DOI: https://doi.org/10.23925/2175-3520.2022i55p70-79
VIOLÊNCIA PSICÓLOGICA NO COTIDIANO ESCOLAR:
O QUE PENSAM OS ALUNOS?
Andreia Osti1; http://orcid.org/0000-0002-7605-2347
Tatiana Aparecida Barbosa2; http://orcid.org/0000-0001-9950-3342
Resumo
A pesquisa identificou e analisou a representação de 115 alunos do Ensino Fundamental I de duas escolas públicas
de Minas Gerais acerca da violência no contexto escolar. Especificamente buscou-se verificar a respeito da violência
psicológica na modalidade humilhação presente na relação educacional entre professores e alunos. A metodologia englobou
observação do cotidiano da sala de aula e uma entrevista semiestruturada. Os resultados indicam que a maioria dos alunos
apresenta uma representação da violência vinculada à verificação de agressões físicas, isto é, a representação da violência
está ancorada à violência física, tal como em atos de bater, chutar, machucar, brigar, empurrar, esfaquear. Devido a
estas representações, notou-se que a violência psicológica é pouco percebida pelos discentes, visto não haver atos físicos
visíveis e pela representação de que um professor não age com violência, tendo seus atos explicados e justificados como
parte do processo de ensino, o que inclui as atitudes agressivas e humilhantes, em alguns casos, vindas deste profissional.
Palavras-chave: Violência psicológica; Relações Interpessoais; Ensino.
Psychological violence in school education: What do students think?
Abstract
The research identified and analyzed the representation of 115 students from Elementary School I of two public schools
in Minas Gerais about violence in the school context. Specifically, we sought to verify the psychological violence in the
modality humiliation present in the educational relationship between teachers and students. The methodology included
observation of the classroom everyday and a semistructured interview. The results indicate that most of the students
present a representation of violence related to the verification of physical aggressions, that is, the representation of
violence is anchored to physical violence, such as in acts of beating, kicking, bruising, fighting, pushing, stabbing. Due
to these representations, it was noticed that the psychological violence is little perceived by the students, since there
are no physical acts visible and by the representation that a teacher does not act with violence, having their actions
explained and justified as part of the teaching process, the which includes the aggressive and humiliating attitudes, in
some cases, coming from this professional.
Keywords: Psychological violence; Interpersonal Relationships; Teaching.
La violencia psicológica en el cotidiano escolar: ¿qué piensan los estudiantes?
Resumen
La investigación identificó y analizó la representación de 115 alumnos de enseñanza básica de dos escuelas públicas de
Minas Gerais sobre la violencia en el contexto escolar. Específicamente, buscamos verificar la violencia psicológica en forma
de humillación presente en la relación educativa entre docentes y estudiantes. La metodología incluyó la observación de
la vida cotidiana en el aula y una entrevista semiestructurada. Los resultados indican que la mayoría de los estudiantes
presentan una representación de la violencia ligada a la verificación de la agresión física, o sea, la representación de
la violencia está anclada a la violencia física, como en los actos de golpear, patear, lastimar, pelear, empujar, apuñalar.
Debido a estas representaciones, se observó que la violencia psicológica es poco percibida por los estudiantes, ya que no
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Universidade Estadual Paulista – Rio Claro – São Paulo – Brasil; andreia.osti@unesp.br
Universidade Estadual Paulista – Rio Claro – São Paulo – Brasil; tatiana.ab78@gmail.com
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Violência psicólogica no cotidiano escolar: o que pensam os alunos?
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hay actos físicos visibles y por la representación de que un docente no actúa con violencia, teniendo sus actos explicados
y justificados como parte del proceso de enseñanza, lo que incluye actitudes agresivas y humillantes, en algunos casos,
por parte de este profesional.
Palabras clave: Violencia psicológica; Relaciones interpersonales; Enseñando.
Introdução
O conceito de violência está implicado na subjetividade do indivíduo perante o fenômeno, pois de
acordo com Abramovay (2006), a conceituação do que
é ou não considerado como violência, muitas vezes
apresenta embasamento não em fatos concretos, mas
em rumores que circulam a vivência social de determinado grupo, acarretando sentimento de insegurança
e medo de serem vítimas de determinadas situações.
A violência, fenômeno presente nas relações sociais
em todas as camadas e grupos da sociedade, de forma
ampla e complexa, estaria também presente no espaço
escolar? Seria o ambiente escolar, um espaço de convivência e de interação, um lugar também de produção e
reprodução de violência nas suas variadas modalidades?
