1° Semestre
GRADUAÇÃO
GESTÃO DE PROJETOS
GESTÃO DE PROJETOS
APRESENTAÇÃO
Prezado(a) Acadêmico(a),
Bem-vindo(a) à Graduação Gestão de Projetos
na modalidade a
distância, ofertado pelo Centro Universitário Dinâmica das Cataratas UDC.
Sabemos que o seu percurso de aprendizagem necessita ser acompanhado e
orientado, para que você obtenha sucesso nos estudos e construa um
conhecimento relevante à sua formação profissional e acadêmica.
Preparamos este material didático, possibilitando, assim, guiá-lo no
autoestudo da disciplina e na realização das atividades. Além disso, você conta
com o ambiente virtual de aprendizagem como espaço de estudo e de
participação ativa no curso. Nele você encontra as orientações para realizar
atividades e avaliações online, além de recursos que vão enriquecer a proposta
deste material didático, tais como links para sites da Internet, vídeos gravados
pelo professor e outros por ele sugeridos, textos, animações, ilustrações, dentre
outras mídias.
Lembre-se, no entanto, de que você deve se organizar para criar sua
própria autonomia de estudo. Isso inclui o planejamento do seu tempo de
dedicação ao estudo individual e de participação colaborativa no ambiente
virtual.
Este material é o seu livro-texto e apoio importante no percurso de
aprendizagem!
Bom estudo!
Reitoria UDC
GESTÃO DE PROJETOS
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 1
SUMÁRIO.................................................................................................................... 2
SOBRE A DISCIPLINA ............................................................................................... 4
UNIDADE I – INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS ......................................... 6
1.1. O QUE É GESTÃO DE PROJETOS .................................................................... 6
1.2. FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO ................................................................ 14
1.3. Ciclo de Vida dos Projetos ................................................................................. 21
UNIDADE II – GERENCIAMENTO DO ESCOPO E DO TEMPO DO PROJETO ..... 31
2.1. Gerenciamento do escopo ................................................................................. 31
2.1.1. Coleta de requisitos ......................................................................................... 32
2.1.2. Definição do escopo ........................................................................................ 34
2.1.3. Criação da EAP ............................................................................................... 35
2.1.4. Validação e controle do escopo ...................................................................... 37
2.2. Gerenciamento do tempo ................................................................................... 38
2.2.1 Definição das atividades................................................................................... 39
2.2.2. Sequenciamento das atividades...................................................................... 40
2.2.3. Estimativa de recursos das atividades ............................................................ 42
2.2.4. Desenvolvimento do cronograma .................................................................... 46
2.2.5. Diagrama PERT/CPM ..................................................................................... 48
UNIDADE III – GERENCIAMENTO DOS CUSTOS E DOS RISCOS DO
PROJETO ................................................................................................................. 53
3.1. Gerenciamento dos custos ................................................................................. 53
3.1.1. Estimativa de custos do projeto....................................................................... 54
3.1.2. Orçamento dos custos..................................................................................... 56
3.1.3. Gestão pelo valor agregado – GVA ................................................................. 59
3.2. Gerenciamento dos riscos .................................................................................. 61
UNIDADE IV – DEMAIS ÁREAS DO CONHECIMENTO EM GESTÃO DE
PROJETOS ............................................................................................................... 67
4.1. Gerenciamento dos recursos humanos .............................................................. 67
4.2. Gerenciamento das comunicações do projeto ................................................... 73
4.3. Gerenciamento da qualidade e das aquisições .................................................. 77
2
GESTÃO DE PROJETOS
4.3.1. Gerenciamento da qualidade do projeto ......................................................... 77
4.3.2. Gerenciamento das aquisições do projeto ...................................................... 80
4.4. Gerenciamento das partes interessadas e integração ....................................... 83
4.4.1. Gerenciamento das partes interessadas ......................................................... 83
4.4.2. Gerenciamento integração do projeto ............................................................. 84
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 88
3
GESTÃO DE PROJETOS
SOBRE A DISCIPLINA
Estamos começando uma disciplina de Gestão de projetos em um curso
voltado para a área administrativa. É fundamental que você saiba por que é
importante estudar sobre o gerenciamento de projetos nos dias de hoje.
Em primeiro lugar, todos nós gerenciamos projetos em nosso dia a dia.
Quando programamos e fazemos uma viagem, quando realizamos uma festa de
aniversário, quando fazemos um curso para obter um diploma, construímos ou
reformamos uma casa ... tudo isto é projeto.
Em segundo lugar, as nossas empresas e aquelas nas quais trabalhamos
realizam projetos constantemente: desenvolvimento de um produto ou serviço,
lançamento de uma campanha publicitária, implantação ou troca de um sistema de
informações, participação em uma feira ou evento etc.
Ocorre que boa parte desses projetos, sejam pessoais ou corporativos, não
são completados com 100% de sucesso. Às vezes atrasam, outras vezes custam
mais que o planejado, em outros casos a qualidade deixa a desejar. Assim, um
profissional que sabe como gerenciar um projeto é um profissional disputado no
mercado.
Por isso nossa disciplina objetiva treinar você para ser um gerente de
projetos, dentro da metodologia mais utilizada no Brasil e no mundo, capacitando-o
a iniciar, planejar, executar, controlar e encerrar projetos de forma mais efetiva,
aumentando as chances de sucesso do projeto.
Vamos estudar na Unidade I, o que é um projeto, os fatores críticos de
sucesso, a profissão e a formação de um gerente de projetos e o ciclo de vida dos
projetos. Ela é uma unidade introdutória, mas bastante interessante, que dará a
base para os demais temas tratados na apostila.
Na Unidade II, já começaremos a trabalhar com a prática. Iremos estudar o
escopo do projeto, ou seja, todo o trabalho que deve ser feito para que o projeto
atinja seu objetivo. Também estudaremos o gerenciamento do tempo do projeto, que
trata dos processos para que o projeto seja concluído dentro do prazo.
A Unidade III aborda o gerenciamento dos custos do projeto, ou seja, como
iremos planejar e controlar o orçamento do projeto, de modo que seu custo não
4
GESTÃO DE PROJETOS
ultrapasse o valor aprovado. Nesta unidade também trabalharemos a gestão dos
riscos, para que o projeto fique mais imune às adversidades que podem ocorrer e
tenha mais chances de ser concluído com sucesso.
Por fim, a Unidade IV trata das demais áreas da gestão de projetos, a saber:
recursos humanos, comunicação, qualidade, aquisições, partes interessadas e
integração. Elas complementam as áreas estudadas nas unidades anteriores, de
forma a termos um projeto bem estruturado e coeso.
VAMOS LÁ, ENTÃO? VOCÊ VERÁ QUE, APESAR DE O CONTEÚDO SER
EXTENSO, AS ATIVIDADES PRÁTICAS TORNARÃO O APRENDIZADO
DINÂMICO E DIVERTIDO.
5
GESTÃO DE PROJETOS
UNIDADE I – INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS
Prezado(a) acadêmico(a), nesta primeira unidade veremos o que é um
projeto, quais as suas características e os fatores críticos de sucesso e por que
devem ser bem gerenciados. Também falaremos sobre o gerente de projetos, um
profissional muito requisitado no mercado, e como você pode se preparar para se
tornar um. Por fim abordaremos o ciclo de vida, ou as etapas pelas quais todo
projeto passa.
Vamos lá?
1.1. O QUE É GESTÃO DE PROJETOS
Neste item vamos estudar o que é um projeto, entender a diferença entre
projetos e processos, bem como conhecer as diversas estruturas organizacionais e
sua relação com os projetos. Também veremos quem são as partes interessadas no
projeto e como identificar suas expectativas.
Para trabalharmos em gestão de projetos, temos primeiro que definir o que é
um projeto, e também o que não é um projeto.
Definição!
Projeto. Um projeto pode ser considerado como um empreendimento único e
temporário, que não se repete e tem como característica poder ser representado por
uma sequência lógica de atividades, e que visa atingir a um objetivo (PMBOK, 2013,
p. 3).
Vamos detalhar cada parte dessa definição para que fique clara para você:
•
Empreendimento único: um evento que não se repete, que não é
rotineiro. Por exemplo, construir uma casa é um empreendimento único, pois mesmo
que venhamos a construir novas casas idênticas, o local, a equipe, os materiais, as
datas são diferentes, tornando o projeto daquela casa único.
6
GESTÃO DE PROJETOS
•
Temporário: possui início e fim determinados. A construção de uma
casa deve possuir uma data prevista de término. O fato de muitas vezes uma casa
nunca ficar pronta não significa que o projeto é eterno, mas que foi mal planejado e
executado.
•
Caracterizado por sequência lógica de atividades: um projeto deve
poder ser expresso em atividades lógicas e sequenciais, de modo que possamos
planejar o que se deve fazer primeiro, seguindo pelas atividades intermediárias, até
a atividade final. Deve haver previsibilidade no encadeamento das atividades.
•
Atingir um objetivo: todo projeto deve ter um objetivo a atingir,
produzindo um resultado (produto ou serviço) exclusivo.
Para refletir!
Então, além da construção de uma casa, o que poderia ser considerado um projeto?
Resposta: tudo aquilo que se enquadrar na definição anterior, tais como: fazer uma
viagem, redigir um TCC (trabalho de conclusão de curso), desenvolver um novo
produto, uma missão espacial para levar o homem a marte. Veja que os projetos
podem ser tão simples, quanto montar uma horta em casa, e tão complicados, como
organizar uma Olimpíada.
Para refletir!
E o que não seria considerado um projeto?
Resposta: tudo aquilo que não se enquadra na definição. Normalmente, em uma
empresa, o que não é projeto é considerado como processo, ou seja, processo são
todas as ações rotineiras e repetitivas que, por serem muito uniformes, não podem
ser caracterizadas como únicas. Além disso, o projeto tem data para terminar,
enquanto o processo é contínuo, ou seja, não há previsão de término.
Por exemplo, desenvolver um novo modelo de carro é um projeto, já produzir
milhões deles é um processo. Escrever um livro é um projeto, imprimir milhares de
cópias, um processo. Fazer uma viagem ao exterior, um projeto; viajar a cada
quinzena para o interior para visitar os pais, um processo.
Ficou clara a diferença entre projetos e processos? Isto é importante para
que possamos entender as diferenças entre gerenciamento de projetos e processos.
Exemplo!
Imagine uma viagem ao exterior. Quantas atividades não terão que ser realizadas
para sua execução: tirar o passaporte, obter o visto, trocar dinheiro, reservar hotéis,
planejar excursões, comprar roupas etc. Isto é um exemplo de projeto. Agora
imagine que a cada 15 dias você passe o final de semana na casa de seus pais. As
atividades são tão rotineiras que você nem se preocupa em planejá-las ou controlalas: a passagem é comprada na hora de viajar, as roupas colocadas rapidamente na
mochila etc. Isto é um exemplo de processo.
7
GESTÃO DE PROJETOS
Isto não significa que no processo não há necessidade de planejamento e
controle, mas que a forma de se fazer é diferente. Em um projeto, cada atividade é
planejada e controlada. Em um processo (fabricar tijolos, por exemplo), fazemos o
planejamento dos lotes.
Da mesma forma, um projeto tem data para iniciar e terminar. Uma fábrica
de tijolos continuará a produzi-los indefinidamente.
Assim, as técnicas que veremos aqui para se gerenciar projetos
(cronograma, rede PERT, análise de riscos etc.) tendem a ser diferentes daquelas
usadas para gerenciamento dos processos. Isto ficará mais claro quando
estudarmos as demais unidades que detalham a metodologia para gerenciamento
dos projetos.
Além disso, a estrutura organizacional da empresa também afeta a gestão
dos projetos. Estamos acostumados a termos em nossas empresas estruturas
funcionais, com gerentes como Financeiro, Marketing, Operações, Administrativo
etc.
Suponha uma fábrica de brinquedos que seja estruturada desta forma, como
mostrada na figura 1, e que essa empresa seja altamente eficiente na produção,
distribuição e venda desses brinquedos. Isto significa que sua estrutura está
perfeitamente adaptada para atingir o objetivo da empresa.
Figura 1: Organização funcional
Fonte: PMI (2013, p. 22)
8
GESTÃO DE PROJETOS
Entretanto, imagine que eles tenham que desenvolver um novo brinquedo.
Lembre-se que esse desenvolvimento é caracterizado como projeto, enquanto a
operação normal da empresa como um processo. Assim, o projeto de
desenvolvimento do novo produto será coordenado pelos gerentes funcionais, como
visto na figura, e a equipe que participará do projeto são aquelas marcadas nas
caixas cinza.
Para que você entenda as dificuldades de se fazer um projeto em uma
empresa cujo processo funciona bem, pense que para desenhar o novo brinquedo,
um engenheiro terá que gastar 40 horas, e isto o tirará de suas funções normais no
processo. O mesmo ocorre com o pessoal de marketing. Para se testar o protótipo
do brinquedo, a linha de produção terá que ficar parada por um dia. Note os
transtornos causados por todas essas interrupções e alterações em um processo
que funciona bem.
O que normalmente ocorre, nesses casos, é que os funcionários dão
prioridade ao atendimento das suas tarefas diárias e rotineira, do processo
(obedecendo aos seus gerentes funcionais) e deixam de lado, em segundo plano, as
atividades do projeto. Por isso, muitos projetos não funcionam bem em empresas
com estrutura funcional.
Bate papo!
Talvez você trabalhe em uma empresa com esse tipo de estrutura e se lembre que
algum projeto que tenha causado transtornos no seu departamento. Como foi
resolvido?
O ideal, para empresas que trabalham com projetos, é montar uma Estrutura
Projetizada, conforme figura 2.
9
GESTÃO DE PROJETOS
Figura 2: Organização Projetizada
Fonte: PMI (2013, p. 25)
Nesse tipo de estrutura, veja que apenas um gerente (o gerente do projeto)
comanda a equipe. Isso gera maior autonomia para o projeto e melhora as
comunicações. Além disso, a equipe não fica dividida e sabe bem a quem obedecer.
Contudo, esta estrutura só funciona em organizações que trabalham
eminentemente com projetos, por exemplo, uma construtora, uma empresa de
consultoria, uma produtora de filmes. Empresas industriais e de serviços, como um
hotel, por exemplo, não se adaptam a ela justamente por suas operações serem
eminentemente rotineiras (processos).
Por isso, uma estrutura alternativa costuma ser usada, chamada de
estrutura matricial. Ela alia os benefícios da estrutura funcional (eficiente para
processos) a uma estrutura projetizada (eficiente para projetos). Isto pode ser visto
na figura 3.
10
GESTÃO DE PROJETOS
Figura 3: Organização matricial forte
Fonte: PMI (2013, p. 24)
Desta forma, algumas empresas criam uma gerência ou departamento
exclusivo para gerenciar os projetos, embora a maior parte da equipe ainda fique
subordinada aos gerentes funcionais. Isto dá uma autonomia média ao gerente do
projeto, o que costuma trazer benefícios à gestão dos projetos nesse tipo de
empresa.
Outro ponto importante que já começamos a entender, e que temos de
aprofundar agora é o conceito de partes interessadas.
Nas estruturas, vimos alguns profissionais e áreas: equipe, gerente de
projetos, executivo-chefe. Todo o projeto é realizado para atingir um objetivo, que é
concebido por essas partes interessadas ou que certamente as afetará. Mas essas
pessoas não estão somente dentro da organização que executa o projeto.
Definição!
Partes interessadas. As partes interessadas ou stakeholders são aquelas pessoas
ou organizações que têm interesses, expectativas e influências no projeto ou que
serão afetados por ele.
Seguem alguns exemplos de stakeholders e possíveis interesses em um
projeto:
11
GESTÃO DE PROJETOS
•
Patrocinador: aquele que será responsável pelo financiamento do
projeto. Geralmente espera custos reduzidos.
•
Cliente: aquele que é responsável pela aprovação do projeto.
Geralmente quer alta qualidade, beleza, prazos reduzidos.
•
Usuários: aqueles que utilizarão o produto ou serviço gerado pelo
projeto. Normalmente desejam qualidade, tecnologia, facilidade de uso.
•
Gerente do projeto: aquela pessoa que gerencia o projeto. Busca
satisfazer a maior parte das necessidades das partes interessadas e atingir o
objetivo do projeto.
•
Equipe:
pessoas
que
executarão
as
atividades
do
projeto.
Normalmente querem remuneração elevada, prazos dilatados, boas condições de
trabalho.
•
Fornecedores: empresas que fornecerão bens e serviços para o
projeto. Assim como a equipe, procuram alta rentabilidade, baixo risco, e pouca
pressão para cumprimento dos prazos.
•
Sociedade: aquelas pessoas e órgãos que não têm controle direto
dobre o projeto mas que serão afetados por ele, tais como: comunidade, governo,
bancos etc.
Esta lista não apresenta todas as partes interessadas, mas serve para dar
ideia de quem são e da complexidade, e muitas vezes antagonismos, dos seus
interesses. Por exemplo, enquanto a equipe e os fornecedores querem ganhar mais,
o patrocinador quer reduzir o custo. Enquanto o cliente que alta qualidade e beleza,
com prazos imediatos, o patrocinador quer custos baixos e a equipe prazos longos.
Por isso um bom gerente de projetos deve saber negociar bem com cada
parte interessada, para que os requisitos do projeto compreendem e atendam à
maior parte dessas expectativas. Nem sempre é possível o atendimento a 100%
delas.
Estudo de caso!
Suponha que você está responsável por gerenciar uma festa de final de ano da sua
empresa. Identifique os stakeholders, interesses e expectativas de cada um e seu
grau de influência sobre o projeto. Depois que tiver feito, compare seu trabalho com o
exemplo apresentado no quadro 1.
12
GESTÃO DE PROJETOS
Parte interessada
Diretor financeiro
(patrocinador)
Diretor RH (cliente)
Diretores (usuários)
Você
(gerente projeto)
Equipe do projeto
Funcionários
Familiares dos
funcionários
Clientes da empresa
Fornecedores da
empresa
Vizinhos
Interesses e expectativas
Baixo custo.
