3 Geracaopoesiaromantica

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3ª GERAÇÃO

Poesia Romântica – Condoreira ou Social


Terceira Geração
 O terceiro momento da poesia romântica é
caracterizado pela literatura social e engajada com
as causas revolucionárias do Brasil da segunda
metade do século XIX. Essa vertente é influenciada
diretamente pela arte política do francês Vitor
Hugo, que atinge toda a Europa. Ela é ainda
chamada de condoreira, pela relação temática e
simbólica com a ave que representa a liberdade tão
cantada pelos poetas desse momento.
 O fim da década de 60 assinalou o início de uma
crise que atingiu a classe dominante, composta por
senhores rurais e grupos de exportadores. As
primeiras indústrias, o encarecimento do escravo
como mão-de-obra e a utilização de imigrantes nas
fazendas de café de São Paulo indicavam mudanças
na ordem econômica.
 Por esta época, começaram a se manifestar as
primeiras fraturas na até então sólida visão das
elites dirigentes. O nacionalismo ufanista começou
a ser questionado. Estudantes de Direito,
intelectuais da classe média urbana, escritores,
jornalistas e militares se davam conta da existência
de uma considerável distância entre os interesses
escravocratas e monarquistas dos proprietários de
terras e os interesses do resto da população. Foi
então que a literatura assumiu uma função crítica.
 Antônio de Castro Alves superou o extremado
individualismo dos poetas anteriores, dando ao
Romantismo um sentido social e revolucionário
que o aproxima do Realismo. O padrão poético já
não é Chateaubriand ou Byron, mas sim o francês
Vitor Hugo, burguês progressista, cantor da
liberdade e do futuro.
CASTRO ALVES (1847-1871)
 Espumas Flutuantes
(1870);
 A cachoeira de Paulo
Afonso (1876);
 Os escravos (1883);
 Gonzaga ou A Revolução
de Minas (drama -
1875).
 Descendente de uma família tradicional e poderosa do interior baiano -
seu pai era médico, formado na Europa - Antônio de Castro Alves nasceu
na Fazenda das Cabeceiras, perto da cidade de Curralinho. Quando tinha
sete anos, a família mudou-se para Salvador. Lá estudou no Colégio
Abílio, que revolucionara o ensino brasileiro pela eliminação dos
castigos físicos aplicados aos alunos. Em 1858, morreu-lhe a mãe. Seu
irmão mais velho, José Antônio, ficou muito abalado, suicidando-se
alguns anos depois. Mas já no início de 1862, Castro Alves estava no
Recife, fazendo os preparatórios para a Faculdade de Direito, ainda em
companhia do irmão. Conheceu então a famosa atriz portuguesa Eugênia
Câmara, de quem se tornou amante aos dezenove anos. Na Faculdade,
parecia mais interessado em agitar idéias abolicionistas e republicanas e
produzir versos (que obtinham grande repercussão entre os colegas) do
que propriamente estudar leis.
 Após concluir um drama em prosa, Gonzaga, especialmente composto para
Eugênia Câmara, seguiu com a atriz rumo a Salvador. Ali os dois receberam
espetacular consagração com a estréia da peça no Teatro São João. Estando ele
disposto a retornar ao curso de Direito, viajaram para São Paulo, antes parando dois
meses no Rio de Janeiro, onde foram celebrados por José de Alencar e Machado de
Assis. A temporada paulista durou apenas um ano. O nome de Castro Alves
tornara-se uma legenda: ótimo declamador de seus próprios poemas, recitou O
navio negreiro e Vozes d'África sob a ovação dos estudantes. Um colega escreveu
que Castro Alves "era grande e belo como um deus de Homero". Sua vida afetiva,
no entanto, entrou em crise pelas constantes traições à orgulhosa Eugênia Câmara.
Ela terminou por abandoná-lo definitivamente. Para esquecer a ruptura, o poeta
começou a se dedicar à caça, ferindo-se casualmente no pé, que infeccionou.
Levado para o Rio, foi submetido a uma amputação sem anestesia. Depois disso,
debilitado, retornou à Bahia, onde viveu por pouco mais de um ano, até que
sobreveio a tuberculose fatal. Morreu em fevereiro de 1871, antes de completar
vinte e quatro anos.
 Sua obra se abre em duas direções:

 Poesia social - causas liberais e humanitárias.


