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Tese de Doutorado
Pesca, etnoictiologia e biologia de peixes no sul do Brasil
Daniela Marques Nunes
Porto Alegre, 09 de setembro de 2010
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Instituto de Biociências - Curso de Pós-Graduação em Ecologia
Av. Bento Gonçalves, 9500 - Prédio 43422 Sala 102 - Caixa Postal 15.007 CEP 91501-970 - Porto Alegre - RS
Fone: (051) 316.6771 Fax: (051) 316.6936 - http://www.ecologia.ufrgs.br/ppgeco - e-mail: cpg@ecologia.ufrgs. br
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Pesca, etnoictiologia e biologia de peixes no sul do Brasil
Daniela Marques Nunes
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de PósGraduação em Ecologia, do Instituto de Biociências da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como
parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor
em Ciências com ênfase em Ecologia.
Orientador: Prof. Dr. Renato A. M. Silvano
Co-orientadora: Profa. Dra. Sandra M. Hartz
Comissão Examinadora
Profa. Dra. Alpina Begossi – UNICAMP/SP
Profa. Dra. Clarice B. Fialho – UFRGS/RS
Prof. Dr. Fernando G. Becker – UFRGS/RS
Porto Alegre, 09 de setembro de 2010
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Instituto de Biociências - Curso de Pós-Graduação em Ecologia
Av. Bento Gonçalves, 9500 - Prédio 43422 Sala 102 - Caixa Postal 15.007 CEP 91501-970 - Porto Alegre - RS
Fone: (051) 316.6771 Fax: (051) 316.6936 - http://www.ecologia.ufrgs.br/ppgeco - e-mail: cpg@ecologia.ufrgs. br
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AGRADECIMENTOS
•
Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRGS, pela oportunidade da continuidade
da minha formação acadêmica, tão importante para o meu crescimento pessoal e profissional.
•
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pela concessão da
bolsa de estudos.
•
Aos pescadores da praia da Guarda do Embaú e praia da Pinheira, cujo consentimento na
participação das pesquisas foi primordial para a concretização deste estudo.
•
Aos meus orientadores Dr. Renato Azevedo Matias Silvano e Dra. Sandra Maria Hartz, pelo
aprendizado, confiança, incentivo, compreensão e apoio diante os maiores obstáculos.
•
A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRGS, por terem sido
responsáveis pela evolução e amadurecimento das habilidades necessárias à construção das
competências que me permitiram seguir sempre em frente no caminho da ciência.
•
Aos professores da banca do exame de qualificação, Dr. Nelson Ferreira Fontoura/PUCRS,
Dra. Clarice Bernhardt Fialho/UFRGS e Dr. Albano Schwarzbold/UFRGS, pelas sugestões e
questionamentos que me direcionaram para o caminho certo.
•
A aluna de graduação em Ciências Biológicas desta instituição Sofia Zutin Gasparotto, que
tornou possível o meu olhar sobre “dois lugares ao mesmo tempo”.
•
A secretária do PPG-ECO/UFRGS Silvana Barzotto, pela educação e serenidade com que
sempre me recebeu.
•
A todos que de uma forma ou “outra” foram responsáveis pelo meu crescimento, o meu muito
obrigado.
RESUMO
A ecologia humana analisa as relações entre populações humanas e os recursos naturais e pode
gerar informações úteis para o manejo das atividades de pesca em áreas costeiras. Este estudo foi
realizado nos anos de 2007 e 2008 em duas comunidades de pescadores do litoral sul do Brasil,
localizadas nas praias da Guarda do Embaú (GE) e Pinheira (PP), no estado de Santa Catarina. Os
principais objetivos deste estudo foram: analisar as estratégias de pesca e as interações entre diferentes
grupos humanos nas atividades da pesca artesanal de subsistência; identificar as decisões e estratégias
utilizadas pelos pescadores na pesca artesanal comercial e registrar o conhecimento ecológico local
(CEL) dos pescadores de duas comunidades sobre os peixes, comparando-o com o conhecimento
científico e comparando o CEL entre as comunidades. Na praia da GE foi registrado o número de
pescadores e obtidas as seguintes variáveis da pesca através de entrevistas realizadas com estes
pescadores: procedência, atividade econômica, petrechos e técnicas utilizadas, tempo gasto pescando e
pontos de pesca utilizados, além da composição e biomassa de peixes capturados. Na época de migração
de tainhas e paratis (Mugil platanus e M. curema), pescadores locais e ocasionais (de outras regiões)
intensificaram a atividade da pesca, registrando um maior rendimento pesqueiro. As técnicas de pesca
(espía e sarraio utilizadas com tarrafas e a vara de pesca) utilizadas pelos pescadores (n=163),
apresentaram diferenças quanto à produtividade e seletividade. A espía foi a técnica mais produtiva. O
sarraio e a espía foram técnicas mais seletivas, quando comparadas à vara de pesca. Foi evidenciada a
partilha de nicho entre os pescadores locais e ocasionais quanto ao uso do espaço de pesca e das
estratégias de captura utilizadas. Foram observados indícios de regras de uso do espaço de pesca: o
respeito dos pescadores ocasionais sobre o ponto de pesca utilizado apenas pelos pescadores locais, além
de um comportamento territorial dos pescadores locais que defenderam o ponto de pesca através de
sanções sociais (intimidação). Foram registrados os fatores sócio-ecológicos que favorecem planos de
co-manejo pesqueiro, como a presença da associação de pescadores dentre outros. A pesca na praia da
Pinheira foi analisada através do modelo de forrageio ótimo a partir de um “lugar central” (ponto de
saída das embarcações de pesca), que prevê que os pescadores procurarão maximizar os ganhos
(biomassa de peixe capturada) em pontos de pesca mais distantes intensificando o esforço de captura.
Foram registrados os seguintes dados dos desembarques pesqueiros (n=285): técnicas e áreas de pesca,
tempo de viagem até as áreas de pesca (custos), tempo de permanência nas áreas de pesca (esforço) e
espécies capturadas (benefícios). O comportamento dos pescadores não seguiu as premissas do modelo
de forrageio ótimo. Os pescadores das técnicas de pesca caceio e fundeio visitaram as áreas de pesca de
maior probabilidade de boas capturas, independente da distância do “lugar central”. Para encontrar esses
lugares os pescadores utilizaram técnicas de sondagem que indicaram as áreas de pesca de maior
produtividade. Também foram realizadas entrevistas com pescadores das praias da GE (n=28) e PP
(n=31), com mais de dez anos de experiência na atividade, com o objetivo de registrar o conhecimento
ecológico local (CEL) e compará-lo com a literatura científica e com estudos biológicos. Foi registrado
o CEL dos pescadores sobre a abundância, período de reprodução e itens alimentares ingeridos por 7
espécies de peixes na GE e 13 espécies na PP. Foram coletados peixes de cinco espécies junto aos
pescadores da PP para análises dos aspectos reprodutivos e alimentares. Os pescadores das duas
comunidades possuem um conhecimento detalhado sobre as espécies de peixes, que foi influenciado por
fatores como a utilidade e a abundância dos peixes e esteve de acordo com a literatura científica, na
maioria das vezes. Algumas informações obtidas pelo CEL não foram encontradas na literatura
científica e outras não condizentes com a literatura serviram para formular hipóteses para futuras
investigações. Foram registradas diferenças no CEL dos pescadores quanto à biologia das espécies de
mugilídeos e da anchova (Pomatomus saltatrix), quando comparadas as duas comunidades de pesca. O
reconhecimento das particularidades das diferentes comunidades de pescadores permite conduzir as
estratégias de manejo dos recursos de uma forma participativa e mais eficiente, através de práticas de
co-manejo pesqueiro.
PALAVRAS-CHAVE: Ecologia humana, etnoictiologia, manejo pesqueiro, nicho, peixes marinhos, pesca
artesanal, teoria do forrageio ótimo.
ABSTRACT
Human ecology examines the relationships between human populations and natural resources
and can generate useful information for management of fishing activities in coastal areas. This study
was conducted in the years 2007 and 2008 in two fishing communities of southern Brazilian coast,
located at Guarda do Embaú (GE) and Pinheira beaches (PP), state of Santa Catarina. The main
objectives of this study were: analyze the strategies of fisheries and interactions between different
groups in the activities of artisanal fisheries subsistence, identifying the decisions and strategies used
by fishermen on the fishing trade and register the local ecological knowledge (LEK) of fishers of two
communities over the fish, comparing it with scientific knowledge and comparing the LEK between
communities. On the beach GE was the number of registered fishers and the following variables of
fishing through interviews with fishers: origin, economic activity, fishing gear and techniques, time
spent fishing and fishing spots used in addition to the composition and biomass fishes. At the time of
migration of mullets (Mugil platanus and M. curema), local fishers and fishers occasional (other
regions) have intensified the activity of fishing, logging a higher yield fishery. The fishing techniques
(espia and sarraio used with cast nets and fishing pole) used by fishers (n = 163) differed in yield and
selectivity. The espia was the most productive technique. The sarraio and espia techniques were more
selective when compared to the fishing pole. There was evidence for niche sharing between local
fishers and occasional about the use of the area of fisheries and capture strategies used. Indication,
rules of use of space fishing: respect for the occasional fishers on the fishing spot only used by local
fishermen, and a territorial behavior of the local fishers who defended the fishing spot through social
sanctions (intimidation). Were recorded the socio-ecological factors that promote co-management
plans for fisheries, as the presence of the fishermen's association and others. Fishing on the beach
Pinheira was analyzed using the model of optimal foraging from a "central place" (point of exit of
fishing vessels), which provides that the fishers seek to maximize gains (biomass of fish caught) in
points more distant fishing intensifying the fishing effort. Were recorded the following data of fishing
landings (n = 285): techniques and fishing areas, travel time to the fishing areas (costs), time in the
fishing areas (effort) and species caught (benefits). The behavior of the fishers did not follow the
model assumptions of optimal foraging. The fishers of the fishing techniques caceio and fundeio,
visited the fishing areas with the highest probability of good catches, regardless of distance from the
"central place". To find these places the fishers used probing techniques indicated that the fishing areas
of higher productivity. Were also conducted interviews with fishers from the beaches of GE (n = 28)
and PP (n = 31), with over ten years experience in the activity, in order to register the local ecological
knowledge (LEK) and compare it with the scientific literature and other biological studies. Were
registered fishers LEK on the abundance, breeding period and food items eaten by 7 species of fish and
13 species at GE in the PP. Were collected five species of fish of the fishers at PP for analysis of the
reproductive aspects and feeding. Fishers from both communities have a detailed knowledge about the
species of fish, which was influenced by such factors as the usefulness and abundance of fish and was
in accordance with the scientific literature, most of the time. Some information obtained from LEK
was not found in the literature and others not consistent with the literature used to formulate
hypotheses for future investigations. Differences in the KEL were fishermen on the biology of the
species of mullets and bluefish (Pomatomus saltatrix), compared to the two fishing communities. The
recognition of the particularities of different fishing communities allows driving the strategies for
managing resources in a participatory manner and more efficiently, through practices of comanagement fisheries.
KEYWORDS: Human ecology, ethnoichthyology, fisheries management, niche, marine fish, fishing
artisanal, optimal foraging theory.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................................. 13
LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................................17
INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................................................................. 21
ARTIGO 1 - Estratégias de pesca, partilha de nicho e territorialidade entre pescadores
costeiros no sul do Brasil ..................................................................................................................... 25
RESUMO ...................................................................................................................................... 26
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 26
MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................................ 29
Área de estudo e contexto ecológico ......................................................................................... 29
Amostragem e análise estatística ............................................................................................... 30
RESULTADOS ............................................................................................................................... 34
Estratégias de captura e produtividade na pesca ........................................................................ 34
Ictiofauna e seletividade das estratégias de captura .................................................................. 35
Uso dos pontos de pesca e partilha de recursos ......................................................................... 36
DISCUSSÃO ................................................................................................................................. 37
Estratégias de captura e produtividade na pesca ....................................................................... 38
Ictiofauna e seletividade das estratégias de captura .................................................................. 39
Uso dos pontos de pesca e partilha de recursos ......................................................................... 40
Ecologia Humana e co-manejo da pesca ................................................................................... 42
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 44
TABELAS ..................................................................................................................................... 50
LEGENDAS DAS FIGURAS ............................................................................................................. 56
FIGURAS ......................................................................................................................................58
ARTIGO 2 – Estratégias de captura, decisões e forrageio ótimo na pesca artesanal na costa
sul do Brasil ........................................................................................................................................ 65
RESUMO ..................................................................................................................................... 66
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 67
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................... 69
Área de estudo ........................................................................................................................... 70
Métodos de amostragem ........................................................................................................... 71
Análise estatística ...................................................................................................................... 72
RESULTADOS .............................................................................................................................. 74
Produtividade e seletividade das técnicas de pesca ................................................................... 75
Técnicas e áreas de pesca ........................................................................................................... 76
Estratégias de forrageio dos pescadores e decisões quanto ao esforço de captura .................... 77
DISCUSSÃO ................................................................................................................................. 78
Produtividade e seletividade das técnicas de pesca ................................................................... 78
Espécies de peixes, técnicas e áreas de pesca ........................................................................... 79
Estratégias de forrageio dos pescadores, produtividade da pesca e decisões quanto
ao esforço de captura ................................................................................................................. 81
CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 85
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 87
TABELAS ..................................................................................................................................... 93
LEGENDAS DAS FIGURAS ............................................................................................................. 99
FIGURAS ................................................................................................................................... 101
ARTIGO 3 – Etnoictiologia e biologia de peixes costeiros no sul do Brasil ................................... 107
RESUMO ................................................................................................................................... 108
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 108
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................. 112
Área de estudo ......................................................................................................................... 112
Amostragem e procedimentos estatísticos .............................................................................. 113
Etnoictiologia .......................................................................................................................... 113
Biologia dos peixes ................................................................................................................. 117
RESULTADOS ............................................................................................................................ 119
Etnoictiologia .......................................................................................................................... 119
Utilidade, disponibilidade e abundância dos peixes................................................................ 120
Influências da utilidade e abundância dos peixes na aquisição do CEL dos pescadores ........ 121
Comparação do CEL dos pescadores com o conhecimento científico sobre os peixes .......... 122
Biologia dos peixes ................................................................................................................. 123
Período de atividade reprodutiva dos peixes ........................................................................... 123
Itens alimentares ingeridos pelos peixes ................................................................................. 124
Comparação entre os estudos da biologia das espécies e o CEL dos pescadores ................... 124
Comparação do CEL dos pescadores entre as duas comunidades .......................................... 125
DISCUSSÃO ............................................................................................................................... 125
Etnoictiologia .......................................................................................................................... 125
Utilidade, disponibilidade e abundância dos peixes ............................................................... 126
Influências da utilidade e abundância dos peixes na aquisição do CEL dos pescadores ........ 127
Comparação do CEL dos pescadores com o conhecimento científico sobre os peixes .......... 130
Biologia dos peixes e CEL dos pescadores ............................................................................. 132
Comparação do CEL dos pescadores entre as duas comunidades .......................................... 133
CONCLUSÕES ............................................................................................................................ 134
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 136
TABELAS ................................................................................................................................... 145
LEGENDAS DAS FIGURAS ........................................................................................................... 161
FIGURAS ................................................................................................................................... 162
CONCLUSÕES GERAIS .......................................................................................................................... 165
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................... 167
ANEXOS ............................................................................................................................................... 172
Questionário sócio-econômico ................................................................................................ 173
Ficha de desembarques pesqueiros ......................................................................................... 174
Questionário de etnoictiologia ................................................................................................ 175
LISTA DE FIGURAS
ARTIGO 1.
Figura 1. Mapa da América do Sul mostrando a localização do Brasil (A) e Praia da Guarda do
Embaú, estado de Santa Catarina (B) com os pontos de pesca: a) costão; b) banco de areia; c) rio; d)
ponto de observação do pesquisador; praia da Guarda do Embaú com pescadores nos pontos de pesca
(C).
Figura 2. Média e desvio padrão (n=10 dias amostrados por mês) do número de pescadores em
atividade por mês na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007.
Figura 3. Relação entre o número de lances de tarrafa e o tempo de pesca (horas) para a estratégia de
pesca sarraio na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007 (n=10
pescadores observados).
Figura 4. Média sazonal da produtividade, medida como a captura por unidade de esforço (CPUE), para
as três estratégias de pesca utilizadas pelos pescadores na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do
Brasil, durante o ano de 2007 (n=10 dias amostrados por mês).
Figura 5. Média sazonal do número de lances do petrecho para cada estratégia de pesca e para cada
ponto de pesca na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007 (n=10 dias
amostrados por mês). O número acima das barras corresponde ao número total de lances do petrecho
em cada estratégia de pesca.
13
Figura 6. Média do número de pescadores dos dois grupos culturais (locais e ocasionais) em dois
pontos de pesca na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o mês de maio de 2007
(n=10dias amostrados).
Figura 7. Esquema da partilha de nicho entre os pescadores locais e ocasionais na praia da Guarda do
Embaú, litoral sul do Brasil, durante o mês de maio de 2007. a=dimensões de nicho.
ARTIGO 2.
Figura 1. Mapa da América do sul com indicação da região sul do Brasil; (A) Praia da Pinheira e áreas
de pesca: ITI - Ilhas Três Irmãs, IPA – Ilha dos Papagaios, PP – praia da Pinheira, PC – Praia de Cima,
PR – Prainha, GE – Guarda do Embaú, GA – Gamboa, ICO – Ilha dos Corais, RT – Rota da tainha,
IMO – Ilhas Moleques do Sul; (B) Área de saída das embarcações de pesca.
Distribuição sazonal dos valores médios diários da produtividade pesqueira (CPUE) para
cada técnica de captura utilizada na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007
(n=10 dias/mês).
Figura 3. Freqüência sazonal das viagens de pesca para as áreas de pesca utilizadas pelas embarcações
das técnicas caceio e fundeio, na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007. (RT)
Rota da tainha, (IMO) Ilhas Moleques do Sul, (ICO) Ilha dos Corais, (GA) Gamboa, (ITI) Ilhas Três
Irmãs, (GE) Guarda do Embaú, (PR) Prainha, (PC) Praia de Cima, (IPA) Ilha dos Papagaios, (PP)
praia da Pinheira. km=distância da área de saída das embarcações até as áreas de pesca (estimado
através do Google Earth).
14
Figura 4. Análises de regressão linear simples entre a biomassa de peixes capturados (kg) e o tempo
de viagem (h) e entre o tempo de permanência na área de pesca (h) e o tempo de viagem (h), para a
técnica de pesca do caceio, utilizada para as capturas de Mugil platanus (tainha), Micropogonias
furnieri (corvina) e Pomatomus saltatrix (anchova) na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante
no ano de 2007. (n=99 viagens de pesca).
Figura 5. Análise de regressão entre a biomassa capturada (kg) e o tempo de viagem até as áreas de
pesca (h) para as capturas de Mugil platanus (tainha) com a técnica de pesca caceio na praia da
Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007. (n=52 viagens de pesca)
Figura 6. Análise de regressão entre a biomassa capturada (kg) e o tempo de permanência na área de
pesca (h), para a técnica de pesca do caceio utilizada para as capturas de Micropogonias furnieri
(corvina) e Pomatomus saltatrix (anchova), na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante no ano
de 2007. (n=47 viagens de pesca)
ARTIGO 3.
Figura 1. Mapa da América do sul com indicação da região sul do Brasil. Comunidades de pescadores
da praia da Guarda do Embaú e pesca de lazer com tarrafas (A). Comunidade de pescadores da praia
da Pinheira e pesca artesanal comercial (B).
Figura 2. Espécies de peixes capturadas na região da praia da Guarda do Embaú e praia da Pinheira,
litoral sul do Brasil, durante os anos de 2007 e 2008, selecionadas para os estudos dos aspectos
reprodutivos e alimentares.
15
Figura 3. Suficiência amostral nas análises dos itens alimentares ingeridos pelas espécies de peixes:
marimbau (Diplodus argentus), papa-terra (Menticirrhus americanus), corvina (Micropogonias
furnieri), xerelete (Caranx latus), lambra (Astroscopus sexspinosus) na praia da Pinheira, litoral sul do
Brasil, durante os anos de 2007 e 2008.
16
LISTA DE TABELAS
ARTIGO 1.
Tabela 1. Freqüência (%) de pescadores em atividade por categorias de lugar de origem e atividades
econômicas na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007.
Tabela 2. Biomassa total (kg) das espécies de peixes capturadas pelos pescadores da praia da Guarda
do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007 (n=40 dias de amostragem, 391 lances do
petrecho), mostrando os valores por mês e por estratégias de pesca (E=espia, S=sarraio, V=vara de
pesca).
Tabela 3. Valores dos índices de dominância e diversidade de Simpson e diversidade de ShannonWiener (H’) da composição de peixes capturados pelas estratégias de pesca para os períodos quente (Q)
e frio (F) na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007. (Q): fevereiro e
novembro; (F): maio e agosto.
Tabela 4. Comparação dos índices de diversidade de Shannon-Wiener (H’) entre os pares de
estratégias de pesca utilizadas na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de
2007.
Tabela 5. Comparação dos valores do índice de similaridade de Horn’s, baseado na biomassa de peixes
capturados, entre as estratégias de pesca e períodos quente e frio na praia da Guarda do Embaú, litoral
sul do Brasil, durante o ano de 2007. Espia e sarraio (tarrafa), vara de pesca (petrechos de linha e
anzol, ver texto).
ARTIGO 2.
17
Tabela 1. Tecnologias de pesca (tipo de embarcações, motor e petrechos), profundidade de exploração
e número de embarcações (N) para as técnicas utilizadas na captura dos peixes na praia da Pinheira,
litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007.
Tabela 2. Valores sazonais da biomassa total (kg) para cada espécie de peixe capturada e número total
de viagens de pesca para as técnicas de pesca de expressivo valor econômico (C=caceio, F=fundeio)
na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007.
Tabela 3. Média e valores sazonais dos índices de diversidade de Shannon-Wienner (H’) para as
técnicas de pesca (caceio e fundeio) utilizadas na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano
de 2007.
Tabela 4. Dados das viagens de pesca para as técnicas caceio e fundeio da pesca artesanal na praia da
Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007. ITI=Ilhas Três Irmãs, IPA=Ilha dos Papagaios,
PP=praia da Pinheira, PC=Praia de cima, PR=Prainha, GE=Guarda do Embaú, GA=Gamboa.
ARTIGO 3.
Tabela 1. Caracterização dos pescadores das comunidades da praia da Guarda do Embaú (GE) e praia
da Pinheira (PP), litoral sul do Brasil, que participaram dos estudos de etnoictiologia. N=número de
pescadores entrevistados.
Tabela 2. Número e porcentagem de pescadores entrevistados da praia da Guarda do Embaú, litoral
sul do Brasil, que informaram sobre a utilidade e abundância das espécies de peixes e valores da CPUE
por espécie. C=consumo, I=isca; CPUE=captura por unidade de esforço; N=número de pescadores
entrevistados.
18
Tabela 3. Número e porcentagem de pescadores entrevistados da praia da Pinheira, litoral sul do
Brasil, que informaram sobre a utilidade e abundância das espécies de peixes e valores da CPUE por
espécie. C=consumo, I=isca, V=venda; CPUE=captura por unidade de esforço; N=número de
pescadores entrevistados.
Tabela 4. Comparação do número de dúvidas dos pescadores sobre o período de atividade reprodutiva
(R) e os itens alimentares ingeridos (A) pelos peixes, nas comunidades da praia da Guarda do Embaú
(GE) e Praia da Pinheira (PP), litoral sul do Brasil. T=total de dúvidas (R + A). N=número total de
pescadores entrevistados por espécie.
Tabela 5. Períodos de atividade reprodutiva e dieta das espécies de peixes de acordo com o
conhecimento dos pescadores da praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, e com as
informações da literatura científica. Entre parênteses a porcentagem de pescadores que citou cada
informação. N=número de pescadores entrevistados; V=verão, O=outono, I=inverno, P=primavera.
Tabela 6. Períodos de atividade reprodutiva e dieta das espécies de peixes de acordo com o
conhecimento dos pescadores da praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, e com as informações da
literatura científica. Entre parênteses a porcentagem de pescadores que citou cada informação.
N=número de pescadores entrevistados; V=verão, O=outono, I=inverno, P=primavera.
Tabela 7. Períodos em que os peixes se encontravam em estágios de maturação avançada, maduro e
início de desova (período de reprodução), número total de indivíduos analisados quanto a reprodução e
variação do comprimento padrão (Cp) para as espécies de peixes estudadas na praia da Pinheira, litoral
sul do Brasil, durante os anos de 2007 e 2008. V (verão)=fevereiro; O (outono)=maio; I
19
(inverno)=agosto;
P
(primavera)=novembro.
N=número
total
de
indivíduos
analisados;
Cp=comprimento padrão (cm).
Tabela 8. Valores da freqüência de ocorrência e do índice de importância alimentar (IIA) para os itens
ingeridos pelas espécies de peixes: Diplodus argentus (marimbau), Menticirrhus americanus (papaterra), Micropogonias furnieri (corvina), Caranx latus (xerelete), Astroscopus sexspinosus (lambra) no
litoral sul do Brasil, durante os anos de 2007 e 2008. Itens alimentares considerados principais e
adicionais em negrito. fr=freqüência; IIA=índice de importância alimentar; M.O.=matéria orgânica;
n.i.=não identificado; Cp=comprimento padrão.
Tabela 9. Comparação entre o conhecimento ecológico local dos pescadores (CEL) da praia da
Pinheira e os resultados obtidos no estudo da biologia dos peixes (EBP). Entre parênteses a
porcentagem de respostas dos pescadores.
Tabela 10. Hipóteses sobre a biologia dos peixes baseadas nas informações dos pescadores das
comunidades da praia da Guarda do Embaú e praia da Pinheira, litoral sul do Brasil. %=porcentagem
de pescadores que citou cada informação.
20
INTRODUÇÃO GERAL
A compreensão das relações homem-ambiente, bem como a inclusão das populações humanas
que dependem dos recursos naturais nas políticas de gestão desses recursos, são de fundamental
importância em um momento em que o uso sustentável dos recursos naturais é medida imprescindível
para a conservação das espécies e a manutenção das atividades de exploração. Estudos no âmbito da
ecologia humana vêm sendo utilizados como ferramenta científica na compreensão da exploração dos
recursos por populações humanas, incluindo as atividades de pesca. As teorias ecológicas de nicho e
forrageio ótimo são utilizadas por pesquisadores que estudam a pesca. Essas teorias têm fornecido
informações quanto à partilha de recursos, o uso do espaço, a defesa do território e as estratégias
utilizadas na obtenção dos recursos por diferentes grupos humanos (Dyson-Hudson e Smith, 1978;
Berkes, 1984; Begossi, 1992; Castro e Begossi, 1995, 1996; Aswani, 1998; Begossi, et al., 2005;
Bertrand, et al., 2005, 2007; Marchal, et al., 2007).
A etnobiologia é uma linha de pesquisa da ecologia humana que se destina ao registro do
conhecimento das populações tradicionais e locais sobre os recursos que exploram (Begossi, 1993).
Etnoictiologia é a área da etnobiologia que se dedica a registrar o conhecimento dos pescadores locais
sobre os peixes. Em estudos de etnoictiologia, são obtidas informações através do conhecimento dos
pescadores sobre a distribuição espacial e temporal de populações de peixes, habitats, hábitos
alimentares, abundância, épocas de reprodução, migração e comportamento dos peixes, sendo que tais
informações dos pescadores na maioria das vezes estão de acordo com o conhecimento científico
(Morril, 1967; Marques, 1991; Johannes, 1994; Paz e Begossi, 1996; Costa-Neto e Marques, 2000;
Valbo-Jørgensen e Poulsen, 2000; Seixas e Begossi, 2001; Silvano e Begossi, 2002, 2005, 2010;
Mourão e Nordi, 2003; Gerhardinger, et al., 2006; Moura e Marques, 2007).
Quando são registradas de forma sistematizada, as informações provenientes do conhecimento
dos pescadores ajudam a dar credibilidade aos usuários dos recursos perante os gestores ambientais e a
preservar as diferenças culturais. Os estudos de etnoictiologia podem também adicionar novas
21
informações desconhecidas pela comunidade acadêmica, ou informações discordantes da literatura
científica que podem ser utilizadas para promover melhorias no diálogo entre pescadores e cientistas,
uma vez que servem como indicadores para a produção de estudos sobre itens específicos (Silva, 2000;
Bess e Rallapudi, 2007; Costa-Doria, et al., 2008; Silvano e Valbo-Jørgensen, 2008; Silvano e
Begossi, 2010).
