UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
CENTRO INTERDISCIPLINAR DE NOVAS TECNOLOGIAS NA
EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO
EDUCA: UMA FERRAMENTA PARA
ELABORAÇÃO DE AULAS ACESSÍVEIS
CRISTIANI DE OLIVEIRA DIAS
Porto Alegre, agosto de 2015
CRISTIANI DE OLIVEIRA DIAS
EDUCA: UMA FERRAMENTA PARA
ELABORAÇÃO DE AULAS ACESSÍVEIS
Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Informática na Educação do
Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias
na Educação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, como requisito para obtenção
do título de Doutor em Informática na
Educação.
Orientador:
Eliseo Berni Reategui
Coorientadora:
Liliana Maria Passerino
Porto Alegre, agosto de 2015.
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Reitor: Prof. Carlos Alexandre Netto
Vice-Reitor: Prof. Rui Vicente Oppermann
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Vladimir Pinheiro do Nascimento
Diretor do CINTED: Prof. José Valdeni de Lima
Coordenador do PPGIE: Prof. Eliseo Berni Reategui
3
É necessário sair da ilha para ver a ilha, Não nos
vemos se não saímos de nós.” (José Saramago)
"Por que cegamos, não sei, talvez um dia se chegue
a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso,
Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos
cegos, cegos que vêem, cegos que vendo, não
vêem" (José Saramago em O ensaio sobre a
cegueira).
4
5
CRISTIANI DE OLIVEIRA DIAS
EDUCA: UMA FERRAMENTA PARA
ELABORAÇÃO DE AULAS ACESSÍVEIS
Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Informática na Educação do
Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias
na Educação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, como requisito para obtenção
do título de Doutor em Informática na
Educação.
Aprovada em 21 de agosto de 2015.
-----------------------------------------------------Prof. Dr. Eliseo Berni Reategui – Orientador
-----------------------------------------------------Profa. Dra. Liliana Maria Passerino – Coorientadora
-----------------------------------------------------Profa. Dra. Clevi Elena Rapkiewicz – UFRGS
-----------------------------------------------------Prof. Dr. Sílvio Cesar Cazella – PGIE UFRGS
---------------------------------------Profa. Dra. Regina Heidrich – Feevale
6
Aos meus pais, Leonço e Ondina, os quais se empenharam
imensamente para minha formação. Ao André, companheiro
físico/espiritual e amoroso de todas as horas.
7
Agradecimentos
A todos que participaram da minha vida acadêmica em especial ao meu
orientador Eliseo Reategui e a minha coorientadora Liliana Passerino pela paciência
e amizade. Aos meus colegas e alguns amigos que fiz ao longo desses sufocantes
4 anos.
Á minha família, agradeço ao incondicional apoio.
Ao amor da minha vida, André Maranhão Machado, todo suporte e todo amor
e carinho que me acalmava nos momentos de tempestade emocional. Sem ele não
existiria o Educa, literalmente!
Ao Sagu e a Claudinha (e o falecido Sacolé), sem vocês eu seria metade!
Agradecimentos ainda...
Ao professor Carlos de Castro Lozano pela hospitalidade e por ter orientado
durante meu período de doutorado sanduíche em Córdoba na Espanha.
Á professora Silvana Aciar, por ter me recepcionado e afetuosamente ter
participado da minha pesquisa de doutorado no período curto de 1 mês em San
Juan na Argentina. Também aos colegas da Universidade de San Juan que
contribuíram com a minha pesquisa. Meu muito obrigada!
Á CAPES (Coordenação Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)
pela concessão da bolsa de doutorado sanduíche pelo projeto MyCT na Argentina
e;
Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
pela concessão da bolsa de doutorado sanduíche pelo projeto DGU na Espanha.
Finalmente, à UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) por
oportunizar os espaços de formação e desenvolvimento pessoal e profissional.
8
RESUMO
Esta tese teve por objetivo investigar o desenvolvimento de uma ferramenta
digital que auxilie professores na construção do seu plano de aula. O estudo conta
com três capítulos que constituem o arcabouço teórico do problema de pesquisa e
proporcionam juntos uma melhor compreensão do fenômeno que está sendo
abordado. Os capítulos serão os seguintes: no Capítulo 1 a acessibilidade é
apresentada, abordando os processos acessíveis de produtos, arquitetônicos e de
comunicação, identificando barreiras existentes até hoje, mesmo com implantação
de políticas públicas de apoio a derrubada dessas barreiras.
Também são apresentadas comunicações alternativas que auxiliam sujeitos a
recuperar a interação entre pares. Por último são mostrados software disponíveis e
que dão suporte a familiares e professores que funcionam como um integrador
dessas barreiras enfrentadas. No Capítulo 2 são apresentadas e discutidas práticas
docentes na construção de planos de aula e materiais didáticos. A proposta desse
capítulo é explicar o que são planos de aula, a partir das referências em autores
como se elabora planos de aula e quais os recursos que podem ser utilizados.
E por fim, o Capítulo 3 mostra um breve apanhado sobre Sistemas de
Recomendação, um tipo de tecnologia capaz de recuperar e sugerir itens de
interesse do usuário. No Capítulo 4, apresenta-se a proposta de desenvolvimento
da ferramenta para auxílio a professores e as propostas metodológicas de
desenvolvimento, de coleta e análise de dados para a presente tese.
No Capitulo 5 são feitas as considerações finais da pesquisa além de estudos
futuros. Trabalhar e compartilhar em sala de aula as diferenças, necessidades dos
alunos e dos professores que por vezes mostram-se por desafios enfrentados no
dia a dia. Alguns desses desafios enfrentados pelo professor, podem ser
observados no momento da preparação da aula. Afim de otimizar o processo de
construção de um plano de aula, esse trabalho tem a intenção de descrever o
9
desenvolvimento de uma ferramenta para auxiliar o professor na criação de planos
de aula, no qual, envolveu o acoplamento desta a um sistema de recomendação
para sugerir links, textos, vídeos e imagens disponíveis na Web. O referido sistema
de recomendação teve a ele integrado um verificador de acessibilidade para que os
materiais produzidos pudessem contemplar critérios de acessibilidade de acordo
com recomendações da W3C. A pesquisa foi desenvolvida com 20 professores de
diversas áreas que validaram a ferramenta a partir de questionário, utilização da
ferramenta e produção de plano de aula. A partir da análise dos dados, observouse que os professores que não conheciam acessibilidade mudaram seus conceitos
e reformularam seus planos de aula para que fossem avaliados positivamente com
relação a acessibilidade de conteúdo. Esses professores também certificaram a
importância da recomendação de conteúdo para complementar e aumentar o
conteúdo do seu plano de aula.
10
ABSTRACT
This doctoral thesis aims at investigating how digital tools can help teachers
build lesson plans. The thesis is composed of three chapters that make up the
theoretical framework of the research problem, and provide a better understanding
of the phenomenon approached here. Chapter 1 presents the question of
accessibility, addressing the accessible processes of products, architecture and
communication, identifying obstacles up to the present, even with the
implementation of public policies to support the removal of these obstacles. We also
present alternative communications that help individuals to regain peer interaction.
Chapter 2 presents teaching practices in developing lesson plans and teaching
materials. The purpose of this chapter is to explain what lesson plans are, how they
are developed and which resources could be used. Working and sharing the
differences in class are challenges faced in everyday life, and some of these
challenges, faced by the teachers, can be observed when preparing the class. In
order to optimize the process of creating a lesson plan, this study describes the
development of a tool to assist teachers in the task, which involved coupling a
recommendation system to suggest links, texts, videos and images available on the
web, topic addressed in chapter 3. The recommendation system has an embedded
accessibility checker so that the materials produced could address accessibility
criteria according to the W3C recommendations. In Chapter 4, we present the work
connected to the development tool to help teachers and the methodological
proposals for development, data collection and analysis of data for the present
thesis. The survey was conducted with a sample of 20 teachers from several fields
who validated the tool through a questionnaire, as well as the use of the tool and the
development of lesson plans. From the data analysis, we could observe that
teachers who were not acquainted with the accessibility issue have changed their
concepts and reformulated their lesson plans in order to get a positive evaluation
regarding content accessibility. Those teachers also certified the importance of
11
content recommendation to complement and enhance the content of their lesson
plans. In Chapter 5, the closing remarks of the research are presented and ideas for
future studies are suggested.
12
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Relação entre os diferentes componentes da interação Web.. ........................................ 34
Figura 2: Diretrizes de Acessibilidade (WCAG 2.0 da W3C, 2014) Adaptado de Conforto e Santarosa
........................................................................................................................................................... 34
Figura 3: Modelos de planos de aula, adaptados de Nikolic e Cabaj (2000). ................................... 48
Figura 4: Modelo simples de relações entre aprendiz, conteúdo e contexto em um evento de
aprendizagem (FIGUEIREDO, AFONSO, 2006.).................................................................................. 54
Figura 5: Variáveis que incidem nas decisões. (Zabalza. 2000, p.53). .............................................. 56
Figura 6: Portal do Professor. ........................................................................................................... 57
Figura 7: Requisitos de criação de aula............................................................................................. 58
Figura 8: Início da criação de aula. .................................................................................................... 58
Figura 9: Exemplo de utilização de estratégias de recomendação em um site ................................ 69
Figura 10: Representação da abordagem de filtragem por conteúdo. ............................................ 71
Figura 11: Modelo proposto para recomendação de objetos de aprendizagem por competência. 74
Figura 12: Sistema de recomendação acadêmico. ........................................................................... 75
Figura 13: Modelo do componente Gerador de recomendações híbridas.. .................................... 78
Figura 14: Fluxo de processo linear. Modelo Cascata definido por Pressman, 2011 pg.54. ............ 82
Figura 15: Fluxo de ações da Ferramenta Educa. ............................................................................. 85
Figura 16: O sistema de recomendação............................................................................................ 87
Figura 17: Interface do editor de conteúdo. ..................................................................................... 90
Figura 18: : Interface do editor de conteúdo. ................................................................................... 91
Figura 19: Tela principal da ferramenta SOBEK. ............................................................................... 92
Figura 20: Tela principal do avaliador automático AChecker. .......................................................... 94
Figura 21: Tela do editor TinyMCE integrado com o avaliador AChecker. ....................................... 95
Figura 22: Figura x: Recomendação de Acessibilidade reformulados a partir das Recomendações do
AChecker em arquivo XML. ............................................................................................................... 96
Figura 23: Resultado da avaliação de acessibilidade na Ferramenta Educa. .................................... 97
Figura 24: Plano de aula da professora LF com destaque em ·Material complementar· adicionado a
partir das recomendações sugeridas pela Ferramenta................................................................... 107
Figura 25: Plano de aula da professora G. ...................................................................................... 108
Figura 26: Primeira parte da sequência de plano de aula.. ............................................................ 113
Figura 27: Segunda parte da sequência de plano de aula. ............................................................. 113
Figura 28: Terceira parte da sequência de plano de aula. .............................................................. 114
Figura 29: Plano de aula professor F. .............................................................................................. 114
Figura 30: Sequência do plano de aula professor F. ....................................................................... 115
Figura 31: Plano de aula criado pelo professor F. ........................................................................... 116
Figura 32: Amostra do código da imagem inserida no plano de aula............................................. 117
Figura 33: Amostra do código da imagem inserida no plano de aula............................................. 118
Figura 34: Tela (1) do plano de aula com imagem oculta, porém uma tecnologia auxiliar poderia ler
a descrição e; (2) Amostra do código da imagem (descrição ALT) inserida no plano de aula. ....... 120
Figura 35: Tela de criação de plano de aula.................................................................................... 123
Figura 36: Modelo de inserção de informações na Ferramenta..................................................... 125
13
Figura 37: Plano de aula do professor G. ........................................................................................ 127
Figura 38: Plano de aula criado pela professora S. ......................................................................... 128
Figura 39: Exemplo de Modelo de plano de aula com foco na criação de um curso criado pela
professora D.. .................................................................................................................................. 129
Figura 40: Plano de aula do professor H. ........................................................................................ 132
Figura 41: Plano de aula da professora L que ministra disciplina prática de Desenho de Software.
