a data de recebimento das
propostas.
§ 1º Na análise dos documentos de habilitação, a comissão de licitação poderá sanar erros ou falhas
que não alterem a substância dos documentos e sua validade jurídica, mediante despacho
fundamentado registrado e acessível a todos, atribuindo-lhes eficácia para fins de habilitação e
classificação.
§ 2º Quando a fase de habilitação anteceder a de julgamento e já tiver sido encerrada, não caberá
exclusão de licitante por motivo relacionado à habilitação, salvo em razão de fatos supervenientes ou
só conhecidos após o julgamento.
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Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos
jurídicos, quando:
(...)
Desse modo, a partir de uma análise documental incompleta, cabe ao pregoeiro e agente de
contratação sanear o feito, quando não se tratar de vício insanável ao considerar a lógica-jurídica do
julgamento a ser proferido.
V - apresentarem desconformidade com quaisquer outras exigências do edital, desde que insanável.
A ambiguidade do que é ou não vício sanável e vício insanável continua campo emblemático para
o pregoeiro e agente de contratação, em razão da multiplicidade de interpretações, assim como do
perfil burocrata, legalista ou tecnocrata do agente público. É preciso ter em mente a eficiência e
eficácia do processo de licitação na tomada de decisão.
Nesse contexto, em fase de julgamento, a alegação de preclusão temporal não pode ser absoluta.
Deve ser avaliada de forma a promover um processo racional e funcional.
Não se deve jamais permitir um processo licitatório meramente formal, inclusive sob pena de
responsabilidade do pregoeiro e do agente de contratação por um erro grosseiro por ocasião do seu
poder judicante. Na dinamicidade de licitações eletrônicas, o procedimento deve ser ainda mais
dialógico e assim promover o devido processo legal substancial.
Assim, por ser medida de bom senso ao fundamento do princípio do formalismo moderado, ainda
mais para se reconhecer vício de julgamento passível de reavaliação, a realização de diligência deve
ser promovida.
De fato, constitui mecanismo legítimo de modo que a simples invocação da preclusão temporal
não pode ser absoluta, por se possível o alcance de anulação do ato de julgamento então proferido.
Nos casos concretos, deve-se antever de forma contextualizada o potencial prejuízo aos demais
licitantes ponderando-se a finalidade do ato praticado no curso do procedimento licitatório.
É preciso sopesar a compreensão da justa competição sob o aspecto apenas meramente formal
caso haja rompimento da supremacia do interesse público sobre o privado com impacto negativo ao
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erário.
Não se pode compreender o processo de licitação como feito hermético, sem dialética, mas com
dinamicidade, mas sim, a clarividência do devido processo administrativo substancial, a iluminar-se
com proporcionalidade e razoabilidade o iter procedimental.
Com efeito, importante avaliar a perspectiva do interesse público para a efetividade da justa
competição e da busca de preços vantajosas nas licitações e contratações públicas.
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e
pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a
terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria
Administração.
No regime de licitações e contratos, a preclusão temporal pode e deve relativizada nos casos
concretos, em razão do limite de preclusão administrativa nos termos da Súmula 473, do STF. Desse
modo, reforça-se a importância do princípio do formalismo moderado na perspectiva dos objetivos da
licitação para o alcance efetivo do próprio interesse público.
Com efeito, evita-se de forma desnecessária acionamento dos órgãos de controle e do Poder
Judiciário, com a correta e adequada compreensão da referida súmula a qual preconiza:
A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Importante observar o devido processo legal substancial e a razoável duração do processo, o que
significa também resposta em tempo próprio aos administrados acerca do seu direito de petição e do
processamento de recursos administrativos, nos termos do artigo 48 e 49 da Lei nº 9.874/1999:
Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir decisão nos processos administrativos e
sobre solicitações ou reclamações, em matéria de sua competência.
Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração tem o prazo de até trinta
dias para decidir, salvo prorrogação por igual período expressamente motivada.
Reitera-se que a diligência constitui meio legítimo de que se vale o pregoeiro e o agente de
contratação para o exercício de seu poder judicante o qual se constitui direito subjetivo para, inclusive,
promover eventual reconsideração e retratação de atos de julgamento.
Destaca-se que somente reconsidera quem julga. Ainda que subsidiado pela manifestação
técnica, a atuação do pregoeiro e do agente de contratação não pode engessada. Ademais, sua
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responsabilidade é individual, como autoridade decisória no curso do processo de licitação. Nesse
contexto, rememorar-se também que há vedação de decisão coordenada das instâncias decisórias no
âmbito das licitações.
“Admitir a juntada de documentos que apenas venham a atestar condição pré-existente à abertura da
sessão pública do certame não fere os princípios da isonomia e igualdade entre as licitantes e o
oposto, ou seja, a desclassificação do licitante, sem que lhe seja conferida oportunidade para sanear
os seus documentos de habilitação e/ou proposta, resulta em objetivo dissociado do interesse público,
com a prevalência do processo (meio) sobre o resultado almejado (fim). O pregoeiro, durante as fases
de julgamento das propostas e/ou habilitação, deve sanear eventuais erros ou falhas que não alterem
a substância das propostas, dos documentos e sua validade jurídica, mediante decisão fundamentada,
registrada em ata e acessível aos licitantes, nos termos dos arts. 8º, inciso XII, alínea "h"; 17, inciso VI;
e 47 do Decreto 10.024/2019; sendo que a vedação à inclusão de novo documento, prevista no art. 43,
§3º, da Lei 8.666/1993 e no art. 64 da Nova Lei de Licitações (Lei 14.133/2021), não alcança
documento ausente, comprobatório de condição atendida pelo licitante quando apresentou sua
proposta, que não foi juntado com os demais comprovantes de habilitação e/ou da proposta, por
equívoco ou falha, o qual deverá ser solicitado e avaliado pelo pregoeiro.”
