Guerras do ópio
Guerras do Ópio | |||
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Juncos chineses sob bombardeio britânico durante a Guerra do Ópio | |||
Data | 1839 - 1842, 1856 - 1860 | ||
Local | Cantão e Hong Kong na região sul da China | ||
Desfecho | Vitória britânica e Tratado de Nanquim | ||
Beligerantes | |||
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As Guerras do Ópio, ou Guerra Anglo-Chinesa, foram conflitos armados ocorridos entre a Grã-Bretanha e a China nos anos de 1839-1842 e 1856-1860.[1]
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Com o fim das guerras napoleônicas, as atividades comerciais europeias voltaram-se para o Extremo Oriente, traduzindo-se numa pressão constante sobre a China, que mantinha fortes restrições sobre o comércio estrangeiro. Cantão era o único porto aberto ao comércio estrangeiro. Veio a representar o choque entre a China e o Ocidente durante as chamadas Guerras do Ópio.[1]
Em meados do século XIX a Grã-Bretanha era a potência mais desenvolvida do mundo, efetuando a transição para a segunda fase da Revolução Industrial. Para tanto, demandava cada vez mais matérias-primas a baixos preços e mercados consumidores maiores para os seus produtos industrializados.
A Índia e a China, países mais populosos da Ásia, despertavam grande atenção por parte da burguesia britânica. Ao passo que o mercado indiano se encontrava aberto ao comércio estrangeiro, a China, produtora de seda, porcelana e chá (os britânicos compraram 12.700 toneladas em 1720 e 360 mil toneladas em 1830; itens que alcançavam bons preços no mercado europeu), não mostrava interesse nos produtos europeus, o que acarretava défices ao comércio britânico.
Apenas um produto, em particular, parecia despertar o interesse dos chineses: o ópio, uma substância entorpecente, altamente viciante, extraída da papoula que causa dependência química em seus usuários, introduzido ilegalmente na China por comerciantes ingleses e norte-americanos. Produzido na Índia, e também em partes do Império Otomano no início do século XIX, os comerciantes britânicos traficavam-no ilegalmente para a China e muitas vezes forçavam os cidadãos a consumir as drogas, provocando dependência química, auferindo grandes lucros e aumentando o volume do comércio em geral.[1]
Causas do conflito
[editar | editar código-fonte]Em 1830, os ingleses obtiveram exclusividade das operações comerciais no porto de Cantão. A China exportava seda, chá e porcelana, então em moda no continente europeu, enquanto a Grã-Bretanha sofria um grande défice comercial em relação à China. Para compensar suas perdas econômicas, a Grã-Bretanha traficava o ópio indiano para o Império do Meio (China).[1] O governo de Pequim resolveu proibir o tráfico de ópio, o que levou a coroa britânica a lançar mão de sua força militar.
China proíbe importação de ópio
[editar | editar código-fonte]Entre 1811 e 1821, o volume anual de importação de ópio na China girava em torno de 4 500 pacotes de 15 kg cada um. Esta quantidade quadruplicou até 1835 e, quatro anos mais tarde, atingiu a quantia de 450 toneladas importadas, ou seja, um grama para cada um dos 450 milhões de habitantes da China na época.[2]
A droga chegou a representar a metade das exportações britânicas para a China. O primeiro decreto proibindo o consumo de ópio datou de 1800, mas nunca chegou a ser respeitado.
Em 1839, a droga ameaçava seriamente não só a estabilidade social e financeira do país, como também a saúde dos soldados. A corrupção grassava na sociedade chinesa. Para chamar a atenção do imperador Daoguang, um ministro descreveu a situação da seguinte maneira:
“ | Majestade, o preço da prata está caindo por causa do pagamento da droga. Em breve, vosso império estará falido. Quanto tempo ainda vamos tolerar este jogo com o diabo? Logo não teremos mais moeda para pagar armas e munição. Pior ainda, não haverá soldados capazes de manejar uma arma porque estarão todos viciados. | ” |
— Ministro Chinês.
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Em 18 de março de 1839, o imperador lançou um novo decreto, com um forte apelo à população. Através de um panfleto, advertiu do consumo de ópio. As firmas estrangeiras foram cercadas pelos militares chineses, que em poucos dias apreenderam e queimaram, na cidade de Cantão, mais de 20 mil caixas da droga.[2]
Os conflitos
[editar | editar código-fonte]A Primeira Guerra do Ópio (1839-1842)
[editar | editar código-fonte]Em 1839, diante do assassinato brutal de um súdito chinês por marinheiros britânicos embriagados em Cantão, o comissário imperial chinês ordenou a expulsão de todos os ingleses da cidade. Na ocasião, o governo chinês confiscou e destruiu cerca de 20 mil caixas de ópio nos depósitos britânicos, expulsando da China os seus responsáveis, súditos da Grã-Bretanha.
