Saltar para o conteúdo

Maya Deren

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Maya Deren
Maya Deren
Nascimento 29 de abril de 1917
Kiev (Império Russo)
Morte 13 de outubro de 1961 (44 anos)
Nova Iorque
Cidadania Estados Unidos, Império Russo, República Russa, República Popular da Ucrânia
Cônjuge Alexander Hackenschmied, Teiji Ito
Alma mater
Ocupação realizadora de cinema, bailarina, editora de filme, coreógrafa, atriz de cinema, poeta, fotógrafa, realizadora, escritora
Distinções
Obras destacadas Tramas do Entardecer
Causa da morte hemorragia intracerebral

Maya Deren (Kiev, 29 de abril de 1917Nova Iorque, 13 de outubro de 1961), nascida Eleanora Derenkovskaya, foi uma realizadora e teórica cinematográfica norte-americana dos anos 1940 e 1950. Deren também foi coreógrafa, dançarina, poeta, escritora e fotógrafa.

Primeiros anos

[editar | editar código-fonte]

Nascida Eleanora Derenkovskaya, a 29 de Abril de 1917 (o ano da Revolução Russa), em Kiev, na Ucrânia, filha de Marie Fiedler, que tinha estudado música, e de Solomon Derenkovsky, psiquiatra, Maya Deren começou por receber a educação reservada aos privilegiados cultos. Mas em 1922, com as revoltas antissemitas (pogroms) provocadas pelas forças contrarrevolucionárias do Exército Branco (movimento pró-czarista e anticomunista) a família judia é forçada a fugir da União Soviética. Estabelecem-se com o irmão do pai em Siracusa, Nova Iorque, onde Solomon Derenkovsky integra o corpo clínico do Hospital Psiquiátrico local e, pouco tempo depois, a família é oficialmente autorizada a encurtar o nome para Deren. Em 1928 os Deren tornam-se cidadãos norte-americanos.

Quando, em 1930, os pais se separaram, Deren é enviada, em regime de internato, para a Escola Internacional de Genebra, na Suíça, onde estuda francês, alemão e russo. Em 1933 retorna aos Estados Unidos e inicia os seus estudos superiores na Universidade de Siracusa, onde frequenta o curso de jornalismo e ciência política (tornando-se activista da organização trotskista Liga da Juventude Socialista (YPSL), na qual conhece Gregory Bardacke, com quem viria a casar em 1935, aos 18 anos). Datam desta época os seus primeiros interesses pelo cinema. Em 1935 transfere-se para a Universidade de Nova Iorque, onde ela e o marido se tornam muito activos em várias causas socialistas. Terminado o curso e separada de Gregory Bardacke (o divórcio só seria decretado em 1939), inicia um mestrado em literatura inglesa e poesia simbolista na Escola Nova de Pesquisas Sociais, que completa em 1939 no Colégio Smith. Terminados os estudos, começa a trabalhar como assistente para vários escritores e editores, enquanto paralelamente desenvolve o seu interesse pela poesia.

Em 1941 torna-se assistente pessoal da coreógrafa / dançarina / antropóloga Katherine Dunham, pioneira da dança negra e autora, em 1936, de um estudo antropológico sobre o Haiti. O trabalho com Dunham inspira Deren a escrever um ensaio intitulado Religious Possession in Dancing. No final de uma digressão, a Companhia de Dança Katherine Dunham fixa-se em Los Angeles durante alguns meses, para trabalhar em Hollywood. É aí que Deren conhece Alexander Hackenschmied, um famoso fotógrafo e operador de câmara de origem checa, que em 1942 se tornaria o seu segundo marido, e que por sugestão da própria Deren, que achava Hackenschmied demasiado judeu, encurta o seu nome para Alexander Hammid. Deren aproveita a pequena herança de seu pai para comprar em segunda-mão uma câmara Bolex de 16mm, que ela e Hammid usaram para realizar o seu primeiro – e mais famoso – filme, Meshes of the Afternoon (1943), em Hollywood. Meshes of the Afternoon preparou o terreno para os filmes americanos de vanguarda dos anos 40 e 50 e seria reconhecido como um marco incontornável do cinema experimental.

Deren regressa a Nova Iorque em 1943 e passa a assinar com um novo nome: Maya (que era o nome da mãe de Buda, assim como uma antiga palavra para água e a palavra que designa o "véu da ilusão" na mitologia Hindu). André Breton, Marcel Duchamp, Oscar Fischinger, John Cage e Anaïs Nin tornam-se parte do seu círculo social de Greenwich Village e a sua influência começa a fazer-se sentir no trabalho de realizadores como Willard Maas, Kenneth Anger, Stan Brakhage, Sidney Peterson, James Broughton, Gregory J. Markopoulos e Curtis Harrington.

No decurso dos anos imediatos Deren continua a criar obras inovadoras em 16mm, nomeadamente At Land (1944) e Study in Choreography for Camera (1945). Em 1946 aluga o Teatro de Provincetown, no centro de Nova Iorque, para mostrar Meshes of the Afternoon, At Land e Study in Choreography for Camera num evento intitulado Three Abandoned Films que durou vários dias. Esta acção audaciosa inspiraria outros realizadores a fazerem a auto-distribuição do seu trabalho. Nesse mesmo ano ganha um Fellowship da Fundação Guggenheim pelo "Trabalho Criativo no Domínio Cinematográfico", tendo sido o primeiro realizador a ganhar o prestigiado prémio. As suas fotografias e ensaios, incluindo An Anagram of Ideas on Art, Form and Film começam a surgir na imprensa underground. Inicia também o planeamento de um filme sobre transe e ritual, envolvendo a dança, os jogos infantis e os filmes etnográficos realizados por Gregory Bateson e Margaret Mead sobre o transe no Bali.

