PsicEducacional Ou Escolar

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PSICOLOGIA

EDUCACIONAL OU
ESCOLAR? EIS A
QUESTÃO
Profa. Stela Maris Bretas Souza
Este artigo apresenta alguns dados oriundos de tese de doutorado sobre a
história do campo de conhecimento e prática da Psicologia em sua relação com a
Educação no Brasil.

Um dos resultados interessantes que se pôde construir a partir desta tese foi a
compreensão de que as diferentes formas de nomenclaturas que se referem à
relação entre a Psicologia e Educação na verdade ensejam pressupostos teóricos,
práticos, metodológicos e inclusive ideológicos que precisam ser compreendidos
não apenas como meras diferenças de nomeação.

Psicologia educacional ou escolar: uma questão de nomenclatura?

Quando se fala em Psicologia em sua relação com a Educação geralmente se


usam os termos “Educacional” ou “Escolar”.
Além dessas nomeações são comuns os termos:

Psicologia na Educação, Psicologia da Educação, Psicologia aplicada à Educação e


Psicologia do Escolar.

Entretanto, por meio da pesquisa histórica, foi possível encontrar ainda as


seguintes expressões: Psicologia Pedagógica, Pedagogia Terapêutica, Pedologia,
Puericultura, Paidologia, Paidotécnica, Higiene Escolar, Ortofrenia, Ortofrenopedia
e Defectologia.

Também em obras diversas aparecem expressões relacionadas: Psicotécnica,


Psicologia Aplicada às coisas do Ensino, Psicologia para pais e professores,
Psicologia da criança, Psicologia do aluno e da professora, Biotipologia
Educacional, Psicopedagogia, Psicologia Especial, Higiene Mental Escolar,
Orientação Educacional e Orientação Profissional.

Em alguns casos se refere à teoria e em outros se designa o conjunto de


práticas desenvolvidas nesse âmbito.
A partir de tantas nomenclaturas, surgem questionamentos:
E os serviços desse setor?
Será que existem diferenças quando se fala Escolar e Educacional?
Ou ainda Psicologia da Educação ou na Educação?

Identificou-se que esses termos citados e suas distinções têm todo um sentido
histórico.

Essas diferenciações estão relacionadas, sobretudo, à definição desse campo


em termos de
(a)objetos de interesse,
(b)finalidades e
(c)métodos de investigação e/ou intervenção, que, por sua vez, estão
relacionados
(d)à visão de homem, de mundo, de sociedade, de educação e de escola e
também quanto ao foco de olhar à interface Psicologia e Educação.
A PSICOLOGIA EDUCACIONAL pode ser considerada como uma subárea da
psicologia, o que pressupõe esta última como área de conhecimento.

Entende-se área de conhecimento como corpus sistemático e organizado de


saberes produzidos de acordo com procedimentos definidos, referentes a
determinados fenômenos ou conjunto de fenômenos constituintes da realidade,
fundamentado em concepções ontológicas, epistemológicas, metodológicas e
éticas determinadas.

Faz-se necessário, porém, considerar a diversidade de concepções, abordagens e


sistemas teóricos que constituem as várias produções de conhecimento,
particularmente no âmbito das ciências humanas, das quais a psicologia faz
parte.

Assim, a PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO pode ser entendida como subárea de


conhecimento, que tem como vocação a produção de saberes relativos ao
fenômeno psicológico constituinte do processo educativo.
A PSICOLOGIA ESCOLAR, diferentemente, define-se pelo âmbito profissional e
refere-se a um campo de ação determinado, isto é, a escola e as relações que aí se
estabelecem; fundamenta sua atuação nos conhecimentos produzidos pela
Psicologia da Educação, por outras subáreas da psicologia e por outras áreas de
conhecimento.

Deve-se, pois, sublinhar que Psicologia Educacional e Psicologia Escolar são


intrinsecamente relacionadas, mas não são idênticas, nem podem reduzir-se uma à
outra, guardando cada qual sua autonomia relativa.

A primeira é uma área de conhecimento (ou subárea) e tem por finalidade produzir
saberes sobre o fenômeno psicológico no processo educativo.

A outra constitui-se como campo de atuação profissional, realizando intervenções no


espaço escolar ou a ele relacionado, tendo como foco o fenômeno psicológico,
fundamentada em saberes produzidos, não só, mas principalmente, pela subárea da
psicologia, a psicologia da educação .
Em termos gerais a definição mostra Psicologia Educacional e da Educação como sinônimos
e correspondem à teorização ou produção de saberes sobre o processo educativo
ea
Psicologia Escolar como um campo de atuação ou prática do psicólogo em contextos
educativos diversos.