Grau de
influência
Alto
Bastante animada com diversão, comida e bebida de
alta qualidade.
Ocorrer fora dos dias úteis para não prejudicar o
trabalho.
Que o projeto atinja o objetivo dentro do prazo, custo e
qualidade.
Liberação do trabalho para preparação da festa.
Ocorrer em dia útil para não atrapalhar o final de
semana, muita bebida e comida, atividades esportivas e
entretenimento.
Entrada liberada sem limite por funcionário. Brinquedos
e diversão para as crianças
Não interrupção dos trabalhos. Alguns poderiam querer
participar da festa.
Não interrupção dos trabalhos. Alguns poderiam querer
participar da festa.
Pouco barulho, término antes das 22h.
Alto
Médio
Alto
Baixo
Médio
Baixo
Médio
Baixo
Baixo
Quadro 1: Exemplo de identificação das partes envolvidas e suas expectativas
Fonte: Elaborado pelo autor.
Bate papo!
E ai, seu trabalho ficou parecido com o quadro apresentado? Não? Fique tranquilo(a)
pois há várias formas de se fazer esse levantamento, mas o importante é procurar
não esquecer nenhuma parte interessada (algumas são quase obrigatórias, como
patrocinador, cliente, gerente, equipe etc.).
Neste item vimos o que é um projeto, a diferença entre projetos e processos,
as diversas estruturas organizacionais e sua relação com os projetos e as partes
interessadas. Caso tenha ficado alguma dúvida, torne a ler a aula ou faça uma
pergunta ao professor-tutor, ok?
Aprimore seus estudos!
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 1).
• PMI (2013, cap. 1, 2).
• Vargas (2009, parte 1).
• Xavier et al. (2014, cap.1).
13
GESTÃO DE PROJETOS
1.2. FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Neste item vamos trabalhar os fatores críticos de sucesso do projeto, ou
seja, como saberemos que o projeto atingiu todo seu objetivo. Além disso, veremos
o papel do gerente de projetos (e como você pode se tornar um GP) e a ética e
responsabilidade social no âmbito dos projetos.
Como vimos na aula anterior, um projeto é um empreendimento único, não
repetitivo. Ora, tudo o que fazemos pela primeira vez raramente tem sucesso total.
Lembre-se da primeira vez que você jogou um videogame novo, ou a primeira vez
que tentou andar de bicicleta. Pois é, sempre que fazemos algo único pela primeira
vez, as chances de que algo dê errado são grandes.
Veja na Figura 4 pesquisa feita pelo PMI – Project Management Institute, em
sua edição de 2013.
Figura 4: Frequência de atingimento das metas dos projetos
Fonte: PMSURVEY.ORG 2013 Edition, p.87. Project Management Institute Chapters. Disponível em:
<http://www.pmsurvey.org/>. Acesso em: 12 Jan. 2014.
Note que apenas 2% dos projetos sempre atingem suas metas de prazo,
custo, qualidade e satisfação do cliente. E 38% dos projetos atingem suas metas
poucas vezes, ou nunca.
Sabendo que essa pesquisa é feita com empresas que trabalham com
metodologia de gestão de projetos, isto é preocupante. Imagine empresas que
14
GESTÃO DE PROJETOS
fazem projetos sem usar um método. Provavelmente os resultados devem ser
piores.
A mesma pesquisa, na figura 5, mostra os principais problemas que ocorrem
nos projetos.
Figura 5: Problemas mais frequentes em projetos
Fonte: PMSURVEY.ORG 2013 Edition, p. 94. Project Management Institute Chapters. Disponível em:
<http://www.pmsurvey.org/>. Acesso em: 12 Jan. 2014.
Repare que 66% têm problemas de comunicação, quase 56% não cumprem
os prazos, 42% têm estimativas incorretas ou sem fundamento e quase 41% não
cumprem o orçamento, dentre os vários problemas descritos.
Não há como não ficar alarmado com esses números e as empresas já
descobriram que estão perdendo milhões de reais em desperdícios em projetos mal
geridos.
Bate papo!
Você já participou de algum projeto que teve problema? De qual ordem?
15
GESTÃO DE PROJETOS
Alguns problemas se devem a erros de planejamento: escopo não definido
adequadamente, riscos não avaliados corretamente, estimativas incorretas ou sem
fundamento, falta de definição de responsabilidades etc.
Outros problemas podem ser creditados a erros de execução: problemas
de comunicação, recursos humanos insuficientes, concorrência entre o dia a dia e o
projeto, falta de competência para gerenciar o projeto, dentre outros.
E alguns são devidos a erros de monitoramento e controle: mudanças
constantes de prioridades, problemas com fornecedores, retrabalho em função da
falta de qualidade etc. (embora a causa desses problemas possa estar no
planejamento e execução, um controle bem feito poderia evita-los ou diminuir seu
impacto).
Definição!
Fatores críticos de sucesso (FCS). Os fatores críticos de sucesso são aqueles
pontos que devem ser avaliados para saber se o projeto foi um sucesso.
Ou seja, não adianta somente atingir o objetivo (por exemplo ter a casa
construída), mas deve-se ver se ela foi concluída no prazo, se custou o que foi
previsto, se a qualidade mínima exigida foi atingida.
Note que os fatores críticos de sucesso estão diretamente ligados às
expectativas das partes envolvidas (custos, prazo, qualidade etc.). Por exemplo, se
tudo foi feito a contendo, mas a equipe ficou sobrecarregada, fez muitas horas
extras não remunerados ou ganhou abaixo do esperado, neste quesito o projeto não
foi bem sucedido.
Bate papo!
Está clara essa ideia de fatores críticos de sucesso? Você pode dar exemplos de
FCS para algum projeto que participou?
Para refletir!
Bem, agora que já vimos quantos problemas ocorrem nos projetos e o impacto que
esta realidade tem para as empresas, fica uma pergunta: o que poderia ser feito para
reduzir a ocorrência e o impacto desses problemas e aumentar a chance de sucesso
dos projetos?
16
GESTÃO DE PROJETOS
A resposta, como você já pode estar inferindo, é a implantação de uma boa
metodologia de gerenciamento de projetos.
Ao implantar uma metodologia, os riscos diminuem e a execução fica
facilitada devido a um planejamento detalhado. Além disso, fica mais fácil controlar,
pois sabemos o que foi planejado e podemos compará-lo com o que está sendo
realizado. As mudanças também serão reduzidas e mais facilmente implementadas.
Por fim, com a experiência acumulada, os novos projetos tenderão a ter estimativas
mais realistas, permitindo um melhor planejamento e a redução dos riscos.
Ao longo desta apostila iremos utilizar a metodologia 1 proposta pelo PMI
(pronuncia-se piemai), sigla que quer dizer Project Management Institute (Instituto
de Gerenciamento de Projetos). Esta organização sem fins lucrativos, sediada nos
EUA, é a maior instituição mundial e referência em gestão de projetos no mundo e
no Brasil (aqui ela possui filiais – capítulos – em 14 Estados).
O PMI publica, normalmente a cada quatro anos, um livro chamado PMBOK
(Project Management Body Of Knowledge – Corpo de conhecimentos em gestão
de projetos), que hoje está em sua 5ª edição, lançada em janeiro de 2013. Esse livro
é a base da metodologia usada nesta apostila. O livro, bem como todas as
informações
sobre
o
PMI,
pode
ser
obtido
no
site
da
organização
(http://www.pmi.org.br).
Por que escolhemos a metodologia do PMI? Porque a grande maioria das
empresas brasileiras e do mundo trabalha com essa metodologia, porque a
organização tem filiais em todo o Brasil, fornecendo capacitação e certificações e,
por fim, quase todos os livros disponíveis em Português fazem referência a ela.
Até agora já vimos os principais problemas que acometem os projetos e que
uma boa estratégia para aumentar as chances de sucesso do projeto é a
implantação de uma adequada metodologia de gestão. Entretanto, somente isto não
basta: é preciso ter profissionais qualificados para gerenciar os projetos.
É aqui que entra o papel do gerente de projetos. Esse profissional, hoje
bastante cobiçado pelas empresas, não tem sua profissão regulamentada, como
engenheiros, médicos ou administradores, mas nem por isso qualquer pessoa pode
se intitular gerente de projetos.
1
Apesar de alguns autores considerarem que o PMI não prescreve uma metodologia, apenas boas práticas, nesta apostila preferimos
usar o termo metodologia porque ela apresenta o que deve ser feito e sugere técnicas e ferramentas.
17
GESTÃO DE PROJETOS
O PMI possui uma certificação denominada PMP (Project Management
Professional – Profissional em gerenciamento de projetos) e para obtê-la o
profissional deve comprovar que possui mais de 4500 horas de experiência em
gestão de projetos, fazer um curso de aprofundamento e passar em uma difícil prova
baseada no PMBOK. Essa certificação não é obrigatória para exercer a profissão,
mas serve, entretanto, como um excelente diferencial.
Para refletir!
Você já se perguntou por que seria interessante se tornar gerente de projetos?
Em primeiro lugar, porque é uma profissão na qual não há rotina ou tédio,
pois como um projeto é único, cada projeto possui partes interessadas diferentes,
muitas vezes em empresas e locais distintos. É muito comum um gerente de
projetos ter equipes novas a cada novo projeto e conhecer várias cidades e até
países, dependendo do tipo de projeto.
Em segundo lugar, é bastante desafiadora, pois, como vimos, raramente um
projeto atinge o sucesso total, e estamos sempre correndo atrás de prazos, redução
de custos, aumento de produtividade. Há pessoas que consideram isso como um
ponto negativo da carreira, por considerá-la muito estressante. O importante é
verificar se você tem perfil para essa vida agitada.
Por fim, é uma profissão bastante valorizada. Veja na figura 6, na pesquisa
do PMI, os salários médios de gerentes de projetos: 18% ganham mais de US$ 8 mil
(cerca de R$ 20 mil por mês). Se tomarmos o todo, por volta de 75% ganham mais
de US$ 3 mil (cerca de R$ 7.500 mensais).
18
GESTÃO DE PROJETOS
Figura 6: Salários médios de gerentes de projetos
Fonte: PMSURVEY.ORG 2013 Edition, p.75. Project Management Institute Chapters. Disponível em:
<http://www.pmsurvey.org/>. Acesso em: 12 Jan. 2014.
Exemplo!
Em visita ao site de uma agência de empregos (www.catho.com.br) em 25/06/2014,
em uma busca por gerente de projetos em SP, foram encontradas 36 vagas. Nove
sessas vagas apresentaram salários de R$ 10 mil a R$ 15mil reais mensais.
Então, quais as competências necessárias a um gerente de projetos?
Retomando o conceito de competência, esta é dividida em conhecimentos,
habilidades e atitudes (CHA):
•
Conhecimentos (saber). Um gerente de projetos deve conhecer bem
uma metodologia de gestão de projetos, além de conhecimentos administrativos,
financeiros, contábeis, jurídicos, técnicos, matemáticos que possam lhe ajudar nas
demandas específicas.
•
Habilidades (saber fazer). A principal habilidade requerida a um GP é
a comunicação (pois ele provavelmente passa cerca de 90% do seu tempo se
19
GESTÃO DE PROJETOS
comunicando – via e-mail, telefone, relatórios, reuniões etc.), mas também deve ser
um bom líder, saber negociar e trabalhar em equipe.
•
Atitudes (querer fazer): Um bom GP deve ter iniciativa, organização,
resiliência, perseverança, dentre outras atitudes.
Veja, na pesquisa do PMI apresentada na figura 7 as principais habilidades
necessárias e valorizadas nos gerentes de projeto.
Figura 7: Principais habilidades dos gerentes de projetos
Fonte: PMSURVEY.ORG 2013 Edition, p.76. Project Management Institute Chapters. Disponível em:
<http://www.pmsurvey.org/>. Acesso em: 12 Jan. 2014.
Para refletir!
Por fim, pense em um gerente que possua todos os conhecimentos necessários,
tenha várias dessas habilidades e atitudes bem desenvolvidas e bastante
experiência. Será que é o gerente perfeito?
Resposta: nem sempre: pode ser que ele tenha atitudes pouco éticas. Assim, o PMI
trabalha desde a década de 80 em padrões de ética para os gerentes de projetos.
Sua última versão, aprovada em 2007 pode ser encontrada no site do PMI2.
Nesse documento, o PMI prescreve as normas de conduta ética do gerente
de projetos em quatro pilares:
2
<http://www.pmi.org/About-Us/Ethics/~/media/PDF/Ethics/ap_pmicodeofethics_POR-Final.ashx>
20
GESTÃO DE PROJETOS
•
Responsabilidade: assumir as consequências das decisões e ações;
•
Respeito: tratar com consideração e atenção as pessoas e os recursos
a ele confiados;
•
Equidade (justiça): decidir imparcial e objetivamente, de forma justa;
•
Honestidade: agir de forma verdadeira e sincera.
Além da ética, é desejável a um gerente de projetos o senso de
responsabilidade social. Esta se manifesta quando o GP entende que o impacto
de sua atividade no projeto se estende além dos limites do projeto, atingindo a
sociedade como um todo.
Exemplo!
Por exemplo, um GP socialmente responsável busca não só a rentabilidade do
projeto (lucro para os sócios), mas satisfação para os clientes, crescimento
profissional para a equipe, respeito às leis e atendimento às normas tributárias, assim
como a sustentabilidade ambiental.
Nesta aula vimos os fatores críticos de sucesso do projeto, ou seja, como
saberemos que o projeto atingiu todo seu objetivo. Além disso, entendemos o papel
dos gerentes de projetos e as vantagens e preparação para se tornar um deles. Por
fim, estudamos a ética e a responsabilidade social no âmbito dos projetos.
Aprimore seus estudos!
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 1).
• PMI (2013, cap. 1,2).
• Vargas (2009, parte 1).
• Xavier et al. (2014, cap.1).
1.3. CICLO DE VIDA DOS PROJETOS
Este item começará a apresentar a você a metodologia de gestão de
projetos do PMI. O primeiro ponto a ser entendido é o ciclo de vida de um projeto.
Um projeto, por definição, possui início e fim e, assim como um animal, planta ou
21
GESTÃO DE PROJETOS
pessoa possuem um ciclo de vida (nascem, crescem e morrem), um projeto possui
também essas fases.
Veja, na figura 8, a sequência das fases do ciclo de vida de um projeto, bem
como o nível de esforço (custos e pessoal) despendido em cada fase.
Figura 8: Nível de esforço típico ao longo da vida de um projeto
Fonte: PMI (2013, p. 39)
Antes de o projeto iniciar oficialmente ele já consome tempo e recursos. Por
exemplo, antes de você decidir fazer uma viagem (um projeto) você deverá estudar
sua viabilidade, e tenho, certeza, já deixou de fazer várias coisas porque as
considerou inviáveis.
Exemplo!
Desta forma, toda vez que uma empresa decide fazer um novo projeto – participar de
uma feira, por exemplo – ela colherá as informações, avaliará os prazos, os recursos
disponíveis e os custos, para enfim se decidir pela execução do projeto.
Esta fase é conhecida como fase de iniciação, e visa recolher as
informações e fazer um plano resumido do projeto, de modo que os responsáveis
pela empresa possam avaliar sua viabilidade e decidir pela sua implementação. O
documento gerado após esta fase é chamado Termo de Abertura do Projeto (TAP)
e apresenta, em resumo:
•
22
Necessidade do projeto (finalidade ou justificativa);
GESTÃO DE PROJETOS
•
Objetivos (e os fatores críticos de sucesso associados);
•
Resumo do escopo (o que deve ser feito para atingir o objetivo);
•
Resumo do cronograma (as principais datas);
•
Resumo do orçamento (quanto custará);
•
Lista das partes interessadas (aquela tabela exemplificada no quadro
•
Gerente do projeto (quem será o gerente);
•
Premissas e restrições (informações nas quais o documento foi
1);
embasado).
Quando o termo de abertura do projeto (TAP) é assinado pelo patrocinador
ou pela autoridade maior da empresa, o projeto começa a existir oficialmente.
Para refletir!
E se o projeto não for aprovado?
Resposta: oficialmente ele não existiu e essa documentação fica arquivada
aguardando nova oportunidade ou para servir de material para outros projetos da
empresa.
Após a fase de iniciação, entra a fase de organização e preparação,
conforme a figura 8. Nessa fase o gerente de projetos e a sua equipe irão detalhar o
plano do projeto, expandindo aquilo que estava resumido no TAP. Note que nessa
fase começam a aumentar o nível dos custos e pessoal envolvido no projeto.
O final dessa fase se dá com o plano do projeto elaborado e aprovado.
Exemplo!
Por exemplo, no caso do projeto da feira que a empresa deverá participar, o plano do
projeto deverá conter o detalhamento do stand, a decoração, os produtos que serão
demonstrados, quais os vendedores e representantes da empresa estarão presentes,
onde se hospedarão, quais brindes serão distribuídos etc.
O nível de detalhamento de pende do tipo de projeto e da sua complexidade.
Por exemplo, o plano deste projeto de feira comercial seguramente é muito mais
simples que o plano de implantação de uma nova indústria.
A terceira fase do ciclo do projeto é denominada fase de execução do
trabalho. Nela, o plano do projeto é colocado em prática, as ações são executadas,
as compras são feitas; enfim, o projeto é efetivamente realizado. Nessa fase
23
GESTÃO DE PROJETOS
também temos que controlar o projeto, para verificar se a execução está seguindo o
planejamento e implementar ações preventivas e corretivas para retomar o rumo do
projeto e atingir seu objetivo.
Note que essa fase consome a maior parte de tempo do projeto e o nível de
esforço atinge seu maior valor. Isto é de se esperar.
Por fim, a última é chamada de fase de encerramento do projeto. Nessa
fase, que se inicia com a entrega e aceitação dos produtos e serviços do projeto, o
objetivo é formalizar esses termos de aceitação, desmobilizar a equipe e materiais
alocados, fazer os pagamentos finais e preparar um documento chamado Lições
Aprendidas, de modo que o conhecimento haurido com o projeto fique registrado.