 Poesia lírica - natureza e amor sensual.
POESIA SOCIAL

 Castro Alves é um caso típico do intelectual convertido em homem


de ação. Não apenas realizou uma poesia humanitária, como
participou ativamente de toda a propaganda abolicionista e
republicana. Esse engajamento político muitas vezes prejudica a sua
literatura - que se torna mais denúncia do que arte - embora tal
problema seja secundário diante da generosidade social do poeta.

 O jovem baiano tinha consciência de sua posição e de sua situação


de letrado, e do papel que poderia exercer dentro da sociedade.
Compreendia o significado da educação num país constituído por
analfabetos, e foi o primeiro dos grandes românticos a valorizar a
imprensa, o livro e a instrução, conforme diz no poema O livro e a
América:
 Oh! Bendito o que semeia
 Livros... livros à mão cheia...
 E manda o povo pensar!
 O livro caindo n'alma
 É germe - que faz a palma,
 É chuva - que faz o mar.
 Castro Alves cantou todas as causas libertárias - a poesia
como arma de combate a serviço da justiça e da igualdade -
mas o que ficou na memória popular são os seus poemas
abolicionistas.

 A base econômica da sociedade agrária brasileira, na década


de 1860, ainda era o escravo, porém as pressões
internacionais, somadas às críticas das classes urbanas
nacionais e à perspicácia de certos proprietários - que viam a
escravidão como anti-econômica - possibilitaram o
surgimento das primeiras vozes contestadoras. Castro Alves
será a encarnação mais retumbante desse protesto.
O condoreirismo
 Os seus poemas sociais são conhecidos também como
condoreiros. "A praça, a praça é do povo, assim como o céu é
do condor" - escreve num de seus primeiros trabalhos. É uma
metáfora exuberante: o condor voa altaneiro e livre por sobre
os Andes. Como exuberantes, indignados e patéticos são parte
considerável de seus versos. Ele quer inebriar os jovens liberais
com a força bombástica de um discurso metrificado. Quer
comover e convencer. Por isso, nem sempre se contenta em
dizer o essencial. Acaba caindo na retórica, provocada pelo
excesso verbal, por antíteses e hipérboles* em demasia e por
várias imagens de mau gosto.
 * Hipérbole: figura do exagero
O NAVIO NEGREIRO
 O navio negreiro, cujo título geral é Tragédia no mar, começa com
uma longa e belíssima descrição do oceano, até que o poeta,
postado nas alturas, avista um barco que parece navegar
alegremente. Então o poeta solicita ao albatroz ("águia do
oceano") que lhe dê suas asas para se aproximar da embarcação.
Ao mergulhar por sobre o navio, descobre a realidade em todo o
seu horror.
 As cenas que se sucedem são impressionantes: a violência
opressiva dos traficantes; as apóstrofes* exasperadas do poeta,
tanto a Deus quanto às forças mais grandiosas da natureza; o
repúdio à bandeira nacional que cobre tanta iniqüidade; e, por
fim, o apelo aos heróis do Novo Mundo para que dêem um basta à
espantosa tragédia:
Navio Negreiro - trecho
 Era um sonho dantesco...O tombadilho
 Que das luzernas* avermelha o brilho,
 Em sangue a se banhar.
 Tinir de ferros...estalar de açoite...
 Legiões de homens negros como a noite
 Horrendos a dançar...

 Negras mulheres suspendendo às tetas


 Magras crianças, cujas bocas pretas
 Rega o sangue das mães.
 Outras, moças... mas nuas, espantadas
 No turbilhão de espectros arrastadas
 Em ânsia e mágoa vãs.
 E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
 E da ronda fantástica a serpente
 Faz doidas espirais...
 Se o velho arqueja... se no chão resvala,
 Ouvem-se gritos... o chicote estala
 E voa mais e mais...

 Presa nos elos de uma só cadeia,


 A multidão faminta cambaleia,
 E chora e dança ali ...
 Um de raiva delira, outro enlouquece...
 Outro, que de martírios embrutece,
 Cantando, geme e ri...
 No entanto o capitão manda a manobra...
 E após, fitando o céu que se desdobra
 Tão puro sobre o mar,
 Diz, do fumo entre os densos nevoeiros:
 "Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
 Fazei-os mais dançar." (...)