Foi nos Estados Unidos que apareceu pela primeira vez em termos científicos o termo
“Educational Psychology” em livro homônimo de Thorndike de 1903 e, posteriormente, esse
mesmo autor colaborou para a criação da primeira revista dessa temática nos Estados
Unidos, intitulada “Journal of Educational Psychology”, em 1910.

“Porque a Psicologia Educacional, no exterior, em vários países, ela aparece como associada.
Elas são dois ramos. A Psicologia Escolar faz pesquisa, mas a pesquisa está ligada ou é
decorrência da Psicologia Educacional. Ou mesmo é uma aplicação no âmbito estrito.”

A professora Geraldina Witter ainda complementa dizendo que essa diferenciação é inócua,
pois, segundo ela, “é claro que uma coisa não vive sem a outra, não é?
Mas, de um modo geral, essa divisão clássica e hoje tradicional é muito disseminada por
alguns teóricos e profissionais que mantêm a ideia de que a Psicologia Educacional fica a
cargo de responder pela teorização e pelas pesquisas, e a Psicologia Escolar, pela prática.

Contudo, a partir do olhar histórico, verifica-se que o termo “Psicologia Educacional”


durante muito tempo no Brasil reunia em si os dois aspectos – o teórico e o prático –,
sendo que também havia outras nomeações (antes citadas) que designavam esse campo.

Diferentemente do que ocorreu em outros países nos quais o campo da Psicologia


Educacional e Escolar se consolidou após a Psicologia propriamente dita, como uma
derivação desta, pelo menos no que se refere à prática, aqui ocorreu de forma diferente.

Esse campo nasceu, desenvolveu-se e se consolidou concomitantemente à Psicologia


propriamente dita. E especialmente ao que tange à aplicação prática dos conhecimentos
psicológicos, o campo educativo foi um dos primeiros

A Psicologia Educacional e Escolar foi um dos principais pilares sob o qual a Psicologia se
erigiu no seu processo de autonomização e que muitas práticas iniciais da Psicologia
principiaram por meio da sua relação com a Educação.
No Período Colonial a característica principal era propiciar a educação dos indígenas e
da população recém-chegada ao Brasil. Tinha-se como objetivo principal a educação
de crianças de modo a “domá-las”, “moldá-las” segundo os propósitos do adulto. Se
utilizava de castigos e prêmios como meio de controle do comportamento e que é
comum encontrar referências do período que tratam do cuidado com a educação
moral e física dos infantes.

Assim, explicações para o comportamento infantil tinham feições ambientalistas e


empiristas, além da proposição de formas de prevenção de problemas de
comportamento por meio de um sistema de monitoria e ensino.

Inicia-se, assim, o uso de conhecimentos que posteriormente chamaríamos de


psicológicos com fins educativos, especialmente de cunho punitivo, correcional ou
adaptacionista.

Os termos Pedologia, Puericultura, Paidologia, Paidotécnica (relacionados à criança) e


também Ortofrenia, Ortofrenopedia, Defectologia (relacionados à criança
“defeituosa”, “deficiente” ou “retardada”) têm origem nesse tipo de pensamento
adaptacionista.
Mesmo com essa origem remota, só podemos falar em uma “área” propriamente
dita chamada “Psicologia Educacional” (nome inicialmente dado a esta) a partir da
autonomização da Psicologia (em fins do século XIX e início do século XX).

No caso do Brasil, também se tem como marco inicial a criação da profissão de


psicólogos no país, em 1962.

Esse campo teórico e prático tem ainda como origem a criação de instituições e
associações dedicadas a esse objeto de estudo e intervenção nos primeiros anos do
século XX, especialmente nos anos 1930.

Entretanto, aos poucos é que foram sendo definidas as especificidades dessa que é
considerada por uns uma “área”, por outros um “campo”, um “ramo” ou até uma
“subdivisão” ou “subárea” da Psicologia.
Nesses primórdios a Psicologia Educacional define melhor seu objeto de interesse,
suas finalidades, seus métodos de investigação e conceitos primordiais. É nítida a
expressão fundante da Puericultura, quando o foco de interesse era o
conhecimento do desenvolvimento infantil, e também da Ortofrenia, quando o
objetivo era trabalhar as questões das crianças ditas “anormais”.

Também se observa a presença da chamada Pedagogia Terapêutica, Higiene


Escolar ou Higiene Mental Escolar, quando se enfatizavam os métodos de
intervenção médico-curativos e clínicos para resolver os chamados “problemas das
crianças”.

