PsicEducacional Ou Escolar
PsicEducacional Ou Escolar
PsicEducacional Ou Escolar
EDUCACIONAL OU
ESCOLAR? EIS A
QUESTÃO
Profa. Stela Maris Bretas Souza
Este artigo apresenta alguns dados oriundos de tese de doutorado sobre a
história do campo de conhecimento e prática da Psicologia em sua relação com a
Educação no Brasil.
Um dos resultados interessantes que se pôde construir a partir desta tese foi a
compreensão de que as diferentes formas de nomenclaturas que se referem à
relação entre a Psicologia e Educação na verdade ensejam pressupostos teóricos,
práticos, metodológicos e inclusive ideológicos que precisam ser compreendidos
não apenas como meras diferenças de nomeação.
Identificou-se que esses termos citados e suas distinções têm todo um sentido
histórico.
A primeira é uma área de conhecimento (ou subárea) e tem por finalidade produzir
saberes sobre o fenômeno psicológico no processo educativo.
Foi nos Estados Unidos que apareceu pela primeira vez em termos científicos o termo
“Educational Psychology” em livro homônimo de Thorndike de 1903 e, posteriormente, esse
mesmo autor colaborou para a criação da primeira revista dessa temática nos Estados
Unidos, intitulada “Journal of Educational Psychology”, em 1910.
“Porque a Psicologia Educacional, no exterior, em vários países, ela aparece como associada.
Elas são dois ramos. A Psicologia Escolar faz pesquisa, mas a pesquisa está ligada ou é
decorrência da Psicologia Educacional. Ou mesmo é uma aplicação no âmbito estrito.”
A professora Geraldina Witter ainda complementa dizendo que essa diferenciação é inócua,
pois, segundo ela, “é claro que uma coisa não vive sem a outra, não é?
Mas, de um modo geral, essa divisão clássica e hoje tradicional é muito disseminada por
alguns teóricos e profissionais que mantêm a ideia de que a Psicologia Educacional fica a
cargo de responder pela teorização e pelas pesquisas, e a Psicologia Escolar, pela prática.
A Psicologia Educacional e Escolar foi um dos principais pilares sob o qual a Psicologia se
erigiu no seu processo de autonomização e que muitas práticas iniciais da Psicologia
principiaram por meio da sua relação com a Educação.
No Período Colonial a característica principal era propiciar a educação dos indígenas e
da população recém-chegada ao Brasil. Tinha-se como objetivo principal a educação
de crianças de modo a “domá-las”, “moldá-las” segundo os propósitos do adulto. Se
utilizava de castigos e prêmios como meio de controle do comportamento e que é
comum encontrar referências do período que tratam do cuidado com a educação
moral e física dos infantes.
Esse campo teórico e prático tem ainda como origem a criação de instituições e
associações dedicadas a esse objeto de estudo e intervenção nos primeiros anos do
século XX, especialmente nos anos 1930.
Entretanto, aos poucos é que foram sendo definidas as especificidades dessa que é
considerada por uns uma “área”, por outros um “campo”, um “ramo” ou até uma
“subdivisão” ou “subárea” da Psicologia.
Nesses primórdios a Psicologia Educacional define melhor seu objeto de interesse,
suas finalidades, seus métodos de investigação e conceitos primordiais. É nítida a
expressão fundante da Puericultura, quando o foco de interesse era o
conhecimento do desenvolvimento infantil, e também da Ortofrenia, quando o
objetivo era trabalhar as questões das crianças ditas “anormais”.
Aqui começa a se estabelecer outra grande influência além das anteriormente citadas
– o conhecimento biológico e fisiológico, do campo médico, que trouxe a
“biologização” dos fenômenos escolares, algo largamente criticado nos dias atuais.
Pode-se dizer que o objeto de interesse inicial foi se constituir em um campo de teoria
e aplicação estritamente ligado à docência nas Escolas Normais e cursos de formação
de professores.
Também se destacam a forte presença da Psicanálise a partir dos anos 1940 e também
do pensamento biologicista medicalizante que se traduzia à época no movimento
higienista.
Em resumo, a Psicologia Educacional teórica e prática tinha como objetivo principal
diagnosticar as crianças no interior da escola quanto a sua “normalidade” ou
“anormalidade” e, baseada nos experimentos e testagens, garantia-se a divisão em
classes e/ou escolas especiais para atendimento de suas “necessidades especiais” se
fosse o caso.
Especialmente nos anos 1930, a influência das pesquisas produzidas na Europa e nos
Estados Unidos cresceu no país, e o movimento da Escola Nova começou a ter
presença marcante.
Nesse sentido, com vistas a uma “renovação escolar”, crescia a ideia de uma nova
“Educação” e também cresceram em conjunto as teorias higienistas que buscavam
medidas de caráter profilático para o âmbito escolar
O movimento de Escola Nova encontrou na Psicologia, através dos testes
psicológicos e conhecimento sobre inteligência, maturidade e prontidão para
aprendizagem, explicações para as diferenças individuais que culpabilizavam o
sujeito pela sua condição e ocultavam as desigualdades sociais
Esse tipo de pensamento também se inseriu no que depois passou a se designar “Psicologia
do Escolar”, que representava a ênfase no olhar para “o” escolar, ou o estudante, ressaltando
a análise individual dos fenômenos escolares e o olhar para a criança no contexto escolar.
Nos anos 1960 e 1970 do século XX, podemos dizer que essa “Psicologia do Escolar” com
foco na “criança-problema”, ou “criança que não aprende”, e nos “problemas de
aprendizagem” foi a tônica do momento.
A marca ainda clara do modelo clínico- -médico permanece e busca-se cada vez mais a
investigação dos processos “anormais” ou “desviantes”, cuja base é a Psicologia do
“ajustamento”, da Psicologia Diferencial e da Psicopatologia.
Nesse contexto, o objeto de interesse se desloca para o indivíduo que apresenta
algum tipo de “desvio” daqueles considerados “normais”.
No contexto educativo, era chamado de “criança-problema”, “aluno problema”,
“criança difícil”.
A finalidade da Psicologia Educacional interessada nessa temática é então
constituída com base na identificação e discriminação desses “diferentes”, a partir
dos instrumentais psicométricos e avaliativos em moda no período
Ao contrário do que parece, o termo “Psicologia Especial”, nessa época, não estava
relacionado à área que tinha como foco os indivíduos “anormais” ou “especiais”; a
Psicologia Especial da época dizia respeito à distinção da Psicologia Geral, indicando
o que atualmente designamos áreas específicas (no momento ditas “especiais” da
Psicologia).
E foi apenas a partir da crítica a esse tipo de pensamento que foi possível construir
outro conhecimento e prática que pudesse tirar o foco da “criança-problema”, que
“não aprende”, e das finalidades de trabalho junto aos “problemas de
aprendizagem” com objetivos ajustatórios ou discriminatórios, para finalmente se
pensar nos processos educacionais de um modo mais amplo.
Embora essas novas proposições não sejam unânimes, elas têm crescido
cada vez mais.