Esses factos serviram de pretexto para que a Grã-Bretanha declarasse guerra à China, na chamada Primeira Guerra do Ópio (1839-1842). Em 1840, o chanceler britânico, lorde Palmerston,[1] furioso, ordenou uma frota de 16 navios de guerra britânicos para a região. Senhora de superioridade tecnológica inquestionável, representada por modernos navios de aço movido á vapor como o Fênix Dancer, a esquadra britânica afundou boa parte dos obsoletos juncos à vela da marinha de guerra chinesa, sitiou Guangzhou (Cantão), bombardeou Nanquim e bloqueou as comunicações terrestres com a capital, Pequim.
O conflito foi encerrado em Agosto de 1842 com a assinatura do Tratado de Nanquim, o primeiro dos chamados "Tratados Desiguais", pelo qual a China aceitou suprimir o sistema de Co-Hong (companhia governamental chinesa), abrir cinco portos ao comércio de ópio britânico (Cantão, Fuzhou, Xizmen, Ningbo e Xangai), pagar uma pesada indenização de guerra e entregar a ilha de Hong Kong, na qual ficaria sob o domínio inglês por 155 anos. Como garantia do direito de comércio de ópio assim obtido, um navio de guerra britânico ficaria permanentemente ancorado em cada um desses portos.[3]
Apesar do acordo com a China, a situação continuou a não satisfazer as ambições imperialistas dos ingleses. O comércio de ópio não progredia tão rapidamente como o pretendido, uma vez que os mandarins locais se atrasavam na resolução dos assuntos que iam surgindo. Assim, a situação não era conforme os interesses dos ocidentais.
A Segunda Guerra do Ópio (1856-1860)
[editar | editar código-fonte]Em 1856, oficiais chineses abordaram e revistaram o navio de bandeira britânica, Arrow. Os franceses aliaram-se aos britânicos no ataque militar lançado em 1857.[1] As forças aliadas operaram ao redor de Cantão, de onde o vice-rei prosseguia com uma política protecionista. Mais uma vez, a China saiu derrotada e, em 1858, as potências imperialistas ocidentais exigiram que a China aceitasse o Tratado de Tianjin. De acordo com este tratado, onze novos portos chineses seriam abertos ao comércio de ópio com o Ocidente e seria garantida a liberdade de movimento aos traficantes europeus e missionários cristãos. Quando o imperador Xianfeng se recusou a ratificar o acordo, a capital, Pequim, foi ocupada. Após a Convenção de Pequim (1860), o Tratado de Tianjin foi aceito. A China criou um Ministério dos Negócios Estrangeiros, permitiu que se instalassem legações ocidentais na capital e renunciou ao termo "bárbaro", usado nos documentos chineses para denominar os ocidentais.
Consequências
[editar | editar código-fonte]Em 1900, o número de portos abertos ao comércio com o ocidente, chamados de "portos de tratado", chegava a mais de cinquenta, sendo que a maior parte das potências europeias, assim como os Estados Unidos, tinham concessões e privilégios comerciais.[1]
A ilha de Hong Kong permaneceu em poder dos britânicos até ser devolvida à República Popular da China em julho de 1997. O estatuto de Macau, como colónia do Império Português, foi prorrogado, sendo o território devolvido à China em 20 de dezembro de 1999.
Ver Também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c d e f g Pedro Augusto Rezende Rodrigues (19 de janeiro de 2011). «Guerra do Ópio». InfoEscola. Consultado em 7 de novembro de 2012
- ↑ a b «1839: China proíbe importação de ópio». Deutsche Welle. Consultado em 24 de janeiro de 2015
- ↑ Vlataire Scilling. «O Tratado de Nanquim». Portal Terra. Consultado em 24 de janeiro de 2015
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Jack Beeching, The Chinese Opium Wars (1975), ISBN 0-15-617094-9
- Maurice Collis, Foreign Mud, An account of the Opium War (1946), ISBN 0-571-19301-3
- Timothy Brook and Bob Tadashi Wakabayashi, editors, Opium Regimes: China, Britain, and Japan, 1839-1952 (Berkeley: University of California Press, 2000). Collection of well-informed articles.
- Carl A. Trocki, Opium, Empire and the Global Political Economy: A Study of the Asian Opium Trade, 1750-1950 (London: Routledge, 1999).
- Yangwen Zheng, The Social Life of Opium in China (Cambridge: Cambridge University Press, 2005). Outstanding comprehensive social history.
- Brian Inglis, The Opium War (Coronet, 1976), ISBN 0-340-23468-7
- Diana L. Ahmad, The Opium Debate and Chinese Exclusion Laws in the Nineteenth-century American West (University of Nevada Press, 2007). Drugs and Racism in the Old West.
- G.J. Wolseley, Narrative of the War with China in 1860 (Longman, Green, Longman & Roberts, 1862)
- Arthur Waley The Opium War through Chinese Eyes (George Allen & Unwin, 1958)
- J. Chesneaux and others. China from the Opium Wars to the 1911 Revolution (Harvester Press, Sussex, 1977).
- James Clavell, Tai-Pan