Essas referências iniciais da Psicologia Educacional tinham relação com a crescente


onda do movimento de Higiene Mental ou higienista que se tornou expressivo no
país no início e meados do século XX.

Também foram influências iniciais a expansão do movimento psicométrico, da


Psicanálise e da Psicologia Infantil (Puericultura) ou Pedagogia Terapêutica, como
era chamada.
A PSICOLOGIA EDUCACIONAL no Brasil, em seus primórdios, abarcava teoria e
prática e estava relacionada sobretudo à disciplina “Psicologia Educacional” dos
cursos Normais, que utilizava trabalhos empíricos realizados em Laboratórios de
Psicologia, durante muito tempo relacionados ao movimento psicométrico,
higienista e influência da Psicologia Infantil.

Usavam-se como sinônimos de Psicologia Educacional, com essa configuração, os


termos Psicologia na Educação, Psicologia da Educação, Psicologia aplicada à
Educação e Psicologia Experimental. Geralmente a expressão “PSICOLOGIA
EDUCACIONAL” era mais utilizada por ser a nomenclatura das disciplinas
ministradas nos cursos Normais e esta abarcava as demais como conteúdos.

Essas disciplinas eram oferecidas no curso de aperfeiçoamento pedagógico do


Instituto Pedagógico de São Paulo (curso para professores), e sabe-se que existiam
disciplinas anteriores que tinham terminologias parecidas também em outros
estados. Outras nomenclaturas relacionadas eram Psicologia Pedagógica,
Pedagogia Científica, Psicologia Experimental
Em algumas obras dos anos de 1920 e 1930, encontra-se a nomeação Biologia
Educacional e Biotipologia Educacional, que traziam conhecimentos do campo
biológico e também psicológico.
Essas denominações nos informam o quanto a relação entre Psicologia e Educação
era constitutiva, tanto de um quanto de outro desses campos de conhecimento.
Também nos comunica sobre a relação inicial da Psicologia com a pesquisa empírica,
fisiológica e biológica, a partir das expressões experimental, fisiológica e biológica.

Aqui começa a se estabelecer outra grande influência além das anteriormente citadas
– o conhecimento biológico e fisiológico, do campo médico, que trouxe a
“biologização” dos fenômenos escolares, algo largamente criticado nos dias atuais.

Pode-se inferir que a escolha por Psicologia da Educação ou na Educação, Psicologia


Pedagógica, Biologia Educacional ou Biotipologia Educacional denotam, por um lado,
que os conhecimentos psicológicos foram importantes para a constituição e
consolidação desses outros campos de saberes, ao mesmo tempo em que mostram
certa relação de “subjugação” de um saber ao outro.
Principia aqui uma influência funesta de alicerçar a Psicologia em sua relação com a
Educação à influência biologicista e também pedagógica nesses tempos remotos.

Pode-se dizer que o objeto de interesse inicial foi se constituir em um campo de teoria
e aplicação estritamente ligado à docência nas Escolas Normais e cursos de formação
de professores.

A Psicologia Educacional caracterizou-se, então, nesses primórdios, como ensino de


Psicologia para futuros educadores, tendo a finalidade de formação e utilização de
investigação e produção de saberes oriundos dos laboratórios, com vistas à
compreensão dos processos educativos.

Esses conhecimentos tiveram a influência, sobretudo, do movimento psicométrico e de


elementos de Puericultura ou Psicologia da Criança, vindas da Europa, especialmente a
partir dos estudos desenvolvidos no Instituto Jean-Jacques Rousseau (nos anos 1930).

Também se destacam a forte presença da Psicanálise a partir dos anos 1940 e também
do pensamento biologicista medicalizante que se traduzia à época no movimento
higienista.
Em resumo, a Psicologia Educacional teórica e prática tinha como objetivo principal
diagnosticar as crianças no interior da escola quanto a sua “normalidade” ou
“anormalidade” e, baseada nos experimentos e testagens, garantia-se a divisão em
classes e/ou escolas especiais para atendimento de suas “necessidades especiais” se
fosse o caso.

Entra em cena a ideia de normatização que se acresce à de adaptação e atendimento


das “anormalidades” por meio de trabalhos terapêuticos garantidos por meio da
Higiene Mental Escolar.

Especialmente nos anos 1930, a influência das pesquisas produzidas na Europa e nos
Estados Unidos cresceu no país, e o movimento da Escola Nova começou a ter
presença marcante.

Nesse período, historicamente o país estava passando por mudanças sociopolíticas


estruturais, deixando de ser essencialmente agrário e rural para se tornar um país
agroexportador, industrializado e urbano.