Bate papo!
Viu como tudo se passa de uma forma lógica? É por isso que na definição de
projetos vista na Aula 1, os termos: “sequência lógica de atividades” são utilizados.
Além das fases, outro ponto importante a se ressaltar no ciclo do projeto é
que o comportamento de algumas variáveis tende a se alterar à medida que o tempo
passa. Por exemplo, os riscos e a incerteza.
Veja, na figura 9, que aquilo que considerávamos incerto no início do projeto
vai se tornando claro no seu decorrer. Por exemplo, antes de construirmos uma casa
não sabemos quantos dias de chuva teremos no período (ai usamos uma estimativa
estatística), mas no meio do projeto já temos certeza do que ocorreu e
possivelmente uma certeza maior sobre os próximos meses. Ao final do projeto, em
tese, não há mais incertezas.
24
GESTÃO DE PROJETOS
Figura 9: Impacto das variáveis ao longo da vida de um projeto
Fonte: PMI (2013, p. 40)
O risco (possibilidade de eventos ocorrerem) também diminui ao longo do
projeto. Por exemplo, qual o risco para o projeto se o dólar se valorizar mais que
10%? Esse risco irá se reduzindo ao longo do projeto, pois, mesmo que o câmbio
varie, vários materiais já terão sido comprados, o que diminui o impacto no projeto.
Compreendeu?
Por outro lado, o custo das mudanças tende a aumentar com o decorrer do
projeto.
Exemplo!
Na fase de planejamento, mudar a cor da tinta para pintar uma casa praticamente não
altera os custos (somente a eventual diferença entre as tintas), mas depois que a
casa estiver pintada, para mudar sua cor teremos que refazer todos o trabalho,
provavelmente duplicando o tempo e os custos. Por isso a fase de organização e
preparação (na qual fazemos o planejamento do projeto) é muito importante.
Para lidar com esse ciclo de vida de projetos, a metodologia prescrita pelo
PMI criou cinco grandes grupos de processos3, com ações, técnicas, ferramentas
e documentos previstos para ajudar ao projeto a atingir seu objetivo.
Os 5 grupos de processos são assim denominados:
3
Não confundir aqui o termo processos do projeto com a empresa que trabalha por processos (rotina), vista na
aula 1. A palavra processo aqui é usada pelo PMI porque, como veremos nas aulas adiante, cada atividade
realizada no gerenciamento de projeto possui entrada – técnicas – saídas, formando um processo, no qual a
saída de um é entrada do outro.
25
GESTÃO DE PROJETOS
1.
Grupo de processos de iniciação: aqueles realizados para que o
projeto tenha a autorização formal para seu início. Nesta apostila, trabalharemos
com os seguintes processos:
•
Desenvolver o termo de abertura do projeto;
•
Identificar as partes interessadas.
2.
Grupo de processos de planejamento: aqueles realizados detalhar
os objetivos e definir as estratégias de ação para atingi-los. Nesta apostila,
trabalharemos com os seguintes processos:
26
•
Desenvolver o plano de gerenciamento do projeto;
•
Planejar o gerenciamento do escopo;
•
Coletar os requisitos;
•
Definir o escopo;
•
Criar a EAP (Estrutura Analítica do Projeto);
•
Definir as atividades;
•
Sequenciar as atividades;
•
Estimar os recursos das atividades;
•
Estimar as durações das atividades;
•
Planejar o gerenciamento do cronograma;
•
Desenvolver o cronograma;
•
Planejar o gerenciamento dos custos;
•
Estimar os custos;
•
Determinar o orçamento;
•
Planejar o gerenciamento da qualidade;
•
Planejar o gerenciamento dos recursos humanos;
•
Planejar o gerenciamento das comunicações;
•
Planejar o gerenciamento dos riscos;
•
Identificar os riscos;
•
Realizar a análise qualitativa dos riscos;
•
Realizar a análise quantitativa dos riscos;
•
Planejar as respostas aos riscos;
•
Planejar o gerenciamento das aquisições;
•
Planejar o gerenciamento das partes interessadas.
GESTÃO DE PROJETOS
3.
Grupo de processos de execução: aqueles realizados executar o
trabalho definido no planejamento do projeto. Nesta apostila, trabalharemos com os
seguintes processos:
•
Orientar e gerenciar o trabalho do projeto;
•
Realizar a garantia da qualidade;
•
Mobilizar a equipe do projeto;
•
Desenvolver a equipe do projeto;
•
Gerenciar a equipe do projeto;
•
Gerenciar as comunicações do projeto;
•
Conduzir as aquisições;
•
Gerenciar o engajamento das partes interessadas.
4.
Grupo de processos de monitoramento e controle: aqueles
realizados para acompanhar o desempenho do projeto em relação ao planejado.
Nesta apostila, trabalharemos com os seguintes processos:
•
Monitorar e controlar o trabalho do projeto;
•
Realizar o controle integrado de mudanças;
•
Validar o escopo;
•
Controlar o escopo;
•
Controlar o cronograma;
•
Controlar os custos;
•
Controlar a qualidade;
•
Controlar as comunicações;
•
Controlar os riscos;
•
Controlar aquisições;
•
Controlar o engajamento das partes interessadas.
5.
Grupo de processos de encerramento: aqueles realizados para
terminar formalmente as atividades do projeto. Nesta apostila, trabalharemos com os
seguintes processos:
•
Encerrar o projeto ou fase;
•
Encerrar as aquisições.
Não se preocupe que esses processos vão ser detalhados nos próximos
módulos. Por hora um conceito é importante é você entender a interação entre os
27
GESTÃO DE PROJETOS
grupos de processos. A figura 8 apresentou o ciclo de vida do projeto, colocando
as fases em ordem sequencial.
Entretanto, de forma prática para os cinco grupos de processos, as coisas
não acontecem linearmente, como se tivéssemos que esperar que um grupo de
processos termine para que outro se inicie.
Por exemplo, na iniciação há sempre algum planejamento, embora pouco
detalhado, pois para se decidir pela viabilidade do projeto, temos que ter uma ideia
do custo, do prazo, dos riscos (e isto é planejamento).
Da mesma forma, não há como se esperar todo o planejamento detalhado
estar pronto para começarmos a execução. Por exemplo, ao se iniciar uma casa,
ainda não temos certeza de qual tinta ou porcelanato usar, mas nada impede que
planejemos o alicerce e iniciemos sua execução.
Assim, os grupos se interagem durante o ciclo de vida do projeto conforme
pode ser visto na figura 10.
Figura 10: Interação dos grupos de processos ao longo da vida de um projeto
Fonte: PMI (2013, p. 40)
Os processos se sobrepõem, mas veja que sempre há um deles que é o
mais significativo em cada momento e repare que se somarmos o esforço de cada
componente do gráfico teremos uma curva semelhante à da figura 1. Além dos 5
grupos de processos a metodologia do PMI prevê 10 áreas do conhecimento,
através das quais o projeto deve ser gerenciado. Vamos conhecê-las:
28
GESTÃO DE PROJETOS
1.
gerenciamento do escopo: são processos que visam garantir que
esteja incluído todo o trabalho necessário à conclusão do projeto: será estudado na
Aula 4.
2.
gerenciamento do tempo: são processos que buscam garantir que o
projeto se encerre dentro do prazo previsto; será estudado nas Aulas 5 e 6.
3.
gerenciamento dos custos: são processos para garantir que o projeto
não ultrapasse o orçamento que foi aprovado; será estudado nas Aulas 7 e 8.
4.
gerenciamento dos riscos: são processos que visam identificar,
analisar e responder aos riscos do projeto: será estudado na Aula 9.
5.
gerenciamento dos recursos humanos: são os processos que
objetivam melhorar a gestão das pessoas envolvidas no projeto. Será estudado na
aula 10, junto com as comunicações.
6.
gerenciamento das comunicações: são os processos que buscam
gerenciar a captação e distribuição das informações no projeto. Será estudado na
Aula 10, junto com o RH.
7.
gerenciamento da qualidade: são os processos que visam garantir
que o projeto atenda às necessidades para as quais foi criado. Será estudado na
Aula 11, junto com as aquisições.
8.
gerenciamento das aquisições: são os processos que objetivam
gerenciar da melhor forma as aquisições realizadas externamente. Será estudado na
Aula 11, junto com a qualidade.
9.
gerenciamento das partes interessadas: são os processos para
planejar e monitorar o envolvimento das partes interessadas no projeto. Será
estudado na Aula 12, junto com a integração.
10. gerenciamento da integração: são os processos para integrar todos
os cinco grupos de processos e as demais nove áreas do conhecimento. Será
estudado na Aula 12, junto com as partes interessadas.
Pessoal, chegamos ao fim da Unidade I, que trabalhou o conceito de
projetos e processos, discutiu os fatores críticos de sucesso (FCS) dos projetos e
apresentou o ciclo de vida do projeto, com seus cinco grupos de processos e as dez
áreas previstas pelo PMBOK.
Agora vamos à Unidade II, que trabalhará a gestão do escopo e do tempo do
projeto.
29
GESTÃO DE PROJETOS
Aprimore seus estudos:
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 1).
• PMI (2013, cap. 2, 3).
• Vargas (2009, parte 2).
• Xavier et al. (2014, cap.1).
30
GESTÃO DE PROJETOS
UNIDADE II – GERENCIAMENTO DO ESCOPO E DO TEMPO DO
PROJETO
Prezado(a) acadêmico(a), na primeira unidade estudamos o que é um
projeto, suas diferenças em relação aos processos, os fatores críticos que levam os
projetos ao sucesso e também o ciclo de vida de um projeto na visão da metodologia
do PMI.
Nesta Unidade II veremos as duas primeiras áreas da gestão de projetos: o
gerenciamento do escopo e do tempo. O escopo é todo o trabalho que terá que ser
feito no projeto para que este atinja seu objetivo e o tempo diz respeito ao
planejamento e controle dessas atividades para que o prazo seja cumprido,
Vamos lá?
2.1. GERENCIAMENTO DO ESCOPO
A palavra escopo quer dizer abrangência. Em um projeto, seu significado é
bastante preciso e importante.
Definição!
Escopo. o escopo é todo o trabalho que deve ser realizado para que o projeto atinja
seu objetivo.
Assim, o escopo do projeto inclui todos os produtos gerados pelo projeto,
todos os serviços necessários e todas as atividades que devem ser realizadas.
Exemplo!
Por exemplo, para se construir uma casinha de cachorro, o material deve ser
comprado: desta forma, tanto os materiais (madeira, pregos, tinta) fazem parte do
escopo, como as atividades para sua compra (fazer cotação, comprar, pagar etc.).
Além disso, os serviços de montagem (cortar, pregar, pintar) também fazem parte do
escopo.
31
GESTÃO DE PROJETOS
Para refletir!
E o que não faz parte do escopo?
Resposta: tudo aquilo que não estiver especificado nos requisitos do projeto descritos
no Termo de Abertura do Projeto (Aula 3 – fase de iniciação). Deste modo,
suponhamos que o tratamento contra cupim não seja um requisito de nosso projeto
da casinha do cachorro: assim, sua execução não faz parte do escopo. E isto deve
ficar claro para os stakeholders, para que não se criem falsas expectativas.
Tão importante quanto especificar corretamente o escopo do projeto, é
deixar explícito o que não está incluído nele.
Outra diferenciação que deve ser feita por você é entre escopo do projeto
(tudo o que deve ser feito para atingir o objetivo do projeto) e escopo do produto
(características técnicas e especificações dos produtos do projeto).
Exemplo!
Assim, enquanto comprar a madeira faz parte do escopo do projeto, as
especificações técnicas dessa madeira fazem parte do escopo do produto, por
exemplo: tábuas de Pinus ou cedro, de meia polegada, tratada contra fungos.
Agora que já diferenciamos escopo do projeto e do produto, vamos ver quais
são os processos previstos no PMBOK (2013) para o gerenciamento do escopo.
2.1.1. Coleta de requisitos
Coletar requisitos é um processo que objetiva identificar e formalizar os
requisitos e funcionalidades que o projeto deve atingir para satisfazer as
expectativas e necessidades das partes envolvidas.
Ele deve ser realizado no início do projeto, pois como vimos, quanto mais
cedo pudermos identificar esses requisitos dos stakeholders, mais cedo poderemos
planejar o projeto para atendê-los, ou caso impossível, negociá-los durante a fase de
iniciação.
Por exemplo, suponhamos que o requisito de um cliente seja que todo o piso
seja de porcelanato 60x60 cm, mas isto inviabilizaria o orçamento da obra. Neste
32
GESTÃO DE PROJETOS
caso, o gerente de projetos deverá negociar com o patrocinador ou o cliente, de
modo a ou aumentar o orçamento ou alterar a especificação do produto.
Note que muitas vezes o gerente deixa de fazer esse trabalho no início do
projeto, pensando que no futuro as coisas irão se ajeitar. E o que comumente ocorre
é o contrário: novas solicitações tendem a serem incorporadas ao projeto, os preços
costumam subir e o orçamento, que já era insuficiente, fica completamente inviável.
Muitas vezes, essa negociação entre as partes envolvidas no início do projeto é a
chave para que o projeto tenha sucesso, e isto se inicia com a coleta dos requisitos.
Para refletir!
E como podemos realizar essa coleta?
Resposta: há várias formas, e a mais comum é a entrevista, de preferência com os
stakeholders mais importantes. Isto pode ser feito em reuniões. Em alguns casos
questionários podem ser passados quando há necessidade de dados quantitativos
com um grande número de pessoas. Há outras formas como grupos focais,
observação etc.
Após a coleta dos requisitos, é hora de se negociar e se chegar a um
consenso, para que os requisitos sejam consolidados no plano do projeto e o
escopo (o que deve ser feito para seu atendimento) seja detalhado. Há também
várias técnicas que posem ser usadas para se chegar a esse consenso, mas o mais
importante é que, ao final, as partes interessadas entrem em um acordo, que deve
ser formalizado.
Exemplo!
Um quadro pode ser usado para registrar os requisitos do projeto, como exemplo
apresentado no quadro 2.
Requisito
Piso de alta qualidade, 60x60 polido.
Piso antiderrapante.
Gasto inferior a R$ 10 mil com o piso.
Piso resistente e de fácil limpeza.
Stakeholder
Cliente
Segurança
Patrocinador
Infraestrutura
Quadro 2: Exemplos de requisitos
Fonte: Elaborado pelo autor.
Após essa formalização dos requisitos, parte-se para o próximo processo do
gerenciamento do escopo: a definição do escopo do projeto.
33
GESTÃO DE PROJETOS
2.1.2. Definição do escopo
Definir o escopo do projeto é um processo que objetiva apresentar uma
descrição detalhada do escopo do projeto e do produto.
Note que com base nos requisitos levantados no exemplo do quadro 2, há
várias alternativas para se implementar o piso. Podem ser comprados porcelanatos,
cerâmicas, granitos, ou até mesmo se utilizar madeira ou cimento bruto. Cada qual
atenderá, total ou parcialmente, alguns dos requisitos e caberá ao gerente do projeto
conduzir o processo de definição do escopo.
Para tanto, ele deverá levantar as alternativas e compará-las, buscando a
solução que atenda à maior parte dos requisitos. Alguns requisitos podem ser
mandatórios, isto é, não podem ser descumpridos.
Exemplo!
Por exemplo, exigências legais e de segurança normalmente têm precedência à
beleza ou o custo. Por outro lado, dependendo do projeto, o custo pode ser mais
importante que a qualidade, ou vice-versa. Por isso esta etapa é fundamental para o
sucesso do projeto.
Em alguns casos o gerente poderá decidir sozinho (junto com a equipe) as
alternativas a serem escolhidas para definição do escopo. Em outros casos é
conveniente que ele leva a discussão a vários stakeholders, de modo que essa
decisão seja colegiada e aprovada.
Na declaração do escopo devem estar presentes:
•
As entregas do projeto: os produtos e serviços necessários ao
•
Descrição do escopo do produto: as características técnicas do
projeto;
produto ou serviço;
•
Critérios de aceitação: normas ou outras condições que serão usadas
para se aceitar os produtos ou serviços;
•
34
As exclusões: aquilo que não faz parte do escopo do projeto;
GESTÃO DE PROJETOS
•
Restrições: limitações do escopo, como custo máximo, imposições
legais etc.;
•
Premissas: aquilo que é dado como certo para que se possa cumprir o
escopo.
Agora que o gerente de projeto já tem claro e aprovado o que deve ser feito
para que o projeto atinja seu objetivo, ele deverá dividir este escopo em partes, para
que possa mais bem planejá-lo, executá-lo e controla-lo. Este é o objetivo do
próximo processo: a criação da Estrutura Analítica do Projeto (EAP).
2.1.3. Criação da EAP
Certamente você já teve uma tarefa complexa pela frente e ficou pensando:
por onde começar?
Bate papo!
Se já passou por essa situação, como resolveu o problema?
Normalmente quando temos um trabalho grande e complexo, uma boa forma
de conseguirmos entendê-lo é dividi-lo em partes menores. Em projetos, essa
divisão é feita através de uma EAP – Estrutura Analítica de Projetos.
Estudo de caso!
Suponha que você tenha que construir a tal da casinha de cachorro descrita nos itens
anteriores. Se uma casinha de cachorro parece simples demais para você, imagine
uma casa normal, ou um edifício, ou uma complexa vila olímpica. Independente da
complexidade, tudo pode ser decomposto em partes mais simples, de modo que fique
mais fácil ser planejado e controlado. Como fazer uma EAP para o projeto da casinha
do cachorro?
No caso da casinha do cachorro, podemos fazer uma divisão em quatro
partes, por exemplo: desenho, construção, pintura, inauguração. A primeira parte
(desenho), também pode ser dividida em mais três: projeto básico, projeto executivo
e lista de material.
35
GESTÃO DE PROJETOS
A segunda parte (construção), também pode ser dividida em várias partes:
compra de material, base, paredes, teto. Note que estas partes também podem ser
divididas em partes menores. Por exemplo, podemos pegar a parte do teto e dividi-la
em duas: montagem e fixação.
