Sobral Pinto - Por Que Defendo Os Comunistas
Sobral Pinto - Por Que Defendo Os Comunistas
Sobral Pinto - Por Que Defendo Os Comunistas
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Copyright 1979 by
Sobral Pinto
Editor:
Andr Carvalho
Capa:
Carlos Ferreira
Direitos da presente edio reservados
EDtTORA
COMUNICAAo
Rua Tobias Barreto, 255 - tel: 332-0641
Nova Suia - Belo Horizonte - Minas Gerais
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pea pelo Reembolso Postal ao endereo acima.
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OBRAS:
de Sobral Pinto: Lies de Liberdade, Editora Comunicao, Belo Horizonte,
1977; 1978
de Ary Ouintella: Combati iJ Bom Combate - romance - Editora Sonde,
Rio, 1971; Livraria Jos Olympio Editora, Rio, 1973; ed. Polonesa, Wyda
vvnictwo Literackie, Cracvia, 1976.
Um Certo Senhor Tranqilo - contos - Editora Sonde, Rio, 1971;
Editora Comunicao, 8elo Horizonte, 1976.
Retrospectiva - ontos ensaios, crnicas - 1 Livraria Jos Olympio Editora,
Rio, 1972; Editora Comunicao, 8elo Horizonte, 1977.
Qualquer Coisa a Mesma Coisa - contos e alegorias - Impacto Editorial,
Rio, 1975; Editora Comunicao, Selo Horizonte, 1979.
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Sanc/ra, Sandrinha - novela - Editora Comunicao, Selo Horizonte, 1977.
Co Vivo, Leo Morto - juvenil - Editora Comunicao, 1979.
in Antalogi de Contistas Brasileiros - ed. da Wydawnictwo Uterackie, Cracvia,
1977: A Torre de Menagem, Um Certo Senhor Tranqilo.
in O Papel do Amor - ed. fora do comrcio da I ndstria de Papel Simo, So
Paulo, 1979: Caando Paca - Como conto na ed. comercial da Editora Cultura,
So Paulo, 1979.
in Lies de Liberdade - de Sobral Pinto, a organizao e a apresentao: F mais
Lei - Editora Comunicao, Selo Horizonte, 1977.
CARTA DE SOBRAL PINTO A ARY QUINTELLA.
Rio de Janeiro, 7 de maro de 1979.
Ary Quintel/a.
Bom dia, desejando-lhe e Therezinha, sade, paz e 6xitos crescentes em
suas respectivas atividades culturais e diplomticas.
Quando estive em dezembro, em 8elo Horizonte, pedi ao Andr que espe-
rasse at a segunda quinzena de janeiro para iniciarmos a organizao do livro
"PORQUE DEFENDO OS COMUNISTAS", para que eu tivesse tempo c/e dar
buscas no meu alucinantemente desorganizado arquivo com o objetivo de encon
trar trabalhos importantes de minha atuao no patroc(nio de Harry Berger e Luiz
Carlos Prestes.
Foi deste modo que pude enviar para' Belo Horizonte alguns de meus traba-
lhos.
Agora, desde que voc comigo se comunicou, dizendo estar no Rio, inten-
sifiquei estas buscas com o sacrif(cio de meu sono. Tenho dormido, sistematica
mente, quase s tr6s horas da madrugada, levantando-me s cinco e quarenta e cin-
co.
Nesta madrugada encontrei trabalhos importantes, que precisam de figurar
no livro. So eles: Alegaes Finais em defesa de Harry Berger; R.zes c/e Apelao
do mesmo acusado; requerimento ao Ministro Relator da Apelao Crime nmero
4.899 pedindo providncias sobre o tratamento a ser dispensado a Harry Berger;
requerimento de Luiz Carlos Prestes ao Presidente do Tribunal de Segurana Na
cional requerendo o estabelecimento de um regime carcerrio, na sua qualidade de
preso polftico, de acordo com as leis reguladoras da matria.
A leitura destes trabalhos lhe revelar a importncia da incluso deles no li
vro.
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Alm desses trabalhos, entregolhe, tambm, a petio quo dirigi ao Juiz do
Tribunal de Segurana Nacional, Dr. Raul Machado, pedindo autorizao para en \, i
tregar ao Prestes uma carta da Me dele e outra da Senhora dele Me dele, reque l'i,
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rendo, simultaneamente, que fosse estabelecida uma correspondncia semanal en-
tre me e filho, sem mais a. necessidade de estar solicitando autorizao para ser
o portador permanente desta correspondncia.
No sei se j lhe entreguei cpia de petio onde eu ofereci embargos ao
Acrdo do Supremo Tribunal Militar, que confirmou a sentena de condenao
proferida pelo Tribunal de Segurana Nacional. Esses embargos so valiosos por
que demonstram que no havia o propsito de fazer justia aos rebeldes e sim de
esmag-Ios.- I: que o crime a eles imputado desaparecera com a destruio, pelo Ge-
tlio, da Constituio Federal de 1934. Desaparecida taTConstituio, desaparece
ria, igualmente, o crime de Prestes, Berger e Agildo Barata.
Reputo esta petio de.embargos como um dos documentos de maior rele
vo na histria da represso poltica em nossa Ptria.
Esses embargos, como as Razes de Apelao, de. Eurico Natal, precisam
de figurar no livro, uma vez que so documentos que, a lei no existe para os co-
munistas.
Cordialmente, seu amigo e seu admirador, agradecido,
Sobral.
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EM PORTO NOVO DO CUNHA,
NA ZONA DA MATA .
o GAROTO morava numa casa,
a casa tinha quintal, onde
vivia vasta, velha mangueira.
Ao voltar do colgio, o
garoto puxava sua.me pela
mo. Vamos ver a mangueira?
Naquele dia, contemplavam a
mangueira. A zoada che.qa da
rua: trs homens arrastavam
o tipo, que se debate debaixo
das pancadas incessantes. A
medo garoto treme e o garoto
berra: seus covardes I
Os policiais param. Miram
desdenhosamente o garoto e
prosseguem. O garoto sente o frOmito
percorrer seu corpo. Estamos
em 1903, acaba de nascer o
patrono da legalidade,
HERCLITO FONTOURA
SOBRAL PINTO.
de Lies de Liberdade,
Sobral Pinto,
Editora Comunicao, Belo Horizonte, 1977
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PANO DE FUNDO
Em 23 de novembro de 1935, o sargento Clementino Diniz Henriques!e
vanta o 21'? Batalho de Caadores, sediado em Natal, Rio Grande do Norte. No
dia 25, os capites Silo Meireles e Dtaclio Lima. e o tenente Lamartine Coutinho
levantam o 29'? Batalho de Caadores, na cidade de Recife.
No dia 27 de novembro, Agildo Barata, lvaro de Souza e Jos Leite Brasil
levantam o :F. Regimento de Infantaria, sediado na Praia Vermelha, Rio de
to. Os trs movimentos visavam a implantao de um governo comunista no pals,
liderado por Luiz Carlos Prestes.
Porque Defendo os Comunistas tem como objetivo mostrai os processos
contra Luiz Carlos Prestes e Harry Berger iniciados aps o levante, historicamente
conhecido como Intentona Comunista de 35. As Razes de Apelao,de Eurico
Natal foram anexadas ao texto para mostrar a constdncia da atuao de Sobral
Pinto.
Em Cavaleiro da Esperana, uma biografia de Luiz Carlos Prestes, Jorge
Amado retrata a ambincia cultural, intelectual e social do pas quela poca, mos
trando como Prestes - oficial do extremamente respeitado por seus cole-
gas e her6i nacional - se transforma em Secretrio Geral do Partido Comunista
Brasileiro.
Alm de Luiz Carlos Prestes e Harry Berger, este livro tem um terceiro per-
sonagem, Sobral Pinto, um advogado residente no Rio de Janeiro, que acaba de
merecer o t(tulo de intelectual do ano, ao receber o Prmio Juca Pato, na cidade
de So Paulo. Sobral Pinto j completou 85 anos de idade.
Lies de Liberdade,tambm editado pela Comunicao, em 1977, inclui
uma biografia de Sobral Pinto e notas a respeito das dcadas de 20, 30 40 e 50,
sendo aS de 60 e 70 documentadas nas cartas ali transcritas. Porque Defendo os
Comunistas baseia-se nos autos arquivados no Superior Tribunal Militar, bem como
em cartas de Sobral Pinto e entrevistas a mim concedidas.
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Alm de peas dos dois processos, coloquei neste livro cartas demonstrati-
vas do prprio estado de esprito de. Sobral Pinto ao aceitar as causas de Luiz
Carlos Prestes e Harry Berger como advogado ex-officio deles. Entre elas; a carta
para sua irm Natalina, prova de seu perfeito sentimento de dever.
Gostaria de lembrar: Sobral Pinto o primeiro detentor da Medalha Ruy
Barbosa, institufda pela Ordem dos Advogados do Brasil em 1970, e da Medalha
Teixeira de Freitas, conferida pelo Instituto dos Advogados Brasileiros.
Ary Quintella
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CARTA DE SOBRAL PINTO AO TENENTE CANEPA,
NOVO DIRETOR DA CASA DE CORREAo.
Rio, 15 de janeiro de 1938.
Sr. Tenente Canepa.
Saudaes.
Envio-lhe, para serem entregues ao meu cliente ex--officio Luiz Carlos Pres-
tes os livros por ele reclamados na sua carta de 12 do corrente a mim dirigida, e,
bem assim; uma carta que a ele escrevi. Os livros so os seguintes: Wells - "Abrg
de I'Histoire du Monde"; Charles Adam . "Descartes, sa vie et- 50n oeuvre";
Georges Hardy . "Le partage de la terre aux XI et sicles"; "Le Mois" .
N981, du 20 Octobre 1937.
Cabe-me, ainda, explicar-lhe que mando fechada a carta que enderecei ao
meu cliente ex-officio suprariomeado, porque, em todos os pases civilizados, o
princpio que rege o entendimento entre patrono e acusado este que Payen e
Duveau fixam (LES REGLES DE LA PROFESSION D'AVOCAT, pg. 211):
"A correspondncia tambm permanece secreta. A Administrao no abre as
cartas que o preso recebe de seu advogado. mister, compreende-se, que. a assi-
natura e o ttulo deste figurem no envelope".
Sendo de meu dever defender as prerrogativas da minha profisso, no
posso, no devo, e no quero concorrer, com o meu assentimento, para que os
meus entendimentos, MERA E EXCLUSIVAMENTE PROFISSIONAIS, fiquem
sujeitos censura de quem quer que seja.
Com estima e apreo, sempre ao seu dispor,
Sobral Pinto
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CARTA DE SOBRAL PINTO PARA FRANCISCO NEGRO DE
LIMA, CHEFE DO GABINETE DO MINISTRO DA JUSTiA.
Rio, 19 de feVereiro de 1938.
Negro,
Envio-lhe, como combinamos, os nomes de alguns presos pai ticas, com as
indices que me foram ministradas por amigos ou parentes deles, a fim de que
,!oc d incio ao servio de apurao, por meios meramente administrativos, da
justia ou injustia das prises contra as quais forem apresentadas a voc as
competentes reclamaes.
Ao tempo em que eu era Procurador Criminal da Repblica,chamei amim,
de acordo com o Presidente da Repblica e o Ministro da_Justia de ento, o en-
cargo de examinar, eu mesmo, atravs de interrogatrios, efetuados nas prprias
prises, e das diligncias que me parecessem oportunas ou necessrias, o bom ou
o mau fundamento das detenes levadas a efeito tanto pela Polcia quanto pe-
las autoridades militares. O meu parecer, apresentado direta e pessoalmente, ao
Presidente da Repblica, era por este acatado invariavelmente, pelas caractersticas
de serenidade e de que se revestiam no s as diligncias por' mim
efetuadas, como tambm as concluses a que eu chegava.
Desde que a minha fiscalizao, prestigiada incondicionalmente pelo Pre-
sidente da Repblica e pelo Ministro da Justia, passou a ser exercida, pessoal-
mente, sobre todas as prises efetuadas nesta Capital, "os revolucionriOS
sos", - como ento se dizia -, desapareceram como que por encanto.
Faa voc a mesma coisa, e ver, meu caro Negro, como o nmero dos
"comunistas", - expresso que veio substituir "os revolucionrios perigosos" de
outrora -, diminuiro de maneira impressionante.
Quero preveni-lo, entretanto, de uma coisa: se voc se dispuser, realmente,
a exercer sobre a Polcia desta Capital a fiscalizao-que a moralidade adminis-
trativa e os_ deveres de justia impem ao Ministro da Justia, por si ou pelos
seus auxiliares de mais imediata confiana, prepare-se para afrontar as investidas
daqueles que se habituaram ao regime do arbtrio o mais absoluto. I n-
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trigas, mentiras, calnias sero empregadas c6ntra voc, a fim de que o desnimo
o vena, ou, ento, se tOrne insustentvel a sua situao de chefe de gabinete
do Ministro da Justia.
Tenho, a este respeito, larga e dolorosa experincia. Vi-me a princrpio
hostilizado desabridamente. Todos os processos em que fertil a perfdia humana
foram utilizados contra mim.
Mas, aqui vai agora, o reverso desta exper!ncia: quando perceberam que
eu me sabia afirmar, e conhecia a arte da contra-ofensiva desassombrada, todos
se arrojaram a meus ps, temerosos de que eu lhes fizesse pagar caro os
os que estavam a prestar ao Governo da Repblica, e tranqilidade pblica.
No sei, meu caro Negro, se, nesta desmoralizao generalizada em que
carmos, e nesta ausncia sistemtica das mais elementares noes de responsabili-
dade, que reina no seio da administrao do pas, ainda ser possvel a voc fazer
alguma coisa que no represente esta marcha, contnua e fatal, para o. caos e a
anarquia, que todos estamos a divisar no horizonte da nossa vida poltica, social
e administrativa. Dia por dia, os problemas vo se complicando num crescendo
assustador, sem que os responsveis pelos destinos do pas consigam deter a de-
sagregao ,de todos os valores morais e sociais intimamente ligados soluo
de tais problemas.
Em todo o caso, como sou constantemente procurado por pessoas que
pensam que eu pqsso fazer alguma coisa em benefcio de presos polticos, -
suposio esta que no de todo infundada -, acho que de meu dever man-
dar-lhe as notas juntas, para que voc tome as providncias que, na sua conscin-
cia de governante, pensar que o bem pblico esteja a reclamar.
Cordialmente, o sempre seu.
Sobral Pinto
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CARTA DE SOBRAL PINTO A FRANCISCO NEGRO DE LIMA.
Rio, 14 de maro de 1938.
Negro,
Gostei de ver o tom do seu ca,rto. Aquele "Dr. Herclito Sobral Pinto", F.
Negro de Lima, Chefe do Gabinete do Ministro da Justia, cumprimenta", de
um sabor austero que condiz muito bem com os propsitos severos, do Estado
Novo, de que voc , entre ns, um dos mais slidos baluartes.
, I nfelizmente, meu Caro Negro, as fichas 'que acompanharam esse' carto
me convenceram, mais do que nun.ca, de que no existem atualmente' meios, nem
modos de vencer o arbtrio policial, que campeia soberano contra as liberdades
pblicas. Ao escrever-lhe a carta de 19 do ms p. findo, visei obter de voc a cria-
o de um rgo que tivesse autoridade suficiente para atuar sobre os agentes
subalternos da Pol(cia, impedindo-os de conservar presos, meses e meses a fio, in-
meros cidados brasleirs contra os quais tais agentes de Polcia no conseguiram
coligir prova nenhuma de sua atividade contra a ordem poltica e social
da Nao.
Meu objetivo, Negro, no era o de bter de voc o simples encaminha-
menta Delegacia Especial de Segurana Pol(tic e Social das notas sobre a priso
desta ou daquela pessoa, a fim de que esse rgo da nossa Pol(cia Civil desse a voc
as informaes vagas.e imprecisas, qe constam das fictias ql,Je voc acaba de me
mandar. Para consegufr to minguado resultado no valeria a pena ir bater a to al-
ta porta. Qualquer investigador meu conhecido, a quem me dirigisse, me daria as
informaes que voc me transmitiu.