......................................................................................................................................................... 134
Figura 42: Plano de aula da professora M que ministra disciplina prática de Desenho de Software.
......................................................................................................................................................... 135
Figura 43: Plano de aula versão Aluno, criado pelo professor H. ................................................... 139
Figura 44: Plano de aula versão Aluno, criado pelo professor L. .................................................... 140
Figura 45: Plano de aula versão Aluno, criado pelo professor L. .................................................... 141
..
14
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Resultados do questionário referentes à adequação das recomendações feitas pela
ferramenta.. .................................................................................................................................... 103
Gráfico 2: Resultados do questionário referentes à influência das recomendações na seleção de
materiais. ........................................................................................................................................ 105
Gráfico 3: Resultados sobre acessibilidade das recomendações. ................................................... 110
Gráfico 4: Resultados sobre capacidade da ferramenta em auxiliar professor na construção de
materiais acessíveis. ........................................................................................................................ 112
Gráfico 5: Resultados quanto à estrutura dos planos de aula. ....................................................... 121
Gráfico 6: Resultados quanto à possibilidade de criação de materiais direcionados aos alunos. .. 136
Gráfico 7: Resultados quanto à possibilidade de disponibilização de materiais na web................ 138
Gráfico 8: Resultados do questionário referentes à satisfação dos professores com a ferramenta.
......................................................................................................................................................... 142
Gráfico 9: Resultados do questionário referentes à possível utilização da ferramenta pelos
professores. ..................................................................................................................................... 143
Gráfico 10: Resultados do questionário referentes à possível recomendação da ferramenta a
colegas............................................................................................................................................. 145
15
LISTA DE ABREVIATURAS
APAE – ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS
BPC - BENEFÍCIO DA PRESTAÇÃO CONTINUADA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
CONADE - CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
DV – DEFICIÊNCIA VISUAL OU DEFICIENTE VISUAL
FUNDEB – FUNDO DE MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E DE
VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
PNLD - PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO
PROEJA - PROGRAMA NACIONAL DE INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COM A EDUCAÇÃO
BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
PRONATEC – PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO TÉCNICO E EMPREGO
SECADI – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO, DIVERSIDADE E INCLUSÃO
SEESP - SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
SENAC – SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL
SENAI – SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL
SENAR – SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL
SENAT - SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM DO TRANSPORTE
TIC – TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
TICS – TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
W3C- WORLD WIDE WEB CONSORTIUM
WAI – WEB INITIATIVE ACCESSIBILITY - INICIATIVA PARA A ACESSIBILIDADE NA REDE
16
Sumário
1.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 19
2.
ACESSIBILIDADE ......................................................................................................................... 26
1.1
Material educacional digital e diversidade ............................................................... 36
2.2. Sobre materiais educacionais digitais acessíveis ............................................................. 38
2.3 Sobre Atenção ao aluno.................................................................................................... 39
2.4. Alguns recursos tecnológicos para construção de materiais educacionais digitais ........ 41
2.5 Considerações sobre o capítulo ........................................................................................ 43
2.
O TRABALHO DOCENTE: PLANEJAMENTO ................................................................................ 46
3.1 Ferramenta de desenvolvimento de planos de aula ........................................................ 57
3.2 Considerações sobre o capítulo ........................................................................................ 61
3.
SISTEMAS DE RECOMENDAÇÃO ................................................................................................ 63
4.1 Estratégias de Recomendação .......................................................................................... 68
4.2 Filtragem baseada em Conteúdo ...................................................................................... 70
4.4 Tecnologias para Recomendação ..................................................................................... 72
4.4.1 GroupLens ........................................................................................................................ 72
4.4.2 Recomendação de Objetos de Aprendizagem Empregando Filtragem Colaborativa e
Competências ............................................................................................................................ 73
4.4.3 Sistema de Recomendação Acadêmico para Apoio a Aprendizagem .............................. 75
4.4.4 Um Modelo de Sistema de Recomendação de Materiais Didáticos para Ambientes
Virtuais de Aprendizagem ......................................................................................................... 76
4.5 Considerações sobre o capítulo ........................................................................................ 79
4.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................................................ 80
5.1 Desenvolvimento e testagem da ferramenta ................................................................... 81
5.1.1 Comunicação: Levantamento de requisitos ..................................................................... 82
5.1.2 Planejamento ................................................................................................................... 83
5.1.3 Modelagem ...................................................................................................................... 83
5.1.4 Implementação da Ferramenta........................................................................................ 88
5.1.5 Sujeitos ............................................................................................................................. 98
17
5.2 Coleta de dados por meio da utilização da ferramenta por professores ......................... 99
5.2.1 A Atividade Proposta ........................................................................................................ 99
5.2.2 Coleta de dados por meio de questionários .................................................................... 99
5.2.3. Observação teste da ferramenta .................................................................................. 100
5.2.4 Coleta de dados por meio dos planos elaborados ........................................................ 101
5.2.5 Coleta de dados por meio de entrevistas ...................................................................... 101
5.3 Análise dos dados coletados ........................................................................................... 102
5.3.1 Categoria 1: Recomendação de conteúdo ..................................................................... 102
5.3.2 Categoria 2: Acessibilidade do conteúdo ....................................................................... 110
5.3.3 Categoria 3: Estrutura e utilidade da ferramenta .......................................................... 121
5.3.4 Categoria 4: Satisfação subjetiva ................................................................................... 142
5.
CONSIDERAÇÕES DA PESQUISA .............................................................................................. 147
6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 151
7.
ANEXOS ................................................................................................................................... 157
18
1.
INTRODUÇÃO
Tema para diálogos e debates, a educação inclusiva vem crescendo e
mostrando sua importância ao longo de mais de 10 anos. Por volta de 1992 com a
criação da Secretaria de Educação Especial (SEESP) por meio da Lei 8.490/92 no
qual se planejou fortalecer as políticas de educação inclusiva. O conjunto de ações
governamentais que dão subsídio para o aluno com deficiência ser incluído na
escola regular vem desde o financiamento da sua matrícula (por meio do Fundeb1),
o atendimento educacional especializado no contra turno do horário da escola e da
experiência do aluno em conviver e ser recepcionado pelos seus colegas na sua
escola regular. Esse conjunto de ações prevê a quebra da estrutura antiga do aluno
com deficiência ser atendido somente por uma escola especial ou APAE. Pensando
no ponto de vista dessas ações, o aluno está inserido na sociedade sem necessitar
conviver somente entre seus pares e sim ter experiências e convivências com
alunos sem deficiência, respeitar as diferenças e as características de ambos os
lados. Desassociando a deficiência com impossibilidades e associando com
potencialidades e possibilidades.
Por meio dessas Políticas Públicas em apoio à Educação Inclusiva e dos
projetos de Formação Continuada de Professores, o MEC assumiu como premissa
a não separação entre a teoria e a prática (Conforto e Santarosa, 2012) aliando
inserção do deficiente na escola, com atendimento educacional especializado 2 e
formação de professores para atender esses alunos.
1
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação. É um fundo especial, de natureza contábil e de âmbito estadual, formado,
na quase totalidade, por recursos provenientes dos impostos e transferências dos estados, sendo
redistribuído
para
aplicação
exclusiva
na
educação
básica.
Disponível
em:
http://www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb/fundeb-apresentacao
2
Um serviço da Educação Especial que identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de
acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando as suas
necessidades específicas. O AEE complementa e/ou suplementa a formação do aluno com vistas à
autonomia e independência na escola e fora dela.
19
O outro lado dessa questão se dá pela qualificação dos professores para
atender a essa diversidade em sala de aula. Sabemos que a formação inicial do
professor (graduação) não dá conta de discutir muitas das temáticas que são
relevantes na sua prática docente. Uma delas é a educação para diversidade.
Trabalhar e compartilhar em sala de aula as diferenças, necessidades dos alunos e
dos professores que por vezes mostram-se por desafios enfrentados no dia a dia.
A educação continuada vem suprindo esse espaço vazio trazendo a oportunidade
de trabalhar a teoria entendendo melhor o que acontece na sua prática escolar.
Alguns cursos oferecidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul como
Curso de Aperfeiçoamento em Produção de Material Didático para Diversidade ou
Curso de Especialização em Educação para a Diversidade tem por objetivo
contemplar esse enfrentamento de preconceitos e de discriminações de cunho
cultural, étnico, de gênero e socioeconômico na escola e em sala de aula. Oferecido
pelo Governo Federal, o curso Formação Continuada de Professores em
Tecnologias de Informação e de Comunicação Acessíveis, apoiado pelo SECADI,
é um desses cursos ofertados a professores da rede pública com formação em
educação especial a distância, oportunizando o conhecimento em tecnologias e
metodologias que atendam seu aluno com deficiência. Dar ao professor um suporte
na construção de qual metodologia a ser trabalhada em sala de aula e quais os
recursos e tecnologias que podem ser usadas, dá uma segurança nessa prática tão
importante. Antes se pensava que só professores de formação especializada que
teriam possibilidade de trabalhar com aluno com deficiência. Incluindo esse aluno
numa escola regular, todos temos a possibilidade de termos em sala de aula, todos
os tipos de alunos. Muda-se a perspectiva de pensamento: onde antes nos
focávamos em algo, hoje se pensa no todo.
20
O crescimento de 933%3 das matrículas de pessoas com deficiência na
educação superior em 10 anos mostra essa mudança de paradigma de que
estudantes com deficiência devem ficar em escolas especializadas e relacionandose somente entre os seus. Felizmente essa abertura já chegou à universidade. Com
o investimento de 11 milhões previstos para 2013 destinado às universidades
federais “adequação de espaços físicos e material didático a estudantes com
deficiência, por meio do Programa Incluir” (Governo Federal, 2012).