Analisar as relações ecológicas no sistema homem-ambiente e o conhecimento local sobre as
espécies exploradas permite identificar comportamentos que podem estar ligados à conservação dos
recursos e devem ser considerados nos planos de gestão ambiental (Johannes, 1978; Acheson, 1975,
1987; Castro e Begossi, 1995; Begossi, 1995, 2004; Aswani, 1998; Gelcich, et al., 2008). Como uma
alternativa à gestão centralizada dos recursos, as estratégias de co-manejo são aquelas em que as regras
de uso dos recursos próprias das comunidades locais são legitimadas pelos órgãos de gerenciamento,
que dividem os poderes e as responsabilidades na implantação de medidas de ordenamento dos
recursos com os atores envolvidos nas atividades de exploração. (Pomeroy e Berkes, 1997; Johannes,
2002; Carlsson e Berkes, 2005; Pomeroy, et al., 2007; Granek, et al., 2008; Kalikoski, et al., 2009,
Seixas, et al., 2009).
Mediante as constantes transformações que ocorrem nos sistemas ecológicos, sociais e
econômicos, o co-manejo pode seguir uma abordagem adaptativa em que hipóteses alternativas sobre o
sistema a ser manejado são testadas, a fim de corrigir o próprio manejo e ajustar as políticas e práticas
de gerenciamento (Olsson, et al., 2004). Para seguir essa abordagem adaptativa no co-manejo dos
recursos, são necessários cada vez mais estudos que considerem os fatores sociais e econômicos, além
dos fatores biológicos, ampliando o “menu” de opções para escolher e examinar as conseqüências das
decisões tomadas (Castello, 2007). Na ciência voltada ao estudo da pesca, a estratégia de manejo
adaptativo vem sendo sugerida nos estudos direcionados a implantação de Áreas Marinhas de Proteção
(AMP) em que a principal preocupação é aliar a conservação da biodiversidade à manutenção das
22
atividades de exploração dos recursos (Hastings e Bostsford, 2003; Hilborn, et al., 2004; Sale, et al.,
2005; Castello, 2007; Moffitt, et al., 2009; Gerhardinger, et al., 2009).
Grande parte das regras vigentes de exploração dos recursos pesqueiros para a região sul do
Brasil é centralizada nas agências de ordenamento, com exceção dos Fóruns da pesca da Lagoa do
Peixe e Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, além da reserva extrativista marinha de Pirajubaé, em
Santa Catarina, que são exemplos de estratégias de co-manejo pesqueiro (Kalikoski, et al., 2009). Uma
das hipóteses levantadas por Kalikoski et al. (2009), para explicar as raras iniciativas de co-manejo na
região sul do Brasil é a de que essas comunidades de pescadores podem ser menos organizadas para
engajar em processos participativos, quando comparadas às outras regiões do país. Uma razão para
isso é que a história econômico-política local é importante e define muito da organização corrente. Por
exemplo, pescadores ribeirinhos da Amazônia brasileira possuem longa trajetória na participação em
acordos de pesca quando comparados aos pescadores da costa brasileira, especialmente das regiões
sudeste e sul do Brasil onde a possibilidade da participação dos usuários dos recursos nas políticas de
ordenamento é mais recente (Begossi, 1998). Por outro lado, os estudos que têm sido realizados nas
regiões sudeste e sul do Brasil, têm demonstrado que os pescadores dessas comunidades apresentam
uma série de características comportamentais na exploração dos recursos, que possibilitariam tais
estratégias de co-manejo (Castro e Begossi, 1995; Begossi, 1995, 2004; Begossi, et al., 2005; Peterson,
et al., 2008). Contudo cabe aos pesquisadores voltados ao estudo da pesca, produzir mais informações
sobre essas comunidades de pescadores, promovendo o fortalecimento das instituições locais e a
produção de ferramentas que auxiliem a implantação de políticas de co-manejo.
No intuito de ampliar as informações sobre a exploração dos recursos pelas comunidades de
pescadores da região sul do Brasil, este estudo foi realizado em duas comunidades de pescadores
localizadas na região costeira do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, no estado de Santa Catarina.
O principal objetivo desse estudo foi utilizar as teorias ecológicas para a análise das informações que
possam subsidiar planos futuros para a conservação da diversidade biológica e cultural dos sistemas
23
sócio-ecológicos, mantendo as atividades de exploração dos recursos. As informações produzidas
nesse estudo poderão também promover o aumento da credibilidade dos pescadores perante os órgãos
de gestão ambiental, para que possam participar de forma ativa nas políticas de gerenciamento da
pesca.
Seguindo o objetivo geral proposto acima, este estudo foi organizado em três artigos. O
primeiro artigo se refere ao estudo da partilha de recursos, utilizando a teoria de nicho, na comunidade
de pescadores da praia da Guarda do Embaú, onde a atividade da pesca é desenvolvida como um
complemento à subsistência das famílias e também como uma forma de manutenção da cultura local.
Nessa localidade os pescadores locais dividem a área de pesca, para a captura da tainha (Mugil
platanus), com pescadores provenientes de outras regiões. O segundo artigo é referente ao estudo do
comportamento dos pescadores na aquisição dos recursos, utilizando a teoria do forrageio ótimo como
uma ferramenta para compreender o comportamento dos pescadores da praia da Pinheira. Esses
pescadores desenvolvem a pesca artesanal com fins econômicos, a qual sustenta os mercados locais de
pesca apesar da expansão das atividades turísticas. O terceiro artigo analisa o conhecimento ecológico
local dos pescadores das duas comunidades (praias da Guarda do Embaú e Pinheira) sobre a biologia
alimentar e reprodutiva das espécies de peixes capturadas, comparando o conhecimento sobre cinco
espécies de peixes capturadas por ambas as comunidades, que representam setores pesqueiros
diferenciados (pesca de subsistência e comercial).
24
Estratégias de pesca, partilha de nicho e territorialidade entre pescadores costeiros
no sul do Brasil
D.M.NUNES, S.M.HARTZ e R.M.A.SILVANO
PPG-Depto. Ecologia, UFRGS, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil
e-mail: dan7_7@hotmail.com
25
Estratégias de pesca, partilha de nicho e territorialidade entre pescadores costeiros
no sul do Brasil
Resumo Foram analisadas as estratégias de pesca e a partilha de nicho entre pescadores artesanais da
comunidade da Guarda do Embaú no sul do Brasil. Os pescadores foram observados e entrevistados
no decorrer das atividades de pesca e as variáveis analisadas foram: número de pescadores, petrechos e
técnicas utilizadas, tempo gasto e pontos de pesca, composição e biomassa do pescado capturado.
Ocorreu um incremento no número de pescadores e no rendimento pesqueiro no mês de maio
(outono), época da migração da tainha (Mugil platanus), que foi capturada através de estratégias de
pesca com o uso de tarrafas. As varas de pesca foram usadas eventualmente para a captura de garoupas
e robalos principalmente em fevereiro (verão). Dentre as estratégias de pesca com o uso da tarrafa, a
espia foi a mais produtiva. Pescadores locais utilizaram a espia no costão e os pescadores ocasionais
(de fora da comunidade) utilizaram o sarraio no rio, partilhando os recursos na pesca da tainha através
da segregação do espaço e das técnicas de pesca. Tal partilha de nicho pode estar sendo mediada por
um comportamento territorial por parte dos pescadores locais, na forma de respeito e sanções sociais
(intimidação). O uso de estratégias de pesca com diferenças de produtividade e a partilha de espaço
(pontos de pesca) podem indicar formas incipientes de manejo local, que sugerem a redução na
pressão de pesca. A existência de uma instituição local (Associação de pescadores) e a ausência da
dependência do mercado de pesca sobre os peixes são exemplos dos fatores sócio-ecológicos que
podem favorecer futuras estratégias de co-manejo.
Palavras-chave: co-manejo pesqueiro, ecologia humana, peixes marinhos, pesca costeira, uso de
recursos.
Introdução
26
A interação entre grupos de pescadores potencialmente competidores nas atividades de pesca
pode diminuir as chances de captura para um determinado grupo de pescador e aumentar os conflitos
nessas atividades (Berkes 1984, Begossi 1995, Castro & Begossi 1996, Sunye 2006, Peterson et al.
2008, Rebouças 2008, Zeller et al. 2008). Além disso, a interação de grupos de usuários dos recursos
pode provocar o aumento na pressão sobre os recursos pesqueiros. Por outro lado, estudos revelam que
comunidades de pescadores utilizam variadas estratégias de pesca e regras locais, que incluem a
administração do espaço, o acesso aos recursos pesqueiros, variações sazonais nas estratégias de
pesca, a redução dos conflitos e o controle do esforço de pesca, reconhecidas por formas de manejo
local que podem levar à conservação dos recursos (Johannes 1978, 2002, Acheson 1975, 1987, Castro
& Begossi 1995, 1996, Begossi 1995, 1998, 2004, Silvano & Begossi 2001, Pomeroy et al. 2007).
Os conceitos gerais da ecologia são úteis para registrar as diferentes estratégias de pesca e a
interação entre diferentes grupos de usuários dos recursos. Em análises das atividades pesqueiras no
Canadá e no sudeste do Brasil, pesquisadores utilizaram a teoria de nicho para explicar as relações
existentes entre pescadores locais e esportivos (Berkes 1984, Castro & Begossi 1995, 1996),
considerando os diferentes grupos humanos como “espécies culturais”, conforme proposto por
Hardesty (1975).
Um dos problemas para a conservação dos recursos é que as regras de ordenamento da pesca,
na maioria das vezes, não consideram as diferenças nos aspectos sócio-econômicos e ecológicos de
cada localidade. Por isso, não é raro que essas normas estabelecidas pelas agências ambientais não
sejam aceitas pelos usuários dos recursos além de serem responsáveis pela geração de conflitos. No
Brasil e na Nova Zelândia os pescadores não estão de acordo com o ordenamento formulado pelas
agências de gestão quanto à administração do espaço de pesca e as restrições no acesso aos recursos
(Silva 2000, Bess & Rallapudi 2007, Costa-Doria et al. 2008). Cabe aos gestores dos recursos
reconhecerem as diferenças nas estratégias de pesca utilizadas pelos pescadores artesanais quando
27
formularem as políticas de ordenamento, evitando os conflitos com os usuários dos recursos e o
manejo pouco eficiente das atividades da pesca.
Estratégias de co-manejo se caracterizam pela divisão de poderes e responsabilidades entre
instituições governamentais, usuários de recursos, instituições de pesquisa e outros atores sociais que
afetam ou são afetados pelas atividades de exploração dos recursos (Pomeroy & Berkes 1997,
Carlsson & Berkes 2005). A atividade de pesca no litoral sul do Brasil é realizada por diferentes
grupos de pescadores que compartilham o espaço de pesca na captura dos peixes (Sunye 2006,
Haimovici et al. 2006, Peterson et al. 2008, Rebouças 2008), utilizando variadas estratégias de pesca
(Andriguetto 1999, Haimovici et al. 2006, Sunye 2006). As regiões sudeste e sul do Brasil são as que
apresentam o menor número de iniciativas de co-manejo, onde a maioria se encontra fora das
Unidades de Conservação (UCs) (Kalikoski et al. 2009, Seixas et al. 2009), o que justifica a
necessidade de registrar as diferentes estratégias da pesca artesanal nessas regiões do Brasil,
ampliando os conhecimentos científicos necessários a formulação de planos de co-manejo. Analisar as
particularidades das comunidades locais na exploração dos recursos também permite identificar os
fatores sócio-ecológicos que podem favorecer as estratégias de co-manejo (Kalikoski et al. 2009,
Seixas et al. 2009).
Nesse sentido, esse estudo priorizou utilizar uma abordagem ecológica para a compreensão das
estratégias de pesca e das relações entre diferentes grupos de pescadores na pesca artesanal, na região
litorânea de uma UC no sul do Brasil, respondendo as seguintes questões: Como ocorre a interação dos
grupos de pescadores na atividade da pesca artesanal, considerando as estratégias de pesca e a
existência de formas incipientes de manejo local? Quais os fatores sócio-ecológicos que favoreceriam
a implantação de estratégias de co-manejo pesqueiro na comunidade estudada? Para tal, este estudo
teve como objetivos: 1. Analisar as estratégias de pesca (petrechos e técnicas de pesca) e a partilha de
recursos entre os grupos de pescadores nas dimensões de nicho: petrechos utilizados, técnicas ou
estratégias de captura (formas de utilização do petrecho de pesca), espécies capturadas (tipo de
28
recurso) e pontos de pesca utilizados (hábitat), no período de maior atividade de pesca. 3. Identificar
os fatores sócio-ecológicos que podem favorecer arranjos de co-manejo pesqueiro.
Material e métodos
Área de estudo e contexto ecológico
Este estudo foi realizado na região costeira do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro no
estuário da praia Guarda do Embaú (27°54’ S, 48°35’ W) pertencente ao município de Palhoça, no
estado de Santa Catarina, sul do Brasil (Fig. 1). Esta região formada por numerosos estuários e
enseadas delimitadas por costões rochosos (Lago 1961, Diegues 1999), abriga um vilarejo de
pescadores (Guarda do Embaú) cuja economia é voltada para o turismo local. As atividades
relacionadas com o turismo, desde a construção civil até a prestação de serviços de hospedagem,
alimentação e entretenimento, são as principais fontes de renda das famílias locais (informação dos
pescadores em conversas informais). As atividades de pesca são um complemento à subsistência das
famílias há mais de trinta anos, quando ocorreu a expansão do turismo e o declínio da atividade da
pesca como principal atividade econômica da região. Alguns integrantes das principais famílias do
local são sócios na aquisição de um barco e de uma rede de cerco móvel, com os quais capturam os
peixes, que são divididos entre os pescadores dessa associação denominada: Associação dos
Pescadores da Guarda (APG). Esses peixes que também são capturados com o uso de outros métodos
de pesca analisados nesse estudo, são preferencialmente consumidos pelas famílias, porém podem ser
vendidos quando as capturas excedem o esperado.
Entre os meses de maio e julho, durante o outono e o inverno, cardumes do peixe tainha (Mugil
platanus Günther, família Mugillidae) provenientes do sul do Brasil, migram ao longo da costa para se
reproduzirem e para que as larvas e juvenis desse peixe encontrem os estuários do qual dependem para
completarem seu crescimento. Este evento migratório da tainha é reconhecido no Brasil, na costa do
México e na África (Vieira & Scalabrin 1991, Ibáñez & Gutiérrez Benitéz 2004, Longhurst & Pauly
29
2007). A busca sazonal pelas espécies de mugilídeos na praia Guarda do Embaú causa a migração de
pescadores ocasionais provenientes de outras localidades (pescadores de fora), os quais incrementam a
atividade pesqueira local juntamente com os pescadores locais, principalmente em períodos de maior
produtividade para a pesca. A tainha (Mugil platanus) foi considerada sobreexplotada pelo órgão
ambiental brasileiro IBAMA, sendo estabelecida para o sul do Brasil a proibição da exploração desta
espécie no período reprodutivo (maio a julho) e proibição da sua captura com tarrafas a menos de 300
metros dos costões rochosos. Essas iniciativas de manejo impostas pelo governo (“top-down”) podem
gerar conflitos e não serem aceitas pelos pescadores litorâneos do sul do Brasil, que fazem da pesca da
tainha um complemento à subsistência das famílias e uma prática tradicional.
Em observações pessoais foi possível perceber, ao longo de 15 anos, que os pescadores locais
impedem o livre acesso dos pescadores ocasionais a um ponto de pesca1 específico. Podem ocorrer
conflitos entre os grupos de pescadores quando os pescadores ocasionais, que não conhecem a regra de
uso do ponto de pesca, tentam ocupar o ponto defendido pelos pescadores locais, e são impedidos
através de sanções sociais como a intimidação (Ruddle 1989). Os pescadores ocasionais que visitam a
área de pesca com maior freqüência reconhecem os direitos de posse dos pescadores locais e
costumam respeitar essa regra de uso (informações obtidas dos pescadores em conversas informais).
1 Ponto de pesca é um local específico, uma micro área onde é realizada a pesca e pode se tornar um território de pesca
quando essa área for de uso restrito (Begossi 2004)
Amostragem e análise estatística
Anteriormente ao estudo foram coletados junto aos pescadores, exemplares das espécies de
peixes capturadas, sendo estes peixes fixados em solução de formalina (40%). Após 30 dias na
solução, os peixes foram lavados, conservados em álcool etílico (70%) e identificados (Figueiredo &
Menezes 1978, 1980, Menezes & Figueiredo 1980, 1985, Szpilman 1992, 2000, Carvalho-Filho 1999,
Figueiredo et al. 2002).
30
A atividade de pesca foi acompanhada através de observação direta nos meses de fevereiro,
maio, agosto e novembro de 2007, com um esforço amostral de 10 dias/mês, em toda a extensão do
costão rochoso e da faixa de areia, onde se localizavam os pontos de pesca (Fig. 1) e onde foram
realizadas entrevistas com os pescadores, que consentiram participar da pesquisa realizada através de
questionários padronizados.
Para caracterizar o perfil do pescador e da pesca local foram registradas as informações sobre
os aspectos sócio-econômicos dos pescadores (ocupação econômica e procedência) durante todos os
meses da pesquisa, juntamente com o acompanhamento das capturas dos peixes, quando foram
registradas as variáveis da pesca: número de pescadores em atividade, tipos de petrechos de pesca
utilizados, estratégias de captura (formas de utilização do petrecho de pesca), número de arremessos
do petrecho em cada estratégia de captura, tempo de dedicação à atividade em horas, peso em kg por
espécie de peixe capturada e os pontos de pesca utilizados. As tentativas de captura que não obtiveram
êxito, ou seja, com valor de biomassa igual a zero, também foram utilizadas nos testes estatísticos.
Os pescadores foram divididos em dois grupos, conforme seu local de procedência: pescadores
locais e pescadores ocasionais. Os pescadores ocasionais foram agrupados nesta categoria através das
considerações dos pescadores locais que reconheceram qualquer pescador não residente na área como
ocasional. Desta forma, os pescadores ocasionais foram desde aqueles provenientes de regiões
próximas da área de pesca, até aqueles provenientes de outros estados do Brasil, ou seja, qualquer
pescador não residente no local de estudo, mesmo aqueles provenientes da praia ao lado.
A fim de analisar a atividade pesqueira quanto a quantidade de pescadores, foi registrado, com
o auxílio de um binóculo, o número de pescadores nos horários de maior atividade, 10:00 h e 16:00 h,
realizando-se uma contagem em cada horário, em toda a área de pesca2. Desta forma foi obtida uma
média diária do número de pescadores em atividade para o cálculo da média mensal (n=10 dias). Os
valores de número de pescadores foram transformados em logaritmo natural por apresentarem
variâncias desiguais. Foram testadas as diferenças nas médias mensais de pescadores em atividade
31
através de ANOVA One-way (Gotelli & Ellison 2004) com posterior teste de comparação múltipla de
Newman-Keuls, para checar se ocorreu um período de maior atividade pesqueira.
Os petrechos utilizados e as estratégias de pesca foram denominados pelos pescadores durante
os registros das capturas. Através do teste qui-quadrado (χ2) (Gotelli & Ellison 2004), foi verificado o
petrecho utilizado com maior freqüência por cada grupo de pescador. Para a comparação entre as
estratégias de pesca foi verificado o esforço de captura, a produtividade pesqueira, a seletividade e
similaridade do pescado capturado e a localização na área de pesca onde cada estratégia foi utilizada.
Para analisar o esforço de captura das estratégias de pesca foram observados, para cada estratégia
adotada, 10 pescadores durante todo o período da amostragem e registrados o número de lances do
petrecho utilizado (variável dependente) e o tempo gasto na atividade (variável independente). A
influência do tempo gasto pescando sobre as variações no número de lances do petrecho foi verificada
através de regressão linear simples, para checar a existência de uma relação entre essas variáveis.
A produtividade pesqueira mensal de cada estratégia de pesca foi medida pela Captura por
Unidade de Esforço (CPUE), sendo previamente testada a relação entre a quantidade de peixe
capturado em kg (variável dependente) e o tempo de pesca em horas (variável independente) através
de regressão linear simples. A relação entre as variáveis (biomassa de peixes e tempo de pesca) foi
significativa e positiva (F1,390=29,8; p<0,001; r2=0,07; n=391) seguindo o pressuposto necessário para
o uso da CPUE como uma medida de produtividade pesqueira: que as alterações no esforço de captura
possam explicar as variações na quantidade de biomassa capturada. Os dados (CPUE) foram
transformados em logaritmo natural por apresentarem variâncias desiguais e as diferenças entre as
médias nos dois fatores (estratégias e meses) foram testadas através da ANOVA Two-way com
interação (Gotelli & Ellison 2004).
Para comparar a seletividade e a sobreposição das espécies de peixes entre as estratégias de
captura, foram calculados através dos valores de biomassa, os índices de dominância e diversidade de
Simpson, o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) (Margalef 1958) e de sobreposição de Horn
32
(0-1) (Horn 1966). O índice de Simpson foi utilizado para comparações com outros estudos e o índice
de (H’) foi utilizado para comparar as diferenças de seletividade entre as estratégias de pesca. Os
dados foram agrupados em dois períodos: período quente (primavera/novembro e verão/fevereiro) e
período frio (outono/maio e inverno/agosto) e foram testadas as diferenças entre os índices de
diversidade (H’) através do teste t, a fim de verificar possíveis diferenças de seletividade entre as
estratégias que utilizam petrechos diferentes.
Os pontos de pesca foram mapeados e denominados pelos pescadores a partir das entrevistas
realizadas (Fig.1): costão, banco de areia e a beira do rio. O banco de areia é um ponto de pesca
transitório, formado por aportes de sedimentos de origem marinha que se depositam na foz do rio e
formam um ponto específico para a pesca dentro da água. Esse ponto de pesca foi agrupado com o
ponto de pesca rio por fazerem parte do mesmo ambiente de estuário. A fim de verificar a existência
de um ponto de pesca específico para a utilização de cada estratégia, os dados de número de lances dos
petrechos foram transformados em logaritmo natural (por apresentarem variâncias desiguais) e então
testadas as diferenças entre as médias (n=10 dias) do número de lances do petrecho para cada
estratégia (fator 1) nos pontos de pesca (fator 2), através de ANOVA Two-way com interação. Nesta
análise os meses (blocos) foram utilizados no teste estatístico a fim de controlar o modelo.
Para verificar a segregação espacial entre as duas espécies culturais (pescadores locais e
ocasionais) foi analisado o uso do espaço por esses dois grupos de pescadores no mês de maior
atividade pesqueira. Desta forma, foram registrados os números de pescadores de cada grupo (local e
ocasional) nos pontos de pesca (rio e costão) no mês de maior atividade pesqueira, considerando que
os conflitos por espaço são dependentes da densidade. Os dados de número de pescadores foram
transformados em logaritmo natural e as diferenças no uso dos pontos de pesca (rio e costão, fator 1)
pelos grupos de pescadores (local e ocasional, fator 2) foram testadas utilizando ANOVA Two-way
com interação. Foi testada a posteriori a hipótese da existência de segregação espacial através de
diferenças no uso dos pontos de pesca pelos pescadores locais e ocasionais.
33
A análise da partilha de recursos entre os dois grupos de pescadores nas quatro dimensões de
nicho (petrechos de pesca, espécies capturadas, estratégias de capturas e pontos de pesca utilizados)
foi realizada somente no período de maior atividade pesqueira, assumindo a priori a sobreposição
temporal dos grupos de pescadores na atividade de pesca. Os resultados indicando a estratégia de
captura utilizada em cada ponto de pesca, aliado aos resultados da segregação espacial dos dois grupos
de pescadores (local e ocasional), permitiu identificar qual a estratégia utilizada por cada grupo de
pescador para as capturas da tainha no mês de maio.
2 Área de pesca é o espaço usado na pesca por diversos indivíduos e inclui uma variedade de pontos de pesca (Begossi 2004)
Resultados
Foi entrevistado um total de 163 pescadores (38 pescadores locais e 125 pescadores ocasionais,
provenientes de outras localidades) em atividade de pesca na praia da Guarda do Embaú, sul do Brasil.
Todos os pescadores entrevistados na área de estudo provêem seu sustento de outras atividades
profissionais que não a pesca local. Os profissionais que foram agrupados na categoria de pescador
profissional trabalhavam na pesca industrial e artesanal embarcada e exerciam suas funções em outras
localidades diferentes da área de estudo (Tabela 1).
Quanto às variáveis da pesca, foram registrados para todo o período os dados de 391 lances de
petrechos, com um total de 22 espécies de peixes capturados, distribuídos em 14 famílias, totalizando
700,3 kg de peixes (Tabela 2). Também foram capturados aproximadamente 960 kg de peixes
mugilídeos em uma investida com a rede de cerco móvel pelos pescadores da associação de pesca. A
atividade pesqueira no local de estudo apresentou diferenças sazonais quanto ao número de pescadores
(F3,36=39,1; p<0,01). O teste de comparação múltipla indicou o mês de maio como aquele que
apresentou a maior média de pescadores em atividade (30,5±9,9) (Fig. 2).
Estratégias de captura e produtividade na pesca
34
Os petrechos utilizados pelos pescadores foram: caniço, carretilha, molinete e tarrafa.
Pescadores locais utilizaram preferencialmente as tarrafas (n=34) para a captura dos peixes e também
o caniço (n=4). Pescadores ocasionais utilizaram as tarrafas (n=99) para a captura dos peixes, bem
como carretilhas (n=2), molinetes (n=17) e caniços (n=7). Comparando os petrechos utilizados por
cada grupo de pescador, pescadores locais e ocasionais utilizaram preferencialmente a tarrafa para
pescar (χ2yates 1;0,05=22,1; p<0,001) e (χ23;0,05=199,6; p<0,001), respectivamente.
As estratégias de captura com tarrafas foram denominadas pelos pescadores como espia e
sarraio. A espia consiste na observação do peixe na água seguida do arremesso da tarrafa. O sarraio
consiste de arremessos de tarrafa aleatórios e consecutivos. A vara de pesca foi o termo escolhido para
agrupar os dados dos petrechos caniço, molinete e carretilha porque não continham uma quantidade
suficiente de dados para análises estatísticas isoladas e representam a mesma estratégia geral de pesca
(captura de peixes com anzol e linha). Desta forma as análises foram realizadas em três estratégias,
duas com tarrafa e uma com a vara de pesca. Nas análises do esforço de captura, o “sarraio” foi a
estratégia que apresentou a relação que melhor explicou a influência do tempo no número de vezes
que o petrecho foi lançado (t9;0,05=6,3 p<0,01) (Fig. 3), registrando a média de 29,7 lances por hora
(dp=9,5; n=10 pescadores/estratégia). Na estratégia “espia” e na vara de pesca, as relações entre o
tempo de pesca e o número de lances do petrecho não foram significativas (NS) (r2=0,3; t9;0,05=2,0;
p=NS e r2=0,03; t9;0,05=0,5; p=NS, respectivamente).
Foram encontradas diferenças na produtividade pesqueira (kg/hora) entre os meses (F3,108=8,9;
p<0,01) e entre as estratégias de pesca (F2,108=18,1; p<0,01): maio foi o mês de maior produtividade
pesqueira e o método espia realizado com tarrafas foi o mais produtivo na pesca (Fig. 4). A interação
entre os fatores não foi significativa (p>0,3). No mês de novembro foi registrado um total de três
lances do petrecho vara de pesca sem a captura de peixes.
Ictiofauna e seletividade das estratégias de captura
35
Na estratégia espia, foi verificada a captura de mugilídeos durante todo o período amostral,
enquanto que no sarraio a biomassa mais representativa destes peixes foi no mês de maio. Nos meses
de primavera e verão (novembro e fevereiro) os mugilídeos capturados foram os de menor biomassa
como as tainhas de pequeno porte (Mugil platanus) e paratis (Mugil curema) e nos meses do outono e
inverno (maio e agosto), o mugilídeo capturado foi a tainha (Mugil platanus), peixe que apresentou um
maior porte quando comparado ao parati (observação pessoal). Foi verificada a presença de outras
espécies de peixes associadas às capturas de mugilídeos com tarrafas, como o escrivão (Eucinostomus
argenteus) e a guaivira (Oligoplites saliens) (Tabela 2), por exemplo, além daquelas espécies
capturadas pelos pescadores que utilizaram as varas de pesca, técnica pouco expressiva na região
estudada (Fig. 4).