 Senhor Deus dos desgraçados!


 Dizei-me vós, Senhor Deus!
 Se é loucura... se é verdade
 Tanto horror perante os céus...
 Ó mar! por que não apagas
 Com a esponja de tuas vagas
 De teu manto este borrão?...
 Astros! noite! tempestades!
 Rolai das imensidades!
 Varrei os mares, tufão! (...)
 E existe um povo que a bandeira empresta
 P'ra cobrir tanta infâmia e covardia!...
 E deixa-a transformar nessa festa
 Em manto impuro de bacante* fria!...
 Meu Deus! Meu Deus! mas que bandeira é esta
 Que impudente* na gávea tripudia?! ...
 Silêncio!... Musa! Chora, chora tanto,
 Que o pavilhão se lave no teu pranto...

 Auriverde pendão* de minha terra,


 Que a brisa do Brasil beija e balança,
 Estandarte que a luz do sol encerra,
 E as promessas divinas da esperança...
 Tu, que da liberdade após a guerra
 Foste hasteado dos heróis na lança,
 Antes te houvessem roto na batalha,
 Que servires a um povo de mortalha!... (...)
 ...Mas é infâmia demais... Da etérea plaga*
 Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
 Andrada! arranca este pendão dos ares!
 Colombo! fecha a porta de teus mares!"

 * Apóstrofe: interpelação direta a alguém


 * Luzernas: clarões
 * Bacante: mulher devassa
 * Impudente: sem pudor
 * Pendão: bandeira
 *Plaga: região, país
VOZES D'ÁFRICA

 Dramaticidade semelhante está presente no antológico Vozes d'África,


quando o poeta personifica o continente negro e deixa-o expressar sua
dor, numa figura de linguagem chamada prosopopéia. Esta composição
poética começa com a mais famosa das apóstrofes da literatura brasileira
e segue traduzindo o sofrimento e a humilhação dos povos africanos.
Observem-se os excertos abaixo:

 Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?


 Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
 Embuçado nos céus?
 Há dois mil anos te mandei meu grito,
 Que embalde, desde então, corre o infinito...
 Onde estás, Senhor Deus? (...)
 Não basta inda de dor, ó Deus terrível?
 É pois teu peito eterno, inexaurível*
 De vingança e rancor?
 E que é que eu fiz, Senhor? que torvo* crime
 Eu cometi jamais que assim me oprime
 Teu gládio* vingador?!

 * Embalde:
 * Inexaurível: inesgotável
 * Torvo: pavoroso
 * Gládio:
OUTROS POEMAS

 Curioso é o poema narrativo A cachoeira de Paulo Afonso, composto por uma série
de quadros, onde se fundem o lírico e o social. É a história de amor entre dois
escravos, Lucas e Maria, que termina com o suicídio de ambos na cachoeira. Uma
história melodramática, mas pontilhada de excepcionais descrições da natureza
brasileira, como esse Crepúsculo sertanejo:

 A tarde morria. Nas águas barrentas


 As sombras das margens deitavam-se longas!
 Na esguia atalaia* das árvores secas
 Ouvia-se um triste chorar de arapongas.

 A tarde morria! Dos ramos, das lascas,


 Das pedras, do líquen, das heras, dos cardos*
 As trevas rasteiras com o ventre por terra
 Saíam, quais negros, cruéis leopardos.
 A tarde morria! Mais funda nas águas
 Lavava-se a galha do escuro ingazeiro...
 Ao fresco arrepio dos ventos cortantes
 Em músico estalo rangia o coqueiro. (...)

 Somente por vezes, dos jungles* das bordas,


 Dos golfos enormes daquela paragem,
 Erguia a cabeça, surpreso, inquieto,
 Coberto de limos - um touro selvagem.

