Papers by Keu Apoema
Esta pesquisa, que tem como tema a movência dos contos de tradição oral e da prática a eles assoc... more Esta pesquisa, que tem como tema a movência dos contos de tradição oral e da prática a eles associada − a contação de histórias − das culturais orais e populares para o território escolar, da tradição à contemporaneidade, objetivando analisar como a escola acolhe e reconfigura o ato de contar, constituiu-se em duas etapas. Na primeira, a partir de teóricos da cultura, dos campos da linguagem e da educação, entrelaçados, ao mesmo tempo, com um acervo de entrevistas realizadas junto a contadores de histórias tradicionais de Burkina Faso (África) e do interior da Bahia, desenha-se um percurso histórico demarcado por duas territorialidades: as culturas fundadas na oralidade, com base em Walter Ong e Paul Zumthor, e as culturas populares, neste caso, em diálogo principalmente com Peter Burke. A partir dos referentes históricos, há, ainda, um esforço de demarcar os traços distintivos próprios da palavra oral, tomando aqui o conceito de gênero textual de Bakhtin bem como os estudos de Ingedore Koch sobre a fala. Na segunda parte, para mover-se em direção ao território escolar, ponto de chegada do processo de pesquisa, buscando responder à pergunta inicialmente colocada, optou-se por analisar discursos orais e escritos de professoras da educação básica acerca da contação de histórias e seus usos em sala de aula. No corpus constituído por sete pessoas, une-as o fato de terem tido a experiência de escuta de histórias em suas infâncias, no território das culturas populares, e de terem-na atualizado nas salas de aula em que atuam, em diálogo com referentes outros como a literatura infantil e os programas de formação de público-leitor. Cinco dentre elas, no ano de 2012, produziram monografias de conclusão de curso com temas atravessando a contação de histórias. Assim, a partir dos pressupostos de uma pesquisa de base qualitativa, trabalhou-se com duas instrumentalidades: entrevistas semiestruturadas com todos os sujeitos da pesquisa e, no caso de cinco deles, leitura e análise de seus respectivos trabalhos de conclusão de curso, tendo como base cinco categorias: relação com a tradição (experiências de escuta na infância, em suas comunidades); processos de formação recentes em contação de histórias; constituição de repertório; usos em salas de aula; e concepções e distinções entre o contar e o ler. Reconhecendo-se ser este um tema vasto com amplas necessidades de aprofundamento, tanto a análise histórica, realizada na primeira etapa, como o exame das entrevistas e textos das professoras contadoras de histórias revelam um objeto – o conto e a contação de histórias – não apenas de fruição estética, mas também político, ator de embates entre as chamadas culturas subalternas e as culturas hegemônicas, questões estas que se refletem na escola. A pesquisa revela que, sob o discurso dominante da necessidade de formação de público-leitor, as práticas narrativas orais são colocadas em um lugar de menor importância, ocupando, em alguns casos, apenas as atividades extracurriculares, quando não são colocadas a serviço da escrita, desconsiderando-se as marcas distintas da voz bem como suas diferentes possibilidades pedagógicas, para além de acesso ao livro e à literatura.
Nos anos 70, Hampatê Bá, tradicionalista africano, anunciou o silenciamento dos contadores de his... more Nos anos 70, Hampatê Bá, tradicionalista africano, anunciou o silenciamento dos contadores de histórias tradicionais, aqueles cujos textos circulam entre memória e enunciação. Que assim seja, isso indica a necessidade de uma cadeia de transmissibilidade para se garantir a conserva do que se pode chamar de tradição oral. O suposto silenciamento implica na ruptura de tal cadeia, a partir do desaparecimento da escuta, não apenas porque a contemporaneidade constrói novas comunicabilidades, mas também porque, em tal território, as tensões entre saberes hegemônicos e saberes populares – aos quais a tradição oral está intimamente ligada – tem colocado os últimos em posição de subalternidade. O trabalho proposto tem como objeto o Festival Yeleen de Narração Oral, anualmente realizado em Burkina Faso, onde contadores de histórias contemporâneos, em relação com a tradição discutem e contribuem para a guarda e transmissão de um dado acervo oral, bem como para a manutenção das línguas maternas, no contexto da contemporaneidade.
Thesis Chapters by Keu Apoema
Uploads
Papers by Keu Apoema
Thesis Chapters by Keu Apoema