No Brasil, o estudo da violência na área educacional tem sido alvo de pesquisas e debates (Abramovay,
2002; Derbarbieux, 2002; Kodato, 2004; Nascimento,
2011, Priotto, 2008) a partir da década de 1980, tendo
evoluído sua concepção com o passar do tempo. No
início, os estudos mostravam a violência na escola
como forma de indisciplina (Abramovay, 2003), porém
essa concepção foi sendo substituída por delinquência
juvenil e comportamento antissocial. Ultimamente,
a violência escolar é entendida como um problema
complexo, pois abarca situações de exclusão social,
indicando a necessidade de avaliações que ultrapassem
apenas as questões centradas nas transgressões praticadas por jovens (Abramovay, 2006), considerando-se as
inúmeras variáveis envolvidas neste fenômeno.
Pesquisas apontam (Kappel, 2014; Netto, 2012;
Paula, 2013) que a representação da violência está
geralmente associada à falta de diálogo e às agressões
verbais e físicas constantemente observadas na resolução de conflitos provocados pela disputa de poder
ou dificuldades interpessoais nas relações cotidianas
escolares, principalmente entre pares (aluno/aluno).
Porém, a violência da escola (Charlot, 2002) seria
percebida e analisada no contexto escolar, pelos estudantes? Perceberiam uma violência mais sutil, como
a violência psicológica, que, segundo o Ministério
da Saúde (Brasil, 2002) é verificada em situações
de ameaça, chantagem, exploração, cobrança de
comportamento e, no caso desta pesquisa, pelas modalidades humilhação e discriminação/rejeição na relação
professor-aluno? Estaria a violência simbólica, instituída especificamente na figura de poder do professor,
vinculada ao desencadeamento da violência psicológica
e, consequentemente, às agressões verbais e físicas que
alcançam proporção midiática e alarde social? Esses
questionamentos conduziram este trabalho a visar
identificar a representação dos estudantes e se estes
se sentem, ou não, vítimas de violência psicológica na
relação educacional com o professor.
Para responder a estes questionamentos,
Moscovici (2003), por meio da Teoria das Representações
Sociais, oferece possibilidades para pensarmos a realidade social com a qual nos deparamos, permitindo
reflexões sobre as elaborações e tendências que conduzem o viver social. A abordagem das Representações
Sociais, atrelada a uma análise profunda do contexto
da produção destas, da análise e percepção do contexto
e do levantamento da perspectiva histórica, possibilita
o entendimento do processo de constituições destas
representações através da análise de aspectos culturais,
ideológicos e interacionais de um grupo e como estas
interferem, mobilizam e determinam percepções, comportamentos e modos de vida de grupos e indivíduos
(Moscovici, 1961).
Identificar como os alunos compreendem a violência no contexto escolar, percebendo suas representações e a influência destas nas interações cotidianas,
permite conceber este fenômeno em suas múltiplas
facetas e a influência destas informações, vivências e
percepções nas relações interpessoais no espaço escolar.
Metodologia
Foram realizadas 24 observações em dois meses
durante o período letivo, em duas escolas da periferia
de uma cidade do Sul de Minas. Cada escola autorizou a
observação de 3 salas de aula nos quartos e quintos anos
do Ensino Fundamental I, previamente combinado
com a direção e docentes. Após esta primeira parte da
investigação concluída, foram realizadas as entrevistas
na própria escola, no período de aula, compondo um
total de 6 dias, totalizando 24 horas de entrevistas
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Andreia Osti, Tatiana Aparecida Barbosa
com 115alunos do 4º e 5º anos, de ambos os sexos. A
investigação, tendo por instrumento a observação da
sala de aula e a entrevista com alunos, configurou-se
numa pesquisa envolvendo seres humanos, sendo então
necessário submeter o projeto ao Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP – CONEP), tendo sido aprovado sob
número de protocolo 57846316.0.0000.5465.
Os dados recolhidos durante a observação
realizada na escola foram descritos e realizada uma
quantificação dos momentos em que se observaram
situações de violência psicológica. Os resultados das
entrevistas foram analisados qualitativamente por
meio da categorização das respostas, e posteriormente
realizada a análise de conteúdo, baseando-se na perspectiva de Bardin (1979) que configura um referencial
metodológico auxiliar no estudo das representações
sociais. Desta forma foram definidas as categorias que
indicam as representações relativas a cada uma das
questões apontadas, junto à análise de onde estariam
ancoradas tais representações.
Resultados e discussão
Os dados coletados durante a observação possibilitaram verificar as relações interpessoais em sala
de aula, especificamente das relações entre professor/
aluno, levantando dados acerca de situações que
poderiam ser caracterizadas como violência psicológica
em suas modalidades: humilhar e discriminar/rejeitar
na relação aluno/professor. Durante as observações
foram identificadas duas situações destas modalidades.
Humilhar: “A professora mostrou o caderno de um aluno
para a sala e disse: Olhem, isso é caderno! Em seguida pegou
o caderno de outro aluno e disse “Isso não é caderno, isto é
um lixo!” Rejeitar/discriminar: “A professora passou de
mesa em mesa, corrigindo e explicando as atividades para
os alunos. Pulou a mesa de um aluno que não consegue fazer
as atividades.”
