Sociologia Do Trabalho - Prof. Tatiana Claro - Aula 3
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Como conseqncia, percebemos que a Revoluo Industrial alterou profundamente as condies de vida do trabalhador braal, provocando inicialmente um intenso deslocamento da populao rural para as cidades, com enormes concentraes urbanas. A produo em larga escala e dividida em etapas ir distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, j que cada grupo de trabalhadores ir dominar apenas uma etapa da produo. Na esfera social, o principal desdobramento da revoluo foi o surgimento do proletariado urbano (classe operria), como classe social definida. Vivendo em condies deplorveis, tendo o cortio como moradia e submetido a salrios irrisrios com longas jornadas de trabalho, esse operariado nascente era facilmente explorado, devido tambm, inexistncia de leis trabalhistas. O desenvolvimento das ferrovias ir absorver grande parte da mo-de-obra masculina adulta, provocando em escala crescente a utilizao de mulheres a e crianas como trabalhadores nas fbricas txteis e nas minas. O agravamento dos problemas scio-econmicos com o desemprego e a fome, foram acompanhados de outros problemas, como a prostituio e o alcoolismo. A separao entre capital e trabalho resultante da Revoluo Industrial representado socialmente pela polarizao entre burguesia e proletariado. Esse antagonismo define a luta de classes tpica do capitalismo, consolidando esse sistema no contexto da crise do Antigo Regime. Caractersticas da primeira e segunda revoluo industrial O espao geogrfico, a partir das transformaes scio-econmicas dos sculos XV e XVI, passou a ter abrangncia mundial. A organizao espacial variou de acordo com papel diferenciado que ocuparam as colnias, as metrpoles e outras regies do globo, com maior ou menor grau de integrao ao novo sistema econmico. Porm, a mais profunda transformao espacial ocorreu com a introduo da indstria moderna na Inglaterra, que marcou o incio do capitalismo industrial. A industrializao no provocou mudanas apenas na forma de produo, mas direcionou toda a configurao do espao atual. Modificou as relaes sociais e territoriais, difundiu cultura e tcnica, aprofundou a competio entre os povos, concentrou a populao no espao e provocou o crescimento cada vez maior das cidades. Com a inveno da mquina a vapor e sua incorporao produo industrial, os trabalhadores eram obrigados a trabalhar conforme o ritmo das mquinas, de maneira padronizada. Outra parte da mo-de-obra disponvel foi requisitada para trabalhar nas minas de carvo (fonte de energia dessa primeira fase da Revoluo Industrial). Nesse perodo, o lucro no advinha mais da explorao das colnias, mas sim, da produo de mercadorias pelas indstrias, que trazia embutido a explorao dos trabalhadores atravs da mais-valia. Nos sculos XVIII e XIX, o capitalismo prosperava na forma de pequenas e numerosas empresas, que competiam por uma fatia do mercado, sem que o Estado interferisse na economia. Nessa fase, predominava a doutrina de Adam Smith, segundo a qual o mercado deve ser regido pela livre concorrncia, baseada na lei da oferta e da procura. Dentro das fbricas, mudanas importantes aconteceram: a produtividade e a capacidade de produzir aumentaram velozmente; aprofundou-se a diviso do trabalho e cresceu a produo em srie. Nessa poca, segunda metade do sculo XIX, ocorreu o que se convencionou chamar de Segunda Revoluo Industrial. Uma das caractersticas mais importantes desse perodo foi a introduo de novas tecnologias e novas fontes de energia no processo produtivo. Pela primeira vez, tendo como pioneiros a Alemanha e os Estados Unidos, a cincia era apropriada pelo capital, sendo posta a servio da tcnica, ao contrrio da primeira revoluo industrial onde as tecnologias 57
eram resultados espontneos e autnomos. Agora empresas eram criadas com o fim de descobrirem novas tcnicas de produo. Com o brutal aumento da produo, acirrou-se cada vez mais a concorrncia. Era cada vez maior a necessidade de se garantirem novos mercados consumidores, novas fontes de matriasprimas e novas reas para investimentos lucrativos. Foi dentro desse quadro que ocorreu a expanso imperialista na sia e na frica, o que consolidou de vez a diviso internacional do trabalho. Durante a segunda fase da Revoluo Industrial, o desenvolvimento da industrializao em outros pases e a aplicao de novas tecnologias produo e ao transporte modificaram profundamente a orientao liberal. As novas tecnologias foram empregadas nas indstrias metalrgica, siderrgica, no transporte ferrovirio entre outras. Esses setores industriais dependiam de investimentos maiores que aqueles realizados na primeira fase da Revoluo Industrial. Era necessria a unio de vrios empreendedores para a produo das novas mercadorias. Boa parte da indstria passou a contar com o capital bancrio ou financeiro. No final do sculo XIX, a fuso entre o capital industrial e o financeiro e, mesmo a fuso entre indstrias, levou ao aparecimento de empresas gigantescas, os monoplios e oligoplios (empresas de grande porte que se associam para controlar o mercado), ocorrendo, com isso, um enfraquecimento da livre concorrncia. Pela baixa competitividade, as pequenas empresas, que no acompanharam essa nova tendncia do desenvolvimento econmico capitalista, faliram ou foram absorvidas pelas grandes. Revoluo tcnico-cientfica A cincia, no estgio atual, est estreitamente ligada atividade industrial e s outras atividades econmicas: agricultura, pecuria, servios. um componente fundamental, pois, para as empresas, o desenvolvimento cientfico e tecnolgico revertido em novos produtos e em reduo de custos, permitindo a elas maior capacidade de competio num mercado cada vez mais disputado. As grandes multinacionais possuem seus prprios centros de pesquisa e o investimento cientfico, em relao ao conjunto da atividade produtiva, tem