O me interesso, meu caro Negro, por uma obra de
justia. Esta a fli .. ilidade que eu quero alcanar. Este regulamento de feitoria que
o Getlio decretou para o Brsil, em 10 de', n.vembro do ano passado, diz no
art. 170; "Durante o estado de emergncia i)"u o Estado de Guerra, dos atos prati-
cados em virtude deies no podero conhecer os juzes'e tribunais". Reduzido isto
a troco mido, este texto significa que a Polcia .pode prender quem bem lhe
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aprouver sem que a autoridade judiciria possa pr termo aos abusos e arbitrarie-
dades dos agentes do Poder Executivo.
Horrorizado com esta perspectiva foi que me d-irigi a voc para solicitar-lhe
que se erigisse voc em instncia revisora dos atos policiais, quando eles se ,reves-
tem das aparncias de mera perseguio, como est a acontecer com os casos de
Cirio Estrella Dias e D. Mary Huston Pedrosa.
Basta lanar a vista, com algum- esprito crtico, sobre as informaes
que a Delegacia Especial acaba de prestar relativamente a estas duas pessoas, para
que se veja, desde logo, e sem possibilidade de contestao, que nada, absoluta
mente nada, conseguiu a Poh'cia desta Capital apurar- contra elas, e que seja de
molde a justificar a priso que arT!bas esto a sofrer atualmente.
Estamos, meu caro Negro, em 1938. Pois bem, ao ser interpelada por vo-
c, a Delegacia Especial informa que esse homem, a quem no conheo, fez parte
do Bloco Operrio Campons, que j deixou de existir no sei h_ quanto tempo,'
tendo dirigido uma greve de metalrgicos ... em- 1935. Vemos, assim, que Cirio
Estrella Dias preso em 1938, ... porque em 1935 dirigiu uma greve de metal6r-
gicos! A mesma co!sa pode-se dizer da outra pessoa, D. Mary Huston Pedrosa, que
foi presa! em janeiro deste ano, - diz a Polcia -, em virtude de praticar delitos
atentatrios ao regime social vigente, como provam os documentos arrecadados
em seu poder.
Mas, que delitos foram esses? Que espcie de documentos foram arrecada-
dos em poder dela? Nda informa a Delegacia Especial a este respeito, " ... e isto
pela razo simples de que tais delitos no passam de mera fantasia dos agen-
tes subalternos da Polcia atual.
Se as coisas continuarem neste p, no ser de estranhar que, amanh, eu
me- veja recolhido a um dos xadrezes da Casa de Deteno como um dos comunis-
tas mais perigosos do pas, por ser o representante autorizado, entre ns, do fami-
gerado Comintern. Para obter semelhante resultado bastar que se considere como
prova sria e robusta as-afirmaes odientas e insensatas de um jornal como "A
PTRIA".
Voc no sabe, meu caro Negro, o que a Poh'cia poltica, quando aque
les que a dirigem sabem que no tm que prestar contas de "cada um de seus atos a
uma autoridade superior, que seja serena, sagaz, firme e experimentada. Atrs de
servios realmente inestimveis, em defesa da ordem pol tica e social, pratica a Pa-
I cia poll'tica abusos, violncias, e arbitrariedades de tal gravidade que assumem as-
pectos de verdadeiros suplcios chineses. Para se atingir a semelhante degradao
nada mais ser preciso do que a certeza, por parte dos agentes subalternos, de que
ningum os punir ou repreender pejos crimes perpetrados.
Estou a lhe falar como cidado desinteressada, que vive a pugnar, dentro
das suas modestas possibilidades, pela dignificao da vida pblica do seu pa(s.
Voc sabe que no sou poltico. Voc no ignora que tenho recusa,do sistematica-
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mente aceitar qualquer posto na nossa administrao pblica, animado do s intui-
to de dar demonstrao inequ(voca de que nada quero ou pleiteio para mim.
O meu nico programa, dentro ou fora da administrao pblica, vem sen-
do um s: a defesa intransigente do direito e justica, que, na exigic;iade dos
meus recursos intelectuais, reputo valores eternos, s arremetidas ca-
ducas dos homens que depositam toda a sua confiana nos mp'etos da fora e da
violncia.
Dentro deste ponto de vista, - que assume, diante dos meus olhos, o as-
pecto de imperativo intransponvel de um dever religioso, que a minha conscincia
catlica me aconselha a respeitar-, permito-me insistir junto de voc, a todo o
meu poder, para que consinta em examinar, com propsitos de crtico. sereno mas
autoritrio, todos os atos da Polfcia desta Capital. Revista-se, meu caro Negro,
para esta empreitada superior I do mesmo esp(r'ito de justia com que de 1924 a
1928 eu, como Pro_curador Criminal da Repblica, agi desassombradamente nos
governos do' Dr. Bernardes e do Dr. Washington Luis.
Tenha pena de centenas e centenas de pessoas que a estas horas, segregadas
do convvio dos seus parentes e amigos, esto a passar as maiores privaes nas' pri-
. ses de Estado, sem que tenham sequer a capacidade de se tornarem perigosas
estabilidade do regime. Volte, pois, a examinar, novamente o caso de Crio Estrella
Dias e D. Mary Huston Pedrosa, e estenda, alm do mais, a sua ao benfazeja so-
bre estes dqis casos que ora ponho diante das suas vistas.
Abraos cordiais do sempre seu,
Sobral Pinto
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CARTA DE SOBRAL PINTO A LEOCDIA PRESTES
Rio, 7 de maio de 1938.
Exma. Sra.
D. Leocdia Prestes.
Somente anteontem me veio s mos a carta que V. Exa.me escreveu-em
27 de abril ltimo Empenhado em atender, imediatamente ao seu pedido, dirigi
me, ontem, Casa de Correo, a fim de ver se me seda possvel falar pessoalmen-
te ao filho de V. Exa.,ao qual entregaria cpia da carta que V. Exa.me dirigira.
Aps ter esperado mais de uma hora, o Tenente Canepa mandou-me di
zer, por um contnuo, que, estanqo muito ocupado, no me poderia receber. Man- .
dei entregar-lhe, ento, pelo m_esmo portador, cpia da carta que eu acabara de re
ceber de V. Exa.
Vou me dirigir, novamente,_ ao Sr. Ministro da Justia, a fim de expor aS.
Exa. o que se passou, pedindo,outrossim, a esse titular que tome as providncias
necessrias cessao desta incomunicabilidade em que se encontra o filho de V.
Exa.relativamente pessoa do seu advogado ex-officio.
J chegara aos meus ouvidos que algo de anormal se passara com o filho
de V. Exa. A verso que me foi fornecida ,porm, um pouco diferente: narraram
me que fora chamado um mdico para examinar Harrv Berger. Esse mdico, cuja
identIdade no souberam me indicar, teria destratado Harry Berger por ocasio do
exame. O filho de V. Exa.,que est num cub(culo prximo, teria protestado con-
tra o procedimento do mdico indelicado. Este, irritado, levou o fato ao conheci
menta do Tenente Canepa, que ordenou fossem aplicadas ao filho de V. Ex-a.as
segumtes sanes: enclausuramento no cubculo, com privao do banho de sol.
por 30 dias consecutivos e piivao de toda e qualquer leitura.
Como sinal de protesto, o filho de V. Exa. teria, iniciado uma greve de fo-
me.
Eis, Exma. Sra., o que me foi contado por pessoa que se dizia bem infor-
mada, a qual, entretanto, no me falou em agresso fsica, e muito menos em
agresso pelo prprio Diretor.
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Para conhecimento de V. Exa.,envio. cpia das duas cartas que escrevi em 4
de dezembro do ano passado, e que no chegaram s mos de V. Exa. Mantenho,
neste momento, o mesmo esp(rito firmemente cristo de batalhar o bom combate
da justia e do direito. Superior s ins(dias, procuro no me afastar dos ensina-
mentos do meu nico mestre e senhor: Jesus Cristo. Seguindo as lies_do glorioso
Pontifice, atualmente reinante, permito-me repetir a V. Exa.as maravilhosas e co-
rajosas palavras do Cardeal Arcebispo deMunique,pronunciadasna sua
Catedral em 12 de ltimo: "Na mensagem do CardealVerdier, tambm,
o Santo Padre disse aos comunistas: "As vossas doutrinas no so as nossas doutri-
nas. Os nossos mrtires- (aluso Espanha) morreram para defender as nossas dou-
trinas". Mas, em seguida, o Santo Padre continuou: "Queremos ajudar os operrios
e defender os seus direitos. preparar para amanh a pacificao de todos
os homens na justia e no amor". O Santo Padre oferece a mo aos operrios. Com
o comunismo, nem conciliao nem colaborao so possveis. Mas, com os oper-
-rios comunistas transviados uma conciliao possvel. preciso distinguir entre
o erro e o transviado, entre a coisa e a pessoa. Ama-se o doente, mas no se ama
a doena. Estende-se a mo ao transviado, mas no se aceita o seu erro".
Um pouco mais adiante, este gigante da Ao. Catlica na Alemanha mo-
derna, totalmente escravizada ao paganismo, continua a sua lio memorvel: tiO
reino de Deus sobre a terra, no cume do qual se encontra o Pctpa, e os reinos deste
mundo falam lnguas diferentes, e tm princpios de governo diferentes. Os reinos
do mundo dizem: preciso infligir ao inimigo, neste caso ao bolchevismo, feridas
as mais profundas possveis; preciso extirp-lo pelo ferro e o fogJ. O reino de
Deus, que no deste mundo, diz: preciso curar as feridas com o amor do bom
Samaritano, preciso procurar os homens individuais com o amor do Bom Pas-
tor" ( LA DOCUMENTATION CATHOLlQUE, vol. 39, cols.397/398 l.
I nspirando-me nestes ensinamentos salutares que irei bater, de novo, s
portas do Supremo Tribunal Militar, quando tiver de opor embargos ao acrdo
que condenou a 16 anos e 8 meses de recluso o filho de V. Exa. Acredito que o
meu cliente ex.-officio no esteja mais disposto a me fornecer os dados e elementos
indispensveis a esta derradeira defesa. Os ltimos acontecimentos ocorridos no
Pas, e as dificuldades de todo o gnero que esto sendo criadas ao meu entendi-
mento livre com ele, talvez, haja,m levado ao seu esprito a convico da inanida
de de qualquer esforo do seu modesto advogado, que, apesar de tudo, no, per-
deu a sua -f na fora incoercvel dos grandes princpios morais, que regem o mun-
do. Sou dos que no acreditam na regenerao do homem e da vida social pela
atuao da fora e dos decretos governamentais. O saneamento dos povos e das
naes s se faz com -a valorizao da natureza moral da criatura humana.
Alis, o caso da sua netinha bem uma demonstrao do que vale a fora
moral. No fora a eficcia desta e V. Exa. no teria, neste ocaso doloroso da sua
existncia, a imensa consolao de poder debruar-se, maternalmente meiga, so-
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bre esta criaturazinha que sangue de seu sangue. Uma palavra ainda: se qut5er
utilizar-se de meu nome para remeter dinheiro para o filho de V. Exa.; poder
fazlo.
Queira receber, Exma. Sra. as homenagens respeitosas de
Sobral Pi nto
204
CARTA DE SOBRAL PINTO AO CARDEAL DOM SEBASTIAo
LEME,
EM 9.6.38.
Eminncia.
Devo a V. Eminncia, como meu Pastor, uma explicao sobre os aconte-
cimentos da Casa de Correo, ocorridos em 19 do corrente, e dos quais resultou
a minha 'priso, abusiva e ilegal, pela prtica dos crimes de desacato e ferimentos
leves, que falsamente me atribuiram.
Membro da Ao Catlica_desta Arquidiocese, e, alm do mais, Utn dos
seus dirigentes, por extrema generosidade de V. Eminncia, eu me esforo, dentro
da fraqueza da minha vontade, em me aproximar daquele modelo de que fala Pio
X (Actes de S.S. Pie X . ed. das "Questions Actuelles", vol. 29 , p9. 951 "Todos
os' que so chamados a dirigir, ou que se consagram a promover o movimento ca-
tlico, devem ser catlicos toda prova, convencidos da sua F , solidamente ins-
tru{dos das coisas da religio, sinceramente submetidos Igreja, e, em particular,
a esta suprema Cadeira Apostlica e ao Vigrio de- Jesus Cristo sobre a terra; eles
devem ser homens d ' u m ~ piedade verdadeira, de virtudes msculas, de costum'es
puros, e de uma vida de tal modo sem mcula que eles sirvam a todos de exemplo
eficaz" .
Ora, se eu tivesse, realmente, praticado os crimes que me imputam, eu esta-
ria, sem a menor dvida, faltando aos meus deveres de membro da Ao Catlica,
porquanto, no dizer de Tertuliano (Apologeticum . XXXVI, 21: "Querer mal, fa
zer mal a quem quer que seja, dizer mal, pensar mal de quem quer que seja, nos
tambm proibido".
Os fatos no se passaram como o fez crer a verso oficial. Mas, impedido,
naturalmente, pela censura governamental, de explicar aos meus concidados a
violncia de que fui vtima,- indita nos anais' da advocacia brasileira -, venho
cumprir o dever, para mim religioso, de fornecer a V. Eminncia a verso real do
que se passou.
205
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No documento que dirigi ao Presidente da Conselho da Ordem dos
Advogados, na Seo deste Distrito Federal, que ora remeto por cpia a V. Emi-
nncia, encontrar o meu querido Pastor a narrativa, resumida mas fiel, de tudo
quanto ocorreu comigo no interior da Casa de Correo. Nessa exposio serena e
objetiva retratei com mincias alguns episdios, e descrevi em traos largos outras
cenas, inspirandq-me, nessa tarefa do s propsito de fazer prevalecer a verdade
dos fatos. S num ponto, Eminncia, deixei de ser totalmente exato. Foi naquele
em que relato a minha ltima resposta ao Diretor da Casa de Correo, e que V.
Eminncia poder ler na pgina 3, linhas 47,48 e 49. A frase que a( reproduzo,
deve de ser acrescentadas estas palavras que, no ardor da discusso, eu tambm
proferi: "Mentiroso voc".
Ao prestar as minhas declaraes nesse flagr$lnte de uma falsidade
tante que estava sendo, lavrado contra mim, eu julguei prudente, para efeitos da
minha defesa futura, em Juzo, omitir este revide, que, apesar de perfeitamente
justificvel em face das leis da moral, poderia fornecer ao Ministrio Pblico, que
tiver de funcionar no processo, argumentos contra a minha inocncia em face da
lei. Estamos numa poca de proscrio total da altivez, da dignidade, da probi-
dade, e do b!lm senso mais elementar. A Justia, triste e humilhada, se v escorra-
ada por governantes e governados, os quais entraram a depositar todas as suas
esperanas de um futuro melhor no s emprego irracional da fora material
agressiva. A Magistratura deixou de ser o exerccio da arte divina de julgar, para
se ver transformada em simples meio de vida fcil e socialmente honroso. A"justi-
a, encarnada no Poder Judicirio, j no mais a garantia da dignidade e respei-
tabilidade da pessoa humana, no seio da sociedade, mas, pelo contrrio, se viu
rebaixada humilhante condio de mero instrumento de governo dos que mane-
jam a extensa e possante mquina do Estado. Bem v V. Eminncia que, reduzido
por abuso de poder, situao injusta de criminoso, que' no havia
mal em que, no meu longo relato, eu omitisse uma simples frase que proferi, numa
justa atitude de revide, mas que, se fosse por mim confessada, poderia me trazer,
no futuro; os maiores aborrecimentos. Alis, mesmo sem esta razo, j de si valio-
sa, era-me Ircito, em face da moral crist, negar tudo o que me pudesse prejudicar,
como ensina Salsmans, S. J. (Droit et Morale . Dontologie Juridique, pgs. 201/
202): "O acusado, por mais culpado que seja, pode negar decididamente o que se
lhe imputa. Esta negao no uma mentira. mister o mesmo dizer das outras
uexplicaes", inventadas pelo culpado, ou sugeridas pelo seu advogado, para
provar que ele "no pode ser o autor do crime"; para estabelecer um Alibi, etc. -
Nos hOssos dias, com efeito, universalmente aceito que um acusado no deva
confessar a sua falta perante a justia, nem dizer literalmente a verdade",
A no ser, neste ponto, tudo o Eminncia, a expresso rigorosa da
verdade. Estou falando, num impulso de afeto e submissao, ao meu Pastor, que ,
nesta Arquidiocese. o smbolo da paz, da protego, da unidade e do governo da
206
Igreja, para usar as expresses do Canon da santa Missa. No me animaria, em hora
to austera, a induzir em erro aquele que, aos meus olhos iluminados pela F,
prolonga, na gloriosa cidade de So Sebastio, a misso regeneradora das almas,
que Nosso Senhor Jesus Cristo confiou aos seus santos Apstolos. Pois bem, Emi-
nncia, neste instante de verdadeira uno religiosa que venho afirmar haver
feito no documento, cuja cpia estou remetendo a V. Eminncia, to s a des-
crio da verdade.
