Análise Comparativa Das Placentas Dos Animais Domésticos
Análise Comparativa Das Placentas Dos Animais Domésticos
Análise Comparativa Das Placentas Dos Animais Domésticos
Introduo
Durante a prenhez, os vertebrados vivparos desenvolvem um sistema complexo de membranas nutricionais que envolvem o feto. No local de aposio ou de unio das membranas fetais com a mucosa uterina formada a placenta [1]. Placenta um rgo transitrio formado por tecidos maternos e fetais, com a funo de transportar substncias nutritivas do organismo materno para o feto, bem como promover "trocas metablicas" e desempenhar funes endcrinas quanto produo de hormnios na manuteno da gestao [1]. A placentao consiste na forma com que as membranas fetais vm a se desenvolver e a se associarem ao endomtrio [2]. Neste processo de desenvolvimento da placenta esto relacionadas quatro estruturas membranosas: o corion, o minio, o saco vitelino e o alantide [1]. O cordo umbilical o anexo fetal que une o feto placenta, apresentando no seu interior os vasos umbilicais, que so responsveis pelas trocas sangneas entre os organismos fetal e materno [3]. Os vasos umbilicais so representados por duas veias e duas artrias (homem, equino e suno ocorrem obliterao e desintegrao da veia umbilical direita). Pode conter ainda pedculos do saco vitelnico e do alantide [4,5,6]. Os tipos placentrios podem ser classificados em nveis complementares que refletem diversas caractersticas placentrias, tais como a origem e tipos das membranas, forma, interdigitao materno-fetal, interrelao do fluxo sanguneo materno-fetal, camadas teciduais da barreira materno-fetal, invaso trofoblstica e reao de decidualizao celular, formao de sinciotrofoblasto e separao placentria ao nascimento [1]. Assim, de acordo com as membranas fetais, classificam-se as placentas em: corinicas, coriovitelnica, vitelnica e corioalantica. De acordo com sua relao materno fetal, classificam-se em: difusa, cotiledonria, zonria, bidiscoidal e discoidal. E baseado no nmero de camadas celulares que separam as circulaes sanguneas materna e fetal,
classificam-se em: epiteliocorial, sinoepiteliocorial, sindesmocorial, endotliocorial e hemocorial. Para entender os mecanismos da fisiologia placentria necessrio um estudo anatmico e comparativo dos diversos tipos placentrios. Os modelos animais tem sido o tema central do estudo da placenta desde os princpios, e muito do conhecimento da anatomia e fisiologia placentria que se tem atualmente continua sendo derivado de estudos comparativos em animais [7]. O objetivo desta reviso reforar e incentivar o conhecimento sobre os tipos anatmicos placentrios, aprimorando assim o entendimento fisiolgico sobre os mecanismos de desenvolvimento fetal em diferentes espcies.
Material e mtodos
Na execuo deste trabalho foi utilizada metodologia em pesquisa bibliogrfica com artigos cientficos e livros referentes ao assunto abordado.
Resultados e discusso
A placenta das diferentes espcies exibe uma grande diversidade em estruturas que incluem diferentes organizaes, quanto ao tipo celular, forma, e modelo de distribuio sobre o endomtrio [8]. As placentas podem ser classificadas de acordo com as membransa, sendo: placenta corinica, primeiro passo no desenvolvimento da placenta em todos os mamferos (presente at o final da gestao como uma parte avascular e no especializada na placenta dos primatas); placenta coriovitelnica, membrana corinica conectada circulao fetal pelos vasos vitelnicos (menor parte das placentas dos perissodactyla e carnvoros); placenta vitelnica, epitlio do saco vitelnico com vasos vitelnicos conectados circulao fetal (peixes, anfbios e parte da placenta de roedores); placenta corioalantica, membrana corinica conectada circulao fetal pelos vasos alantoideanos (placenta da maioria dos mamferos) [1]. Este tipo de placenta considerada a mais eficiente. Como a placenta um rgo dinmico, em constante alterao de forma numa mesma espcie, podem ocorrer diferentes tipos de placentao segundo
________________ 1. Graduanda em Medicina Veterinria, Monitora de Anatomia, Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal (DMFA), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). R. Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmos, Recife, PE, CEP 52171900. E-mail: marcelamaamorim@gmail.com 2. Graduanda em Medicina Veterinria, Monitora de Anatomia, DMFA - UFRPE. 3. Graduanda em Medicina Veterinria, UFRPE. 4. Professora Dra. Associada I do DMFA UFRPE.