sido crescente. Em meados da dcada de 80, por exemplo a IBM norte-americana possua cerca de 400 mil empregados em todo o mundo, entre os quais 10% trabalhavam na rea de pesquisa. O Estado, por meio das universidades e de outras instituies, tambm estimula o desenvolvimento econmico, preparando pessoas e capacitando-as ao exerccio de funes de pesquisa, na rea industrial ou agrcola, assim como no desenvolvimento de tecnologias, transferidas ou adaptadas s novas mercadorias de consumo ou aos novos equipamentos de produo. Nesse sentido, a pesquisa cientfica aplicada ao desenvolvimento de novos produtos tornou-se parte do planejamento estratgico do Estado, visando ao desenvolvimento econmico. Com a Revoluo Tcnico-cientfica, o tempo entre qualquer inovao e sua difuso, em forma de mercadorias ou de servios, cada vez mais imediato. Os produtos industriais classificados genericamente como bens de consumo durveis, especialmente aqueles ligados aos setores de ponta como a microeletrnica e informtica, tornam-se obsoletos devido rapidez com que so superados pela introduo de novas tecnologias. Os impactos mundiais dos avanos tcnico-cientficos foram marcantes a partir da Segunda Guerra Mundial. Foi possvel delimitar, a partir da (considerando-se tambm a relatividade dessa demarcao temporal), o incio de uma Terceira Revoluo Industrial. A microeletrnica, o microcomputador, o software, a telemtica, a robtica, a engenharia gentica e os semicondutores so alguns dos smbolos dessa nova etapa. Essa fase tem modificado 58
radicalmente as relaes internacionais e os processos de produo caractersticos do sistema fabril introduzido pela Revoluo Industrial, bem como tem possibilitado a criao de novos produtos e a utilizao de novas matrias-primas e fontes de energia. Esse novo contexto criado pelas novas tecnologias de produo alteram inclusive os antigos critrios de localizao industrial. Atualmente a instalao das grandes empresas multinacionais no est necessariamente associada proximidade de fontes de matrias-primas e de mo-de-obra barata. Apenas alguns setores industriais, como calados, txteis, brinquedos, montagem de aparelhos de TV e eletroeletrnicos, ainda tiram vantagem quanto sua instalao em regies onde prevalecem a baixa qualificao e o custo reduzido da mo-de-obra. Mas esta no a tendncia da economia industrial da Revoluo Tcnico-cientfica, cujo pressuposto produzir cada vez mais, com cada vez menos trabalhadores. Tanto na Primeira como na Segunda Revoluo Industrial, a margem de lucro das empresas se elevava proporo que os salrios decresciam. Quanto menor o salrio, maior era o lucro retido pela empresa. O processo de expanso das multinacionais intensificou-se a partir da dcada de 50 em direo aos pases do Terceiro Mundo e seguia este mesmo princpio: a elevao das taxas mdias de lucro tinha como pressuposto a explorao da mo-de-obra barata desses pases. A Revoluo tcnico-cientfica, movida pela produtividade, ao mesmo tempo em que pode gerar mais riquezas e ampliar as taxas de lucros, tambm responsvel pelo desemprego de centenas de milhares de pessoas em todo o mundo.
DETERMINISMO TECNOLGICO
O Determinismo Tecnolgico uma viso amplamente mantida nas cincias sociais desde Marx segundo a qual a fora motriz da histria o avano tecnolgico. Os deterministas acreditam que a tecnologia no controlada humanamente, mas que, pelo contrrio, controla os humanos, isto , molda a sociedade s exigncias de eficincia e progresso. Os deterministas tecnolgicos usualmente argumentam que a tecnologia emprega o avano do conhecimento do mundo natural para servir s caractersticas universais de natureza humana, tais como as necessidades e faculdades bsicas. Cada descoberta que vale a pena se enderea a algum aspecto de nossa natureza, preenche uma necessidade bsica ou estende nossas faculdades. A comida e o abrigo so necessidades desse tipo e motivam alguns avanos. As tecnologias como o automvel estendem nossos ps enquanto os computadores estendem nossa inteligncia. A tecnologia enraza-se por um lado no conhecimento da natureza e por outro nas caractersticas genricas da espcie humana. No depende de ns adaptar a tecnologia a nossos caprichos seno pelo contrrio, ns devemos nos adaptar tecnologia como expresso mais significativa de nossa humanidade. O conceito de Determinismo Tecnolgico, que atualmente a teoria mais popular sobre a relao entre tecnologia e sociedade, foi criado pelo socilogo Thorstein Veblen e cultivado e aperfeioado por Robert Ezra Park, da Universidade de Chicago. Em 1940, Park declarou que os dispositivos tecnolgicos estavam modificando a estrutura e as funes da sociedade, noo que serviu de ponto de partida para uma corrente terica em todos os aspectos inovadora. Desde a Segunda Guerra Mundial, os cientistas tm considerado a tecnologia como um dilema moral e que seu uso pode causar conseqncias profundas na humanidade e no planeta. Os socilogos vem o problema atravs do aumento da complexidade e da velocidade das mudanas que a tecnologia est trazendo para a sociedade. Segundo eles, as mudanas tecnolgicas ultrapassam a habilidade das pessoas e das diversas sociedades para adaptar-se a
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elas. Para outras, ainda, a tecnologia vista como uma fora dominante na sociedade, colocando obstculos para a liberdade humana. De acordo com os deterministas tecnolgicos as tecnologias (particularmente as da comunicao ou mdias) so consideradas como a causa principal das mudanas na sociedade, e so vistas como a condio fundamental de sustentao do padro da organizao social. Os deterministas tecnolgicos interpretam a tecnologia como a base da sociedade no passado, presente e at mesmo no futuro. Novas tecnologias transformam a sociedade em todos os nveis, inclusive institucional, social e individualmente. Os fatores humanos e sociais so vistos como secundrios.