Se os fatos to .. que busquei relatar COm nimo sereno, se
refletissem apenas sobre a minha apagada individualidade, bem possvel, Emi.
nncia, que eu tivesse me imposto, como tantas e tantas outras vezes, um siln-
cio tumular, procurando neles enxergar a merecida punio de Deus ao meu
orgulho e minha vaidade. Mas, o que eles pem em jogo, em vez disto, o
prestigio, a dignidade "e a liberdade lcita atua'o de. uma profisso, que, nesta
hora crepuscular da nacionalidade, est servindo de nico amparo pessoa do ci-
dado brasileiro. Urgia, em tais condies, agir COm rapidez, firmeza, e desassom-
bro, num supremo esforo de afirmao,para que os governantes arbitrrios da
atualidade" soubessem que encontrariam disposto a todas as renncias, inclusive
at a sua prpria vida, o modesto e insignificante advogado que eles tinham esco-
lhido, no seu mandonismo ilimitado, como homem sobre o qual iriam experimen-
tar at onde poderia chegar a fora da sua arrogncia ilegal e abusiva.
No posso, assim, ser homem de desordem" mas de ordem; de revoluo,
mas de autoridade; de indisciplina, mas de obedincia. No seria capaz, portanto,
de penetrar num pres(dio para desacatar o seu Diretor, dando um funesto exemplo
aos meus concidados de insubordinao contra as leis justas do meu Pat's. Muito
menos, EmJnncia, iria praticar a intil loucura de expor a minha vida sem ne-
nhuma finalidade superior, e s pelo prazer de poder dizer, mais tarde, caso conse.
guisse sobreviver desta agresso, que era um homem de coragem. A Casa de Corre-
o tem presentemente reforado o seu destacamento policial-militar, provido,-
bom que se saiba -, das mais modernas armas automticas, e dispe, alm disto,
excepcionalmente, de um vasto corpo de investigadores, escolhidos a dedo entre
homens de m catadura que se habituaram a no ter o menor respeito para com a
vida do seu semelhante; achandose tina Im ente, sob a direo de um Diretor, que,
sendo homem de rara estatura e fortaleza fsica, cultor, assduo, de vrios es-
portes. Como admitir, em tais condies, que eu, em presena de toda esta vasta
fora material, fosse me aventurar a apelar para a violncia fsica, como instru-
mento de deciso, quando, pelas razes' supra-expostas, ela s serviria para me
esmagar?
Pelo que a est, Eminncia, no escapar, por certo, <l perspiccia de V.
Eminncia que se, neste deplorvel incidente, eu consegui sair engrandecido e
respeitado, - sem um arranho sequer na minha epiderme, sem que nem ao menos
um boto da minha. roupa fosse arrancado, e a gravata. do meu colarinho desloca-
207
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da mesmo de um milmetro -, foi porque, tendo a meu lado a verdade e a jUs-
tia, s empreguei, comO instrumento de vitria, a inquebrantvel fora moral da
minha austeridade, e a respeitabilidade inegvel da minha pessoa, que nada teme
a no ser a justia definitiva de Deus Nosso Senhor.
Animando-me a pedir a V. Eminncia uma pequenina prece diria, por
ocasio da Santa Missa, em inteno da minha imunidade profissional, enquanto
me mostrar fiel aos santos preceitos evanglicos, aqui fico, meu querido Pastor,
sempre e sempre, sua inteira disposio.
Sobral Pinto
Rio,9 de junho de 1938.
208
CARTA DE SOBRAL PINTO FRANCISCO CAMPOS
MINISTRO DA JUSTlA_
Rio, 17 de junho de 1938.
Campos.
Fui ontem informado pelo Cardim que um funcionrio da censura policial
estivera na redao do "Jornal do Comrcio" para comunicar direo deste
matutino, - e a propsito da "varia" de Domingo que transcrevera o ofcio do
Conselho da Ordem a mim dirigido sobre o incidente com o Diretor da Casa de
Correo -, que d'ora ehl diante ficava expressa e formalmente proibida qualquer
notcia que envolvesse louvor minha pessoa, ou pudesse significar uma homena-
gem minha vida pblica ou particular.
Invoco seu testemunho autorizado de que nunca fui poltico, nem parw
ticipei jamais, de 1930 para c, de quaisquer manifestaes de carter partidw
rio. Advogado e publicista, - medocre e pequenino, certo -, tenho apenas
buscado, na medida das minhas energias frsicas e morais, me mostrar fiel aos im-
perativos da minha vocao. Sobrecarregado de encargos familiares, pauprrimo,
como voc sabe, vivendo at numa casa hipotecada, que a generosidade do Dr.
Afonso Penna Jnior me permitiu adquirir, nas condies supra-referidas, venho
afrontando, de um lado, a pobreza rdua e du(a, e, de outro, a prepotncia de au-
toridades desumanas, e totalmente alheias aos superiores deveres das suas funes.
Para cumprir o meu dever austero, a tudo tenho renunciado. A minha vida um
labutar constante, pois que, agora, nem mesmo tenho minha disposio as
poucas horas em que posso ficar-na minha prpria casa. Dou a todos os meus con-
cidados o exemplo de uma vida laboriosa, que se desdobra, dia e noite, em vi-
glias em prol da estabilidade do Direito e da respeitabilidade da Justia. A minha
banca, normalmente avara de causas remuneradas, est, agora mais do que nunca,
transformada numa vasta policlnica jurdica para a qual acorrem, implorando am-
paro, centenas e centenas de compatriotas nossos, que me pedem patrocinar, gra-
tuitamente, 05 direitos dos seus amigos e parentes:
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Como prmio de todo este esforo gigantesco,que venho dispendendo pela
imperativo, sobretudo, da minha conscincia religiosa, o governo de que voc faz
parte envida todas as suas energias para me apontar ao Pas como um inimigo da
Ptria, e como um individuo indigno de, receber o aplauso de quem quer que seja.
Ontem era a calnia torpe do meu comunismo, no se enverg<?nhando certas auto
ridades de me atribuirem a funo abjeta de agente de liga0 entre os comu-
nistas presos e os que ainda se encontravam em liberdade. Esmagada, logo no nas-
cedouro, esta imbecil mentira, prepararam as autoridades arbitrrias novo plano de
envolvimento desmoralizante da minha modesta mas_destemerosa individualidade.
Urgia enredar-me num cipoal de mentiras deslavadas, que, apresentando-me aos
olhos de todos como um desrespeitador das vigentes, justlficasse o ato prepo-
tente do Poder pbU.co de cerceamento integral da minha liberdade. Foi assim,
meu caro Campos, que surgiu este episdio deprimente da Casa de Correo, que
as autoridades policiais, com a colaborao do Tenente Canepa, acreditaram, na
sua ingenuidade idiota, que seria o tmulo do _meu apostolado desinteressado e
corajoso em favor da implantao, entre ns, do reinado superior do Direito e da
Justia. A Providncia, contudo, nos seus desgnios insondveis, transformou em
eievao e honra aquilo que a Polcia supunha que seria a minha de-sonra defini-
tiva.
O dio, porm, no se desarma to facilmente. Por isto, prepara ele,
agora, a sua terceira investida contra a niinha reputao. Qual o seu plano, e quais
os meios de que pensa lanar mo? evidente que, no possuindo. o dom de ad-
vinhar, estou na mais completa ignorncia tanto. deste plano quanto dos meios
de sua execuo. Isto, todavia, pouco me importa. Estou preparado para tudo.
Desde que, diante de Deus, eu sinta limpa a minha consch3:ncia, tudo o mais me
indiferente. Advogado por vocao, e n.o por interesse, no esmorecerei na minha
luta, nem desertarei do juramento da minha colao cle grau. Bem sei que, criatura
frgil, estou sujeito, como So Pedro, ao perjuro na hora solene. Mas, humilde
discpulo de Nosso Senhor Jesus Crist.o, imploro, a cada instante, a este meu Mes-
tre o Senhor que me d foras e energias para me mostrar sempre digno nos mo-
mentos decisivos da minha vida profissional. Se por mim mesmo eu nada valho,
contudo, pelos merecimentos infinitC'ls de Jesus Cristo, eu sei que serei invencvel,
como os primeiros cristos ante o poderio material dos Csares romanos. Homem
de F viva e ardente, tenho sempre presente ao meu esprito esta promessa do
Filho de Deus: "Bem-aventuradoSlos que padeem perseguio por amor da jl,lstia,
porque deles o reino dos Cus" (So Mateus, Capo V, v. 10).
Sendo voc, nesta hora atribulada Ministro da Justia do Brasil, venho
prevenilo do que se est passando, a fim de que voc tome as providncias que
se impem, no na defesa da minha pessoa, que no est em jogo, mas em
da profisso nobre e altiva, que sinto encarnar neste momento, no que eia repre-
210
de essencial para a garantia do cidado brasileiro. Autorizando-o a fazer
desta o uso que julgar oportuno e necessrio, abraa-o, COm o carinho de sempre,
o todo seu,
Sobra! Pinto
211
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CARTA DE SOBRAL PINTO A FRANCISCO
NEGRO DE LIMA.
Rio, 5 de agosto de 1938.
Negro.
Fiquei .estarrecido ao ler o ofcio que voc enviou ao Canepa a propsito
dos meus entendimentos com Luiz Carlos Prestes, Harry Berger e Azar Galvo
de Souza, meus clientes, atualmente recolhidos Casa de Correo. Conf.esso-Ihe,
com a minha habitual franqueza, que no O supunha capaz de querer diminuir-me,
como o fez, neste ofcio de rara infelicidade na sua redao. O tal Estado Novo
que vocs inventaram s produz destes resultados: a inverso de todos 05 valores.
preciso ter perdido a noo da nossa realidade moral para se admitir a hiptese
de que um advogado da minha estirpe possa ser posto "sob a fiscalizao" de um
selvagem como o atual diretor da Correo, homem sem nenhuma das qualidades
intelectuais e morais necessrias para o exerccio de funes to" delicadas. Causa
pasmo que, aps a desautorao pblica deste amansador de cavalos quer pelo
Ministrio Pblico quer pela Magistratura desta Capital! representados pelo Premo- .
tor e pela Juiz da H Vara Criminal da Justia do Distrito Federal, voc se permi-
ta tentar humilharme, atribuindo a esse Canepa a para ele excelsa e honrosssima
incumbncia de fiscalizar a maneira pela qual eu exero os meus deveres profissio-
nais. No, no e no. Urge que voc saiba que no estou a mendigar favores. Es
tou a reclamar um direito, que pode ser negado, parque este um pas de escra
vos, mas que reivindico, com toda a energia, porque ao menos tenho a conscin-
cia de que sou um homem livre. No sei como no arrebento de dor, de tristeza,
e de vergonha. Foi preciso que fossem para o Ministrio da Justia um dos meus
maiores amigos, o Campos, e um Outro a quem sempre dispensei a maior consi-
derao e o maior respeito, para que eu me visse arrastado na sargeta da rua por
funcionrios subalternos deste meSmo Ministrio, sem que conseguisse nem do
Campos, nem de voc a reparao a que tenho direito. O que eu consigo so ofl'-
cios como este que humilham e amesquinham. Se o amesquinhamento e a humi-
lhao no me tm atingido porque, sozinho, corajoso e enrgico tenho revi
212
dado a todas as tentativas dirigidas contra a minha profisso, e contra a minha
prpria pessoa.
O que falta ver destrudo nesta infelize grande Ptria? A honradez, o
desinteresse, a dignidade, e a fidelidade ao dever passaram a ser, para os gover.
nantes atuais, crimes contra a Nao, passveis de cadeia ou de desprestgio so.
cial. Os heris, os benemritos, os salvadores da nacionalidade so os Tenentes
Bezerra, os Juzes B.arros Barreto, os Governadores Benedito. Estes, sim, que
esto em equao cqm os nossos infelizes tempos, e esta nossa degradante poca.
De minha parte, e sobretLido no desempenho do mandato que me foi
Outorgado por indicao do Conselho da Ordem dos Advogados, hei de reagir,
como tenho reagido at agora, contra este conformismo geral, que tudo nivela.
At hoje no recuei Um passo, nem mesmo diante da priso abusiva, ilegal, e
estpida. Espero em Deus que _d'Ele merecerei a graa inestimvel de poder con.
tinuar com a mesma dura intransignci.a a defender os princpios jurdicos e mo-
rais por cuja preponderncia no seio da nossa sociedade tenho, nestes -ltimos
anos, trabalhado sem cessar tanto na minha vida p ~ b l i c a quanto na minha vida
privada . .-
Eu no posso, assim, me conformar Com os termos do seu ofcio ao
Diretor da Casa de Correo. Se verdade que tenho o dever de .ir falar com os
meus clientes a que faz aluso o seu ofcio, no menos certo que este enten-
dimen'to precisa de obedecer a normas de altivez e dignidade que o mencionado
ofcio afasta de maneira positiva e inequ{voca. Procuro, - s vezes sabe Deus
com que esforo -, no revidar a certas impertinncias claras e patentes, mas con.
tra as quais no encontro, nem nas leis nem nas convenes sociais, pontos de
apoio na ordem jurdica, e na ordem moral. Prefiro conter-me a ofender direitos
e prerrogativas dos meus semelhantes. Quando, porm, o direito e a moral me
apiam vou at s ltimas conseqncias, indiferente a tudo e a todos, pois s
uma preocupao me absorve: a de cumprir COm firmeza, sem vacilao, o meu
dever austero. Eis porque, Negro, eu me dirijo, nesta mesma data ao Ministro
da Justia, e ao meu amigo particular, transitoriamente titular desta pasta.
Do sempre seu,
Sobral Pinto
213
PELOS EMBARGANTES LUIZ CARLOS PRESTES,
ARTHUR ERNEST EWERT OU HARRV BERGER E
AGILDO DA GAMA BARATA RIBEIRO.
Rio, 03 de outubro de 1938.
Falando ao seu rei, nUm sermo sobre a Justia, proclamou o prncipe da
oratria sacra da gloriosa Frana:
" de se notar que se no se caminha com um passo igual na senda da Jus-
tia, aquilo mesmo que se faz torna-se odioso", advertindo; em seguida:
em vo que "um" magistrado se vangloria, algumas vezes, de ter bem jul-
gado; a desigualdade do seu procedimento faz com que a justia no reconhea
como seu aquilo mesmo que ele Taz segundo as leis: ela se envergonha de no lhe
servir seno de pretexto; e at que ele se torne igual para todos, sem acepo de
pessoa, a justia que ele recusa a, um convence de manifesta parcialidade aquela
que ele se glorifica-de fazer a outro" (BOSSUET - Oeuvres choisis - vaI. 59 ,ed.