Em 1947 é-lhe atribuído o "Grande Prémio Internacional para Filmes de 16mm - Classe Experimental" no Festival de Cinema de Cannes, por Meshes of the Afternoon. É a primeira vez que o prémio é concedido aos Estados Unidos e a uma realizadora mulher. Nesse mesmo ano divorcia-se do realizador Alexander Hammid.

O prémio da Fundação Guggenheim permitiu a Deren financiar uma ida ao Haiti, para prosseguir as suas pesquisas sobre o Vodu haitiano, interesse que lhe terá sido despertado pelo estudo de Dunham sobre a dança do Haiti. Entre 1947 e 1955, Deren passa aproximadamente 21 meses no Haiti, filmando rituais e danças Vodu, mas também participando neles, a ponto de adoptar a religião Vodu e de ser iniciada como sacerdotisa. O material que daí resultou - várias horas colectivamente referenciadas como Haitian Film Footage - ficou por terminar (a partir desse material, Teiji Ito e Cherel Winett Ito montaram e produziram um filme em 1981, vinte anos depois da morte de Deren), estando actualmente depositado na Colecção Maya Deren da Universidade de Boston. Sob a tutela do mitologista Joseph Campbell, Deren escreveu um estudo etnográfico, detalhado e sem precedentes, sobre a religião Vodu, intitulado Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti (1953), considerado fonte incontornável sobre o assunto.

O seu último filme, The Very Eye of Night (1955), teve estreia em Port-au-Prince, no Haiti. Devido a uma disputa financeira com o produtor, o filme só foi mostrado em Nova Iorque em 1959. Em 1960 Deren casa com Teiji Ito, um músico japonês mais novo que ela 18 anos e que a acompanhara na sua última viagem ao Haiti em meados dos anos 50. Compôs as bandas-sonoras para dois dos seus filmes, incluindo The Very Eye of Night.

A 13 de Outubro de 1961 Maya Deren morre repentinamente de um derrame cerebral, aos quarenta e quatro anos de idade. Houve muita especulação sobre as causas reais desse derrame, tendo os boatos referido uma maldição Vodu, o uso de "concentrados de vitaminas" (que continham anfetaminas) do chamado Dr. Feelgood, Max Jacobson (que em 1975 viria a perder a licença para exercer medicina, após uma investigação do New York Times sobre a dependência de drogas que provocava nos seus pacientes), ou uma renhida querela judicial sobre a herança do pai de Ito. As suas cinzas foram espalhadas no Monte Fuji, no Japão.

A visão cinematográfica de Maya Deren continua a influenciar realizadores de cinema um pouco por toda a parte (de vanguarda e outros) e o seu trabalho é estudado nas mais prestigiadas escolas de cinema do mundo. A edição em DVD dos seus filmes ampliou-lhe a audiência para um público menos especializado. Em 1985, o Instituto do Filme Americano (AFI) criou o Prémio Maya Deren, para dignificar a contribuição e o significado do trabalho cinematográfico independente. Nos Arquivos de Filmes de Antologia (AFA), em Nova Iorque, foi erigido o Teatro Maya Deren, de 66 lugares, para a exibição dos seus filmes e vídeos.

  • Meshes of the Afternoon (1943), 16mm, 14’, p&b, mudo (sonorizado em 1952 por Teiji Ito) - com Alexander Hammid
  • The Witches' Cradle (1943, não finalizado), 16mm, 13’ rushes, p&b, mudo - com Marcel Duchamp e Pajorita Matta
  • At Land (1944), 16mm, 15’, p&b, mudo - fotografia de Hella Heyman e Alexander Hammid
  • A Study in Choreography for Camera (1945), 16mm, 3’, p&b, mudo - com Talley Beatty
  • Ritual in Transfigured Time (1946), 16mm, 15’, p&b, mudo - coreografia de Frank Westbrook, fotografia de Hella Heyman - com Frank Westbrook, Rita Christiani, Anaïs Nin e Gore Vidal
  • The Private Life of a Cat (1947, co-realizado com Alexander Hammid), 16mm, 29’, p&b, mudo e sonoro
  • Haitian Film Footage (1947-55, não finalizado), 16mm, 4h rushes, p&b, mudo/sonoro (finalizado em 1981 por Teiji e Cherel Ito com o título Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti)
  • Meditation on Violence (1948), 16mm, 13’, p&b, sonoro - colagem musical de Maya Deren - com Chao-li Chi
  • Medusa (1949, não finalizado), 16mm, 10’ rushes, p&b, mudo - com Jean Erdman
  • The Very Eye of Night (1952-55), 16mm, 15’, p&b, sonoro - coreografia de Antony Tudor, música de Teiji Ito - com Metropolitan Opera Ballet School
  • Season of Strangers (1959, não finalizado), 16mm, 58’ rushes, p&b, mudo
  • An Anagram of Ideas on Art, Form and Film (1946), ed. Alicat Book Shop Press, N.Y.
  • Poetry and the Film (1953)
  • Divine Horsemen, the Living Gods of Haiti (1953), ed. Thames and Hudson, N.Y.
  • Notes, Essays, Letters (1965), in Film Culture n.º 39
  • Drums and Dance (1976), in Salmagundi n.º 33/34
  • From the Notebook of Maya Deren, 1947 (1980), in October vol. 14
  • Essential Deren: Collected Writings on Film (2005), ed. Kingstone, N.Y.