Abortamento Infectado
Abortamento Infectado
Abortamento Infectado
INFECTADO
DRA JULIANA RIBEIRO FIGUEIRA
CURSO DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
INTRODUÇÃO
Aborto infectado: situação em que há restos
intrauterinos e infecção.
Constitui fator de risco toda e qualquer manipulação
uterina no sentido de interromper a gestação antes
das 20-22 semanas (prática do aborto) com precária
ou nenhuma condição técnica e higiênica.
O baixo nível sócio econômico e cultural é
diretamente proporcional ao risco de um aborto
séptico.
INTRODUÇÃO
Estima-se que entre 1990 e 2008 ocorreram, a cada ano, 47 mil
mortes maternas no mundo devido ao aborto não seguro, sendo a
infecção a principal causa dessas mortes. Esse número
corresponde a cerca de 13% das mortes maternas
(PANKE et al, 2014)
Na maioria das vezes é resultado de abortamentos
provocados de forma ilegal.
introdução de sondas, agulhas, laminárias e soluções
variadas
Tem, portanto, a anamnese um valor muito grande na
definição diagnóstica ao identificar o episódio
provocador.
O contexto clínico é multifacetário e a sintomatologia
está na dependência direta do grau de evolução da
entidade patológica
QUADRO CLÍNICO
Geralmente são infecções polimicrobianas a partir da
ascensão de germes que fazem parte da flora vaginal
e intestinal, como cocos anaeróbios, gram-negativos,
bacteroides e Clostriduim perfingrens (ou welchii).
Nesse último caso, a paciente evolui rapidamente
com quadro de icterícia cianótica e hemoglobinúria.
Os índices de mortalidade são altos.
QUADRO CLÍNICO
As complicações do aborto séptico ainda são uma
ameaça letal à vida e à saúde das mulheres.
A taxa de mortalidade encontrada foi de 12%
principais causas de morte foram peritonite
generalizada com septicemia 50%
septicemia com insuficiência renal 33,30%
aborto séptico com coagulação intravascular
disseminada 16,70%
(Nahar, S., et al, 2017)
QUADRO CLÍNICO
O sangramento, em geral, não é profuso.
Costuma manifestar-se por sangue aguado, escuro, tipo “lavado de
carne”, costumeiramente com odor fétido.
Nas formas iniciais, em que apenas o endométrio e o miométrio estão
comprometidos pelo processo infeccioso, além dos sintomas de
abortamento incompleto, detectam-se
febre em torno de 38ºC
dor média
tipo de cólicas intermitentes
Bom estado geral
exame físico possível, apresentando dor moderada à mobilização do
colo uterino e à palpação abdominal
QUADRO CLÍNICO
Se o processo progrediu para estágios mais
avançados, injuriando o peritônio pélvico
sintomatologia é mais enriquecida
temperatura mais elevada (39ºC)
dor é mais intensa
estado geral é comprometido
Taquicardia
algum grau de desidratação
pele e mucosas descoradas
QUADRO CLÍNICO
Se o processo progrediu para estágios mais
avançados, injuriando o peritônio pélvico
difícil a palpação uterina devido à contratura dos retos
abdominais pela dor e/ou reação peritoneal
toque vaginal colo uterino aberto, muitas vezes, com
saída de conteúdo purulento, no entanto a sua
realização é bastante dolorosa devido à reação
peritoneal, praticamente impossibilitando a
mobilização do útero.
QUADRO CLÍNICO
Se a sepse instala-se, a gravidade aumenta e o estado geral é
fortemente deteriorado
Sinais tóxicos evidentes
Altas temperaturas refratárias à medicação
Calafrios
Cianose
Desidratação
Hipotensão
Taquicardia
Pulso filiforme
Distensão abdominal
Vômitos
MANEJO
O tratamento deve ser iniciado pela internação da paciente
Tentativa de isolar o agente etiológico pela coleta de material cervical
e hemocultura
Correção do estado hemodinâmico
Administração de ocitocina e antibioticoterapia endovenosa, o mais
rápido possível
Após a instituição da antibioticoterapia, deve-se proceder ao
esvaziamento uterino, sempre com administração de ocitocina antes e
durante o procedimento, para diminuir o risco de perfuração.
Caso haja abcessos, esses devem ser drenados.
Em casos graves sem melhora após 48 horas e com comprometimento
dos tecidos uterinos, pode ser necessária a histerectomia.
MANEJO
Medidas gerais
Reposição volêmica com soro fisiológico ou
Ringerlactato 1000 ml de 8/8hs.
Oxigênio 6-8 litros/min.
Transfusão de sangue (se houver sangramento
intenso) para controle do quadro tóxico-infeccioso.
MANEJO
Exames
Hemograma com contagem de plaquetas
Urina tipo I
Coagulograma
Hemocultura
Cultura da secreção vaginal e do material endometrial
(aeróbios e anaeróbios)
Raios-x do abdome
Ultrassonografia pélvica transvaginal ou de abdome total
Tomografia em situações especiais principalmente para
definir coleções intracavitárias
MANEJO
A histerectomia é indicada, apenas, para as formas
disseminadas ou nas localizadas refratárias ao
tratamento clínico.
Nessas situações, deve ser realizada de forma total e,
se necessário, radical, com retirada dos anexos, caso
estejam comprometidos
MANEJO
Na manutenção ou piora do quadro clínico, deve-se
investigar:
Persistência de restos ovulares;
Abscesso pélvico;
Outro sítio infeccioso;
Tromboflebite séptica/Choque séptico: lembrar da etiologia
por E. coli, bacteróides, Clostridium (este pode levar a quadro
de anemia hemolítica fulminante e insuficiência renal)
Na falência do tratamento com antibioticoterapia e
esvaziamento uterino: considerar laparotomia e histerectomia,
se afastada outras causas.
MANEJO
Nas formas iniciais, opta-se pela clindamicina
associada à gentamicina ou amicacina.
Nos casos mais graves, associar a penicilina G ou a
ampicilina.
Ainda como parte do tratamento clínico, deve-se
estabilizar o estado geral da paciente
MANEJO
O tratamento definitivo, que é o cirúrgico é
representado pela curetagem uterina com remoção
do foco infeccioso, quase sempre traduzido nos
restos placentários infectados.
Se as medidas mobilizadas não resultarem em
melhora do quadro clínico ou houver suspeita de
perfuração uterina, lesão de alça e abscesso pélvico,
procedimentos mais radicais são exigidos, impondo-
se laparotomia seguida de extirpação do foco,
inclusive histerectomia, se for o caso
MANEJO
ANTIBIÓTICOS PARA ABORTAMENTO
INFECTADO
1ª escolha: Clindamicina 900mg, EV, 8/8h +
Gentamicina 1,5mg/Kg, EV, 24/24h (não ultrapassar
240mg). Se não houver resposta adequada, associar
Ampicilina 2g, EV, 6/6h.
2ª escolha: Ampicilina 2g, EV, 6/6h + Gentamicina
1,5mg/Kg, EV, 24/24h (não ultrapassar 240mg) +
Metronidazol 500mg, EV, 8/8h.
MANEJO
Em pacientes com comprometimento da função
renal, a gentamicina pode ser substituída por
cefalosporina de terceira geração (ceftriaxona).
A antibioticoterapia parenteral deve ser
administrada até a paciente encontrar-se afebril e
assintomática por pelo menos 48 horas, com exceção
para os casos de sepse, nos quais o tratamento deve
ser mantido por pelo menos 14 dias
OBRIGADA PELA ATENÇÃO
BIBLIOGRAFIA
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