Os maiores valores do índice de dominância da ictiofauna capturada foram observados para as
estratégias espia e sarraio e no período frio (outono/inverno); enquanto que os maiores valores dos
índices de diversidade foram observados para a estratégia vara de pesca no período quente
(primavera/verão) (Tabela 3). Nas análises das diferenças entre as médias dos índices de diversidade
(H’) da ictiofauna capturada pelas três estratégias de pesca, o sarraio não apresentou diferenças na
comparação com a estratégia espia, no entanto as médias do índice de Shannon-Wiener das estratégias
espia e sarraio foram menores do que os valores observados para a estratégia vara de pesca (Tabela 4).
Estes resultados permitiram classificar as estratégias espia e sarraio como técnicas de pesca mais
especialistas, enquanto que a vara de pesca foi a mais generalista. A similaridade entre as estratégias
de pesca quanto às capturas dos peixes, expressa pelo índice de sobreposição de Horn, foi maior entre
a espia e o sarraio para os dois períodos analisados. A estratégia vara de pesca não apresentou
similaridade quando comparados os períodos quente e frio, bem como quando comparada às outras
estratégias em qualquer período do ano (Tabela 5).
Uso dos pontos de pesca e partilha de recursos
36
Quanto às análises da escolha de um ponto de pesca específico para a utilização de determinada
estratégia, foi confirmada a interação entre o uso das estratégias nos diferentes pontos de pesca
(F2,231=39,3; p<0,001). Analisando todos os meses do ano de 2007, a estratégia sarraio foi mais
utilizada no rio enquanto que a espia foi utilizada nos dois pontos de pesca. No mês de maior atividade
pesqueira e maior produtividade na pesca (maio), a estratégia mais produtiva (espia) foi utilizada no
costão enquanto que a estratégia sarraio foi utilizada no ponto de pesca rio. O costão foi o ponto
preferencial para os pescadores (locais ou ocasionais) que utilizaram a vara de pesca, especialmente
em fevereiro e agosto (Fig. 1 e Fig. 5).
Quando analisado o número de pescadores locais e ocasionais nos diferentes pontos de pesca
em dez dias de amostragem no mês de maio, foi comprovada a interação entre os dois fatores (grupo
de pescador e ponto de pesca) (F1,40=125,7; p<0,001) (Fig.6). A hipótese da existência de segregação
espacial foi confirmada: pescadores locais e pescadores ocasionais utilizaram pontos de pesca
diferentes durante o período de maior atividade pesqueira (maio), (F4,40 =200,4; p<0,001).
Os resultados referentes à partilha de recursos entre os pescadores locais e ocasionais no mês
de maio indicaram que esses dois grupos de pescadores tiveram seus nichos sobrepostos quando
comparados o recurso (tainha) e o petrecho de pesca (tarrafa). Nesse período de maior disponibilidade
de peixes (maio), os pescadores locais utilizaram a estratégia de pesca mais produtiva (espia) no ponto
de pesca costão, enquanto que os pescadores ocasionais utilizaram a estratégia menos produtiva
(sarraio) no rio (Figs. 5 e 6). Portanto, foi observada segregação espacial (pontos de pesca) e nas
estratégias de pesca entre os pescadores locais e ocasionais. Os maiores valores de produtividade na
pesca foram referentes às capturas da espia, técnica de pesca utilizada pelos pescadores locais no mês
de maio (Figs. 5, 6).
Discussão
37
A pesca na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, é uma atividade de complemento à
subsistência das famílias e de manutenção da cultura regional. O incremento de pescadores (locais e
ocasionais) na atividade pesqueira no mês de maio foi influenciado pelas mudanças sazonais na
disponibilidade da tainha, que passa pela região em rota migratória. O aumento da pressão da pesca
nesse período também ocorre na pesca da tainha em outras regiões litorâneas do sul do Brasil, onde a
captura desse peixe é atividade tradicional (Medeiros 2001, Peterson et al. 2008).
Considerando que um acréscimo de indivíduos nas atividades de exploração dos recursos pode
originar conflitos quanto ao espaço utilizado e recursos explorados (Gotelli 2001), a pesca da tainha na
praia da Guarda do Embaú no sul do Brasil se apresentou como uma atividade de extração de recursos
com potencial competitivo.
Estratégias de captura e produtividade na pesca
Os resultados indicaram que pescadores dos dois grupos (locais e ocasionais) utilizaram
preferencialmente as tarrafas para as capturas dos peixes, sugerindo a sobreposição de nicho quanto ao
petrecho de pesca utilizado. As tarrafas também são petrechos de pesca utilizados para as capturas de
peixes pelos pescadores da Ilha de Guam no Pacífico (Hensley & Sherwood 1993) e por outra
comunidade de pescadores da região costeira do sul do Brasil, que utilizam a tarrafa para a captura de
peixes mugilídeos (Peterson et al. 2008).
Na avaliação do esforço de captura das técnicas utilizadas, qualquer um dos pescadores de
ambos os grupos (local ou ocasional) que escolheu a estratégia sarraio para capturar os peixes lançou a
tarrafa um maior número de vezes por hora, ao contrário dos pescadores que escolheram as outras
estratégias (espía e vara de pesca) em que a quantidade de vezes que o petrecho foi lançado não sofreu
influências do tempo de pesca. Na “espia”, a variação na disponibilidade do recurso (mugilídeos), bem
como a experiência do pescador em avistar o peixe, podem ter exercido uma maior influência no
número de vezes em que a tarrafa foi lançada do que o tempo total de pesca. No esforço de captura da
38
vara de pesca, diversos podem ter sido os motivos para o número de lances não dependerem do tempo
total de pesca, dentre eles os danos nas linhas que podem prender em rochas dentro da água, levando o
pescador a realizar sua reposição, assim como pequenas pausas para descanso entre os arremessos da
linha uma vez que é proibido pelo órgão ambiental brasileiro o uso de suportes fixos na rocha para o
apoio das varas de pesca (observação em campo).
As análises da produtividade pesqueira (CPUE) revelaram que os pescadores (locais ou
ocasionais) que escolheram a estratégia espia capturaram uma maior biomassa durante todo o período,
inclusive nos meses de menor disponibilidade de recursos (fevereiro, agosto e novembro). Esta técnica
foi a mais produtiva, apresentando uma maior eficiência nas capturas em função dos pescadores
lançarem a tarrafa sobre os peixes maiores, pois foram mais fáceis de serem visualizados. O sarraio,
estratégia de pesca que apresentou o maior esforço de captura quando analisada a relação entre o
número de lances da tarrafa pelo tempo gasto na atividade, foi menos produtiva que a técnica espia,
sugerindo uma relação custo-benefício menor na exploração dos recursos por esta técnica. O outono
(maio), período de maior produtividade na pesca, evidenciou a disponibilidade de recursos no
ambiente relacionada com a passagem dos mugilídeos pela região, como também observado em
pesquisas na costa da Escócia (Beare et al. 2005), nordeste do México (Ibáñez & Gutiérrez Benitéz
2004) e em outras regiões costeiras do sudeste e sul do Brasil (Pina & Chaves 2005, Seckendorff &
Azevedo 2007, Miranda & Carneiro 2007, Peterson et al. 2008).
Ictiofauna e seletividade das estratégias de captura
Neste estudo verificamos que os mugilídeos foram alvos preferenciais da pesca na região. Esses
peixes são muito apreciados para o consumo e capturados através da estratégia espia em todos os
meses. Já na estratégia sarraio, onde os arremessos da tarrafa dependem do tempo de pesca e não da
observação do peixe, os maiores valores de biomassa de mugilídeos pescados foram registrados no
período de maior disponibilidade do recurso, quando a probabilidade de captura destes peixes com
39
arremessos “cegos” foi maior. Comparando a heterogeneidade da composição de espécies capturadas
entre as técnicas utilizadas com a tarrafa na praia da Guarda do Embaú com as capturas de tarrafas
utilizadas por pescadores em um rio do sudeste brasileiro (Castro & Begossi 1995), os valores dos
índices de diversidade de Simpson foram bastante próximos. A tarrafa é um petrecho de pesca mais
seletivo quando comparada às varas de pesca, sendo destinada à captura de poucas espécies
preferenciais e por isso não reflete possíveis diferenças ambientais de diversidade de peixes entre os
ambientes marinho e fluvial.
Na avaliação da seletividade medida através do índice de diversidade de Shannon-Wiener, as
estratégias que foram desenvolvidas com a tarrafa (espia e sarraio), foram consideradas mais
especialistas, direcionadas para as capturas de mugilídeos, enquanto que a vara de pesca foi mais
generalista, similar ao encontrado na avaliação das capturas de peixes com os mesmos petrechos em
um rio no sudeste brasileiro (Castro & Begossi 1995). O grau de sobreposição das espécies capturadas
pelas estratégias utilizadas com as tarrafas foi maior do que quando comparadas à vara de pesca,
corroborando os resultados do índice de diversidade de Shannon-Wiener, que indicou diferenças de
seletividade entre as diferentes técnicas. As diferenças na composição de peixes capturados pela
estratégia mais generalista vara de pesca, quando comparados os períodos quente e frio, podem estar
refletindo as mudanças sazonais na diversidade de peixes, o que é esperado em ambientes marinhos em
função de variações na temperatura da água que provocam mudanças comportamentais nos peixes
(Lowe-Mcconell 1987).
Uso dos pontos de pesca e partilha de recursos
Durante todo o período a técnica mais produtiva (espia) foi utilizada nos dois pontos de pesca,
rio e costão. Dois fatores ambientais possibilitaram o uso da espia nesses dois pontos de pesca: a
presença do banco de areia nos meses quentes, bem como a transparência da água (observação
pessoal), pois a espia é utilizada onde os pescadores estão avistando o peixe com maior facilidade. No
40
mês de maior disponibilidade de peixes (maio) os peixes foram mais facilmente avistados no ponto de
pesca costão, por onde o peixe entra no estuário, e algumas vezes no rio, quando a transparência da
água era maior ou quando o banco de areia estava presente. O sarraio (estratégia menos produtiva) foi
utilizado com maior freqüência no ponto de pesca rio. Como verificado, o uso do sarraio não requereu
muita habilidade e arremessos consecutivos da tarrafa possibilitaram as capturas dos peixes nesse
ambiente fluvial, onde a água pode sofrer variações na transparência e na vazão, impossibilitando o
uso da estratégia mais produtiva (espia) pela dificuldade de observação do peixe e arremesso da tarrafa
com maior precisão.
A escolha das estratégias utilizadas (espia ou sarraio) na pesca da tainha provavelmente sofreu
influências de fatores ambientais como a transparência da água, além de outros fatores, como a
habilidade do pescador no uso de determinada estratégia de pesca ou escolhas pessoais. Por outro lado,
um evento de competição por exclusão (Gotelli 2001) entre os grupos de pescadores poderia induzir o
grupo de pescadores ocasionais (de fora da comunidade), a utilizar um ponto de pesca onde as
condições físicas permitiriam apenas o uso da estratégia menos produtiva (sarraio). Nesse caso, a
escolha da estratégia de pesca pelos pescadores estudados poderia ser o resultado de uma influência
indireta de interações competitivas. Existem alguns indícios de que a segregação espacial dos
pescadores na área de pesca estudada possa ter ocorrido em função de eventos competitivos. Os
pescadores ocasionais parecem reconhecer os direitos de exclusividade dos pescadores locais sobre um
ponto de pesca através do respeito e de sanções sociais (intimidação) que foram aplicadas como uma
forma de defesa do território de pesca, embora os resultados desse estudo não permitam comprovar a
existência da territorialidade.
Foi observada uma segregação espacial dos pescadores locais e ocasionais na pesca da tainha,
ou seja, esses dois grupos de pescadores partilharam essa dimensão de nicho (Fig. 7). Durante o
período de maior abundância dos recursos e maior densidade de pescadores (maio), os pescadores
locais ocuparam o costão enquanto que os pescadores ocasionais utilizaram o rio para a captura dos
41
peixes com tarrafas. O benefício obtido pelos pescadores locais no uso do ponto de pesca costão foi a
melhor eficiência na utilização da estratégia de pesca mais produtiva (espia) para a captura dos peixes.
A passagem dos cardumes de tainha próxima ao costão e a entrada dos peixes no estuário podem ter
aumentado a probabilidade e a previsibilidade das capturas nesse ponto de pesca no mês de maio.
Considerando que a territorialidade somente ocorre quando os benefícios excedem os custos da defesa
do terrotório (Dyson-Hudson & Smith 1978), os ganhos obtidos pelos pescadores com o uso da
estratégia de maior produtividade no costão também podem indicar o potencial que esse ponto de
pesca apresentou para ser um território defendido. Com uma maior extensão (Fig.1), a beira do rio
permitiu a presença de um maior número de pescadores ocasionais que utilizaram na sua maioria, a
técnica menos produtiva (sarraio) para a captura da tainha. A existência de um ponto de pesca (rio)
alternativo possibilitou a partilha de recursos e a coexistência de pescadores locais e ocasionais nas
atividades da pesca da tainha na comunidade estudada no litoral sul do Brasil (Fig. 7).
Interações ecológicas entre diferentes grupos de usuários dos recursos já tinham sido apontadas
em outras regiões do litoral sul do Brasil, também no estado de Santa Catarina, como a competição por
espaço entre pescadores amadores e profissionais que utilizam tarrafas em canais de acesso de lagunas
costeiras e baías (Sunye 2006). Também foi observada a interferência de pescadores ocasionais que
interrompem a interação pescador-boto (Tursiops truncatus) e o modelo de gestão dos recursos
exercido por uma comunidade de pescadores para a pesca cooperativa de tainhas (Peterson et al.
2008). No entanto, esses estudos não comentam se essas comunidades de pescadores locais possuem
estratégias para evitar os conflitos entre diferentes grupos de pescadores e as conseqüências da livre
exploração dos recursos. Isso difere da comunidade de pescadores estudada no sul do Brasil, onde os
pescadores partilharam os recursos (tainha) através da segregação no uso do espaço de pesca,
utilizando estratégias de pesca com diferentes valores de produtividade (Fig. 7).
Ecologia Humana e co-manejo da pesca
42
A pesca da tainha (Mugil platanus) no sul do Brasil, além de ser uma atividade econômica
bastante difundida entre as comunidades que praticam a pesca artesanal (Chaves & Robert 2003, Pina
& Chaves 2005, Peterson et al. 2008, Nunes 2010), também ocorre como um complemento à
subsistência das famílias e manutenção da cultura local, como observado na praia da Guarda do Embaú
e também em outras comunidades de pescadores da região (Medeiros 2001, Rebouças 2008). As
estratégias convencionais de manejo que regulam as capturas da tainha no litoral sul do Brasil
(proibição da pesca da tainha com tarrafas nos costões rochosos) podem fracassar além de provocar
conflitos com os usuários dos recursos. Uma alternativa potencialmente viável seria considerar as
particularidades sócio-ecológicas das comunidades de pescadores locais nas políticas de gestão dos
recursos pesqueiros.
Considerando a inclusão dos pescadores da praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, nas
políticas de gerenciamento da pesca, é recomendável reconhecer e legitimar as interações ecológicas
entre os dois grupos de pescadores e as estratégias de pesca utilizadas pelos pescadores. Quando a
atividade da pesca foi mais intensa, alguns pescadores utilizaram uma estratégia de pesca de baixo
valor de produtividade (sarraio), sugerindo uma possível redução na pressão de captura na pesca da
tainha com tarrafas. Além disso, a segregação espacial permitiu identificar que os pescadores locais
utilizaram preferencialmente o ponto de pesca estratégico para a captura desse peixe (costão, entrada
do estuário) e há indícios de uma regra local de uso do espaço de pesca, que se for comprovada, poderá
ser caracterizada por uma forma de manejo local com potencial para a conservação do recurso, uma
vez que proíbe o livre acesso aos recursos ao mesmo tempo em que mantém as atividades de
exploração e a cultura da região.
Os estudos de Ecologia Humana realizados nessa comunidade de pescadores do sul do Brasil
possibilitaram identificar os fatores sócio-ecológicos que podem favorecer a implantação de estratégias
de co-manejo da pesca no local. Esses fatores são: a. A existência da divisão espacial da área de pesca
que promoveu a partilha de recursos e a redução dos conflitos entre os pescadores. b. A existência da
43
associação de pescadores, que pode facilitar a organização da divisão dos poderes e responsabilidades
nas tomadas de decisão e a fiscalização das atividades pesqueiras. c. A não dependência da atividade
da pesca como principal atividade econômica, que promove a redução na pressão de pesca. d. A
participação dos pescadores nas pesquisas referentes às atividades pesqueiras, responsáveis por
oferecer o suporte científico necessário às estratégias de co-manejo.
Agradecimentos
A realização deste estudo foi possível através da participação da comunidade de pescadores
da praia da Guarda do Embaú no sul do Brasil e do auxílio financeiro obtido através da bolsa de
doutoramento pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os
autores agradecem aos Drs. Alpina Begossi, Nelson F. Fontoura, Clarice B. Fialho, Albano
Schwarzbold e Fernando G. Becker, pelas críticas e sugestões incorporadas na versão final deste
manuscrito e a bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
para Sandra M. Hartz (304036/2007-2).
.
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Tabelas
Tabela 1. Freqüência (%) de pescadores em atividade por categorias de lugar de origem e atividades
econômicas na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007.
Atividade Econômica
Pescador local
Pescador
Total
ocasional b
Aposentado
15,8
21,6
20,3
Pescador profissional na pesca embarcada
34,2
15,2
19,6
5,3
11,2
9,8
Segurança pública
10,5
5,6
6,8
Turismo
21
1,6
6,1
Outras a
13,2
44,8
37,4
Número total
38
Construção civil
a
125
163
Outras atividades econômicas mencionadas pelos pescadores (Número de pescadores): Pescador local: agricultor
(3), estudante (2). Pescador ocasional: açogueiro (2), administrador de empresas (3), advogado (1), autônomo (1),
auxiliar de escritório (1), bancário (1), caminhoneiro (1), comerciante (2), contador (2), cozinheiro (2), empresário
(4), engenheiro (1), estudante (8), funcionário público (4), mecânico (3), metalúrgico (2), metri (1), motorista (4),
músico (1), porteiro (2), professor (5), promotor de justiça (2), serralheiro (2), taxista (1).
b
Pescadores provenientes de regiões que variaram de 2 km a 400 km (outros estados) de distância da área de
pesca.
50
Tabela 2. Biomassa total (kg) das espécies de peixes capturadas pelos pescadores da praia da Guarda do
Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007 (n=40 dias de amostragem, 391 lances do petrecho),
mostrando os valores por mês e por estratégias de pesca (E=espia, S=sarraio, V=vara de pesca).
Família (negrito) e espécies de
Fevereiro
Maio
Agosto
Novembro
Total
peixes a
E
S
V
E
S
V
E
S
V
E
S
V
42,3
4,4
_
188
338,6
_
13,6
_
_
61,4
1,8
_
650,1
_
_
_
3
_
4
_
1,1
_
_
_
_
8,1
_
_
2,5
_
_
2
_
_
1,9
_
_
_
6,4
5
0,3
0,2
_
_
_
_
0,8
_
_
_
_
6,3
_
_
_
2
0,6
_
_
2,2
_
0,3
_
_
5,1
_
_
4,5
_
_
_
_
_
_
_
_
_
4,5
_
_
4
_
_
_
_
0,4
_
_
_
_
4,4
3,2
0,2
_
_
_
_
_
_
_
_
_
_
3,4
_
0,2
0,9
_
1
_
_
_
0,2
0,6
_
_
2,9
0,3
0,7
2,0
_
0,1
2,1
_
1,9
_
1,8
_
_
8,9
Total (kg)
50,8
5,8
14,1
193
340,3
8,1
13,6
6,4
2,1
64,1
1,8
0
700,1
Número total de lances do petrecho
25
11
25
59
4
3
391
Família Mugilidae
Mugil curema, Mugil platanus b
Família Pomatomidae
Pomatomus saltatrix (Linnaeus)
Família Sciaenidae
Menticirrhus americanus (Linnaeus)
Família Centropomidae
Centropomus parallelus Poey
Família Clupeidae
Brevoortia pectinata (Jenyns)
Família Serranidae
Epinephelus sp.
Família Sparidae
Diplodus argentus (Valenciennes)
Família Carangidae
Oligoplites saliens (Bloch)
Família Gerreidae
Eucinostomus argenteus (Baird &
Girard)
Outrosc
a
45
135
10
15
28
31
Nome local das espécies de peixes de acordo com os pescadores: Mugil spp. (tainha,parati), Pomatomus saltatrix
(anchova), Menticirrhus americanus
(papa-terra), Centropomus parallelus (robalo), Brevoortia pectinata
(savelha), Epinephelus sp. (garoupa), Diplodus argenteus (marimbau), Oligoplites saliens (guaivira),
Eucinostomus argenteus (escrivão).
51
b
Mugil curema (fevereiro, novembro), Mugil platanus (maio, agosto);
c
Outras espécies de peixes capturadas que apresentaram biomassa menor que 2 kg no total (considerando todos
os meses e estratégias de pesca), (famílias em negrito e nome local entre parênteses). Haemulidae: Anisotremus
virginicus (Linnaeus) (salema), Pomadasys corvinaeformis (Steindachner) (corcoroca), Sciaenidae: Pogonias
cromis (Linnaeus) (borriquete), Cynoscion sp. (pescada), Ariidae: Genidens genidens (Valenciennes) (bagre),
Elopidae: Elops saurus Linnaeus (ubarana), Serranidae: Mycteroperca microleps (Goode & Bean) (badejo),
Atherinidae: Odontesthes sp. (peixe rei), Carangidae: Trachinotus marginatus Cuvier (pampo), Trachinotus
carolinus (Linnaeus) (pampo), Caranx latus Agassiz (xerelete), Balistidae: Balistes capriscus Gmelin
(porquinho).
.
52
Tabela 3. Valores dos índices de dominância e diversidade de Simpson e diversidade de ShannonWiener (H’) da composição de peixes capturados pelas estratégias de pesca para os períodos quente (Q)
e frio (F) na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007. (Q): fevereiro e
novembro; (F): maio e agosto.
Estratégias de pesca
Tarrafa espia
Períodos
Tarrafa sarraio
Vara de pesca
Q
F
Q
F
Q
F
Índice de dominância de Simpson
0,81
0,95
0,67
0,95
0,25
0,32
Índice de diversidade de Simpson
1,23
1,05
1,49
1,05
4
3,12
Índice de diversidade (H’)
0,45
0,13
0,76
0,15
1,62
1,26
53
Tabela 4. Comparação dos índices de diversidade de Shannon-Wiener (H’) entre os pares de
estratégias de pesca utilizadas na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de
2007.
Comparação
do
H’
entre
as
valor de t
p
gl
Espia x Sarraio
1,7
NS a
2
Espia x Vara de pesca
4,8
<0,05
2
Sarraio x Vara de Pesca
3,0
<0,1
2
estratégias de pesca
a
NS: não significativo.
54
Tabela 5. Comparação dos valores do índice de similaridade de Horn’s, baseado na biomassa de
peixes capturados, entre as estratégias de pesca e períodos quente e frio na praia da Guarda do Embaú,
litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007. Espia e sarraio (tarrafa), vara de pesca (petrechos de linha
e anzol, ver texto).
Estratégia/Período
espia-
espia-
sarraio-
sarraio-
vara-
vara-
quente
frio
quente
frio
quente
frio
espia-quente
1
espia-frio
0,98
1
sarraio-quente
0,99
0,98
1
sarraio-frio
0,99
0,99
0,98
1
vara-quente
0,002
0
0,004
0,001
1
vara-frio
0,0002
0,01
0,001
0,002
0,27
1
55
Legendas das figuras
Figura 1. Mapa da América do Sul mostrando a localização do Brasil (A) e Praia da Guarda do
Embaú, estado de Santa Catarina (B) com os pontos de pesca: a) costão; b) banco de areia; c) rio; d)
ponto de observação do pesquisador; praia da Guarda do Embaú com pescadores nos pontos de pesca
(C).
Figura 2. Média e desvio padrão (n=10 dias amostrados por mês) do número de pescadores em
atividade por mês na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007.
Figura 3. Relação entre o número de lances de tarrafa e o tempo de pesca (horas) para a estratégia de
pesca sarraio na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007 (n=10
pescadores observados).
Figura 4. Média sazonal da produtividade, medida como a captura por unidade de esforço (CPUE), para
as três estratégias de pesca utilizadas pelos pescadores na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do
Brasil, durante o ano de 2007 (n=10 dias amostrados por mês).
Figura 5. Média sazonal do número de lances do petrecho para cada estratégia de pesca e para cada
ponto de pesca na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007 (n=10 dias
amostrados por mês). O número acima das barras corresponde ao número total de lances do petrecho
em cada estratégia de pesca.
Figura 6. Média do número de pescadores dos dois grupos culturais (locais e ocasionais) em dois
pontos de pesca na praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, durante o mês de maio de 2007
(n=10dias amostrados).
56
Figura 7. Esquema da partilha de nicho entre os pescadores locais e ocasionais na praia da Guarda do
Embaú, litoral sul do Brasil, durante o mês de maio de 2007. a=dimensões de nicho.
57
Figuras
Fig. 1
58
Fig. 2
59
Fig. 3
60
Fig. 4
61
Fig. 5
62
Fig. 6
63
Fig. 7
64
Estratégias de captura, decisões e forrageio ótimo na pesca artesanal na costa sul
do Brasil
D.M.NUNES, S.M.HARTZ e R.M.A.SILVANO
PPG-Depto. Ecologia, UFRGS, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil
e-mail: dan7_7@hotmail.com
65
Estratégias de captura, decisões e forrageio ótimo na pesca artesanal na costa sul
do Brasil
Resumo A teoria do forrageio ótimo (FO) prevê que os animais procurarão maximizar a quantidade de
recursos obtida por unidade de tempo gasto forrageando. Essa teoria tem sido aplicada para
compreender as estratégias de uso de recursos por grupos humanos. As estratégias e decisões na
exploração dos recursos pelos pescadores artesanais da praia da Pinheira, sul do Brasil, foram
analisadas através do modelo de FO, que prevê que os pescadores procurarão maximizar a quantidade
de peixes capturada (energia obtida) ao explorarem áreas de pesca localizadas a partir de um ponto
conhecido por “lugar central”, considerado como a área de residência dos pescadores e de saída das
embarcações de pesca. A hipótese formulada a partir da teoria do FO é a de que os pescadores
procurarão capturar mais peixes em áreas de pesca mais distantes, intensificando o esforço de captura.
Foram registrados os seguintes dados dos desembarques pesqueiros (unidades amostrais) sazonalmente
em 2007: técnicas e áreas de pesca, tempo de viagem até as áreas de pesca (custos), tempo de
permanência na área de pesca (esforço), quantidade e composição de espécies de peixes capturadas
(benefícios). No geral, o modelo de FO não explicou o comportamento dos pescadores, pois as
relações de dependência entre as variáveis foram fracas na maioria das vezes (≤20%). As estratégias e
as decisões dos pescadores da praia da Pinheira no sul do Brasil podem ter sido influenciadas por
variações espaço-temporais na disponibilidade dos peixes, indicando que os pescadores visitaram mais
frequentemente as áreas de pesca de maior probabilidade de boas capturas, independente de sua
distância do lugar central. As informações dos pescadores sobre as variações espaço-temporais na
disponibilidade dos peixes, além das diferenças de seletividade e produtividade das técnicas de pesca
devem ser reconhecidas e utilizadas como ferramentas na implantação de estratégias de manejo
pesqueiro, uma vez que esses fatores influenciam a decisão dos pescadores quanto à exploração dos
recursos.
66
Palavras-chave: comportamento humano, ecologia humana, manejo pesqueiro, pesca artesanal, peixes
marinhos.
Introdução
Os princípios ecológicos de aquisição de recursos podem ser utilizados para a compreensão do
uso dos recursos naturais por grupos humanos (Kormondy e Brown 2002). Em certas atividades de
exploração dos recursos, grupos humanos capturam suas presas de maneira semelhante à realizada por
outros grupos animais, por exemplo, quando analisados o padrão de dispersão na procura por presas e
as estratégias de otimização do consumo de energia pelos pescadores (Bertrand et al. 2005, 2007;
Marchal et al. 2007).