Hachette. pg. 455).
Estes admirveis conceitos ajustam-se, como um? luva, ao procedimento
dos Embargantes Luiz Carlos Prestes, Arthur Ernest Ewert ou Harry Berger e
Agildo da Gama Barata Ribeiro. que consta do ac6rdo da Primeira Instncia,
confirmado pelo ac6i'do embargado. que todos eles foram condenados "por
tentar diretamente e por fato mudar por meios violentos a Constituio da Rep-
blica"(Juiz Relator Dr. Raul MachaDO - RE LA TRIO E ACRDO, pg.6).
Isto, Srs. Ministros, era dito e afirmado em 7 de maio de 1937, numa po-
ca em que vigorava no Pas a Constituio de 16 de julho de 1934, votada e pro
mulgada pela Assemblia Nacional Constituinte, eleita e escolhida pelo povo
brasilelro, mediante voto direto e secreto, especialmente para este fim.
Porque tentaram mudar, com o emprego da fora armada, a Constituio
da Repblica que os legtimos representantes da Nao organizaram, no exerccio
do mandato que lhes foi outorgado, Luiz Carlos Prestes, Arthur Ernest Ewert ou
Harry Berger, e Agildo da Gama Barata Ribeiro esto curtindo, em dura e rigorosa
priso, as conseqncias do seu gesto ousa.do.
214
Entretanto, Srs. Ministros, em 10 de novembro de 1937, o Sr. Presidente
da Repblica dos Estados Unidos do Brasil, que fazia proceSSar os Embargantes,
com a autoridade que lhe advinha da ordem constituional ento reinante no Pas,
pelo fato de quererem eles modificar a Constituio de 16 de julho de 1934,
abolia, por ato unilateral da sua vontade, essa mesma Constituio de 16 de julho
de 1934, dissolvendo, com o auxlio da Fora Armanda, os Poderes Legislativos
Federais e Est.aduais, e restringindo, de maneira alarmante para as liberdades p.
blicas, as atribuies do Poder Judicirio da Unio. Foi desta maneira que surgiu
no Pas, da noite para o dia, e Sem possibilidades de qualquer reao, a Carta
Constitucional.de 10 de novembro de 1937.
E, assim, Srs. Ministros, o que foi considerado crime em 27 de novembro
de 1935, isto , a tentativa de da Constituio de 16 de julho de
1934, passou a ser; em 10 de novembro de 1937, ato do excepcional mereci-
mento.
H mais ainda, Srs. Ministros: como, sustentar, com serenidade, que pode
um Tribunal Judicirio continuar a considerar crime, atos que visavam modificar
uma lei que, neste instante, j no mais existe, por isto que foi totalmente revo
gada? Os Embargantes o que pretendiam, no dizer inequvoco do acrdo embar,
gado, era modificar a Constituio da Repblica. Mas, qual Constituio? A de
16 de julho de 19347 Esta, porm, deixou de ter qualquer existncia legal. Desa-
pareceu por completo. , hoje em dia, mera reminiscncia histrica, como a Cons
tituio de 24 de fevereiro de 1891, e como a Constituio Imperial e 25 de mar-
o de 1824, e o Ato Adicional de 12 de agosto de 1834. Quem ousaria, sem levan-
tar ondas de ridculo contra si, punir algum, neste momento, porque- em 3 de
outubro de 1930 tentou modificar a Constituio de 24 de-fevereiro de 1891?
Que suprema irriso no seria, tambm, o propsito daqueleque quisesse enxergar
crime nas atitudes de pessoas que, habitandO territ6rio brasileiro, se dispusessem
a modificar a Constituio Imperial de 25 de maro de 1824 ou o Ato Adicional
de 12 de agosto de 1834? que todas estas Constituies foram proclamadas, pe
lo Poder Pblico que as revogou, construes caducas e anacrnicas, que no po-
diam mais servir de normas de conduta para quem quer que habitasse o territrio
nacional. Como, em tais condies, ousar o Supremo Tribunal Militar punir al-
gum em nome de Uma Constituio, como a 16 de julho de 1934, que no
resguarda sequer o direito de um s cidado brasileiro, por isto que j deixou de
ser, desde novembro de 1937, lei normativa do Pas?
Mais monstruoso, todavia, ser o prop6sito de querer punir Luiz Carlos
Prestes, Arthur Ernest Ewert ou Harry Berger, e Agildo da Gama Barata Hibeiro
porque tentaram modificar a Constituio da Repblica que foi promulgada em
10 de novembro de 1937. Aqui o absurdo assumiria as propores de uma insensa,
tez, porquanto estando sendo processados por atos que teriam praticado em
215
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novembro e 1935 no lhes seria possvel, de modo algum, querer modificar uma
lei que no existia nem ao menos em projeto, ou esboo.
A tm os Srs. Ministros o dilema que este processo, neste momento, faz
brotar em todas as conscincias retas, que se empenham to s em obter do
Supremo Tribunal Militar urna obra de justia que seja igual para todos.
S,em sabemos que no faltaro justificaes para este procedimento de
considerar execrvel a tentativa de modificao da Constituio em novembro
de 1935 e altamente benemrita a liquidao total da mesma Constituio em no
vembro de 1937. H quase cem anos, Carlyle j vergastara, em termos eloqentes,
a tenacidade maliciosa da inteligncia humana, dizendo:
"H urna grande diferena entre as nossas duas espcies de guerras civis,
entre a guerra moderna lingual ou parlamentar, que tem como arma a lgica, e a
guerra antiga ou manual, regida pelo ao, e de nenhum modo vantajoso para a
primeira. No conflito manual, quando enfrentais o inimigo, de sabre na mo, um
golpe bem desferido definitivo; pois, fisicamente falando, quando se faz saltar
o cerebelo, o homem morre honestamente e no vos perturba mais. Mas, que di-
ferena quando se combate argul'nentos. Aqui, nenhuma vitria definitiva
pode ser considerada como final. Derrubai o inimigo com a invectiva parlamentar,
at a extino de sentimento; cortai-o em dois, colocando uma metade do seu
argumento sobre a primeira ponta do dilema, e a outra metade sobre a segunda;
arrancai-lhe, por um instante, o cerebelo ou a faculdade pensante: isto pouco im-
porta; ele se levanta e renasce no dia seguinte, e no dia seguinte recomea o seu
fogo" (HISTOIRE DE LA REVOLUTION FRANAISE . trad. fr. de Jules
Rache vaI. 29 pg.21).
Por isto, estamos certos de que surgiro pessoas para dizer que a .modifica-
o da Constituio de 16 de julho de 1934, tentada em novembro de 1935, vi-
sava implantar no Pas o regime comunista; ao' passo quea liqidao dessa mesma
Constituio, em nvembro de 1937, teve em- mira libertar o Pas dos perigos da
infiltrao comunista.
No rios cabe discutir, aqui, intenes e propsitos. Este no o lugar,
porque no estamos a fazer obra de pol tica, mas estamos to s empenhados em
executar uma tarefa de Justia. O que de nosso dever acentuar, nesta conjuntura,
que, com semelhante justificao, pede-se aos Tribunais Judicirios do pa{s que
punam os acusados que perante eles comparecem, no de acordo com a sistemti-
ca jurdica do direito cristo, que s v crimes n.os atos que infringem uma lei pe-
nai preexistente, mas, pelo contrrio, de acordo com a finalidade dos atos pra-
ticados por estes mesmos acusados.
Ora, nada h de mais caracteristicamente comunista do que esta orientao
de s se levar em conta, em matria criminal, a finalidade que o agente tinha em
mira atingir Com o seu ato. Poderamos, a este respeito, reproduzir aqui centenas
216
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e centenas de lies de mestres consagrados, tanto do Direito Sovitico, quanto do
Direito Ocidental. Limitar-nas-emas, todavia, a invocar apenas a lio de Horcio
de Castro (PRINC(PIOS DE DERECHO SOVITICO 1934 I? ed., pg. 264):
"Reputa-se perigosa toda ao ou omisso dirigida contra a estrutura do
Estado sovitico ou que perturbe.a ordem jurdica criada pelo governo de oper-
rios e camponeses durante a poca de transio para a organizao social comu-
nista.
A primeira noo penal que se destaca o positivismo e a perigosidadeda
ao, ao mesmo tempo que a destruio do princpio nullum crimen, nulla poena,
sine legis poenali anteriori, j que adverte que no so somente crimes as infraes
punidas no Cdigo, mas, tambm, qualquer ao ou omisso dirigida contra a es-
trutura do Estado sc;)Vitico que perturbe a ordem jurdica do mesmo.
O clssico princpio da catalogao das penas, nascido das entranhas de
uma grande revoluo, perece nas mos de outro formidvel movimento_social. Os
esfor9s dos enciClopedistas criaram a tbua dos delitos, suprimindo o arbtrio dos
juzes, preconizado pelos juristas dos reis nos ltimos anos do sculo XVIII, e
foram a alma penal da Revoluo Hoje, pelas ironias da Histria, outra
Revoluo, herdeira daque.la, que implanta de novo o arbtrio judicial, fazendo
subsistir os tipos do artic:ulado COm meros exemplos.
O critrio do arbtrio judicial nasce na unio dos sovietes como lgico pos-
tulado de um conceito defensivo do Direito Penal, e estE;! critrio se manifesta em
artigos, como o 13, que diz: "No se aplicaro medidas de defesa social contra as
pessoas que hajam executado fatos previstos na Lei Penal quando o tribunal reco-
nhea que foram executados em estado de legtima defesa contra ataques dirigidos
organizao sovitica, contra a prpria pessoa.do que se defende, ou contra um
terceiro, se no excedem os limites da legtima defesa". Este preceito de carter
francamente positivista, porm nada mais do que um lgico desenvolvimento do
critrio que preside o Direito Penal".
Se o Supremo Tribunal Militar mantiver a condenao dos Embargantes,
que esto sendo acusados de terem tentado modificar a Constituio de 16 de
jUlho de 1934, ter, agora conscientemente, contribudo com uma enorme parcela
para que os princpios soviticos do Direito Penal se instalem, petulantes e agres-
sivos, no seio da civilizao crist que formou e moldou a nacionalidade brasileira.
Mas, Srs. Ministros, se na vossa alta sabedoria, recusardes a ouvir os nossos
clamores, erguidos to s em nome nossa insacivel sede de Justia, e insistir-
des em manter esta condenao que se no justifica mais, em face dos princpios
jurdicos que constituem, apesar de tudo, o cerne vigoroso da nossa vida social,
procurai, ao menos, por esta deciso definitiva em equao com outras que j
foram proferidas por este Supremo Militar em casos idnticos.
217
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No possvel, assim, que seja mantida a condenao imposta a Luiz Car-
los Prestes e Arthur Ernest Ewert ou Harry Berger como autores do crime previsto
no art. 49 combinado com o art. 19 da Lein9 38, de 4 de abril de 1935.
Nas nossas Razes de Apelao, que no mereceram sequer uma contradita
desenvolvida e argumentada no acrdo recorrido, demonstramos, de maneira de-
cisiva, que na hiptese de ser verdadeira a acusao levantada contra Luiz Carlos
Prestes e Arthur Emest Ewert ou Harry Berger de que, aps 27 de novembro de
1935, t i n h ~ m tentado articular um novo movimento armado contra a Constitui-
o do Pas, no se tratava de um novo crime, mas de meros atoS de continuidade
e permanncia do crime anterior. Urgia, em tais condies, puni-los no por dois
crimes, isto , o do -art.. 19 da lei nmero 38, de 4 de abril de 1935, e o do art.
49 combinado com o art. 19 da mesma lei
Alis, este Supremo Tribunal Militar, em relao a acusados em outros
processos j admitiu, em hiptese idntica, no o crime contnuo ou permanente,
como do direito e de justia, mas, em todo o caso, o crime continuado.
Por que, pois, no aplicar a .Luiz Carlos Prestes e Arthur Emest Ewert
ou Harry Berger o mesmo critrio; que j foi utilizado para minorar a p.ena impos
ta a outros criminosos da mesma categoria? Alis, o acrdo embargado, que in-
siste em negar,' contra a evidncia, a continuidade ou permanncia da inteno cri-
minosa de LuizCarlos Prestes e Arthur Emest Ewert ou Harry Berger, quando se
trata de punir estes dois acusados por um.s crime, no vacila, num ilogismo inex-
plicvel
l
em invocar a persistncia de uma inteno rebelde, durante 13 anos, para
recusar a Luiz Carlos Prestes a.aplicao da atenuante do exemplar comportamen-
to anterior. Ainda aqui no feliz a deciso recorrida porque o Decreto 19.3951 de
8 de novembro de 1935, baixado pelo ento Chefe do Governo Provisrio da Re-
pblica, concedeu ampla e incondicional anistia a todos os civis e militares, quel
direta ou indiretamente, se envolveram nos movimentos. revolucionrios ocorridos
no Pas, devendo ficar
l
conforme preceitua o 29 do art. 19 deste Decreto, em
perptuo silncio
l
como se nunca tivessem existido, os processos e sentenas rela-
tivas a estes mesmos fatos.
Com que direito, portanto
l
o Supremo Tribunal Militar apela para estes
fatos que uma lei do Pas manda que fiquem em perptuo silncio?
Finalmente, e quanto a Agildo da G.ama Barata Ribeiro cumpre focalizar
que no h, nos autos I seno a prova de que, pondo em execuo ordens do seu
chefe rebelde, comandou, na madrugada de 27 de novembro de 1935, o levante
do 39 Regimento de' Infantaria. No deliberou, excitou ou dirigiu o movimento
de. 27 de novembro de 1935. Comandou apenas, na hora da luta, uma pequena
fora que se ps sob o seu comando. Executou, assim, uma tarefa revolucionria
que era uma gota no oceano imenso da revoluo em preparo. Tivesse esta explo-
dido em toda a extenso dos planos organizados pelos chefes revolucionrios res-
ponsveis, e os acontecimentos do 39 Regimento de Infantaria se teriam perdido
218
na vastido enorme das execues parciais rea1,izadas. Como, porm, apenas dois
ou trs focos revolucionrios passaram da conspirao para a execuo, deixando
de atuar dezenas e dezenas de outros focos com que contavam os chefes revolu-
cionrios, os atos ocorridos no 39 Re.Qimento assumiram as propores de uma
importncia, que, na realidade, no tinha, e nem podiam ter. A prova dos autos
farta e abundante no s no que diz respeito vastido dos planos a serem execu-
tados, como tambm no que se refere atuao de Agildo da Gama Barata R ibei-
ro somente naquela madrugada, e isto mesmo comosimples comandante de um
foco de rebeldia. Emprestar-lhe, por conseqncia, o papel de cabea do movi-
mento de novembro de 1.935 , manifestamente, contrariar a prova dos autos.
O fato de ter ele recebido, diretamente de Luiz Carlos Prestes
l
a incumbn-
cia de comandar o movimento no seio do 39 Regimento de I nfantaria no tem a
fora de erigi-Io em cabea da revoluo geral. Incumbncia idntica foi dada a
Trifino Correa, o qual l apesar disto, foi absolvido por este Supremo Tribunal Mi-
litar, sob a alegao, alis verdadeira, de que ele no recebeu a ordem de Luiz
Carlos Prestes, visto ter si<;fo esta interceptada no caminho.
Se o Supremo Tribunal Militar, entretanto, assim agiu foi porque achou,
e muito bem, que uma ordem dessa natureza transformava aquele que a recebia
em mero instrumento daquele que a dava.
Mas, se aquele que a no recebia, e, po"r isto, a no executava, ficava livre
de culpa e pena, aquele que a rece.bia e a executava teria de ser considerado apenas
como um executante de propsitos alheios.
Oral esta ltima situaco no se harmoniza, de modo algum com a cmdi-
o de cabea de movimento, a qual pressupe uma atitude de iniciativa originria
que o simples executante no tem, nem apresenta.