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b) Intensificao da diviso do trabalho. Graas ao estudo dos tempos e movimentos possvel decompor-se o trabalho em parcelas elementares e simplificadas e, assim, encontrarem-se maneiras mais rpidas e eficientes de execut-las (the one best way). Cada tarefa corresponde a um posto de trabalho e, graas a um criterioso processo de recrutamento, possvel destacar-se o operrio mais adequado para ocup-lo (the right men in the right place); c) Controle de tempos e movimentos, objetivando-se eliminar a porosidade na jornada de trabalho, isto, o tempo no dedicado s tarefas produtivas. A esses princpios, agrega-se o estmulo ao desempenho individual (salrios e prmios por produo) e a criao de uma estrutura hierarquizada na qual atuam especialistas de controle (engenheiros, contramestres, cronometristas). Os princpios tayloristas foram aplicados de tal maneira generalizada e intensiva, que eles configuraram o paradigma explicativo do regime de acumulao para o perodo compreendido entre o final da Primeira Guerra mundial at meados dos anos 1970. O surgimento de novas formas de gesto da fora de trabalho no regime de acumulao flexvel no pode ser entendido como a superao da Organizao Cientfica do Trabalho. Seus princpios continuam sendo aplicados nos mais diferentes ambientes de trabalho. Organizado pelo Taylorismo, o trabalho transfigurou-se em atividade: fragmentada, repetitiva, montona e desprovida de sentido. Perdendo sua autonomia, sua capacidade de usar a criatividade, o trabalhador transformou-se em operrio-massa, alienado do contedo do seu esforo produtivo. Referendando os preceitos liberais, o Taylorismo considera o embrutecimento e a alienao do trabalho como irrelevantes. O que conta so a vida e o consumo no ps-trabalho. O Taylorismo institucionalizou a violncia normativa e a loucura racional. Fordismo A indstria automobilstica caracterizou-se por ser pioneira na organizao do processo de trabalho industrial. Foi dela que se originou tanto o fordismo quanto os mtodos flexveis de produo. Foi nela que se introduziu o uso de robs industriais e da produo informatizada. Antes meramente artesanal e individualizada, a produo de automveis ganharia logo a massificao. Ford, ento, aplicaria os mtodos do Taylorismo, tambm chamado de organizao cientfica do trabalho (OCT), para atender um potencial consumo de massas. Surge, ento, a primeira caracterstica do fordismo: a produo em massa. A justificativa para isso que apenas a produo em massa poderia reduzir os custos de produo e o preo de venda dos veculos. No entanto, produo em massa significa um grande nmero de empregos e um conseqente achatamento dos salrios. O trabalho massificado ganha condies de trabalho precrio, reforado por uma segunda caracterstica fordista, a racionalizao da produo atravs do parcelamento de tarefas fundado na tradio taylorista. Parcelamento de tarefas implica que o trabalhador no necessita mais ser um arteso especialista em mecnica, sendo necessria apenas resistncia fsica e psquica num processo de produo constitudo por um nmero ilimitado de gestos, sempre os mesmos, repetidos ao infinito durante sua jornada de trabalho. Este processo completado por uma terceira caracterstica, a linha de montagem, que permite aos operrios, colocados um ao lado do outro e em frente a uma esteira rolante, realizar o trabalho que lhes cabe, ligando as tarefas individuais sucessivas. Mas era necessrio adequar ainda mais a produo aos objetivos traados. E foi no intuito de reduzir o trabalho do operrio a gestos simples e repetitivos e evitar constantes adaptaes das peas produzidas aos veculos, que Ford decidiu por padroniz-las. Ocorre, ento, o que se chama de integrao vertical, ou seja, o controle da produo total de autopeas, comprando as firmas fabricantes. Essas transformaes permitem que a fbrica fordista seja automatizada. 61
preciso destacar que o Fordismo no se confunde com o Taylorismo. Tratam-se de processos de trabalho com traos particulares, que podem, no entanto, encontrar-se juntos numa mesma empresa. O Taylorismo caracteriza-se pela intensificao do trabalho atravs da racionalizao cientfica (estudando os tempos e movimentos na execuo de uma tarefa), tendo como objetivo eliminar os movimentos inteis atravs da utilizao de instrumentos de trabalho mais adaptados tarefa. O fordismo uma estratgia mais abrangente de organizao da produo, que envolve extensa mecanizao, com uso de mquinas-ferramentas especializadas, linha de montagem e de esteira rolante e crescente diviso do trabalho. Enquanto que o Taylorismo pode ser aplicado em firmas mdias e pequenas, o fordismo difunde-se, principalmente em grandes empresas produtoras de bens de consumo durveis (tecnicamente mais complexos), tendo em vista a produo de produtos padronizados, para consumo de massa, utilizando, portanto, economia de escala. O aparecimento do fordismo revela que a empresa que muda radicalmente a organizao da produo para ser mais eficaz e adaptar-se demanda, assume a liderana da indstria, conquistando fatias do mercado e se tornando dominante. Dessa forma, os rivais tm que seguir o modelo dominante para no desaparecerem ou sarem do mercado. o que acontece com as demais indstrias de automveis como a General Motors e a Chrysler, por exemplo. No entanto, a acirrada competio entre as empresas impede que recursos suficientes fossem destinados melhoria de certas condies de trabalho, pois eram necessrios custos de produo cada vez mais baixos para conquistar fatias do mercado. Neste contexto de deteriorao cada vez maior das condies de trabalho, com os operrios sendo submetidos a trabalhos precrios e mal remunerados, que resulta a crise estrutural do capital.
Os modelos produtivos presentes no fordismo tiveram que ser totalmente reestruturados, sem, no entanto, transformar os pilares essenciais do modo de produo capitalista. Pretendia-se resgatar os nveis de acumulao existentes no perodo anterior. No fordismo, a produo em srie dada ao redor de uma linha de montagem separava nitidamente elaborao e execuo, suprimindo a dimenso intelectual do trabalho operrio. Tidos apenas como extenso das mquinas e ferramentas, s cabia aos operrios executar mecanicamente as respectivas tarefas, cuja organizao e elaborao pertenciam alada da gerncia cientfica. O operrio fordista nunca era chamado a participar da organizao do processo de trabalho, sendo relegado a uma atividade repetitiva e desprovida de sentido. As lutas por melhorias das condies de trabalho e pelo controle social da produo, ocorridas nos anos 60, teriam papel determinante no rompimento da separao entre elaborao e execuo, uma vez que reivindicavam, entre outras pautas bsicas, tambm uma maior participao do operariado na organizao do trabalho. Percebeu-se, ento, que os operrios tinham se mostrado capazes de controlar diretamente no s o movimento reivindicatrio mas o prprio funcionamento das empresas. Eles demonstraram, que no possuem apenas uma fora bruta, mas tambm de inteligncia, iniciativa e capacidade organizacional. Os capitalistas compreenderam que, em vez de limitar a explorar a fora de trabalho fsica dos trabalhadores, privando-os de qualquer iniciativa e mantendo-os presos a atividades especficas tpicas do modelo Fordista/taylorista, podiam multiplicar seu lucro explorando outros aspectos, como a organizao, cooperao e inteligncia. Nesse sentido, no mbito acadmico, desencadeia-se intenso debate sobre a origem e significado de tais mudanas: discute-se