As entrevistas indicam que o público alvo
possui a representação social da violência associada à
agressão física, citada por 73% dos participantes para
definir violência, através dos atos de bater, chutar,
machucar e ferir, brigar, empurrar, beliscar, matar, por
serem talvez, as formas de violência mais facilmente
identificadas no cotidiano. As respostas nos levam a
refletir sobre onde estão ancoradas, isto é, em quais
vivências, percepções e conceitos, estão embasadas a
representação do fenômeno da violência como agressão
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física – a face mais visível do fenômeno, aparecendo
como referência para que os participantes discursem
sobre o tema.
Nesta perspectiva, os dados revelam que a representação da violência pode estar ancorada na fase de
desenvolvimento em que os alunos se encontram. Os
alunos entrevistados possuem entre 9 a 10 anos de
idade. Esta faixa etária, segundo Piaget (1980), corresponde ao Estágio das Operações Concretas. Neste
estágio do desenvolvimento cognitivo, as crianças
alcançam um equilíbrio geral das operações “concretas”, isto é, dá-se início a diminuição do egocentrismo
intelectual e social devido ao desenvolvimento da
capacidade de estabelecer relações e coordenar pontos
de vista diferentes e de integrá-los de modo lógico e
coerente. A criança já inicia a interiorização das ações,
isto é, inicia-se a transição do pensamento concreto
baseado na ação física, para o desenvolvimento da
capacidade de realizar operações mentalmente e não
mais apenas através de ações físicas típicas da inteligência sensório-motor.
Embora a capacidade de pensamento e raciocínio coerente estejam em desenvolvimento, tanto
os esquemas conceituais como as ações executadas
mentalmente se referem, nesta fase ainda, aos objetos ou situações passíveis de serem manipuladas ou
imaginadas de forma concreta (Piaget,1980). Tais
características do desenvolvimento cognitivo nos levam
a analisar como estão ancoradas as representações de
73% dos participantes da pesquisa em que a violência
se associa a agressão física, verificada através dos atos de
bater, brigar, empurra, matar, beliscar, pois são modalidades passíveis de verificação imediata, tanto da violência em si, tanto da reação exposta do agressor e do
agredido, de fácil observação e impacto no ambiente.
E consequentemente, justifica também a não percepção da violência psicológica, citada apenas por 1.7%
dos alunos como uma forma de violência, devido ao
impacto mais subjetivo e menos concreto causado nas
relações interpessoais, com consequente naturalização
de comportamentos e atitudes no cotidiano escolar, que
mesmo violentas, passam despercebidas.
A violência verbal também foi identificada. A
representação da violência está ancorada para 21% dos
alunos na percepção da violência através da agressão
verbal, categoria descrita através de relatos de atos
de xingamento, apelidamento, gritos e discussão.
Ampliando-se a concepção do fenômeno da violência
no cotidiano escolar, as micro-violências, como as
Violência psicólogica no cotidiano escolar: o que pensam os alunos?
agressões verbais são cada vez mais comuns segundo
a comunidade escolar. Abramovay (2006) relata que
os alunos associam o grau de violência à ocorrência de
xingamentos, assim como uma correlação entre agressão verbal e física. As agressões verbais, na maioria
das vezes, são compreendidas como fatores menores,
mas causam impacto sobre o sentimento de violência
experimentado por alunos e podem ser uma das portas
de entrada da violência física.
Embora a violência verbal não seja aparentemente uma situação grave, Abramovay (2006) ressalta
o “potencial de desorganização da ordem coletiva e
das referências de sentido individuais, fomentando um
sentimento de insegurança, fragilizando instituições,
afetando a experiência e a confiança no outro” (p.78),
ela ainda constitui, nesta pesquisa, uma forma de
objetivação. Nos depoimentos e relatos sobre agressões
verbais colhidos na pesquisa da autora, constatou-se
que as formas de comunicação utilizadas pelos alunos
são geralmente classificadas como vulgares e agressivas
em sua linguagem cotidiana. “Essa linguagem é vista
por muitos como normal e corriqueira, “naturais aos
jovens de hoje”, mas essa prática precisa ser pensada à
luz do lugar e da função social da escola como um dos
espaços de construção de modos e formas de sociabilidade” (Abramovay, 2006, p.123)
Charlot (2002) afirma que a violência nas escolas
é um fenômeno perpassado por múltiplas fontes de
tensão – sociais, institucionais, relacionais e pedagógicas – que hoje agitam os estabelecimentos de ensino
e sobre cuja base se produz incidentes “violentos” no
sentido mais estrito do termo. Para o autor, este fato
é relevante, pois uma simples faísca (um conflito, às
vezes menor) provoca a explosão (o ato violento). Nesse
sentido, as incivilidades representam uma ameaça para
o sistema escolar. No entanto, como temos observado nessa pesquisa, não há um entendimento mais
abrangente sobre o que compõe a violência entre os
estudantes.