Percebe-se que é uma caminhada longa rumo à Educação Inclusiva, porém
vê-se ainda “uma realidade brasileira desfavorável para sujeitos com deficiência ou
a frágil formação dos professores” (Conforto e Santarosa, 2012) e também falta de
acessibilidade arquitetônica afastam as crianças do seu crescimento e continuidade
escolar. Dados de 2010 do Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC)
mostram que havia 69.441 dessas crianças matriculadas no ensino infantil (0 a 5
anos) oferecido em escolas especiais e regulares. No ensino fundamental (1° ao 9º
ano), eram 522.978. Já no ensino médio o número era drasticamente menor:
28.667. Dados do MEC mostram que das mais de 146 mil escolas de ensino
fundamental, apenas 35 mil estavam adaptadas na época do levantamento, sendo
que 29 mil não tinham sequer sanitário adequado e 4.600 não tinham nenhuma de
suas dependências adaptadas. Muitas dificuldades ainda estão sendo encontradas
desde a educação básica até a superior, porém estima-se que esses obstáculos
sejam diminuídos conforme a continuidade dos projetos permaneça em prática.
Muitas ações para evitar a evasão escolar de alunos com deficiência estão
sendo criadas pelas atuais políticas de inclusão e permanência desses alunos. Uma
dessas ações é do programa O Benefício da Prestação Continuada da Assistência
Social (BPC) na Escola, Programa do Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS). Garantido pela Constituição desde 1988 (MDS.GOV,
2013) esse benefício é pago para pessoas com deficiência o equivalente a um
3
Fonte: https://digitaispuccampinas.wordpress.com/2012/10/06/numero-de-alunos-com-deficienciano-ensino-superior-aumentou-9336-aponta-mec/
21
salário mínimo e desenvolvem ações que estimulam a matrícula dessas pessoas
até os 18 anos. Atualmente são beneficiários 1,9 milhões de pessoas com
deficiência (MDS.GOV, 2012).
Vemos que ações e políticas públicas poderão mudar futuramente nossa
realidade e a realidade desses alunos. Porém, uma forma, de manter o aluno em
sala de aula, mantê-lo motivado e que realmente aprenda e que compartilhe
experiências com seus colegas é incluindo esse aluno em sala de aula e dando
suporte para que ele permaneça. O professor tem essa capacidade de integrar esse
aluno, auxiliando nas dificuldades, no seu esforço no aprender. E os planos de aula
elaborados pelo professor assim como os materiais criados para cada aula também
faz parte desse processo de integração.
Minha formação é de Informática com especialização em Informática na
Educação e mestrado em Educação. Desde o início da graduação, voltei meus
estudos para estudar ferramentas computacionais e software voltados para
educação. Na especialização fiz um estágio ensinando tecnologias para autistas.
Essa experiência me levou a escolher a área de Educação Especial como foco das
minhas pesquisas posteriores. No mestrado então, minha pesquisa foi desenvolver
objetos de aprendizagem para cegos e deficientes visuais.
Os objetos de
aprendizagem para DV e cegos eram raros e minha pesquisa foi muito gratificante
para mim. Concomitante com esses estudos e projetos, trabalhei com educação a
distância e formação de professores bem como em sala de aula dando aula em
escolas estaduais e particular em cursos graduação de computação.
Nessa minha experiência em sala de aula eu não tive alunos com deficiência
até o ano de 2013 em que atuei como professora substituta no instituto Federal Sulrio-grandense, em Sapucaia do Sul. Tive 1 aluno com deficiência visual (baixa visão)
do curso técnico de informática e dois cadeirantes do curso técnico de
administração modalidade PROEJA. O instituto não é totalmente adaptado, mas
oferece um espaço e acessibilidade arquitetônica que garante aos cadeirantes uma
boa locomoção nos espaços (com exceção os laboratórios de informática). O aluno
22
com baixa visão de baixa renda ganhou um auxílio do instituto na compra de um
óculo especial que melhore sua visão na leitura de materiais em sala de aula além
dos professores ajudarem na compra da sua lupa. O suporte à aquisição das
ferramentas foi dado pela instituição, mas o processo de aprendizado desse aluno
contava com o suporte tanto dos professores quanto dos colegas. No início do
semestre quando me deram a turma de 10 alunos e 1 DV o meu desafio era adaptar
um conteúdo bastante técnico de uma forma que pudesse atingir esse aluno. Muitas
vezes usei apresentação em PowerPoint acreditando ser mais vantajoso para o
aluno, sem perceber que deveria cuidar também a luminosidade do projetor e da
sala. Também trabalhei com material impresso, onde o aluno tinha exemplo de
códigos-fonte para realizar determinada atividade no computador, porém, esse
material não poderia ser ampliado porque na instituição não tinha máquina nem
pessoal que pudesse fazer. De toda a minha experiência estudando adaptação de
materiais acessíveis e ferramentas acessíveis, eu me confrontei com um desafio
que tive que enfrentar e aprender com ele. Não só eu, mas os colegas de curso que
me confidenciaram que “por vezes esqueciam como era ter o aluno DV na sala de
aula e como deveriam elaborar seu plano”. Esses são os desafios, experiências
enfrentadas por todos os professores que estão em sala de aula. Não posso dizer
somente professores que atendem alunos com deficiência, mas todos os alunos
pois cada um tem sua particularidade e isso precisa ser lembrado antes da
elaboração do seu plano de aula ou material didático. Afim de encarar os desafios
constantes enfrentados por todos os professores em suas salas de aula e contribuir
(ao menos um pouco) no auxílio desses professores, definimos, portanto, que essa
pesquisa foi desenvolvida como tese de doutorado, tendo como elemento
disparador o seguinte problema:
Como uma ferramenta de criação de planos de aula pode auxiliar os
professores recomendando conteúdos e utilizando critérios de acessibilidade
23
para gerar materiais didáticos que atendam à diversidade na educação
superior?
Para responder a essa questão, os seguintes objetivos foram definidos:
1. Desenvolver uma ferramenta de criação de planos de aula
2. Implementar sistema de recomendação de conteúdos e
critérios de acessibilidade
3. Estudar e implementar a ferramenta a partir da visão,
perspectiva e ideia do professor, sujeito da pesquisa.
O desenvolvimento de uma ferramenta para auxiliar o professor na criação
de planos de aula envolveu o acoplamento desta a um sistema de recomendação
para sugerir links, textos, vídeos e imagens disponíveis na Web. O referido sistema
de recomendação teve a ele integrado um verificador de acessibilidade para que os
materiais produzidos pudessem contemplar critérios de acessibilidade de acordo
com recomendações da W3C.
Para responder o problema de pesquisa, esta tese encontra-se estruturada
da seguinte maneira: no Capítulo 1 a acessibilidade é apresentada, abordando os
processos acessíveis de produtos, arquitetônicos e de comunicação, identificando
barreiras existentes até hoje, mesmo com implantação de políticas públicas de
apoio a eliminação dessas barreiras. Também são apresentadas comunicações
alternativas que auxiliam sujeitos a recuperar a interação entre pares. Por último
são mostrados software disponíveis e que dão suporte a familiares e professores
que funcionam como um integrador dessas barreiras enfrentadas. No Capítulo 2
são apresentadas e discutidas práticas docentes na construção de planos de aula
e materiais didáticos. A proposta desse capítulo é explicar o que são planos de aula,
a partir das referências em autores como se elabora planos de aula e quais os
recursos que podem ser utilizados. E por fim, o Capítulo 3 descreve um breve
apanhado sobre Sistemas de Recomendação, um tipo de tecnologia capaz de
24
recuperar e sugerir itens de interesse do usuário. Os três capítulos acima
mencionados constituem o arcabouço teórico do problema de pesquisa e
proporcionam juntos uma melhor compreensão do fenômeno que está sendo
abordado. No Capítulo 4, apresenta-se a proposta e desenvolvimento da ferramenta
para auxílio a professores e as informações metodológicas de desenvolvimento, de
coleta e as análises de dados com seus resultados. No Capitulo 5 são feitas as
considerações finais da pesquisa.
25
2. ACESSIBILIDADE
Para podermos falar de acessibilidade, precisamos começar falando sobre o
termo Design Universal, uma vez que a acessibilidade é um subconjunto do Design.
Design Universal diz respeito ao “processo de criar produtos, comercialmente
viáveis, que possam ser usadas por pessoas com as mais variadas habilidades”
(DIAS, 2003, pg.102). Existem princípios que foram estabelecidos pela
Universidade Estadual da Carolina do Norte para que os critérios de
desenvolvimento de produtos se tornem acessíveis para vários tipos de pessoas.
Alguns destes princípios, citados em Dias (2003):
– Uso equitativo: Utilização equivalente de produtos em quaisquer tipos
de grupos, sem segregar ou estigmatizar usuários.
– Flexibilidade no uso: O design acomoda uma ampla variedade de
preferências e habilidades individuais.
– Simples e intuitivo: Facilidade de entendimento do produto, sem
necessidade de experiência ou conhecimento prévio ou até mesmo
habilidades. Não necessitando de elementos complexos.
– Informação perceptível: Esse princípio de design defende a
comunicação necessária ao usuário, independentemente das condições do
ambiente.
– Tolerância ao erro: Prevenção de erros que possam ocorrer
acidentalmente ou não acidentais, enviando mensagens elucidativas para
resolver esses erros.
– Baixo esforço físico: Gerar o mínimo de fadiga ao usuário, minimizar
tarefas repetitivas, prevendo um design eficiente e confortável.
26
– Tamanho e espaço para aproximação e uso: Tamanho apropriado e
espaço são oferecidos para aproximação, alcance, manipulação e uso,
independentemente do tamanho do corpo, postura ou mobilidade do usuário.
Dias (2003, pg.104) defende que
[...] é impossível desenvolver um produto inteiramente acessível. Pode-se
torná-lo mais acessível, no entanto sempre haverá alguém que não
conseguirá utilizá-lo. O design universal deve ser tornado como uma meta
a ser alcançada, mesmo que inatingível, porem orientadora no projeto de
produtos.
O Design Universal tem como intuito, portanto, estabelecer metas para
desenvolvimento de produtos para o público em geral; já o design acessível é um
subconjunto do Design Universal, mas que pretende atender especificamente ao
público com alguma limitação ou incapacidade (DIAS, 2003). Para contemplar essas
características, o conceito de acessibilidade diz respeito a flexibilização do acesso
à informação e interação dos usuários que possuam algum tipo de necessidade
especial com ambientes digitais/virtuais, com software e hardware, e às adaptações
aos ambientes e situações (GUIA, 2015).
De acordo com o site Acessibilidade Brasil (2014),
Acessibilidade representa para o nosso usuário não só o direito de acessar
a rede de informações, mas também o direito de eliminação de barreiras
arquitetônicas, de disponibilidade de comunicação, de acesso físico, de
equipamentos e programas adequados, de conteúdo e apresentação da
informação em formatos alternativos
O conceito de acessibilidade surgiu primeiramente ligado a questões físicas
relativas a facilidades de acesso (barreira arquitetônicas) e reabilitação física e
profissional. Posteriormente, é transferido para a informática na questão de acesso
à Web especificamente (PASSERINO; MONTARDO, 2007).