se o que est ocorrendo representaria uma ruptura em relao ao modelo fordista (ps-fordismo ou TOYOTISMO), ou, ao contrrio, uma continuidade, apenas em novas roupagens (neofordismo). Os defensores da primeira tese afirmam que as condies de vigncia do modelo fordista estariam esgotadas em razo de os mercados no mais aceitarem a padronizao da produo fordista, exigindo produtos diferenciados, de acordo com demandas de diferentes segmentos scio-culturais. A nova firma deveria, portanto, tornar-se flexvel, capaz de responder rapidamente s freqentes mudanas de demanda do mercado. Para tanto, utilizar-se-ia das possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias (flexibilidade do equipamento) e pelas novas formas de uso e de gesto da fora de trabalho (trabalho em equipe e crculos de controle de qualidade, com nfase na cooperao, na multifuncionalidade e na polivalncia). Nesse sentido, as novas formas de produo demandariam um novo tipo de trabalhador: mais qualificado, mais flexvel, mais envolvido com a produo. A percepo de que os novos mtodos de produo expressariam a superao do modelo fordista contestada pelos tericos da chamada escola francesa da regulao. Esta escola propese a tratar os processos de transformao da economia sob a perspectiva da acumulao do capital. Para ela, as alteraes no modelo fordista, resultariam da incapacidade de esgotamento do fordismo para enfrentar, atravs de ganhos de produtividade, a crise do sistema capitalista, o que imporia s empresas, a necessidade de profunda reestruturao econmica, expressa pela introduo de novas tecnologias, flexibilidade dos processos e dos mercados de trabalho, dos produtos e dos padres de consumo. Entretanto, as novas formas de produo no teriam sido capazes de romper com os princpios bsicos do fordismo, entre eles, a separao entre concepo e execuo. Permaneceria, portanto, o monoplio gerencial em termos de controle do processo de programao da tecnologia computadorizada, da esfera da pesquisa e desenvolvimento e do processo de informao e difuso. No haveria, portanto, alteraes significativas na diviso do trabalho: o trabalho de execuo permaneceria na esfera da operao e manuteno das mquinas computadorizadas, sem intervir ao nvel da programao. A tecnologia computadorizada seria utilizada como meio de se poupar mo-de-obra e de se elevarem a produtividade e a qualidade do produto. Nessa perspectiva, ressaltam-se aspectos negativos associados produo flexvel no que respeita situao do trabalhador, ou seja, os 63
altos ndices de desemprego, o crescimento do trabalho em tempo parcial e do trabalho temporrio ou sub-contratado, a ausncia ou ganhos modestos de salrios reais e o enfraquecimento do poder de barganha dos sindicatos. Junto a isto, so apontados: o rpido crescimento da economia informal mesmo em pases industrialmente avanados; o retorno do trabalho domstico familiar artesanal, que implicaria o ressurgimento de prticas mais atrasadas de explorao dos trabalhadores. O debate em torno da questo da ruptura ou continuidade do modelo fordista de produo no pode, no entanto, ser abordado em termos de dicotomia. Em relao ao uso e gesto da fora de trabalho, mesmo admitindo-se os limites restritos de participao dos trabalhadores, h que se reconhecer que as novas formas de gesto valorizam a capacidade de expresso do trabalhador, o que, por si s, constituiria mudana significativa face s formas fordistas de gesto. Toyotismo O operrio tido no s como extenso da mquina, mas tambm como ser pensante, consciente e integrado ao processo produtivo cria as bases de um novo modelo de produo, o Toyotismo. Se antes se procurava manter o operrio longe das decises organizacionais relacionadas produo, no toyotismo h uma inverso de valores, com a valorizao do operrio participativo, integrado ao processo produtivo. Da mesma forma, se no modelo anterior a lei era um operrio/uma mquina, no toyotismo passa a vigorar o operrio polivalente e multifuncional, capaz de trabalhar com diversas mquinas simultaneamente. Surge o que se chama de flexibilidade profissional, na qual se verifica a mescla entre elaborao e execuo de tarefas e estratgias organizacionais. O trabalhador tornado polivalente o que conhece alm das suas atribuies peculiares, sendo capaz de compreender a essncia do processo produtivo. Com a possibilidade de conhecer outras operaes, pode-se reforar a cooperao entre os funcionrios de uma organizao, aumentando a eficincia e a produtividade em prol do capitalismo. O operrio meramente executor no era mais lucrativamente interessante para o capital frente ao operrio polivalente e participativo. Alm disso, as lutas sociais do operariado em defesa de melhores condies de trabalho e respeito aos direitos do trabalhador perturbavam os interesses do capital e deveriam ser rapidamente solucionadas. Ao capital cabia uma resposta sua prpria crise, crise do fordismo. E o seu sistema de metabolismo social apresenta a soluo que melhor corresponde aos seus interesses de lucratividade: incorpora as reivindicaes por melhores condies de trabalho investindo na qualificao profissional dos trabalhadores e passando a valoriz-la nas polticas de contratao de mo-de-obra e ascenso hierrquica nas empresas. O capital destri, ento, o operrio/executor e reconstri o profissional polivalente, flexvel, participativo, organizativo e altamente especializado. Assim, a empresa ao invs de possuir trabalhadores que so meros executores passa a ter profissionais mais rentveis que so, ao mesmo tempo, executores e administradores, que conhecem o processo produtivo e so extremamente capazes de identificar e corrigir erros. O toyotismo surgiu como soluo para a crise do capital ocorrida nos anos 70. Originrio no Japo, das fbricas de automveis Toyota, ganhou terreno e estendeu-se pelo mundo todo. Com ele, uma nova forma de organizao industrial e de relao entre capital e trabalho emerge das cinzas do Taylorismo/fordismo. Estas novas relaes eram mais favorveis aos trabalhadores quando comparadas s existentes no modelo anterior, principalmente por possibilitarem o advento de um trabalhador mais qualificado, participativo, multifuncional, polivalente, dotado de maior realizao no ambiente de trabalho. O toyotismo um estgio superior de racionalizao do trabalho, que no rompe, a rigor, com a lgica do Taylorismo e fordismo, por isso que alguns autores o denominam de neofordismo. Entretanto, no campo da gesto da fora de trabalho, o toyotismo realiza um salto qualitativo na captura da subjetividade do trabalho pelo capital, se distinguindo do Taylorismo e 64
