Stress nos docentes do ensino superior na pandemia Covid-19: avaliar para promover a saúde ocupacional

Abstract

O Stress Ocupacional (SO) entre os professores do Ensino Superior (ES) tornou-se uma preocupação crescente devido ao seu impacto no bem-estar, na satisfação profissional e na qualidade do ensino. Neste sentido, objetiva-se com a presente investigação i) estudar o SO em professores do ES português, adotando-se uma perspetiva holística da relação indivíduo-organização-contexto, de forma alinhada com o Modelo de Saúde Organizacional (MSO), e ii) facultar ferramentas que permitam promover a saúde e o bem-estar, em diferentes níveis organizacionais. A partir do referencial teórico enquadrou-se o Autocuidado como essencial para a manutenção do bem-estar face aos desafios profissionais, realizando-se um estudo preliminar para aferição para a população portuguesa do instrumento Self-Care Activities Screening Scale (SASS-14). Através de um estudo transversal com uma população alvo de 401 professores de ES, procurámos responder de forma integrada aos objetivos propostos. Os dados foram recolhidos com recurso aos seguintes instrumentos de avaliação: Questionário Sociodemográfico (QS), Escala Breve de Coping Resiliente (EBCR), Self-Care Activities Screening Scale (SASS-14), Questionário Psicossocial de Copenhaga (COPSOQ III, versão média), Fear and Anxiety of Covid-19 Scale (FAS-19), e Escala de Distress Psicológico de Kessler (K10). A análise resultou em sete estudos empíricos. Os resultados são múltiplos, destacando-se: i) O contexto profissional de professores tem características próprias, evidenciando-se níveis baixos de Coping resiliente, elevada exposição a Exigências laborais, em particular às exigências cognitivas. Face à pandemia Covid-19, o medo de contagiar alguém e o exagero das informações nas redes sociais surge como causas de medo mais frequentes. A satisfação com o nível de adaptação à situação pandémica, em termos de Estilo de vida foi elevada. Para 32.7% dos participantes os valores de Distress têm uma significância clínica, bem como Problemas de sono, Burnout, Stress e Sintomas depressivos, obteve-se cerca de 40% de respostas enquadram-se em risco de impacto na saúde. ii) O bem-estar dos professores de ES é influenciado pela interação de fatores individuais e organizacionais, e vice-versa, enquanto ambos são influenciados por fatores contextuais, nomeadamente vivências associadas à pandemia Covid-19. iii) O Conflito trabalho-família, e as Exigências Laborais são fatores de risco com efeito preditivo acentuado no bem-estar, enquanto o Coping Resiliente e o Significado do trabalho se destacam pelo seu efeito protetor. A satisfação com o Estilo de vida face à Covid-19 demarcou-se como preditor em todos os domínios do bem-estar. iv) Género e idade parecem ter mais influência nos fatores analisados, do que os parâmetros de anos de trabalho, modalidade e natureza do estabelecimento de ensino. v) É possível esquematizar a valoração de risco considerando um conjunto de prescrições mínimas de exposição a fatores de risco psicossocial, de acordo com os métodos da Segurança e Saúde no trabalho. vi) A cultura de envolvimento na melhoria contínua e qualidade, bem como o Autocuidado podem constituir-se como ferramentas de promoção de saúde organizacional de nível meso e micro. Por fim, na análise bibliométrica realizada acerca do uso da inovação tecnológica, associada a Machine Learning, na promoção da saúde e bem-estar profissional de forma contínua e sustentável, evidenciou-se o contributo para o enquadramento da Psicologia 4.0 na saúde ocupacional. Foram referidas implicações deste trabalho, nomeadamente fornecidos valiosos contributos da Psicologia para orientar o desenvolvimento de políticas e práticas organizacionais, no sentido de criar ambientes de trabalho mais saudáveis e resilientes nas instituições de ES. No entanto, somos de parecer que as implicações dos estudos apresentados possam ser adaptadas a outros contextos profissionais.

Occupational stress (OS) among higher education (HE) professors has become a growing concern due to its impact on well-being, job satisfaction and the quality of teaching. With this in the foreground, the aim of this research is to i) study OS in Portuguese HE professors, adopting a holistic perspective of the individual-organization-context relationship, in line with the Model of Organizational Health Model (MOH), and ii) provide tools to promote health and well-being at different organizational levels. Based on the theoretical framework, Self-Care was framed as essential for maintaining well-being in the face of professional challenges. A preliminary study was conducted to adapt the Self-Care Activities Screening Scale (SASS-14) for the Portuguese population. Through a cross-sectional study involving a target population of 401 HE teachers, we aimed to iteratively address the proposed objectives. Data were collected using the following assessment instruments: Sociodemographic Questionnaire, Brief Resilient Coping Scale (BRCS), Self-Care Activities Screening Scale (SASS-14), Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ III, average version), Fear and Anxiety of Covid-19 Scale (FAS-19), and Kessler Psychological Distress Scale (K10). The analysis resulted in seven empirical studies. The results are manifold, highlighting: i) The professional context of teachers has its own characteristics, with low levels of resilient coping, high exposure to job demands, particularly cognitive demands. Concerning the Covid-19 pandemic, fear of infecting someone and the exaggeration of information on social media emerge as the most frequent causes of fear. Satisfaction with the level of adaptation to the pandemic situation, in terms of lifestyle, was high. For 32.7% of participants, Distress values have clinical significance, as well as Sleep Problems, Burnout, Stress, and Depressive Symptoms; around 40% of responses fell into the risk category for health impact. ii) The well-being of Higher Education teachers is influenced by the interaction of individual and organizational factors, and vice versa, while both are influenced by contextual factors, namely experiences associated with the Covid-19 pandemic. iii) Work-family conflict and Job Demands are risk factors with a pronounced predictive effect on well-being, while Resilient Coping and Meaningfulness of work stand out for their protective effect. Satisfaction with lifestyle concerning Covid-19 emerged as a predictor in all well-being domains. iv) Gender and age appear to have more influence on the analyzed factors than parameters such as years of work, type, and nature of the educational establishment. v) It is possible to outline risk assessment considering a set of minimum prescriptions for exposure to psychosocial risk factors, according to Occupational Health and Safety methods. vi) The culture of involvement in continuous improvement and quality, as well as Self-Care, can serve as tools for promoting organizational health at the meso and micro levels. Finally, a bibliometric analysis was conducted on the use of technological innovation, associated with Machine Learning, in promoting continuous and sustainable professional health and well-being, highlighting the contribution to framing Psychology 4.0 in occupational health. Implications of this work were discussed, notably providing valuable contributions from Psychology to guide the development of policies and organizational practices aimed at creating healthier and more resilient work environments in Higher Education institutions. However, we believe that the implications of the studies presented could be adapted to other professional contexts.