A representação da violência psicológica,
objetivo desta pesquisa, foi pouco referenciada para
conceituar o fenômeno. Apenas 1.7% dos alunos
citaram as modalidades humilhar e abandonar como
representação do fenômeno: “É agredir crianças, xingar
e humilhar também.”; “Abandono de pessoas.”
A não percepção da violência psicológica como
modalidade de violência no contexto escolar pode
estar ancorada tanto pela não reflexão e percepção
do fenômeno devido ao menor impacto causado nas
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relações em vista à agressão física e verbal, tanto pelas
as relações de poder embutidas no cotidiano, que
impulsionam a naturalização de comportamentos e
atitudes, que mesmo violentas, acabam por passar
despercebidas. Podemos inferir que como a violência
está objetivada numa relação física de agressão, a
questão psicológica deixa de fazer sentido, pois o grupo
aqui estudado pouco estabelece essa relação, ou seja, a
objetivação da violência implica em atos, algo concreto
e verificável e sua ancoragem diz respeito a algo verbal
como o xingamento.
Segundo Zizek (2009) a violência simbólica apresenta-se de forma mais sutil nas palavras, nomeações,
classificações e formas de utilização da linguagem,
não sendo, muitas vezes, reconhecida como violência,
mas produzindo efeitos de forma mais insidiosa. Se,
em muitas ocasiões, a escola é o lugar onde se podem
almejar transformações positivas no uso social da
linguagem, justamente por ser um lugar de transmissão e crítica da língua, em outras ocasiões, a própria
dinâmica escolar pode reforçar, em suas práticas disciplinares e administrativas, a proliferação desse tipo
de violência.
Os resultados de pesquisa aqui encontrados indicam a necessidade de se repensar, junto aos estudantes,
sobre o conceito de violência, para despertá-los para
além dos episódios graves e espetaculares que podem
ocorrer na escola, levando ao entendimento de outras
possibilidades de atos violentos, pelas palavras, por
exemplo, que muitas vezes passam despercebidas nas
relações cotidianas, porém interferem no cotidiano
escolar, podendo vir a produzir ou reproduzir uma tensão desencadeadora de outras violências, como a física.
A violência psicológica, muitas vezes tida como
padrão de educação, de comportamento familiar ou
institucional histórica e socialmente estabelecidos,
leva os pais, no caso da família, ou os responsáveis, nos
casos das instituições, a perpetuarem comportamentos,
atitudes e reações de ordem violenta, porém muitas
vezes invisíveis, mas não menos incapacitantes para o
desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes,
que podem vir a deixar sequelas emocionais por toda
a vida.
O indivíduo em desenvolvimento se constitui nas
e pelas relações que mantém com o outro durante seu
desenvolvimento. Nesta vertente, Nascimento (2011)
ressalta que a violência psicológica instaurada nas relações sociais interfere na constituição sócio emocional
da criança submetida às práticas de violência, pois
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Andreia Osti, Tatiana Aparecida Barbosa
algumas características que professores imprimem nas
suas relações com alunos podem se configurar como
práticas de violência psicológica, necessitando de reflexão, conceituação e percepção das consequências para
o desenvolvimento da criança, visando seu combate.
A educação, entendida também na função formadora através das relações pessoais, tem o papel de
também preparar-se para estas relações. Neste sentido,
faz-se emergente que a Educação reflita, pesquise e
discuta o fenômeno da violência no cotidiano escolar,
possibilitando reflexões críticas dos docentes acerca da
sua prática, possibilitando mudança de ações, manejo,
baseando-se nos princípios da função formadora da
escola enquanto instrumento de emancipação na formação cidadã autentica dos educandos.
Após as questões da entrevista, foi apresentada
aos estudantes uma situação que foi observada na
escola para que eles pudessem analisar e opinar a respeito. Foi solicitado ao estudante que ele analisasse
a situação: A professora mostrou o caderno de um
aluno para a sala e disse: “Olhem, isso é caderno”. Em
seguida pegou o caderno de outro aluno e disse: “isso
não é caderno, isto é um lixo”
Os dados da presente pesquisa revelam que
55% dos alunos participantes afirmaram que houve
violência no ato da professora. Várias explicações foram
dadas para justificar a afirmação de que a professora
havia agido com violência, ancorando a representação
da violência na modalidade verbal: “Sim, chamou o
caderno de lixo”; “Sim, xingou.” Os relatos dos alunos nos
revelam a percepção do fenômeno da violência através
da possibilidade real de observação, isto é, através da
violência verbal, denotados como “xingamentos”.
A violência e suas diversas modalidades podem
remeter a uma percepção ancorada a diferentes construtos: a violência como o não reconhecimento do
outro; a violência como negação da dignidade humana;
a violência como ausência de compaixão; a violência
como palavra emparedada pelo poder. Todas elas se
caracterizam pelo pouco espaço existente para o aparecimento do sujeito da argumentação, de negociação
ou da demanda, enclausurado que fica na exibição
da força física pelo seu oponente ou esmagado pela
arbitrariedade dos poderosos que se negam ao diálogo
(Zaluar & Leal, 2001, P. 147-148).