Utilizada em estudos tanto de ecologia como de humana (Begossi 1993), a teoria do forrageio
ótimo analisa as atividades de procura e captura de presas, prevendo que o animal procurará maximizar
a quantidade de recursos obtida (benefício) por unidade de tempo gasto forrageando (custo) (Pyke
1984; Stephens e Krebs 1986). A atividade de extração de recursos por pescadores artesanais, tem sido
analisada através de um modelo particular da teoria do forrageio ótimo desenvolvido por Orians e
Pearson (1979), o qual prevê que os animais procurarão maximizar seu consumo de energia ao
explorarem manchas de recursos a partir de um ponto de saída conhecido por “lugar central”. Este
modelo se aplica aos animais que retornam das atividades de forrageio e se dirigem para pontos fixos
como um abrigo ou, como no caso de pescadores, uma moradia ou uma área de saída de embarcações
de pesca.
Para que ocorra a otimização do consumo de energia, ao explorarem ambientes mais distantes, os
forrageadores deverão retornar para o “lugar central” com uma quantidade ou qualidade de recursos
que compense a demanda energética do deslocamento. Desta forma se espera que a decisão a ser
tomada seja a de intensificar o esforço de captura uma vez que o retorno energético pode ser uma
função do tempo gasto com a atividade de forrageio (Stephens e Krebs 1986). Uma pesquisa realizada
67
com pescadores artesanais fluviais na Amazônia brasileira demonstra que intensificar o esforço de
captura em manchas de recursos distantes pode não ser a decisão tomada por pescadores (Begossi et
al. 2005). Isso pode estar relacionado à necessidade de conciliar a pesca com outras atividades, além
de restrições quanto à preservação dos peixes quando o gelo for limitado (Begossi et al. 2005), e
discorda da premissa do modelo de forrageio a partir de um “lugar central”, que pressupõe que os
pescadores aumentarão o esforço de captura em lugares mais distantes, a fim de capturarem maior
biomassa de peixes. Quando as premissas do modelo de FO não são atendidas, outros fatores, que não
as distâncias das áreas de pesca, podem influenciar na tomada de decisão dos pescadores para uma
possível maximização do consumo energético. Esses fatores podem ser o conhecimento dos
pescadores sobre o comportamento dos peixes, a aquisição de informação sobre os pontos de pesca e
sensitividade ao risco (possibilidade de não capturar nada) (Thomas 2007), as influências externas a
atividade de pesca, como as relações comerciais que influenciam as atividades de forrageio dos
pescadores profissionais (Nehrer e Begossi 2000; Begossi et al. 2005), a competição com outras
categorias de pescadores (Begossi 1992), além da imprevisibilidade dos hábitats aquáticos e de
alterações antrópicas nos ambientes marinhos e fluviais (Begossi et al. 1998, 2005).
Nas atividades de pesca, os dados gerados a partir dos estudos que utilizam modelos de forrageio,
além de identificar as decisões tomadas pelos pescadores na exploração dos recursos, possibilitam
mapear zonas ecológicas de alta diversidade e produtividade na pesca, hábitats e pontos específicos
vulneráveis a sobreexploração. Essas informações são relevantes para o preenchimento das lacunas no
conhecimento científico necessário à incorporação do sistema sócio-econômico nas medidas de
preservação da biodiversidade e manejo da pesca como, por exemplo, as reservas marinhas, ou áreas
marinhas protegidas (Castilla e Defeo 2001). Os estudos de Hastings e Botsford (2003), Sale et al.
(2005), Moffitt et al. (2009) ressaltam a importância do conhecimento científico referente aos aspectos
biológicos, como as distâncias de dispersão larval, as taxas de recrutamento e a área de vida (home
range) das espécies capturadas na pesca para a implantação das reservas marinhas. Mas esses estudos
68
também apontam a necessidade de ampliar os registros referentes aos processos da pesca, como o
esforço de captura e a ocupação do espaço pelos pescadores, sugerindo a inclusão do sistema sócioeconômico no processo de implantação de reservas marinhas.
De acordo com os dados mundiais referentes à crise no setor pesqueiro, a implantação de
estratégias eficientes de manejo requer analisar a pesca artesanal em separado da pesca industrial,
considerando que a pesca artesanal é o segundo componente responsável pela crise global no setor e
apresenta grande importância para a subsistência (segurança alimentar) e para a economia familiar
(Defeo e Castilla 2005). A pesca marinha na região sul do Brasil é ordenada através do manejo
centralizado e geralmente apresenta as mesmas normas para as embarcações da pesca industrial e
artesanal.
No intuito de ampliar as informações referentes à pesca artesanal e gerar informações que
possam ser utilizadas na implantação de planos de manejo e co-manejo pesqueiro, o objetivo central
desse estudo foi compreender as estratégias e as decisões de pescadores artesanais costeiros no sul do
Brasil. O modelo de forrageio ótimo utilizado para compreender o comportamento dos pescadores
possibilitou formular a hipótese de que a estratégia adotada pelos pescadores seria a de maximizar os
ganhos (quantidade ou qualidade de peixes capturados) em áreas de pesca mais distantes, através do
aumento do esforço de pesca nessas áreas. Realizar análises de forrageio ótimo separando métodos de
pesca distintos permite a calibração de diferenças tecnológicas e de seus efeitos sobre as capturas
(Aswani 1998). Desta forma, este estudo teve por objetivos específicos:
a. Distinguir as diferentes tecnologias e técnicas utilizadas na pesca;
b. Caracterizar e comparar as diferentes técnicas quanto à produtividade pesqueira e seletividade de
captura;
c.Compreender as estratégias e decisões dos pescadores quando utilizam diferentes técnicas de pesca.
Material e métodos
69
Área de estudo
A pesquisa foi realizada na praia da Pinheira (27°49’S’’, 48°37’W’’) localizada no município de
Palhoça, no estado de Santa Catarina, região costeira do sul do Brasil (Figura 1). Esta praia possui uma
comunidade de pescadores artesanais, que vive da pesca local provendo seu sustento principalmente
através da exploração e comercialização dos recursos pesqueiros. Os mercados de pesca que movem as
atividades nessa comunidade de pescadores são dos tipos formal e informal. No mercado formal, os
pescadores vendem os peixes para as peixarias do município, que negociam os valores através de
atravessadores, intermediários entre os mercados de pesca e os pescadores. No mercado informal, os
pescadores vendem os peixes diretamente aos consumidores, na área de chegada das embarcações, que
corresponde ao “lugar central” do modelo de forrageio ótimo.
Desde o século XVIII a pesca da praia da Pinheira vem se transformando em função de
alterações sócio-econômicas e tecnológicas provocadas pela chegada dos imigrantes europeus. Desde
1960, esse sistema pesqueiro é definido por comercial e de prestação de serviços, no qual os
pescadores estão sujeitos a uma evolução sócio-econômica na atividade, iniciando suas funções
profissionais como tripulantes nas embarcações. Aqueles que acumulam algum capital se tornam
donos de embarcações de tecnologia simples (de menor tamanho e motor de menor potência),
evoluindo algumas vezes para as embarcações de maior tecnologia (de maior tamanho e motor de
maior potência) e então para a aposentadoria. Este sistema de evolução sócio-econômica dos
pescadores da praia da Pinheira reflete diferentes técnicas de exploração dos recursos, que por sua vez
refletem diferenças no rendimento médio anual dos pescadores que as utilizam (Severo 2008).
As técnicas de captura de peixes utilizadas na praia da Pinheira, descritas por Severo (2008), são:
o caceio, o fundeio, o arrasto de praia e o cerco móvel (descritas abaixo). Os pescadores que utilizam o
caceio possuem uma melhor situação sócio-econômica quando comparados aos pescadores que
utilizam a técnica do fundeio. O cerco móvel e o arrasto de praia são utilizados pelos pescadores
aposentados.
70
Na técnica do caceio os pescadores “caçam” ativamente os peixes, cercando e “malhando” os
cardumes com as redes em áreas de pesca. No fundeio, os pescadores fixam as redes em áreas de pesca
próximas à costa ou ao redor das ilhas costeiras. Na pesca de arrasto de praia, uma rede de
aproximadamente 500 metros é esticada mar à dentro com ajuda de uma canoa. O cabo do lado oposto
da rede é puxado por pescadores que se posicionam na beira da praia, capturando uma grande
variedade de peixes. Na técnica do cerco móvel, um pescador (vigia) avista o cardume de peixes
mugilídeos (Mugil platanus e Mugil curema), que então é cercado por uma rede de 1000 metros de
comprimento em média (depende do tamanho do cardume) por pescadores em canoas (a quantidade de
canoas que fazem o cerco também varia com o tamanho do cardume) (Severo 2008).
Métodos de amostragem
Em um período anterior à pesquisa, foi coletado junto aos pescadores um exemplar de cada
espécie de peixe capturado, que foram então fixados em solução de formalina (10%), conservados em
álcool etílico (70%) e identificados conforme Figueiredo (1977), Figueiredo e Menezes (1978, 1980),
Menezes e Figueiredo (1980, 1985), Szpilman (1992, 2000), Carvalho-Filho (1999) e Figueiredo et al.
(2002).
Foram registrados os dados dos desembarques pesqueiros nos meses de fevereiro, maio, agosto e
novembro de 2007, com um esforço amostral de 10 dias/mês. Para as análises da pesca, foram
realizadas entrevistas com os pescadores e registrado em planilhas de campo os seguintes dados para
cada desembarque pesqueiro amostrado: tipo de embarcação e petrecho utilizados, biomassa em
quilogramas por espécie de peixe capturada, áreas de pesca visitadas, tempo de viagem até as áreas de
pesca e tempo de permanência do petrecho nas áreas de pesca.
Cada desembarque correspondeu a uma viagem de pesca (unidade amostral). As viagens de
pesca foram agrupadas conforme as técnicas de captura dos peixes (fundeio, caceio, arrasto e cerco
móvel). Essas técnicas de pesca foram identificadas através da tecnologia utilizada nas capturas
71
(petrecho de pesca e tipo de embarcação), refletindo as diferentes classes sócio-econômicas nas quais
os pescadores da praia da Pinheira foram categorizados por Severo (2008). Os dados referentes aos
tipos de motores e embarcações utilizados foram obtidos através de uma entrevista realizada com um
pescador que foi apontado pela comunidade como o de maior conhecimento sobre a tecnologia
utilizada na atividade da pesca local.
Os valores de biomassa em quilogramas (kg) para cada espécie de peixe capturada pelas
embarcações de menor tecnologia (fundeio) foram obtidos durante o registro dos desembarques,
através de estimativas dos pescadores. Para as embarcações de maior tecnologia (caceio), os dados da
biomassa em quilogramas (kg) de peixe capturado em cada desembarque foram obtidos através da
pesagem realizada pelos atravessadores (intermediários nas negociações do mercado de pesca com o
pescador).
As áreas de pesca foram identificadas pelos pescadores após as viagens de pesca e organizadas
em um gradiente decrescente de distância, que variou da área de pesca mais distante à área mais
próxima da área de saída das embarcações (o “lugar central” do modelo de forrageio ótimo). As
distâncias em quilômetros foram obtidas através do software Google Earth. O tempo de viagem em
horas (h) e o tempo de permanência em horas (h) nas áreas de pesca foram obtidos através da
informação dos pescadores fornecida nas entrevistas. Nesse estudo foi considerado como áreas de
pesca o espaço aquático utilizado nas atividades de pesca por toda a comunidade, ou seja, locais no
ambiente marinho, que ao menos aparentemente, não apresentam nenhuma forma de apropriação pelos
usuários (Begossi 2004).
Análise estatística
As técnicas de pesca mais importantes para a economia local (caceio e fundeio) foram
comparadas quanto à produtividade pesqueira e a seletividade das capturas. Já as técnicas de cerco
móvel e arrasto de praia, utilizadas pelos pescadores aposentados, de pouca importância para os
72
mercados de pesca por serem muito imprevisíveis e irregulares, não foram incluídas nas análises
estatísticas.
A produtividade pesqueira por viagem de pesca foi medida através da captura por unidade de
esforço (CPUE), obtida pela relação kg de peixe capturado/tempo gasto na pesca (tempo de
permanência na área de pesca). Para cada viagem de pesca foi calculada a CPUE (kg/hora) e obtida a
média diária de CPUE. Essa média diária foi considerada como réplica para comparação da média
mensal da CPUE (n=10 dias), de forma a evitar pseudoréplicas (pescarias realizadas no mesmo dia).
Para comparar as técnicas de pesca quanto à produtividade pesqueira, os dados da CPUE foram
transformados em logaritmo natural e testados através de ANOVA Two-way com interação (Gotelli e
Ellison 2004) sendo um fator os quatro meses amostrados e o outro fator as duas técnicas de pesca
(caceio e fundeio).
Para caracterizar e comparar as técnicas de pesca quanto à seletividade das capturas foi calculado
o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) (Margalef 1958) para cada técnica por mês,
utilizando os valores de biomassa das espécies de peixes capturadas. As diferenças entre as médias dos
valores dos índices de diversidade (H’) das técnicas de pesca foram testadas através de teste t (α=0,05).
Dessa forma, nessa análise os meses foram considerados como réplicas.
As diferenças entre o número de viagens de pesca utilizando as duas técnicas foram testadas
através do qui-quadrado com correção de Yates (α=0,05). As diferenças nas médias dos tempos de
viagem e tempo de permanência nas áreas de pesca entre as técnicas utilizadas foram testadas através
de teste t (α=0,05) (Gotelli e Ellison 2004).
As áreas de pesca foram agrupadas em três categorias de distância. Para o caceio: área de pesca
distante (±30 km), área de pesca de distância intermediária (17 km) e área de pesca mais próxima (10,5
km); e para o fundeio: áreas de pesca mais distantes (13 km a 17 km), áreas de pesca de distância
intermediárias (8 km a 11 km) e áreas de pesca mais próximas (1,5 km a 6,5 km). Foram então
73
calculadas as freqüências de viagens para as áreas de pesca para cada técnica utilizada, a fim de
analisar o uso das áreas pelos pescadores.
Utilizando o modelo de forrageio ótimo a partir do “lugar central”, foram analisadas as técnicas
de maior relevância econômica (caceio e fundeio) para a compreensão das estratégias e decisões
tomadas pelos pescadores na exploração dos recursos através de regressão linear simples (Gotelli e
Ellison 2004). As estratégias de pesca foram analisadas quanto a maximização do consumo de energia
através da relação entre a biomassa de peixes capturados (kg) (variável dependente) e o tempo de
viagem até as áreas de pesca (h) (variável independente). As decisões tomadas pelos pescadores
quanto ao esforço de captura foram analisadas através da relação entre o tempo de permanência nas
áreas de pesca (h) (variável dependente) e o tempo de viagem até as áreas de pesca (h) (variável
independente).
Para a técnica de pesca de caceio, essas análises de regressão foram realizadas primeiramente
com o total das espécies alvo dessa técnica: Mugil platanus (tainha), Micropogonias furnieri (corvina)
e Pomatomus saltatrix (anchova). Para verificar o efeito do tempo de forrageio no retorno energético
em estratégias de pesca diferentes, as mesmas análises foram realizadas para a tainha separadamente
conforme sugerido por Aswani (1998).
Quando as premissas do modelo de forrageio ótimo não foram atendidas, ou seja, quando outros
fatores que não a distância das áreas de pesca, influenciaram as escolhas das estratégias e decisões
tomadas pelos pescadores, foi verificado se o esforço de captura utilizado influenciou a maximização
das capturas. Para isso foi verificada a relação entre a biomassa de peixes capturados (kg) e o tempo de
permanência nas áreas de pesca (h) através de regressão linear simples.
Resultados
Durante 40 dias de amostragem na praia da Pinheira, sul do Brasil, foram registrados os dados
de 285 viagens de pesca: 99 viagens com a técnica do caceio, onde os pescadores capturaram um total
74
de 29.171 kg de peixes, utilizando oito embarcações de pesca; e 186 viagens de pesca com a técnica do
fundeio, onde os pescadores capturaram um total de 9.057 kg de peixes com o uso de 19 embarcações
de pesca. As tecnologias utilizadas na captura dos peixes para cada técnica de pesca, podem ser
verificadas na Tabela 1.
Produtividade e seletividade das técnicas de pesca
A técnica caceio e o mês de maio foram os mais produtivos na atividade pesqueira da praia da
Pinheira (Fig.2). O maior desvio entre as médias da CPUE ocorreu no mês de maio, indicando grandes
variações de biomassa capturada nos 10 dias de observação nesse mês. Não ocorreram capturas com a
técnica caceio no mês de novembro. No mês de agosto, a técnica do fundeio foi mais produtiva quando
comparado com a produtividade dessa mesma técnica nos outros meses. A interação entre os dois
fatores (técnicas de captura e meses) foi significativa (F3,72=8,6; p<0,01): a técnica caceio foi mais
produtiva em maio e a técnica fundeio foi mais produtiva em agosto (Fig. 2).
A quantidade de peixe capturada por espécie (kg/viagem de pesca) e os números de viagens de
pesca para cada técnica utilizada no período do estudo podem ser verificados na Tabela 2. No mês de
fevereiro, a técnica caceio foi utilizada pelas embarcações para a pesca da espécie Micropogonias
furnieri (corvina); em maio para a captura de peixes mugilídeos, principalmente da espécie Mugil
platanus (tainha) e corvina; e em agosto para a captura de peixes da espécie Pomatomus saltatrix
(anchova). As embarcações que utilizaram a técnica de pesca de fundeio foram responsáveis pelos
menores valores totais de biomassa capturada por viagem e se destinaram a captura de diferentes
espécies de peixes, principalmente as pescadas (Scianidae), abróteas (Urophycis brasiliensis e
Urophycis mystaceus), tubarão martelo (Sphyrna zygaena), anchova (Pomatomus saltatrix), corvina
(Micropogonias furnieri), cocorocas (Pomadasyidae), papa-terras (Menticirrhus americanus e
Menticirrhus littoralis), linguado (Syacium papillosum) e raia viola (Rhinobatos horkelli) durante todo
o período (Tabela 2).
75
Além destas capturas realizadas com as técnicas de pesca de expressivos valores econômicos
(caceio e fundeio), em seis viagens de pesca foram capturados 446,7 kg de peixes com o petrecho
caniço, utilizado por pescadores das duas técnicas de pesca (caceio e fundeio) apenas em horários de
lazer, nos intervalos entre as viagens de pesca ou durante a revisão de redes. As espécies mais
capturadas com este petrecho foram Caranx latus (xerelete=70 kg), Diplodus argentus
(marimbau=215 kg), Epinephelus sp. (garoupa=33 kg) e Anisotremus surinamensis (saugo=70 kg) nos
meses de fevereiro e agosto.
As técnicas de pesca utilizadas pelos pescadores aposentados (cerco móvel e arrasto de praia)
foram responsáveis por grandes capturas de peixes mugilídeos (Mugil platanus) no mês de maio de
2007. Os pescadores da praia da Pinheira levaram cerca de uma hora para capturarem 200 kg de
mugilídeos com o arrasto de praia. E com a utilização da técnica de cerco móvel, os pescadores
capturaram 50 toneladas de mugilídeos com apenas uma viagem de cerco, após dois dias de
observação a procura dos cardumes.
A técnica de pesca caceio foi mais seletiva do que a técnica fundeio, apresentando os menores
valores do índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) (Tabela 3, t5;0,05 =9,38; p<0,01).
Técnicas e áreas de pesca
Os pescadores da praia da Pinheira utilizaram dez áreas de pesca para a captura dos peixes (Fig.
1), respeitando os limites de distanciamento dos costões de acordo com a legislação para a atividade da
pesca artesanal (Tabela 4). O número de viagens de pesca foi maior na técnica do fundeio (χ2Yates 0,05=
25,9; gl=1; p<0,01). O tempo médio de viagem até as áreas de pesca foi maior para a técnica caceio
(t283;0,05=11,7; p<0,01), enquanto que o tempo médio de permanência na área de pesca foi maior para a
técnica fundeio (t283; 0,05=16,6; p<0,01) (Tabela 4).
Os pescadores das embarcações que utilizaram a técnica do caceio visitaram com maior
freqüência a área de pesca de menor distância, a Ilha dos Corais, nos meses de fevereiro e agosto. No
76
mês de maio as embarcações que utilizaram essa mesma técnica visitaram com maior freqüência a área
de pesca de maior distância, a rota da tainha (Figs. 1 e 3).
De uma forma geral as embarcações de fundeio visitaram com maior freqüência as áreas de
pesca de distâncias intermediárias e visitaram um maior número de áreas de pesca em agosto (Figs. 1 e
3), período de maior produtividade para essa técnica (Fig. 2). As Ilhas Três Irmãs e Ilha dos Corais
foram as áreas de pesca mais visitadas pelas embarcaçções de fundeio nos meses de fevereiro, agosto e
novembro. A área de pesca praia da Guarda do Embaú foi mais visitada nos meses de maio e agosto
(Figs. 1 e 3). A freqüência de viagens de pesca da técnica do fundeio foi menor tanto para as áreas de
pesca mais próximas (praia da Pinheira, Ilha dos Papagaios, Praia de Cima e Prainha) como também
para as duas áreas de pesca mais distantes (Ilhas Moleques do Sul e Gamboa) (Figs. 1 e 3).
Estratégias de forrageio dos pescadores e decisões quanto ao esforço de captura
Nas viagens de pesca realizadas para a captura da tainha, anchova e corvina na técnica do caceio,
a distância das áreas de pesca esteve positivamente relacionada e explicou 10% da variação na
biomassa de peixes capturados (R2=0,1; b=39,8; F1,97=11,51 p<0,01) (Fig. 4). A distância das áreas de
pesca esteve negativamente relacionada e explicou 50% da variação no esforço de captura empregado
pelos pescadores (R2=0,5; b=-1,1; F1,97=104,7 p<0,01). Os pescadores que utilizaram a técnica do
caceio empregaram um menor esforço de captura em áreas de pesca mais distantes e um maior esforço
de captura em áreas mais próximas (Fig. 4). Para as capturas da tainha com a técnica do caceio, a
distância das áreas de pesca esteve positivamente relacionada e explicou 20% da biomassa capturada
pelos pescadores (R2=0,2; b=81,3; F1,50=11,07 p<0,01) (Fig. 5). A distância até as áreas de pesca
(tempo de viagem) não esteve relacionada com o esforço de captura (tempo gasto nas áreas de pesca)
dos pescadores que utilizaram a técnica do caceio para a captura da tainha (R2=0,07; b=0,06;
F1,50=4,03 p<0,05).
77
Para as capturas da corvina e da anchova com a técnica do caceio, a relação entre a biomassa
capturada e o tempo de viagem e a relação entre o tempo gasto na área de pesca e o tempo de viagem
não foram significativas (NS) (R2=0,006; b=-164; F1,45=0,2; p=NS e R2=0,06; b=-6,9; F1,45=3,2 p=NS,
respectivamente). Os pescadores não capturaram maior biomassa de corvina e anchova em áreas de
pesca mais distantes e também não empregaram um maior esforço de captura nessas áreas. Desta
forma foi verificado se a decisão tomada quanto à escolha do esforço de captura utilizado (tempo de
permanência nas áreas de pesca) maximizou o ganho em biomassa de peixes. Os resultados indicaram
que o tempo de permanência nas áreas de pesca (variável independente) esteve positivamente
relacionado e explicou 15% da biomassa de corvina e anchova capturada (variável dependente) pela
técnica do caceio (R2=0,15; b=29,6; F1,45=7,6 p<0,01) (Fig. 6).
Para a técnica de pesca do fundeio, a biomassa de peixes capturados não esteve relacionada com
a distância das áreas de pesca (tempo de viagem) (R2=0,03; b=40,7; F1,184=11,51 p=0,01) assim como
o tempo de permanência na área de pesca também não esteve relacionado com o tempo de viagem
(R2=0,06; b=-11,1; F1,184=13,4 p<0,01). Para a técnica de fundeio, três esforços de captura (tempos de
permanência em horas) foram mais evidentes: 12h, 24h e 48h e o resultado da análise de regressão
indicou uma relação negativa entre as variáveis tempo de permanência nas áreas de pesca (variável
independente) e biomassa de peixes capturados (variável dependente), sendo que o esforço de captura
não explicou somente uma pequena parte da variação (2%) na biomassa de peixes capturados
(R2=0,02; b=-0,7; F1,184=3,9 p<0,05). Os pescadores que utilizaram a técnica do fundeio apresentaram
uma tendência de retornar com menor biomassa de peixes quando aplicaram um maior esforço de
captura nas áreas de pesca.
Discussão
Produtividade e seletividade das técnicas de pesca
78
A atividade de pesca estudada na praia da Pinheira apresentou variações nas estratégias de
captura dos peixes, refletidas nas diferenças de seletividade e produtividade das técnicas de pesca: a
técnica mais seletiva, o caceio, foi responsável pela maior captura de peixes. As espécies alvo dessa
técnica foram os peixes de grande porte e de maior relevância para o mercado de pesca: a tainha (M.
platanus), a corvina (M. furnieri) e a anchova (P. saltatrix). A técnica do caceio também foi utilizada
para a captura destas mesmas espécies de peixes por embarcações da pesca artesanal na comunidade
do Pântano do Sul, porém a pesca dos mugilídeos nessa outra comunidade do sul do Brasil possui um
caráter sócio-cultural e não é muito relevante para a economia local devido a sua captura muito
esporádica e incerta (Medeiros 2001).
A técnica do fundeio, também utilizada pelos pescadores do Pântano do Sul (Medeiros 2001), foi
a menos produtiva na atividade da pesca na praia da Pinheira, por outro lado foi responsável pelas
capturas de maior diversidade de peixes com variados valores de mercado, segundo os indicadores
econômicos para a pesca artesanal dessa comunidade no ano de 2007, registrados por Severo (2008).
Pescadores fluviais do sudeste do Brasil apresentam estratégias de pesca nas quais alternam o tamanho
das malhas das redes de espera utilizadas, resultando em diferenças na quantidade e na composição de
espécies de peixes capturados (Silvano e Begossi 2001). Essas variações sazonais nas estratégias de
pesca, observadas também nesse estudo no litoral sul do Brasil, podem reduzir a pressão nas capturas
de algumas espécies de peixes alvo da pesca, reduzindo dessa forma o risco de depleção dos estoques
pesqueiros (Silvano e Begossi 2001).
Espécies de peixes, técnicas e áreas de pesca
A anchova (Pomatomus saltatrix) é um peixe pelágico migratório, oceânico ou costeiro, sendo
capturados indivíduos de médio porte em regiões costeiras junto às ilhas, pois são peixes que apreciam
as áreas de arrebentação e águas com formação de espuma (Grant 1982). Essas características
ecológicas da anchova possivelmente influenciaram a procura desses peixes no mês de agosto pelos
79
pescadores da técnica do caceio principalmente na Ilha dos Corais, que apresenta áreas de
arrebentação de ondas com muita formação de espuma (informação dos pescadores). Da mesma
forma, indivíduos de grande porte da espécie Micropogonias furnieri (corvina) podem ser encontrados
mais próximos à costa durante os meses de verão (Haimovici et al. 1996) influenciando a procura dos
pescadores de caceio da praia da Pinheira por esses peixes na Ilha dos Corais durante o mês de
fevereiro. Em maio, quando a corvina migra para profundidades maiores (Haimovici et al. 1996), as
viagens de pesca para a captura desses peixes foram realizadas para as Ilhas Moleques do Sul, ponto
de pesca de maior distância do “lugar central” na pesca estudada.
As capturas da tainha (Mugil platanus) no mês de maio, realizadas pelas embarcações de caceio,
ocorreram no ponto de pesca mais distante, localizado em zonas de rota migratória desses peixes. Os
cardumes de mugilídeos partem em migração reprodutiva do extremo sul do Brasil em direção ao norte
nos meses de outono e inverno (Vieira e Scalabrin 1991), quando são facilmente avistados e
capturados ao longo da costa sul e sudeste do Brasil (Pina e Chaves 2005; Seckendorff e Azevedo
2007; Miranda e Carneiro 2007).
Os pescadores das embarcações que utilizaram a técnica do fundeio visitaram com maior
freqüência duas ilhas costeiras de dimensões diferentes, Ilha dos Corais e Ilhas Três Irmãs (Fig. 1),
além de uma área próxima a um estuário, o que representou uma maior variabilidade de hábitats
explorados e uma maior variedade de peixes capturados. Muitas espécies de peixes demersais e
bentônicas utilizam as regiões costeiras próximas a ilhas e estuários para se alimentarem,
reproduzirem ou completarem seu ciclo de vida (Lowe-McConnell 1987). A posse desse
conhecimento pelos pescadores de fundeio da praia da Pinheira pode ter influenciado a procura pelas
espécies de peixes de maior importância no mercado de pesca local nas Ilhas dos Corais, Três Irmãs e
em uma área próxima ao estuário da Guarda do Embaú. Esses peixes mais visados foram as pescadas
(Cynoscion spp., Isopisthus parvipinnis), as abróteas (Urophycis brasiliensis e U. mystaceus), a
corvina (Micropogonias furnieri), a raia viola (Rhinobatos horkelli) e o linguado (Paralichthys
80
brasiliensis), com os seguintes valores de mercado por quilograma de peixe: R$ 2,00 (pescadas,
abróteas, corvina); R$ 2,50 (raia viola) e R$ 9,00 (linguado), para o ano de 2007 na praia da Pinheira
(Severo 2008).