 * Cardo: planta espinhosa


 * Jungle: mata espinhosa
POESIA LÍRICA: O AMOR SENSUAL

 O lirismo amoroso de Castro Alves distingue-se das concepções


dominantes na poesia romântica brasileira. Ao contrário de Gonçalves
Dias, não considera o amor como impossível de ser realizado. Tampouco
encobre a sensualidade, como Casimiro de Abreu. Muito menos apresenta
a relação física como perversão fantasiosa, a exemplo de Álvares de
Azevedo. Em Castro Alves, as ligações sentimentais são apresentadas de
uma maneira viril, sensual e calorosa. Mário de Andrade observou que
tanto o homem quanto o artista alcançam a plena realização sexual. Disso
resulta uma lírica original por explorar o erotismo sem subterfúgios e sem
culpa.
 Ninguém como Castro Alves sabe cantar as excelências das uniões
corpóreas, ninguém como ele sabe falar de homens e mulheres reais. Até
mesmo sua linguagem - freqüentemente retórica ao tratar de temas
condoreiros - torna-se simples e coloquial na poesia amorosa.
 A partir de um esplêndido domínio da metáfora, o poeta cria imagens de rara
beleza e intenso sentido de plasticidade, conforme se pode observar em versos
como: "Sob a chuva noturna dos cabelos..." Ou: "Minha Maria é morena / Como as
tardes de verão." Ou ainda, referindo-se a uma de suas amadas: "Lírio do vale
oriental, brilhante! / Estrela vésper do pastor errante!" Encantador e de singelo
erotismo é o poema Adormecida, onde galhos e ramos assediam amorosamente a
jovem que dorme numa rede:
 Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
 Numa rede encostada molemente...
 Quase aberto o roupão...solto o cabelo
 E o pé descalço do tapete rente.(...)
 De um jasmineiro os galhos encurvados,
 Indiscretos entravam pela sala,
 E de leve oscilando ao tom das auras*,
 Iam na face trêmulos - beijá-la
 Era um quadro celeste!... A cada afago
 Mesmo em sonhos a moça estremecia...
 Quando ela serenava... a flor beijava-a ...
 Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia... (...)

 * Aura: vento brando.


 Em Os anjos da meia-noite, o poeta inventa a imagem quase surrealista de um seio solto a flutuar:

 Como o gênio da noite que desta desata


 O véu de rendas sobre a espádua nua,
 Ela solta os cabelos...Bate a lua
 Nas alvas dobras de um lençol de prata...

 O seio virginal que a mão recata,


 Embalde o prende a mão...cresce, flutua... (...)
 Castro Alves é, pois, um cantor de mulheres. Em seus ardentes
versos, descreve-as, confessa-lhes a paixão e, não raro, as possui em
clima de delírio. Mas falta alguma coisa, alguma inquietação por
aquilo que transcende ao sexo. Ele não ultrapassa a superfície dos
corpos e nada revela a respeito das verdades mais profundas da
relação amorosa. Simplesmente registra os encontros e os
desencontros físicos dos amantes, com seu inegável estilo sedutor.

 No poema Boa-noite, por exemplo, a beleza de algumas metáforas


não impede que se perceba a superficial ligação que o poeta
estabelece entre a amada e várias heroínas da literatura ocidental,
numa espécie de ronde de femmes (rodízio de mulheres). O resultado
é atraente, mas desprovido de profundidade:
 Boa-noite, Maria - Eu vou-me embora.
 A lua nas janelas bate em cheio.
 Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
 Não me apertes assim contra teu seio.

 Boa noite!... E tu dizes - Boa noite.


 Mas não digas assim por entre beijos...
 Mas não me digas descobrindo o peito,
 Mar de amor onde vagam meus desejos.(...)

 É noite ainda! Brilha na cambraia


 - Desmanchando o roupão, a espádua nua -
 O globo do teu peito entre os arminhos*
 Como entre as névoas se balouça a lua...
 É noite, pois! Durmamos, Julieta!
 Recende a alcova ao trescalar* das flores.
 Fechemos sobre nós estas cortinas...
 São as asas dos arcanjos dos amores.

 A frouxa luz da alabastrina* lâmpada


 Lambe voluptuosa os teus contornos
 Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
 Ao doido afago de meus lábios mornos.

 Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos


 Treme tua alma, como a lira ao vento,
 Das teclas de teu seio que harmonias,
 Que escalas de suspiros, bebo atento!
 Ai! Canta a cavatina* do delírio,
 Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
 Marion! Marion!...É noite ainda.
 Que importa os raios de uma nova aurora?!...