fordismo por promover uma via original de racionalizao do trabalho, desenvolvendo, sob novas condies scio-histricas e tecnolgicas, as determinaes presentes nas formas tayloristas e fordistas, principalmente no que diz respeito racionalidade tecnolgica. Pode-se at afirmar que o Toyotismo um Fordismo adequado era das novas mquinas, da automao flexvel, que constitui uma nova base tcnica para o sistema do capital, e da crise estrutural de superproduo. Estratgias como o just in time, team work, kanban, a eliminao do desperdcio e o controle de qualidade total so parte do discurso do modelo toyotista de produo e adotadas pelas empresas em todo o mundo. Essas estratgias tornaram-se modismo entre os consultores de Recursos Humanos e demais especialistas em contratao de profissionais. Somente as empresas que se encontram integradas a tais estratgias so tidas como empresas-modelo, recebendo os certificados de qualidade ISO 9000, 9001, 9002, etc. Contudo, divulgam-se as mudanas no processo produtivo, ocorridas com o advento do toyotismo, enfatizando melhorias no que diz respeito ao trabalho mais qualificado e habilitado como o trabalho em equipe, a multifuncionalidade e a polivalncia, a flexibilidade, mas se oculta que este mesmo processo tem levado freqentemente intensificao e precarizao do trabalho. No tocante qualidade, parte-se da idia da focalizao das atividades da empresa em produtos e tarefas onde se garanta sua maior competitividade e lucratividade, deixando as outras atividades complementares para firmas terceirizadas que passam a fazer parte, de modo decisivo, do processo produtivo; e da deteco e resoluo rpida dos problemas surgidos na linha de produo, tornando sua correo menos onerosa. Isso exige uma ao mais engajada dos trabalhadores em um processo de melhoria contnua do curso de produo (kaisen). Esta preocupao deve ser compartilhada por todos, que seriam sempre estimulados a promover inovaes, trazendo a manufatura para o centro da estratgia gerencial da empresa. No intuito de convencer a todos de que o ambiente e as relaes de trabalho so os melhores possveis, estabelece-se os certificados de qualidade ISO. Isso tambm se verifica com as mercadorias, que s so liberadas para o mercado quando passam pelas inspees de qualidade. O mesmo ocorrendo com os profissionais a serem contratados ou analisados, s prevalecendo os que forem qualificados (ou seja, terem qualidade) o suficiente. Os lucros capitalistas dependem do mercado e do consumidor. Se o mercado exige qualidade porque o pblico consumidor tambm exige. E o capital sabe muito bem disso e por isso instaura os programas e certificados de qualidade total. Percebe-se assim que o discurso da qualidade total mais uma das estratgias do capital para atingir seu objetivo nico e primordial: o lucro. O divulgado respeito pelo consumidor, que sofre com a baixa qualidade dos produtos ou pelo trabalhador, afetado pela intensificao e explorao do processo de trabalho, ocultados pelos certificados de qualidade, ocorrido com os processos de reestruturao produtiva, no passa de alienao diante da realidade. JUST-IN-TIME (no exato tempo) a forma de administrao da produo industrial e de seus materiais, segundo a qual a matria-prima e os estoques intermedirios necessrios ao processo produtivo so supridos no tempo certo e na quantidade exata. Consiste na reduo dos estoques de matria-prima e de peas intermedirias, conseguida atravs da linearizao do fluxo da produo e de sistemas visuais de informao (kanban). Atravs dela, busca-se chegar a um estoque zero. Requer a transformao do layout tradicional da fbrica em sees fixas, constitudas por mquinas similares (setor de tornos, de fresas, etc.), em uma seqncia de pequenas unidades ou clulas independentes, que funcionam como clientes e fornecedores. Cada unidade de produo emite unidade anterior, atravs de um carto (kanban), a informao de quantas peas devam ser produzidas ou a quantidade de matria-prima necessria. Em decorrncia dessa nova configurao, a produo em massa substituda pela produo de pequenos lotes diversificados 65
para se atender a um mercado mais exigente. Responde, igualmente, aos imperativos da crise econmica do perodo, transformando o capital anteriormente investido em estoques e espao em capital circulante que passa a ser investido no mercado financeiro, uma vez que tambm caracterstica desse novo mercado o aumento da taxa de juros. Perda zero uma idia subjacente ao just-in-time: todos os elementos que no agreguem valor ao produto so considerados desperdcio e devem ser eliminados. O controle de qualidade total, ou seja, a qualidade produzida e controlada na fonte pelo prprio operador, tambm um conceito-chave dentro do sistema. Este modelo chamado just-in-time interno quando o suprimento do fluxo de produo d-se dentro da mesma empresa, e just-in-time externo quando envolve outras empresas da cadeia produtiva. Por depender, fundamentalmente, de que os materiais sejam supridos no momento certo, o just-in-time s se torna eficaz com este envolvimento dos fornecedores externos. Considerado, por alguns, uma filosofia gerencial e, por outros, apenas uma tcnica, a espinha dorsal do que se convencionou chamar o Modelo Japons, Toyotismo, pois segundo os pesquisadores, um dos elementos que pode ser encontrado em todas as empresas japonesas que aderiram ao novo modelo. KAN-BAN (placa visvel, placa, e tc.) Refere-se ao sistema visual de informao utilizado para administrar o just-in-time. Esse sistema, utilizado, pela primeira vez pela Toyota japonesa, constitui-se em um conjunto de cartes que indica a quantidade necessria de matria-prima ou de peas intermedirias a serem produzidas para se suprir a clula seguinte. O kan-ban, tal qual, introduzido pela Toyota japonesa, diferencia-se do sistema de cartes de informao que acompanham a produo nos moldes industriais tradicionais: enquanto estes se baseiam em um planejamento a priori da produo, empurrando-a desde o estoque at o setor de vendas, o kan-ban funciona como chamada para a quantidade a ser produzida pelas unidades anteriores, fazendo com que a produo seja acionada do fim para o incio. ESPECIALIZAO FLEXVEL A especializao flexvel uma expresso consagrada por Piore e Sabel (1984), constituindo-se em um paradigma alternativo para a produo capitalista, o qual se funda em elementos da produo artesanal em pequenos lotes, com tecnologia multipropsito, ancorada em trabalhadores qualificados e dotada de capacidade de alterar constantemente o mix de produo com baixos custos de reconverso, em oposio ao paradigma da produo em massa, que teria dominado o desenvolvimento econmico internacional desde o sculo XIX.
idia, a concepo, a inveno, o clculo, o governo e a direo geral. O trabalho manual, de que se ocupa o povo, se define pela execuo manual reduzida a uma ao puramente mecnica. Desta diviso do trabalho deriva a ideologia dominante de uma poca, ideologia que no outra se no a da classe dominante. No sentido marxista, a diviso do trabalho diz respeito diviso entre o trabalho manual/fsico e intelectual/mental. Essa diviso, objeto de inmeras crticas de Marx, ser contemplada no modelo fordista/taylorista de organizao do trabalho. Alguns socilogos afirmam que o conceito de diviso tcnica do trabalho ocorrida no mbito do trabalho se repete no mbito escolar. No entanto preciso superar a dicotomia de trabalho manual e intelectual, entre formao profissional e instruo geral, atingindo o conceito de politecnia proposto por Marx, ou seja, articulao entre trabalho intelectual e trabalho manual e envolvimento de uma formao a partir do prprio trabalho social que desenvolve os fundamentos, os princpios, que esto na base da organizao do trabalho em nossa sociedade e que, portanto, nos permitem compreender o seu funcionamento. De acordo com a tica do capital, seguindo a diviso tcnica do trabalho vista acima, a formao profissional baseia-se na distino entre formao para o trabalho manual para a grande massa de trabalhadores e formao para o trabalho intelectual para uma elite privilegiada. Na Sociologia do Trabalho o conceito tem tido aplicao nomeadamente ao nvel do fracionamento/fragmentao das tarefas de execuo na indstria. Prximos e com ele articulados esto os conceitos de especializao e qualificao do trabalho (e dos trabalhadores). A compreenso do saber operrio no processo de organizao do trabalho nos levar a um entendimento mais amplo da diviso tcnica do trabalho.