27
Tabela 1: Evolução de abrangência da acessibilidade (Passerino, Dias e Rapkiewicz,2010)
Período
Ampliação da aplicação
Ao que se refere
do termo
Década de 40 e
Facilidades de acesso
Espaço físico (barreiras
60
(barreiras arquitetônicas)
arquitetônicas)
Década de 70
Surge o debate sobre
Operacionalização das
acessibilidade após
Soluções idealizadas
surgimento do CVI
(Centro de Vida
Independente)
Década de 80
Década de 90
Surge o conceito de
Produtos tangíveis e
Design Universal
serviços
Acessibilidade na Web
Produtos não tangíveis
(software)
E; espaço virtual
(ciberespaço)
A análise da tabela mostra que entre as décadas de 40 e 60, o termo
acessibilidade tem uma associação direta com questões físicas e funcionais. Na
década de 70, graças ao surgimento na cidade de Berkeley, Califórnia – EUA, do
primeiro centro de vida independente do mundo (CVI), a preocupação e os debates
sobre a eliminação de barreiras arquitetônicas aumentaram, bem como a
operacionalização das soluções idealizadas (SASSAKI, 2006). Somente a partir da
década de 80, impulsionada pelo Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981),
é que a questão da acessibilidade e eliminação de barreiras arquitetônicas ganha
destaque internacional e transforma-se em meta de desenvolvimento para todos os
28
países. Nesse período surge também o conceito de Design Universal como
concepção de um design adaptável às diversas necessidades da população,
conforme mencionado anteriormente.
Na década de 90, com a popularização da Internet e a construção de espaços
virtuais de cidadania, percebe-se a necessidade de prover esse mesmo acesso
universal agora no ciberespaço. Inicia-se, então, a preocupação com a construção
de ambientes virtuais acessíveis. Neste sentido, dois consórcios mundiais – W3C
(Consórcio para a WEB) e WAI (Iniciativa para a Acessibilidade na Rede) – tornamse os principais responsáveis pela popularização do termo e estabelecem os
padrões que sistemas computacionais deveriam seguir para serem considerados
acessíveis, em particular as páginas Web.
Como já foi exposto anteriormente, a acessibilidade à Internet é a
flexibilização do acesso à informação e da interação dos usuários que possuam
algum tipo de necessidade especial no que se refere aos mecanismos de
navegação e de apresentação dos sites, à operação com software e com hardware
e às adaptações aos ambientes e situações (GUIA, 2015). O número de pessoas
com necessidades especiais cresce em todos os países. Tais pessoas começam a
reivindicar seu legítimo direito de ter acesso à informação e, principalmente, a uma
informação que possa ser compreendida e apropriada (CONFORTO; SANTAROSA,
2002). O acesso aos benefícios da Internet deve ser otimizado buscando reduzir as
discriminações e as exclusões sem, com isso, prejudicar suas características
gráficas ou suas funcionalidades.
A acessibilidade na Web significa que qualquer pessoa, usando qualquer tipo
de tecnologia de navegação (gráficos, textuais, especiais para cegos ou para
sistemas de computação móvel), deve ser capaz de visitar e interagir com qualquer
conteúdo, compreendendo inteiramente as informações neles apresentadas (DIAS,
2003). Falar de acesso a qualquer conteúdo e compreender as informações
apresentadas está intrinsecamente relacionado com a inclusão social, pois para
Warschauer (2006), a inclusão social não está apenas associada à divisão de
29
recursos, mas também à participação na determinação das oportunidades de vida,
tanto individuais como coletivas.
Pensando do ponto de vista inclusivo e educacional, nos deparamos num
princípio importante: o de “educar para a diversidade”. Na visão paradigmática
inclusiva, não cabe então pensar o processo educacional separado, segregado.
Essa visão traz consequências em todos os espaços sociais, em particular nos
processos educativos e em seus atores. Um dos atores desse processo, o
professor, é responsável pelo planejamento, seleção e construção de materiais
didáticos que servirão de base para o processo de construção de conhecimento.
Assim, a questão da acessibilidade abrange também esse processo, como materiais
educacionais intencionalmente desenvolvidos para um uso educacional. Desta
forma, a busca pelo respeito à diversidade é uma busca que passa pela
acessibilidade e que permeia todo o processo educativo.
Para além das concepções sociais de acessibilidade e inclusão, existem
muitas outras razões para se acessibilizar um produto, como econômicas e legais.
Pensando na lógica de mercado, toda empresa que deseje expandir seu negócio
precisa contemplar o maior número de pessoas possíveis. Desta forma, tornar seu
produto acessível é uma política que busca ampliar mercados e aumentar os lucros.
Em termos legais, o conceito de acessibilidade surge no Brasil já fazendo referência
também aos meios de comunicação. Assim, em 1999, o Decreto Lei nº 3.298 definiu
a acessibilidade na Administração Pública Federal como “possibilidade e condição
de alcance para utilização com segurança e autonomia dos espaços, mobiliário e
equipamentos urbanos das instalações e equipamentos esportivos, das edificações,
dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação” (BRASIL, 2013).
Apesar dessas argumentações favoráveis à acessibilidade, é possível
encontrar resistência de setores que sustentam que:
a) um produto acessível será qualitativamente inferior em termos de
design de interface;
30
b) os custos de desenvolvimento são mais elevados;
c) a acessibilidade na Web é algo complexo para projetistas medianos;
d) pessoas com deficiência não utilizam amplamente o computador ou
a Web;
e) em caso contrário, existem equipamentos e software especializados
(tecnologias assistivas) dedicados a resolver os problemas de acessos;
f) a acessibilidade na Web beneficia somente as pessoas com
deficiência (BARLETT, 2008).
Em respostas a esses argumentos podemos ressaltar, primeiramente, que
as recomendações da W3C não restringem o projeto gráfico ou multimídia das
páginas web para que sejam acessíveis por sistemas obsoletos; ao contrário,
melhoram seus resultados (DIAS, 2003). Também não eliminam efeitos sonoros e
de animação, mas promovem a maior diversidade de mídias, permitindo que o
usuário escolha de acordo com suas necessidades e/ou preferências. Segundo, o
desenvolvimento de páginas e aplicativos Web, se bem planejado e documentado,
pode fazer uso de folhas de estilos previamente testados em termos de
acessibilidade que garantem não somente economia, como rapidez no
desenvolvimento (BARLETT, 2008). Em terceiro lugar, sobre a complexidade de
fazer produtos acessíveis, existe uma ampla literatura que mostra que seguir as
recomendações para acessibilidade não é uma tarefa difícil e não requer
especialistas na área (BARLETT, 2008).
Sobre a argumentação de que pessoas com deficiência não utilizariam
computador ou web na mesma proporção, os dados revelam, ao contrário, que o
computador e a internet têm sido espaços de inclusão que permitem um maior
acesso. Em alguns casos, inclusive, o único acesso à sociedade pelas pessoas com
deficiência (BARLETT, 2008).
31
É muito comum que as pessoas com deficiência utilizem algum tipo de
Tecnologia Assistiva para atender às tarefas de seu cotidiano. Entretanto, apesar
de todos os avanços tecnológicos, existem muitos obstáculos para que as
Tecnologias Assistivas resolvam. Um bom projeto de produto pode ser mais
eficiente do que qualquer Tecnologia Assistiva que possa implementar
posteriormente.
Muitas pessoas não têm ideia da importância de ter a acessibilidade
associada à concepção de páginas para a Web. O número crescente de usuários
acessando a Internet e outros aplicativos móveis devem atender também aos
usuários com deficiências. Dias (2003) afirma que as oportunidades de
comunicação e de aquisição de informação por pessoas com deficiência certamente
aumentarão significativamente com a internet, desde que ela lhes seja acessível.
Para promover a padronização, normas técnicas, segurança de informação,
direitos autorais e a privacidade, bem como a utilização dessas tecnologias, o World
Wide Web Consortium (W3C) vem para facilitar o acesso às informações
disponíveis na Internet. Para tratar das questões de acessibilidade, especialmente
para Web, existem os consórcios: GUIA, SIDAR, W3C-WAI. No presente trabalho,
apresentaremos as recomendações do grupo W3C-WAI, por se tratarem de
recomendações importantes e viáveis de serem implementadas. Segundo o grupo
W3C-WAI (2014) existem alguns componentes essenciais para obter acessibilidade
na Web; são eles:
– Conteúdo – são as informações em páginas Web ou em aplicativos
para Web que incluem:
● informações com textos, imagens e sons;
● códigos de marcações que definem estruturas etc.
– Navegadores Web e players de mídias e outros agentes de usuários;
32
– Tecnologias Assistivas – são recursos e serviços que buscam
facilitar o desenvolvimento de atividades da vida diária por pessoas com
deficiência, aumentar suas capacidades funcionais e promover a autonomia
e independência. No caso particular de Tecnologias Assistivas Digitais, tratase de recursos de hardware e de software, como por exemplo, leitores de
tela, teclados alternativos, switches, softwares de escaneamento, entre
outros;
– Conhecimentos de usuários, experiências, em alguns casos
adaptações de estratégias utilizando a Web e aplicativos – este item
relaciona-se com a usabilidade das interfaces e aplicativos. A usabilidade,
segundo a Norma ISO 9126, refere-se à capacidade de um software ser
compreendido, aprendido, utilizado e ser atrativo para o utilizador, em
condições específicas de utilização;
– Desenvolvedores – designers, programadores autores, entre outros.
Incluem desenvolvedores com necessidades especiais e usuários com suas
contribuições;
– Ferramentas de autoria – aplicativos utilizados para criar conteúdo e outros
aplicativos para Web sites;
– Ferramentas de aperfeiçoamento – ferramentas de aperfeiçoamento
da acessibilidade à web, validadores de HTML, validadores de CSS etc.
Para ilustrar essas definições acima descritas, na Figura 1 abaixo é apresentada
uma representação do esquema de relação entre os componentes da interação
Web (W3C, 2015).
33
Figura 1: Relação entre os diferentes componentes da interação Web. Fonte: W3C, 2015.
Para facilitar o caminho da acessibilização dos Objetos de Aprendizagem,
mostramos abaixo as recomendações de acessibilidade ao conteúdo idealizado
pela Web Content Accessibility Guidelines 2.0 (WCAG) e com essas 14
recomendações, fazemos a análise de um objeto especifico estudado para esta
tese. As recomendações são as seguintes descritas na figura 2:
Figura 2: Diretrizes de Acessibilidade (WCAG 2.0 da W3C, 2014) Adaptado de Conforto e
Santarosa, 2012 pg. 213.
34
Segundo o grupo W3C-WAI (2015), aqueles que não estão familiarizados
com os problemas de acessibilidade relacionados com a modelagem de páginas e
aplicativos para Web devem considerar que o usuário, ao operar em contextos muito
variados, pode não ser capaz de ver, escutar, mover-se e, assim, fica
impossibilitado de interpretar alguns tipos de informações. Também pode
apresentar dificuldades na leitura e na compreensão de um texto ou possuir
equipamentos tecnologicamente desatualizados (como conexões discadas que
demoram em carregar gráficos e animações, por exemplo) ou muito mais
avançados, como dispositivos móveis nas quais a resolução gráfica pode estar
também comprometida. No caso de uma interface utilizar recursos de áudio, deve
ser levado em conta que o usuário pode estar trabalhando com equipamentos sem
saída para áudio, ou com este dispositivo desabilitado. No caso de um usuário cego,
o mesmo pode enfrentar dificuldade em distinguir entre os sons e uma voz
produzida por um leitor de tela utilizada para apoio à navegação.