 Como um negro e sombrio firmamento,


 Sobre mim desenrola teu cabelo...
 E deixa-me dormir balbuciando:
 - Boa-noite! - formosa Consuelo!...

 * Arminhos: peles.
 * Trescalar: exalar.
 * Alabastrina: clara, alva.
 Cavatina: pequena ária, cantiga.

O POETA E A MORTE

 Antes de sua doença, Castro Alves já experimentara o


velho tema romântico da morte na juventude e o triste
lamento que esta intuição do fim nele despertava.

 O abismo entre os seus sonhos e a sombria realidade


que impede a realização dos mesmos aparece em
Mocidade e Morte, um de seus poemas fundamentais
e, além de tudo, profético, conforme se pode ver nas
primeiras estrofes:

 Oh! Eu quero viver, beber perfumes
 Na flor silvestre, que embalsama os ares;
 Ver minha alma adejar* pelo infinito,
 Qual branca vela n'amplidão dos mares.
 No seio da mulher há tanto aroma...
 Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
 - Árabe errante, vou dormir à tarde
 À sombra fresca da palmeira erguida.

 Mas uma voz responde-me sombria:


 Terás o sono sob a lájea* fria.

 Adejar: esvoaçar
 Lájea: pedra do túmulo
SOUSÂNDRADE (1833-1902)
 Obras: Obras poéticas e O Guesa

 Vida: Joaquim de Sousa Andrade nasceu em


Alcântara, Maranhão. De família abonada,
viajou muito desde jovem, percorrendo
inúmeros países europeus. Formou-se em
Letras pela Sorbonne. Depois faz o curso de
Engenharia. Em 1870, conheceu várias
repúblicas latinoamericanas. A partir de 1871,
fixou residência em Nova Iorque, onde mandou
imprimir suas Obras poéticas. Em 1884, lançou
a versão definitiva de seu O Guesa, obra radical
e renovadora. Morreu abandonado e com fama
de louco.
 Considerado em sua época um escritor extravagante, Sousândrade
acaba reabilitado pela vanguarda paulistana (os concretistas) como
um caso de "antecipação genial" da livre expressão modernista.

 Criador de uma linguagem dominada pela elipse, por orações


reduzidas e fusões vocabulares, foge do discurso derramado dos
românticos. Seu aspecto inovador inclui também o uso de
latinismos (palavras latinas), helenismos (palavras gregas),
arcaísmos (palavras fora de uso) e outras invenções pessoais:
metáforas complexas e aliterações, onomatopéias e criações
gráficas, etc. Trata-se de um poeta experimental, que surge como
um corpo estranho dentro de sua época literária.
 O sol ao pôr-do-sol (triste soslaio!)...o arroio
 Em pedras estendido, em seus soluços
 Desmaia o céu d'estrelas arenoso
 E o lago anila seus lençóis d'espelho...
 Era a Ilha do Sol, sempre florida
 Ferrete-azul, o céu, brando o ar pureza
 E as vias-lácteas sendas odorantes
 Alvas, tão alvas!... Sonoros mares, a onda
 d'esmeralda
 Pelo areal rolando luminosa...
 As velas todas-chamas aclaram todo o ar.
O GUESA
 Sua obra mais perturbadora é O Guesa, poema em treze cantos, dos quais quatro
ficaram inacabados. A base do poema é a lenda indígena do Guesa Errante. O
personagem Guesa é uma criança roubada aos pais pelo deus do Sol e educado no
templo da divindade até os 10 anos, sendo sacrificado aos 15 anos, após longa
peregrinação pela "estrada do Suna".

 Na condição de poeta maldito, Sousândrade identifica seu destino pessoal com o do


jovem índio. Porém, no plano histórico-social, o poeta vê no drama de Guesa o mesmo
dos povos aborígenes da América, condenando as formas de opressão dos colonialistas
e defendendo uma república utópica.

 Cosmopolita, o escritor deixou quadros curiosos como a descrição do Inferno de Wall


Street, onde vê o capitalismo como doença.

 Observe-se, por outro lado, que os seus achados poéticos mais felizes coexistem com
trechos ininteligíveis, retóricos e pretensiosos.

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