sistematizadas por cientistas do trabalho, no caso a gerncia cientfica. Trata-se ento de separar as fases de planejamento, concepo e direo, de um lado, das tarefas de execuo, de outro. Se encontramos na concepo taylorista a drstica separao entre concepo e execuo, vemos com o fordismo a implementao e intensificao destes preceitos, com a introduo da linha de montagem, com esteiras rolantes e carretilhas areas; diviso pormenorizada do trabalho, caracterizando-se o trabalho parcelado, com a fragmentao das funes, e a reduo ao mnimo dos movimentos, intensificando com isto o ritmo da produo. Contudo, se por um lado o Taylorismo e o fordismo representaram srios danos para a classe operria, principalmente atravs da alienao, ocasionaram tambm o barateamento das mercadorias produzidas, a maior procura por bens e o conseqente aumento da produo, gerando tambm maior oferta de empregos. Esta forma adotada pelo capitalismo propiciou tambm o fortalecimento da organizao dos trabalhadores (como, por exemplo, o fortalecimento do movimento sindical), j que a concentrao dos trabalhadores nas fbricas era um facilitador deste processo. Alm disso, o Taylorismo tambm desencadeou uma avalanche de oposio com os sindicatos, que criticavam a destituio do conhecimento do ofcio por parte dos trabalhadores. No entanto, na busca da superao do modelo fordista/taylorista de produo que j responde demanda devido a inmeros fatores (como visto no subitem acima) ocorre o surgimento do modelo toyotista de produo. A resposta para a insuficincia do modelo taylorista/fordista estaria na eficcia relacionada ao trabalho de equipe (personalizado) e mais distante do sistema que calcula pormenorizadamente as tarefas. As modificaes demandadas pelo mundo do trabalho, em resposta s lacunas deixadas pela produo sob a gerncia taylorista/fordista, incluem um novo olhar para dimenses do ser humano esquecidas ou erradicadas por este modelo de gerenciamento. Neste cenrio, o que se espera que o trabalhador seja convocado por inteiro na oficina. O trabalhador ps-fordista tem a capacidade de adaptar-se s variaes quantitativas e qualitativas, polifuncional e capaz de conceber as condies de execuo de determinada tarefa, configurando o trabalho integral. A cooperao um fator indispensvel entre os trabalhadores no processo de trabalho. Como decorrncia desta nova demanda da organizao e diviso do trabalho destaca-se a necessidade do estabelecimento de novas metodologias de pesquisa que levem em conta o saber operrio, ou seja, toda a gama de conhecimentos acumulados pelos trabalhadores no exerccio de suas atividades trabalhistas ao longo de suas vidas, saber esse que vai alm das exigncias da gerncia.
Antunes aponta alguns dados centrais para a compreenso da complexidade da crise do trabalho e de seus elementos constitutivos. Para o autor, se trata de uma processualidade complexa, com componenetes interligados: 1) h uma crise estrutural do capital ou um efeito depressivo profundo que acentuam seus traos destrutivos; 2) deu-se o fim do Leste europeu, onde parcelas importantes da esquerda se socialdemocratizaram; 3) esse processo efetivou-se num momento em que a prpria social-democracia sofria uma forte crise; 4) expandia-se fortemente o projeto econmico, social e poltico neoliberal. Tudo isso acabou por afetar fortemente o mundo do trabalho, em vrias dimenses. A enorme expanso do neoliberalismo a partir de fins dos anos 70, e a conseqente crise do Welfare State, deu-se um processo de regresso da prpria social-democracia, que passou a atuar de maneira muito prxima da agenda neoliberal. Como resposta do capital sua crise estrutural, vrias transformaes vm ocorrendo e que so fundamentais na compreenso da virada do sculo XX para o sculo XXI, caso se queira, se analisar tais mudanas no processo de produo do capital. Para Antunes, uma possvel resposta do capital crise dos anos 70 a intensificao das transformaes no prprio processo produtivo, atravs do avano tecnolgico, da constituio das formas de acumulao flexvel e dos modelos alternativos ao padro Taylorismo/fordismo, no qual se destaca, para o capital, especialmente, o modelo "toyotista" ou o modelo japons. Estas transformaes, decorrentes, por um lado, da prpria concorrncia capitalista e, por outro, dada pela necessidade de controlar o movimento operrio e a luta de classes, acabaram por afetar fortemente a classe trabalhadora e o seu movimento sindical. De acordo com Antunes, as conseqncias mais importantes destas transformaes no processo de produo so as seguintes: 1) diminuio do operariado manual, fabril, concentrado, tpico do fordismo e da fase de expanso daquilo que se chamou de regulao social-democrtica; 2) aumento acentuado das inmeras formas de subproletarizao do trabalho parcial, temporrio, sub-contratado, terceirizado, e que tem se intensificado em escala mundial, tanto nos pases do Terceiro Mundo, como, tambm nos pases centrais; 3) aumento expressivo do trabalho feminino no interior da classe trabalhadora, em escala mundial, aumento este que tem suprido principalmente o espao do trabalho precarizado, subcontratado, terceirizado, part-time etc.; 4) enorme expanso dos assalariados mdios, especialmente no setor de servios, que inicialmente aumentaram em ampla escala mas que vem presenciando tambm nveis de desemprego tecnolgico; 5) excluso dos trabalhadores jovens e dos trabalhadores velhos (em torno de 45 anos) do mercado de trabalho dos pases centrais; 6) intensificao e superexplorao do trabalho, com a utilizao brutalizada do trabalho dos imigrantes, e expanso dos nveis de trabalho infantil, sob condies criminosas, em tantas partes do mundo, como sia, Amrica Latina, entre outros; 69