Como pode ser visto, existem diversas situações em que usuários sem
deficiência podem precisar de critérios de acessibilidade presentes numa página ou
aplicativo. É o caso quando o usuário não fala ou compreende com fluência a língua
na qual o documento está escrito ou encontra-se em situações em que seus olhos,
ouvidos ou mãos permanecem ocupados em outras ações. Ou situações
corriqueiras como, por exemplo, ter uma versão anterior do navegador ou um
navegador completamente diferente, ou ainda, por possuir um navegador de voz ou
um sistema operacional distinto. Tais situações são cada vez mais frequentes em
função da diversidade de dispositivos e de aplicativos disponíveis (TV Digital,
Celular, Computadores são alguns dos exemplos de equipamentos que atualmente
encontra-se em convergência digital, porém ainda com protocolos, padrões e
aplicativos diferenciados). Assim, contrariamente ao que se imagina – que estas
recomendações sejam especificamente para usuários cegos –, o principal objetivo
das diretrizes para acessibilidades é tornar o conteúdo da Web acessível a todos
os usuários da rede mundial de computadores – Internet.
35
Segundo a W3C-WAI – Web Accessibility Initiative (WAI) –, as causas mais
frequentes de falta de acessibilidade em muitas páginas da Web/softwares para
todos os usuários estão muitas vezes associadas à falta de estrutura em muitas
páginas da Web, que desorientam o usuário dificultando a navegação, e ao uso
abusivo de informações gráficas (imagens, mapas de imagens, tabelas para
formatar o conteúdo das páginas, macros, scripts Java, Flash, elementos
multimídias), sem proporcionar alternativas adequadas de texto ou outro tipo de
comentário.
O conjunto de considerações de acessibilidade para páginas Web pode ser
aplicado para outros espaços digitais, especialmente considerando a Web 2.0, que
ampliou em muito as potencialidades da Web para a interação dos usuários. Para
contemplar os processos de inclusão digital baseados em interação virtual, os sites
(como mencionados conceitualmente acima) e todos os recursos web bem como
plataformas online e redes sociais deveriam prever a acessibilidade. Focando nesse
aspecto trabalharemos com a criação de uma plataforma de edição de aulas para
professores, dando iniciativas na produção de materiais digitais de aulas acessíveis.
Com isso, essa plataforma será desenvolvida focando na recomendação de
materiais a esse professor (que estará utilizando a ferramenta como forma de
produção de aula/planejamento) e também focando na produção desse material
acessíveis, pois além de recomendar conteúdo, recomendará também materiais
acessíveis disponíveis na Web e indicando sugestões de como produzir material
acessível, recomendações, etc., possibilitando ao professor a construção de um
material de aula que contemple todos os participantes na sua sala de aula.
1.1 Material educacional digital e diversidade
Várias tecnologias estão sendo utilizada atualmente e a internet mudou como
as pessoas encaram e utilizam o computador. “A maior mudança vem da maneira
como são criados os materiais educacionais, como são projetados, desenvolvidos
e entregues àqueles que desejam aprender. ” (LTSC, 2000a).
36
Como ciência da instrução, o design instrucional esteve tradicionalmente
vinculado à produção de materiais didáticos, mais especificamente à produção de
materiais digitais. Para contemplar esses estudos de construção de materiais
educacionais “o campo de pesquisa e atuação do design instrucional, entendido
como o planejamento, o desenvolvimento e a utilização sistemática de métodos,
técnicas e atividades de ensino para projetar educacionais apoiados por
tecnologias” (FILATRO, 2004).
Para nós o que interessa nesse trabalho é mostrar para os professores das
possibilidades
vislumbradas
pela
incorporação
das
TICs
aos
processos
educacionais. Partir do princípio de que o professor é o desenvolvedor dos
conteúdos e que os mesmos possam ser re-utilizados de acordo com a necessidade
de seus alunos em sala de aula e que esse conteúdo utilizando simples recursos
das tecnologias que podem ser encontradas em qualquer escola. Essas
informações previamente estudadas pelo professor na hora da criação de seu plano
de aula, poderá facilitar a compreensão do aluno e consequentemente a
apropriação do conteúdo a ser trabalhado.
Falar de acessibilidade significa construir uma sociedade de plena
participação e igualdade e ter em seus princípios a interação efetiva de todos os
cidadãos. Nessa perspectiva, é fundamental a construção de políticas de inclusão
para o reconhecimento da diferença e exista uma sociedade em que todos devem
participar, com direito de igualdade e de acordo com suas especificidades. Para
isso, temos a intenção de mostrar algumas boas práticas ao professor-autor que
terá a oportunidade de desenvolver seu plano de aula e seus materiais educacionais
acessíveis atendendo a grande número de alunos em sala de aula. Pequenos
gestos que poderão fazer diferença em suas aulas.
37
2.2. Sobre materiais educacionais digitais acessíveis
Para facilitar esse caminho da acessibilização dos materiais educacionais,
precisamos projetar alguns questionamentos antes da criação dos materiais, tais
como:
Qual o perfil do seu aluno? Se ele possui algum tipo de dificuldade
visual, auditiva ou motora.
● Para os alunos com baixa visão ou cegos: é importante em qualquer
atividade utilizada no computador, a instalação dos leitores de tela4.
● Para alunos surdos: é importante incluir informações visuais que sejam
compreensíveis ou vídeos em LIBRAS5 (para alunos que utilizam a
LIBRAS como sua primeira língua.
● Para alunos com paralisia motora: é importante incluir nos seus materiais
as informações com tempo de execução determinada pela necessidade
do aluno, se possível incluir também tecnologias assistivas6 como
mouse adaptados ou colmeias em teclados7.
4
Para atender a esses alunos existem os programas chamados Leitores de Tela que são
sintetizadores de voz que farão a leitura dos conteúdos apresentados na tela do computador. Como
exemplo desses programas temos NVDA software gratuito com distribuição no idioma PortuguêsBrasil.
5
Linguagem Brasileira de Sinais.
6
Tecnologias Assistivas que são conceituadas por Bersch (2013) como Recursos e Serviços que
contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e
consequentemente promover Vida Independente e Inclusão.
7
Máscara de Teclado Colmeia que auxilia o usuário a digitar as teclas corretas (Clik, 2013), onde o
aluno clica com o dedo no orifício da máscara de teclado colmeia (feita de acrílico) e o dispositivo
evita a ocorrência de falhas de digitação ou digitação indesejada.
38
Qual o tipo de recursos tecnológicos existe na sua sala de aula?
● Para pensar na construção de materiais educacionais precisamos levar
em conta os tipos de equipamentos que irão replicar esses materiais para
os alunos. Caso a escola tenha computadores muito antigos, os materiais
desenvolvidos em programas atuais como Flash ou Java precisarão
primeiro, prever a instalação de plugins específicos de cada programa,
que executarão as aplicações automaticamente.
● Caso os materiais educacionais sejam criados em páginas HTML
(linguagem de marcação) e estejam publicados em um servidor
específico, devemos prever na sua construção os tipos de navegadores
instalados nos computadores da escola. Para resolver esse problema, é
importante a instalação das últimas versões de navegadores gratuitos na
internet. Outra opção válida é testar (durante a criação do material) com
navegadores em versões mais antigas e prever possíveis erros.
2.3 Sobre Atenção ao aluno
O autor Granollers (2004) utiliza o método de DCU8 no projeto de
desenvolvimento de materiais educacionais, entendendo que o usuário torna-se o
foco de atenção e a implementação e funcionalidade do sistema e que será
implementado de acordo com as características desse (s) usuário (s). O usuário faz
parte do processo tanto da criação do protótipo como da avaliação do material
educacional, com isso o restante das fases de construção e das atividades
8
Design Centrado ao Usuário
39
relacionadas serão melhor desenvolvidas atendendo a necessidade explicitado pelo
usuário na criação inicial de um sistema ou de um material educacional.
Segundo Granollers (2004) alguns dos princípios do DCU são definidos
abaixo:
● Desenho para os usuários e suas tarefas que significa que o material
educacional deve ser projetado para atender a todos os perfis de alunos,
com opções de som (alunos cegos), vídeos com legendas (para alunos
surdos), animações em tempo de acordo com a necessidade do aluno
(para alunos com dificuldade motora).
● Consistência significa manter os padrões utilizados na criação dos
materiais. É importante que os formatos de apresentação de informações,
estilos de fontes, cores, sejam usados de forma consistente e
padronizada em todo o material, pois facilita a navegação e utilização dos
alunos. Como exemplo: em seu material está presente um botão
chamado “voltar” de cor verde. O aluno irá relacionar a cor com a função,
portanto toda vez que ele ver um botão verde, saberá que corresponde à
função voltar.
● Diálogo simples e natural é importante para que o aluno entenda
realmente o que está sendo pedido, palavras tecnológicas ou formais
demais não levarão o aluno a uma resolução do problema mais eficaz.
● Redução do esforço mental do usuário e diminuição da carga
cognitiva significa que quando o material é mostrado de forma que
apresente som, vídeos e animações, todas no mesmo material e
mostradas ao mesmo tempo, poderá levar o aluno à dificuldade em
entender o que realmente o professor está pedindo como atividade.
Material lúdico é sempre importante para prender a atenção do aluno, mas
sobrecarregar de informações nem sempre será eficiente.
40
● Proporcionar mecanismos adequados de navegação é uma opção
para mostrar ao aluno onde o aluno está situado no material educacional.
Os alunos têm a tendência a “clicar” em todos os botões para ver o que o
material irá fazer então mostrar ao aluno, em que atividade ele está e para
onde ele vai é sempre importante para que ele consiga entender a sua
proposta.
● Deixar que os usuários dirigissem a navegação serve para que o
professor defina qual o tipo de estrutura de navegação que irá utilizar
como: navegação linear9, navegação hierárquica10, navegação nãolinear11 e navegação composta12 (Amante e Morgado, 2011).
2.4. Alguns recursos tecnológicos para construção de materiais
educacionais digitais
O Windows possui recursos de acessibilidade para auxiliar sujeitos com
deficiência a usar computadores. Por exemplo, quando a opção é ativada, os
usuários podem utilizar o computador somente com o teclado, sem a necessidade
de usar o mouse, ou somente o mouse, sem ter que recorrer ao teclado. Prevendo
que a maioria dos computadores utilizados em sala de aula contém o sistema
operacional Windows, falaremos a seguir desses recursos e de sua importância
para aplicações em sala de aula.
o
Alunos com Dificuldade motora:
A utilização de teclas de filtragem facilita a utilização de materiais para
alunos com paralisia. Isso evita que o aluno possa “clicar” em uma tecla
9
Onde o aluno tem uma navegação sequencial.
Essa navegação segue a lógica de especificação dos conteúdos a partir de conteúdo central.
11
A navegação é livre, o sistema não estabelece qualquer hierarquia ou sequência de consulta ao
conteúdo.