o perodo de gestao considerado. Assim, por exemplo, na gua e carnvoros observamos no perodo inicial da gestao uma placentao vitelnica devido ao maior desenvolvimento do saco vitelino e ao seu contato com o endomtrio. Com o evoluir da gestao h um maior desenvolvimento da alantide e a placenta torna-se do tipo corioalantide [9]. Todas as placentas dos mamferos aumentam a rea de contato entre as superfcies materna e fetal atravs da forma mais ou menos intensa das terdigitaes dos tecidos. Quando esta distribuio se prolonga na maior parte da superfcie corinica [1] , ou seja, quando as vilosidades distribuem-se regularmente pelo crion, temos a placenta difusa (suno e equino). A placenta do equino classificada como difusa tal qual a dos sunos. O arranjo das membranas fetais do tipo crion-alantide, o crion apia-se no endomtrio uterino com exceo de uma pequena rea denominada estrela cervical. Os microcotildones formam-se em toda a rea de interao com o endomtrio caracterizando uma placentao difusa [10]. A placenta dos equinos apresentam estruturas nica como os clices endometriais e cinta corinica, produo da Gonadotrofina Corinica eqina (eCG) e s seis camadas de tecido entre os capilares materno e fetal [11] . No entanto, na maioria dos mamferos, as interdigitaes esto concentradas em reas especficas, tendo, assim, a placenta cotiledonria, tpica nos ruminantes [1]. As vilosidades corinicas apresentam-se agrupadas em determinadas regies e denominam-se cotildones. A cada cotildone corresponde a uma regio modificada do endomtrio uterino, denominada carncula, que so projees da mucosa uterina. O conjunto formado por um cotildone e uma carncula, recebe o nome de placentoma. Entre os placentomas o corin dos ruminantes (com exceo da girafa ) no apresenta vilosidades . Estas carnculas so convexas na vaca e cncava na ovelha e cabra [12]. A placenta definitiva dos bovinos do tipo corioalantoideana, na qual a membrana corinica conectada a circulao fetal pelos vasos alantoideanos [1]. Na placenta zonria a zona de contato das interdigitaes formam um cinto ao redor do saco corinico [1], ou seja, as vilosidades esto dispostas em forma de anel ou cinturo que envolve o feto no sentido transversal, determinando, assim, uma zona placentria restrita. As vilosidades assemelham-se a um labirinto, fato que relaciona mais intimamente os tecidos maternos fetais. Nas bordas da placenta zonria observa-se um hematoma que resulta de hemorragia materna quando da invaso do trofoblasto no endomtrio uterino [13]. Estes hematomas desempenham papel importante na nutrio do feto, pois o sangue materno decomposto propiciando uma fonte importante de ferro [14]. Este tipo de placenta encontrado nos carnvoros.
Diferente do ocorrido nos outros carnvoros, a placenta felina mostra uma placenta zonria incompleta devido a presena da fissura placentria. Pesquisa realizada mostra que de 32 casos, em 20, ou seja, 62,5% havia presena de fissura placentria do lado esquerdo da placenta em regio distal ao funculo umbilical. Em dois casos sobre 20, ou seja, 10%, a fissura placentria formava um anel incompleto do tecido anular zonrio placentrio, sendo suas bordas interligadas atravs da vascularizao dos ramos arteriais e venosos placentrios, sendo neste caso verificado ausncia de tecido trofoblstico sobre o tero [15]. A placenta discoidal encontrada na maioria dos roedores e no homem. Neste tipo de placenta h um grande desenvolvimento das vilosidades corinicas, mas agrupadas na regio basal do concepto. Tem a forma de um disco ou torta e est relacionada com uma maior intimidade entre os tecidos maternos e fetais. Na coelha a placenta constituda por um disco e situada dorsalmente ao feto, comum em outros roedores. Neste tipo de placenta tambm encontra-se cotildones que formam pequenas lobulaes. Estes so formados pela penetrao das vilosidades do endomtrio, com destruio deste pelo sinciciotrofoblasto [16]. Na placenta bidiscoidal, o tecido de troca concentra-se em dois discos placentrios (macaco Rhesus, marmota e alguns roedores). Mediante as camadas de tecido inter-hemal , sendo teoricamente seis camadas teciduais que separam as circulaes materna e fetal (endotlio materno, tecido conjuntivo, epitlio maternal, trofoblasto, que o epitelio corinico, tecido conjuntivo fetal e endotlio fetal), as placentas classificam-se em: epiteliocorial, quando o epitlio corinico e o endotlio esto preservados, consequente a uma implantao superficial (suno e equino); sinoepiteliocorial, verificada nos ruminantes, semelhante placenta epiteliocorial, no entanto, algumas clulas trofoblsticas (tambm chamadas binucleadas ou clulas gigantes) se fundem com as clulas epiteliais uterinas; a sindesmocorial um estgio transitrio inicial, anterior hibridizao (mistura) do epitlio uterino e trofoblasto; a endoteliocorial, verificada em carnvoros e alguns morcegos, as clulas trofoblsticas se insinuam profundamente at o endotlio materno [1]; e na hemocorial, o epitlio do crion fica em contato com o sangue materno, verificada nos primatas e roedores [17]. Nos animais, principlamente nos mamferos, a placenta um dos rgos estruturalmente mais complexos. Essa complexidade promovida, em parte, pela interao dos tecidos de origem materna e fetal, alm da presena de uma variedade de camadas intermedirias que se interpem entre os leitos vasculares materno e fetal [18].
Agradecimentos
Agradecemos a Professora Doutora Marleyne Jos Afonso Accioly Lins Amorim pela orientao prestada, bem como aos demais autores pela dedicao e compromisso com o trabalho realizado.
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Referncias
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