A propósito, oportuna a reflexão e crítica do professor Joel de Menezes Niebuhr 4 ao avaliar que:
O ato de julgar deve pautar-se na regularidade do processo licitatório, com devido processo legal
administrativo tanto do ponto de vista formal e material.
Nesse contexto, não se pode olvidar o enunciado da Súmula nº 473 STF que impõe à
Administração a qualquer tempo, a revisão de seus julgados no âmbito administrativo.
Além disso, não cabe decisão coordenada no âmbito das licitações e contratos, de modo que se
deve-se atentar a Lei nº 9.874/1999, que regulamenta o processo administrativo no âmbito federal e
assim preservar o poder judicante do pregoeiro e agente de contratação.
Com efeito, a diligência, poder-dever legítimo do pregoeiro e agente de contratação, não pode ser
cunhada de máxima preclusão temporal, como no direito processual.
Certo que os direitos dos licitantes devem ser compreendidos com lógica-jurídica em razão do
ideário do interesse público. Não se pode deixar de observar o princípio da boa-fé objetiva dos
licitantes e a adequada gestão pública.
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comprometer a informação, transparência, explicação, justificação e, sob pena de se impor sanção e
coerção, punição pelos órgãos de controle e, inclusive, pela sociedade e imprensa e, assim, afirma
que:
“Primeiramente, o que determina se o sujeito está ou não submetido à necessidade de prestar contas
de seus atos é o fato de administrar interesses públicos. Outro aspecto diz respeito à sanção: se for
apurado abuso de poder ou desvio de finalidade, haverá aplicação de penalidade.”
Busca-se a observância dos princípios da licitação e dos objetivos da licitação, inclusive, em razão
da formatação de procedimentos eletrônicos e, não mais, por meio de procedimentos na forma
presencial.
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de
ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.
Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso
de dolo ou erro grosseiro
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A propósito, a compreensão acima pode ser deduzida da Lei nº 9.874/1999 ao abordar o poder
dever de ofício da Administração no controle de seus atos. A propósito:
(...)
§ 2º O não conhecimento do recurso não impede a Administração de rever de ofício o ato ilegal,
desde que não ocorrida preclusão administrativa. (grifo nosso)
Com efeito, deve-se avaliar o interesse público de um processo licitatório. Isso significa verificar a
regularidade do procedimento em seu o aspecto material e, portanto, a própria funcionalidade do
certame. Por seu turno, observa-se, assim, o núcleo essencial da garantia constitucional da licitação e
a segurança jurídica dos procedimentos licitatórios.
Importante frisar que a atuação do pregoeiro e agente de contratação não pode pautar-se em
decisão contrária ao bom senso, sob pena de se configurar prejuízo aos objetivos da licitação e aos
interesses e direitos dos próprios licitantes, em participar de um procedimento justo e transparente.
Certo que o procedimento licitatório tem que ser funcional à medida que observa os princípios e
objetivos licitatórios.
“O laconismo da disciplina legal quanto à realização de diligências não implica existir autonomia da
Administração para determinar a sua ocorrência segundo critério de conveniência e oportunidade. A
realização da diligência é um dever da Administração e se configura como um direito do particular.
Destaca-se que na fase de adjudicação e homologação dos feitos licitatórios, factível o poder
dever de revisão da fase externa da licitação para correção de eventuais irregularidades e superação
de vícios sanáveis. Evidencia-se, assim, ainda que de forma oblíqua, a importância do poder judicante
do pregoeiro e a legitimidade de suas atribuições. Eis o artigo 71 da Lei nº 14.133/2021:
De fato, busca-se a verdade real no julgamento proferido pelo pregoeiro e agente de contratação,
privilegiando não só as regras editalícias e o formalismo mínimo necessário, mas o objeto do certame
e os princípios da isonomia e da competitividade.
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b) não somente o potencial prejuízo aos demais licitantes, mas o prejuízo efetivo, asseverado ao
prejuízo sobressalente ao erário;
(1) ações e resultados legais e éticos para a promoção da garantia constitucional da licitação;
(2) boas práticas e processos de trabalho delineados, transparentes e com seu iter procedimental
fundamentado e legítimo;
Não se pode deixar de afirmar que o pregoeiro e agente de contratação deve exercer seu poder
dever judicante e sua posição jurídica para o êxito dos feitos licitatórios com o correto manejo da
plêiade de princípios licitatórios e com a cosmovisão das dimensões de sustentabilidades jurídica,
econômica, social, ambiental e cultural.
BIBLIOGRAFIA
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Niterói, Rio de Janeiro: Impetus, 2018.
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