Campeonato Mundial de Atletismo de 2013
14°Campeonato Mundial de Atletismo Чемпионат мира по лёгкой атлетике 2013 Moscou 2013 | ||
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Dados | ||
Sede | Moscou, Rússia | |
Entidade responsável | IAAF e Federação Russa de Atletismo - Всероссийская федерация лёгкой атлетики (ВФЛА) | |
Primeira edição | Helsinque 1983 | |
Países participantes | 203 | |
Atletas | 1784 | |
Abertura oficial | Vladimir Putin | |
Estádio principal | Estádio Lujniki | |
Duração | 10 a 18 de agosto de 2013 | |
Site oficial | Moscow 2013 | |
Campeonato Mundial de Atletismo de 2013 foi o 14º campeonato mundial bienal do esporte realizado em Moscou, Rússia, entre 10 e 18 de agosto daquele ano, sob organização da Associação Internacional de Federações de Atletismo – IAAF e da Federação Russa de Atletismo (Всероссийская федерация лёгкой атлетики) – ВФЛА.[1] As competições ocorreram no Estádio Lujniki, antigo Estádio Central Lenin e Estádio Olímpico durante os Jogos Olímpicos de 1980, [2] com a participação de 1784 atletas de 203 países e a assistência de 268.548 espectadores, ultrapassando o número total do campeonato anterior, em Daegu 2011.[3]
A Rússia venceu o torneio realizado em casa, a primeira vez na história dos mundiais que o país anfitrião liderou o quadro de medalhas, com um total de sete medalhas de ouro, seguida pelos Estados Unidos e pela Jamaica, com seis cada, mas em 2016 perdeu uma delas por doping e acabou ficando em segundo lugar; os norte-americanos conquistaram o mesmo número mas foram os que mais conquistaram medalhas, com 25 no total. Este campeonato também viu o jamaicano Usain Bolt tornar-se o mais bem sucedido atleta em campeonatos mundiais, com um total de oito medalhas de ouro e duas de prata conquistadas em mundiais de atletismo. Antes do início da campetição, quatro velocistas foram banidos por falharem em exames anti-doping.[4]
Local
[editar | editar código-fonte]O local das competições, Estádio Lujniki, que faz parte do Complexo Olímpico Lujniki, foi originalmente construído em 1956 com o nome de Estádio Central Lenin e tornou-se o principal estádio esportivo da então União Soviética. Com uma capacidade total de 103.000 espectadoes à época, ele foi o principal palco dos Jogos Olímpicos de Moscou 1980, onde foram realizadas as cerimônias de abertura e encerramento daqueles Jogos, assim como partidas de futebol e competições de hipismo, além de ser o local das disputas de atletismo.[5] Passando a chamar-se Lujnick após o fim da URSS, depois de uma grande reforma em 1996 ele recebeu teto sobre toda a arquibancada, cadeiras e telões e sua capacidade passou a ser de 78.360 lugares.[6]
Prêmios
[editar | editar código-fonte]O campeonato paga prêmios em dinheiro e esta edição dividiu mais de sete milhões de dólares entre os atletas, incluindo um bônus de US$100.000 dólares para quem estabelecesse um novo recorde mundial em sua modalidade. Os principais prêmios foram:[7]
Controvérsias
[editar | editar código-fonte]Em junho daquele ano, a introdução de uma lei federal banindo "propaganda homossexual" no país afetou o campeonato. Organismos internacionais condenaram a promulgação da lei mesmo antes do evento, que ocorreu meses antes dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, também na Rússia, no ano seguinte. O político russo Vitaly Milonov, um cruzado contra a homossexualidade, declarou que as leis seriam aplicadas tanto para cidadãos russos quanto para atletas ou turistas na época do campeonato. Para as vozes que se levantaram pedindo o boicote ao Mundial e aos subsequentes Jogos de Inverno, Milonov declarou que as "competições esportivas são um lugar onde não deve haver nenhuma política".[8]
Atletas de diferentes países manifestaram preocupação com o fato e com os direitos dos homossexuais na Rússia, mas nenhum boicotou o evento. Mesmo assim, demontrações de apoio aos gays ocorreram durante o Mundial. Duas atletas suecas, Emma Green Tregaro do salto em altura e a velocista Moa Hjelmer, apareceram para suas qualificatórias com unhas pintadas na cor do arco-íris, fato notado e transmitido pela televisão. A IAAF notificou a Federação Sueca de Atletismo que o gesto era uma brecha nas regras de conduta dos atletas. Os suecos defenderam sua atleta mas ela encerrou a polêmica aparecendo para sua final com as unhas pintadas de vermelho como "símbolo do amor".[9] Mesmo assim, durante a final do salto em altura, nas tribunas do estádio o ministro da Cultura e Esporte da Finlândia, Paavo Arhinmäki, apareceu balançando uma bandeira com as cores do arco-íris em apoio a Tregaro.[10]