Nesse sentido, com vistas a uma “renovação escolar”, crescia a ideia de uma nova
“Educação” e também cresceram em conjunto as teorias higienistas que buscavam
medidas de caráter profilático para o âmbito escolar
O movimento de Escola Nova encontrou na Psicologia, através dos testes
psicológicos e conhecimento sobre inteligência, maturidade e prontidão para
aprendizagem, explicações para as diferenças individuais que culpabilizavam o
sujeito pela sua condição e ocultavam as desigualdades sociais

Nesse contexto, a Psicologia tinha como foco analisar o processo de


desenvolvimento infantil, o olhar para a criança, e seu interesse era constituir-se
como campo que aliaria esses conhecimentos no contexto educacional de forma
adaptacionista, cuja identificação era a Pedologia, a Puericultura e até a Paidologia
ou Paidotécnica (terminologias que se referem ao estudo do desenvolvimento
infantil).

Assim, o objeto de interesse primordial passava a ser a criança no contexto


educacional, e a finalidade, compreender suas características, seu processo de
desenvolvimento, utilizando para isso investigações agora não apenas
psicométricas, mas também com foco no estudo das influências familiares e
contextuais.
A influência da Psicanálise foi um exemplo da mudança de foco do pensamento biologicista e
puramente clínico-médico para um olhar direcionado às configurações familiares e sua
importância naquele contexto.
Embora ainda se possa identificar o olhar medicalizante e de ideologia liberal e a influência
do movimento de Higiene Mental, pode-se dizer que o foco deixa um pouco de lado apenas o
“indivíduo” criança e passa a observar seu entorno, no caso a família.

Esse tipo de pensamento também se inseriu no que depois passou a se designar “Psicologia
do Escolar”, que representava a ênfase no olhar para “o” escolar, ou o estudante, ressaltando
a análise individual dos fenômenos escolares e o olhar para a criança no contexto escolar.

Nos anos 1960 e 1970 do século XX, podemos dizer que essa “Psicologia do Escolar” com
foco na “criança-problema”, ou “criança que não aprende”, e nos “problemas de
aprendizagem” foi a tônica do momento.

A marca ainda clara do modelo clínico- -médico permanece e busca-se cada vez mais a
investigação dos processos “anormais” ou “desviantes”, cuja base é a Psicologia do
“ajustamento”, da Psicologia Diferencial e da Psicopatologia.
Nesse contexto, o objeto de interesse se desloca para o indivíduo que apresenta
algum tipo de “desvio” daqueles considerados “normais”.
No contexto educativo, era chamado de “criança-problema”, “aluno problema”,
“criança difícil”.
A finalidade da Psicologia Educacional interessada nessa temática é então
constituída com base na identificação e discriminação desses “diferentes”, a partir
dos instrumentais psicométricos e avaliativos em moda no período

Ao contrário do que parece, o termo “Psicologia Especial”, nessa época, não estava
relacionado à área que tinha como foco os indivíduos “anormais” ou “especiais”; a
Psicologia Especial da época dizia respeito à distinção da Psicologia Geral, indicando
o que atualmente designamos áreas específicas (no momento ditas “especiais” da
Psicologia).

Além disso, as nomeações Psicotécnica e Psicologia Aplicada indicavam a ênfase no


campo prático da Psicologia e, nesse sentido, se destacava a Psicologia Aplicada aos
âmbitos escolar, clínico, do trabalho, social etc.
A Psicologia Aplicada à Educação também tinha como símiles a Psicologia para pais e
professores, a Psicologia da criança, do aluno e da professora e a Psicopedagogia.

Com a aprovação de lei que regulamentou a profissão de psicólogos no Brasil (Lei N.


4.119 de 27 de agosto de 1962), usam-se mais termos relacionados à Psicologia
Aplicada, assim como se perpetuam as terminologias ligadas ao campo de tratamento
dos “anormais” e inicia-se o uso da nomenclatura “Psicologia Escolar” nos anos 1970
e 1980.

Em meados dos anos 1970 iniciam-se práticas de psicólogos em unidades como


prefeituras e centros de atendimento psicológico específico para atendimento escolar.

Também à época é característica o crescimento da “Psicologia do Escolar”, que


mostrava como objeto de interesse o aprendiz e cuja principal finalidade era
compreendê-lo para contribuir com seu processo educativo.
Mantém-se ainda a primazia do interesse “na” criança que “não aprende” no
contexto escolar e nos chamados “anormais” e “crianças-problema”, embora as
explicações sobre esse não aprender mudem de foco.