Uma forma de se representar graficamente a EAP é montar uma estrutura
na qual cada elemento é representado em um retângulo e subdividido em
componentes hierarquicamente inferiores. Veja o exemplo da casinha do cachorro
na figura 11.
Figura 11: EAP casinha de cachorro
Fonte: Elaborado pelo autor
Os últimos elementos de cada ramo da EAP são chamados pacotes de
trabalho, e representam a menor parte do trabalho do projeto. Por exemplo, na EAP
acima, são pacotes de trabalho os itens 1.1, 1.2, 1.3, 2.1, 2.2, 2.3.1, 2.3.2, 3.1, 3.2,
3.3, 4.1, 4.2, 4.3. Repare que, se um elemento tem subdivisões, como o 3.2, ele não
é considerado um pacote de trabalho.
Bate papo!
Viu que agora, com o escopo decomposto em uma EAP, fica muito mais fácil
planejarmos nossa casinha do cachorro?
A EAP é a base para se fazer o orçamento, por exemplo. Para que saibamos
quanto gastaremos no projeto, basta calcularmos os custos de cada componente da
36
GESTÃO DE PROJETOS
EAP. Da mesma forma, podemos atribuir cada elemento a um responsável, de modo
que cada pessoa da equipe saiba exatamente o que deve fazer.
Há várias formas de se decompor um projeto. Veja na figura 12 um exemplo
retirado do PMBOK (2013).
Figura 12: Amostra de EAP decomposta em pacotes de trabalho
Fonte: PMI (2013, p. 129)
Na Internet há diversos modelos de EAP disponíveis. Segue um link da
empresa
PMTECH
(http://www.pmtech.com.br/Escopo/Exemplos_EAP.pdf)
que
apresenta exemplos de EAP para projetos de uma fábrica, um filme e montagem
teatral, lançamento de um veículo, produção de um livro, uma festa de 15 anos, e
diversos outros. Vale a pena.
Por fim, depois que o escopo foi planejado e decomposto em partes, o último
processo de gerenciamento do escopo que veremos nesta disciplina é a validação e
controle do escopo.
2.1.4. Validação e controle do escopo
37
GESTÃO DE PROJETOS
Validar e controlar o escopo são dois processos que visam verificar, na
etapa de monitoramento e controle, se o escopo previsto foi realizado e se está
seguindo conforme o planejado.
A primeira parte se refere à aceitação das entregas, ou seja, deve-se
verificar se cada elemento da EAP foi realizado. Isto normalmente é feito através de
um check-list, de modo que a pessoa responsável vá “ticando” cada entrega
(produto ou serviço) aceita.
Dessa atividade podemos ter duas ocorrências: todas as entregas foram
realizadas e aceitas, ou algumas (ou todas) entregas não foram entregues ou
totalmente aceitas. Nesse segundo caso deverão ser verificadas as causas dessa
não conformidade e verifica-se a necessidade de mudanças no escopo.
O escopo do projeto (aquilo que deverá ser feito para atingir o objetivo do
projeto) é a base para os processos de gerenciamento do tempo, conforme veremos
nas aulas a seguir.
Aprimore seus estudos!
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 3).
• PMI (2013, cap. 5).
• Vargas (2009, parte III, cap. 5).
• Xavier et al. (2014, cap.3).
2.2. GERENCIAMENTO DO TEMPO
Como vimos no item – Fatores Críticos de Sucesso, além de cumprir o
objetivo, um projeto deve ser concluído dentro do prazo, custo e qualidade previstos
para que possa ser considerado bem sucedido.
O cumprimento dos prazos é, portanto, uma das principais preocupações do
gerente de projetos e há várias técnicas que podem ser usadas para auxiliá-lo nessa
função. A ferramenta mais importante para o planejamento e controle do tempo do
38
GESTÃO DE PROJETOS
projeto é o cronograma, mas para montá-lo, você verá que algumas regras devem
ser seguidas.
Assim, vamos trabalhar nesta apostila com seis processos previstos pelo
PMBOK (2013) dentro do gerenciamento do tempo do projeto, a saber:
•
Definir as atividades;
•
Sequenciar as atividades;
•
Estimar os recursos das atividades;
•
Estimar as durações das atividades;
•
Desenvolver o cronograma;
•
Controlar o cronograma:
2.2.1 Definição das atividades
Vimos no item anterior que a decomposição do escopo do projeto em
pedaços menores é feita através da EAP e que os menores elementos da EAP
(últimos elementos de cada ramo) são chamados de pacotes de trabalho.
Dentro do gerenciamento do tempo, a primeira função é decompor cada
pacote de trabalho em atividades.
Definir as atividades é, portanto, um processo para identificar as ações
necessárias à produção dos produtos e serviços do escopo do projeto.
Isto pode ser feito de várias formas, e a norma usada nesta apostila (e por
vários autores), é utilizar substantivos para o escopo (elementos da EAP) e verbos
no infinitivo para as atividades.
Estudo de caso!
Vamos usar o exemplo da EAP apresentada na figura 11 – representando o projeto
da casinha do cachorro para fazer a definição das atividades do projeto.
Assim, para definição das atividades, iremos pegar o pacote de trabalho
2.3.1 – Montagem do teto. Note que, pela regra que arbitramos, o pacote de trabalho
é designado por um substantivo (montagem). Para decompô-lo em atividades,
iremos usar verbos.
39
GESTÃO DE PROJETOS
Por exemplo, para se montar o teto de uma casa de cachorro temos de:
•
Comprar as telhas;
•
Cortar as telhas;
•
Realizar os furos de fixação.
O segundo pacote de trabalho 2.3.2 – Fixação do teto, também pode ser
decomposto em algumas atividades, como nos exemplos abaixo:
•
Colocar as telhas;
•
Comprar parafusos;
•
Parafusar;
•
Lixar as bordas.
Vamos lembrar que estamos didaticamente decompondo o escopo de um
projeto simples, e que talvez pareça improdutivo detalhar tanto. Isto realmente
ocorre, e uma regra que pode ser usada em projetos reais é verificar se os pacotes
de trabalho estão dimensionados entre 8 a 40 horas.
Pacotes de trabalho menores que isso tendem a gerar atividades muito
pequenas, e o trabalho de planejar e controlar acaba não compensando. Pacotes de
trabalho muito maiores que isso podem ser mais bem detalhados para facilitar o
planejamento e o controle.
Note que, quando dividimos um pacote de trabalho em atividades, estamos
fazendo com que fique muito mais fácil a sua compreensão e, em consequência, a
elaboração de estimativas, (sequência, duração e os recursos utilizados). Isto é a
base para os próximos processos.
2.2.2. Sequenciamento das atividades
Certamente você deve se recordar da definição de projeto, que diz que ele é
composto por uma sequência clara e lógica de eventos. Assim, para que seja
considerado um projeto, é necessário que suas atividades possam der organizadas
em uma ordem sequencial. É disso que trata este processo.
40
GESTÃO DE PROJETOS
Sequenciar as atividades é um processo que visa estabelecer e
documentar as relações de precedência entre as atividades, ou seja, determinar qual
sua ordem lógica.
Intuitivamente sabemos que algumas atividades devem ser completadas
para que outras possam ser iniciadas.
Exemplo!
Por exemplo, primeiro temos de comprar as telhas para depois coloca-las. E elas
devem estar colocadas para serem parafusadas. E essas relações vão montando
uma rede de dependências, por exemplo, para parafusar as telhas, além de elas
estarem colocadas, os parafusos devem ter sido comprados.
Uma forma prática de se montar essa sequência é fazer uma tabela com as
atividades do projeto (normalmente numeradas segundo os componentes da EAP.
Assim temos uma coluna para a numeração, uma coluna para a descrição da
atividade e outra que indica a(s) predecessora(s), ou seja quais atividades devem ter
se encerrado para que aquela possa iniciar.
Estudo de caso!
Veja na tabela 1 como pode ser feito o sequenciamento das atividades para o
exemplo da casinha do cachorro e as atividades elencadas até agora.
Item
1.3
2.3.1
2.3.1.1
2.3.1.2
2.3.1.3
2.3.2
2.3.2.1
2.3.2.2
2.3.2.3
2.3.2.4
Descrição
Lista de compras
Montagem do teto
Comprar telhas
Cortar telhas
Realizar do furos de fixação
Fixação do teto
Colocar telhas
Comprar parafusos
Parafusar
Lixar as bordas
Predecessoras
1.3
2.3.1.1
2.3.1.2
2.3.1.3
1.3
2.3.2.1 – 2.3.2.2
2.3.2.3
Tabela 1: Precedência entre as atividades
Fonte: Elaborado pelo autor
Note que os pacotes de trabalho foram representados em cinza e as
atividades em branco. Veja também que a maioria das atividades neste caso possui
apenas uma predecessora, enquanto a atividade 2.3.2.3 – Parafusar, possui duas.
41
GESTÃO DE PROJETOS
Em um projeto real esta rede pode ficar bastante complexa e ser necessária a
utilização de um software para seu planejamento e controle.
Essas dependências entre as atividades podem ser mandatórias ou
arbitradas. As relações mandatórias dependem da natureza das atividades e não
há como o gerente de projetos alterá-las. Por exemplo, não há como furar as telhas
sem as haver primeiro comprado. Já as relações arbitradas dependem dos critérios
adotados pela equipe do projeto e podem ser alteradas.
Vamos tomar a última atividade (lixar as bordas). Em nosso projeto, ela está
posicionada para ser realizada após sua fixação. Essa regra provavelmente foi
criada pela experiência dos profissionais, na qual o serviço fica melhor desta forma,
mas nada impediria que a sequência fosse alterada, ou seja, primeiro as telhas
seriam lixadas para somente depois serem parafusadas. Por isso, esse tipo de
relação é chamado de arbitrada.
Agora já temos as atividades definidas e sequenciadas, e iremos passar
para o próximo processo: estimar os recursos das atividades.
2.2.3. Estimativa de recursos das atividades
Toda atividade necessita de recursos para serem realizadas, e esses
recursos podem ser materiais, pessoas, equipamentos, dinheiro etc. Assim, estimar
os recursos das atividades é um processo que tem por objetivo calcular as
quantidades de cada recurso que uma atividade necessita para ser concluída.
Bate papo!
Você já teve que estimar os recursos para alguma atividade: por exemplo, o que seria
necessário para montar uma prateleira na dispensa ou fazer uma feijoada? Pois é,
como você fez essa estimativa?
Há várias formas de se fazer esta estimativa. Uma delas é utilizar-se de
parâmetros para o cálculo dos insumos necessários. Por exemplo, para se levantar
uma parede de 1m2 são necessários 20 tijolos. Assim, se uma parede do projeto
tiver 15 m2, ela consumirá 300 tijolos.
42
GESTÃO DE PROJETOS
Da mesma forma, podemos calcular a mão de obra prevista. Suponha que um
pedreiro consiga levantar 10 m2 de parede por dia (8 horas de trabalho). Assim, ele
faz aproximadamente 1,25 m2/h. Se nossa parede tiver 15 m2 um pedreiro levará 12
horas, ou um dia e meio.
Uma atividade pode envolver vários materiais (tijolos, cimento, argamassa),
profissionais (pedreiro, ajudante, pintor), e equipamentos (andaime, betoneira,
desempenadeira etc.).
Estudo de caso!
E como podemos estimar os recursos das atividades do projeto da casinha do
cachorro. Uma forma é complementarmos a tabela, incluindo mais uma ou duas
colunas, conforme pode ser visto na tabela 2.
It.
Descrição
1.3
2.3.1
2.3.1.1
2.3.1.2
2.3.1.3
2.3.2
2.3.2.1
2.3.2.2
2.3.2.3
2.3.2.4
Lista de compras
Montagem do teto
Comprar telhas
Cortar telhas
Realizar do furos de
fixação
Fixação do teto
Colocar telhas
Comprar parafusos
Parafusar
Lixar as bordas
Pred.
1.3
2.3.1.1
2.3.1.2
2.3.1.3
1.3
2.3.2.1 2.3.2.2
2.3.2.3
Recursos
Humanos
Materiais e
equipamentos
Comprador (½h)
Pedreiro (1h)
Telhas (10)
Serra
Pedreiro (½h)
Furadeira
Pedreiro (1h)
Comprador (½h)
Pedreiro (1h)
Pedreiro (½h)
----Parafusos (40)
Parafusadeira
Lixa
Tabela 2: Estimativa de recursos das atividades
Fonte: Elaborado pelo autor
Note que estamos cada vez mais detalhando nosso projeto. No nível que
está, podemos, por exemplo, calcular quanto custa esta parte do trabalho. Se o valor
da hora do pedreiro for R$ 20,00 e do comprador R$ 30,00, já podemos calcular o
custo da mão de obra: R$ 100,00 (3,5h * R$ 20,00 + 1h * R$ 30,00). Da mesma
forma, podemos calcular o valor dos materiais e equipamentos utilizados.
Isto será muito útil para a montagem do orçamento do projeto, que será
estudado mais adiante.
Estimativa de duração das atividades é o momento que já temos as
atividades definidas, sequenciadas e com sua estimativa de recursos necessários.
Agora iremos estimar a duração de cada atividade.
43
GESTÃO DE PROJETOS
Estimar a duração das atividades é um processo que procura estimar o
número de períodos de tempo necessários para se completar cada atividade
utilizando os recursos disponíveis.
Há diversas maneiras de se estimar a duração de uma atividade, mas todas
elas se baseiam, de uma forma ou de outra, em informações históricas, pessoais ou
obtidas de terceiros.
Bate papo!
Suponha que você seja perguntado quanto tempo leva para trocar um pneu de um
carro. O que responderia?
Provavelmente você tentará se lembrar das vezes em que teve que fazer
esse serviço e quanto tempo durou. Caso nunca tenha feito ou não se lembre do
tempo, possivelmente irá perguntar a algum conhecido ou pesquisar na Internet.
Com as informações disponíveis, você poderá estimar a duração da atividade para
um caso específico.
Da mesma forma, para se estimar as atividades do projeto, uma das
técnicas é chamada de estimativa análoga, ou seja, busca-se uma situação
parecida de projetos anteriores para se estimar a duração da atividade do projeto
atual. Por exemplo, se você troca um pneu em média em 10 minutos, provavelmente
usará esse valor como estimativa para a próxima vez que tiver essa demanda.
Outra forma de se fazer isso é usando uma estimativa paramétrica. Ela é
similar à estimativa análoga, mas tem a diferença que os tempos serão estimados
para uma “unidade” do trabalho a ser realizado.
Exemplo!
Por exemplo, usamos este tipo de estimativa quando calculamos quanto tempo um
pedreiro leva para levantar 1 m2 de parede, ou um pintor para pintar 1 m2. Assim,
com base nesses parâmetros, podemos estimar a duração da construção ou pintura
de qualquer parede, bastando multiplicar o tempo unitário pela metragem total.
A terceira técnica que pode ser usada é denominada estimativa de três
pontos, que provém de uma técnica chamada PERT (Program Evaluation and
Review Technique – Técnica de Revisão e Avaliação de Programa). Esta técnica
44
GESTÃO DE PROJETOS
usa três tempos: o tempo mais provável, o otimista e o pessimista, para de calcular o
tempo estimado.
Exemplo!
Por exemplo, pense em quanto tempo você vai de sua casa ao trabalho. Suponha
que normalmente você leve 30 minutos (esse é considerado o tempo mais provável).
Mas tente se lembrar da vez que você fez o percurso mais rapidamente (os sinais
estavam abertos, não havia muito trânsito etc.). Digamos que você tenha levado 20
min. E agora, recorde-se do tempo em que você levou mais tempo: suponhamos 70
minutos.
A fórmula para se calcular a estimativa de três pontos é a seguinte:
onde:
tE – tempo esperado;
tO – tempo otimista;
tM – tempo mais provável;
tP – tempo pessimista.
Usando os dados acima, podemos calcular o tempo estimado da atividade
de deslocamento da sua casa ao trabalho:
Veja que este tempo ficou acima do tempo mais provável (30 min) e isto se
deve ao tempo pessimista, que é bem maior que o otimista.
Essa diferença de 5 minutos pode parecer pequena neste caso, mas veja
que ela representa 16% do tempo mais provável, e se formos pensar em todas as
atividades de um projeto complexo, um atraso de 16% em um projeto com duração
total de um ano equivale a quase dois meses.
Estudo de caso!
E como registrar as durações estimadas das atividades do projeto da casinha do
cachorro? Basta criar mais uma coluna em nossa planilha, conforme tabela 3.
45
GESTÃO DE PROJETOS
It.
Descrição
Pred.
1.3
2.3.1
2.3.1.1
Lista de compras
Montagem do teto
Comprar telhas
2.3.1.2
2.3.1.3
Cortar telhas
Realizar furos de fixação
2.3.1.1
2.3.1.2
2.3.2
2.3.2.1
2.3.2.2
Fixação do teto
Colocar telhas
Comprar parafusos
2.3.1.3
1.3
2.3.2.3
Parafusar
2.3.2.4
Lixar as bordas
1.3
2.3.2.1
2.3.2.2
2.3.2.3
Recursos
Humanos
Materiais e
equipamentos
Duração
(horas)
Telhas (10)
4h
Serra
1h
Furadeira
0,5h
-----
1h
Parafusos (40)
2h
Pedreiro (1h)
Parafusadeira
1h
Pedreiro
(½h)
Lixa
0,5h
Comprador
(½h)
Pedreiro (1h)
Pedreiro
(½h)
Pedreiro (1h)
Comprador
(½h)
Tabela 3: Estimativa de duração das atividades
Fonte: Elaborado pelo autor
Repare que, em algumas atividades, a estimativa ficou maior que o tempo
estimado do profissional. No caso das compras, por exemplo, o comprador pode
levar meia hora, mas suponha que a entrega dure mais 3 horas e meia. Assim, a
duração da atividade seria calculada somando o prazo da compra mais a entrega.
Pronto, agora já temos tudo o que necessitamos para se elaborar o
cronograma: a lista de atividades, sua estimativa de duração e recursos e seu
sequenciamento.