A russa Yelena Isinbayeva, campeã olímpica e mundial do salto com vara e de grande popularidade no país, causou polêmica ao dar declarações públicas criticando o ato das suecas. Ela disse que os protestos eram desrespeitosos com relação ao país anfitrião e suas leis e comentou, em inglês, que eles, russos, "se consideravam um povo normal e comum, onde meninos e meninas e homens e mulheres se relacionavam normalmente" e que se eles tinham suas leis todos deveriam respeitar. "Quando vamos a outros países tentamos seguir as regras do lugar".[11] Criticada em declarações de outros atletas e pela mídia ocidental, ela declarou que havia sido mal-entendida por causa de sua compreensão da língua inglesa: "O que eu quis dizer é que as pessoas devem respeitar as leis de outros países especialmente quando são convidados. Mas quero deixar claro que respeito as ideias de meus colegas atletas e quero declarar nos termos mais fortes que eu me oponho a qualquer discriminação contra homossexuais por causa de sua sexualidade, o que por sinal é contra a Carta Olímpica".[12]
Durante a competição houve a deserção de um atleta cubano. Orlando Ortega, corredor dos 110 m c/ barreiras, desertou de sua delegação nacional e não retornou a Cuba com a equipe ao fim do campeonato. Ortega havia sido punido com uma suspensão disciplinar de seis meses pela Federação Cubana de Atletismo no começo do ano por razões não-divulgadas. O presidente da Federação Russa de Atletismo, Valentin Balakhnichev, declarou que não tinha tido qualquer contato com o atleta e que de qualquer maneira a sua federação não tinha intenção de recrutá-lo para nada.[13] Falando na Europa após sua defecção, Ortega esclareceu que sua atitude não tinha relação com a política cubana mas com uma geral falta de atenção dos órgãos esportivos do país com a situação de seus atletas e de que tinha sido punido injustamente, o que tinha afetado seu treinamento para o campeonato.[14] Ele viria a competir nos Jogos Olímpicos da Rio 2016 pela Espanha, onde ficou com a medalha de prata.[15]
Doping
[editar | editar código-fonte]A IAAF coletou amostras de sangue de todos os atletas participantes, seguindo o mesmo procedimento usado em Daegu 2011, de acordo com seu programa de verificação do Passaporte Biológico dos Atletas. Este programa ajuda a Federação Internacional a detectar o uso potencial de substâncias proibidas, incluindo esteróides, crescimento de hormônio humano, EPO e doping de sangue. Além dos testes de sangue obrigatórios, a IAAF também fez cerca de 500 testes de urina nos atletas, dividdos em três grupos: todos os medalistas, portadores de anomalias nos passaportes biológicos e testes aleatórios. Continuando com os procedimentos iniciados no Mundial de Helsinque 2005, todos as amostras de urina foram estocadas para permitir futuros testes com tecnologia mais avançada. Todas as amostras foram processadas pelo laboratório anti-doping de Moscou, creditado junto à WADA.[16]
Nos meses anteriores ao campeonato, 40 atletas russos foram suspensos por doping. Os mais proeminentes deles foram a lançadora de disco Darya Pishchalnikova, prata em Londres 2012, e a lançadora de martelo Olga Kuzenkova, campeã olímpica em Atenas 2004. O presidente da FRA, Valentin Balakhnichev, apoiou as suspensões numa tentativa de demostrar o aumento da efetividade da RUSADA, a agência anti-doping russa, criada três anos antes.[17] Um mês antes do início das competições, o jornal britânico The Mail on Sunday, após longa investigação publicou que Grigory Rodchenkov, o chefe da agência anti-doping de Moscou, havia sido preso por acusações de distribuição de drogas, mas as acusações foram retiradas e ele liberado; a irmã dele foi condenada pela compra de drogas proibidas para fornecimento aos atletas.[18]
O ex-técnico russo Oleg Popov e o velocista dos 400 m Valentin Kruglyakov declararam que atletas eram obrigados a se doparem e pagavam fiscais para esconder seus resultados positivos;[19] em resposta, o técnico da equipe nacional de atletismo Valentin Maslakov, assinalou que Kruglyakov já havia testado positivo para doping e que Popov foi técnico de Lada Chernova, lançadora de dardo que havia sido pega duas vezes em testes de doping. Ele também assinalou que a RUSADA e seus laboratórios eram independentes das federações esportivas.[20]
Os testes de doping feitos na competição revelaram que diversos atletas usaram de drogas no campeonato. O quinto colocado no lançamento de dardo, Roman Avramenko, da Ucrânia, e a turcomena Yelena Ryabova, dos 200 m rasos, testaram positivo para o esteróide Turinabol; outra velocista dos 200 m, Yelyzaveta Bryzhina, também da Ucrânia, foi banida pelo uso do esteróide drostanolona. Outros casos foram o do velocista afegão Masoud Azizi (nandrolona), Ayman Kozhakhmetova e Ebrahim Rahimian da marcha atlética (EPO) e o maratonista guatemalteco Jeremias Saloj, também por EPO.[21]
Recordes
[editar | editar código-fonte]O evento viu a quebra de três recordes do campeonato, dois recordes continentais e 48 recordes nacionais, mas nenhum recorde mundial.[22] O ucraniano Bohdan Bondarenko quebrou um recorde no salto em altura com 20 anos de duração, que pertencia ao cubano Javier Sotomayor desde o Campeonato Mundial de Atletismo de 1993.