Por todo o exposto, que est conforme a prova dos autos, espera-se que o
Supremo Tribunal Militar, melhor refletindo sobre os fatos da causa, se dispor a
fazer, nos termos ora sustentados, obra de serena e imparcial
Distrito Federal, 28 de novembro de 1938.
a.) Herclito Fontoura Sobral Pinto
Advogado.
JUSTiA.
219
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Por embargos de nulidade e infringentes de julgado; dizem
LUIZ CARLOS PRESTES, HARRY BERGER, ou ARTHUR ERNEST
EWERT, e AGI LOO DA GAMA BARATA RIBEIRO o seguinte:
19
P.P. - que o acrdo que negou provimento ao recurso de apelao no pode pre-
valecer, devendo, pelo contrrio, ser reformado;
realmente,
29
P.P. - que no possvel, relativamente aos dois primeiros Embargantes, manter
a condenao que lhes foi imposta, cpm fundamento no art. 49 da Lei n9
38, de 4 de abril de 1935, por isto que no praticaram, nem poderiam pra-
ticar, o delito, configurado neste artigo, e que lhes foi imputado;
igualmente,
39
P.P. _ que, ainda em relao aos dois primeiros Embargantes, que no poder
subs.istir o grau mximo da pena do art. 19 da referida Lei, e que lhes foi
aplicado, desde que milita. em favor do primeiro Embargante a circunstn-
cia atenuante do seu exemplar comportamento anterior, e ocorre, quanto
ao segundo Embargante o fato de no existir prova nos autos de qualquer
circunstncia agravante ou atenuante na prtica do crime;
outrossim,
49
P.P. _ que o acrdo exibe alterao na parte em que condenou o terceiro Em-
bargante, porque, de um lado, ele no foi cabea do movimento insurrecio-
nal de 28 de novembro de 1935, e, de outro, ria concorrncia de circuns-
tncias atenuantes com uma s agravante, a pena deve de ser inferior que-
la que foi mandada aplicar, pelo acrdo oi-a embargado.
Pelo exposto, espera-se que os presentes embargos sero recebidos, e, aps
devidamente sustentados, nos termos do art 308 do Cdigo da Justia Militar,
julgados provados, para o fim de ser diminuda a pena que foi imposta a cada um
dos Embargantes, como de inteira
JUSTiA.
Protesta-se por todo o gnero de provas admitidas em direito, e pela Lei.
Distrito Federal, 3 de outubro de 1938.
a.) Herclito Fontoura Sobral Pinto
Advogado ex officic
220
REQUERIMENTO DE SOBRL PINTO AO MINISTRO PRESI DENTE
DO TRIBUNAL DE SEGURANA NACIONAL DE 30.4.42.
Exmo. Sr. Ministro Presidente do Tribunal de Segurana Nacional.
LUIZ CAR LOS PRESTES, brasileiro, casado, ex-Capito do Exrcito Na-
cional, atualmente recolhido Penitenciria Central do Distrito Federal, vem, no
Processo n91, srie A, expor e requerer a V. Exa. o que se segue:
Por acrdo de 7 de maio de 1937 deste Tribunal de Segurana Nacional,
que transitou em julgado, proferido neste processo, foi o Suplicante condenado.
pena de 10 anos de rec:luso, grau mximo do art. lC?, combinado c)m o art. 49 da
Lei n9 38, de 4 de abril de 1935, acumulada com a pena de 6 anos e 8 meses, tam-
bm, de recluso, grau mximo do art. 4C? , combinado com os arts. 1 l e 49C? da
mesma lei n938, de 4 de abril de 1935, reconhecida, na ausncia de atenuantes, a
circustncia agravante do art. 50, da citada .lei nQ 38, em ambos os casos, devendo
se observar, nos termos da sentena, quanto ao cumprimento das penas, a regra do
art. 58, prembulo, do Cdigo Penal Militar, e que a seguinte:
"Quando o criminoso foi convencido de mais de um crime, impor-se-Ihe-o
as penas estabelecidas para cada um deles; comeando a cumprir a mais grave delas
em relao sua intensidade, ou a maior, se forem da mesma natureza",
Sendo da mesma natureza ambas estas penas impostas ao Suplicante, acha-
se ele presentemente, a cumprir, na Penitenciria Centtal do Distrito Federal, si-
tuada na rua Frei Caneca, nesta Capital, a pena de recluso de 10 anos.
Muito mais tarde, e noutro processo, porm, o Juiz Coronel Augusto May-
nard Gomes, por sentena de 7 de novmbro de 1940, que, igualmente, transitou
em julgado,inflingiu ao Suplicante nova. pena; esta, entretanto, de 30 anos de pri-
so celular, grau mximo do art. 17,Pargrafo nico da Lein938, de 4 de abril de
1935, combinado com c a"rt. 249, 1C?, da Consolidao das Leis Pen.ais, por dizer
que ocorriam, na espcie, as agravantes dos 29, 51?, 7C?e 13?do art. 39 da refe-
rida Consolidao, e no existirem quaisquer atenuantes.
Em meados do ano de 1937, e quando ainda no tinha transitado em julga-
do a condenao imposta, em 7 de maio daqu.ele mesmo ano, por este Tribunal de
221
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Segurana Nacional, foi o Suplicante transferido, aps reiteradas, veementes e fun-
dadas reivindicaes de sua parte, para a, ento, Casa de Correo, desta Capital.
Como a priso do Suplicante, nessa poca, decorresse da mencionada sen-
tena de 7 de maio de '1937, que no transitara"ainda, em julgado, no foi o mes-
mo Suplicante sujeito a nenhum regime carcerrio, mas, por foa de suas reclama-
es justas e irrespondl'veis
r
foi-lhe, ao menos, reconhecido um certo nmero de dI-
reitos que so inseparveis da prpria natureza humana, tais como a correspondn-
cia com a sua Me, o entendimento livre e permanente com o seu advogado, e a
leitura de livros e jornais de sua preferncia.
Sobrevindo, todavia, o golpe de 10 de novembro de 1937, todas estas fran-
quias foram suprimidas imediatamente, restaurando-se, mais tarde, mas apenas
com o carter de favor, as que permitiam ao Suplicante escrever sua velha Me,
atualmente no Mxico, e ler livros e um jornaf. Por isto, de vez em quando, a ad-
ministrao da, ento, Casa de Correo se outorgava a si prpria o direito sooera-
no e irrecorrvel de, interromper aquela correspondncia ou de vedar leitura,
desde que, no entender da referida administrao. o Suplicante se tornasse merece-
dor de alguma "punio" (I),
Foi I}esta situao de total e absoluto isolamento que o veio encontrar a
deciso do Supremo Tribunal Militar de 7 de julho de 1939 pela qual transitou em
julgado o acrdo de 7 de maio d'e 1937, deste Tribunal de Segurana Nacional.
Incomunicvel estava, incomunicvel continuou. Isolado estava, isolado continuou.
Escrevendo sua Me por favor estava,. escrevendo por.favor a sua Me continuou.
Impedidode falar com o seu advogado estava, impedido de falar com o seu advoga-
do continuou. Proibido de trabalhar tlstava, proibido de trabalhar continuou. Pri-
vado de quaisquer distraes estava, privado de quaisquer distraes continuou. E,
assim, entregue, dia e noite, ao seu prprio pensamento, vive o Suplicante cercado
por quatro paredes frias, mudas, e imveis. Conceber-se- priso mais dura, maif,
penosa e mais desumana? Dir-se-ia, Sr. Ministro Presidente, que ningum se preo-
cupa com os destinos da sade mental do Suplicante, circunstncia esta que no
de se admitir porque foi um isolamento desta espcie que levou Harry Berger a se
mergulhar para sempre, e sem remdio, nas trevas sombrias e trgics de sua de-
mncia definitiva.
Este estado de coisas precisa acabar. O Suplicante membro da famlia hu-
mana, e o que pretende obter da magistratura do seu Pas to simplesmente que
ela faa cumprir, com serenidade e imparcialidad.e, os direitos inerentes aos mem-
bros desta Famlia, e que se acham consagrados, alis, nas leis positivas do nosso
Pas.
No se compreende, Sr. Ministro Presidente, que o Suplicante seja mantido
durante o cumprimento de sua pena neste regime da mais absoluta e rigorosa inco-
municabilidade, que dura h mais de seis anos; no se compreende, Sr. Ministro
Presidente, que ponham Suplicante, praticamente, com est acontecendo, sob a
222
fiscalizao direta de uma sentinela vista; no se compreende, Sr. Ministro Presi-
dente, que no se d, sistematicamente, ao Suplicante a possibilidade sequer de se
entender com uma pessoa que possa levar s autoridades administrativas superiores
da Repblica, ou aos Jul'zes executores da sua pena, a sua reclamao contra os re-
petidos e sucessivos atos de arb trio com que se v ferido na priso em que Cje en-
contra.
Para obter dos Jul'zes, incumbidos da execuo da sua pena, que faam
cessar este estado de coisas, que a nossa legislao no permite, que oSuplicante
se dirige, agora,' a V. 'Exa. Com efeito, conseguindo, recentemente, e aps 10 me-
ses do ltimo entendimento, falar ao seu advogado, o Suplicante lhe reiterou, ver-
balmente, aquilo que, dia!= antes, lhe mandara dizer numa carta que a do
presdio consentiu, final, em fazer chegar s mos do seu patrono, e que o se-
guinte:
"Como V. Exa. deve saber, depois de mais de seis anos de priso, continua
sem qualquer modificao sensvel minha situao de incomunicabilidade e rigoro-
so isolamento. Nestas condies, penso agora, ao terminarem as frias forenses, di-
rigir-me aos Juzes de nossa terra para pedir-lhes simplesmente que me faam Jus-
tia" .
O que o Suplicante, assim, vem pleitear junto de V. Exa. simplesmente
Justia. E o meio de que se serve este que lhe est assegurado no art. 43 da Leiln9
38, de 4 de abril de 1935, no domnio do qual foi imposta a pena de recluso de
10 anos, constante da sentena de 7 de maio de 1937, e que a que o mesmo Suo.
plicante est a cumprir, presentemente. Eis que o que determina este art.43 supra-
invocado:
"No interesse da ordem pblica, ou a requerimento do condenado, poder
o Juiz executor da sentena ordenar seja a pena cumprida fora do lugar do delito.
Poder, igualmente, em qualquer tempo, determinar a mudana do lugar de cum-
primento da pena.
lI? O lugar de cumprimento de pena, salvo requerimento do interessado,
no poder ser situado a mais de mil quilmetros dp lugar do delito, asseguradas
sempre boas condies de salubridade e de higiene.
Das decises sobre O MODO e lugar DE CUMPRIMENTO DA PENA
ca.be recurso para a Instncia Superior, com o processo dos recursos criminais.".
V-se, pois que pela Lein938, de 4 de abril de 1935, - que a que rege o
cumprimento da pena s0b cuja ao o Suplicante se acha -, cabe ao Juiz da con-
denao ESTABELECER O MODO do cumprimento da pena aplicada, e, bem as-
sim, determinar o lugar em que se deve realizar o referido cumprimento da pena.
Ora, o Juiz que imps ao Suplicante a primeira pena de 10 anos de reclu-
so, em cujo cumprimento ele se encontra presentem.ente, foi o Tribunal de Segu-
rana Nacional
t
criado pela lem9244, de 11 de setembro de 1936. Para assim agir,
este Tribunal de Segurana Naconal invocou o art. 13 da referid","-"e\ que diz:
223
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f
'I
ti
i
(
"O Tribunal aplicar as penas cominadas pelas leis ns. 38 de 4 de abril, e
136, de 14 de dezembro de 1935, podendo determinar que sejam cumpridas em
colnias agrcolas e penais".
Em face destes dispositivos, que so aplicveis ao caso do Suplicante, vem
ele pedir que este Tribunal de Segurana Nacional, como Juiz de execuo da pena
que lhe foi imposta pelo acrdo de 7 de maio de 1937, determine O MODO DE
CUMPRI MENTO DESTA PENA, na forma da legislao reguladora da matria.
Alis, o Supremo Tribunal Militar, por acrdo de 19 de abril de 1940
(fls. 26/27 do 9? volume deste Processo n91, srie AI, tomando conhecimento de
uma reclamao do Suplicante, decidiu caber a este Tribunal de Segurana Nacio-
nal, como Corte de I nstncia, proferir julgas sobre a maneira de executar as pe-
nas impostas ao Suplicante.
No desempenho destas suas atribuies de Juiz executor da pena que est
o Suplicante a cumprir atualmente, mister que este Tribunal de Segurana Nacio-
nal no perca de vista que a pena que o mesmo Suplicante est cumprindo a de
10 anos de recluso, porque o acrdo de 7 de maio de 1937 mandou que fosse
observada a regra do art. 5? , prembulo, do Cdigo Penal Militar, a qual estabele-
ce que:
"Quando o criminoso fi convencido de mais de um crime,impor-se-Ihe-o
as penas estabelecidas para cada um deles, comeando a cumprir a mais grave delas
em relao sua intensidade, ou a maior se forem da mesma natureza".
Neste acrdo de 7 de maio de 1937, este Tribunal de Segurana Nacional
atribuiu ao Suplicante a prtica de dois crimes: o do art_ 1? da Lein9 38, de 4 de
abril de 1935, e do art. 49da mesma Lei. Pelo primeiro crime imps uma pena de
recluso de 10 anos; pelo segundo imps outra pena, tambm de recluso, de 6
anos e oito meses. Por ser, pois, mais grave a pena de 10 anos de recluso, por ela
que dever comear o cumprimento das duas penas impostas.
Conseqentemente, o Suplicante est, neste momento, a cumprir a pena de
recluso de 10 anos, pela prtica do crime previsto no art. 19da Lein938, de 4 de
abril de 1935.
Pois bem, pelo art. 47 da Consolidao das Leis Penais, que estava em vi-
gor na data em que o Suplicante foi condenado,
"a pena de recluso ser cumprida em fortalezas, praas de guerra, ou esta-
belecimentos militares".
O que havia, portanto, a fazer com o Suplicante, nessa poca da sua conde-
nao definitiva, era envi-lo para uma fortalez, praa de guerra, ou, ento, esta-
belecimento militar. Isto no foi feito, entretanto, ,como o exigiam a lei, o direito,
e a justia.
no o cumprimento deste art. 47 que o Suplicante vem pleitear,
neste momento, dos Juzes de execuo desta sua pena de 10 anos de recluso. O
que lhe interessa, agora, coisa muito importante, porque diz respeito com as suas
224
prerrogativas de criatura racional, e de membro integrante da vasta famlia humana.
O que o Suplicante vem, assim, reivindicar perante os Juzes da sua terra so
aqueles direitos que nenhum Poder tem autoridade para tirar da criatura humana,
porque eles esto intimamente tmidos prpria natureza dela e independem de
quaisquer condies de raa, de religio, e de concepes polticas.
Por isto, o Suplicante deliberou pleitear, mesmo do presdio onde o reco-
lheram, e por todos os meios I (citas ao seu alcance, que lhe sejam reconhecidos es-
ses direitos inerentes sua qualidade" de homem, e que, alm do mais, lhe so asse-
gurados pela legislao aplicvel sua pessoa, na qualidade de condenado.
Antes de tudo, 9 Suplicante quer ficar isento do regime de arbtrio a que
se acha sujeito presentemente. Para ele, na Penitenciria Central do Distrito Fede-
ral, no h regras fixas, no h regulamento permanente, no h tratamento cons-
tante. Nunca lhe a conhecer as condies, regras, e preceitos que deve se se"
guir, normalmente dentro da priso. Jamais lhe reconheceram qualquer franquia co-
mo um direito seu inalienvel. No conversa com ningum. No recebe visitas,
nem sequer as de seu advogado. No pode distrair-se com qualquer trabalho. O seu
destino, duro e cruel, viver no isolamento, guardado dia e noite por funcionrio
do presdio, que durante as suas horas de ronda tem ordens severas de se manter
em face do Suplicante dentro do-mais absoluto silncio.