7) h, em nveis explosivos, um processo de desemprego estrutural que, junto com o trabalho precarizado, atinge cerca de 1 bilho de trabalhadores, algo em torno de um tero da fora humana mundial que trabalha; 8) h uma expanso do que Marx chamou de trabalho social combinado, em que trabalhadores de diversas partes do mundo participam dos processos de produo e de servios. O que, evidente, no caminha no sentido da eliminao da classe trabalhadora, mas da sua precarizao e utilizao de maneira ainda mais intensificada. Para Antunes a crise leva a uma maior compartimentao da classe trabalhadora. Segundo suas palavras: (...) a classe trabalhadora fragmentou-se, heterogeneizou-se e complexificou-se ainda mais. Tornou-se mais qualificada em vrios setores, como na siderurgia, na qual houve uma relativa intelectualizao do trabalho, mas desqualificou-se e precarizou-se em diversos ramos, como na indstria automobilstica, na qual o ferramenteiro no tem mais a mesma importncia, sem falar na traduo dos inspetores de qualidade, dos grficos, dos mineiros, dos porturios, dos trabalhadores da construo naval etc. Criou-se, de um lado, em escala minoritria, o trabalhador "polivalente e muntifuncional", capaz de operar com mquinas com controle numrico e, de outro, uma massa precarizada, sem qualificao, que hoje est presenciando o desemprego estrutural. Estas mutaes criaram, portanto, uma classe trabalhadora mais heterognea, mais fragmentada e mais complexificada. Entre qualificados/desqualificados, mercado formal/informal, jovens/velhos, homens/mulheres, estveis/precrios, imigrantes etc. (Antunes) O resultado que temos no s um enorme desemprego. Jamais houve tanto desemprego no Brasil como hoje, assim como tambm jamais houve tanto desemprego na Alemanha, na Frana, na Argentina, no Mxico, etc. A crise do trabalho, no entanto, vai alm do desemprego. A durao mdia do desemprego de trinta e trs semanas em grandes capitais brasileiras como So paulo, quer dizer, em mdia, quem fica desempregado l em So Paulo, passa mais de seis meses, fica uma mdia de oito meses, at conseguir um novo emprego. Mas uma grande parte passa mais de ano. E isso tem efeitos destrutivos sobre essas pessoas, por exemplo, muitos perdem a famlia. Verifica-se, portanto, que o maior desafio da classe trabalhadora para o sculo XXI soldar os laos de pertencimento de classe existentes entre os diversos segmentos que compreendem o mundo do trabalho. Mas preciso perceber que h um conjunto abrangente de mudanas que tm afetado a classe trabalhadora, e para a qual absolutamente prioritrio o seu entendimento, de modo a resgatar um projeto de classe capaz de enfrentar estes monumentais desafios presentes no final deste sculo.
EXERCCIOS DE FIXAO
(Procure resolv-los sem ler o gabarito. Utilize-o somente ao trmino das atividades.)
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1. Henry Ford introduziu a linha de montagem em sua fbrica, logo no incio do sculo XX. Em 1912, conseguiu-se a reduo do tempo necessrio para a produo de um chassi de automvel de 12 para pouco mais de 1 hora. Sobre esse processo, podemos afirmar que: (a) causou uma imediata onda de desemprego, base da crise de 1929. (b) foi logo abolido, pois os sindicatos alegaram que nesse novo sistema os trabalhadores eram explorados. (c) no teve repercusso alguma, pois limitava-se a poucos setores da produo. (d) acelerou a produo e barateou o custo, permitindo a popularizao dos automveis e de outros bens de consumo. 2. O final do sculo XIX marcado pela existncia de fbricas com enorme nmero de indivduos concentrados. Esses operrios detinham um certo controle do processo de produo, o que garantia a eles um certo poder dentro da estrutura capitalista. Este poder vai comear a ser quebrado com a introduo de um conjunto de teorias idealizadas por F. Taylor, denominadas: (a) organizao cientfica do trabalho (b) liberalismo cientfico (c) estruturao do trabalho (d) socialismo cientfico 3. Taylor prope a criao de vrios tipos de gerncia, ordenadas hierarquicamente, e a criao de uma gerncia geral que toma as decises baseadas em relatrios fornecidos por todas as partes da empresa. O objetivo de tais medidas era: (a) dar melhores condies de trabalho aos operrios. (b) construir um ambiente de trabalho mais harmonioso. (c) alienar os trabalhadores do conhecimento total do processo produtivo. (d) diminuir o ritmo da produo industrial. 4. No que diz respeito s alteraes nos campos de estrutura e organizao geral das empresas, a focalizao consiste em: (a) colocar em foco uma certa necessidade percebida no mercado consumidor e ento procurar atend-la. (b) mantendo toda a linha de produo, concentrar esforos para aumentar a produtividade de um determinado setor que vem apresentando resultados abaixo do desejvel. (c) elevar a competitividade da empresa, atacando o interesse de certos concorrentes. (d) concentrar esforos naquilo que vantagem competitiva da empresa, buscando sempre a diminuio dos custos. 5. O trabalhador polivalente e multifuncional que possui, que capaz de conceber as condies de execuo de determinada tarefa, inspira o seguinte modo de organizao das empresas: (a) taylorismo. (b) taylorismo / fordismo (c) toyotismo (d) neoliberalismo 6. Dentre as alternativas abaixo, marque a incorreta em relao s causas da crise da sociedade do trabalho:
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(a) h uma crise de emprego nas sociedades capitalistas, que desorganiza os parmetros da vida de cada indivduo. (b) o avano tecnolgico leva o trabalho assalariado a tornar-se cada vez mais escasso. (c) o modelo econmico, poltico e social neoliberal afeta o mundo do trabalho devido a sua filosofia do Estado mnimo. (d) As empresas esto diminuindo sua produo de bens para o mercado consumidor. 7. Quais das alternativas abaixo renem exclusivamente disciplinas, reas de conhecimentos, produtos, etc. Relacionados com o novo perfil tecnolgico e atual processo de produo (final do sculo XX)? (a) automao, informtica, telemtica, novos materiais, biotecnologia, qumica fina. (b) maquinaria, telemtica, cooperao simples, manufatura. (c) automao, manufatura, taylorismo, biotecnologia. (d) cooperao simples, manufatura, maquinismo, automao. 8. A partir da segunda metade do sculo sculo XVIII percebe-se o surgimento de um novo modo de produo, representando a passagem do capitalismo comercial para o industrial. Dentre as causas para o surgimento desse nono modelo denominado Revoluo Industrial podemos considerar, EXCETO: (a) acumulao de capitais provenientes da expanso comercial e da poltica mercantilista; (b) transformaes na estrutura agrria, liberando mo-de-obra para a cidade, acelerado processo de urbanizao; (c) utilizao de fontes de energia modernas. (d) uso da robtica nas indstrias. 9. Muitos tericos criticam os deterministas tecnolgicos devido uma concepo nica de explicao das relaes sociais. Dentre os itens abaixo, consideramos uma crtica ao determinismo tecnolgico: (a) a fora motriz da histria o avano tecnolgico. (b) mudanas sociais envolvem interaes entre foras culturais, econmicas e sociais, bem como influncias cientficas e tecnolgicas. (c) os dispositivos tecnolgicos modificam a estrutura e as funes da sociedade. (d) as tecnologias, particularmente as da comunicao ou mdias, so consideradas como a causa principal das mudanas na sociedade. 10. O desemprego em massa, como vivemos atualmente, tem vrios efeitos colaterais, com exceo: (a) o aumento do subemprego. (b) a diminuio da populao desocupada. (c) a elevao da taxa de desempregados. (d) o surgimento de um mercado de trabalho informal cada vez maior. Gabarito: 1. d; 2. a; 3. c; 4. d; 5. c; 6. d; 7. a; 8. d; 9. b; 10. b