No mês de agosto, período de maior produtividade na pesca para a técnica do fundeio na praia da
Pinheira, os pescadores que utilizaram essa técnica visitaram um maior número de áreas de pesca. Em
períodos de maior produtividade, os pescadores das ilhas Solomon também utilizam um maior número
de pontos de pesca, trocando mais rapidamente de ponto de pesca quando experimentam o decréscimo
nas capturas (Aswani 1998).
As áreas de pesca mais utilizadas pelos pescadores de fundeio da praia da Pinheira foram aquelas
a distâncias intermediárias da costa. A pouca freqüência de viagens de pesca de fundeio às duas áreas
mais distantes, Ilhas Moleques do Sul e Gamboa, pode estar relacionada à imprevisibilidade das
capturas, pois os pescadores também podem retornar com baixos valores de biomassa de peixes desses
lugares. Além disso, existe o risco de fixar os petrechos de pesca em lugares mais distantes e que
também são ocupados por pescadores de comunidades vizinhas, como por exemplo as Ilhas Moleques
do Sul, que também é uma área de pesca da comunidade de pescadores do Pântano do Sul (Medeiros
2001; Castro 2008). Por outro lado, conflitos diretos podem não existir quando diferentes comunidades
de pescadores ocupam a mesma área esporadicamente (Begossi 2006).
Identificar o uso de áreas de pesca pelos pescadores, bem como os prováveis fatores que
influenciam a decisão dos pescadores de usar determinadas áreas de pesca, pode ser útil para mapear
os locais que favorecem a criação de reservas marinhas de forma a evitar potenciais conflitos entre os
gestores e os usuários dos recursos (pescadores) (Begossi 2006).
Estratégias de forrageio dos pescadores, produtividade da pesca e decisões quanto ao esforço de
captura
81
No geral, os resultados indicaram que a variável do modelo de forrageio ótimo a partir de um
lugar central utilizada nesse estudo (distância das áreas de pesca) pouco influenciou nas estratégias de
pesca e nas decisões adotadas pelos pescadores dessa comunidade do sul do Brasil, referentes ao
esforço de captura empregado e a quantidade de peixes capturada. Outros fatores que não aqueles
representados por essas variáveis utilizadas no modelo de forrageio ótimo possivelmente influenciaram
o comportamento dos pescadores da mesma forma que o verificado para outros pescadores fluviais e
marinhos do sudeste do Brasil (Begossi 1992; Begossi et al. 1998; Nehrer e Begossi 2000; Begossi et
al. 2005). Esses fatores provavelmente estiveram relacionados à imprevisibilidade do ambiente
marinho, que foi responsável pelas variações espaço-temporais na disponibilidade dos peixes, a
quantidade de tripulantes das embarcações, ao conhecimento dos pescadores acerca dos lugares de
maior produtividade e a manutenção do mercado de pesca.
A baixa influência (20%) da distância das áreas de pesca (tempo de viagem) sobre a biomassa de
tainha capturada na pesca de caceio refletiu a imprevisibilidade da pesca em ambiente marinho. Em
algumas viagens de pesca os pescadores retornaram com grande quantidade desse peixe após pouco
tempo de viagem. Em outras viagens de pesca, cardumes maiores desses peixes foram capturados em
profundidades que quase ultrapassavam os limites máximos que as embarcações da pesca artesanal de
caceio podiam alcançar (informação dos pescadores em horário real, obtida através dos rádios dos
atravessadores que aguardavam na beira da praia), o que fez aumentar o tempo de viagem para a
captura de maior biomassa de tainha. Os fatores ambientais podem alterar o comportamento de
forrageio dos pescadores (Begossi 1996, Aswani 1998), sugerindo que a escolha das estratégias de
captura dos pescadores da tainha na praia da Pinheira no sul do Brasil pode ter sido influenciada por
variações espaço-temporais na disponibilidade dos peixes, o que levou os pescadores a visitarem as
áreas de pesca de maior probabilidade de se encontrar peixes. Nessas áreas os pescadores utilizaram
técnicas de sondagem para encontrar lugares de maior produtividade. Essas técnicas foram utilizadas
pelos pescadores da praia da Pinheira no ano de 2007 e são descritas por Severo (2008). A técnica de
82
sondagem dos pescadores da tainha (caceio) consiste em colocar apenas uma pequena parte da rede no
mar, por um curto período de tempo, para que se tenha uma estimativa da quantidade de peixe no local
(Severo 2008). De acordo com informações dos pescadores que utilizaram a técnica do caceio para as
capturas da tainha, o esforço de captura pode ter variado conforme o tamanho dos cardumes
encontrados e da quantidade de tripulantes nas embarcações, assim, quanto maior o cardume
encontrado, maior o tempo gasto na área de pesca para cercar e capturar os peixes, da mesma forma
que quanto maior o número de tripulantes (pescadores), menor o tempo gasto para proceder as capturas
independente da distância da área de pesca.
Na técnica do caceio para as capturas da corvina e da anchova, a escolha das estratégias
utilizadas e decisões tomadas quanto ao esforço de captura não sofreram influência do tempo de
viagem até as áreas de pesca. A relação custo-benefício na captura desses peixes foi avaliada pelos
pescadores através dos métodos de sondagem nos lugares de maior probabilidade de encontrar peixes,
como próximo a ilhas e parcéis (rochas submersas). Para a pesca da corvina, peixe de fundo e pouco
visível, os pescadores utilizam a técnica de sondagem citada para a captura da tainha além de outra
que consiste na escuta dos sons produzidos pelos peixes utilizando um longo tubo de pvc que é
colocado na água. Para a anchova são observados os bandos de aves marinhas que sobrevoam os
agrupamentos desse peixe para comerem as sobras de pequenos peixes que são predados pela anchova
(Severo 2008). Conforme informação dos pescadores, essas sondagens são realizadas em qualquer
área de pesca, independente da distância do “lugar central”, sugerindo que a escolha das estratégias e
as decisões dos pescadores para maximizar as capturas sofreram influências de variações imediatas na
disponibilidade dos peixes no ambiente, avaliadas através das técnicas de sondagem, e do
conhecimento sobre o comportamento das espécies de peixes de relevância comercial (tainha, corvina
e anchova).
A baixa influência do esforço de captura sobre a biomassa de corvinas e anchovas capturadas
pode também ter sido o reflexo de variações na disponibilidade desses peixes no ambiente. Isso
83
explicaria o baixo retorno em termos de biomassa de peixe capturado, mesmo quando um maior
esforço de captura (maior tempo de permanência das redes nas áreas de pesca) foi empregado pelos
pescadores de caceio da praia da Pinheira em algumas viagens de pesca. Pescadores das ilhas Solomon
também gastam mais tempo em pontos de pesca menos produtivos na tentativa de compensar essa
baixa produtividade e aumentar a eficiência do forrageio (Aswani 1998). Por outro lado, as técnicas de
sondagem utilizadas podem ter minimizado a falta de visibilidade sobre o recurso e auxiliado na
escolha de áreas de pesca de maior probabilidade de encontrar os agrupamentos de corvina e anchova,
explicando o maior rendimento obtido com um menor esforço de captura empregado em algumas
viagens de pesca.
Estratégia semelhante foi utilizada por pescadores fluviais no Brasil, que também escolhem
pontos de pesca de acordo com a probabilidade de boas capturas (Begossi et al. 2005) e por
pescadores marinhos europeus dos Mares Norte e Céltico, que aproveitam o conhecimento adquirido
em viagens anteriores sobre as áreas de pesca com alta densidade de peixes para aumentar a eficiência
de forrageio futuro (Marchal et al. 2007). Pescadores de corvina (M. furnieri) no litoral do Uruguai
concentram a atividade pesqueira nos períodos em que os ventos predominantes favorecem a migração
dos peixes do mar para o estuário, sendo que esses pescadores inclusive provam do sedimento para
checar a salinidade da água (Norbis 1995). Possuir um conhecimento sobre os hábitats e hábitos de
vida dos peixes pode ser útil na escolha de áreas de pesca de maior produtividade. Pescadores
artesanais normalmente exibem um detalhado conhecimento sobre os hábitats ou sobre a localização
de agregações reprodutivas e cardumes formados por espécies de peixes de importância comercial
(Paz e Begossi 1996; Costa-Neto e Marques 2000; Silvano e Begossi 2002, 2005; Gerhardinger et al.
2006).
Para a técnica do fundeio, a escolha das estratégias e as decisões adotadas pelos pescadores
quanto ao esforço de captura empregado não foram influenciadas pelo tempo de viagem até as áreas de
pesca. Os pescadores escolheram, na maioria das vezes, um esforço de captura de 24 h, independente
84
da distância da área de pesca. Esta decisão evitou a deterioração dos peixes ainda nas redes e foi
satisfatória para a captura das principais espécies comerciais pela técnica do fundeio (pescadas e
abróteas), possibilitando o abastecimento diário do mercado de pesca. Dessa forma, os fatores que
influenciaram as escolhas das estratégias e as decisões referentes ao esforço de captura dos pescadores
da técnica do fundeio, foram o conhecimento sobre áreas de maior probabilidade de encontrar peixes
(como discutido na sessão anterior) e a manutenção da regularidade do mercado de pesca na praia da
Pinheira.
Em contraste com os resultados desse estudo, os modelos de forrageio ótimo a partir do “lugar
central” explicam o comportamento dos pescadores de uma comunidade costeira do sudeste do Brasil
quando capturam camarões, presas de baixa mobilidade e de mais fácil localização que os peixes
(Oliveira 2009). O modelo de forrageio ótimo utilizado neste estudo foi útil para compreender que os
pescadores da praia da Pinheira no sul do Brasil provavelmente utilizaram as áreas de pesca de acordo
com a distribuição espaço-temporal das presas, considerando a captura de peixes relevantes para o
mercado de pesca local. Estudos realizados com pescadores no Peru e na Europa demostram, através
de modelos espaciais explícitos, que a eficiência de forrageio dos barcos de pesca é equivalente a
eficiência de forrageio de outras espécies animais em que o movimento dos predadores costuma seguir
o movimento das presas (Bertrand et al. 2005, 2007; Marchal et al. 2007) e os resultados indicam que
parece ser esse o comportamento dos pescadores da praia da Pinheira no sul do Brasil.
Conclusão
Os pescadores das embarcações de caceio e fundeio da praia da Pinheira, no sul do Brasil,
supostamente alternaram suas visitas entre as áreas de pesca com maior probabilidade de encontrar os
peixes. Esse comportamento garantiu as capturas em um ambiente de imprevisibilidade espaçotemporal e foi responsável pela manutenção do mercado de pesca local no período do estudo.
85
Considerando as diferenças observadas quanto a produtividade e seletividade das duas técnicas
de pesca (caceio e fundeio), é recomendável que os gestores dos recursos reconheçam as diferentes
técnicas de pesca utilizadas pelos pescadores artesanais e consultem esses pescadores sobre o uso do
espaço e a estabilidade espaço-temporal das áreas de maior produtividade e diversidade de peixes.
Essas ações podem gerar informações mais precisas sobre as áreas de pesca que apresentam potencial
para a implantação de áreas marinhas de proteção, além de favorecer a inclusão dos usuários dos
recursos nas políticas de ordenamento da pesca. A implantação de áreas marinhas de proteção requer
definições em escala espaço-temporal que devem agregar além de informações sobre a história de vida
das espécies de peixes, informações sobre o esforço de pesca e a dinâmica espacial das capturas
(Castilla e Defeo 2001).
Tais informações podem ser utilizadas na formulação de regras de manejo condizentes com as
particularidades do setor pesqueiro artesanal, por exemplo, seguindo práticas de co-manejo adaptativo.
O co-manejo se caracteriza por uma divisão de poderes e responsabilidades no ordenamento das
atividades de exploração dos recursos, que ocorre entre os atores envolvidos como os usuários dos
recursos, as agências de gestão e a comunidade científica (Carlsson e Berkes 2005). A estratégia de comanejo segue uma abordagem adaptativa quando modelos alternativos de gestão são testados
considerando mudanças nas condições biológicas, sociais e econômicas (Olsson et al. 2004). Uma
opção poderia ser a proposta por Aswani (1998) em um estudo com pescadores das ilhas Solomon, que
em períodos de alta produtividade abandonam mais rapidamente os pontos de pesca ao
experimentarem o decréscimo nas capturas de peixes, o que pode evitar a sobreexploração dos peixes.
O estudo sugere que os gestores dos recursos considerem o movimento sazonal desses pescadores
entre as áreas e pontos de pesca, que é explicado pelo modelo de forrageio ótimo em manchas de
recursos (Aswani 1998). De qualquer forma, quando a estratégia de co-manejo segue um modelo
adaptativo, deve ser testada e avaliada em conjunto com a comunidade, na busca de um arranjo que
melhor se adapte as constantes mudanças no sistema ecológico, social e econômico. Essas decisões
86
podem evitar os conflitos sociais, além de promover a conservação das espécies de peixes e a
manutenção das atividades de pesca.
Agradecimentos
A realização deste estudo foi possível através da participação da comunidade de pescadores
da praia da Pinheira no sul do Brasil e do auxílio financeiro obtido através da bolsa de doutoramento
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os autores agradecem
aos Drs. Alpina Begossi, Clarice B. Fialho e Fernando G. Becker, pelas críticas e sugestões
incorporadas na versão final deste manuscrito e a bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) para Sandra M. Hartz (304036/2007-2).
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92
Tabelas
Tabela 1. Tecnologias de pesca (tipo de embarcações, motor e petrechos), profundidade de exploração
e número de embarcações (N) para as técnicas utilizadas na captura dos peixes na praia da Pinheira,
litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007.
Técnicas de pesca
Profundidade do local
Embarcações
N
Petrechos
bateiras a menores e
19
redes de emalhar fixas
de atividade
Fundeio
20 a 40 metros
baleeiras b
fundeadas ou ancoradas
motor de 5 a 22 hp
(de superfície e de
fundo)
Caceio
Arrasto de praia e
40 a 60 metros
bateiras maiores
8
redes de captura com
motor de 45 a 90
e sem emalhe d (caça
hp
de malha e traineira)
canoas c à remo
8
Cerco móvel
Total
redes de captura
sem emalhe
35
a
bateiras são embarcações pequenas de fundo plano e sem quilha (http://pt.wikilingue.com/es/bateira).
b
baleeiras são embarcações pequenas e com quilha (Pacheco 2009).
c
embarcações de origem indígena feitas de um único tronco de árvore (Severo 2008).
d
redes de pesca que cercam os peixes e quando são puxadas, fecham a parte de baixo onde se encontra um
“sacador” que é um pedaço de rede pequeno onde o peixe fica preso. Geralmente é puxada manualmente, mas
pode ser observado o uso de um sistema hidráulico para retirar a rede da água.
93
Tabela 2. Valores sazonais da biomassa total (kg) para cada espécie de peixe capturada e número total
de viagens de pesca para as técnicas de pesca de expressivo valor econômico (C=caceio, F=fundeio)
na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007.
Famílias/Espécies
Nome popular
Fev
Mai
Ago
Nov
Total
C
F
C
F
C
F
C
F
C
F
15
-
18105
7
-
-
-
-
18120
7
anchova
-
65
-
51,4
7249
757
-
133
7249
1006
Micropogonias furnieri a
corvina
215
156
3250
18,8
29,3
399
-
63,5
3494
637,3
Cynoscion acoupa, Cynoscion
pescada amarela,
leiarchus, Cynoscion virescens,
branca, cambucu,
Cynoscion jamaicensis, Isopishtus
goete, pescadinha
-
937
-
65,1
45
1738
-
174
45
2914
papa-terra
-
79,4
-
42,7
-
246
-
105
-
473
maria luísa
-
-
-
23,4
-
23,5
-
11,7
-
58,6
abróteas
-
93,7
-
11,6
20
1435
-
52,6
20
1593
-
295
-
6,9
3
75,6
-
87,5
3
465
linguado
-
63,1
0,9
23,4
1
224
-
71,2
1,9
381
robalo
-
31
-
0,3
1,5
-
-
1,6
1,5
32,9
garoupa
-
12,4
-
0,3
0,8
31,2
-
0,6
0,8
44,5
Família Mugilidae
Mugil platanus, Mugil curema
tainha, parati
Família Pomatomidae
Pomatomus saltatrix
Família Scianidae
parvipinnis
Menticirrhus americanus,
Menticirrhus littoralis
Paralonchurus brasiliensis
Família Gadidae
Urophycis brasiliensis, Urophycis
mystaceus
Família Pomadasyidae
Pomadasys corvinaeformes;
cocoroca,
Conodon nobilis; Haemulon
roncador,
aurolineatum
cocoroca boca
vermelha
Família Paralichthyidae
Paralichthys brasiliensis
Família Centropomidae
Centropomus parallelus
Família Serranidae
Epinephelus sp.
94
Tabela 2. Continuação.
Famílias/Espécies
Nome popular
Fev
Mai
Ago
Nov
Total
C
F
C
F
C
F
C
F
C
F
marimbau
-
20,7
-
0,2
2,5
-
-
43,1
2,5
64
espada
-
2,3
-
26,5
23
115
-
19
23
163
bagre
-
27,5
-
9
-
68,6
-
1,5
-
106,6
savelha
-
-
-
-
8,1
76,8
-
-
8,1
76,8
tubarão martelo
-
0,4
111
193
2,5
12,5
-
41
113,5
246,9
Sympterygia acuta
raia-emplastro
-
59
-
-
4
-
-
48,3
4
107,3
Raja Agassizi
raia santa
-
20,3
0,4
-
4
61,2
-
-
4,4
81,5
raia viola
-
122
-
-
-
2,5
-
139
-
263,5
azeiteiro
-
70,1
34
18
12,7
21
-
30,9
46,7
140
-
65,1
3,75
38,5
30
27,6
-
64,1
33,7
195,3
230
2120
21505
536,1
7436
5314
-
1088
29171
9057
2
46
63
20
34
70
-
50
99
186
Família Sparidae
Diplodus argentus
Família Trichiuridae
Trichiurus lepturus
Família Ariidae
Genidens genidens
Família Clupeidae
Brevoortia pectinata
Família Sphyrnidae
Sphyrna zygaena
Família Rajidae
Família Rhinobatidae
Rhinobatos horkelli
Família Carcharhinidae
Carcharhinus porosus
Outros b
TOTAL (kg)
Nº total de viagens de pesca
a
Micropogonias furnieri: No caceio peixes de grande porte, no fundeio peixes de pequeno porte conhecidos localmente por
corvinota.
b
41 Espécies com menos de 500g no total das viagens: Família Myliobatidae: Myliobatis goodei (raia sapo). Família
Rajidae: Raja castelnaui (raia chita). Família Gymnuridae: Gymnura altavela (raia borboleta). Famíla Carcharhinidae:
Carcharhinus limbatus (cação galha preta). Família Ephippididae: Chaetodipterus faber (paru). Família Pomadasyidae:
Anisotremus virginicus (salesma), Anisotremus surinamensis (saugo). Família Uranoscopidae: Astrocopus ygraecum,
Astroscopus sexspinosus (lambra). Família Balistidae: Balistes capriscus (porquinho). Família Serranidae: Epinephelus
flavolimbatus (cherne), Mycteroperca microleps (badejo). Família Sciaenidae: Umbrina canosai (castanha), Larimus
breviceps (oveva), Stellifer stellife (cangoá). Família Muraenidae: Echidna catenata (moréia). Família Carangidae:
95
Caranx latus (xerelete), Parona signata (peixe tábua), Oligoplites saliens (guaivira), Chloroscombrus chrysurus (palombeta),
Trachinotus marginatus (pampo malhado), Trachinotus carolinus (pampo liso). Família Mullidae: Pseudupeneus maculatus
(trilha), Pseudopeneus maculatus (salmonete). Família Scombridae: Scomber colias (cavalinha), Scomberomorus
brasiliensis (sororoca). Família Tetraodontidae: Sphoeroides testudineus (baiacu). Família Diodontidae: Diodon histrix
(baiacu de espinho). Família Atherinidae: Odontesthes sp. (peixe rei). Família Kyphosidae: Kyphosus incisor (pirajica).
Família Sphyraenidae: Sphyrraena tome (bicuda). Família Dactylopteridae: Dactylopterus volitans (coió). Família
Lutjanidae: Lutjanus sp. (cioba). Família Holocentridae: Myripristis jacobus (fogueira). Família Fistulariidae: Fistularia
petimba (trombeta). Família Priacanthidae: Priacanthus arenatus (olho de cão). Família Gerreidae: Eucinostomus
argenteus (carapicu), Diapterus rhombeus (carapeba). Família Ophidiidae: Raneya Fluminensis (congro-rosa). Família
Triglidae: Prionotus punctatus (cabrinha). Família Stromateidae: Peprilus paru (gordinho).
96
Tabela 3. Média e valores sazonais dos índices de diversidade de Shannon-Wienner (H’) para as
técnicas de pesca (caceio e fundeio) utilizadas na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano de
2007.
Fevereiro
Maio
Agosto
Novembro a
média
Caceio
0,46
0,48
0,20
-
0,38
Fundeio
2,26
2,34
2,02
2,80
2,34
Técnicas de pesca
a
A técnica do caceio não foi utilizada no mês de novembro no período amostral.
97
Tabela 4. Dados das viagens de pesca para as técnicas caceio e fundeio da pesca artesanal na praia da
Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007. ITI=Ilhas Três Irmãs, IPA=Ilha dos Papagaios,
PP=praia da Pinheira, PC=Praia de cima, PR=Prainha, GE=Guarda do Embaú, GA=Gamboa.
Variáveis das viagens de pesca
Caceio
Fundeio
Número de viagens de pesca
99
186
Número total de áreas de pesca visitadas
3
9
RT
ITI, IPA, PP, PC,
Áreas de pesca exclusivas a
PR, GE, GA
Tempo de viagem (horas) b
4,6 ± 4,5
0,7 ± 0,2
Tempo de permanência na área de pesca (horas) b
6,4 ± 6,8
26,4 ± 10,9
a
Áreas de pesca utilizadas unicamente por pescadores da técnica do ceceio ou fundeio.
b
Média ± desvio padrão.
98
Legendas das figuras
Figura 1. Mapa da América do sul com indicação da região sul do Brasil; (A) Praia da Pinheira e áreas
de pesca: ITI - Ilhas Três Irmãs, IPA – Ilha dos Papagaios, PP – praia da Pinheira, PC – Praia de Cima,
PR – Prainha, GE – Guarda do Embaú, GA – Gamboa, ICO – Ilha dos Corais, RT – Rota da tainha,
IMO – Ilhas Moleques do Sul; (B) Área de saída das embarcações de pesca.
Distribuição sazonal dos valores médios diários da produtividade pesqueira (CPUE) para
cada técnica de captura utilizada na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007
(n=10 dias/mês).
Figura 3. Freqüência sazonal das viagens de pesca para as áreas de pesca utilizadas pelas embarcações
das técnicas caceio e fundeio, na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007. (RT)
Rota da tainha, (IMO) Ilhas Moleques do Sul, (ICO) Ilha dos Corais, (GA) Gamboa, (ITI) Ilhas Três
Irmãs, (GE) Guarda do Embaú, (PR) Prainha, (PC) Praia de Cima, (IPA) Ilha dos Papagaios, (PP)
praia da Pinheira. km=distância da área de saída das embarcações até as áreas de pesca (estimado
através do Google Earth).
Figura 4. Análises de regressão linear simples entre a biomassa de peixes capturados (kg) e o tempo
de viagem (h) e entre o tempo de permanência na área de pesca (h) e o tempo de viagem (h), para a
técnica de pesca do caceio, utilizada para as capturas de Mugil platanus (tainha), Micropogonias
furnieri (corvina) e Pomatomus saltatrix (anchova) na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante
no ano de 2007. (n=99 viagens de pesca).
99
Figura 5. Análise de regressão entre a biomassa capturada (kg) e o tempo de viagem até as áreas de
pesca (h) para as capturas de Mugil platanus (tainha) com a técnica de pesca caceio na praia da
Pinheira, litoral sul do Brasil, durante o ano de 2007. (n=52 viagens de pesca)
Figura 6. Análise de regressão entre a biomassa capturada (kg) e o tempo de permanência na área de
pesca (h), para a técnica de pesca do caceio utilizada para as capturas de Micropogonias furnieri
(corvina) e Pomatomus saltatrix (anchova), na praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, durante no ano
de 2007. (n=47 viagens de pesca)
100
Figuras
Fig. 1
101
Fig. 2
102
Fig. 3
103
Fig. 4
104
Fig. 5
105
Fig. 6
106
Etnoictiologia e biologia de peixes costeiros no sul do Brasil
D.M.NUNES, S.M.HARTZ e R.M.A.SILVANO
PPG-Depto. Ecologia, UFRGS, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil
e-mail: dan7_7@hotmail.com
107
Etnoictiologia e biologia de peixes costeiros no sul do Brasil
Resumo Este estudo visa registrar o conhecimento ecológico local (CEL) sobre aspectos relacionados
à abundância, período de reprodução e dieta de cinco peixes, comparando duas comunidades de
pescadores do sul do Brasil que apresentam características diferentes: uma pratica a pesca de
subsistência e a outra se dedica à pesca comercial. Nos anos de 2007 e 2008 foram realizadas
entrevistas através de questionários padronizados semi-estruturados com os pescadores das duas
comunidades, Guarda do Embaú (n=28) e praia da Pinheira (n=31), que possuíam mais de dez anos de
experiência de pesca. Também foram coletados, junto aos pescadores, peixes de cinco das espécies
abordadas nas entrevistas para análise biológica da reprodução e dieta, a fim de comparar a biologia
dos peixes com o CEL dos pescadores. Os pescadores das duas comunidades mostraram um detalhado
conhecimento sobre a abundância e a alimentação dos peixes, o qual esteve de acordo com a literatura
científica e com os estudos biológicos. Os fatores que influenciaram esse conhecimento foram a
abundância dos peixes na praia da Guarda do Embaú e a utilidade dos peixes na praia da Pinheira.
Foram encontradas diferenças no CEL dos pescadores quanto ao período de reprodução da anchova
(Pomatomus saltatrix) quando comparadas ambas as comunidades. As informações obtidas poderão
subsidiar um maior diálogo entre as agências de ordenamento da pesca e os usuários dos recursos,
além de gerarem novas informações científicas.
Palavras-chave: dieta de peixes, ecologia de peixes, ecologia humana, manejo pesqueiro, peixes
marinhos, pescadores artesanais, reprodução de peixes.
Introdução
Como uma área da ecologia humana, a etnobiologia busca entender como o mundo é percebido,
conhecido e classificado por diversas culturas humanas (Begossi, 1993). Uma revisão histórica sobre
os estudos de etnobiologia em diferentes áreas pode ser encontrada em Begossi (1993), Mourão &
108
Nordi (2002a), Begossi et al. (2004) e Silvano et al. (2009). As discussões sobre as classificações
etnobiológicas geralmente tem seguido duas correntes: a utilitarista e a cognitivista ou intelectualista.
A visão utilitarista defende a idéia de que os usuários dos recursos conhecem mais sobre aquelas
espécies que lhes são mais úteis (Hunn, 1982). Enquanto que a visão cognitivista ou intelectualista
segue o princípio de que os usuários dos recursos conhecem mais sobre as espécies acerca das quais
possuem maior curiosidade por serem mais salientes ou perceptíveis no ambiente, devido a sua
abundância ou tamanho, dentre outras características (Berlin, 1992). Outros autores argumentam que
os fatores que influenciam o conhecimento dos usuários sobre os recursos podem ocorrer
simultaneamente, no qual os usuários apresentam um maior conhecimento tanto sobre as espécies
úteis, como sobre as espécies abundantes, ou que despertam maior curiosidade (Clément, 1995;
Nazarea, 1999; Mourão & Nordi, 2003).