Inteiramente diferente, e incomparavelmente muito mais suave o regime
a que esto sujeitos, na mesma Penitenciria, os rus de crimes comuns_ Eles traba-
Iha'rn durante o dia_ Eles se divenem, com a prtica de jogos e a audio de rdio_
Eles recebem, todas as semanas, em dias e horas fixados pela administrao, os
seus parentes e amigos. Lem jornaiS e livros de sua escolha. Vivem, outrossim, em
comum uma grande parte do dia. E tudo isto lhes outorgado no por mero favor
da administrao, mas como conseqncia direta de regulamentos baixados pelo
Poder Pblico, e que obrigam, tambm, os membros da administrao do presdio.
Entretanto, Sr. Ministro Presidente, quando alei n938, de 4 de abril de
1935, estabeleceu para os condenados por infrao ao art. l?dela, a pena de re-
cluso, o que esta lei visou foi colocar, precisamente, os condenados polticos nu-
ma situao de privilgio em face dos condenados de crimes comuns. O Suplicante
no divaga, nem inventa. Reproduz lio elementar da doutrina penal. Realmente,
Galdino Siqueira (DIREITO PENAL BRASILEIRO, Parte Geral, ed. 1921, n9
424, pgs. 590/591), ensina:
"No art. 47 declara o Cdigo que "a pena de recluso ser cumprida em
fortalezas, praas de guerra ou estabelecimentos militares". Esta pena aplicvel
somente s espcies de crimes pal/ticas; ... "No se prescreve regime especial, pe
lo que deve vigorar o imperante nos onde a pena deve ser cumprida. Assim,
como o efeito especial dessa pena, diz Joo Vieira, parece ser que o condenado
no est sujeito a trabalho algum, no s porque tal obrigao no se infere de
nenhuma psio do Cdigo Penal, como porque os lugares >nde cumprida
225
por sua mesma natureza sujeitos aos regulamentos militares impediriam a organi-
zao de trabalho penitencirio nas condies do art. 53 , isto , mais ou menos
ao estado dos reclusos."
To digna de respeito , assim para o legislador, a pessoa do condenado po-
ltico, que ele a manda colocar em estabelecimentos militares, para que fique su-
jeita apenas ao regulamento comum de tais estabelecimentos, e no ousando, por-
tanto, impor-lhe, como obrigao, nem mesmo a prtica d trabalho. Buscando
defender a sua prpria estabilidade, o Estado no quer, todavia, nem desonrar o
criminoso poltico, e nem submet-lo a um regime carcerrio rigoroso, ao contr-
rio do que faz em relao aos condenados por crimes comuns. o que adverte.
com preciso e clareza, a cincia penal, nesta outra lio de Galdino Siqueira
(lbid., pg. 591).
"Sujeitando todos os crimes pai ticos a mesma pena, com o nome de pri-
so de Estado, \lemos o cdigo hngaro, arts. 20. n93 e 35. A diversidade de trata-o
menta penal entre o delinqente, comum e o delinqente poltico advm DA 01-
VERSIDI-\DE DO MVEL da ao delituosa, bem como da categoria dos agentes.
E que o motivo do crime, como rndice em regra da personalidade,
deve determinar a qualidade de pena, e regime correspondente, bem avisado anda-
:-ia o legislador criando as penas paralelas, a exemplo dos cds. italiano, hngaro,
holands e outros, isto , penas que podendo ser iguais em durao distinguem-se,
quanto sua natureza e regime, uma sem carter desonroso, SOB REGI ME BRAN-
DO (custdia honesta, deteno ou seqestrao) para os delinqentes que agiram
sob motivo social ou sem peniersidade, como os delinqentes polrticos, ou
nais, ou culposos, outra com carter desonroso, SOB REGIME RIGOROSO, para
os delinqentes que cederam a motivos ignbeis, egosticos, distino que devia
sejrelacionada com as circunstncias materiais da ex.ecuo do crime, e destarte
fazendo, pela -diversidade de pena, a distino que a opinio pblica faz entre os
delinqttntes".
Com o Suplicante, entretanto, e por exceo singularssima, se vem fazen-
do precisamente o contrrio disto que se acha determinado_ expressa e formalmen-
te, pela legislao penal do Pas. Realmente, comparando-se o regime carcerrio
dos rus de crimes comuns da Penitenciria Central do Distrito Federal com o regi-
me carcerrio que na mesma Penitenciria. est sendo aplicado ao Suplicante, veri-
fica-se, sem som.bra de dvida, que os rus de crimes comuns tm um regime
brando e o Suplicante, pelo contrrio, tem um regime que j ultrapassou todos os
rigores, porque , em tudo, antes de tudo, e sobretudo, particularmente
alu(;inante. S a fibra de um habituado a afrontar todos os riscos, s a tmpera de
um lutador que no se dobra diante de todas as ameaas, s o carter de um com-
batente destemeroso, que seriam capazes de dois ou trs meses, em 1937 -, a
um regime to duro, to implacvel e to cruel.
226
t evidente, Sr. Ministro Presidente, que esta situao ilegal no pode per-
durar por mais tempo. Urge por-lhe termo definitivo. Eis por que, valendo.sedo que
preceitua o 2? do art. 43 da Lei n9 38, de 4 de abril de 1935, o Suplicante vem
requerer, por intermdio desta, ao Tribunal de Segurana Nacional que fixe, na
qualidade de executor da pena imposta, o modo de cumprimento da mencionada
pena.
O Suplicante eritra, assim, e em seguida, a reivindicar, neste momento, es.
tes direitos fundamentis:
1? - manter, em carter permanente, correspondncia epistolar semanal
com a sua Me, atualmente no Mxico.
Sob nenhum pretexto, esta correspondncia poder ser interrompida. O
Suplicante, no intuito de no fornecer motivos para a suspenso desta correspon_
dncia, nunca a utilizou seno para dar expanso aos seus sentimentos puramente
filiais. Quando, portanto, quiser a administrao carcerria vedaro seguimento de
qualquer carta dever apresentla ao Sr. Ministro da Justia, e, se necessrio ao
Juiz da execuo da pena, que este Tribunal de Segurana Nacional;
2? - receber, semanalmente, ao menos a visita do seu advogado. As fun.
es deste no cessaram com a condenao definitiva do Suplicante. Conforme
ensinaram os mestres que tm tratado do assunto,
"a misso da defesa no somente advogar perante o jri e discutir a ques-
to de,culpabilidade; aps a leitura da sentena, questes graves e decisivas podem,
ainda, apresentarse no interesse do acusado, quer sobre o alcance legal desta seno
tena, quer sobre os meios de nulidade que importa fazer apurar, QUER, TAM.
SOBRE A APlICAAo DA PENA" (Cresson _ USAGES ET REGLES DE
LA PROFESSION D'AVOCAT, vol. 1?, pg.366).
No mesmo sentido esta outra lio:
"O advogado deve, em nome da Justia e do seu cliente, assistir a este lti-
mo durante todo o tempo dos debates, e no o deve deixar seno depois da fixa-
o definitiva da Sua sorte. Em matria criminal, a sentena do juri no o libertaria
da sua obrigao; podero, ainda, existif observaes que devam ser apresentadas
A RESPEITO DA APLICAO DA PENA" (Saillard _ LE RLE DE L'AVOCAT
EN CRIMINELLE. pg. 142).
Ora, esta eXdtamente a situao do Suplicante. Conde.nado a duas penas
de recluso, uma de 10 anos de durao e outra de 6 anos e 8 meses, e, Posterior-
mente, a uma priso celular de 30 anos, no conseguiu sair do regime puramente
policial, que aplicado, nas Delegacias do Palrcia, queles que so acusados de te.
rem praticado algum crime, e que so conservados, por isto, dentro da mais abso-
lUta e rigorosa incomunicabilidade. A nica diferena que existe entre estes aCUsa.
dos e o Suplicante esta: a incomunicabilidade deles dura apenas alguns dias, ou,
no mximo, algumas semanas, ao passo que a do Suplicante dura j-6 longos anos.
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Nesta matria de visitas, o Suplicante se encontra numa situao realmente
singular. A sua Me, esposa, filha e irm's no se acham presentemente no Brasil.lm-
possvel ser, assim, ao Suplicante, receber as suas visitas. Os outros parentes, e
mesmo alguns amigos dedicados e solcitos que desejassem visit-lo, ver-se-iam Io-
ga envoltos numa atmosfera de perigosa suspeio. Graves aborrecimentos lhes po-
deriam advir se teimassem em ver e visitar o Suplicante.
Assim, uma s pessoa existe no Pas que est isenta, pela prpria natureza
das suas funes, de toda e qualquer supeio: a pessoa do advogado do Supli-
cante, o qual, como V. Exa. no ignora, foi constitudo defensor do mesmo Supli-
cante por indicao do Conselho da Ordem dos Advogados nesta Seo do Distri-
to Federal, e conseqente nomeao do Juiz deste Tribunal, Dr. Raul Campelo
Machado,
Por esta circunstncia, o advogado do Suplicante acha que tm inteiro ca-
bimento aqui estas graves e austeras palavras de Saillard:
"A primeira obrigao do advogado ir ver o seu cliente; ele preencher,
assim, o voto da lei, fazendo isto desde o comeo, e reiterando as suas visitas to
freqentemente quanto o interesse da defesa o exija.
Ele poder, portanto, EVITAR OS EFEITOS FUNESTOS E AUMENTAR
OS BONS RESULTADOS QUE O ISOLAMENTO PRODUZ sobre aqueles que,-
inocentes ou culpados -, no adquiriram, ainda, o triste hbito da priso. "A,
diz o Sr. Trarieux, ele poder exercer o seu ministrio de doura, bondade, bene
volncia e prodigalizar encorajamentos que tornaro menos sombria e spera, e
previniro qualquer ato de desespero".
Sentese, aqui, o grande papel moral de consolao e de regenerao social,
que confiado ao advogado: o inculpado, deprimido pelo regime de sua dete;lo,
escutar boamente os conselhos discretos daq!Jele em quem ele ter posto a
sua confiana. O NICO DO QUAL, EM TODO O CASO, ELE EST CERTO DE
QUE NO TER NUNCA QUE DESCONFIAR, E AO QUAL ELE PODE TUDO
DIZER SEM TEMOR. No est ele seguro de que nada sair da sua boca, que no
possa ser til aos seus prprios interesses? A clula se presta maravilhosamente pa-
ra esta influncia direta do homem sobre o homem." (lbid" pg, 98),
Segregado de tudo e de todos, poder ao menos o Suplicante ouvir, todas
as semanas, a palavra leal, solcita-, e austera do seu advogado:
3'? - executar quaisquer trabalhos condizentes com a sua condio de con-
denado poltico, em recinto distinto do do seu cubculo, se possvel;
4 ~ - tomar banhos de sol, e fazer alguns exerccios f(sicos em lugares
apropriados, de modo a resguardar e garantir o bom funcionamento de todos os
seus membros e rgos;
5'? - ler livros e jornais de SU!3 preferncia, semelhana, alis, do que
permitido,-pela administrao carcerria, a todos os condenados de crimes comuns.
228
So estas, Sr. Ministro Presidente, as reivindicaes que o Suplicante vem
pleitear perante os Juzes incumbidos de fiscalizarem o cumprimento da pena qe
lhe foi imposta. Aps seis anos de torturas morais indescriHveis, espera o Suplican-
te que ao menos estas franquias lhe sero asseguradas, em toda a plenitude, como
o esto a eXigir os mais elementares princpios de justia.
Requerendo a juno da presente aos autos do respectivo processo, a fim
de que sejam tomadas pelo Tribunal de Segurana Nacional as medidas aqui plei-
teadas,
P. e E. Deferimento.
Distrito Federal, 30 de abril de 1942.
(a.) Herclito Fontoura Sobral Pinto,
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RAZOES DE APELAO DE EURICO NATAL
o grande e quase genial historiador brasileiro CAPISTRANO DE ABREU,
observador exato e pesquisador penetrante dos costumes, hbitos e normas da vida
da gente brasileira, tais como os registram a histria, no cessava de proclamar, por
fora de seus estudos e de suas observaes, que o Brasil s progrediria com firme-
za e s se tornaria um Pas civilizado no dia em que fosse promulgada a seguinte
lei: "Art. 19-5upramse todas as leis existentes. Art. 2Q-Revogam-se todas as dis-
posies em contrrio:'
Esta afirmao de CAPISTRANO DE ABREU era o resultado da verifica
o, que vinha fazendo, desde muito, a respeito da no aplicao constante e inin-
terrupta de numerosas leis votada: pelo Poder Legislativo do Pas.
Os chamados processos de subverso, atualmente da competncia da Justia
Militar, comprovam, de maneira Impressionante, a exata e indiscut(vel observao
de CAPISTRANO DE ABREU.
Com efeito, um passeio tranqilo e despreocupado atravs dos artigos do
Cdigo de Processo Penal Militar revela a existncia de alguns preceitos legais, que
no so sistematicamente cumpridos pelos rgos competentes da Justia Militar.
Assim, por exemplo, o art. 99 do referido Cdigo de Processo Penal Militar
preceitua:
"O inqurito policial militar a apurao sumria de fato, que, nos termos
legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o carter de instruo provi-
sria, cuja finalidade precpua a de ministrar elementos necessrios propositura
da ao penal.
Pargrafo nico. So, porm, efetivamente instrutrios da ao. penal os
exames, pen'cias e avaliaes: realizados regularmente no curso do inqurito, por
pel'itos idneos e com obedincia s formalidades previstas neste Cdigo".
230
tJ Cdigo estabelece, portanto, distino entre os atos que integram a figu-
ra do inqurito policial militar: aqueles que se manifestam atravs de vestgios
materiais ou de pessoas vinculadas ao fato criminoso so susceptveis de ser tidos
como provas, mas aqueles que no pertencem a essa categoria, tais como testemu-
nhas, confisses, acariaes e reconhecimento pessoas no podem ser tidos
como prova, dpvendo ser considerados apenas como elementos destindos a habili-
tar o Ministrio Pblico a instaurar a respectiva ao penal.
A lei processual determina, portanto, de forma categrica, que, com exe-
o das percias e dos exames, levados a efeito no inqurito policial, toos os
outros elementos nele recolhidos devem ser considerados pelo Juiz do. processo
como inexistentes aps o oferecimento da denncla.
Essa distino entre os elementos colhidos no inqurito plena-
mente, Basta ler o rt. 314 do Cdigo de Processo Penal Militar para que se apure,
desde logo, a legitimidade da distino,
Realmente, determina este artigo:
liA percia pode ter por objeto os vestgios materiais deixados pelo crime
ou as pessoas e coisas, que, por sua ligao com o crime, podem servir-Ihedepro-
va."
As percias e os exames recaem, como acima se declara, sobre coisas que
existem realmente e sobre pessoas de identidade absoiutamente conhecida. Aque
las e estas no podem ser inventadas nem forjadas, elas s porque so, sendo a
verificao delas e as suas relaes com o crime, que a justia precisa de punir,
estabelecidas com total certeza, mesmo na fase do inqurito.
Coisa idntica, entretanto, j no acontece cem os demais elementos reco-
lhidos no inqurito, porque a violncia das-autoridades policiais pode perfeitamen-
te fabric-los, sem nenhuma correspondncia com a realidade dos fatos. T estemu-
nhas e indiciados podem, sob a presso de torturas as mais diversas, dizer que
viram o que no viram e fizeram o que no flzeram, A coao fsica e moall exer
cida sobre pessoas, ainda que enrgicas e varonis, de molde a arrancar dos indi
ciados confisses falsas e de testemunhas depoimentos fantsticos. Porque isto
perfeitamente possvel, que o legislador deu aos elementos desta natureza apenas
o carter de simples informao para instaurao da respectiva ao penal.
Este pargrafo nico acima transcrito completado pelo art. 314 do aludi-
do Cdigo de Processo Penal Militar que diz:
"A percia pode ter por objeto os vestgios materiais deixados pelo crime ou
as pessoas e coisas, que, por sua ligao com o crime, passar serlfir-Ihe de prva".