Quadro de medalhas
[editar | editar código-fonte]Posição | País | Ouro | Prata | Bronze | Total |
1 | Estados Unidos | 6 | 14 | 5 | 25 |
2 | Rússia | 6 | 3 | 6 | 15 |
3 | Jamaica | 6 | 2 | 1 | 9 |
4 | Quênia | 5 | 4 | 3 | 12 |
5 | Alemanha | 4 | 2 | 1 | 7 |
6 | Etiópia | 3 | 3 | 4 | 10 |
7 | Grã-Bretanha | 3 | 3 | 6 | |
8 | República Tcheca | 2 | 1 | 3 | |
Ucrânia | 2 | 1 | 3 | ||
10 | França | 1 | 2 | 1 | 4 |
11 | Polônia | 1 | 2 | 3 | |
12 | Colômbia | 1 | 1 | ||
Croácia | 1 | 1 | |||
Irlanda | 1 | 1 | |||
Nova Zelândia | 1 | 1 | |||
Suécia | 1 | 1 | |||
Trinidad e Tobago | 1 | 1 | |||
Uganda | 1 | 1 | |||
19 | Austrália | 2 | 1 | 3 | |
20 | Costa do Marfim | 2 | 2 | ||
21 | Canadá | 1 | 4 | 5 | |
22 | China | 1 | 3 | 4 | |
23 | Cuba | 1 | 2 | 3 | |
24 | Países Baixos | 1 | 1 | 1 | |
Nigéria | 1 | 1 | 1 | ||
26 | Botswana | 1 | 1 | ||
Finlândia | 1 | 1 | |||
Hungria | 1 | 1 | |||
Itália | 1 | 1 | |||
Catar | 1 | 1 | |||
31 | Espanha | 2 | 2 | ||
Sérvia | 2 | 2 | |||
33 | Djibuti | 1 | 1 | ||
República Dominicana | 1 | 1 | |||
Estônia | 1 | 1 | |||
Japão | 1 | 1 | |||
México | 1 | 1 | |||
África do Sul | 1 | 1 |
Medalhistas
[editar | editar código-fonte]Masculino
[editar | editar código-fonte]Feminino
[editar | editar código-fonte]Galeria
[editar | editar código-fonte]-
O pardal-mascote do Mundial.
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Medalhistas dos 110 m c/ barreiras.
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Mo Farah conquistou duas medalhas de ouro, nos 5000 m e 10000 metros.
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A marcha dos 20 km feminina.
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Edna Kiplagat comemora após vencer a maratona.
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Dafne Schippers, bronze no heptatlo.
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Ashton Eaton, campeão do decatlo.
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O desfile das bandeiras durante a cerimônia de abertura.
Referências
- ↑ «Moscow gets ready to welcome the IAAF World Championships» (em inglês). IAAF. 8 de agosto de 2013. Consultado em 12 de agosto de 2013
- ↑ «IAAF website brings you all the action from Moscow 2013» (em inglês). IAAF. 9 de agosto de 2013. Consultado em 12 de agosto de 2013
- ↑ «Moscow 2013 attendance figures». IAAF Moscow 2013. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Track Championships Add Layer of Scrutiny to Russia and Doping». The New York Times. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Games of the XXII Olympiad» (PDF). la84.org. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Luzhniki Stadium». The Stadium Guide. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Athletics World Championships Prize Money: How Much For A World Record?». World Sports Intelligence. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Russian MP rails against idea of sporting boycott over anti-gay laws - video». The Guardian. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Gay-rights gesture may violate rules». ESPN. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ McCormick, Joseph Patrick. «Russia: Finnish minister waves rainbow flag at Moscow athletics, despite anti-gay laws». Pink News. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Isinbayeva condemns Green-Tregaro's rainbow gesture». Reuters. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «I was misunderstood, back-tracking Isinbayeva says». Reuters. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «eports: Hurdler Orlando Ortega deserts Cuban team, whereabouts unknown». NBC Sports. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Cuban Hurdler Deserts Squad in Moscow». Havana Times. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Men's 110m Hurdles - Standings». Rio 2016. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «ANTI-DOPING Q&A EXPLAINS HOW THE CHEATS ARE CAUGHT». IAAF. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ Russia hosts athletics showpiece in doping shadow. Agence France-Presse (2013-08-05). Retrieved on 2013-08-21.
- ↑ «Russian Insider Says State-Run Doping Fueled Olympic Gold». The New York Times. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «SPECIAL INVESTIGATION: Drugs, bribery and the cover-up! Russian athletes». Mail online. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Russian Athletics Coach Slams Doping Claims». The Moscow Times. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «Seven athletes fail doping tests at world athletics championships». The Sydney Morning Herald. Consultado em 10 de setembro de 2016
- ↑ «RECORDS BROKEN AT MOSKVA (LUZHNIKI) 2013». IAAF. Consultado em 10 de setembro de 2016
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Sítio oficial» (em russo e inglês)
- «Campeonato Mundial de Atletismo na página da IAAF» (em inglês)