A etnoictiologia, que se destina ao registro e estudo do conhecimento ecológico local (CEL) de
pescadores sobre as espécies de peixes, é uma área específica da etnobiologia. A partir de um dos
estudos pioneiros em etnoictiologia com pescadores caribenhos (Morril, 1967), os pesquisadores vêm
constatando que os conhecimentos adquiridos pelas comunidades locais de pescadores, advindos de
longos anos de experiência com as atividades de exploração dos recursos (Johannes, 1994),
apresentam muitos detalhes e muitas vezes estão de acordo com o conhecimento científico (Silvano &
Valbo-Jørgensen, 2008; Silvano et al., 2008).
Em um contexto mais global, existem estudos comparando o CEL de pescadores brasileiros
com aborígenes australianos sobre períodos de atividade, migração, hábitats, dieta e estações
reprodutivas de uma espécie de peixe costeiro comercial (Silvano & Begossi, 2005) além do estudo
realizado com pescadores asiáticos do Rio Mekong sobre migração e reprodução de peixes (ValboJørgensen & Poulsen, 2000). Outro estudo realizado nas Ilhas Solomon (Pacífico), que sugere a
integração do CEL e da ciência marinha para a identificação de hábitats e espécies que necessitam
serem manejadas (Aswani & Hamilton, 2004).
109
Um dos estudos de etnoictiologia pioneiros no Brasil inclui comparações entre o conhecimento
científico e o CEL dos pescadores sobre os aspectos morfológicos, alimentares, hábitats, entre outros
aspectos biológicos dos peixes (Marques, 1991). Outros estudos de etnoictiologia têm sido
desenvolvidos no Brasil no campo da etnotaxonomia (Begossi & Figueiredo, 1995; Paz & Begossi,
1996; Mourão & Nordi, 2002a,b); dieta e hábitats de peixes (Paz & Begossi, 1996); distribuição
espacial e temporal (Costa-Neto & Marques, 2000; Moura & Marques, 2007); teias alimentares,
hábitats, migração, reprodução e ocorrência sazonal das espécies (Silvano & Begossi, 2002); hábitos
alimentares e a utilização medicinal dos peixes (Seixas & Begossi, 2001); comportamentos
reprodutivos, alimentares, migratórios e de defesa dos peixes (Mourão & Nordi, 2003; Gerhardinger et
al., 2006; Silvano et al., 2006). Algumas vezes podem ocorrer discordâncias entre o CEL dos
pescadores e o conhecimento científico (Costa-Doria, et al., 2008; Silvano et al., 2008; Silvano &
Begossi, 2010), no entanto tais discordâncias podem levar a investigações mais profundas a partir do
conhecimento dos pescadores, gerando novas descobertas que podem melhorar o diálogo entre
pescadores e cientistas (Silvano & Valbo-Jørgensen, 2008) além de sugerirem ajustes nas políticas de
gestão dos recursos pesqueiros (Costa-Doria et al., 2008).
Pesquisadores da área da etnoictiologia têm se preocupado com a perda do CEL de populações
tradicionais decorrente do declínio da pesca como atividade principal, provocado pelo avanço
tecnológico, pela invasão de novas culturas (Johannes, 1978) e pelas alterações nas atividades
econômicas. Registrar o conhecimento que as populações tradicionais detêm sobre os recursos
explorados permite preservar as diferenças culturais e aumentar a credibilidade dos usuários dos
recursos na formulação de normas de ordenamento. Além disso, o registro do conhecimento local
facilita a produção de novas informações aos registros técnicos de forma rápida e específica para cada
região, quando o tempo não permite a realização de análises científicas sistematizadas, como o
monitoramento da abundância das espécies. Também permite a obtenção de informações sobre a
eficiência das normas de ordenamento impostas pelas agências ambientais. Em outros estudos,
110
argumenta-se que o CEL dos pescadores possa ser documentado considerando seu potencial uso para a
conservação dos peixes (Johannes et al., 2000; Silvano & Begossi, 2002; Silvano et al., 2006, 2008;
Gerhardinger et al., 2006).
Na região sul do Brasil, encontram-se comunidades locais ou tradicionais que fazem da pesca
sua principal atividade econômica ou que possuem uma longa tradição na exploração dos peixes como
uma forma de lazer e de manter a subsistência (Medeiros, 2001; Peterson, 2008; Severo, 2008).
Algumas dessas comunidades se estabeleceram em regiões costeiras que hoje fazem parte de Unidades
de Conservação (UC), como as comunidades de pescadores da praia da Guarda do Embaú e praia da
Pinheira, que ocupam a região costeira do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, no estado de Santa
Catarina. A partir dos anos 70, com a criação das principais rodovias federais, essas duas comunidades
de pescadores vêm sofrendo as influências do crescimento econômico e da expansão turística de uma
forma desigual.
No intuito de compreender o conhecimento ecológico local sobre os peixes e sua interação com
a atividade de pesca em duas comunidades de pescadores localizadas na região costeira de uma UC do
sul do Brasil, este estudo se propôs a responder as seguintes perguntas: 1.Quais os fatores que
influenciam a aquisição e manutenção do conhecimento ecológico local (CEL) sobre os peixes entre os
pescadores da praia da Guarda do Embaú e praia da Pinheira? 2.O CEL dos pescadores das duas
comunidades sobre a biologia reprodutiva e alimentar dos peixes é condizente com a literatura
científica? 3. Existem diferenças no CEL dos pescadores referente à biologia alimentar e reprodutiva
dos peixes, comparando-se duas comunidades com diferentes motivações para a atividade de pesca
(subsistência e econômico)?
Para responder essas perguntas este estudo teve como objetivos: 1. Verificar diferenças no CEL
dos pescadores entre as espécies de peixes e entre os aspectos biológicos dos peixes, que indiquem os
fatores que influenciam a aquisição e manutenção do CEL; 2. Comparar o CEL dos pescadores com a
literatura científica; 3. Analisar, através de estudos biológicos convencionais, os aspectos reprodutivos
111
e alimentares de algumas espécies de peixes para compará-los ao CEL dos pescadores; 4. Comparar o
CEL entre as duas comunidades de pesca artesanal (de subsistência e comercial).
Três hipóteses foram levantadas: 1. O CEL dos pescadores é possivelmente influenciado por
dois fatores que atuam em conjunto: a utilidade e a abundância dos peixes; 2. O CEL dos pescadores
deve condizer com o conhecimento científico; 3. O CEL dos pescadores comerciais da praia da
Pinheira referente à biologia das espécies de peixes deve ser mais detalhado do que o CEL dos
pescadores da praia da Guarda do Embaú, local em que o aumento do turismo substituiu a pesca como
atividade econômica principal.
Material e métodos
Área de estudo
Este estudo foi realizado em duas comunidades de pescadores nas praias da Guarda do Embaú
e praia da Pinheira, localizadas na região costeira do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, no estado
de Santa Catarina, sul do Brasil (Fig. 1).
A atividade pesqueira na praia da Guarda do Embaú passou a ser essencialmente de
subsistência a partir dos últimos trinta anos, quando a economia local se voltou para o turismo. A
comunidade da praia da Guarda do Embaú foi a primeira, comparando com a praia da Pinheira, a se
abrir completamente à expansão turística. Com a ampliação das rodovias, muitos turistas em busca de
boas condições para a prática de esportes náuticos, como o surfe, começaram a freqüentar a praia da
Guarda do Embaú com maior freqüência e em maior número, direcionando a economia do local para o
turismo (informação de um pescador local que presenciou essa transformação). Os pescadores dessa
pequena comunidade foram então aderindo às novas e mais rentáveis oportunidades econômicas, como
o aluguel de casas, a construção de pousadas e restaurantes. Somente no ano de 2008 o último
pescador da comunidade, mais resistente a essas mudanças econômicas, acabou se rendendo e
transformou sua garagem de embarcações em um bar bastante rústico à beira do Rio da Madre para
112
atender ao turismo. Os pescadores da praia da Guarda do Embaú passaram a capturar os peixes apenas
para a subsistência das famílias, utilizando tarrafas, petrechos de linha e anzol e também redes de cerco
móvel. Os peixes alvo preferenciais desses pescadores são os mugilídeos: Mugil platanus e Mugil
curema (Nunes, 2010).
Os pescadores da praia da Pinheira desenvolvem a pesca artesanal com o uso de embarcações e
de forma diferente ao observado na comunidade da praia da Guarda do Embaú, realizam a atividade da
pesca com finalidades econômicas através do mercado formal, negociando com as peixarias, e do
informal, com a venda direta ao consumidor (turista ou morador local) na chegada das embarcações
(Nunes, 2010). Os peixes mais comercializados são as pescadas (Cynoscion acoupa, Cynoscion
leiarchus, Cynoscion virescens, Cynoscion jamaicensis, Isopishtus parvipinnis), abrótea (Urophycis
brasiliensis), raia viola (Rhinobatos horkelli), tainha (Mugil platanus) e anchova (Pomatomus
saltatrix).
Amostragem e procedimentos estatísticos
Etnoictiologia
Para identificar os pescadores das duas comunidades, foram realizadas entrevistas baseadas em
um questionário sócio-econômico onde foram registradas as informações sobre o local de procedência
do pescador, a idade, o tempo de experiência na atividade de pesca, com quem aprendeu a pescar e se
possuía algum descendente atuando na pesca (filho, sobrinho ou neto).
A escolha dos critérios para a seleção dos informantes (pescadores entrevistados) e as
entrevistas realizadas a fim de se registrar o conhecimento ecológico local dos pescadores nas
comunidades estudadas seguiram os métodos descritos em Huntington (2000). Os informantes das
comunidades estudadas foram selecionados conforme os seguintes critérios: para a comunidade da
praia da Guarda do Embaú foram escolhidos os 30 integrantes da Associação de Pescadores da Guarda
do Embaú (APGE), composta por indivíduos das principais famílias tradicionais da comunidade, além
113
de dois pescadores locais que foram apontados por outros integrantes da comunidade como sendo
conhecedores da biologia dos peixes, totalizando 32 pescadores selecionados. Do total, 28 pescadores
consentiram em participar da pesquisa, todos do sexo masculino. Nessa comunidade as mulheres não
pescam e por isso não foram incluídas no estudo de etnoictiologia.
Para a praia da Pinheira foram selecionados os pescadores residentes no local, observados com
maior regularidade na atividade da pesca durante os anos de 2007 e 2008 e com mais de 10 anos de
experiência na atividade. Foram selecionados para as entrevistas os donos das embarcações e os
tripulantes da mesma família (n=34), além de três pescadores aposentados que estavam sempre
presentes na chegada das embarcações, os quais foram apontados pela comunidade local como
conhecedores da biologia dos peixes. Não foram incluídos no estudo os tripulantes das embarcações de
pesca que trabalhavam também na pesca industrial em outras regiões, para evitar que o conhecimento
registrado sofresse influência de informações adquiridas em outras localidades. Dos 37 pescadores
selecionados conforme os critérios acima, 31 homens consentiram em participar da pesquisa. Nessa
comunidade apenas uma mulher participou da pesca, porém não foi incluída no estudo, por ser
tripulante eventual das embarcações.
Os critérios adotados para a escolha das espécies de peixes para os estudos de etnoictiologia
foram: espécies com nenhuma ou com muita relevância econômica, espécies raras e comuns, espécies
que ocupam diferentes habitats, espécies com pouca informação científica disponível e espécies
ameaçadas de extinção. As comparações entre essa variedade de critérios sobre a biologia e
conservação dos peixes permitem sugerir alguns fatores que influenciam a aquisição e manutenção do
conhecimento dos pescadores (Silvano & Begossi, 2002). Para a comunidade da praia da Guarda do
Embaú foram utilizadas sete espécies de peixes das 22 capturadas na pesca e para a praia da Pinheira
foram utilizadas 13 espécies de peixes das 68 capturadas na pesca (Nunes, 2010). Cinco espécies de
peixes foram comuns para ambas as comunidades, sendo quatro peixes de importância econômica e
sabor apreciado e uma espécie de pouca importância, utilizada regularmente como isca para a captura
114
de peixes. As espécies de peixes de importância econômica e sabor apreciado foram: a tainha (Mugil
platanus), a anchova (Pomatomus saltatrix), a garoupa (Epinephelus sp.) e o parati (Mugil curema), a
espécie de peixe de pouca importância, utilizada como isca, foi a guaivira (Oligoplites saliens). As
demais espécies de peixes utilizadas nos estudos de etnoictiologia podem ser verificadas na Tabela 2.
Os peixes foram apresentados aos pescadores através de fotos coloridas, organizadas
aleatoriamente e sempre na mesma ordem, assim como utilizado em outros estudos (Silvano &
Begossi, 2002, 2005; Silvano et al., 2006). A consistência e validade das respostas dos pescadores
foram checadas através de dois métodos: o “grupo de fora”, no qual foi incluída a fotografia de uma
espécie de peixe de outro ecossistema, esperando que a mesma não fosse reconhecida pelos
pescadores. A espécie utilizada na validação das respostas foi Cyphocharax voga, um peixe de água
doce pertencente a uma bacia hidrográfica de outra região. O segundo método utilizado para checagem
das respostas foi o da checagem horizontal, na qual a mesma pergunta foi feita para pessoas diferentes
em tempos bastante próximos (Marques, 1991), obtendo assim informações qualitativas e também
quantitativas. As entrevistas foram baseadas em um questionário padronizado, semi-estruturado,
organizado em linguagem compreensível ao pescador, com perguntas sobre a identificação do peixe,
utilidade, padrões temporais na abundância dos peixes, aspectos reprodutivos e alimentares:
1. Que peixe é este? ( ) não sabe responder
2. Para que serve este peixe?
3. A quantidade deste peixe diminuiu com o passar dos anos? ( ) não sabe responder
4. Quando este peixe aparece ovado? ( ) não sabe responder
5. O que este peixe come? ( ) não sabe responder
O conhecimento dos pescadores sobre os peixes foi utilizado para as análises quantitativas e
qualitativas somente se o pescador reconheceu o peixe apresentado respondendo a primeira pergunta e
se o pescador não reconheceu o peixe utilizado para a checagem das respostas através do método do
“grupo de fora”. Desta forma o número de pescadores entrevistados não foi o mesmo para todas as
115
espécies com relação ao conhecimento etnoictiológico. Os resultados das três primeiras perguntas
foram organizados em uma tabela junto com as informações quantitativas das capturas dos peixes
obtidas em estudo prévio através dos valores da captura por unidade de esforço (CPUE) (Nunes,
2010).
Foram testadas as diferenças nos números de dúvidas dos pescadores (incertezas no
conhecimento) entre as espécies de peixes através do qui-quadrado (χ2) para cada comunidade de
pescadores como realizado em estudo no rio Piracicaba, sudeste do Brasil (Silvano & Begossi, 2002).
A fim de verificar quais os fatores (utilidade e abundância) que influenciaram a aquisição e
manutenção do CEL dos pescadores das duas comunidades, foi verificada a associação através da
correlação linear de Pearson (Gotelli & Ellison, 2004), entre o número de dúvidas dos pescadores e as
variáveis: utilidade e disponibilidade dos peixes. A utilidade dos peixes para os pescadores das duas
comunidades foi medida através da porcentagem de respostas dos pescadores entrevistados sobre o uso
dos peixes (venda, consumo e isca), a abundância dos peixes foi obtida através dos valores da captura
por unidade de esforço (CPUE), registrados em Nunes (2010). Foi esperada uma relação negativa entre
as variáveis, na qual os pescadores apresentariam um maior número de dúvidas sobre as espécies
menos úteis e menos disponíveis (abundantes). Estas análises foram realizadas para as duas
comunidades de pescadores separadamente, considerando as diferenças na utilidade dos peixes entre
esses dois locais. Para a praia da Guarda do Embaú, onde a pesca é essencialmente de subsistência, foi
considerada a porcentagem de respostas dos pescadores que indicaram o uso dos peixes para o
consumo. Para a praia da Pinheira, onde a pesca é atividade econômica, foi considerada a porcentagem
de respostas dos pescadores que indicaram o uso dos peixes para a venda no mercado de pesca.
Para verificar se existe diferença no CEL dos pescadores das duas comunidades entre os
aspectos da biologia dos peixes (reprodução e alimentação) foram testadas as diferenças através de
teste t, no número médio de dúvidas dos pescadores sobre a reprodução e alimentação dos peixes.
116
Foram organizadas tabelas, adaptadas de Marques (1991), relacionando as respostas dos
pescadores com as informações da literatura científica e da biologia reprodutiva e alimentar dos peixes
obtidas neste estudo, a fim de checar a hipótese de que o CEL dos pescadores corresponde ao
conhecimento científico. As tabelas que comparam o conhecimento dos pescadores e os dados da
literatura científica foram organizadas na mesma ordem em que as fotografias dos peixes foram
apresentadas aos entrevistados. Os resultados dos períodos relevantes para a atividade reprodutiva dos
peixes segundo os pescadores e segundo os estudos biológicos, foram organizados em estações do ano:
verão (dezembro, janeiro e fevereiro); outono (março, abril e maio); inverno (junho, julho e agosto) e
primavera (setembro, outubro e novembro).
A fim de comparar o CEL dos pescadores entre as duas comunidades, foram verificadas
diferenças entre as médias dos números de dúvidas dos pescadores sobre os aspectos biológicos
(reprodução e alimentação) considerando todas as espécies de peixes, através do teste t (Gotelli &
Ellison, 2004). Foram verificadas as diferenças entre os números de dúvidas dos pescadores referente
aos aspectos biológicos (reprodução e alimentação) das cinco espécies de peixes comuns a ambas as
comunidades de pescadores, através do qui-quadrado (χ2). As diferenças do CEL dos pescadores entre
as duas comunidades também foram verificadas através de comparações qualitativas entre as respostas
sobre os aspectos da biologia reprodutiva e alimentar dos peixes.
Biologia dos peixes
Os peixes foram adquiridos junto aos pescadores na chegada das embarcações na praia da
Pinheira nos meses de fevereiro (verão), maio (outono), agosto (inverno) e novembro (primavera) nos
anos de 2007 e 2008. Não foram adquiridos peixes na praia da Guarda do Embaú para as análises dos
aspectos da biologia, porque nesta praia os pescadores capturam os peixes para o consumo próprio e
não o comercializam (Nunes, 2010), o que dificultou a aquisição de exemplares das espécies de peixes
nesta localidade, durante o período da pesquisa. A escolha dos peixes para as análises da biologia
117
reprodutiva e alimentar, dentre aqueles escolhidos para os estudos de etnoictiologia, seguiu os
seguintes critérios: peixes de relevância econômica, de hábitos demersais e pelágicos (Micropogonias
furnieri, Menticirrhus americanus, Diplodus argentus, Caranx latus) e com pouca informação
disponível na literatura científica (Astroscopus sexspinosus) (Fig. 2). A espécie Carax latus foi
analisada apenas quanto ao conteúdo estomacal em função de terem sido capturados apenas indivíduos
jovens em dois meses da pesquisa, impossibilitando as análises da atividade reprodutiva. Os
exemplares foram identificados conforme Figueiredo (1977), Figueiredo & Menezes (1978, 1980),
Menezes & Figueiredo (1980, 1985), Szpilman (1992, 2000), Carvalho-Filho (1999), Figueiredo et al.
(2002) e depositados na coleção do Laboratório de Ictiologia da UFRGS sob os números: 10874,
10875, 10876, 10877, 10880. De cada indivíduo foram registrados os dados de comprimento padrão
(Cp) em centímetros e estágio de maturação gonadal.
Para a identificação dos períodos em que os peixes se encontravam em atividade reprodutiva
foram registrados os estádios de maturação gonadal, levando em consideração os aspectos
macroscópicos das gônadas (Nikolsky, 1963) através da observação da coloração, vascularização,
tamanho relativo à cavidade abdominal e flacidez. Para a identificação do período de reprodução dos
peixes foram considerados aqueles períodos em que as gônadas de machos e de fêmeas foram
encontradas nos estágios de maturação avançada, maduro e início de desova.
Para as análises da alimentação dos peixes foram verificados os itens alimentares dos
estômagos que estavam cheios. Os itens alimentares encontrados nos estômagos foram identificados
até a menor categoria taxonômica possível com o auxílio de uma lupa com ocular de 10x e aumentos
que variaram de 0,7 a 4x conforme o tamanho do item observado. O material foi analisado
primeiramente segundo o método da freqüência de ocorrência (Hyslop, 1980). A seguir foi
estabelecido um índice de importância alimentar (IIA) para cada item ingerido segundo GranadoLorencio & Garcia-Novo (1986), o qual varia de 0 a 1. Este índice considera a freqüência de
ocorrência de um determinado item alimentar juntamente com a sua abundância, sendo esta baseada
118
numa escala semi-quantitativa, onde a contribuição de cada item alimentar foi estimada de acordo com
a área do campo visual que o mesmo ocupou em relação ao conteúdo total. Foi considerada a seguinte
escala: 3-muito abundante (compreendendo mais de 50% do campo visual); 2-abundante (de 25 a
50%); 1-escasso (menos de 25%) e zero (ausente) (Hyslop, 1980). Foram considerados alimentos
principais aqueles com valores de IIA acima de 0,3, alimentos adicionais de 0,3 a 0,15 e alimentos
acidentais aqueles com valores inferiores a 0,15 (Granado-Lorencio & Garcia-Novo, 1986).
Foi analisada a suficiência amostral nas análises dos itens alimentares consumidos pelas
espécies de peixes através da curva do coletor, onde foi verificada a inclusão de novos itens na dieta na
medida em que mais estômagos eram analisados.
Os resultados da reprodução e alimentação dos peixes foram organizados em uma tabela,
comparando com as informações do conhecimento dos pescadores da comunidade da praia da Pinheira
(local de onde os peixes foram adquiridos para os estudos biológicos), a fim de verificar semelhanças
entre o conhecimento ecológico local dos pescadores dessa comunidade e os dados obtidos com os
estudos da biologia dos peixes conforme realizado em outros estudos (Begossi & Silvano, 2008;
Silvano & Begossi, 2010).
Resultados
Etnoictiologia
Participaram das entrevistas de etnoictiologia, 28 pescadores residentes na praia da Guarda do
Embaú e 31 pescadores residentes na praia da Pinheira. O perfil dos pescadores das duas comunidades
estudadas foi semelhante quanto à idade média dos entrevistados (aproximadamente 45 anos) e o
tempo médio de experiência na pesca (aproximadamente 30 anos), reflexo dos critérios adotados na
seleção de informantes (Tabela 1). O ingresso dos pescadores na atividade foi influenciado pelas
gerações anteriores, através de pais, avós ou tios (entre 70% e 80% dos pescadores entrevistados nas
duas comunidades). No entanto, poucos pescadores possuíram descendentes na atividade, tanto na
119
pesca de subsistência na praia da Guarda do Embaú, quanto na pesca comercial na praia da Pinheira
(Tabela 1).
Utilidade, disponibilidade e abundância dos peixes
Na comunidade da praia da Guarda do Embaú, apesar de todos os pescadores entrevistados
utilizarem todos os peixes para o consumo, duas espécies de peixes foram apontadas por serem
utilizadas também como isca: o escrivão (Eucinostomus argenteus) e a guaivira (Oligoplites saliens).
Essas foram espécies pouco capturadas na pesca no ano de 2007 e os pescadores não indicaram
reduções nas suas abundâncias nos últimos anos. Três espécies de peixes de relevância para o consumo
foram apontadas por apresentarem reduções nas suas abundâncias ao longo dos anos por mais de 50%
dos pescadores: a anchova (Pomatomus saltatrix), o robalo (Centropomus parallelus) e a garoupa
(Epinephelus sp.), estas duas últimas com baixos valores de CPUE (Captura Por Unidade de Esforço)
no ano de 2007. Os mugilídeos (Mugil platanus e Mugil curema), peixes relevantes para o consumo e
muito capturados (maior valor de CPUE), não foram identificados pela maioria dos pescadores
entrevistados como espécies com reduções na abundância ao longo dos anos (Tabela 2).
Para os pescadores da praia da Pinheira, sete espécies foram apontadas como sendo peixes de
pouca importância para o mercado de pesca local, utilizadas para o consumo próprio ou como isca
quando capturadas em tamanhos menores: a garoupa (Epinephelus sp.), o parati (Mugil curema), o
marimbau (Diplodus argentus), a lambra (Astroscopus sexspinosus), o saugo (Anisotremus
surinamensis), a guaivira (Oligoplites saliens) e o xerelete (Caranx latus) (Tabela 3). Os pescadores
observaram reduções na abundância do xerelete ao longo dos anos, da mesma forma que para outras
seis espécies que apresentaram baixos valores de CPUE na pesca do ano de 2007: a garoupa, a viola
(Rhinobatos horkelii), o cação (Carcharhinus porosus) e o papa-terra (Menticirrhus americanus). A
corvina (Micropogonias furnieri), com altos valores de CPUE, foi indicada pela maioria dos
pescadores como peixe que sofreu reduções em sua abundância (Tabela 3).
120
Influências da utilidade e abundância dos peixes na aquisição do CEL dos pescadores
Os números totais de dúvidas dos pescadores entrevistados (número de vezes que a resposta
“não sabe responder” apareceu nos questionários) diferiram entre as espécies de peixes na praia da
Guarda do Embaú (χ26,0.05= 42 p<0,001) e na praia da Pinheira (χ212,0.05= 31,3 p<0,01) considerando em
conjunto as dúvidas sobre os aspectos da biologia reprodutiva e alimentar (R+A) dos peixes (Tabela
4).
Os pescadores da praia da Guarda do Embaú revelaram um maior número de dúvidas quando
questionados sobre as espécies Oligoplites saliens (guaivira) e Epinephelus sp. (garoupa), peixes de
baixa disponibilidade para a pesca (baixa CPUE) (Tabela 2). A garoupa, apesar de ser um peixe útil
para o consumo, foi indicada pelos pescadores como espécie que apresentou reduções na abundância
ao longo dos anos. A guaivira, peixe usado principalmente como isca sendo de pouca utilidade para o
consumo, não foi espécie apontada pelos pescadores por apresentar reduções na abundância ao longo
do tempo (Tabela 2). Os pescadores da praia da Guarda do Embaú demonstraram maior conhecimento
sobre as espécies de peixes Mugil platanus (tainha), M. curema (parati) e Pomatomus saltatrix
(anchova), peixes com maior disponibilidade na pesca local (maior CPUE) e de utilidade no consumo,
além dos pescadores mencionarem reduções nas capturas da anchova nos últimos anos (Tabela 2). A
associação entre as variáveis (número de dúvidas e CPUE) foi negativa e significativa (r=-0,60; t5;0,05=1,68 p=0,1), sugerindo que o CEL dos pescadores da praia da Guarda do Embaú sofreu influências da
abundância dos peixes: os pescadores conhecem mais (apresentaram menos dúvidas) sobre os peixes
mais abundantes. A associação entre as variáveis, número de dúvidas e porcentagem de pescadores que
mencionou o peixe como útil não foi significativa, indicando que a utilidade dos peixes não
influenciou o CEL dos pescadores da praia da Guarda do Embaú. Esses pescadores apresentaram
dúvidas sobre as espécies úteis para o consumo da mesma forma que para as não úteis ou para aquelas
utilizadas apenas como isca e que foram consideradas nesse estudo como não úteis para o consumo.
121
Os pescadores da praia da Pinheira revelaram um maior número de dúvidas sobre as espécies
de baixa abundância (menor CPUE) e pouca utilidade no mercado de pesca: Oligoplites saliens
(guaivira), Epinephelus sp. (garoupa) e Caranx latus (xerelete). A garoupa e o xerelete, pouco úteis
para o mercado de pesca, também foram indicados por reduções na abundância (Tabela 3). Além
desses peixes, também foi verificado um maior número de dúvidas para as espécies de alta
disponibilidade (maior CPUE): Mugil curema (parati) e Mugil platanus (tainha). O maior CEL dos
pescadores da praia da Pinheira foi referente às espécies de alta disponibilidade (maior CPUE):
Pomatomus saltatrix (anchova) e Micropogonias furnieri (corvina); e baixa disponibilidade (menor
CPUE): Menticirrhus americanus (papa-terra) e Carcharhinus porosus (cação), sendo todos peixes de
importância para o mercado local, apesar de terem sido indicados pelos pescadores como peixes
apresentando reduções na abundância, com exceção da anchova (Tabela 3). A associação entre as
variáveis número de dúvidas e CPUE, não foi significativa (p>0,1). Quando analisadas as variáveis
(número de dúvidas e utilidade) foi verificada uma relação negativa (r=-0,65; t11;0,05=-2,84 p=0,01)
indicando que a utilidade dos peixes para o mercado de pesca local influenciou o CEL dos pescadores
da praia da Pinheira: os pescadores conheceram mais sobre os peixes úteis para o consumo.