2.2.4. Desenvolvimento do cronograma
O cronograma, também conhecido por Gráfico de Gantt, é uma
representação gráfica de atividades dispostas ao longo de um alinha de tempo, de
modo que fique visível o período de realização de cada atividade.
Desenvolver o cronograma é, então, um processo destinado a representar
graficamente as atividades no tempo, obedecendo ao seu sequenciamento e
levando em consideração sua duração estimada.
46
GESTÃO DE PROJETOS
Exemplo!
Imagine que estejamos construindo uma piscina em casa e tenhamos elaborado a
EAP e as atividades, bem como sua estimativa de duração e sequenciamento. Um
exemplo desse cronograma pode ser visto na figura 13.
Figura 13: Exemplo de cronograma
Fonte: elaborado pelo autor
Perceba que, com o cronograma, temos a visão global do projeto, sua
duração total esperada e podemos enxergar o paralelismo entre as atividades. Isto é
importante por duas razões.
A primeira, porque mostra que algumas atividades possuem uma folga. Veja
a atividade 8 (comprar material de acabamento). Ela tem previsão de término para
dia 5/set, enquanto a sua sucessora (assentar azulejos) somente começa no dia
8/set. Isso dá 3 dias de folga, representando uma margem de segurança para a
atividade.
A segunda razão é que podemos prever sobreposição de recursos. Por
exemplo, as atividades 3 e 4 estão em paralelo (comprar material e cavar buraco).
Isto significa que se somente tivermos um profissional para executá-las haverá
atraso. Assim o cronograma é peça fundamental para que possamos fazer o
nivelamento de recursos do projeto.
Com o cronograma elaborado e aprovado, teremos a linha de base de
tempo do projeto, e esse será o instrumento que irá balizar a execução e permitirá o
controle do projeto.
47
GESTÃO DE PROJETOS
Um gerente de projetos deve consultar sempre o cronograma, avaliando o
realizado em comparação com o previsto, para verificar possíveis discrepâncias e
propor ações corretivas, de modo a que o projeto volte aos trilhos e tenha condições
de ser cumprido no prazo previsto.
A aula a seguir apresenta o diagrama de rede do projeto.
Aprimore seus estudos!
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 4).
• PMI (2013, cap. 6).
• Vargas (2009, parte III, cap. 6).
• Xavier et al. (2014, cap.3).
2.2.5. Diagrama PERT/CPM
A Marinha dos Estados Unidos desenvolveu um método de planejamento e
controle do projeto de seu submarino nuclear (Polaris) composto de uma rede de
atividades sequenciadas logicamente. A isto ela chamou de chamada PERT
(Program Evaluation and Review Technique – Técnica de Revisão e Avaliação de
Programa).
A rede PERT é extraída da tabela das atividades e respectivas indicações das
predecessoras e estimativas de duração.
Estudo de caso!
Considere a tabela 4 para construirmos nosso diagrama de rede.
48
GESTÃO DE PROJETOS
Atividade
Predecessoras
Atividade A
Atividade B
Atividade C
Atividade D
Atividade E
Atividade F
Atividade G
Atividade H
Atividade I
Atividade J
Duração (dias)
1
2
3
5
2
4
4
3
2
1
A
A
B
D
C, D
C
G
E, F
H, I
Tabela 4: Atividades, predecessoras e duração
Fonte: Elaborado pelo autor
Na rede PERT, ao contrário do cronograma, as atividades são colocadas em
pequenos retângulos que são conectados pelas setas de precedência.
Vamos então, construir o diagrama de rede desse conjunto de atividades. A
primeira tarefa é colocar tantos retângulos identificados quantas forem as atividades.
A seguir, devermos interligar as atividades segundo sua sequência lógica de
precedência (predecessoras-sucessoras). Por fim, colocaremos as durações das
atividades acima de sua representação gráfica.
Veja o diagrama de rede montado na figura 14.
1
A
2
5
2
B
D
E
3
C
Figura 14: Diagrama de Rede
Fonte: Elaborado pelo autor
49
4
2
I
F
1
J
4
3
G
H
GESTÃO DE PROJETOS
O diagrama de rede permite que se calcule a duração total do projeto. Isto
é feito levantando-se todos os caminhos alternativos e identificando aquele que
possui a duração máxima. No diagrama da figura podemos identificar os seguintes
caminhos:
•
A-B-D-E-I-J = 1+2+5+2+2+1 = 13 dias;
•
A-B-D-F-I-J = 1+2+5+4+2+1 = 15 dias;
•
A-C-F-I-J = 1+3+4+2+1 = 11 dias;
•
A-C-G-H-J = 1+3+4+3+1 = 12 dias.
Assim, nosso projeto terá a duração de 15 dias, pois este é o mais longo dos
caminhos. Este caminho mais longo é chamado de caminho crítico, em um método
associado ao PERT denominado CPM (Critical Path Method).
Definição!
Caminho crítico. O caminho crítico de um projeto é a sequência de atividades que
determina o caminho mais longo do projeto e a sua duração.
Veja na figura 15 o diagrama PERT/CPM – indicando o caminho crítico (A-B-D-F-I-J):
1
A
2
5
2
B
D
E
3
C
4
2
I
F
1
J
4
3
G
H
Figura 15: Diagrama PERT/CPM
Fonte: Elaborado pelo autor
Definição!
Folga total. Uma folga total em uma atividade é o tempo em que ela pode atrasar
sem comprometer o prazo total do projeto.
50
GESTÃO DE PROJETOS
Repare que as atividades do caminho crítico possuem folga total igual a
zero, pois um atraso em qualquer uma de suas atividades representa atraso para o
projeto.
Os demais ramos do diagrama de rede (que não o caminho crítico) possuem
folga diferente de zero. Assim, por exemplo, o caminho A-C-G-H-J, possui uma folga
total de 3 dias e suas atividades que não pertencem ao caminho crítico (C, G, H)
então, podem atrasar no máximo 3 dias, que não comprometerão o prazo final do
projeto.
Para refletir!
E por que é importante se determinar o caminho crítico?
Resposta: além de se conhecer o prazo total do projeto, ele permite identificar
aquelas atividades críticas, ou seja, as que não podem atrasar. Assim, o gerente de
projetos deverá dedicar maior atenção a elas, não deixando faltar recursos ou
analisando melhor seus riscos.
Outro ponto importante em relação ao diagrama de rede é que ele é uma
ferramenta indispensável para quando temos que reduzir, por algum motivo, o prazo
final do projeto. Há duas formas de se reduzir o tempo do projeto.
A primeira alternativa, chamada de fast tracking (caminho rápido) consiste
em fazer, em paralelo, atividades que deveriam ser sequenciais, ou seja, antecipar o
início de uma sucessora sem ter finalizado completamente uma predecessora.
Exemplo!
Vamos imaginar que para se assentar os azulejos em uma piscina, os mesmos
devem estar comprados. Mas suponhamos que somente haja uma parte dos azulejos
disponíveis, e a outra parte chegará em 3 dias. Podemos começar a azulejar com os
materiais disponíveis para ganhar tempo, mas note que os riscos aumentam. Caso a
segunda remessa tenha cores ligeiramente diferentes (e isto é possível em caso de
revestimentos), teremos um problema.
Assim, antecipar atividades (fast tracking) para reduzir o prazo do projeto
pode trazer ou aumentar os riscos do projeto.
A segunda forma de antecipar a data final do projeto é compactar
(crusching) as atividades, injetando mais recursos.
51
GESTÃO DE PROJETOS
Exemplo!
Por exemplo, se um pedreiro assenta 20 m2 de azulejos em um dia, dois pedreiros
levariam apenas meio dia para fazer o mesmo trabalho. Note, entretanto, que há
sempre um limite para isto, pois mesmo se colocarmos 8 pedreiros, não
conseguiremos fazer o trabalho em uma hora.
Além disso, a compactação provavelmente traz aumento de custos e riscos
para o projeto. Ou seja, a redução de prazo somente deve ser realizada com um
estudo de impacto no projeto e aprovação das partes responsáveis.
Note, também, que as atividades passíveis de serem compactadas são
aquelas do caminho crítico, pois são as que não possuem folga. Compactar ou
antecipar atividades fora do caminho crítico não alterarão o prazo final do projeto.
Bem, concluímos aqui o Módulo II e esperamos que você saiba como
gerenciar o escopo do projeto, estabelecendo os requisitos, definindo o escopo e
elaborando a Estrutura Analítica do projeto (EAP).
Além disso, você deverá saber como gerenciar o tempo do projeto, definindo
as atividades, estimando seus recursos e durações, estabelecendo as relações de
precedência e elaborando o cronograma. Você deve também desenhar o diagrama
de rede do projeto e determinar sua duração total e seu caminho crítico.
Aprimore seus estudos!
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 4).
• PMI (2013, cap. 6).
• Vargas (2009, parte III, cap. 6).
• Xavier et al. (2014, cap.3).
52
GESTÃO DE PROJETOS
UNIDADE III – GERENCIAMENTO DOS CUSTOS E DOS RISCOS DO
PROJETO
Prezado(a) acadêmico(a), nas unidades anteriores estudamos a metodologia
de gestão de projetos prevista pelo PMI e duas de suas principais áreas: o
gerenciamento do escopo e do tempo do projeto.
Nesta Unidade III veremos duas outras importantes áreas da gestão de
projetos: O gerenciamento dos custos e dos riscos do projeto.
Vamos lá?
3.1. GERENCIAMENTO DOS CUSTOS
Como vimos na Aula 2, pesquisa do PMI de 2013 mostrou que 41% dos
projetos não cumprem o orçamento. Ou seja, quase a metade dos projetos custa
mais do que foi planejado. E veja que essa pesquisa é realizada com empresas que
possuem uma metodologia em gestão de projetos.
Para refletir!
Imagine então a grande maioria das empresas que não trabalha com metodologia de
GP. Será que essas empresas têm mais ou menos problemas de orçamento?
Resposta: provavelmente o número de projetos que não cumpre o orçamento nessas
empresas é muito mais alto.
Por isso, estudaremos nesta aula, dois dos principais processos previstos
pelo PMBOK (2013) para o gerenciamento dos custos de um projeto: estimar os
custos e determinar o orçamento do projeto. Na Aula 8 estudaremos como controlar
os custos do projeto.
53
GESTÃO DE PROJETOS
3.1.1. Estimativa de custos do projeto
Estimar os custos é um processo que visa quantificar os recursos
monetários necessários à execução do projeto.
Dependendo da etapa em que o projeto se encontra, esta estimativa será
mais ou menos precisa.
Bate papo!
Por exemplo, suponha que alguém lhe pergunte quanto custa uma viagem de uma
semana a Porto Seguro – BA. O que você responderia?
Você poderá fazer uma estimativa por alto, dando uma ordem de grandeza,
digamos R$ 2.500,00, considerando passagem aérea, hospedagem e alimentação
para uma pessoa. Uma estimativa com esse grau de precisão tem pouco valor para
fins de tomada de decisão.
Então você decide consultar uma agência de viagens e verifica, inserindo as
datas que pretende ir, que os preços vão de R$ 1608,00 (a passagem e hotel mais
barato) até R$ 2.733 (opção mais cara disponível naquele site). Considerando que o
site não contempla a alimentação e considerando uma média de R$ 50,00/dia, os
valores ficam entre R$ 1958,00 e R$ 3.085,00. Note que agora sua estimativa ficou
mais precisa, com valores oscilando entre 22% mais barato e 23% mais caro que a
primeira estimativa.
Uma ordem de grandeza admite variações de 30 ou até 50%. Note que,
neste momento, já há condições para que uma decisão possa ser tomada.
Dependendo do grau de qualidade que se deseja na viagem, sabemos que ela irá
custar aproximadamente entre R$ 2000 e R$ 3000.
No início de um projeto muitas vezes não há informações suficientes para
que as estimativas sejam mais precisas que essas que fizemos. À medida que o
projeto avança, na fase de planejamento, as estimativas vão ficando mais precisas e
admitem variações menores, algo como 10 a 15%.
Há vários métodos para estimarmos os custos de um projeto. O primeiro tipo
é a estimativa análoga: tomamos um projeto semelhante e, com pequenas
adaptações, chegamos a um valor parecido. Esta estimativa às vezes é chamada de
54
GESTÃO DE PROJETOS
estimativa top-down (de cima para baixo), pois começa-se com um valor total
estimado e o detalhamento ocorre em uma segunda etapa. Note que este tipo de
estimativa é bem impreciso, mas muitas vezes é o melhor que se pode ter.
A segunda forma de se estimar o custo de um projeto é fazer uma
estimativa bottom-up (de baixo para cima). Nesta forma, cada atividade tem seu
custo estimado, e o somatório do custo de todas as atividades de um pacote de
trabalho, é o custo deste pacote de trabalho. Somando-se o custo de todos os
pacotes de trabalho da EAP tem-se o custo total do projeto. Por isso essa forma é
chamada de bottom-up, pois os custos vão sendo apurados de baixo para cima na
EAP.
Uma alternativa que pode ser usada juntamente com esta última forma é a
estimativa paramétrica, ou seja, tem-se o valor de uma unidade de trabalho ou
material (por exemplo, o valor da hora de um pedreiro ou o valor de uma telha), e
multiplica-se este valor unitário pela quantidade necessária.
Estudo de caso!
E como fazer a estimativa de custos do projeto da casinha do cachorro? Vamos usar
a tabela elaborada na Aula 5 para a estimativa dos recursos das atividades de modo
a fazermos o cálculo do custo das atividades, estimados na tabela 5.
Item
2.3.1
2.3.1.1
2.3.1.2
2.3.1.3
2.3.2
2.3.2.1
2.3.2.2
2.3.2.3
2.3.2.4
Descrição
Montagem do teto
Comprar telhas
Cortar telhas
Realizar dos furos de fixação
Fixação do teto
Colocar telhas
Comprar parafusos
Parafusar
Lixar as bordas
TOTAL
Mão de obra
R$ 45,00
R$ 15,00
R$ 20,00
R$ 10,00
R$ 65,00
R$ 20,00
R$ 15,00
R$ 20,00
R$ 10,00
R$ 110,00
Materiais
R$ 150,00
R$ 150,00
R$ 0
R$ 0
R$ 5,00
R$ 0
R$ 5,00
R$ 0
R$ 0
R$ 155,00
Total
R$ 195,00
R$ 165,00
R$ 20,00
R$ 10,00
R$ 70,00
R$ 20,00
R$ 20,00
R$ 20,00
R$ 10,00
R$ 265,00
Tabela 5: Estimativa de custo das atividades
Fonte: Elaborado pelo autor
Veja que estimando os custos de cada atividade conseguimos chegar ao
custo total do projeto. A compilação de todos os custos e os momentos que serão
necessários comporão o orçamento dos custos do projeto.
55
GESTÃO DE PROJETOS
3.1.2. Orçamento dos custos
O orçamento do projeto será montado a partir da estimativa de custos de
cada atividade. Mas não adianta apenas sabermos quanto custará a atividade e o
projeto como um todo. É preciso que saibamos quando será necessário gastar esse
dinheiro.
É aí que entra o levantamento da necessidade dos recursos. Lembra-se que
fizemos o cronograma com a representação das atividades ao longo do tempo. Pois
é, com base no cronograma e na estimativa de recursos e custos de cada atividade,
podemos saber quando será necessário despender a verba para a atividade.
Assim, devemos levantar as necessidades dos recursos e encaixá-las no
nosso cronograma. Alguns softwares fazem isso automaticamente, mas podemos
trabalhar também com uma planilha. Desta forma, montamos um cronograma de
recursos, mostrando quando cada recurso (humano, material, equipamento) será
necessário. A conversão dos recursos em valores nos dará o cronograma dos
gastos.
Uma forma de fazermos o cronograma dos custos será incluirmos tantas
colunas em nossa planilha quantos forem os meses (ou semanas) do projeto. E
vamos preenchendo essas colunas com os valores mensais (semanais) de cada
custo. Lembre-se que a soma de todos os custos de uma linha deve ser igual ao
custo total daquela atividade.
O cronograma dos custos nos permitirá a montagem de um fluxo de caixa do
projeto. O fluxo de caixa é uma representação gráfica das entradas e saídas de
dinheiro de um empreendimento, podendo ser um projeto, uma empresa e até uma
pessoa física.
Exemplo!
Veja um exemplo de um fluxo de caixa hipotético na figura 16.
56
GESTÃO DE PROJETOS
15
Saldo de caixa – R$
10
mil
11
mai jun
fev
mar abr
jan
-3
Tempo
-12
-19
Figura 16: Fluxo de caixa de um projeto
Fonte: Elaborado pelo autor
Pelo fluxo de caixa acima podemos ver que nos meses de janeiro, março e
abril teremos saldo de caixa positivo, ou seja, as entradas serão superiores às
saídas, enquanto nos demais meses o saldo será negativo.
Outra conclusão que podemos tirar é que o projeto será superavitário em R$
2 mil reais, pois o somatório dos saldos dá este valor (R$ 36 mil – R$ 34 mil).
Além disso, o fluxo de caixa nos mostra que não haverá necessidade de
financiamento adicional, pois sempre nosso caixa estará no positivo (os superávits
acumulados são suficientes para cobrir os meses deficitários).
Mas isto pode não ocorrer em um projeto. Suponha que o nosso fluxo de
caixa apresentasse o perfil da figura 17, no qual invertemos os meses de abril e
maio.
15
Saldo de caixa – R$ mil
10
abr
fev
jan
11
jun
mai
mar
-3
Tempo
-12
-19
Figura 17: Fluxo de caixa de um projeto com desencaixe
Fonte: Elaborado pelo autor
57
GESTÃO DE PROJETOS
Veja agora que, apesar de o projeto continuar superavitário em R$ 2 mil, os
superávits de janeiro e março não serão suficientes para cobrir os déficits de
fevereiro e abril, fazendo com que haja um desencaixe (falta de caixa) de R$ 6 mil
em abril. Neste caso hipotético, o gerente do projeto terá de resolver como irá
financiar esse déficit de abril (pois em maio a situação ficará positiva novamente).