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A manufatura padro na transio do artesanato para a manufatura a txtil. nesse setor de produo que ocorreram as transformaes mais significativas. A produo baseada na cooperao desaparece quando se instalam as manufaturas nas cidades europias e so elas que respondero pela separao entre capital e trabalho, acelerando a diviso do trabalho complexo nas grandes indstrias no capitalismo. (C.R. Oliveira, 95) (a) Sem dvida a diviso do trabalho e a produo de mercadorias so fundamentais para explicar o papel das manufaturas na transio mesmo se vrios fatores so imbricados sem poder dizer que um dominante. (b) A partir do sculo XVI o trabalho artesanal comea a modificar-se. O aumento da demanda exige a expanso das oficinas e a melhoria qualitativa dos tecidos o algodo e a seda convivem com a l. Neste momento, altera-se a condio do trabalhador. (c) A transio do artesanato para a manufatura significou a urbanizao da produo de mercadorias. As oficinas expandem-se e instalam-se nos subrbios das cidades, livrando-se gradativamente das regulamentaes feudais. (d) A lgica das corporaes era suficientemente slida para se adaptar com agilidade s novas condies da economia europia de ento. Mesmo reagindo contra a diviso do trabalho, as corporaes sobreviveram diante da nova realidade econmica. (e) A diviso do trabalho organizada para atender ao aumento da demanda com maior produtividade. Nesses casos, a diviso profissional do trabalho substituda pela diviso tcnica do trabalho. 2. (AFT/ESAF 1998) Assinale a nica deduo incorreta entre aquelas apresentadas a partir do texto. Economistas clssicos (Ricardo) destacavam o fato de que a incorporao de mquinas nos processos produtivos poderia ser poupador de mo-de-obra, o que os levou a concluir que o desemprego tecnolgico resulta do impacto da tecnologia sobre o mercado de trabalho. Nesse sentido, do ponto de vista macroeconmico, sempre que houver crescimento sistemtico da produtividade do trabalho superior ao do produto, face incorporao de algum tipo de inovao, estar-se- diante de um processo poupador de mo-de-obra. (Catami, 1997) (a) Ao nvel das firmas, existe sempre uma tendncia inovao tcnica da produo sem maiores cuidados com os impactos que esta vocao possa provocar no mercado de trabalho total. (b) A inovao tecnolgica da produo gera desemprego crescente na indstria, mas no conjunto geral do total de emprego ofertado na economia o resultado um saldo de soma zero entre emprego e desemprego. (c) O principal impasse das polticas pblicas de emprego adequar decises macroeconmicas lgica das empresas vistas isoladamente. Nestas, a evoluo tecnolgica para aumentar a produtividade parte constitutiva da sua lgica de existncia e vem antes da funo social de gerar novos postos de trabalho. (d) Com o progresso tcnico incorporado ao processo produtivo, a produtividade do trabalho aumenta substancialmente. Assim as empresas tendem a priorizar investimentos em tecnologias modernas que lhes garantem maior produtividade e menor problema na relao empregador/empregado.
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(e) Todas as anlises sobre a relao progresso tcnico/trabalho desenvolvidas a partir dos economistas clssicos apontam na direo de comprovao das teses ento elaboradas. Entretanto, o mundo atinge um estgio no desenvolvimento de novas tcnicas de produo e de suas funes sociais que se torna urgente rever a sua adequao s necessidades sociais do emprego. 3. (AFT/ESAF 2003) Assinale a nica opo falsa a partir do contedo do texto abaixo. No presente contexto histrico, no qual se observa, nas economias capitalistas, desde os anos 70, a transio da base tcnica eletromecnica para a microeletrnica, percebe-se que os vrios segmentos da fora de trabalho so atingidos de forma diversa quando da introduo de inovaes. (a) Os trabalhadores menos qualificados so muito mais atingidos em termos de perda de postos de trabalho. (b) Os empregos que envolvem atividades rotineiras e repetitivas so menos afetados negativamente pelo processo de inovao tecnolgica. (c) Trabalhadores cujas qualificaes esto passando por um rpido processo de obsolescncia so muito mais atingidos em termos de perda de postos de trabalho. (d) As inovaes de base microeletrnica exigem dos trabalhadores maior capacidade de abstrao, de comunicao e de conhecimentos bsicos, razo pela qual trabalhadores mais qualificados so menos afetados pelo desemprego tecnolgico. (e) Um aspecto que poderia contribuir para minorar os efeitos negativos das inovaes tecnolgicas sobre o emprego est associado participao dos trabalhadores no processo de incorporao do progresso tcnico pelas empresas. 1. Resposta correta: (d) No processo de transio do artesanato para a manufatura j no h mais espao para o trabalho cooperativo, uma vez que a diviso tcnica do trabalho ter importncia central para o surgimento do capitalismo. 2. Resposta correta: (b) A implementao de novas mquinas e o desenvolvimento tecnolgico levam diminuio de postos de trabalho. A Revoluo tcnico-cientfica, movida pela produtividade, ao mesmo tempo em que pode gerar mais riquezas e ampliar as taxas de lucros, tambm responsvel pelo desemprego de centenas de milhares de pessoas em todo o mundo. 3. Resposta correta: (b) Com as inovaes tecnlogicas, o ocorre com as mercadorias tambm ocorre com os profissionais a serem contratados ou analisados, s prevalecendo os que forem qualificados o suficiente. Se o trabalhador no tiver a qualificao desejada ou seu conhecimento se tornou obsoleto, ele tender a perder seu posto de trabalho.
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