Com relação aos aspectos da biologia dos peixes, o maior número de dúvidas (menor
conhecimento) dos pescadores das praias da Guarda do Embaú e Pinheira foram referentes aos
aspectos reprodutivos dos peixes (t12;0,05=2,59 p=0,02 e t24;0,05=3,54 p=0,001 respectivamente) (Tabela
4).
Comparação do CEL dos pescadores com o conhecimento científico sobre os peixes
Para a praia da Guarda do Embaú e praia da Pinheira o conhecimento dos pescadores esteve de
acordo com os dados da literatura científica para a maioria das espécies de peixes (Tabelas 5 e 6).
Conforme o conhecimento dos pescadores da praia da Guarda do Embaú, quatro espécies de
peixes apresentaram algumas particularidades: para o escrivão (Eucinostomus argenteus), os
122
pescadores citaram peixes pequenos como item alimentar, além dos pescadores informarem o período
de reprodução da espécie, informação não encontrada na literatura científica. Para a anchova
(Pomatomos saltatrix), os pescadores incluíram o inverno como período de atividade reprodutiva além
da primavera e não citaram as lulas como item alimentar. Peixes em decomposição foram incluídos na
dieta da garoupa (Epinephelus sp.) e a guaivira (Oligoplites saliens) se reproduz durante o outono e
inverno, segundo os pescadores (Tabela 5).
Conforme o conhecimento dos pescadores da praia da Pinheira, cinco espécies de peixes
apresentaram algumas particularidades: para o marimbau (Diplodus argenteus) os pescadores
incluíram os peixes como item da dieta. Para o saugo (Anisotremus surinamensis) foram indicados os
meses de primavera e verão como período de atividade reprodutiva. A viola (Rhinobatos horkelii)
também se reproduz no inverno segundo os pescadores da praia da Pinheira, assim como a guaivira
(Oligoplites saliens). Para a lambra (Astroscopus sexspinosus) foram disponibilizadas novas
informações não encontradas na literatura científica (Tabela 6).
Biologia dos peixes
Período de atividade reprodutiva dos peixes
As análises das gônadas dos peixes revelaram que a corvina e o papa-terra foram encontrados
em atividade reprodutiva nos meses da primavera e verão (novembro e fevereiro). Para a lambra e o
marimbau foram registrados períodos mais longos de atividade reprodutiva. A espécie Astroscopus
sexspinosus (lambra) apresentou gônadas em maturação avançada no outono (maio) e na primavera
(novembro) ainda são encontrados indivíduos com gônadas em estágio maduro, sendo que no verão
(fevereiro) não foram capturados indivíduos dessa espécie. Para Diplodus argentus (marimbau) o
período de atividade reprodutiva começou no inverno (agosto) e se estendeu até os meses de primavera
e verão (novembro e fevereiro) (Tabela 7).
123
Itens alimentares ingeridos pelos peixes
As análises do conteúdo estomacal dos peixes alcançaram a suficiência amostral na maioria das
espécies, porém a curva demonstra que a amostra não foi suficiente para identificar com maior
confiabilidade a alimentação da espécie Caranx latus, o xerelete (Fig. 3).
Os resultados das análises da dieta dos peixes capturados pelos pescadores da praia da Pinheira
no sul do Brasil indicaram um grupo de peixes com hábito alimentar mais generalista, ingerindo um
maior número de itens alimentares, e outro grupo de peixes com hábito alimentar especialista (Fig. 3).
No grupo dos generalistas está o marimbau (Diplodus argentus), um onívoro com tendência a
herbivoria que se alimenta principalmente de plantas e camarões e o papa-terra (Menticirrhus
americanus), um onívoro com tendência a carnivoria que se alimenta principalmente de peixes e
crustáceos. A presença de sedimento nos estômagos desses peixes corrobora os resultados, pois sugere
informações sobre o local de alimentação junto ao fundo. No grupo dos especialistas está a corvina
(Micropogonias furnieri), um carnívoro que se alimenta preferencialmente de vermes poliquetos
enterrados no fundo do mar, informação corroborada pelo alto valor do IIA para o item sedimento. O
xerelete (Caranx latus) e a lambra (Astroscopus sexspinosus) são carnívoros que se alimentam
principalmente de peixes, podendo ser categorizados como piscívoros (Tabela 8).
Comparação entre os estudos da biologia das espécies e o CEL dos pescadores
Os resultados das análises sobre os aspectos da reprodução e alimentação dos peixes obtidos
nesse estudo (Tabelas 7 e 8) corresponderam às informações da literatura científica (Tabela 6) e ao
conhecimento dos pescadores da praia da Pinheira. O verão não foi incluído como parte do período de
reprodução da lambra (Astroscopus sexspinosus) nas análises realizadas nesse estudo, porém é
indicado pelos pescadores da praia da Pinheira como fazendo parte do período de reprodução desse
peixe (Tabela 9).
124
Comparação do CEL dos pescadores entre as duas comunidades
Não foram encontradas diferenças (p>0,5) entre as duas comunidades quando analisadas as
médias do número total de dúvidas dos pescadores referente aos aspectos biológicos (reprodução e
alimentação) para todas as espécies de peixes utilizadas nos estudos de etnoictiologia.
Foram encontradas diferenças no CEL dos pescadores entre as duas comunidades, quando
analisado o total de dúvidas referente aos aspectos biológicos (reprodução e alimentação) para as cinco
espécies de peixes comuns à ambas as comunidades (χ24,0.05=16,4 p<0,01). Os pescadores da praia da
Guarda do Embaú apresentaram um menor número de dúvidas sobre essas cinco espécies de peixes:
tainha (Mugil platanus), anchova (Pomatomus saltatrix), garoupa (Epinephelus sp.), parati (Mugil
curema) e guaivira (Oligoplites saliens) (Tabela 4).
Discussão
Etnoictiologia
Em ambas as comunidades os pescadores iniciaram-se na pesca com a influência de gerações
anteriores, o que sugere que o conhecimento sobre os peixes pode estar sendo transmitido ao longo das
gerações de pescadores. A transmissão do conhecimento ecológico pode ocorrer de pai para filho,
como verificado para os pescadores da ilha de Búzios e Baía de Sepetiba, no litoral sudeste do Brasil
(Begossi & Figueiredo, 1995). Mas também a transmissão do conhecimento pode não ocorrer, assim
como o verificado em uma comunidade de pescadores fluviais do sul do Brasil, onde a atividade da
pesca não é ensinada aos descendentes (Carvalho, 2004). O crescimento das atividades turísticas na
região do estado de Santa Catarina nos últimos trinta anos, responsáveis por acelerar os processos de
aculturação e de substituição da atividade econômica, pode ter influenciado o menor interesse das
gerações futuras em permanecer nas atividades de pesca. Como observado para as comunidades da
praia da Guarda do Embaú e praia da Pinheira nesse estudo, poucos foram os descendentes dos
125
pescadores nas atividades de pesca no ano de 2007 e isso pode ser um problema para a manutenção do
CEL dos pescadores.
Utilidade, disponibilidade e abundância dos peixes
Os pescadores das duas comunidades apontaram reduções na abundância de espécies de peixes
que foram categorizadas como sobre-explotadas e ameaçadas de extinção pelas agências de gestão dos
recursos pesqueiros (Revizze, 2006; IUCN, 2006; Instrução Normativa MMA Nº 5 de 2004). Alguns
pescadores da praia da Pinheira (n=9) atribuíram a redução na abundância das espécies de peixes ao
excesso de embarcações e ao uso de explosivos como algumas vezes ainda acontece para as capturas
de garoupas. As alterações antrópicas e a pesca indiscriminada também foram razões atribuídas por
pescadores fluviais e marinhos de outras comunidades no sul do Brasil para explicar a redução dos
estoques das espécies de peixes (Pinheiro, 2004; Gerhardinger et al., 2006; Porcher et al., 2010).
A anchova (Pomatomus saltatrix), peixe útil para o consumo dos pescadores da praia da
Guarda do Embaú, aparentemente disponível para a pesca e com abundância reduzida ao longo dos
anos (conforme informação dos pescadores) pode estar em risco de ser sobreexplorada. Por outro lado,
alguns pescadores da praia da Pinheira (12% do total entrevistado) indicaram uma recuperação na
disponibilidade da anchova (Pomatomus saltatrix) observada após a implantação da época de defeso
para essa espécie. No entanto, essa informação deve ser verificada, pois foi citada por um baixo
número de pescadores (n=4) e pode estar expressando uma variação natural no número de indivíduos
(peixes) explicada pela dinâmica das populações e não necessariamente a recuperação do estoque. A
corvina (Micropogonias furnieri) e o papa-terra (Menticirrhus americanus), peixes úteis no mercado
de pesca da praia da Pinheira, aparentemente disponíveis e com reduções na abundância conforme
informações dos pescadores, também são peixes que correm o risco de serem sobreexplorados. A
corvina é um peixe considerado sobreexplorado pela comunidade científica (Revizze, 2006), no
entanto, não foram encontradas informações na literatura científica (Revizze, 2006; IUCN, 2006) sobre
126
os estoques do papa-terra e a informação dos pescadores sobre a abundância dos estoques desse peixe
deve ser investigada.
A garoupa (Epinephelus sp.) e o robalo (Centropomus parallelus), peixes úteis para o consumo
dos pescadores da praia da Guarda do Embaú, apresentaram baixa disponibilidade para a pesca no ano
de 2007 e abundância reduzida ao longo dos anos conforme informação dos pescadores, o que sugere
que os estoques desses peixes podem já ter sofrido sobre pesca e estarem em risco de colapso. Em
condições semelhantes se encontraram a raia viola (Rhinobatos horkelii) e o cação (Carcharhinus
porosus), peixes úteis para o mercado de pesca da praia da Pinheira e com disponibilidade e
abundância reduzidas.
Na ausência de dados sistemáticos de acompanhamento dos desembarques pesqueiros nessas
comunidades de pesca artesanal do sul do Brasil, os resultados obtidos com este estudo e com as
informações dos pescadores podem ser as únicas evidências da situação dos estoques de peixes,
mostrando a importância do CEL dos pescadores para auxiliar no monitoramento da abundância dos
estoques. Dados históricos sobre o estado dos estoques de peixes marinhos podem ajudar a
compreender a vulnerabilidade das espécies de peixes aos impactos humanos (Sáenz-Arroyo et al.,
2005) e auxiliar no aumento da eficiência das estratégias de manejo. Essa alternativa segue a linha de
manejo com poucos dados proposta por Johannes (1998) para a pesca costeira tropical e por Begossi
(2008) para a pesca artesanal no Brasil, no qual o manejo ocorre com a participação dos pescadores na
coleta de dados.
Influências da utilidade e abundância dos peixes na aquisição do CEL dos pescadores
A primeira hipótese levantada, de que o CEL dos pescadores sofreu influências de dois fatores
que atuam em conjunto, a utilidade e a abundância dos peixes (disponibilidade), não foi totalmente
comprovada para as comunidades de pescadores da praia da Guarda do Embaú e praia da Pinheira.
127
Na praia da Guarda do Embaú, onde a atividade da pesca é mantida essencialmente para a
subsistência (Nunes, 2010), a abundância dos peixes parece ter sido o fator que mais influenciou na
manutenção do conhecimento ecológico local. As reduções na abundância ao longo dos anos
(apontadas pelos pescadores) e as baixas capturas (CPUE) de peixes como a garoupa e o robalo,
podem ter influenciado o menor conhecimento sobre essas espécies. A importância da conservação das
espécies de peixes na praia da Guarda do Embaú apresenta, além da relevância ecológica, relevância
social para a manutenção da pesca como atividade de subsistência e a manutenção do conhecimento
ecológico dos pescadores. A relevância econômica também deve ser considerada, mesmo que a pesca
na praia da Guarda do Embaú seja apenas de subsistência, pois a captura dos peixes pode representar
um incremento na economia familiar.
Na comunidade de pescadores da praia da Pinheira, onde a atividade da pesca é mantida por
razões econômicas (Nunes, 2010), o CEL dos pescadores foi mais detalhado sobre as espécies de
peixes mais úteis para o mercado de pesca, como a anchova (Pomatomus saltatrix), o papa-terra
(Menticirrhus americanus), o cação (Carcharhinus porosus) e a corvina (Micropogonias furnieri). Os
pescadores especializados nas capturas da tainha (Mugil platanus) estão em menor número nessa
comunidade (Nunes, 2010) e isso pode ter influenciado a ausência do conhecimento sobre esse peixe,
que também é útil para o mercado de pesca. As relações comerciais existentes no seguimento
pesqueiro da praia da Pinheira requerem que os pescadores mantenham um conhecimento detalhado
sobre as espécies de peixes úteis ao mercado de pesca, mesmo quando apresentam abundâncias
reduzidas, o que aumenta as chances de capturas mais eficientes. Por outro lado, na comunidade da
praia da Guarda do Embaú, onde a pesca apresenta importância apenas para a subsistência, o CEL dos
pescadores foi mais detalhado sobre as espécies de peixes mais disponíveis na pesca. Desta forma, a
importância relativa da utilidade e abundância dos peixes na influência do CEL dos pescadores, pode
estar relacionada ao perfil da comunidade estudada.
128
O maior conhecimento dos pescadores das duas comunidades do sul do Brasil sobre os aspectos
relacionados à alimentação dos peixes correspondeu ao observado em outros estudos no sudeste do
Brasil sobre o conhecimento de pescadores fluviais e marinhos (Silvano & Begossi, 2002; Silvano et
al., 2006; Begossi & Silvano, 2008). Em ilhas da Oceania, no sul do Pacífico, onde as terras são pouco
produtivas e a população apresenta maior dependência sobre os recursos marinhos do que a ocidental,
o CEL dos pescadores sobre os aspectos da reprodução dos peixes é tão detalhado quanto o
conhecimento de outros aspectos da história de vida desses peixes, auxiliando na elaboração de
estratégias de manejo da pesca (Johannes, 1978).
Para Silvano & Begossi (2002), o CEL dos pescadores sobre os aspectos relacionados à
reprodução dos peixes é mais difícil de ser adquirido, pois a reprodução é um evento que ocorre em
menor freqüência ao longo do tempo, o que dificulta inclusive a produção do conhecimento científico
sobre esse aspecto da biologia dos peixes. No entanto, os pescadores subaquáticos marinhos do sul do
Brasil, que utilizam técnicas de mergulho nas capturas do mero (Epinephelus itajara), possuem um
conhecimento mais detalhado sobre os aspectos reprodutivos desses peixes como a distribuição
espaço-temporal das agregações reprodutivas, e esse conhecimento é bastante útil para capturas mais
eficientes com a técnica do mergulho (Gerhardinger et al., 2006). Em comunidades que utilizam outras
técnicas de pesca, o conhecimento sobre os aspectos reprodutivos dos peixes pode não ser muito útil
para os pescadores terem um bom resultado nas capturas, quando comparado com o conhecimento
sobre a alimentação e uso do hábitat pelos peixes. Isso foi observado por Silvano & Begossi (2002)
para pescadores fluviais no sudeste do Brasil que utilizam redes de pesca, e o mesmo pode ter
acontecido com os pescadores das duas comunidades estudadas no sul do Brasil que utilizaram
tarrafas, anzol e linha e redes de pesca.
A aquisição do conhecimento dos pescadores sobre a alimentação dos peixes pode ter sido
influenciada pelas prováveis relações estabelecidas entre a identificação dos hábitats onde os peixes se
alimentam e as relações tróficas, assim como discutido por Mourão & Nordi (2003) em um estudo
129
realizado em comunidades de pescadores no litoral nordeste do Brasil e por Silvano & Begossi (2002)
no sudeste do Brasil. De fato, os resultados desse estudo indicam essa relação entre dieta e hábitats dos
peixes, uma vez que alguns pescadores das comunidades estudadas no litoral sul do Brasil citaram
como alimento ingerido pelos peixes (tainha, parati, lambra, marimbau e papa-terra) itens como o lodo,
a areia, as algas e o limo. Essa informação referente aos itens alimentares ingeridos por esses peixes
sugere um conhecimento dos pescadores sobre o ambiente onde os peixes foram encontrados: esse
conhecimento está de acordo com a literatura científica sobre os hábitats dessas espécies de peixes
(Figueiredo & Menezes, 1980; Szpilman, 2000). Para os pescadores do sudeste do Brasil, o
conhecimento sobre os hábitats dos peixes é fundamental para a escolha das estratégias de pesca nas
quais boas capturas são obtidas quando as redes são colocadas em lugares apropriados (Silvano &
Begossi, 2002). O conhecimento dos pescadores da praia da Pinheira sobre os aspectos relacionados à
alimentação dos peixes pode estar relacionado ao conhecimento dos hábitos de vida e dos hábitats dos
peixes e pode ter influenciado a escolha por áreas de pesca de maior probabilidade de encontrar peixes,
como foi observado por Nunes (2010).
Comparação do CEL dos pescadores com o conhecimento científico sobre os peixes
Como geralmente encontrado em estudos de etnoictiologia (Paz & Begossi, 1996; Costa-Neto
& Marques, 2000; Silvano & Begossi, 2002; Mourão & Nordi, 2003; Silvano & Valbo-Jørgensen,
2008), o conhecimento dos pescadores nas duas comunidades estudadas no litoral sul do Brasil esteve
de acordo com a literatura científica, na maioria dos casos. Estes resultados comprovaram a segunda
hipótese levantada neste estudo, de que o CEL dos pescadores das duas comunidades estaria de acordo
com o conhecimento científico.
Os pescadores da praia da Guarda do Embaú e praia da Pinheira citaram algumas
particularidades que devem ser investigadas na forma de novas hipóteses para estudos biológicos
130
futuros (Tabela 10), conforme proposto em estudos anteriores (Silvano & Valbo-Jørgensen, 2008;
Porcher et al., 2010).
Para o escrivão (Eucinostomus argentus), os pescadores da praia da Guarda do Embaú citaram
a primavera e o verão como período de reprodução, informação não encontrada na literatura científica
que deve ser investigada. Uma hipótese de estudo pode ser investigada quanto à inclusão de peixes na
dieta do escrivão (Eucinostomus argenteus) segundo o CEL dos pescadores da praia da Guarda do
Embaú. Indivíduos juvenis da espécie Centropomus parallelus (robalo) se disfarçam em meio a
cardumes de E. argenteus (escrivão) para predar pequenos peixes em ambientes estuarinos (Sazima,
2002). Esse mimetismo encontrado na espécie Centropomus parallelus poderia explicar a interpretação
dos pescadores da praia da Guarda do Embaú quanto à inclusão de peixes na dieta do escrivão, uma
vez que os pescadores poderiam ter confundido juvenis de robalo com o escrivão.
Para a anchova (Pomatomos saltatrix), os pescadores da Guarda do Embaú não citaram os
moluscos como item alimentar desse peixe, diferindo dos pescadores de outras comunidades do sul,
sudeste e nordeste do Brasil, que citaram as lulas como parte da dieta da anchova (Silvano & Begossi,
2010). Essas diferenças encontradas entre o conhecimento dos pescadores e a literatura científica
quanto aos itens alimentares do escrivão e da anchova também podem estar relacionadas a diferenças
ambientais entre a região de estudo e os locais onde foram realizados os estudos da literatura, à
disponibilidade de alimento no ambiente e ao tamanho dos peixes capturados com os petrechos
utilizados.
A inclusão do inverno como período de reprodução da anchova (Pomatomus saltatrix),
segundo os pescadores entrevistados na Guarda do Embaú, correspondeu aos estudos realizados com
pescadores do sudeste do Brasil e com os aborígines Australianos (Silvano & Begossi, 2005, 2010) e
diferiu do encontrado para outra comunidade do sul do Brasil (Silvano & Begossi, 2010) e para a praia
da Pinheira, nas quais os pescadores não incluíram o inverno como período relevante para a
reprodução da anchova. O inverno como época de reprodução da anchova difere também das
131
informações científicas encontradas para essa espécie no sul do Brasil (Haimovici & Krug, 1992) e no
sudeste brasileiro (Silvano & Begossi, 2010).
Para a raia viola (Rhinobatos horkelii) os pescadores da praia da Pinheira incluíram o inverno
no período de reprodução desse peixe. Segundo Vooren et al. (2005), o parto da raia viola ocorre nos
meses de fevereiro e março, no entanto em todos os momentos as fêmeas estão prenhes, exceto durante
um breve intervalo de tempo para a cópula, entre o parto e a gravidez subseqüente. Provavelmente a
captura de indivíduos com ovócitos desenvolvidos durante os meses do inverno pode ter influenciado a
interpretação dos pescadores da praia da Pinheira quanto ao período de reprodução da raia viola.
Para o xerelete (Caranx latus) o conhecimento de alguns pescadores da praia da Pinheira pode
corroborar a informação sobre o período de reprodução dessa espécie, que também correspondeu à
literatura científica. No entanto, essa informação deve ser investigada, pois os dados encontrados na
literatura científica se referem a outro continente, além dessa informação ter sido obtida de um número
reduzido de pescadores informantes (n=6, 26% do total) na comunidade estudada no sul do Brasil.
Outras informações referentes ao CEL dos pescadores das duas comunidades estudadas sobre a
biologia dos peixes também permitiram a formulação de hipóteses, além das apresentadas, que podem
ser testadas em estudos biológicos futuros (Tabela 10).
Biologia dos peixes e CEL dos pescadores
O período de reprodução da lambra (Astroscopus sexpinosus) e a alimentação do xerelete
(Caranx latus), informações que não foram totalmente esclarecidas com as análises realizadas nesse
estudo, foram complementadas pelo CEL dos pescadores da praia da Pinheira.
Os pescadores dessa comunidade do sul do Brasil indicaram todas as estações do ano como
períodos relevantes para a reprodução da lambra, no entanto os estudos biológicos realizados não
incluíram os meses de verão na reprodução da lambra. Esse conhecimento pode complementar as
informações científicas sobre esse peixe, uma vez que não foram capturados indivíduos desta espécie
132
nos meses do verão, além de não terem sido encontradas informações na literatura científica sobre a
reprodução desta espécie. Dessa forma, é possível que a lambra realmente esteja se reproduzindo ao
longo do ano todo e o estudo biológico não pode identificar o verão devido à falta de amostragem
nessa época.
Quanto aos itens alimentares ingeridos pelo xerelete, as análises biológicas realizadas nesse
estudo foram limitadas, conforme indicado pela curva de suficiência amostral. Os valores do índice de
importância alimentar (IIA) permitiram classificar a espécie como um especialista (piscívoro), no
entanto juvenis de Caranx latus do sudeste do Brasil foram classificados como generalistas que se
alimentam de uma variedade de itens de origem animal (Silvano, 2001). De acordo com todos os itens
alimentares ingeridos pelo xerelete (peixes e em menor freqüência crustáceos e fragmentos de
conchas) e com o CEL dos pescadores da praia da Pinheira, esses resultados corresponderam ao
encontrado na literatura científica (Silvano, 2001) e permitiram classificar o xerelete como um
generalista.
Comparação do CEL dos pescadores entre as duas comunidades
Apesar de ter sido observado um maior número de dúvidas dos pescadores quanto aos aspectos
da reprodução dos peixes, a diferença encontrada entre o CEL dos pescadores das duas comunidades,
que não concordaram quanto ao período de reprodução da anchova (Pomatomus saltatrix), deve ser
considerada e a informação verificada posteriormente. O período de reprodução desse peixe durante o
inverno, conforme as informações dos pescadores da praia da Guarda do Embaú, está de acordo com o
conhecimento dos pescadores do sudeste do Brasil (Silvano & Begossi, 2010).
É importante considerar que os pescadores da praia da Guarda do Embaú, apesar de capturarem
as anchovas, atribuem um maior valor de consumo (informação dos pescadores) e principalmente
maior importância cultural para a pesca das espécies de mugilídeos o que difere da comunidade de
pescadores da praia da Pinheira, onde anchovas e tainhas possuem semelhante importância no mercado
133
de pesca (Nunes, 2010). A longa tradição nas capturas da anchova, aliada à utilidade para o consumo
ou para o mercado de pesca, foram os fatores responsáveis pela aquisição de um conhecimento mais
detalhado sobre esse peixe pelos pescadores da Ilha de Búzios, no sudeste do Brasil (Silvano &
Begossi, 2005, 2010). De maneira semelhante, os mesmos fatores atuando isolados ou
simultaneamente, influenciaram de formas diferentes a aquisição do conhecimento dos pescadores das
duas comunidades estudadas quanto aos aspectos da reprodução da anchova.
A terceira hipótese desse estudo, de que as duas comunidades apresentariam diferenças quanto
ao CEL dos pescadores, pode ser confirmada. No entanto, ressalta-se que devem ser verificados os
aspectos da biologia reprodutiva da anchova e comparar estudos biológicos realizados no local ao
conhecimento dos pescadores das duas comunidades estudadas, a fim de discutir as origens dessas
diferenças e testar a hipótese da perda do CEL dos pescadores decorrente do declínio da pesca como
atividade principal. De forma semelhante ao ocorrido nas ilhas do Pacífico após a invasão da cultura
ocidental (Johannes, 1978), o declínio da pesca em algumas comunidades da região sul do Brasil,
como a praia da Guarda do Embaú, foi provocado pela expansão turística, que alterou as atividades
econômicas e pode ser responsável pela perda do conhecimento ecológico local.
Conclusões
O conhecimento ecológico local (CEL) dos pescadores das duas comunidades estudadas no sul
do Brasil foi condizente com a literatura científica e pode ser utilizado na elaboração de novas
hipóteses científicas, aliando o CEL à ciência biológica marinha (Tabela 10) e na elaboração das
normas de manejo pesqueiro.
A informação dos pescadores das comunidades estudadas sobre a abundância das espécies de
peixes de maior utilidade nas atividades de pesca, aliada à informação referente aos valores da
produtividade pesqueira, sugeriu que a raia viola (Rhinobatos horkelii), o cação (Carcharhinus porosus), a
garoupa (Epinephelus sp.), o robalo (Centropomus parallelus), a corvina (Micropogonias furnieri) e o
134
papa-terra (Menticirrhus americanus) são peixes com estoques em risco de colapso (inviabilidade
econômica da exploração) e risco de sobreexploração. Essa condição requer medidas de ordenamento
que levem à conservação dessas espécies de peixes, visando à manutenção da diversidade biológica e a
viabilidade econômica da exploração desses recursos.
O ordenamento da pesca no sul do Brasil ocorre através do estabelecimento dos tamanhos
mínimos de capturas, épocas de defeso, reduções no esforço de captura e restrições no uso de áreas de
pesca (http://www.ibama.gov.br). Essas medidas podem ser úteis para resolver os problemas
relacionados à conservação biológica. No entanto, podem não ser estratégias de manejo eficientes
quando utilizadas isoladas e quando não forem consideradas as particularidades dos sistemas
ecológicos, sociais e econômicos das atividades de exploração de cada localidade. Algumas
comunidades de pescadores, como as estudadas no sul do Brasil, possuem pouco conhecimento sobre
os aspectos reprodutivos das espécies de peixes. Essa condição pode diminuir a eficiência de
estratégias de manejo baseadas na proteção dos períodos de reprodução dos peixes como, por exemplo,
as épocas de defeso. As restrições no esforço de captura, como a redução no número de embarcações, e
as restrições no uso do espaço, como a proibição da pesca em determinadas áreas, podem não ser
estratégias eficientes para a conservação de determinadas espécies de peixes. Em regiões onde os
pescadores não reconhecem as reduções na abundância de determinados estoques, como ocorreu com
os pescadores das duas comunidades estudadas quando questionados sobre a abundância da tainha
(Mugil platanus), a implantação dessas medidas de ordenamento podem não ser compreendidas e gerar
conflitos entre as agências de ordenamento e os usuários dos recursos.
Como uma alternativa a esses problemas e considerando a importância de ampliar o leque das
opções para que seja possível escolher e examinar as conseqüências das diferentes decisões tomadas
(Castello, 2007), é recomendável que os gestores dos recursos pesqueiros da região sul do Brasil
utilizem o conhecimento desses pescadores na formulação das normas de ordenamento da pesca. Essa
ação pode ajudar a encontrar medidas de manejo coerentes, que aliem a preservação da diversidade
135
biológica à manutenção das atividades de exploração dos recursos, preservando as diferenças culturais
e o conhecimento ecológico local.
Agradecimentos
A realização deste estudo foi possível através da participação da comunidade de pescadores
das praias da Guarda do Embaú e Pinheira no sul do Brasil e do auxílio financeiro obtido através da
bolsa de doutoramento pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Os autores agradecem aos Drs. Alpina Begossi, Clarice B. Fialho e Fernando G. Becker, pelas críticas
e sugestões incorporadas na versão final deste manuscrito e a bolsa do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para Sandra M. Hartz (304036/2007-2).