Ele poderá postergar algumas despesas de abril para maio, mudar a ordem
de algumas atividades, procurar diminuir os custos, pegar dinheiro emprestado. Há
várias alternativas, mas veja que cada uma traz um impacto para o projeto. Pode
haver atrasos, aumento de custos e riscos. Assim, isto deve ser bem estudado pelo
gerente e sua equipe antes de a decisão ser tomada.
A soma de todos os custos do projeto ao longo do tempo nos dá a linha de
base de custos do projeto. Uma forma gráfica para se acompanhar os custos
acumulados do projeto é um gráfico denominado Curva S (devido ao seu formato),
apresentado na figura 18.
Custo
Tempo
Figura 18: Linha de base de desempenho de custo – curva S
Fonte: Elaborada pelo autor
Para refletir:
Por que você pensa que o projeto típico apresenta essa curva em formato de S?
Resposta: no início do projeto (fases de iniciação e planejamento), os custos sobem
mais lentamente e depois o crescimento dos custos é maior (fases de execução e o
controle). No final do projeto a curva volta a um crescimento mais lento (fase de
encerramento), nos dando o formato S característico da curva.
58
GESTÃO DE PROJETOS
Agora já temos quanto o projeto irá custar e como esses desembolsos serão
feitos ao longo do projeto. Essa linha de base de custos do projeto será usada para
que possamos controlar os custos do projeto, o que veremos na próxima aula.
Aprimore seus estudos!
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 5).
• PMI (2013, cap. 7).
• Vargas (2009, parte III, cap. 7).
• Xavier et al. (2014, cap.5).
3.1.3. Gestão pelo valor agregado – GVA
Controlar os custos é um processo que visa monitorar o andamento do
projeto em relação ao orçamento e a linha de base de custos aprovados, de modo a
gerenciar as mudanças necessárias.
Estudo de caso!
Imagine que você está construindo uma casa que irá custar aproximadamente R$ 100
mil e levará 10 meses para ficar pronta. Desta forma, você tem um orçamento
aproximado de R$ 10 mil por mês. Suponha que nos primeiros sete meses de obra
você tenha gasto cerca de R$ 70 mil.
Aparentemente está tudo certo, pois decorridos 70% do tempo, você
consumiu 70% dos recursos. Mas qual não será sua surpresa, se o mestre de obras
lhe informar, nessa altura, que o projeto deve atrasar mais uns 2 meses (irá demorar
12, não 10 meses) e o pior: ainda termos que gastar mais R$ 60 mil (não os 30 mil
que você estava prevendo para terminar a obra).
Essa situação hipotética é muito mais comum do que pensamos. Se você já
construiu um imóvel ou conhece alguém que o fez, certamente já se deparou com
algo parecido. Há pessoas que mudam para uma casa sem a mesma estar
completa, devido muitas vezes a esse tipo de problema de controle dos custos.
Por isso, o PMI prevê uma forma de controle do projeto chamado de GVA
(Gestão pelo valor agregado). A diferença em relação ao nosso exemplo (no qual
59
GESTÃO DE PROJETOS
você controlou o custo e o tempo – e achou que estava tudo certo porque tinha 70%
do tempo e 70% dos custos consumidos naquele momento), é que, pelo GVA,
vamos incluir mais um elemento, além do tempo e do custo: o valor agregado.
Definição!
Valor agregado. O valor agregado é o trabalho que deveria ter sido realizado neste
período de tempo e dentro daquele custo.
Desta forma, o valor agregado é o percentual do escopo que deve
acompanhar o percentual do tempo e do custo4.
Assim, vamos retomar nosso exemplo. Pelas informações do mestre de
obras, seu projeto irá durar 20% mais que o tempo previsto (de 10 para 12 meses) e
consumir 30% a mais (de R$ 100 mil para R$ 130 mil). O problema nisto é que você
só foi avisado quando estava faltando pouco para o projeto terminar. Nesses casos,
pouco se pode fazer para reverter a situação.
Imagine, ao contrário, que você foi acompanhando o projeto através da
gestão pelo valor agregado desde o seu início. Desta forma, suponha que passados
3 meses você receba o relatório do mestre de obras informando:
•
Tempo decorrido (TD): 3 meses (30% do total previsto).
•
Custo real (CR): R$ 32.500,00 (32,5% do total previsto).
•
Escopo pronto (VA – valor agregado): 25% do previsto.
Com base nessas informações você poderia prever o término do projeto (se
a tendência de produtividade e desembolso se mantiver) através de duas fórmulas
simples:
•
Expectativa de duração do projeto: TD/VA = 30/25 = 1,2 (o projeto irá
atrasar 20%)
•
Expectativa de custo total do projeto: CR/VA = 32,5/25 = 1,3 (o projeto
custará 30% a mais que o orçado).
4
Nesta apostila os cálculos foram simplificados, não utilizando as bases monetárias previstas pela
técnica do GVA nem as diversas siglas e fórmulas de cálculo, mas usando valores percentuais do
tempo, custo e escopo e usando regras de três. Esta simplificação busca atender aos objetivos
pedagógicos do curso, sem comprometer os resultados. Aqueles leitores que desejarem se
aprofundar nessa técnica em toda a sua complexidade, podem consultar a bibliografia recomendada.
60
GESTÃO DE PROJETOS
Para refletir!
Percebeu que o problema poderia ser identificado no início do projeto? O que isto
poderia significar para o projeto?
Resposta: isto daria tempo para que você tomasse providências, por exemplo,
buscasse aumentar a produtividade da equipe, trocasse talvez alguns profissionais ou
agilizasse o prazo de entrega das compras. Na questão dos custos, o acréscimo
poderia ser devido ao aumento do valor do material de construção e você poderia
substituir alguns materiais por outros de menor valor (desde que não aumentasse os
riscos da obra).
Ou seja, utilizando o método de controle pela GVA, sempre comparamos o
que deveria ter sido feito (percentual do escopo ou valor agregado) com o percentual
de tempo e custo realmente gastos, e podemos fazer previsões para o projeto. E, o
mais importante, realizar as mudanças necessárias para que o projeto possa voltar
ao planejado.
Mas todas as mudanças devem ser sempre analisadas quanto ao impacto
que podem trazer ao projeto como um todo.
Exemplo!
Por exemplo, normalmente quanto antecipamos um prazo, podemos aumentar os
custos ou os riscos do projeto. Ao reduzirmos os custos, muitas vezes reduzimos a
qualidade e aumentamos os riscos.
As próximas aulas trabalharão exatamente esses pontos: a gestão dos
riscos, da qualidade e as demais áreas do projeto.
Aprimore seus estudos!
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 5).
• PMI (2013, cap. 7).
• Vargas (2009, parte III, cap. 7).
• Xavier et al. (2014, cap.5).
3.2. GERENCIAMENTO DOS RISCOS
Vamos iniciar este item com uma reflexão.
61
GESTÃO DE PROJETOS
Para refletir!
O que são riscos? Qual o risco de chover amanhã? Riscos podem ser positivos ou
são sempre negativos? Por que devemos nos preocupar com os riscos dos projetos?
Vamos começar a resposta por esta última pergunta. Lembra-se que o
projeto é um evento único e não repetitivo? Pois é, ele só tem uma chance de ter
100% de sucesso. Basta um erro que não possa ser revertido para que o projeto não
atinja o sucesso total.
Imagine se, em uma festa de casamento, a câmera do cinegrafista não
funcionar. Não há como “casar novamente” para refazer as imagens. Ou, em um
carnaval, uma escola de samba que teve seu carro alegórico enguiçado no meio da
avenida. Ou, em uma Copa do Mundo. Uma seleção ficar sem seu craque devido à
uma contusão. Nesses casos, o impacto pode ser suficiente para levar o projeto ao
fracasso.
Há casos, entretanto, que o impacto pode ser bem menor, por exemplo:
ocorrer um atraso de 30 minutos em um casamento, um destaque da escola de
samba passar mal e não desfilar e um juiz não apitar uma falta em algum jogo.
Definição!
Risco. Um risco é um evento incerto (que pode ocorrer, ou não) e que pote ter algum
impacto no projeto.
Esse impacto pode ser positivo ou negativo. Por exemplo, nos casos acima,
o impacto é negativo para a escola de samba e a seleção de futebol, mas pode ser
considerado positivo para suas adversárias.
Outro tipo de risco positivo para um projeto seria a redução da taxa de juros
ou do câmbio, em projetos que preveem compras a prazo de bens importados. Ao
contrário, se os juros e o câmbio aumentarem, isso pode ser considerado como um
risco com impacto negativo para o projeto.
Desta forma, um gerente de projetos deverá gerenciar os riscos que podem
afetar seu projeto, de modo a minimizá-los e aumentar as chances de sucesso do
projeto.
Para tanto, seis processos são previstos pelo PMBOK (2013):
62
GESTÃO DE PROJETOS
•
Planejar o gerenciamento dos riscos: definir como serão realizadas
as atividades para gerenciar os riscos do projeto;
•
Identificar os riscos: determinar e documentar os possíveis riscos que
podem afetar o projeto;
•
Realizar a análise qualitativa dos riscos: priorizar os riscos
identificados através de análise da probabilidade de ocorrência e o impacto previsto;
•
Realizar a análise quantitativa dos riscos: analisar o efeito dos
riscos de modo numérico;
•
Planejar as respostas aos riscos: identificar as ações que para
reduzir as ameaças ao projeto;
•
Controlar os riscos: monitorar os riscos ao longo do ciclo de vida do
projeto, implementando os planos de resposta, caso necessário.
Em nossa apostila iremos estudar três desses processos: a identificação dos
riscos, a análise qualitativa e o planejamento da resposta aos riscos.
A identificação dos riscos pode ser feita em uma reunião com a equipe do
projeto, na qual pode ser realizado um brainstorming que vise identificar todos os
eventos incertos que podem afetar o projeto. Podem ser eventos financeiros,
relativos às pessoas, às empresas, ao governo, ao clima etc. Nesse momento não
há necessidade de fazer qualquer julgamento: se é algo que pode acontecer e tem
impacto no projeto, deve ser anotado.
A segunda etapa será fazer a análise qualitativa dos riscos, ou seja,
estimar sua probabilidade de ocorrência e seu impacto sobre o projeto.
Normalmente não há necessidade de se quantificar precisamente a probabilidade e
o impacto (isto é feito na análise quantitativa dos riscos), mas o ideal é termos uma
escala, do tipo: alta / média / baixa.
Assim, para cada risco identificado, a análise qualitativa consiste em serem
estimados a probabilidade de ocorrência (alta, média ou baixa) e o impacto no
projeto caso ocorra (alto, médio ou baixo).
Exemplo!
Na construção de uma casa, por exemplo, o aumento do custo do cimento poderia ter
alta probabilidade e médio impacto, e o aumento na mão de obra pode ter baixa
probabilidade, mas alto impacto. Um acidente fatal teria baixa probabilidade e alto
impacto, enquanto o a quebra de uma telha uma alta probabilidade e um baixo
impacto.
63
GESTÃO DE PROJETOS
Uma forma de se fazer essa análise é montar um quadro com os riscos
identificados e sua estimativa de probabilidade e impacto, conforme exemplo
apresentado no quadro 3.
Risco identificado
O custo do material de construção subir mais de 5%
Saída de um membro importante da equipe
Mais de 15% de dias chuvosos
Embargo da obra pela prefeitura
Mudança do escopo pelo cliente
Quebra de uma betoneira
Probabilidade
de ocorrência
Alta
Média
Média
Baixa
Alta
Baixa
Impacto no
projeto
Médio
Baixo
Médio
Alta
Alta
Baixa
Quadro 3: Análise qualitativa dos riscos
Fonte: Elaborado pelo autor.
A análise qualitativa é importante para que possamos priorizar a resposta
aos riscos. Aqueles riscos que possuem baixa probabilidade e baixo impacto não
são tão importantes quanto aqueles que estão no extremo oposto: alta probabilidade
e impacto.
Geralmente há quatro estratégias genéricas para se responder aos riscos:
•
Evitar: mudar as estratégias para que aquele risco não tenha
possibilidade de ocorrer. Por exemplo, para que a chuva não impacte a obra, pode
ser providenciada uma cobertura provisória. Para se evitar o possível aumento nos
custos, as compras podem ser realizadas antecipadamente. Note, entretanto, que às
vezes o custo dessa alternativa pode superar os eventuais benefícios. Normalmente
ela é mais usada para riscos com alta probabilidade e alto impacto.
•
Mitigar: reduzir a possibilidade de ocorrência ou o impacto de algum
risco. Por exemplo, se quisermos evitar o embargo da obra, devemos ter toda a
documentação em dia e atendermos a todos os requisitos da prefeitura e dos órgãos
de fiscalização, como o CREA e os Bombeiros. Outro exemplo seria fazer contratos
com cláusulas de multa para que a equipe permaneça durante todo o projeto.
•
Transferir: repassar a terceiros o risco. Por exemplo, pode-se fazer
seguros que cubram a quebra de equipamentos, fazer contratos com fornecedores a
preços fixos, acertar com o cliente a responsabilidade por qualquer alteração
solicitada etc.
64
GESTÃO DE PROJETOS
•
Aceitar: não tomar nenhuma medida e, em caso de ocorrência, aceitar
as consequências. Esta alternativa é usas normalmente quando a probabilidade é
baixa e os custos ou o esforço de prevenção são muito altos.
Desta forma, para cada risco analisado, deve-se definir a resposta
adequada, que deve ser aprovada pelos responsáveis pelo projeto. Note que essa
aprovação é fundamental e o ideal é que seja sempre formalizada pelo gerente de
projetos.
Retomamos a figura apresentada na Aula 3, sobre o comportamento das
incertezas e riscos ao longo do projeto, apresentada na figura 19.
Figura 19: Comportamento dos riscos ao longo da vida de um projeto
Fonte: PMI (2013, p. 40)
Veja que a probabilidade de ocorrência dos riscos (incerteza) vai diminuindo
ao longo do projeto. Isto ocorre porque com o passar do tempo já sabemos o que
ocorreu (dias de chuva, por exemplo). Entretanto, o custo das mudanças tende a
aumentar, pois para se alterar alguma coisa fica bem mais caro.
Assim, o monitoramento e controle dos riscos envolve o acompanhamento
dessa análise qualitativa, fazendo novas avaliações quanto às probabilidades e
impactos, decidindo novas estratégias de respostas aos riscos, caso necessário.
Bem, chegamos ao fim da Unidade III, que englobou o gerenciamento dos
custos e riscos do projeto. Na Unidade IV veremos as demais áreas do projeto:
65
GESTÃO DE PROJETOS
recursos humanos, comunicações, qualidade, aquisições, partes interessadas e
integração.
Aprimore seus estudos!
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 5).
• PMI (2013, cap. 11).
• Vargas (2009, parte III, cap. 11).
• Xavier et al. (2014, cap.5).
66
GESTÃO DE PROJETOS
UNIDADE IV – DEMAIS ÁREAS DO CONHECIMENTO EM GESTÃO DE
PROJETOS
Prezado(a) acadêmico(a), nas unidades anteriores estudamos a metodologia
de gestão de projetos prevista pelo PMI e quatro de suas principais áreas: o
gerenciamento do escopo, do tempo, dos custos e dos riscos do projeto.
Nesta Unidade IV veremos as outras seis áreas: o gerenciamento dos
recursos humanos, comunicações, qualidade, aquisições, partes interessadas e
integração do projeto.
Vamos lá?
4.1. GERENCIAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS
Neste item estudaremos duas áreas: gestão dos recursos humanos e das
comunicações do projeto.
Começamos o item com um questionamento.
Para refletir!
Por que é importante termos uma área exclusiva para o gerenciamento dos recursos
humanos do projeto?
Resposta: um projeto é planejado, controlado e executado por pessoas. Tente se
lembrar de algo que tinha tudo para dar certo, mas alguém se esqueceu, se irritou
com alguma coisa ou simplesmente cometeu algum erro.
O PMBOK (2013) prevê os seguintes processos para o gerenciamento dos
recursos humanos:
•
Planejar o gerenciamento dos recursos humanos: identificar e
documentar as funções, responsabilidades, habilidades e a hierarquia da equipe do
projeto;
•
Mobilizar a equipe do projeto: alocar cada membro da equipe e
determinar o momento em que serão requeridos;
67
GESTÃO DE PROJETOS
•
Desenvolver a equipe do projeto: aprimorar as competências dos
membros da equipe para melhorar o desempenho do projeto;
•
Gerenciar a equipe do projeto: acompanhar o desempenho da
equipe, resolvendo conflitos de modo a garantir o desempenho do projeto.
De modo geral, o gerente deve trazer para o projeto aquelas pessoas mais
adequadas a cada função, aprimorar as suas competências, motivá-los para as
ações do projeto e resolver os inevitáveis conflitos.
Assim que ficar sabendo do projeto, antes mesmo de ser nomeado (no
Termo de abertura do projeto), o futuro gerente do projeto já deve começar a montar
sua equipe. Às vezes podem ser “recrutadas” pessoas que trabalharam em outros
projetos, mas isso pode não ser possível, e uma equipe totalmente nova deve ser
formada.
Para estimar os recursos humanos do projeto a primeira atitude será verificar
o escopo do projeto e suas atividades básicas.
Exemplo!
Por exemplo, em projetos de construção civil certamente serão necessários
arquitetos, engenheiros, eletricistas, pedreiros, auxiliares etc. Em um projeto para
realização de um evento, deverão ser contratados mestres de cerimônia, músicos,
seguranças, garçons etc.
Obviamente não há como ter os perfis exatos e os quantitativos precisos no
primeiro momento, mas certamente os elementos principais podem ser descritos e
quantificados. Além disso, um organograma do projeto pode ser montado, de forma
a formalizar a relação hierárquica entre os membros da equipe e sua área de
atuação.
Estudo de caso!
Suponha que você seja responsável por gerenciar uma pequena obra civil. Um
exemplo de organograma pode ser visto na figura 10.1.