12
Navegação livre, mas que ocasionalmente pode sugerir percursos lineares ou hierárquicos.
10
41
acidentalmente. Essa opção está presente em: Iniciar- Painel de Controle - Opções
de Acessibilidade – Teclado – Usar Teclas de Filtragem. Após a escolha do item,
poderão ser escolhidas as opções que atenderão as necessidades dos alunos,
como: ignorar as teclas pressionadas ou configurar teclas lentas ou pressionadas.
Para alunos que não conseguem clicar em duas teclas ao mesmo tempo é
importante conhecer o recurso de teclas de aderência onde o aluno pode
configurar as teclas e travar as teclas e pressionar uma de cada vez. Essa opção
serve para alunos que utilizam ponteiras. Para acessar essa opção poderá clicar
em Menu Iniciar- Painel de Controle - Opções de Acessibilidade – Teclado – Teclas
de Aderência e fazer as configurações desejadas.
O ajuste do mouse também é importante para alunos com paralisia ou
alguma dificuldade motora, para isso o professor poderá configurar a velocidade
alta ou baixa do ponteiro e reduzir a influência de movimentos involuntários. Para
alterar as configurações os passos são: Iniciar- Painel de Controle - Opções de
Acessibilidade – Mouse – Propriedades de Mouse - Opções do ponteiro.
Outra opção importante no sistema operacional é o uso do teclado virtual
que é um utilitário do Windows. O usuário pode digitar no Teclado virtual usando
um mouse, um trackball, um joystick, ou qualquer outro dispositivo ponteiro. Essa
alternativa é importante para alunos que apresentam paralisia grave e não
conseguem utilizar o teclado físico. Para acessar essa opção: Iniciar- Painel de
Controle - Opções de Acessibilidade – Teclado Virtual.
o Alunos com baixa visão ou cegos
A utilização de fontes ou ícones grandes e o ajuste das cores na tela são
recursos muito úteis para atender alunos com dificuldade visual. Para alunos que
ficam muito próximos a tela do computador a dica é alterar a resolução da tela na
opção: Iniciar- Painel de Controle – Aparência e Temas – Resolução de vídeo.
42
Para que haja o aumento de ícones ou menus a serem visualizados pelos
alunos ou alteração de cores, a opção então seria configurar: Iniciar- Painel de
Controle - Aparência e Temas – Vídeo – Propriedades de Vídeos - Aparência.
Outro utilitário importante do Windows é a Lente de Aumento, onde a mesma
quando acionada mostra uma tela separada ampliada. Esse utilitário pode também
inverter cores. Para acessar a opção: Iniciar - Todos os programas - Acessórios Acessibilidade - Lente de aumento.
Estas diretrizes mudam a perspectiva do professor ao produzir seu material,
ou seja, permitem que ele possa identificar seu público, reconhecer as possíveis
ferramentas que o auxiliarão no atendimento a esse público e por fim construir seu
material a partir dessas observações.
2.5 Considerações sobre o capítulo
Nos últimos anos, estão sendo criados vários programas de apoio à pessoa
com deficiência, tanto em escolas em formação inicial, quanto ao estudante
universitário ou a pessoa que está entrando no mercado de trabalho com políticas
de inclusão e cotas em empresas, universidades. Com isso, podemos analisar que
essas políticas não são desprezadas visto que o aumento de matrículas nas
escolas, ensino superior está crescendo. Um programa que chama atenção pela
sua integração de Ministérios e órgãos de apoio do Governo é o denominado “Plano
Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Viver sem Limites13” criado a
partir do Decreto Nº7.612 no governo da Presidente Dilma Rousseff que prevê
ações desenvolvidas por 15 ministérios e participação do Conselho Nacional dos
Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE) prevendo um investimento de R$
7,6 bilhões até 2014. Dentro da perspectiva desse programa são previstas 150 mil
13
http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/viver-sem-limite. Todos os dados desse parágrafo
foram retirados desse site.
43
vagas para deficientes no PRONATEC com auxílio de bolsa-formação para
estudantes em formação profissional técnica de ensino médio contabilizando 800
horas ou trabalhadores em curso de formação inicial e continuada ou qualificação
profissional contabilizando 160 horas, contando com apoio das instituições de
ensino que oferecerão essas capacitações como: SENAI, SENAC. SENAR SENAT
além das instituições federais. Como benefício o estudante/trabalhador ganhará
auxílio-alimentação, transporte, material didático. A inclusão escolar é discutida
num duplo movimento: como uma política de regulamentação da vida e, ao mesmo
tempo, como uma prática de regulação da população composta não apenas pelos
sujeitos ditos incluídos, mas por todos os alunos, seus professores, suas famílias,
as instituições, os órgãos governamentais, enfim, a sociedade (SARDAGNA, 2011).
De todos os dados de inclusão do aluno com deficiência na universidade é
importante ressaltar que o docente bem como a instituição estejam preparados para
receber e manter esse aluno em sala de aula. O papel que as instituições de ensino
e o governo federal assume como proposta de educação inclusiva mostra que “a
formação e a capacitação docente impõem-se como meta principal a ser alcançada
na concretização do sistema educacional que inclua a todos, verdadeiramente”
(BRASIL/MEC/SEESP, 1998). Thoma (2006) ressalta a importância de nosso
sistema educativo não ficar estigmatizado “sob pena de entrarmos em um processo
que muito bem poderíamos caracterizar como 'inclusão excludente', onde alunos e
alunas entram pela porta da frente (via vestibular ou outros processos seletivos),
mas de dentro há pouco ou nada a se oferecer.
Para atender o escopo do experimento prático e realizar a avaliação de
acessibilidade, a Ferramenta Educa utiliza uma aplicação integrada que permite
avaliar seu plano de aula e fazer as correções do mesmo antes de salvar e
compartilhar com seu aluno. Nesse capítulo foram mostrados alguns conceitos
importantes para criar um material educacional acessível. Mesmo que o professor
não tenha ferramentas específicas, como no caso o Educa, o professor tem
44
possibilidade de obter algumas dicas que possam ser úteis tanto para atender um
aluno com deficiência como qualquer necessidade específica.
45
2.
O TRABALHO DOCENTE: PLANEJAMENTO
Existem diversas variáveis que participam do processo educativo como, por
exemplo, certos recursos didáticos, conteúdos de aprendizagem, e relações
interativas entre aluno/professor, tudo isso em torno de determinadas intenções
educacionais. Para Zabala (1998, pg. 39), apesar das diferentes variáveis que
configuram a prática educativa, é possível investigá-la escolhendo uma unidade de
análise que represente a complexidade desse processo, propondo para tal a
atividade como uma unidade básica. Dentro dessa unidade, o conteúdo tem um
papel importante como instrumento de mediação, pois para Vygotsky (2003, p. 43),
o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, construindo conhecimentos e se
constituindo a partir de relações intra e interpessoais. A informação, ao longo do
processo educativo, poderá estar configurada e representada a partir de diferentes
tipos de materiais educacionais; entre eles, livro texto, vídeos, mapas etc. Já é uma
tradição a presença do livro texto na sala de aula, porém essa hegemonia do livro
texto encontra-se atualmente ameaçada pela web e especialmente a Web 2.0, com
materiais interativos e hipertextuais que têm se consumado na educação em todos
os níveis. Essa proliferação de material educacional no formato digital nos últimos
anos, como blogs ou wikis, em iniciativas individuais ou coletivas com as quais o
professor passa a ser autor e produtor, juntamente com seus alunos, leva a uma
preocupação com relação à qualidade de seus conteúdos. De acordo com a
pesquisa do IBOPE/PNAD (2012), realizada com população entre 10 e mais idade
que acessou a Internet pelo menos uma vez por meio de computador, em algum
local (domicílio, local de trabalho, escola, centro de acesso gratuito ou pago,
domicílio de outras pessoas ou qualquer outro local), vemos o crescimento do
acesso à Internet de quase 33% em 2012 em comparação a 2006. De 35,3 milhões
de usuários em 2006 para 94,2 milhões em 2012.
46
Mas onde entra a participação do professor em relação a esses dados? Para
Jesus e Effgen (2012, p.19)
tais questões atravessam o direito à escolarização, influenciam a formação
do educador e trazem implicações para o processo de inclusão escolar que
busca se fortalecer. Há que se pensar em outros aspectos macro que
configuram os sistemas de ensino e as condições de trabalho docente.
O ponto de convergência entre esse processo de construção didática e
pedagógica deve trazer a tecnologia como aliada. Esse processo de construção de
materiais didáticos, de pensar no conteúdo contemplando toda a sala de aula é uma
função dificultosa para o docente. Utilizar uma ferramenta como auxílio, um braço
que ajude nessa construção mostra-se como um possível aliado à educação
inclusiva.
Santos e Souza (2012) reafirma que
Para a ação docente no contexto da diversidade, necessário se faz trabalhar
com redes de encontros. Encontro de saberes, fazeres, reflexões,
metodologias, estratégias de ensino, recursos, perspectivas avaliativas (...)
Para auxiliar esse processo de construção de uma aula atendendo a
diversidade e que facilite essa criação pelo docente, os planos de aula são
importantes informações de como serão desenvolvidas as aulas, apresentação de
conteúdo, criação de atividades, interação e colaboração entre pares. Com isso,
descrevem-se planos de aula como uma proposta de organização do ensino e de
construção do conhecimento que teve origem no ensino fundamental japonês
(Lewis, 2002). Segundo Nikolic e Cabaj (2000) nenhum plano de aula funciona bem
para todos os grupos de alunos. Podem assumir formas diferentes e incluir uma
ampla variedade de conteúdo. Para isso, o professor precisa criar o plano tendo
como base a estrutura da sua classe e a variedade de conhecimento dos seus
alunos, atendendo os objetivos do conteúdo e a multiculturalidade dos estudantes.
O plano também deve prever a possibilidade de que esse conteúdo e práticas
propostos não atinjam o objetivo determinado. A figura 3 exemplifica um plano de
47
aula sendo aplicado sem objetivos definidos (imagem da esquerda) e o resultado
disso será uma organização de aula que não atinge os alunos, portanto sem
aprendizagem definida. Os pontos de interrogação representam os alunos e as
setas pontilhadas representam o plano de aula criado pelo professor. Quando bem
desenvolvido um plano de aula, seu propósito atinge diretamente os alunos,
facilitando o aprendizado (imagem da direita).