Perceberam características de uma violência mais
sutil 6% dos alunos. Mesmo não citando que se tratava
de violência psicológica, responderam modalidades que
caracterizam o fenômeno: “Sim, discriminação.”;“Sim,
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não pode comparar.”;“Sim, ofendendo o outro colega.”,“Sim,
porque humilha.”;“Sim, o aluno foi ofendido.”“Sim porque
está humilhando o aluno.”
A violência psicológica é exercida na escola de
forma normatizada, sem reflexões e críticas por parte
dos envolvidos por tratar-se de uma cultura escolar
impositiva, própria da classe dominante, reprodutora
das estruturas de poder socialmente vivenciadas.
Bourdieu e Passeron (1975) definem este fenômeno
como violência simbólica, relacionada ao exercício de
um poder invisível, ignorado, porém construtor da
realidade, estruturados e sistematizados para impor
e legitimar a dominação de uma classe sobre a outra
através da imposição de significados tidos como legítimos nas relações de força de uma classe sobre a outra.
Estas estruturas ideológicas só serão rompidas através
de estudos, reflexões e debates que visem o questionamento das ideologias sistematizadas e normalizadas na
sociedade, ampliando a possibilidade de crítica e assim,
possibilidades de ressignificação e criação de novas formas de ordem social, baseados na abertura discursiva,
dialógica, então humana e ética nas relações sociais.
A análise dos resultados permitiu verificar
também a não percepção da violência psicológica
na modalidade humilhação. Responderam que não
consideram a situação apresentada como um ato de
violência 38% dos alunos entrevistados. Foi notória
a variedade das respostas dadas. Mesmo havendo
negação da possibilidade de violência vinda da atitude
do professor, os relatos indicam a percepção de uma
atitude incorreta: “Não pode fazer isso, mas não é violência.”“Não, mas acredito que a professora havia feito algo
errado e agido com desrespeito.”
A negação da possibilidade de violência por parte
do professor pode estar ancorada na imaterialidade
dos fatos, isto é, na sutil característica da violência
psicológica, manifestada de forma indireta e subjetiva.
Neste viés, essa se torna simbólica, ou seja, segundo
Nascimento (2011), a criança legitima o que o outro
pensa ou sente sobre ela, podendo na relação com o
outro, principalmente no âmbito da escola com o professor, constituir-se emocional, psicológica e socialmenteatravés da percepção desta figura de autoridade como
incompetente, fracassada, aumentando o sentimento
de desvalorização de si.
Nos relatos a seguir expostos, os participantes
que não conceituam a situação como violenta, usam
outras modalidades, mais sutis, para caracterizar a
atitude da professora, como humilhação, preconceito,
Violência psicólogica no cotidiano escolar: o que pensam os alunos?
racismo, constrangimento: “Não, mas é humilhação
para o aluno, atitude errada da professora.” “Não, mas a
professora deixou ele constrangido e o aluno pode se trancar
no quarto.”
Tais respostas nos levam a indagar em que
percepções estão ancoradas às representações destes
alunos, que percebem e nomeiam humilhação e preconceito como atitudes incorretas, mas não violentas?
A representação da violência como agressão física
estaria tão enraizada que não possibilitaria nomear
situações mais sutis? Não possibilitaria perceber as
várias modalidades de violência embutidas nas relações
interpessoais de poder?
Segundo Ristum (2001), a violência psicológica
caracteriza-se por atitudes que prejudicam o desenvolvimento da autoestima, da competência social, da
capacidade para relacionamentos interpessoais positivos e saudáveis. Sendo assim, o autor considera que o
termo psicológica não qualifica a violência (ação violenta), mas o tipo de dano que ela produz no indivíduo.
Estes dados nos levam a necessidade de se
repensar as práticas educativas e as relações de poder
instauradas nas relações educacionais entre professor e
aluno. Zaluar e Leal (2001) consideram que o recurso
utilizado pela escola que incluem situações de castigo
e humilhação de crianças precisa ser repensado, pois
o aluno pode desestruturar-se afetiva e emocionalmente, ocasionando consequências negativas como
perda da autoestima, estrutura afetiva abalada, o que
pode ter como resultado a timidez, revolta ou vergonha. As autoras salientam que a violência psicológica
supostamente normatizada em algumas atividades
pedagógicas, como nos processos de avaliação e formas
de interação estabelecidas não se configurem no autoritarismo, que pode acabar em uma violência exercida
pelo “poder das palavras que negam, oprimem ou
destroem psicologicamente o outro” (p. 148).
A violência simbólica legítima, que inclui o
professor no exercício do poder simbólico, precisa ser
delimitada para que não se silencie aqueles que deveriam estar sendo formados para se tornarem sujeitos
críticos, autônomos e autores de sua própria história.