68
GESTÃO DE PROJETOS
Figura 20: Exemplo de organograma de um projeto
Fonte: elaborado pelo autor
Veja que o organograma não serve para descrever as funções de cada
cargo, ou o fluxo dos processos, embora ele possa servir de base para se elaborar
esses documentos.
Com base no organograma, a equipe pode começar a ser mobilizada. Muitas
vezes o gerente elabora uma descrição básica dos cargos, com suas funções e
competências necessárias aos elementos da equipe.
As competências podem ser decompostas em três componentes: os
conhecimentos, as habilidades e as atitudes (CHA). Assim, para cada cargo, as
competências básicas devem ser descritas para que se possa recrutar profissionais
cujos perfis mais se aproximem das exigências do cargo.
Para refletir!
Você já se perguntou quais seriam as competências de um bom professor?
Veja a seguir alguns exemplos de competências de um professor divididas
em seus elementos básicos (CHA):
69
GESTÃO DE PROJETOS
•
Conhecimentos (saber). Espera-se que o professor domine o
conteúdo de sua área de atuação e tenha informações atualizadas do estado da arte
de sua profissão.
•
Habilidades (saber fazer). Além do conhecimento, ele deve possuir
algumas habilidades, pois precisará transmitir o conhecimento. Por exemplo, ele
deve ter uma boa didática, capacidade de comunicação oral etc.
•
Atitudes (querer fazer). Não adianta um professor que possua muito
conhecimento e saiba transmiti-lo, se ele não estiver motivado. Desta forma, atitudes
que completam o perfil de um bom professor seriam, por exemplo: o bom humor, a
empatia, a pontualidade.
Bate papo!
Viu como quando dividimos as competências nesses três elementos conseguimos ter
uma visão muito mais clara do profissional que necessitamos?
Em um projeto, que só tem uma chance de dar certo e que não há muito
tempo para ir melhorando os profissionais aos poucos, uma escolha inicial bem
sucedida é meio caminho andado para se ter uma equipe eficaz.
Entretanto, mesmo definindo precisamente as competências requeridas a
um profissional para formar a equipe, raramente conseguimos uma pessoa que
atenda perfeitamente a todos os requisitos. Na prática, a maioria dos gerentes deve
contratar ou alocar as melhores pessoas disponíveis, pois os prazos geralmente são
curtos.
Assim, o gestor deve planejar como capacitar os membros da equipe dentro
das competências requeridas no menor prazo possível.
Para deficiências de conhecimento, treinamentos teóricos podem ser
eficazes. Já para falhas de habilidades (saber fazer), não adiantam palestras ou
aulas teóricas, sendo mais eficazes oficinas práticas, nas quais os elementos
tenham que treinar ou aprimorar as habilidades requeridas.
Deficiências atitudinais são muito difíceis de serem sanadas com
treinamentos ou até oficinas. É por isso que algumas palestras motivacionais têm
tão pouca eficácia.
As pessoas assistem, entendem, saem motivadas, mas na
próxima segunda-feira voltam ao seu comportamento habitual.
70
GESTÃO DE PROJETOS
Para se modificar comportamentos, geralmente ações continuadas, com
metas, acompanhamento e feedbacks são as mais recomendadas. Assim, em um
projeto, com pouco tempo para capacitar a equipe, algumas vezes é melhor
contratar profissionais que já possuam as atitudes necessárias, pois o conhecimento
e as habilidades podem ser treinadas mais rapidamente.
Repare, contudo, que isto não é uma regra. Cada caso é um caso e deve ser
tratado individualmente, pois há projetos mais longos e mais curtos e as pessoas
são diferentes entre si. O importante é que você pense nisto, pois a capacitação
convencional, baseada em palestras e treinamentos teóricos podem ter pouca
efetividade para capacitação de equipes em projetos.
Bem, agora que entendemos como especificar os cargos necessários ao
projeto e quais as estratégias para alocar e capacitar cada pessoa para o cargo,
vamos ver como deixar claro para cada um as suas responsabilidades e
autoridades.
Estudo de caso!
Quando e como fazer essa alocação de responsabilidades e autoridades em um
projeto como o da construção civil, cujo organograma foi elaborado anteriormente?
Isto deve ser realizado durante a etapa de planejamento, e pode ser feito
através de um quadro, denominado matriz de alocação de responsabilidade, cujo
exemplo pode ser visto no quadro 4.
71
1 - Planejamento
1.1 – Projeto arquitetônico
1.2 – Projeto executivo
1.3 - Aprovação
2 - Execução
2.1 - Alvenaria
2.2 - Hidráulica
2.3 - Acabamento
2.4 - Pintura
2.5 - Compras
3 - Controle
3.1 – Relatório de desempenho
4 - Encerramento
4.1 – Limpeza de obra
4.2 – Solicitação de habite-se
4.3 – Lições aprendidas
4.4 – Termo de aceitação
E
E
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
C
C
C
C
A
A
A
A
A
I
E
E
E
I
E
I
I
I
E
I
I
I
E
I
I
I
I
I
I
A
I
I
I
A
C
E
E
E
I
I
I
I
E
I
I
I
I
I
I
I
Pintor
C
C
C
Mestre de
obras
I
I
A
Arquiteto
I
I
A
Gerente do
projeto
Cliente
Atividade
Patrocinador
GESTÃO DE PROJETOS
Quadro 4: Matriz de alocação de responsabilidade
Fonte: Elaborado pelo autor
Tanto o organograma quanto a matriz de responsabilidades são ferramentas
que visam deixar clara a posição de cada membro da equipe. Quanto mais projetos
um gerente participa, mais modelos desses documentos ele acumula. Assim, a cada
novo projeto não é preciso começar tudo do zero: basta identificar um projeto
anterior similar e fazer as adaptações necessárias.
Agora
que
a
equipe
já
está
montada,
capacitada
e
com
suas
responsabilidades definidas, cabe ao gestor repassar as atividades, conforme
previsto no cronograma, motivar os funcionários e acompanhar seu desempenho.
Hoje a liderança situacional é a mais recomendada para se trabalhar com
uma equipe de projeto. Geralmente em épocas tranquilas no projeto, uma liderança
participativa e democrática tende a ser mais efetiva. Já em épocas de crise, quando
os problemas “pipocam” e há pouco tempo para as decisões serem tomadas, uma
liderança mais autocrática tende a produzir melhores resultados.
Deste modo, um gerente deve saber trabalhar com a sua equipe levando em
consideração a maturidade profissional de seus membros e o momento (tranquilo ou
72
GESTÃO DE PROJETOS
turbulento) em que se encontra o projeto. De qualquer forma, o desempenho grupal
e individual deve ser avaliado pelo gestor e feedbacks devem ser dados da forma e
no momento oportuno.
Assim, a gestão dos recursos humanos do projeto envolve a alocação,
capacitação, motivação e solução dos conflitos da equipe.
4.2. GERENCIAMENTO DAS COMUNICAÇÕES DO PROJETO
Um dos maiores problemas nos projetos é a comunicação. Na figura 2.2,
vista na Aula 2, a pesquisa do PMI aponta a comunicação como o principal problema
nos projetos, atingindo 66% deles.
Hoje as falhas de comunicação são das principais causas de problemas nas
empresas, nas famílias e até em sala de aula.
Exemplo!
O professor explica a matéria e pensa que o aluno entendeu, e, na prova, o aluno
coloca aquilo que pensa estar correto e o professor interpreta de maneira distinta.
Em uma comunicação, qualquer que seja, há vários elementos e todos eles
podem ser potenciais pontos de interferências e problemas:
•
Emissor: aquele que emite a mensagem. Se ele não souber expressar
bem, com as palavras corretas, no momento certo, ele pode ser mal interpretado.
Imagine um gerente de projetos estrangeiro que fale mal o Português, explicando
para um operário como instalar um equipamento.
•
Receptor: aquele que recebe a mensagem. O receptor também possui
limitações e filtros. Por exemplo, se eu não souber o jargão utilizado em construção
civil, uma mensagem clara para que eu nivele o oitão ficará provavelmente mal
entendida e mal executada.
•
Mensagem: a própria mensagem deve ser clara, livre de ambiguidades
de duplos sentidos. Por exemplo, pedir a Pedro que encontre João na sua casa,
pode significar a casa de Pedro ou de João, ou até a de quem emitiu a mensagem.
73
GESTÃO DE PROJETOS
•
Meio: o meio é a forma com que a mensagem é transmitida. Às vezes
podemos transmitir uma mensagem oralmente, falando com o receptor, podemos
mandar por recado através de outras pessoas, podemos enviar um e-mail. Para
cada situação há um meio adequado e com menor possibilidade de ruído.
Diz-se que o gerente gasta cerca de 90% do seu tempo se comunicando:
passando instruções à equipe, negociando com o cliente ou o patrocinador,
enviando e-mails para fornecedores, elaborando relatórios de desempenho ... deste
modo, um gerente de projetos deve desenvolver suas competências comunicativas
para melhorar a comunicação em seu projeto e reduzir a possibilidade de fracasso.
O PMBOK (2013) prevê três processos para gerenciar as comunicações de
um projeto:
•
Planejar
o
gerenciamento
das
comunicações: identificar as
necessidades das partes envolvidas, determinando as melhores abordagens para
uma comunicação eficaz;
•
Gerenciar as comunicações: coletar e distribuir as informações às
partes envolvidas, reportando o desempenho do projeto;
•
Controlar as comunicações: monitorar as comunicações do projeto
para garantir que as informações sejam corretamente transmitidas e entendidas.
Uma das formas de se planejar, no início do projeto, as suas comunicações,
é elaborar um quadro com os tipos de comunicações previstas e detalhar como
serão realizadas. Um exemplo pode ser visto no quadro 5.
74
GESTÃO DE PROJETOS
Documento
O que comunicar
Plano do projeto
Meio
Como
comunicar
Pasta do
projeto
Periodicidade
Quando comunicar
Início do projeto e a
cada revisão
Na emissão,
aprovação e cada
revisão posterior.
Na emissão,
aprovação e cada
revisão posterior.
Emissor
Quem
comunica
Gerente do
projeto
gm
Pasta do
projeto
Projeto executivo
Pasta do
projeto
Lista de compras
Pasta do
projeto
Na emissão,
aprovação e cada
revisão posterior.
Mestre de
obras
Contratos com
fornecedores
Pasta do
projeto
Na emissão,
aprovação e cada
revisão posterior.
Gerente do
projeto
Relatório de
desempenho
Pasta do
projeto / email
Quinzenalmente
Gerente do
projeto
Solicitação de
mudanças
Análise/aprovação
de mudanças
Termos de aceitação
e-mail
Pasta do
projeto
Pasta do
projeto
Quando houver
necessidade
Após decisão do
patrocinador/cliente.
Na emissão,
aprovação e cada
revisão posterior.
Arquiteto
Arquiteto
Qualquer
pessoa
Gerente do
projeto.
Gerente do
projeto
Receptores
Quem recebe
Patrocinador,
cliente, equipe.
Patrocinador,
cliente, gerente do
projeto, equipe.
Patrocinador,
cliente gerente do
projeto, equipe.
Patrocinador,
cliente gerente do
projeto, arquiteto,
equipe.
Patrocinador,
cliente,
fornecedores,
equipe.
Patrocinador,
cliente, equipe.
Gerente do projeto
Patrocinador,
cliente, equipe.
Patrocinador,
cliente gerente do
projeto, equipe.
Quadro 5: Exemplo de plano de comunicações do projeto
Fonte: Elaborado pelo autor.
Repare que ao fazer um quadro como este no início do projeto, fica estipulado
quem será o responsável por emitir cada documento, como será transmitido e
arquivado e quem deverá receber. Desta forma, evita-se que cada um estabeleça
suas próprias regras quando às comunicações.
Exemplo!
Só para se ter uma ideia, em um projeto com 50 pessoas, há 1225 canais
(possibilidade de ligações diretas entre todos os envolvidos, calculada pela fórmula
c=(n2-n)/2). Ou seja, se cada um dos 50 elementos da equipe quiser falar diretamente
com o outro, poderemos ter mais de 1000 caminhos para essa comunicação trafegar.
Ai, se não houver algo planejado, a possibilidade de perda de informações e mal
entendidos é enorme.
75
GESTÃO DE PROJETOS
Novamente chamo a atenção para a questão da burocracia excessiva. Fazer
um quadro destes no início do projeto, apesar de, no primeiro momento, parecer um
esforço desnecessário e uma perda de tempo, com a experiência acumulado do
gerente de projetos, ele terá vários modelos de projetos passados os quais poderá
adaptar com muito pouco esforço. E o benefício será enorme.
De qualquer forma, nem sempre as comunicações devem ser formais. Por
exemplo,
reuniões
rápidas
diárias
para
esclarecimento
de
dúvidas
e
acompanhamento do andamento das atividades normalmente não necessitam de
formalização. Já reuniões semanais ou quinzenais com toda a equipe geralmente
requerem uma pauta e uma ata.
Comunicações por telefone com fornecedores poder exigir, ao final, um email de confirmação com aquilo que foi acertado. Pequenas atitudes como esta
previnem horas de discussões posteriores e grandes prejuízos financeiros ao
projeto.
Outro ponto fundamental na gestão da comunicação do projeto é o relatório
de desempenho. O ideal é termos uma periodicidade determinada, por exemplo,
semanal, quinzenal ou mensalmente (esta última para projetos de maior porte e
longo prazo).
O relatório de desempenho deve ser elaborado pelo gerente do projeto e
enviado (ou publicado) para que tenham acesso àquelas partes envolvidas
determinadas no plano de comunicações do projeto.
Um relatório de desempenho deve ser sucinto (depende de cada caso, mas
geralmente duas páginas são suficientes). Deve conter o status do andamento do
projeto de preferência de forma gráfica, por exemplo: apresentar uma EAP resumida
com cores diferentes para indicar o que foi feito e o que falta fazer, o cronograma
resumido (etapas anteriores e posteriores mais sumarizadas e período atual
expandido), e o orçamento previsto e realizado.
A análise do Valor Agregado com previsão de término, conforme visto na
Aula 8, completa a visão geral do desempenho do projeto. Por fim, o gerente faz um
resumo indicando se o projeto está indo bem e, caso contrário, as ações tomadas
para sua correção de rota.
Detalhes podem ser disponibilizados em anexos, tais como EAP,
cronograma e orçamentos completos e atualizados, cópias de comunicações com os
76
GESTÃO DE PROJETOS
fornecedores, atas de reunião com a equipe etc. Isto visa dar transparência e
credibilidade ao relatório. Um bom gerente de projetos é aquele que passa confiança
a todos os stakeholders, e um relatório de desempenho bem elaborado é fator
fundamental nesse quesito.
Nesta aula vimos o gerenciamento dos recursos humanos e das
comunicações do projeto. Na aula seguinte estudaremos mais duas áreas: o
gerenciamento da qualidade e das aquisições do projeto.
Aprimore seus estudos!
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 5).
• PMI (2013, cap. 9-10).
• Vargas (2009, parte III, cap. 9-10).
• Xavier et al. (2014, cap.5).
4.3. GERENCIAMENTO DA QUALIDADE E DAS AQUISIÇÕES
Vamos trabalhar duas áreas fundamentais para o projeto: o gerenciamento
da sua qualidade e também a gestão das aquisições, ou seja, como gerenciaremos
tudo aquilo que for feito por empresas ou pessoas fora da equipe do projeto.
4.3.1. Gerenciamento da qualidade do projeto
Foi-se o tempo que qualidade significava apenas atender aos requisitos.
Fabricava-se um equipamento, ou fazia-se um evento, e, se o mesmo atendesse às
normas e exigências legais e sociais dizia-se que tinha boa qualidade.
Hoje, não basta atender a normas ou requisitos. É preciso satisfazer
totalmente as necessidades daqueles a quem o produto ou serviço se destinam.
Exemplo!
No caso de um projeto, por exemplo, para se ter qualidade, não é suficiente atender
ás necessidades do patrocinador (custo) ou do cliente. Se a equipe se sentiu pouco
valorizada, recebeu baixa remuneração ou por qualquer motivo ficou insatisfeita com
o projeto, ele não atingiu os 100% de qualidade.
77
GESTÃO DE PROJETOS
O mesmo pode-se dizer de outros stakeholders, tais como a sociedade. Um
projeto que é um sucesso mas que degrada o meio ambiente, ou que não apresenta
sustentabilidade ambiental no longo prazo, falhou em algum ponto da gestão da
qualidade.
O PMBOK (2013) trabalha com três processos para gerenciar a qualidade do
projeto, a saber:
•
Planejar o gerenciamento da qualidade: identificar os requisitos de
qualidade do projeto e dos produtos gerados e os documentos e técnicas que serão
usados para garantir e controlar a qualidade;
•
Realizar a garantia da qualidade: auditar se a empresa está
realmente realizando os processos, técnicas e padrões previstos de qualidade;
•
Controlar a qualidade: monitorar os registros dos resultados dos
processos, inspeções e testes, para avaliar o desempenho da qualidade do projeto e
propor mudanças, caso necessário.
Assim, no planejamento da qualidade devem ser levantados todos os fatores
críticos de sucesso do projeto (Aula 2), ou seja, o que representa o sucesso do
projeto para cada parte interessada.
Esses requisitos podem ser quantificados, de 0 a 100%, por exemplo:
cumprimento do orçamento previsto (requisito do patrocinador) cumprimento dos
requisitos de funcionalidade do produto (requisito do usuário); cumprimento dos
requisitos estéticos (requisito do cliente).
Estudo de caso!
Suponha que você esteja gerenciando uma festa para comemorar as bodas de ouro
de seus avós. Como gerenciar a qualidade desse projeto?
A primeira coisa a ser feita no gerenciamento da qualidade é levantar as
expectativas de cada parte envolvida, conforme explicamos anteriormente. Você
deverá conversar com seus avós e demais familiares, proprietário do local etc.