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(27): 1-13.
144
Tabelas
Tabela 1. Caracterização dos pescadores das comunidades da praia da Guarda do Embaú (GE) e praia
da Pinheira (PP), litoral sul do Brasil, que participaram dos estudos de etnoictiologia. N=número de
pescadores entrevistados.
Caracterização dos pescadores
GE
PP
(N=28)
(N=31)
26 - 59
24 - 71
45,1
46,6
15 - 52
10 - 59
Tempo médio de experiência na pesca (anos)
32,5
31,9
Influência de gerações anteriores para início da atividade (pai/avô) (% dos
75
84
28,5
16,1
Idade (mín-máx)
Média de idade (anos)
Tempo de experiência com a pesca (anos, mín-máx)
entrevistados)
Descendentes na atividade da pesca (% dos entrevistados)
145
Tabela 2. Número e porcentagem de pescadores entrevistados da praia da Guarda do Embaú, litoral
sul do Brasil, que informaram sobre a utilidade e abundância das espécies de peixes e valores da CPUE
por espécie. C=consumo, I=isca; CPUE=captura por unidade de esforço; N=número de pescadores
entrevistados.
Nome
Nome científico
Utilidade a (%)
N
Abundância
abundância b %
comum
robalo
Redução na
Centropomus parallelus
(CPUE) c
C (100)
71
28
0,1
escrivão Eucinostomus argenteus
I (57); C (29)
25
28
0,01
tainha
C (100)
39
28
2,21 d
anchova Pomatomus saltatrix
C (100)
61
28
0,1 e
guaivira Oligoplites saliens
I (73); C (35)
31
26
0,1
garoupa
Epinephelus sp.
C (100)
100
28
0,2
parati
Mugil curema
C (100)
42
24
2,21 d
Mugil platanus
a
o mesmo pescador entrevistado pode ter informado duas utilidades para a mesma espécie de peixe;
b
porcentagens de entrevistados que afirmaram ter reduzido a quantidade do peixe com o passar dos anos;
c
kg/lances do petrecho (Nunes, 2010);
d
foram considerados os mesmos valores de CPUE para os mugilídeos (Mugil platanus e Mugil curema) por não
terem sido identificados separadamente;
e
além deste valor também foram capturadas aproximadamente três toneladas de anchovas com a técnica do cerco
móvel (informação do pescador).
146
Tabela 3. Número e porcentagem de pescadores entrevistados da praia da Pinheira, litoral sul do
Brasil, que informaram sobre a utilidade e abundância das espécies de peixes e valores da CPUE por
espécie. C=consumo, I=isca, V=venda; CPUE=captura por unidade de esforço; N=número de
pescadores entrevistados.
Nome
Nome científico
Utilidade a (%)
Redução na
N
abundância b %
comum
Abundância
(CPUE) c
tainha
Mugil platanus
C (90); V (66)
24
29
295,3 d
anchova
Pomatomus saltatrix
C (84); V (77)
48
31
230,7
guaivira
Oligoplites saliens
C (100); I (19)
42
31
0,5
garoupa
Epinephelus sp.
C (90); V (32)
90
31
1
parati
Mugil curema
C (82); V (33)
22
27
295,3 d
marimbau
Diplodus argentus
C (90); V (32)
10
31
1,5
xerelete
Caranx latus
C (100); V (30); I
70
23
0,5
(13)
viola
Rhinobatos horkelii
C (90); V (65)
81
31
1,5
lambra
Astroscopus sexspinosus
C (100); V (20)
20
30
0,5
saugo
Anisotremus surinamensis
C (90); V (24)
48
29
0,5
corvina
Micropogonias furnieri
V (77); C (71)
97
31
171,3
cação
Carcharhinus porosus
C (90); V (55)
100
31
4,1
papa-terra
Menticirrhus americanus
C (100); V (74)
55
31
9,4
a
o mesmo pescador entrevistado pode ter informado mais de uma utilidade para a mesma espécie de peixe;
b
porcentagens de entrevistados que afirmaram ter reduzido a quantidade do peixe com o passar dos anos;
c
kg/viagens de pesca (Nunes, 2010);
d
foram considerados os mesmos valores de CPUE para os mugilídeos (Mugil platanus e Mugil curema) por não
terem sido identificados separadamente;
147
Tabela 4. Comparação do número de dúvidas dos pescadores sobre o período de atividade reprodutiva
(R) e os itens alimentares ingeridos (A) pelos peixes, nas comunidades da praia da Guarda do Embaú
(GE) e Praia da Pinheira (PP), litoral sul do Brasil. T=total de dúvidas (R + A). N=número total de
pescadores entrevistados por espécie.
Nome comum
Nome científico
GE
PP
T (R+A)
N
R
A
R
A
GE
PP
GE
PP
robalo
Centropomus parallelus
13
1
-
-
14
-
28
-
escrivão
Eucinostomus argenteus
11
3
-
-
14
-
28
-
tainha
Mugil platanus
2
1
13
8
3
21
28
29
anchova
Pomatomus saltatrix
0
0
4
0
0
4
28
31
guaivira
Oligoplites saliens
23
5
20
3
28a
23
26
31
garoupa
Epinephelus sp.
17
3
21
0
20
21
28
31
parati
Mugil curema
8
4
10
12
12
22
24
27
marimbau
Diplodus argentus
-
-
18
1
-
19
-
31
xerelete
Caranx latus
-
-
17
1
-
18
-
23
viola
Rhinobatos horkelii
-
-
5
10
-
15
-
31
lambra
Astroscopus sexspinosus
-
-
6
9
-
15
-
30
saugo
Anisotremus surinamensis
-
-
12
0
-
12
-
29
corvina
Micropogonias furnieri
-
-
7
4
-
11
-
31
cação
Carcharhinus porosus
-
-
9
0
-
9
-
31
papa-terra
Menticirrhus americanus
-
-
4
2
-
6
-
31
74
17
146
50
91
28
31
Total
a
196
O mesmo pescador apresentou dúvidas quanto aos aspectos reprodutivos e alimentares.
148
Tabela 5. Períodos de atividade reprodutiva e dieta das espécies de peixes de acordo com o
conhecimento dos pescadores da praia da Guarda do Embaú, litoral sul do Brasil, e com as
informações da literatura científica. Entre parênteses a porcentagem de pescadores que citou cada
informação. N=número de pescadores entrevistados; V=verão, O=outono, I=inverno, P=primavera.
Pescadores
Literatura
Pescadores
Literatura
Nome
Período de
Período de
Itens alimentares
Itens alimentaresb
N
científico
reprodução
reproduçãoa
peixes e crustáceos
28
camarão (43), tatuíra
algas, crustáceos e
28
(36), peixes (36),
moluscos
Centropomus
V (32), I (18),
parallelus
O (14)
Eucinostomus
V (54), P (7)
V, O, I
peixes (93), camarão
(89)
não encontrado
argenteus
marisco (14), algas (11),
ostra (11)
Mugil platanus
I (86), O (50)
O, I
limo (61), areia (21),
micro flora e micro
restos de animais (18),
fauna planctônicos
plantas (11), lodo (11)
e bentônicos e
28
detritos
Pomatomus
P (54), I (50)
saltatrix
Epinephelus
V (36),
sp.
P (7)
P, V;
peixes (97), camarão
crustáceos, lulas e
V, O
(25)
peixes
P, V
peixes (57), peixe podre
peixes, crustáceos e
(21), lula (14), siri (7),
moluscos
28
28
caranguejo (7), lixo (7)
Oligoplites
saliens
O (8), I (8)
V
peixes (81), camarão
peixes, cefalópodes
(15), marisco (8)
e crustáceos
26
149
Tabela 5. Continuação.
Pescadores
Literatura
Pescadores
Literatura
Nome
Período de
Período de
Itens alimentares
Itens alimentaresb
N
científico
reprodução
reproduçãoa
Mugil curema
V (42), P (13),
limo (46), areia (42),
micro flora e micro
24
algas (21)
fauna planctônicos
O (13), I (13)
O, I, P, V
e bentônicos e
detritos
Cada pescador entrevistado pode ter indicado mais de um período de reprodução e mais de um item alimentar.
a
Centropomus parallelus: Rodrigues (2005) para o sudeste do Brasil; Mugil platanus: (Vieira, 1985; Vieira &
Scalabrin, 1991); Pomatomus saltatrix: (Haimovici & Krug, 1992; Silvano & Begossi, 2010) para o sudeste do
Brasil; Epinephelus sp.: Andrade et al. (2003) para o sul do Brasil; Oligoplites saliens: Fishbase (05/2010);
Mugil curema: (Ibáñez & Benitéz, 2004; Pina & Chaves, 2005).
b
Centropomus parallelus: Freitas (2005) para o sul do Brasil; Eucinostomus argenteus: (Bussing, 1995; Freitas,
2005); Mugil platanus: (Vieira, 1985; Seckendorff & Azevedo, 2007); Pomatomus saltatrix: (Haimovici &
Krug, 1992; Silvano & Begossi, 2010); Epinephelus sp.: (Figueiredo & Menezes, 1980; Szpilman, 2000);
Oligoplites saliens: (Winik et al., 2007 no sudeste do Brasil, Szpilman, 2000); Mugil curema: Seckendorff &
Azevedo (2007).
150
Tabela 6. Períodos de atividade reprodutiva e dieta das espécies de peixes de acordo com o
conhecimento dos pescadores da praia da Pinheira, litoral sul do Brasil, e com as informações da
literatura científica. Entre parênteses a porcentagem de pescadores que citou cada informação.
N=número de pescadores entrevistados; V=verão, O=outono, I=inverno, P=primavera.
Nome científico
Pescadores
Literatura
Pescadores
Literatura
Período de
Período de
Itens alimentares
Itens alimentaresb
N
reprodução
reproduçãoa
P, V
peixes (100)
peixes
31
Carcharhinus
V (48), P (19)
porosus
ano todo (6)
Pomatomus saltatrix
P (55), V (48),
P, V
peixes (100), lulas crustáceos, lulas e
O (13)
V, O
(6)
peixes
V (23), I (13), P
P, V, I
peixes (32),
algas, crustáceos e
camarão (29),
moluscos
Diplodus argenteus
(10)
31
31
marisco (23),
algas (23), tatuíra
(19), limo (16),
lulas (6)
Micropogonias
furnieri
P (52), V (45)
P, V
vermes (52),
poliquetos,
peixes (35),
crustáceos,
camarão (16),
moluscos e peixes
31
tatuíra (6),
marisco (3)
151
Tabela 6. Continuação
Nome científico
Pescadores
Literatura
Pescadores
Literatura
Período de
Período de
Itens alimentares
Itens alimentaresb
N
reprodução
reproduçãoa
marisco (52),
crustáceos,
29
peixes (28),
ouriços-do-mar e
tatuíra (21),
peixes
Anisotremus
V (45), P (10),
surinamensis
I (3)
O, I
camarão (17),
limo (7), algas (3)
Mugil curema
V (33), I (15), P
P, V, O, I
(11)
limo (30), algas
micro flora e micro
(19), areia (7),
fauna planctônicos
lodo (4)
e bentônicos e
27
detritos
Epinephelus sp.
P (26), V (13)
P, V
peixes (90), lula
peixes, crustáceos
(10), siri (6),
e moluscos
31
caranguejo (6)
Rhinobatos horkelii
V (71), I (16),
P, V
P (13)
Caranx latus
Oligoplites saliens
I (26)
V (19), P (10),
I (6)
I
V
peixes (42),
camarões, peixes e
camarão (26)
caranguejos
peixes (78),
peixes, camarões e
camarão (22),
outros
lulas (9)
invertebrados
peixes (81),
peixes e
camarão (16),
cefalópodes
31
23
31
lulas (10)
152
Tabela 6. Continuação
Nome científico
Mugil platanus
Pescadores
Literatura
Pescadores
Literatura
Período de
Período de
Itens alimentares
Itens alimentaresb
N
reprodução
reproduçãoa
limo (17), algas
micro flora e micro
29
(10), areia (17),
fauna planctônicos
lodo (14)
e bentônicos e
I (52), O (10)
O, I
detritos
Astroscopus
V (37), ano todo
não encontrado
peixes (67),
sexspinosus
(20), I (17), P
camarão (10),
(10)
areia (7), lama (7)
não encontrado
30
31
Menticirrhus
V (42), P (29),
P, V
camarão (74),
crustáceos, peixes,
americanus
I (16)
I, P
tatuíra (45),
poliquetos e
vermes (42),
moluscos
peixes (35), lulas
(13), marisco
(10), areia (6)
Cada pescador entrevistado pode ter indicado mais de um período de reprodução e mais de um item alimentar.
a
Carcharhinus porosus: Compagno (1984); Pomatomus saltatrix: (Haimovici & Krug, 1992; Silvano &
Begossi, 2010 para o sudeste do Brasil); Diplodus argentus: David et al. (2005); Micropogonias furnieri:
Vazzoler (1971); Anisotremus surinamensis: Cagide (1994) em Cuba; Mugil curema: (Ibáñez & Benitéz, 2004;
Pina & Chaves, 2005); Epinephelus sp.: Andrade et al. (2003) para o sul do Brasil; Rhinobatos horkelii: Vooren
et al. (2005); Caranx latus: Garcia-Cagide et al (1994) em Cuba; Oligoplites saliens: Fishbase (05/2010); Mugil
platanus: (Vieira, 1985; Vieira & Scalabrin, 1991); Menticirrhus americanus: (Muniz & Chaves, 2008 no sul do
Brasil; Breden & Rosen, 1966 nos EUA).
b
Carcharhinus porosus: Figueiredo (1977); Pomatomus saltatrix: Haimovici & Krug (1992); Diplodus
argentus: Menezes & Figueiredo (1980); Micropogonias furnieri: (Tanji, l974; Vazzoler, l975); Anisotremus
surinamensis: Menezes & Figueiredo (1980); Mugil curema: Seckendorff & Azevedo (2007); Epinephelus sp.:
153
(Figueiredo & Menezes, 1980; Szpilman, 2000); Rhinobatos horkelii: (Lessa, 1982; Bornatowski et al., 2010
para o mesmo gênero); Caranx latus: (Silvano, 2001; Menezes & Figueiredo, 1980); Oligoplites saliens: Winik
et al. (2007); Mugil platanus: (Vieira, 1985; Seckendorff & Azevedo, 2007); Menticirrhus americanus:
Rondineli (2007).
154
Tabela 7. Períodos em que os peixes se encontravam em estágios de maturação avançada, maduro e
início de desova (período de reprodução), número total de indivíduos analisados quanto a reprodução e
variação do comprimento padrão (Cp) para as espécies de peixes estudadas na praia da Pinheira, litoral
sul do Brasil, durante os anos de 2007 e 2008. V (verão)=fevereiro; O (outono)=maio; I
(inverno)=agosto;
P
(primavera)=novembro.
N=número
total
de
indivíduos
analisados;
Cp=comprimento padrão (cm).
Espécies
Nome
V
O
I
P
N
comum
Variação do Cp
(mín-máx)
Micropogonias furnieri
corvina
51
19 – 63
Menticirrhus americanus
papa-terra
87
21 – 35
Astroscopus sexspinosus
lambra
13
31 – 46,5
Diplodus argentus
marimbau
53
14 – 26
155
Tabela 8. Valores da freqüência de ocorrência e do índice de importância alimentar (IIA) para os itens
ingeridos pelas espécies de peixes: Diplodus argentus (marimbau), Menticirrhus americanus (papaterra), Micropogonias furnieri (corvina), Caranx latus (xerelete), Astroscopus sexspinosus (lambra) no
litoral sul do Brasil, durante os anos de 2007 e 2008. Itens alimentares considerados principais e
adicionais em negrito. fr=freqüência; IIA=índice de importância alimentar; M.O.=matéria orgânica;
n.i.=não identificado; Cp=comprimento padrão.
Itens alimentares
D. argentus
M. americanus
M. furnieri
C. latus
A.
sexspinosus
fr
IIAa
fr
IIA
fr
IIA
fr
IIA
fr
IIA
Micro algas
0,28
0,09
-
-
-
-
-
-
-
-
Macrófitas
0,76
0,37
-
-
-
-
-
-
-
-
Polichaeta
-
-
0,07
0,03
0,83
0,76
-
-
-
-
Aracnida
0,09
0,02
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
0,25
0,06
-
-
-
0,02
Amphipoda
0,33
0,12
-
-
-
-
-
-
-
-
Thozacica
0,04
0,03
-
-
-
-
0,08
0,04
0,08
-
Decapoda n.i.
0,47
0,29
0,21
0,15
-
-
-
-
-
-
Malacostraca
-
-
0,07
0,05
-
-
-
-
-
-
Gastropoda
0,04
0,01
-
-
-
-
-
-
-
-
Pelecipoda
0,23
0,11
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
0,07
0,05
-
-
-
-
-
-
0,19
0,11
0,50
0,30
0,08
0,06
Vegetais
Invertebrados
Crustácea n.i.
Cefalópodes
Vertebrados
Peixes n.i.
1
0,75
1
0,75
156
Tabela 8. Continuação
Itens alimentares
D. argentus
M. americanus
M. furnieri
C. latus
A.
sexspinosus
fr
IIAa
fr
IIA
fr
IIA
fr
IIA
fr
IIA
0,47
0,30
0,32
0,18
0,75
0,49
0,16
0,06
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
0,08
0,04
Sedimento
0,14
0,05
0,10
0,04
0,58
0,30
-
-
-
-
Fragmentos de
0,04
0,01
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
0,16
0,04
-
-
0,09
0,02
0,07
0,01
0,08
0,04
0,16
0,06
-
-
0,14
0,03
-
-
-
-
-
-
-
-
Outros
M.O. n.i.
M.O. vegetal
rocha
Fragmentos de
madeira
Fragmentos de
conchas
Escamas
ctenóides
a
Nº de estômagos
21
28
12
12
12
Variação Cp cm
14 - 26
23 - 33,5
19,5 - 31
22,5 - 24,5
31 - 46,5
IIA=índice de importância alimentar:(>0,3=item principal; 0,3>IIA>0,15=item adicional;
<0,15=item ocasional)
157
Tabela 9. Comparação entre o conhecimento ecológico local dos pescadores (CEL) da praia da
Pinheira e os resultados obtidos no estudo da biologia dos peixes (EBP). Entre parênteses a
porcentagem de respostas dos pescadores.
Espécies
Micropogonias
CELa
EBP
CELa
EBP
Período de
Período de
Itens alimentares
Itens alimentares
reprodução
reprodução
P (52), V (45)
P, V
vermes (52), peixes
poliquetos,
(35), camarão (16),
crustáceos,
tatuíra (6), marisco
moluscos e peixes
furnieri
(3)
Menticirrhus
V (42), P (29),
americanus
I (16)
P, V
camarão (74),
peixes, crustáceos,
tatuíra (45), vermes
matéria orgânica
(42), peixes (35),
n.i., vermes e
lulas (13), marisco
moluscos
(10), areia (6)
Astroscopus
V (37), ano todo (20),
sexspinosus
I (17), P (10)
O, I, P
peixes (67),
peixes e crustáceos
camarão (10), areia
(7), lama (7)
Diplodus argentus
V (23), I (13), P (10)
I, P, V
peixes (32),
plantas, camarões,
camarão (29),
anfípodas, peixes e
marisco (23), algas
pelecípodas
(23), tatuíra (19),
limo (16), lulas (6)
158
Tabela 9. Continuação
CELa
Espécies
Caranx latus
CELa
EBP
Itens alimentares
Itens alimentares
peixes (78),
peixes, crustáceos e
camarão (22), lulas
moluscos
EBP
Período de
Período de
reprodução
reprodução
I (26)
não identificado
(9)
a
Cada pescador entrevistado pode ter indicado mais de um período de reprodução e mais de um item alimentar.
159
Tabela 10. Hipóteses sobre a biologia dos peixes baseadas nas informações dos pescadores das
comunidades da praia da Guarda do Embaú e praia da Pinheira, litoral sul do Brasil. %=porcentagem
de pescadores que citou cada informação.
Hipóteses
%
O escrivão (Eucinostomus argentus) se reproduz na primavera e verão
54a
Peixes também fazem parte da dieta do escrivão (Eucinostomus argentus)
36 a
Moluscos não fazem parte da dieta da anchova (Pomatomus saltatrix)
100 a
A anchova (Pomatomus saltatrix) se reproduz no inverno
50 a
A garoupa (Epinephelus sp.) também possui hábitos alimentares saprófagos c
21 a
Peixes também fazem parte da dieta do marimbau (Diplodus argenteus)
32 b
O saugo (Anisotremus surinamensis) se reproduz na primavera e verão
45 b
Camarões também fazem parte da dieta da guaivira (Oligoplites saliens)
15 ª; 16 b
ª pescadores entrevistados da praia da Guarda do Embaú
b
pescadores entrevistados da praia da Pinheira
c
peixes que comem matéria orgânica em decomposição
160
Legendas das Figuras
Figura 1. Mapa da América do sul com indicação da região sul do Brasil. Comunidades de pescadores
da praia da Guarda do Embaú e pesca de lazer com tarrafas (A). Comunidade de pescadores da praia
da Pinheira e pesca artesanal comercial (B).
Figura 2. Espécies de peixes capturadas na região da praia da Guarda do Embaú e praia da Pinheira,
litoral sul do Brasil, durante os anos de 2007 e 2008, selecionadas para os estudos dos aspectos
reprodutivos e alimentares.
Figura 3. Suficiência amostral nas análises dos itens alimentares ingeridos pelas espécies de peixes:
marimbau (Diplodus argentus), papa-terra (Menticirrhus americanus), corvina (Micropogonias
furnieri), xerelete (Caranx latus), lambra (Astroscopus sexspinosus) na praia da Pinheira, litoral sul do
Brasil, durante os anos de 2007 e 2008.
161
Figuras
Fig. 1
162
Fig. 2
163
Fig. 3
164
CONCLUSÕES GERAIS
Os pescadores das duas comunidades estudadas no sul do Brasil, praia da Guarda do Embaú e
praia da Pinheira, apresentaram particularidades quanto às estratégias de exploração dos peixes, como
os indícios de regras de uso do espaço de pesca e o uso de estratégias de pesca de baixa produtividade
e destinadas à captura de variadas espécies de peixes. Essas particularidades devem ser consideradas
pelos órgãos gestores dos recursos quando forem elaboradas as políticas de gerenciamento da pesca,
evitando assim possíveis conflitos com as comunidades locais.
As atitudes de respeito e intimidação foram observadas como indícios da existência de um
comportamento territorial dos pescadores locais da praia da Guarda do Embaú na pesca da tainha
(Mugil platanus), que pode ter sido responsável por gerar uma regra de uso dos recursos que leva à
conservação desse peixe. Essa regra de uso regulou o livre acesso ao ponto de pesca de melhor
localização para a captura da tainha, além de ter promovido o uso de um ponto de pesca, que por sua
característica ambiental, proporcionou a utilização de uma estratégia de pesca menos produtiva pelos
pescadores. A importância desse comportamento territorial dos pescadores para a conservação de
espécies de peixes migratórios como a tainha, pode se manifestar à medida que um número maior de
comunidades de pescadores locais apresentarem ao mesmo tempo regras similares (territórios) que
reduzem a pressão de captura sobre esse recurso de propriedade comum. Desta forma, proibir o uso da
tarrafa para a pesca da tainha nos costões pode fazer pouco sentido para comunidades de pescadores
que apresentam formas de manejo local na exploração desse peixe, como ocorreu na comunidade da
praia da Guarda do Embaú no sul do Brasil.
Os pescadores artesanais da praia da Pinheira utilizaram estratégias de captura diversificadas,
registrando diferenças de seletividade e produtividade o que pode ter reduzido a pressão sobre algumas
espécies e a depleção dos estoques de peixes e por isso devem ser consideradas na elaboração das
políticas de gestão dos recursos pesqueiros para a pesca artesanal. Além disso, os pescadores dessa
comunidade utilizaram técnicas de sondagem para encontrar áreas de pesca de maior produtividade e
165
esse conhecimento pode ser utilizado pelos gestores dos recursos pesqueiros na escolha de áreas
marinhas de proteção.
O estudo do conhecimento ecológico local dos pescadores (CEL) das duas comunidades sobre
as espécies de peixes exploradas, evidenciou que os pescadores possuem um detalhado conhecimento
sobre os aspectos biológicos dos peixes. No entanto, esse conhecimento é menos difundido no que se
refere ao período de reprodução dos peixes, e isso pode ser um problema para a eficiência de
estratégias de gestão baseadas unicamente nas épocas de defeso. Além desse conhecimento, os
pescadores das praias da Guarda do Embaú e Pinheira apresentaram uma percepção sobre as variações
temporais na abundância das espécies de peixes e esse conhecimento pode ser utilizado pelos gestores
dos recursos para distinguir as variações esperadas no número de indivíduos (peixes) decorrentes da
dinâmica de populações, das variações nos estoques decorrentes do esforço de captura.
O reconhecimento dos sistemas social, econômico e ecológico pelas agências de ordenamento
dos recursos pesqueiros, permite conduzir o manejo dos recursos de uma forma participativa e mais
eficiente através de estratégias de co-manejo pesqueiro. Em adição, a ausência de uma solução simples
que alcance a exploração sustentável nas atividades de pesca requer o uso de estratégias de co-manejo
que sigam uma abordagem adaptativa, na qual cada ação de gestão é considerada como uma
experiência que viabiliza extrair informações para corrigir o próprio manejo. Isso possibilita aumentar
a probabilidade de encontrar uma forma coerente de aliar a preservação da diversidade biológica à
manutenção das atividades de exploração dos recursos, preservando as diferenças culturais e o
conhecimento ecológico local.
166
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SILVANO, R.A.M.; VALBO-JØRGENSEN, J. Beyond fishermen’s tales: contribuitions of fishers’
local ecological knowledge to fish ecology and fisheries management. Environ. Dev. Sustain., v. 10,
p. 657-675, 2008.
VALBO-JØRGENSEN, J.; POULSEN, A.F. Using local Knowledge as a research tool in the study of
river fish biology: experiences from the Mekong. Environment, Development and Sustainability, v.
2, n. 3-4, p. 253-276, 2000.
171
ANEXOS
172
Questionário Sócio-Econômico
Local: ____________________________________ Data: ____________________
Nome do pescador: ______________________________________ Nº: ________
1 - Sexo: ( ) M
( )F
2 - Idade: ____________ ( ) - 21 anos ( ) + 21 anos
3 – Local de nascimento (naturalidade): __________________________________
4 - Procedência/Atividade econômica:
( ) turista/profissão: __________________________________________________
(
) morador local/tempo de residência: ____________ (
) sobrevive somente da
pesca ( ) possui outra atividade além da pesca: qual? _______________________
5 - Possui algum familiar que pesca?
( ) sim Geração: ( ) avô
( ) pai
(
) filho
( ) outro ____________
( ) não
6 – Há quanto tempo pesca? ____________________________________________
OBSERVAÇÕES: (Artefato de pesca utilizado pelo pescador no momento da
entrevista)
173
Ficha de Desembarques Pesqueiros
1 - Local: _____________________________________ Data: _______________
2 – Condições do tempo: ______________________________________________
°C Água: _____________________ °C Ar: ______________________________
3 - Nº/Nome do Pescador: _________________ Id. Embarcação: _____________
4 - Tipo de Artefato de Pesca e/ou Embarcação e Técnica de pesca: ___________
____________________________________________________________________
5 – Área/ponto de pesca: ______________________________________________
6 - Espécies de Peixes Capturadas (kg):
7 - Tempo de Pesca horas/dia aprox.: ____________________________________
8 – Espécies descartadas:
OBSERVAÇÕES:
174
Questionário de Etnoictiologia
Local: _________________________________
Data: _____________________
Nº/Nome do Morador(a): _______________________________________________
Sexo: ( ) M ( ) F
Idade: _______________ ( ) –21 ( ) +21
1-Que peixe é este? _____________________________ Foto nº/espécie: _________
( ) Não sabe responder
2-Para que serve este peixe?
consumo ( ) venda ( )
medicinal ( ) isca ( ) nada ( )
outros: ________________
3- Este peixe diminui com o passar dos anos? ______________________________
( ) Não sabe responder
4-Quando o peixe aparece ovado? ________________________________________
( ) Não sabe responder
5-O que este peixe come? _______________________________________________
( ) Não sabe responder
Observações:
175