A escola, local de convívio, portanto de relações interpessoais, pode conter também relações interpessoais de
violência, tanto entre professor-aluno, por exemplo,
nas relações intergeracionais, tanto nas relações entre
pares, aluno/aluno, nas relações intrageracionais.
Como alvo desta pesquisa, ressaltamos as razões e os
impactos da violência professor-aluno, em especial a
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que ocorre entre as quatros paredes da sala de aula,
local que deveria ser por excelência, do encontro mestre
e estudante, num ambiente de interação que deveria
prezar pela relação dialógica, respeitosa, sem coerção.
Mas é neste local que pode ocorrer a construção de uma
cultura abusiva no relacionamento interpessoal, no
que diz respeito à responsabilidade do professor sobre
a criança e/ o adolescente. (Koehler, 2003)
A não percepção da violência por parte do professor verificada nos relatos dos alunos é compreendida
quando pesquisas como a de Pedrosa (2011) que relata
a dificuldade dos próprios professores em assumir que
uma atitude ou conduta disciplinar pode ser coercitiva,
baseada na força e no poder. Souza & Ristum (2005)
afirmam que a percepção dos professores acerca da
violência no ambiente escolar, baseia-se nas agressões
entre pares, e na maioria das vezes, estes não consideram suas ações disciplinadoras e repressivas, como
práticas de violência.
Os dados levam a refletir a urgente necessidade
da sociedade e principalmente da área da Educação em
ampliando o debate sobre o fenômeno da violência e
o estudo científico em todas suas modalidades e possibilidades, pois, segundo Arendt (2000) a violência
estrutural, resultado de uma ideologia presente na
sociedade que impõe leis e regras para o controle social,
pode refletir-se também no espaço escolar, quando ao
privilegiar alguns grupos em detrimento de outros,
determina desigualdades e promove a exclusão de
determinados grupos sociais. A sociedade, por ser
hierarquizada cultural, econômica e socialmente, determina exclusões e discriminações que se reproduzem no
interior das escolas, de modo que se pode interpretar
a violência aí presente também como resultado da
violência social (Arendt, 2000).
Abster a educação de debates e reflexões sobre o
tema, principalmente na área de formação de docentes,
resulta em espaços escolares mais violentos, pois como
o fenômeno é socialmente verificado nos jogos sociais,
o professor pode muitas vezes, por falta de reflexão e
conhecimento, ser produtor e propagador de violência,
sem que perceba, justificando seus atos à sua profissão,
seguindo uma ideologia social de regras e controle ao
estar num grupo social privilegiado (docentes) em
detrimento ao grupo de educandos, podendo promover
desigualdades e exclusão.
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Andreia Osti, Tatiana Aparecida Barbosa
Considerações finais
O objetivo desta pesquisa foi identificar as representações de alunos do ensino fundamental a respeito
da violência, especificamente sobre psicológica, porém
apenas 1.7% dos alunos entrevistados responderam
de forma a referenciar esta modalidade de violência,
citada pelos verbos “humilhar” e “abandonar”. Tal
resultado indica a invisibilidade de formas mais sutis
de violência, que acabam sendo ignoradas, ou de forma
mais agravante, acabam muitas vezes não percebidas
no cotidiano das relações interpessoais escolares. Os
reflexos desta situação podem ser camuflados por
outras situações que dificultam e entravam o processo
escolar, atualmente tão criticado e desmoralizado, em
alguns casos, pelos setores sociais, políticos, familiares
e pela própria comunidade escolar.
Os dados analisados permitiram, de forma reflexiva e crítica, constatar a escassez de percepções ou
definições dos estudantes sobre violência psicológica e
suas modalidades nas relações interpessoais escolares,
especificamente na relação aluno e professor. A violência psicológica, embutida nas relações interpessoais,
através das relações de poder no cotidiano escolar, apresenta-se de forma sutil por meio de formas destrutivas
e padrão repetitivo de interação por meio do uso da
linguagem verbal, com palavras, nomeações, apelidos e
classificações; através de formas gestuais e posturas que
indicam descrédito, desmerecimento, insignificância,
chegando-se ao ápice de ignorar, rejeitar, desprezar,
humilhar utilizadas no âmbito escolar por professores
ou outros agentes adultos na forma de se relacionar
irrefletidamente com os alunos nas relações interpessoais como forma de interação e de prática disciplinar
normatizada, porém despercebida por estar camuflada
nos objetivos do desenvolvimento da aprendizagem por
meio da disciplina, silêncio e submissão.
Os desafios levantados apontam dados e problemas que podem não ser a fonte, mas apenas uma
consequência da violência psicológica, uma violência
velada, mas não menos ameaçadora ao convívio escolar.