Do inqurito policial militar, assim, s se salvar, na hora do julgamento,
a prova material que, atravs de exames e de percias, tiver sido nele recolhida.
Tudo o mais, tais como depoimentos de testemunhas, confisses, acariaes, no
podero servir de elementos para a condenao de qualquei indiciado. Taisele-
mentos s sero vlidos, no momento do julgamento, se tiverem sidos ratificados
231
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em juizo. isto o que ordena a lei, cujo texto acaba de ser reproduzido nestas
Razes de Apelao.
A concluso supra-indicada confirmada, em termos expressos, pelo art.
297 do j citado Cdigo de Processo Penal Militar, que ordena, categoricamente:
"O juiz formar. convico pela livre apreciao do conjunto das provas
colhidas em juza. Na considerao de cada prova, o juiz dever confrontla com
as demais, verificando se entre elas h compatibilidade e concordncia".
A segunda parte do artigo acima reproduzido est, evidentemente, subor-
dinada ao preceito imposto na primeira parte, a saber, aquela que declara que s
tm valor para o julgamento as provas colhidas em jUl'zo.
No pairam nas normas at aqui transcritas as providncias do Cdigo de
Processo Penal Militar no sentido de permitir a condenao de algum s mediante
as provas colhidas em ,juzo. Realmente, o artigo 309 desse Cdigo estabelece:
"A CONFISSO RETRAT VEL e divisvel, sem prejuzo do livre con-
vencimento do juiz, FUNDADO NO EXAME DAS PROVAS EM CONJUNTO".
Deste modo, a confisso, feita no inqurito policial, mas que retratada
em juzo, na hora prpria, no pode servir de prova para condenar a quem quer
que seja.
Quando o texto .acima transcrito que o juiz, por livre convenci-
mento se utilize da confisso que foi retratada, estabelece, entretanto, uma condi- .
o legal, que a do "EXAME DAS PROVAS EM CONJUNTO".
Da aproximao do membro de frase "EXAME DAS PROVAS EM CON-
JUNTO". constante do art. 309, do outro membro de frase "CONJUNTO DAS
PROVAS COLHIDAS EM JUIZO", integrante do art. 297, ambos do Cdigo de
Processo Penal Militar, apura-se que a expresso usada pelo art. 309 e referente
confisso, s admissvel para as provas colhidas em juzo ou para as provas mate-
rais' colhidas n"o inqurito, nos termos do pargrafo nico do art. 99, combinado
com os termos do art. 314, ambos do Cdigo de Processo Penal Militar.
No lcito ao juiz comparar ou aproximar uma confisso, obtida no in
qurito policial militar, com outra confisso, recebida no mesmo inqurito policial
militar, para, atravs desta comparao ou aproximao, proclamar que, sendo elas
compatveis, constituem prova contra os dois acusados. E no lcito porque
ambas as confisses foram feitas no inqurito policial militar, o que lhes tira toda
e qualquer credibilidade.
A confisso, feita no inqurito policial militar, s aceitvel como prova
quando ela pode ser comparada ou aproximada de uma prova material que pesa
sobre o autor da confisso. Se esta prova material, nos termos do pargrafo nico
do art. 99, combinado. com os termos do art. 314 do mesmo Cdigo, no existe
relativamente ao autor de uma confisso feita no inqurito policial militar, tal con-
fisso no autoriza, nos termos da lei, condenar o autor dela, se, em ju zo, ele a
retistou.
232
PQis bem, Srs. Ministros, estes textos legais foram postos de lado, como
se no existissem, pela Sentena que condenou EUR ICO NATAL pena de dois
anos de recluso, como incurso no art. 43 do Decreto-Lei n9 898, de 29 de
setem bro de 1969.
Contra o ora Apelante EURICO NATAL no foi colhida em ju(zo prova
nenhuma, quer testemunhal quer material. A Sentena o reconhece em termos ex-
pl(citos, como, a seguir se demonstrar.
Quanto prova testemunhal, eis os seus termos:
"As testemunhas arroladas pela Procuradoria s folhas 1414, 1417,1419,
1421, 1493, 1495, apenas testemunharam, respectivamente, os depoimentos de
ANTONIO GONALVES EGLER, JANETE OLIVEIRA CARVALHO, EURICO
NATAL, DALTON GODINHO PIRES e as duas ltimas, de UBAJARA SILVEI-
RA ROR IS. Estas testemunhas se limitaram a reconhecer os acusados e a declarar
que os depoimentos foram prestados sem qualquer eiva de violncia ou coao."
As testemunhas, assim, no puderam informar coisa alguma sobre as supos-
tas atividades criminosas de EURICO NA TAL. O que dizem que o mesmo pres-
tou as suas declaraes livremente e sem a menor coao.
Estas testemunhas no esto mentindo, porque o que lhes foi dado assistir
foi o ato final de uma violncia.e de uma coao que vinha durando meses, no cur-
so dos quais o ora Apelante sofreu toda a espcie de torturas, dum isolamento to
tal, mantido em rigorosa e pertinaz incomunicabilidade, com ofehsa clara, perma-
nente" e manifesta lei.
Realmente, o Decreto-Lei n9 898, de 29de setembro de 1969, dispe, no
19 do art. 59:
"0 Encarregado do Inqurito poder manter incomunicvel o indiciado at
dez dias desde que a medida se torne necessria s averiguaes policiais milita-
res".
Por seu turno, a Lei n9 4.215, de 27 de abril de 1963, determina, no tem
III do art. 89:
"So direitos do advogado:
comunicar-se, pessoal e reservadamente, com os seu clientes, ainda quando
estes se achem presos ou detidos em estabelecimento civil ou militar, mesmo inco-
municveis".
A priso incomunicvel em que EURICO NA TAL foi mantido, duante me-
ses, sem que ningum, inclusive a sua prpria famlia, soubesse em que priso ele
fora colocado, e os motivos que a determinaram, foi, portanto, flagrantemente ile-
gal, em face dos termos da lei acima reproduzidos, na sua integridade.
claro que, aps ter sido seviciado, coagido e ameaado, recebeu a reco-
mendao de afirmar, calma e tranqilamente, tudo aquilo que lhe fora sugerido
no perodo das torturas, sob pena de, no o voltar novamente para c-
mara das torturas. Sem a menor possibilidade de resistir nem de recorrer prote-
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,o de sua famlia e do advogado de sua escolha, a soluo era capitular ante a
vontade abusiva de seus algozes. Repetiram, por isto, a lio mentirosa anterior
mente recebida. Desta forma, uma confisso feita no inqurito policial, sem que
nesse inqurito haja qualquer prova material que a confirme, foi considerada pelos
ju(zes militares como prova da culpabilidade do ora Apelante EURICO NA TAL,
quando a lei, que regula.o assunto, preceitua, em termos precisos e inconfundveis,
que uma tal confisso tem de ser tida como inexistente, uma vez que foi retratada
na hora prpria, perante os juzes que, no momento do julgamento, deliberaram
elev.la categoria de prova, apesar da manifesta proibio da lei.
Estranha e surpreendente a coerncia e a lgica da Sentena, como o de-
monstra o seguinte trecho desse documento: ei-Io:
"Fala-se, no autos, sobre um julgamento que havia ocorrido, de um s.u
bver
-
sivo de nome GERALDO DAMASCENO e, acusam-se alguns rus de terem sido os
autores. Ora, sobre o fato nada foi apurado. Nada resultou provado sobre o fato."
Aqui, como o trecho supratranscrito o demonstra, a Sentena resolveu, e o
fez acertadamente,no levar em considerao as confisses dos indiciados, porque
no foi recolhida nos autos, mesmo na fase do inqurito, prova nenhuma da mor-
te, por execuo, do companheiro de subverso. Tal procedimento da Sentena foi
correto, sensato e lagal, por isto que a prova da morte, e morte por execuo, no
foi apresentada nos autos.
Entretanto, nos outras pontos da confisso, naqueles em que h refern-
cias a aliciamento de n'ovos membros para o Partido Comunista do Brasil, conver-
sas nas esquinas das ruas, reunies nas casas de -uns e dos outros dos membros des-
te Partido, a Sentena, num ilogismo flagrante contrrio lei, deixou de aplicar o
mesmo critrio, considerando a confisso, em tais pontos, como prova suficiente
para condenar o ora Apelante EURICO NATAL_
Este i1ogismo merece maior censura, porque a Sentena desrespeitou a lei,
sabendo que o fazia, consoante certifica o trecho que se segue:
liA lei entende que a simples confisso de inqurito e as declaraes de co-
rus no so suficientes como prova".
A concluso 16gica, serena e imparcial desta afirmao certa e legal da Sen-
tena, seria a da absolvio daqueles indiciados que figuram no processo sem que
nos autos respectivos surja prova material, seja de que natureza for, que confirme
as declaraes prestadas no inqurito, naquela fase em que eles permaneceram in-
comunicveis durante meses, sem que as suas prprias fammas soubessem o desti-
no deles. ~ bvio que esta incomunicabilidade e esta deteno desconhecida esto
a atestar que os indiciados sofriam, nesse perodo, toda a espcie de coao, com
a finalidade de for-los a dizer e a proclamar aquilo, que na verdade, eles no
tinhm feito nem praticado.
de salientar, agora, que, depois de reconhecer que a lei no d o menor
valor s confisses feitas no inqurito policial, que estejam desacompanhadas de
234
prov.as materiais que as confirme, a Sentena prossegue nestes termos:
"Mister, entretanto, se faz entender que uma simples declarao seja insufi-
ciente, mas, vrios co-rus fazendo as mesmas acusaes ou se referindo a um fa-
to, esta prova j vem tomando corpo, embora, de inqurito o podem conduzir os
julgadores a uma convico de que esta ou aquela acusao tem cabimento. o
que acontece nestes autos".
de pasmar o ilogismo e a ilegalidade da Sentena, desde que o que ile-
gal uma vez, tem de ser ilegal dez ou cem vezes. Quando a lei determina que as
confisses feitas no inqurito no tm o valor de prova porque, no inqurito,
as confisses no so feitas dentro das condies e das garantias impostas pelo
art. 307 do Cdigo de Processo Penal Militar, condies e garantias que so
as seguintes:
"Para que tEmha valor de prova, a confisso deve:
a) - ser feita perante autoridade competente; .
b) - ser livre, espontnea e expressa;
c) - versar sobre o fato principal;
d) - ser v-erossmil;
so".
e) - ter compatibilidade e concordncia com as demais provas do praces-
Ora, a confisso atribu(da a EURICO NATAL no foi feita perante a auto-
ridade competente, a saber, o encarregado do inqurito; no foi livre, espontnea e
expressa, mas, pelo contrrio, foi coagida, obrigada e imposta; e, finalmente, no
compatfvel nem concordante com as demais provas do processo, uma vez que no
foi recolhida nos autos prova de espcie alguma que confirme as declaraes do
inqurito ~ ele atribul'das.
Numa incoerncia, que a lei condena, a Sentena chama prova aquilo que,
a seguir, ela declara:
"Alguns acusados prestaram depoimentos convergentes para estabelecer
responsabilidade de outros e esses depoimentos foram depois confirmados em su-
mrio, no pelos rus, verdade, mas por testemunhas que, no inqurito, presen-
ciaram suas declaraes e, em Ju zo, vm e declaram que o fizeram de livre e es-
pontnea vontade, sem qualquer coao."
As testemunhas convocadas, agora, pela Sentena para -dar credibilidade
s confisses dos indiciados, no estiveram ao lado e na presena dos mesmos in
diciados durante todo o peiodo em que eles permaneceram detidos e incomunic-
veis em prises do exrcito,. sofrendo toda a espcie de torturas para que anussem
em dizer aquilo que as autoridades militares queriam que eles dissessem. Estas tes-
temunhas s6 estiveram presentes ao ato final, que era o resultado de toda a coa-
o que durava meses. Este aspecto j foi focalizado anteriormente nestas mesmas
Razes de Apelao. Assim, o que a Sentena considera prova uma srie de con-
fisses feitas com infrao e desrespeito total ao que .figura preceituado no art.
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307 do Cdigo de Processo Penal Militar, j anteriormente citado. 100 confisses
nulas, quando reunidas, no se transformam numa confisso verdadeira, isto , no
podem ser elevadas categoria de prova. A validade de uma confisso no uma
questo de nmero, mas uma questo de qualidade. Aquilo que no- presta nem va
le nada porque no se reveste das condies exigidas pela lei, pode se repetir dez,
cem ou mil vezes que continua a no prestar e a no valer nada.
de uma ingenuidade, incompreens(vel em homens experimentados, como
aqueles que proferiram a Sentena que condenou EURICO NA TAL que conside-
rem eles verdadeiras as confisses, feitas no inqurito, por serem l/convergentes p-
ra estabelecer responsabilidade de outros".
Esta convergncia o que h de mais explicvel: os indiciados estiveram
meses a fio nas mos dos interrogadores. Obtida a declarao de um, mediante o
emprego da tortura, torna-se fcil, atravs dos mesmos mtodos de coao, obter
dos demais indiciados declaraes idnticas.
A convergncia, a que alude a Sentena, obtida no decurso do inqurito
que se arrasta por meses, com os indiciados incomunicveis, longe ae ser prova de
deles, revela, pelo contrrio, o abuso das autoridades que presidiram
tal inqurito.
O ponto mais lamentvel, porm, da Sentena aquele em que declara
que, embora se arriscando a condenar inocentes, entende que as confisses mani-
festamente ilegais, feitas sem as condies e garantias impostas pelo art. 307 do
Cdigo de Processo Penal Militar, devem ser aceitas como prova, pela incapacida-
de das autoridades repressoras de conseguir as provas exigidas pela lei. Torture-se,
coaja-se,sevicie-se, desrespeite-se a dignidade da pessoa humana, mas arranquem-se
ainda que falsas, para garantir o regime que a( est. Aqui vo estas "in-
",Ivei, palavras da Sentena:
lias mtodos empregados para a propaganda do regime comunista e suas
j por si s tornam-se dific(limos de serem provados, porque feita atra-
vs de leituras, sobretudo de imprensa clandestina, conversas aop.
tudo no maior segredo, subrepticiamente, nos subterrneos da subver-
so, cada vez mais vigorosa. H nos autos referncias a dinheiros vindos do exte-
rior, donde se conclui, auxflio externo para sustentao dos partidos fora-da-Iei.
A no aceitar-se esse tipo de provas que, embora de co-rus, venham acompanha-
das de confiss)es, seria deixar larga a atuao do insidioso inimigo da Ptria. t
verdade que se faz necessria uma interpretao rigorosa de um tal tipo de prova,
pois, injustias podem ocorrer, sobretudo quanto a inimizades partidrias ou um
elemento mal avisado queira deixar as fileiras da subverso, que so citados pelos
membros ativistas. Conclui-se assim, que a lei no to liberal como se alega."
O que singular em toda esta exposio da Sentena que ela se atreve
a denominar prova aquilo que, pela lei, no tem nem pode ter semelhante valor.
236
A confisso desacompanhada de qualquer prova materiElI nula, no podendo
ser admitida como prova por qualquer juiz militar.
Mais singular, ainda, a afirmao de que a lei no to liberal como se
apreg"oa. Onde, na lei e na doutrina, os textos, as razes e as declaraes que au-
torizam a fazer afirmao to grave. A lei o que . Contra ela no podem"preva-
lecer argumentos nem quaisquer consideraes de ordem pai (tica. A nossa lei
no nem rigorosa nem frouxa. Ela a lei e tem de ser obedecida.
Finalmente, o mais espantoso que a Sentena reconhece que no fo"i co-
lhida no processo prova nenhuma a respeito das supostas atividades ilegais de
EURICO NA TAL, porque ningum assistiu aos aliciamentos que lhe so atribuf-
dos, ningum ouviu as suas conversas com os supostos correligionrios comunistas,
ningum presenciou a sua leitura de jornais comunistas clandestinos. Como tudo
isto muito difdl de ser apurado pelas autoridades repressoras do comunismo,
conclui-se que a e!as" I(cito torturar os trabalhadores humildes, a fim de arrancar
deles. pela coao insuportvel, a confisso falsa de todas estas atividades.