Figura SEQ Figura \* ARABIC 3: Modelos de planos de aula, adaptados de Nikolic e Cabaj
(2000). Fonte: Nikolic e Cabaj (2000)
Figura 3: Modelos de planos de aula, adaptados de Nikolic e Cabaj (2000). Fonte: Nikolic e
Cabaj (2000)
Pensando no papel importante que o plano de aula tem sobre a qualidade
das aulas, o autor Zabalza (2000 p.46) afirma que “o professor tem que apostar
decididamente em ser ele próprio o corresponsável pelo projeto e pela gestão do
seu próprio trabalho na aula”. Bem como, o autor sugere que o professor tenha uma
“equipe” de profissionais que irão ajudá-lo no desenvolvimento de suas aulas,
atendendo dificuldades encontradas nos anos anteriores, perfis das turmas, auxílio
da comunidade responsável pelas suas relações escola-aluno-pais. O autor
reafirma que “os professor, em equipe e em união com os pais e outras pessoas da
(...) comunidade social implicadas no ensino, esboçam as linhas mestras do seu
48
trabalho, estudam as possibilidades de resolução de problemas (...) inventariam os
recursos disponíveis, etc. Em uma passagem, Zabalza (2000,p.54) afirma que
Depois, nas suas aulas (e já não se poderá dizer “no isolamento da sua aula”
porque, sendo um processo coletivo, não há razão para se sentir só ou
isolado), porá em marcha esses critérios consensuais, adaptando-os,
através do seu próprio desenvolvimento pragmático, às características dos
seus alunos e à especificidade das aprendizagens a conquistar. (grifo
do autor)
Semelhante a outros autores e à figura visualizada anteriormente, dá-se a
ênfase na importância da aplicação de objetivos que atendam ao currículo
específico da disciplina ou curso, e dos objetivos em atender às dificuldades
enfrentadas em sala de aula e à diversidade de alunos e modos de aprendizado.
Nas palavras do autor
O estabelecimento dos objetivos supõe um processo de reflexão, de
depuração e de explicitação do que se quer fazer. Supõe-se reflexão no
sentido de que trabalhar com objetivos se contrapõe a um trabalho sem
propósitos, informal. Pensemos, por outro lado, que toda a educação, toda
a interação, supõe uma influência sobre os outros (Zabalza, 2000, p.56).
O autor categoriza o processo de construção dos planos de aula como
descrito no quadro 1 (Zabalza, 2000, p.48).
ideias
Conteúdo
Propósito Direcional
Um conjunto de conhecimentos,
Um propósito, fim ou meta a
ou
experiências
sobre
o alcançar que nos indica a direção a
fenômeno a organizar, que atuará seguir.
como
apoio
conceitual
e
de
justificação do que se decide.
Estratégias
Direção
Uma previsão a respeito do
Para onde vou?
processo
a
seguir
que
deverá
Como chegarei?
49
concretizar-se numa estratégia de
Como sei se cheguei?
procedimentos que inclui os conteúdos
(apud Mager, 1974)”
ou tarefas a realizar, a sequência de
atividades e, de alguma forma, a
avaliação
ou
encerramento
do
processo.
Quadro 1: Quadro adaptado para definir categorias de construção de planos de aula a partir do
autor Zabalza (2000, pg.48)
Existem dois modos diferentes de tratar a planificação que os docentes
realizam. No primeiro modo, o centro das atenções está no pensamento do
professor, em como ele processa a informação para planificar. Na segunda, o centro
das atenções está na sucessão de condutas, nos passos que se sucedem.
Para ter esse apoio na construção de um plano de aula, Zabalza (2000, p.49)
define como “Mediadores” essas ferramentas auxiliares nos quais se refere “a tarefa
de esboçar o ensino, fazendo-o, sim, através de tipos diversos de materiais
didáticos que oferecem, desde logo, esboços de programação”.
Entre os
mediadores pode-se assinalar os seguintes (adaptados à realidade brasileira e
atual):
Livros Didáticos
Experiências (casos ouvidos
Sem dúvida os mais utilizados a outros ou lidos)
em sala de aula e distribuídos para
todas as escolas brasileiras. Criado
pelo MEC14 sob o nome de Programa
Nacional do Livro Didático. Tem como
principal objetivo subsidiar o trabalho
pedagógico dos professores por meio
14
www.portal.mec.gov.br. Acesso em 10.06.2015.
50
da distribuição de coleções de livros
didáticos aos alunos da educação
básica (MEC, 2013).
Guias curriculares
“Os
Planificação
autênticos
como
guias abordagem tecnológico-cibernética
curriculares não têm como objetivo
Nesse espaço e tomada de
reproduzir ou especificar o programa decisões,
que
constitui
a
curricular, mas sim o de constituírem programação, é onde se cruzam com
um
“avanço
de
interpretação, o discurso pedagógico (...) e o discurso
clarificação, justificação e orientação técnico-didático (que aprendizagens,
em relação com a sua transformação; como vamos integrar o educativo com
não são, portanto, um receituário o instrutivo, fazemos para que todo o
sobre
como
executar
um
plano processo seja integrado, funcional e
elaborado por outros (Zabalza apud eficaz, etc) (Zabalza, 2000, p.51).
Escudero, 1983, p.26)”.
Nessa
perspectiva mais atual, a
utilização de tecnologias pressupõe
um
apoio
ao
processo
didático-
metodológico, porém não substitui o
processo de ensino. Funciona como
um apoio dado ao aluno e ao professor
no
momento
de
aprendizagem
em
construção
da
colaboração.
Utilizar ferramentas ou plataformas
que auxiliam o professor/docente na
construção
do
seu
material
educacional/plano de aula ou utilizar
ferramentas
aprendizado,
de
suporte
ao
comunidades
de
aprendizagem, redes sociais, jogos e
51
etc são mecanismos de apoio na sala
de aula.
Revistas
Segundo Zabalza (2000, p.50)
de uma forma geral, o corpo docente
não tem acesso a revistas de alto rigor
científico. Na Universidade vê-se que
a
utilização
dessa
“ferramenta”
didática é mais comum do que na
educação básica, pois não se restringe
à pesquisa e recorte ou cola. Abrangese a utilização a estudos e reflexões
em cima de temas em discussões e
debates em sala de aula.
Quadro 2: Mediadores de Planificação. (Zabalza. 2000, p.48)
A qualidade em termos de conteúdo, porém, não é a única variável que
deveria ser considerada pelas políticas públicas, pois o acesso às mesmas precisa
ser garantido. E quando falamos em acesso, entendemos se tratar da possibilidade
de atender ao maior número de alunos em sala de aula. Para que seja reconhecido
significativamente pelos estudantes, o conteúdo didático passa por um trabalho que
compreende a seleção criteriosa e a contextualização ao universo dos envolvidos.
Para Cesar Coll (1996, p. 44),
[...] o currículo é um instrumento útil para orientar a prática
pedagógica, uma ajuda ao professor. Por essa função, não se pode
limitar a enunciar uma série de intenções, princípios e orientações
gerais que, por excessivamente distantes da realidade das salas de
aula, sejam de escassa ou nula ajuda aos professores.
52
Para o mesmo autor, o currículo não deve suplantar a iniciativa e
responsabilidade dos professores, convertendo-o sem meros instrumentos de
execução de um plano prévia e minuciosamente estabelecido. Entendemos, nesse
mesmo conceito, que a tecnologia como instrumento presente no currículo também
não permita ser mero executor do planejamento.
Um dos principais recursos de ensino utilizados pelo professor é o livro
didático, recurso que se configura em uma das poucas formas de documentação e
consulta usada por professores e alunos nas escolas públicas (BRASIL, 2004). Para
apoiar a criação e distribuição dos livros e materiais didáticos, o Ministério da
Educação lançou o Programa Nacional do Livro Didático – PNLD (BRASIL, 2004).
Segundo esse Ministério, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) é o mais
antigo dos programas voltados à distribuição de obras didáticas aos estudantes da
rede pública brasileira e iniciou-se com outra denominação, em 1929. O PNLD é
voltado para o ensino fundamental público, incluindo as classes de alfabetização
infantil. A partir de 2001, o PNLD ampliou sua área de atuação e começou a atender,
de forma gradativa, os alunos portadores de deficiência visual que estão nas salas
de aula do ensino regular das escolas públicas com livros didáticos em Braille.
Existem muitas críticas ao livro didático. Neste trabalho não se tem a intenção de
aprofundá-las, mas concorda-se com a autora Lajolo (1996), quando a mesma
afirma que os livros didáticos não devem ser os únicos materiais de que os
professores e alunos irão valer-se no processo de ensino-aprendizagem, mas que
podem ter muita influência na qualidade do aprendizado resultante das atividades
escolares.
Embora professores e estudantes salientem que o livro didático contribui para a
aprendizagem dos conteúdos percebe-se que ele não se restringe apenas aos seus
aspectos pedagógicos e as suas possíveis influências na aprendizagem e no desempenho
dos estudantes. Ele é importante por seu aspecto político e cultural, na medida em que
produz valores da sociedade em relação a sua visão de ciência, da história, da interpretação
dos fatos e do próprio processo de transmissão do conhecimento (LAJOLO 1996) .
53
Mesmo considerando que o livro didático é um importante instrumento de
apoio, alguns estudantes salientam que ele está sendo substituído por novas fontes
de pesquisa mais rápidas e modernas como, por exemplo, a internet o que limita o
seu uso como fonte de pesquisa. Este fato é particularmente perceptível em nossa
sociedade, uma vez que no decorrer de sua utilização, os livros acabaram
determinando conteúdo a serem trabalhados, condicionando estratégias de ensino
e marcando de forma bastante incisiva o que e como se ensina em nossas escolas.
O contexto é um conjunto de circunstâncias relevantes que propiciam (re) construir
o conhecimento por meio da atividade. Os autores Figueiredo e Afonso (2006)
relacionam o sentido da palavra contexto com uma situação (de aprendizagem
intencional ou do cotidiano), mostrada na Figura 2.
Contexto
Conteúdo
Aprendiz
Figura 4: Modelo simples de relações entre aprendiz, conteúdo e contexto em um evento de
aprendizagem (FIGUEIREDO, AFONSO, 2006.)
54
O
contexto
é
multidimensionalidade,
considerado
englobando
em
as
toda
a
dimensões
sua
complexidade
histórico-social,
e
cultural,
cognitiva e afetiva dos sujeitos que o habitam, bem como as tecnologias que dele
fazem parte, cujas características devem ser compreendidas para que se possa
incorporá-las em uma perspectiva crítica (ALMEIDA, 2009). Para se manter
atualizado nesse contexto de criação de materiais didáticos, o professor se vê cheio
de informações e recursos em formato digital disponíveis nos tempos de hoje.
A característica de construção de um plano de aula contempla varáveis onde
as decisões são importantes e estão relacionadas com a informação que se possua
sobre os estudantes, sobre as tarefas e sobre o ambiente ou da turma, das
características, sobretudo cognitivas e atitudinais, dos professores e da forma como
ambos os aspectos, informação e processos cognitivos, interagem.
55
Análise, pelo professor,
sobre
as
causas
do
comportamento dos alunos.
Uso de procedimentos
heurísticos por parte do
professor.
Informações sobre
estudantes, tais como:
- Capacidades
- Participação
- Conduta
Juízo dos professores:
- Sobre os alunos
- Capacidades
Diferenças individuais entre
professores, tais como:
- Motivação
- Conduta
- Crenças
-Sobre o conteúdo
- Concepção da matéria
- Complexidade conceitual
- Nível
- Doseamento
Natureza da tarefa de
instrução:
- Atividades
- Modo de trabalho
- Materiais
-Tecnologias
(incluída
pela autora da tese)
Decisões
Pedagógicas
Limitações
Institucionais
Figura 5: Variáveis que incidem nas decisões. (Zabalza. 2000, p.53).