Muitas vezes este é o fenômeno disparador dos conflitos facilmente percebidos, seguidos de notoriedade e
comoção, como a violência física, citada por 73% dos
participantes desta pesquisa, seguida de 21% de relatos
sobre a violência verbal.
O fenômeno da violência psicológica, na
modalidade humilhação pouco foi referenciada pelos
participantes da pesquisa, porém, a não percepção
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e identificação desta não indica sua inexistência ou
diminui seus efeitos deletérios nas relações sociais, e no
caso deste estudo, nas relações interpessoais educacionais entre professor e aluno. A violência invisível que
abarca o laço social precisa ser reconhecida através da
possibilidade de conceituação do fenômeno, pois pode
ser ela a mola propulsora das violências verbal e física,
majoritariamente referenciadas neste estudo.
O caráter de invisibilidade da violência psicológica, embutida nas relações interpessoais através do
uso do poder e da autoridade do professor, de palavras
e atitudes mais sutis, classificações e omissões podem
ser à base da sensação de que o ambiente escolar está
muito violento, pois a violência manifestada propaga
a sensação de hostilidade, apreensão, cautela, onde os
indivíduos sempre expostos a possibilidade de ataque,
mesmo que inconscientemente, estão prontos para a
defesa, podendo esta ser um revide ao ataque com
outro ataque.
O aluno inserido num ambiente hostil e de difícil
convivência, que emana agressão em sua estruturação
institucional, física, e nas relações de poder instauradas
de forma violenta, tende a se ver acuado, extravasando
este sentimento na violência verbal e física, tão facilmente identificados e verificados no cotidiano escolar
como os grandes algozes, tratando o que é consequência como causa, impossibilitando assim estratégias de
combate realmente eficazes a violência na escola.
Quanto menos identificado e referenciado a
violência psicológica, mais esta tende a se difundir e
se sustentar nos jogos de relações sociais, políticas e
econômicas, demarcada pelo discurso que sustenta
os laços de dominação e exploração, isto é, a escola
acaba por ser instrumento impositivo e castrador da
autonomia e criticidade do aluno, levando-o a aceitar
regras e normas sem questionamento, postura certamente introjetada durante todo o percurso escolar e
que se refletirá na autoria emancipada de sua vida e no
exercício crítico da cidadania, dificultando sua superação, na verdade, sendo instrumento da manutenção
do status quo.
A criança e adolescente expostos rotineiramente
à violência psicológica na relação interpessoal com o
professor tem seu desenvolvimento biopsicossocial
prejudicados, podendo provocar efeitos deletérios na
formação de sua personalidade e na forma de encarar
a vida, com comprometimento do desenvolvimento
positivo de seu autoconceito e autoestima. Não menos
deletérios são os efeitos na vida escolar destes.
Violência psicólogica no cotidiano escolar: o que pensam os alunos?
As ações do professor impactam os alunos, a
percepção e vivência das relações escolares, gerando
sofrimento, falta de afeto, apoio e insegurança, afetando diretamente o desenvolvimento cognitivo e acadêmico. A criança legitima através do poder imposto
pelo adulto o que ele pensa ou sente sobre ela, e nesta
relação à criança pode passar a constituir-se como
incompetente, fracassada, aumentando o sentimento
de desvalorização de si, refletindo posteriormente na
sua competência social e na capacidade de estabelecer
relacionamentos positivos e saudáveis, nas suas atitudes
e emoções, podendo-se expressar de forma passiva ou
agressiva.
Perante toda gravidade exposta, cabe aos profissionais e estudiosos, compromissados com a promoção e garantia dos direitos da infância e juventude,
repensar a violência psicológica instaurada nas relações
educacionais para que não cause o esmagamento e o
silenciamento dos que deveriam estar sendo formados
para se tornarem sujeitos. Uma atitude favorável com
vistas à superação do fenômeno no ambiente escolar é
o diálogo. Através deste pode-se incitar reflexões que
visem percebê-lo, identificá-lo e, consequentemente,
combatê-lo a partir de outras formas de relacionamento e interação.
Dessa maneira pode-se pensar no combate à
violência na escola através de propostas de novas
formas de relacionar-se e agir pedagogicamente, em
busca de um ambiente mais saudável e democrático
no cotidiano escolar, considerando-se, inclusive, em
influenciar a escola na reformulação de seu Projeto
Político Pedagógico, para que passe a incluir espaços
para circulação do discurso e reflexões com vistas ao
combate a violência, contando com a participação dos
alunos, demais funcionários e pais no processo, atingindo, de forma emancipadora, toda a comunidade
escolar.
Diante dos dados obtidos e até aqui explanados,
sobre os quais se refletiu à luz de teorias e pesquisas,
fica-nos a indagação de que caminhos poderíamos
seguir, que instrumentos teríamos à disposição da
comunidade escolar e da sociedade em geral, para o
combate à violência no contexto escolar?