Quando os jUl'zes, sentinelas da lei, tornam nulos os seus preceitos, sob o
fundamento de que eles protegem supostos inimigos do regime, esto preparando,
sem que o percebam; para a Ptria, um futuro sombrio e funesto. Os fatos sociai"s
no provocam, no seio da comunidade onde eles surgem, conseqncias rpidas ou
imediatas. Eles vo solapando aos poucos as normas que presidem ao desenvolvi-
mento social de tais comunidades.
O desrespeito consciente e sistemtico das leis de um Pa(s pertencem a esta
categoria de fatos sociais. Os efeitos desagregadores que dele decorrem no apare-
cem logo. Levam anos para revelar a sua obra de destruio. Ele acarreta, necessa
riamente, o desprestfgio da Justia e a confiana que nela depositam os cidados
da Ptria, cujo despertar quase sempre desastroso e doloroso.
A Sentena reconhece que no existe nos autos prova alguma contra"o ora
Apelante EURICO NA TAL; Nem no inqurito, nem no sumrio entrou nestes
auto, prova alguma apontando o ora Apelante EURICO NA TAL como comunista
e como comunista em atividade. A condenao dele, pela Sentena, decorreu to
somente da sua confisso, feita no inqurito, e de outros indiciados, tambm fei-
ta no inqurito.
Pouco importa que a lei no admita sejam tidas como prova semelhantes
confisses. O que preciso condenar, conforme a prpria Sentena confessa
nestes termos:
"Ora, no admitir-se acusaes desta natureza, seria deixar aos inimigos
do regime, uma situao muito cmoda para defender-se a continuar livremente
com o apangio da Justia, sua propaganda desagregadora e nefasta ao regime
constitu(do. No fora assim o nico culpado' neste inqurito seria DALT9N GO-
DINHO PIRES que teve apreendido em sua residncia material subversivo _ .. "
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No pode o ora Apelante EURICO NA TAL deixar de acentuar que' h,
nestes autos, prova idnea de torturas cruis aplicada aos indiciados na fase do in-
qurito. A Dra. GRACIELA MEINBERG FADUL. segundo diz a prpria Seno
tena.
"Alegou que o depoimento prestado, no inqurit.o, no representa a verda-
de, porque obtido base de violncia e coa:o moral, frsica e psic9Iglca".
Mais adiante, continua a Sentena:
"s folhas 1.611, uma informao do Hospital Central do EXRCITO d
noticia de que a Dra. GRACIELA MEINBERG FADUL fora apresentada quela
entidade, com um prolapso hemorroidrio e ali operada. Isto ocorreu no decurso
de sua priso".
Esta indiciada foi absolvida, e o foi acertadamente, uma vez que a sua con-
fisso, falsa, decorreu das torturas to cruis que lhe inflingirarn at o ponto de
ser necessria a sua internao no Hospital Central do Exrcito, onde fi operada.
A concluso lgica, legal e justa da argumentao at aqui desenvolvida
uma s, no que diz respeito ao ora Apelante EURICO NA TAL, a sua absolvio,
semelhana do que ocorreu com a Dra. GRACIELA MEINBERG FADUL.
Mas, admitindo-se, para argumentar, que o ora Apelante devesse ser con-
denado, com_ fundamento nas confi.sses , extorquidas pela violncia, recolhidas
nestes autos, no poder ele ser condenado a dois anos de recluso, como incurso
no art. 14 do DecretoLei n9 898 de 29 de setembro de 1969. A Sentena deciara,
no que lhe diz respeito:
"Condenar EURICO NATAL, unanimemente, e por maioria de votos,
como incurso no art. 43, a dois anos de recluso".
O art. 14 do referido Decreto-Lei, preceitua:
"Formar, filiar-se ou manter associao de qualquer ttulo, comit, entida-
de de classe ou agrupamento que, sob a orientao ou cqm o auxflio de governo
estrangeiro ou organizao internacional, exera atividades prejudiciais ou perigo-
sas Segurana Nacional.
Pena: recluso, de 2 a 5 anos, para os organizadores ou mantenedores, e de
6 meses a 2 anos, para os demais_"
Apura-se, pelo texto acima transcrito, que a pena de 2 anos de recluso ,
num caso, pena m(nima; e, noutro caso, pena mxima.
pena mnima quando se trata de organizadores e mantenedores; e de
pena mxima, para os demais.
No caso do ora Apelante EURICO NA TAL, a sua confisso, falsa, no o
coloca na posio de organizador e mantenedor do Partido Comunista. Consi-
derada como prova, embora ilegalmente, ela o colocaria na situao de apenas
filiado do Partido Comunista.
Neste hiptese, sendo ele primrio, a pena a lhe ser imposta teria de ser
de 6 meses, e nunca de 2 anos.
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Se o Superior Tribunal Militar entender, apesar da argumentao cerra-
da aqui desenvolvida, de condenar o ora Apelante EURICO NATAL, dever,
em tal caso, receber o presente recurso para, modificando a Sentena de li! Ins-
tncia, conden-lo a 6 meses de recluso.
Em face de tudo quanto foi exposto, debatido e argumentado, com ba-
se na lei reguladora do assunto, confia o ora Apelante EURICO NA TAL seja
absolvido e, na pior das espcies, condenado a pena de recluso de 6 meses.
Urge, porm, proclamar, com veemncia, que a soluo legal do seu caso a
absolvio, como esto a exigir os preceitos da serena e imparcial
JUSTiA
Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 1976.
Herclito Fontoura Sobral Pinto.
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SUMARiO
Carta de Sobral Pinto a Ary Quintella, de 7.3.79.
Carta de Juscelino Kubitschek de Oliveira a Sobral Pinto, de
9.2.72.
Discurso do Deputado Federal lvaro Valle, em 13.3.79, sobre
concesso do PrDmio Juca Pato ao jurista Sobral Pinto.
Porque Defendo os Comunistas- introduo de Ary Quntella.
Auto de Declaraes prestadas pelo Capito Luiz Carlos Prestes,
em 9.3.36.
Carta de Sobral Pinto sua irm Natalina, de 11.1.37, a respeito
de seu patrocnio de Luiz Carlos Prestes.
Carta de Sobral Pinto a Targino Ribeiro, Presidente do Conselho
da OAB, de 12.1.37, aceitando a defesa de- Luiz Carlos Prestes e
Harry Berger.
Carta de Sobral Pinto a Dom Sebastio Leme, Cardeal do Rio de
Janeiro, de 14.1.37.
Requerimento de Sobral Pinto a Raul Machado, Juiz do Tribunal
de Segurana Nacional, de 15.1.37, solicitando lhe seja permitido
entrar na clula de Luiz Carlos Prestes.
Requerimento de Sobral Pinto a Raul Machado, de 15.1.37,
solicitando seja dispensado tratamento condigno a Harry Berger.
Resposta de Euzbio de Queiroz Filho, Comandante da Polcia
Especial, ao Juiz Raul Machado, em 25.1.37, confirmando
denncia de Sobral Pinto relativa s condies de encarceramento
de Harry Serger.
Defesa Prvia de Harry Serger, de 29.1.37.
Exposio de Sobral Pinto a Raul Machado, de 29.1.37, expli-
cando porque ainda no fizera a Defesa Prvia de Luiz Carlos
Prestes.
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Carta de Diga Benrio Prestes, esposa de Luiz Carlos Prestes, de
31.1.37, sua sogra, Leocdia Prestes.
Traduo da carta de Diga Benrio Prestes.
Requerimento de Sobral Pinta a Raul Machado, de 11.2.37, a
respeito da impossibilidade de David Levinson, advogado norte-
americano, ser patrono de Harry Berger no Brasil.
Carta de Sobral Pinto a Agamennon Magalhes, Ministro da
Justia, de 13.2.37.
Requerimento de Sobral Pinto a Raul Machado, de 2.3.37,
falando das pssimas condies de encarceramento de Harry
Berger e slicitando seja aplicada ao prisioneiro a lei de Proteo
aos Animais.
Notcia de A Noite, anexada ao requerimento de 2.3.37.
Carta de leocdia Prestes a Luiz Carlos Prestes, de 6.3.37, co-
municando o nascimento da filha dele.
Carta de Lygia a seu irmo Luiz Carlos Prestes, falando de Anita
Leocdia, filha dele, sem data.
Ofcio de Raul Machado ao Chefe da Polcia do Distrito Federal,
de 9.3.37, referente s pssimas condies de encarceramento de
Harry Berger.
Requerimento de Sobral Pinto a Raul Machado, de 11.3.37,
solicitando seja entregue a Luiz Carlos Prestes correspondncia a
ele dirigida.
Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 12.3.37, em que fala
de sua posio como advogado de Luiz Carlos Prestes e Harry
Berger.
Requerimento de Sobral Pinto a Raul Machado, de 5.4.37,
solicitando lhe seja assegurada a livre comunicao com Luiz
Carlos Prestes.
Requerimento de Sobral Pinto a Raul Machado, de 6.4.37,
seu pedido de remoo de Harry Berger para outro
crcere.
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Ofcio de Raul Machado a Euzbio de Queiroz Coman-
dante da Polcia Especial, de 9.4.37, referente ao relacionamento
de Sobral Pinto com Luiz Carlos Prestes, e outra matria:
Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 10.4.37, a respeito
da correspondncia dela com Luiz Carlos Prestes .
Exposio de Sobral Pinto a Raul Machado, de 14.4.37, sobre as
raz.es de no haver ainda apresentado as Alegaes Finais em
favor de Harry Berger.
arta de Sobral Pinto a Minna Ewert, irm de Harry Berger, de
27.4.37, a respeito de David Levinson.
Requerimento de Sobral Pinto a Raul Machado, de 5.5.37,
reiterando lhe seja permitido falar a ss com Luiz Carlos Prestes.
Protesto de Sobral Pinto ao Comandante da Polcia Especial, de
5.5.37, referente a presses exercidas por aquela autoridade
contra Luiz Carlos Prestes.
Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 8.5.37, comunicando
a condenao de Luiz Carlos Prestes a 16 anos e 8 meses de
priso.
Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 12.5.37. comuni-
cando a entrega dos objetos remetidos ao filho.
Carta de Sobral Pinto a Minna Ewert, de 20.5.37, comunicando a
condenao de Harry Berger a 13 anos e 4 meses de priso.
Pelo Apelante Arthur Ernest Ewert ou Harry Berger, em 24.5.37.
Pelo Apeiante Luiz Carlos Prestes, em 24.5.37.
Carta de Sobral Pinto a leocdia Prestes, de 28.5.37, descrevendo
a revista de objetos pessoais que ele entregara a Luiz Carlos
Prestes.
Carta de Sobral Pintu a J.os Carlos de Macedo Soares, novo
Ministro da Justia, de 3.6.37, descrevendo as pssimas condies
de encarceramento de Harry Berger, "reduzido humilhante
condio de animal hidrfobo", e de. Luiz Carlos Prestes, que
"sofre a tortura alucinante da sentinela vista, dia e noite".
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Carta de Sobral Pinto a Minna Ewert, de 11.6.37, a respeito da
possibilidade da cunhada dela - Sabo - retornar ao B r a s i l ~ de
onde fora expulsa.
Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 12.6.37, referente 11
possvel transferncia de crcere de Luiz Carlos Prestes e Harry
Berger.
Carta de Sobral Pinto ao cardeal Dom Sebastio Leme, de 3.7.37,
solicitando a Sua Eminn:ia "chamar razo os nossos governan.
tes" para que Harry Berger no morra na Polcia Especial.
Carta de Sobral Pinto ao Presidente da Repblica, Getlio Dor-
nelles Vargas, de 8.7.37, a respeito das "torturas morais" que
Luiz Carlos Prestes e Harry Berger vinham sofrendo, bem como
"os supll'cios ffsicos indescritveis, que estavam a inflingir a Harry
Berger" .
Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 10.7.37, sobre a
transferncia de priso de Luiz Carlos Prestes e Harry Berger.
Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 17.7.37, sobre a
defesa de Luiz Carlos Prestes e Harry Berger.
Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 24.7.37, a respeito
das condies de transferncia de Luiz Carlos Prestes para a Casa
de Correo.
Carta de Sobral Pinto a Carlos Lassance, Diretor da Casa de
Correo, de 12.8.37, prestando contas da quantia remetida por
Leocd ia Prestes.
Requerimento ao Relator da Apelao Crime n> 4.899. de
28.7.37, solicitando medidas urgentes a fim lide levantar as
energias, j grave e seriamente comprometidas, desse torturado
preso poltico - Harry Berger."
Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 14.8.37, a respeito
da possvel libertao de Diga Benrio Prestes.
Carta de Sobral Pinto a Jos Carlos de Macedo Soares, Ministro da
Justia, de 19.8.37, em que afirma tudo fazer "para evitar que o .
Governo brbaro e odiento de Hitler pratique a monstruosa
iniqidade de tirar das mos de sua Me uma tenra criana de 10
meses" .
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Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 18.9.37, a respeito
do "reconhecimento, por parte de Luiz Carlos Prestes, de sua
filha Anita Leocdia".
Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 25.9.37, comuni
cando a remessa Gestapo de certido de escritura de reconhe-
cimento de Anita.Leocdia.
Carta de -Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 4.12.37, ainda a
espeito de Anita Leocdia.
qarta de Sobral Pinto a Francisco Campos, Ministro da Justia, de
4.1".38, solicitando providncias para assegurar o seu entendi-
mento com Luiz Carlos Prestes e Harry Berger, na Casa de Cer-
reo, e mencionando o procedimento de Filinto Mller, Chefe de
Polcia.
Carta de Sobral Pinto a Francisco Campos, Minisvo da Justia, de
10.1.38, mencionando "Neste regime de senzala que o Getlio,
com a sua colaborao . .. "
Carta de Sobral Pinto ao Capito Luiz Carlos Prestes, de 15.1.38,
em que declara: "Os de quem me desinteresso, Sr. Capito, so
os vencedores".
Carta de Sobral Pinto a9 Tenente Canepa, novo Diretor da Casa
de Correo, de 15.1.38, remetendo livros para Luiz Carlos Pres-
tes.
Carta de Sobral Pinto para Francisco Negro de Lima, Chefe do
Gabinete do Ministro da Justia, de 19).38 remetendo "os no
mes de alguns presos polticos . . , "3 fim de que voc d inicio ao
servio de apurao ... da justia ou injustia das prisc5es . , . "
Carta de Sobral Pinto a Francisco f'l<>9'''' <lo Lima, de 14.3.38,
assim iniciada: "Gostei de ver o tom de seu carto. Aquele "Dr.
Herclito Sobral Pinto, F. Negro de Lima, Chefe do gabinete
do Ministro da Justia, cumprimenta" de 11m sabor austero'
que condiz muito bem ... "
Carta de Sobral Pinto a Leocdia Prestes, de 7.5.38, mencionando
greve de fome iniciada por Luiz Carlos Prestes.
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Carta de Sobral Pinto ao Cardeal Dom Sebastio Leme, de 9.6.38,
relatando a sua priso, dentro da Casa de Correo.
Carta de Sobral Pinto a Francisco Campos, Ministro da Justia,
de 17.6.38, a respeito dos acontecimento;; na Casa de Correo.
Carta de Sobral Pinto a Francisco Negro de Lima, de 5.8.38, em
que diz: "O tal Estado Novo que vocs inventaram s produz
destes resultados: a inverso de todos os valores".
Pelos Embargantes Luiz Carlos Prestes, Arthur Emest Ewert ou
Harry Berger e Agildo da Gama Barata Ribeiro, em 3.10.38.
Requerimento de Sobral Pinto ao Ministro Presidente do Tribunal
de 30.4.42, fazendo certas reivindicaes para Luiz Carlos Prestes.
Razeside Apelao de Eurico Natal, de 12.1.76.
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