Depois, os requisitos e respectivos indicadores devem ser explicitados. Por
exemplo, no quesito comida: devem ter sua qualidade planejada e controlada em
relação à quantidade, variedade, sabor, temperatura. Para a música os quesitos
78
GESTÃO DE PROJETOS
poderiam ser, por exemplo: estilo, adequação, volume, distorção etc. No caso, há
diversos outros pontos que poderão ser planejados e avaliados em relação à
qualidade do projeto, tais como ambiente, mobiliário, louças, garçons etc.
O importante é que seja feita uma lista com todos os requisitos de qualidade
necessários e seus padrões de aceitação. Depois, devemos planejar como
controlaremos a qualidade, ou seja, de que modo verificaremos, durante a
execução, se os produtos e serviços estão dentro dos padrões de qualidade
previstos.
Assim, poderemos programar inspeções.
Exemplo!
No caso da comida, será que vale a pena fazer uma degustação antes de fechar o
contrato com o buffet? Ou então ouvir a qualidade da música da banda a ser
contratada?
Muitos projetos falham por não terem sido checados antecipadamente
detalhes de itens importantes, pois o gerente acaba confiando em indicações de
terceiros ou em publicidade ou sites da Internet.
Mas mesmo que tenhamos feito a verificação antes da contratação, haveria
a necessidade de uma inspeção antes do evento? Por exemplo, antes de a comida
der servida, um acompanhamento da preparação da comida e degustação prévia?
Ou uma ligação para a banda para verificar se todos os integrantes estão bem? Note
que pode parecer preciosismo, mas você descobrir que há um problema com a
comida 5 horas antes do evento ou que o vocalista está com faringite no dia anterior
pode dar tempo para ativar ações de contingência.
Desta forma, um check-list (lista de verificação) pode ser elaborado como
plano de gerenciamento da qualidade, informando o que deve ser verificado, os
padrões de aceitação, a periodicidade ou as datas de inspeção e quem será o
responsável.
Note que essa lista tem relação direta com o plano de respostas a riscos,
visto na aula 9, pois uma gestão adequada da qualidade pode mitigar (reduzir) a
probabilidade de ocorrência e os impactos de riscos potencialmente prejudiciais ao
projeto.
79
GESTÃO DE PROJETOS
Até agora fizemos o planejamento da qualidade visando que os requisitos
das partes interessadas estejam registrados e com ações planejadas para aumentar
a probabilidade que sejam atendidos. Agora, o gerente de projetos deve garantir que
essas ações serão efetivamente realizadas.
O processo de realizar a garantia da qualidade vem exatamente para isso,
fazer com que o que foi planejado se cumpra. Dessa forma, cabe ao gerente de
projetos incluir no escopo do projeto, no cronograma e no orçamento, essas ações
de inspeção planejadas.
Exemplo!
Por exemplo, visitar a cozinha do buffet e acompanhar a preparação dos pratos
requer uma pessoa, tempo e dinheiro. Imagine um projeto que o equipamento
principal venha da Alemanha e para evitar riscos, a empresa enviará um funcionário
para acompanhar seus ajustes e o despacho para o brasil. Isto consome tempo e
dinheiro.
Então, uma forma de verificar se a empresa realmente está comprometida
com a qualidade do projeto é analisar seu cronograma e orçamento para identificar
se as ações de garantia da qualidade estão previstas.
Por fim, o último processo (controlar a qualidade) deve ser realizado
porque não adianta prever as ações, colocar no escopo, cronograma e orçamento,
se elas não forem efetivamente realizadas ou forem mal feitas. Desta forma, cabe ao
gerente do projeto verificar o cumprimento dessas ações, tomando as medidas
necessárias caso se verifique incompatibilidade entre o previsto e o realizado.
Deste modo há maiores chances que o projeto atinja a expectativa dos
stakeholders e o seu sucesso total.
4.3.2. Gerenciamento das aquisições do projeto
Vamos começar esta aula propondo uma reflexão.
Para refletir!
Imagine que você seja um excelente gerente de projetos, todo o escopo, custos e
tempo planejado e a execução saindo conforme o planejado. Sua equipe foi muito
bem escolhida e treinada e tudo está dando certo. Só que uma parte do projeto está
sendo executada por uma empresa terceirizada, sob a qual você tem pouco controle.
Onde pensa que está a maior probabilidade de ocorrer um erro?
80
GESTÃO DE PROJETOS
Se essa empresa terceirizada contar com uma boa metodologia de gestão
de projetos e um gerente competente, talvez você possa ficar tranquilo, que a gestão
será conduzida da mesma forma que sua própria empresa o faz. Mas, se nessa
empresa os projetos forem realizados sem o devido cuidado, provavelmente ai é que
os problemas certamente ocorrerão.
Assim, a responsabilidade do gerente do projeto não se limita àquele
trabalho desenvolvido pela sua própria equipe, mas também a todos os produtos e
serviços adquiridos de outras empresas para compor o escopo do projeto.
Só que como o gerente não tem autoridade direta sobre quem executa esse
trabalho terceirizado, medidas devem ser tomadas para garantir que os produtos ou
serviços sejam entregues com o mesmo rigor (qualidade, prazo, custo) com o qual
foram planejados.
Para
tanto,
o
PMBOK
(2013)
recomenda
quatro
processos
de
gerenciamento das aquisições:
•
Planejar o gerenciamento das aquisições: definir como serão
conduzidas as compras do projeto;
•
Conduzir as aquisições: determinar e documentar as cotações,
escolha dos fornecedores e fechamento dos contratos;
•
Controlar as aquisições: monitorar o desempenho dos contratos e
fazer as mudanças necessárias;
•
Encerrar as aquisições: finalizar todas as aquisições do projeto.
O planejamento das aquisições deve seguir o mesmo procedimento do plano
de trabalho do projeto, ou seja, descrever claramente o escopo do projeto e do
produto, identificar as atividades e seus respectivos prazos, discriminar os custos
unitários e totais e analisar e planejar a resposta aos riscos.
Um documento chamado Especificação do Trabalho (ET) ou Statement Of
Work (SOW) pode ser elaborado para ser passado aos possíveis fornecedores dos
produtos e serviços necessários ao projeto. Nesse documento devem constar todas
as especificações e condições que devem ser seguidas e respeitadas.
81
GESTÃO DE PROJETOS
Após o recebimento das cotações enviadas pelos fornecedores, devem ser
selecionados aqueles que atenderem à maior parte dos requisitos, lembrando que a
simples menção ou concordância do fornecedor não garante que ele tem efetivas
condições de cumprir o contrato.
Por isso é importante visitar e conhecer a capacidade produtiva do
fornecedor, bem como seu histórico e referências comerciais. Muitas vezes é mais
seguro contar com parceiros confiáveis, mesmo que tenham preços um pouco acima
daqueles encontrados em empresas desconhecidas. Nunca é demais lembrar que
um projeto só tem uma chance de dar certo.
Além disso, contratos bem elaborados devem ser assinados, de forma a
proteger ambas as empresas, principalmente no quesito do cumprimento dos
prazos, custos e qualidade dos produtos e serviços adquiridos.
Especial atenção deve ser dada às ações de monitoramento e controle, as
quais devem permitir ao gerente do projeto da empresa contratante acesso às
dependências e informações precisas do andamento da aquisição.
Caso o projeto preveja relatórios de desempenho quinzenais, por exemplo, o
ideal é solicitar informações do andamento das aquisições com periodicidade similar,
de modo que possa ser avaliado o desempenho integrado do projeto.
Muito bem, agora já entendemos o gerenciamento da qualidade e das
aquisições do projeto, ficando as duas últimas áreas para a próxima aula:
gerenciamento das partes interessadas e da integração do projeto.
Aprimore seus estudos!
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 5).
• PMI (2013, cap. 8,12).
• Vargas (2009, parte III, cap. 8,12).
• Xavier et al. (2014, cap.5).
82
GESTÃO DE PROJETOS
4.4. GERENCIAMENTO DAS PARTES INTERESSADAS E INTEGRAÇÃO
As duas últimas áreas da metodologia de gestão de projetos prevista pelo
PMI serão abordadas neste item: o gerenciamento das partes interessadas e da
integração do projeto.
4.4.1. Gerenciamento das partes interessadas
O PMBOK, até sua penúltima edição, contemplava apenas nove áreas e na
sua última edição incluiu as partes interessadas como uma décima área. Isso de
deve à sua importância para a gestão dos projetos.
O PMBOK (2013) trabalha com quatro processos de gerenciamento das
partes interessadas:
•
Identificar as partes interessadas: identificar todas as pessoas e
organizações que têm algum tipo de envolvimento ou interesse no projeto e/ou que
são afetados por ele;
•
Planejar o gerenciamento das partes interessadas: descrever como
as partes interessadas interagirão e quais seus níveis de engajamento no projeto;
•
Gerenciar o engajamento das partes interessadas: gerenciar a
comunicação e interação com os stakeholders de modo a garantir a satisfação das
suas necessidades;
•
Controlar o engajamento das partes interessadas: monitorar o
engajamento das partes interessadas, administrando suas expectativas e solicitando
as mudanças necessárias.
A identificação das partes interessadas foi vista na Aula 1. Nesta aula vamos
estudar como gerenciar os stakeholders durante todas as fases do projeto. Na etapa
de planejamento, devemos identificar o nível de engajamento de cada parte
interessada.
Uma forma de se fazer isso é termos uma escala de classificação, como:
83
GESTÃO DE PROJETOS
1.
Desinformado: a parte interessada não possui conhecimento do projeto
e seus impactos potenciais;
2.
Resistente: a parte interessada está ciente dos impactos, mas é
resistente às mudanças;
3.
Neutro: ciente do projeto e impactos, mas não apoia nem resiste;
4.
Apoia: ciente do projeto e seus impactos, e dá apoio às mudanças;
5.
Lidera: ativamente engajado no projeto para garantir seu sucesso.
Além de identificar o nível atual de engajamento de cada parte interessada,
o planejamento deve incluir ações para que o nível de engajamento atinja o
desejável, geralmente compreendido entre os níveis 4 e 5, ou seja, os stakeholders
devem dar apoio ou liderar o projeto.
Para tanto, entender as necessidades e expectativas e a realização de
reuniões para equalização das informações são fundamentais.
Após a fase de planejamento, durante a execução e o controle, as
informações devem ser disponibilizadas às partes interessadas e devem ser
monitoradas suas expectativas e seu grau de satisfação com o projeto.
À medida que for identificada deterioração no grau de engajamento de
qualquer stakeholder, ações devem ser tomadas para retomar o apoio dessa parte
envolvida.
4.4.2. Gerenciamento integração do projeto
O PMI considera esta como a primeira área, vindo antes de todas as outras,
dada a sua importância. Nesta apostila optamos por descrevê-la por último, também
por entendermos que é tão importante que será mais bem compreendida depois de
terem sida estudadas as demais áreas.
O PMBOK (2013) considera seis processos para o gerenciamento da
integração do projeto, a saber:
•
Desenvolver o termo de abertura do projeto: elaborar o documento
que visa registrar os requisitos que atendem às necessidades das partes envolvidas
e autorizar o início do projeto;
84
GESTÃO DE PROJETOS
•
Desenvolver o plano de gerenciamento do projeto: consolida os
planos auxiliares das demais áreas;
•
Orientar e gerenciar a execução do projeto: gerenciar a execução do
trabalho planejado para atingir os objetivos do projeto;
•
Monitorar e controlar o trabalho do projeto: acompanhar o
desempenho do projeto e revisar a execução e o planejamento do projeto;
•
Realizar o controle integrado de mudanças: gerenciar (analisar e
aprovar) as mudanças do projeto;
•
Encerrar o projeto ou fase: terminar formalmente o projeto e suas
fases finalizando todos os processos.
Nesta apostila trabalharemos com três técnicas previstas nos processos
acima: a elaboração do Termo de Abertura do Projeto, o controle de mudanças e as
lições aprendidas.
O Termo de Abertura do Projeto (TAP) foi visto na Aula 3, lembra-se? Ele
é o documento que autoriza formalmente o projeto e apresenta as partes
interessadas e as necessidades que originaram o projeto, seus objetivos, escopo,
cronograma, custos e riscos básicos, bem como as premissas e restrições.
O TAP é elaborado antes de o projeto ser realizado e, se após a sua
elaboração for identificado que o projeto é inviável, este não será iniciado. Caso
tenha viabilidade e seja aprovado, o patrocinador do projeto emite o TAP e nomeia o
gerente de projetos.
Esse momento muitas vezes é realizado em uma reunião formal,
denominada reunião de kick-off (vem do termo Inglês que significa dar o primeiro
chute na bola em um jogo). A partir dessa reunião, o gerente do projeto, já
empossado formalmente, se reúne com a equipe para proceder o planejamento
detalhado do projeto.
Resumindo, o TAP é a base do plano do projeto.
Outro ponto fundamental no gerenciamento da integração é a gestão
integrada de mudanças. Conforme mostramos ao longo da apostila, o projeto
possui dez áreas, e elas estão tão integradas e interligadas, que uma pequena
mudança em qualquer uma pode provocar grandes mudanças em outras.
85
GESTÃO DE PROJETOS
Exemplo!
Por exemplo, se uma das partes interessadas quiser aumentar a qualidade do
produto do projeto, haverá alterações no escopo e provavelmente no custo e no
prazo. Muitas vezes, uma pequena alteração na qualidade pode aumentar em meses
o prazo do projeto. Da mesma, forma, se quisermos reduzir os custos, possivelmente
termos alterações na qualidade e aumento nos riscos do projeto.
Assim, todas as solicitações de mudanças deverão ser analisadas pelo
gerente e avaliados os impactos em todas as áreas do projeto. Com base em um
relatório formal de impacto, as mudanças devem ser submetidas a aprovações das
partes envolvidas responsáveis. Somente após a aprovação, o plano do projeto deve
ser alterado (escopo, tempo, custos, qualidade, riscos etc.) e as mudanças poderão
ser realizadas.
De modo a não burocratizar excessivamente o projeto e este controle ser
mais oneroso que os possíveis benefícios, costumam-se estabelecer regras e limites
nos quais o gerente tem a autoridade para aprovação das mudanças sem ter de
solicitar aprovação.
Por exemplo, pode-se estabelecer um limite máximo de 5% nos custos e,
dentro desta fronteira, o gerente pode aprovar mudanças; mas veja que, mesmo
nestes casos, deve-se fazer a análise formal do impacto da mudança em todas as
áreas do projeto.
Ao final do projeto, um documento chamado Lições aprendidas pode ser
elaborado pelo gerente do projeto e a sua equipe. Normalmente essa atividade não
tem influência no sucesso do projeto específico, mas com certeza ajudará muito os
próximos projetos que aquela empresa ou equipe realizar no futuro.
As lições aprendidas deverão ser registradas ao longo do projeto. Sempre
que alguma decisão tomada se mostrar acertada ou equivocada, o relatório de
desempenho deverá registrar o acerto ou o erro, as ações corretivas tomadas e
possíveis ações preventivas que poderiam ter evitado o problema.
Ao final do projeto, o gerente, auxiliado por sua equipe, deverá reler os
relatórios de desempenho e demais documentos do projeto de modo a preparar o
documento formal das Lições aprendidas. Esse documento deve ser arquivado junto
86
GESTÃO DE PROJETOS
com os demais documentos do projeto encerrado, servindo de base para os futuros
projetos.
Bem, pessoal, chegamos ao fim de nossa matéria. Esperamos que tenham
aproveitado e aprendido bastante sobre a gestão de projetos. Agora é com você:
mãos à obra em seus projetos pessoais e profissionais.
Aprimore seus estudos!
Para você se aprofundar nos estudos dos temas abordados nesta aula, os seguintes
capítulos dos livros constantes das referências bibliográficas podem ser consultados:
• Dinsmore e Cavalieri (2011, cap. 5).
• PMI (2013, cap. 4,13).
• Vargas (2009, parte III, cap. 4,13).
• Xavier et al. (2014, cap.5).
87
GESTÃO DE PROJETOS
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Marly M. de; RABECHINI JR., Roque. Fundamentos em gestão de
projetos: construindo competências para gerenciar projetos. 3. Ed. São Paulo: Atlas,
2011.
DINSMORE, Paul C.; CAVALIERI, Adriane M. (org.). Como se tornar um profissional
em gerenciamento de projetos. 3. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2009.
GIDO, Jack; CLEMENTS, James P. Gestão de projetos. São Paulo: Cengage
Learning, 2013.
HELDMAN, Kim. Gerência de projetos: guia para o exame oficial do PMI. 5. ed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2009.
KANABAR, Vijay; WARBURTON, Roger. D. Gestão de projetos. São Paulo:
Saraiva, 2012.
KEELLING, Ralph. Gestão de projetos: uma abordagem global. São Paulo: Saraiva,
2006.
MAXIMIANO, Antônio C. A. Administração de projetos: como transformar ideias em
resultados. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2014.
NEWTON, Richard. O gestor de projetos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2011.
PMI – Project Management Institute. Um guia do conhecimento em gerenciamento
de projetos (Guia PMBOK). 5. ed. PMI, 2013.
SABBAG, Paulo Y. Gerenciamento de projetos e empreendedorismo. São Paulo:
Saraiva, 2009.
VARGAS, Ricardo V. Gerenciamento de projetos: estabelecendo diferenciais
competitivos. 7. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2009.
88
GESTÃO DE PROJETOS
XAVIER, Carlos M. S. et al. Metodologia de gerenciamento de projetos:
methodware: abordagem prática de como iniciar, planejar, executar, controlar e
fechar projetos. 4. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2014.
INFOGRÁFICAS
PMI. <http://brasil.pmi.org/>
PMTech. <http://www.pmtech.com.br/>
Ricardo Viana Vargas. <http://www.ricardo-vargas.com/pt/>
TenStep. <http://www.tenstep.com.br/br/index.html>
PERIÓDICOS SUGERIDOS
Revista Mundo PM. <http://www.mundopm.com.br/default.jsp>
Revista de Gestão e Projetos – GeP.
<http://www.revistagep.org/ojs/index.php/gep>
Revista Brasileira de Gerenciamento de projetos.
<http://pm21.com.br/website/index.php?pg=revista>
89