A psicologia escolar é um instrumento importante, promovendo espaços de abertura para o falar e
o ouvir, promovendo oportunidades para acirculação
do discurso, compõe um importante recurso para a
construção das instituições humanas, e dentre elas,
a escola, pois os discursos institucionais tendem a
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ser repetitivos, produzindo mesmice e reprodução de
falas, representações e comportamentos que se tornam cristalizados, na tentativa de preservar o igual e
garantir a permanência (Machado & Proença, 2004).
Apenas através de espaço para circulação discursiva no
espaço escolar, se instaurará reflexões que consigam
ressignificar as representações já estabelecidas, proporcionando espaços de criação de discursos mais flexíveis,
da exposição e assimilação de novas ideias e pontos
de vista, proporcionando relações interpessoais mais
abertas, francas, abrindo possibilidades de reflexão
que embasem atitudes, ações, projetos que viabilizem
o combate à violência na escola e ampare a proposta
humanizadora e emancipadora da educação.
Quando, no cotidiano escolar, há espaço a circulação de discursos, seus autores podem se implicar em
seu fazer de forma ativa e responsável por aquilo que
fazem ou dizem. “Mudam ativamente os discursos,
assim como são por eles mudadas, de modo permanente (Machado & Proença, 2004, p. 60). É através
de espaços para debates, reflexões e conhecimento e
reconhecimento dos desafios atuais que permeiam a
educação, que poderemos buscar alternativas para a
diminuição da violência no cotidiano escolar e a construção de uma educação humanizadora, emancipadora.
De acordo com Freire (1979, p. 34), “a educação, como
prática de liberdade, é um ato de conhecimento, uma
aproximação crítica da realidade”, o que envolve um
processo de conscientização. Tal conscientização só se
faz possível através do diálogo, da circulação do discurso como forma de resolução dos conflitos e embates
interpessoais no cotidiano escolar.
A presente pesquisa apresentou limitações,
dentre elas pesquisar apenas escolas municipais
de periferia, o que pode ter interferido no teor das
representações levantadas, visto a dura realidade
apresentada em ambas as escolas, tanto dos alunos
em situação de vulnerabilidade social, quanto dos
professores também vítimas de um precário sistema
de ensino. Mas também se destaca que, nesse contexto
específico, configura-se como implicação da pesquisa a
possibilidade de um trabalho de formação junto a esses
professores, como forma de mostrar e tornar consciente
a questão da violência psicológica por eles manifestada.
Outro ponto foi o público alvo da pesquisa, que
se limitou a crianças de faixa etária entre 9 a 11 anos. A
realização psicológica com todo público escolar, desde
a educação infantil até a educação superior, poderá
Psic. da Ed., São Paulo, 55, 2º sem. de 2022, pp. 70-79
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Andreia Osti, Tatiana Aparecida Barbosa
abranger outras representações sobre o fenômeno, além
de poder abranger também os docentes, totalmente
inseridos no contexto da pesquisa.
Faz-se pertinente o estudo e pesquisas de profissionais da educação que desnaturalizem a violência
psicológica nas relações educacionais entre professores e
alunos, visto a alta relevância para a atenção e cuidado
com a criança e adolescente em desenvolvimento, com
vistas a promoção da saúde biopsicossocial destes, assim
como o desenvolvimento cognitivo e da vida escolar
educacional destes, por meio da produção de pesquisa
embasadas teoricamente, tornando o conhecimento
científico mais difundido, podendo desmistificar ideias
e posições a nível comum, que tendem a naturalizar o
autoritarismo impregnado nas relações de poder e no
controle dos educandos no cotidiano escolar.
As representações levantadas nesta pesquisa
indicam possibilidades de futuros estudos, assim como
apontam a possibilidade de continuidade da pesquisa,
podendo-se estendê-la a outras faixas etárias, escolas estaduais ou particulares, assim como também,
dirigi-la a outro público-alvo, buscando-se levantar a
percepção dos docentes sobre o fenômeno da violência
psicológica, dentre outras.
A área da educação também pode beneficiar-se,
principalmente na formação dos profissionais em nível
de graduação, por meio da inserção, no currículo, de
debates sobre a violência e suas modalidades no cotidiano escolar, assim como em capacitações periódicas,
utilizando-se as implicações desta pesquisa como objeto
de estudos e reflexões, o que podem contribuir para
a percepção e identificação do fenômeno da violência
psicológica nas relações educacionais.
Dessa maneira pode-se pensar no combate à violência na escola através de propostas de novas formas de
relacionar-se e agir pedagogicamente, em busca de um
ambiente mais saudável e democrático no cotidiano escolar, considerando-se, inclusive, em influenciar a escola na
reformulação de seu Projeto Político Pedagógico, para
que passe a incluir espaços para circulação do discurso
e reflexões com vistas ao combate a violência, contando
com a participação dos alunos, demais funcionários e
pais no processo, atingindo, de forma emancipadora,
toda a comunidade escolar.
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