Com finalidades liberais e ajustatórias, a teoria da carência cultural, nascida nos


Estados Unidos como forma de explicação das diferenças individuais entre as
minorias pobres, negras e latinas no país, passa a ser amplamente divulgada em
nosso país.

E foi apenas a partir da crítica a esse tipo de pensamento que foi possível construir
outro conhecimento e prática que pudesse tirar o foco da “criança-problema”, que
“não aprende”, e das finalidades de trabalho junto aos “problemas de
aprendizagem” com objetivos ajustatórios ou discriminatórios, para finalmente se
pensar nos processos educacionais de um modo mais amplo.

Essa crítica principia em meados e final da década 70 do século XX.


A partir da crítica empreendida nessa obra e também em outras posteriores,
observa-se a mudança no que se refere ao objeto de interesse, às proposições das
finalidades e também aos métodos e técnicas de atuação nesse contexto.

Cresce a utilização da nomenclatura Psicologia Escolar com vista a se diferenciar


da Psicologia Educacional agora entendida como tradicional e representante de
todo o pensamento anterior de cunho ajustatório, adaptacionista, discriminatório e
que ora assumiu feições biologicistas, medicalizantes, ora defendeu teorias como
aquelas oriundas do pensamento higienista e da carência cultural.

A chamada Psicologia Escolar, atualmente denominada por alguns autores como


Psicologia Escolar Crítica, tem como prerrogativa outras bases de sustentação
teórica e metodológica e se caracteriza por propor um olhar para o processo de
escolarização e para o contexto sócio-político-cultural em que estão inseridos os
processos educativos.
Nessa visão, tem-se como objeto de interesse a investigação e intervenção nos
contextos educacionais e processos de escolarização.

Compreende-se que o “não aprender” está relacionado a toda uma produção do


fracasso escolar, cujas origens se referem a uma multiplicidade de fatores
intervenientes, incluindo as políticas públicas educacionais, a formação docente, o
material didático, a organização do espaço escolar, entre outros.

Muitas vezes, esse “não aprender” é materializado/corporificado sob a forma de uma


queixa escolar sobre aquele indivíduo “que não aprende”.
Essa queixa chega ao psicólogo que deve, a partir de então, atuar de forma diferente
da anterior, que tinha na investigação psicométrica seu maior instrumental de
trabalho.

Nessa linha de pensamento, A FUNÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR É DE MODO CRÍTICO


BUSCAR IR ÀS ORIGENS E RAÍZES DO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO, COMPREENDER
SUAS DIFERENTES FACETAS, INCLUIR EM SEU TRABALHO UMA ATUAÇÃO JUNTO AO
APRENDIZ, AOS DOCENTES, À FAMÍLIA, À ESCOLA, À EDUCAÇÃO COMO UM TODO E À
SOCIEDADE EM QUE ESTÁ INSERIDA
Ao produzir referências (ciência) ou atuar (profissão) nesse âmbito, o profissional não
deve se limitar aos conhecimentos nem da Psicologia, nem da Educação, mas utilizar
como base as produções inúmeras e fecundas de outras áreas de conhecimento como
a Filosofia, Sociologia, Antropologia etc.

De um modo geral, busca-se, a partir dessa nova orientação, novas formas de


pesquisa, produção de conhecimentos e atuação que tenham imbricadas as dimensões
teóricas e práticas e, sobretudo, práxicas de compromisso ético-político com as
questões educacionais, escolares e sua melhoria.

Para os autores contemporâneos, o trabalho do psicólogo nesse campo é ter como


principal tarefa buscar otimizar situações que envolvam os processos de escolarização
a partir de uma prática com o coletivo e o individual concomitantemente.

Como métodos e técnicas, utilizam-se diferentes estratégicas que atendam às


necessidades das instituições escolares, dos educadores, dos educandos e da
comunidade escolar como um todo. O profissional pode atuar como profissional dentro
da escola ou nos moldes de trabalho externo (consultoria externa)
Ampliou-se o modo de olhar e atualmente não apenas se consideram as
“dificuldades de aprendizagem do aluno”, pensa-se contemporaneamente
no fenômeno do “fracasso escolar”, das “queixas escolares”, dos
“problemas de escolarização”, objetos de estudo e intervenção mais
abrangentes e não individualizantes da questão.

As intervenções/ações do psicólogo escolar também passaram a envolver


“orientação profissional”, “orientação educacional”, “orientação a queixas
escolares” e “formação docente”, ou seja, um trabalho que envolve todos
os atores do contexto educativo (alunos, educadores, pais e a comunidade
escolar em geral).

Embora essas novas proposições não sejam unânimes, elas têm crescido
cada vez mais.

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