56
A descrição da figura 5 nos sugere que todos os componentes pedagógicos,
institucionais, compreensão do professor a respeito do seu aluno e métodos de
trabalho são essenciais e bem como interagem entre si.
3.1 Ferramenta de desenvolvimento de planos de aula
Um conhecido portal criado para auxiliar os professores a criar, interagir e
disponibilizar materiais desenvolvidos por eles mesmos, chamado Portal do
Professor serve como exemplo de ferramenta para criação de materiais e planos de
aula. Esse portal precisa que o professor se cadastre para usufruir dos recursos de
compartilhamento de materiais. Mesmo sem o cadastro, o professor pode navegar
no ambiente para ver os recursos, materiais e as informações, notícias
disponibilizadas. Caso o professor queira criar uma aula (figura 6 e 7 e 8), são
necessários os preenchimentos de todos os requisitos para que a mesma fique
pronta. Importante ressaltar que o professor precisa estar logado no sistema.
Figura 6: Portal do Professor. Fonte: www.portaldoprofessor.mec.gov.br
57
Figura 7: Requisitos de criação de aula. Fonte: www.portaldoprofessor.mec.gov.br
Figura 8: Início da criação de aula. Fonte: www.portaldoprofessor.mec.gov.br
58
Seguindo o procedimento de criação de aula, a opção a seguir é de inclusão
dos dados da aula. Para finalizar a criação, há campos de preenchimento referente
aos recursos a serem utilizados, quais as estratégias e tipo de avaliação utilizada
(figuras 8 e 9).
A exigência do preenchimento de diferentes campos no Portal do Professor
torna sua estrutura engessada. Nessa pesquisa foi escolhido o Portal do Professor
como exemplo de ferramenta de elaboração de plano de aula. Não encontramos
ferramentas ou ambientes brasileiros que contemplem essa proposta, por isso a
pesquisa citou (Quadro 3) várias ferramentas internacionais, principalmente
americanas no qual descrevem-se as vantagens e desvantagens afim de consideralos no levantamento de requisitos na criação da ferramenta dessa pesquisa. O
quadro 3 mostra um comparativo entre o Portal do Professor e outras ferramentas
que podem ser utilizadas para a construção de planos de aula.
Ferramenta
PlanbookEdu
http://www.planbookedu.com/
Características
Características
Positivas
Negativas
Design inovador,
- Pago
organizado e
- Língua Inglesa
intuitivo. Preocupa- - Não é acessível
se em não
- Não tem
apresentar muita
compartilhamento
informação que
entre usuários.
confunda o usuário
- Sem sistema de
recomendação
ActivInspire
http://www.prometheanworld.com
Permite dois perfis - Língua inglesa
de usuários: Aluno - Não é acesível
e Professor.
- Sem sistema de
Interação com o recomendação
White board
59
Compartilha
informações
em
tempo real
Lesson Plan Builder
http://www.lessonplanbuilder.org/
Simples
- Não é acessível
navegação
-Sem recomendação
Permite divulgar na -
Precisa
de
comunidade o seu permissão da equipe
de desenvolvimento
plano ou não.
Pode ser reeditado para ter publicado o
caso precise alterar plano de aula.
- Língua Inglesa
alguns dados
Portal do Professor
www.portaldoprofessor.mec.gov.br/
●
●
Permite um perfil de
Apresenta
um
usuários: ambiente restrito e
Professor
engessado
Compartilha
impede
informações
que
prosseguir
no se não preenchido
formato de fórum
todos dados
Quadro 3: Comparação entre ferramentas de plano de aula
Como pode ser observado no quadro 3, a característica de acessibilizar
materiais e permitir utilizar o recurso de recomendação foi dois dos pontos que não
foram contemplados por essas ferramentas.
60
3.2 Considerações sobre o capítulo
Esse capítulo foi construído buscando-se descrever características dos
planos de aula e sua importância para um projeto pedagógico coerente com a
Instituição, com a diversidade dos alunos e com o conteúdo. Nesse capítulo também
foi abordado o fato do quanto a tecnologia pode ser importante para auxiliar o
professor nessa construção de planos de aula.
Segundo dados CGI15 em 2014, “apenas 2% dos professores brasileiros da
rede pública urbana usam a tecnologia como suporte em sala de aula”. Essa
pesquisa feita em 2013 com 1.592 professores numa amostra de 856 escolas
públicas e privadas identificam que somente 640 professores fizeram curso de
capacitação para uso de computador ou Internet, sendo que 73% pagaram para se
capacitar em um curso especializado e 22% aproveitaram as ofertas de curso de
especialização oferecido pelo Governo/Secretaria da Educação, como Mídias na
Educação, PROINESP e outros. Essas capacitações dão ao professor um
embasamento tanto técnico quanto metodológico de como utilizar as tecnologias
em benefícios na construção de seus materiais didáticos e bem como planos de
aula e na sua prática educativa em sala de aula. Software, tecnologias, dispositivos,
blogs, são auxílio à prática pedagógica, porém como se identifica nessa pesquisa,
poucos professores utilizam esses recursos. Já em 2013 verificou-se que 96% dos
1987 professores entrevistados de escolas públicas e particulares comentaram que
utilizam recursos da Internet para elaboração de aulas ou atividades com alunos
(CETIC.BR). Conclui-se, portanto, que o professor reconhece a necessidade de
acompanhar o avanço dos recursos, sabe da variedade dos recursos presentes,
15
Comitê Gestor de Internet. Dados coletados da Pesquisa TIC Educação, 2014. Pesquisa sobre o
uso das TIC nas escolas brasileiras http://www.cetic.br/educacao/2012/apresentacao-tic-educacao2012.pdf
61
mas ainda os utiliza de forma econômica. Assim, apropriando-se das tecnologias
disponíveis, o professor que é consciente de sua responsabilidade social e
comprometido com o ensino voltado à aprendizagem e à compreensão das
problemáticas da vida, precisa analisar as tendências mundiais de integração e
convergência das tecnologias que irão influir diretamente no processo de ensinar,
aprender e gerir a escola (ALMEIDA, 2009). Esse mesmo professor que trabalha
com tecnologias também pode adaptá-las de acordo com as necessidades dos
alunos.
Para que os sujeitos possam aprender, é fundamental que eles façam
experimentações, desconstruam significados, assimilem novos conhecimentos,
compare esses conhecimentos aprendidos. As convergências midiáticas são
importantes no desenvolvimento de todas essas ações, podendo transformar, por
exemplo, uma ferramenta que auxilie o professor na criação de um plano de aula
consistente com materiais acessíveis. Percebeu-se que as ferramentas de criação
de plano de aula descritos no capítulo, são muito úteis para auxiliar o professor e
cada uma com suas particularidades, porém nessa tese foram investigadas
ferramentas de criação de plano de aula e segundo o Quadro 3 mostram vantagens
e desvantagens das mesmas. Dentre as desvantagens analisadas leva-se em
consideração que nenhuma delas atenta especificamente para os aspectos de
acessibilidade e recomendação de conteúdo, como na proposta desta tese.
62
3.
SISTEMAS DE RECOMENDAÇÃO
A quantidade de informações disponível hoje em dia nos faz pensar em como
organizar, lidar e refletir sobre o que é interessante importante e verdadeiro de se
apropriar. Hoje temos o auxílio de várias tecnologias trabalhando em conjunto com
essas nossas inquietudes perante tanta informação. Nas trocas sociais, temos o
hábito de indicar assuntos, resoluções, livros e etc. para que as pessoas consigam
obter o que necessitam. Na busca de uma “incrementada” na aula procuramos dicas
de outros professores, livros didáticos, filmes referentes ao tema, jogos,
brincadeiras, que nos levem a pensar em uma aula mais descontraída, focada e
que atenda a todos os alunos. Hoje em dia contamos com o apoio de outros
recursos didáticos como Internet, Objetos de Aprendizagem, vídeos no Youtube,
músicas no SoundCloud. Mas como verificar se esses recursos, dados, materiais
são realmente relevantes para o que necessitamos? Atualmente, uma área de
pesquisa que é bastante usada em sítios de busca são os Sistemas de
Recomendação.
A definição de sistemas de recomendação foi denominada primeiramente no
projeto Tapestry (Goldberg et al. 1992; Resnick e Varian, 1997), onde foi utilizada a
expressão “filtragem colaborativa”. Essa filtragem se daria com a participação de
um grupo de pessoas, que filtragem seria importante para as suas necessidades.
Reategui (2007, p. 12) acrescenta que a essência da filtragem colaborativa está na
troca de experiências entre as pessoas e seus interesses em comum a partir de
avaliações feitas por eles próprios.
Com o passar dos anos, o termo sistema de recomendação passou a ser
utilizado para descrever sistemas que produzem recomendações personalizadas ou
que guiam o usuário indicando itens de seu interesse em uma vasta gama de
possibilidades (BURKE, 2002). Hoje, os sistemas de recomendação operam de
forma automatizada para identificar os interesses do usuário, filtrar e sugerir itens
que estejam de acordo com estes interesses. Belkin e Croft (1992) definem que a
63
filtragem de informação é o nome dado para descrever uma variedade de processos
que envolvem a entrega de informação para as pessoas que realmente precisem
delas. Esses processos são realizados por softwares comumente conhecidos como
sistemas ou agentes de recomendação (AR). Um dos grandes desafios deste tipo
de sistema é realizar a combinação adequada entre as expectativas dos usuários e
os produtos, serviços e pessoas a serem recomendados aos mesmos, ou seja,
definir e descobrir este relacionamento de interesses é o grande problema
(CAZELLA et al. 2010).
O autor Burke (2002) divide a área de Sistemas de Recomendação em 4 que
são elas:
● Filtragem Baseada em Conteúdo: identifica o perfil do sujeito e
recomenda seu conteúdo a partir desse perfil.
● Filtragem Colaborativa: assim como uma sugestão entre
pessoas em uma conversa, esse sistema identifica o histórico de do
sujeito para realizar a recomendação. Reúne um conjunto de dados muito
grande e envolve colaboração entre agentes, fontes de dados e etc.
Segundo Cabré (2011) podem ser explicadas como exemplo de: se João
gosta de A e B e Gabriel gosta de A, B e C, então é provável que Jogão
goste de C. Na filtragem colaborativa são calculadas as similaridades
entre usuários e os itens relacionados a eles. Algumas maneiras de obter
informações para filtragem colaborativa é tendo um feedback explicito no
qual o usuário indica a relevância do item indicado, por exemplo: num
questionário criado pelo sistema, o sujeito indica “relevante”, “não
relevante”, “muito relevante”. Já no feedback implícito a informação é
inferida a partir do comportamento do sujeito, sem necessidade de ter
informado ou inserido alguma informação ao sistema (CABRÉ, 2011).
● Filtragem Demográfico: a partir do perfil demográfico do sujeito
é que é gerada a recomendação e ela se dá para diferentes nichos
demográficos, ou seja a filtragem demográfica identifica que tipo de perfil
64
de sujeito gosta de determinado item. Com isso, reúne diferentes sujeitos
em grupos usando informações como idade, sexo, cidade ou interesses.
A partir daí as informações obtidas identificam em que grupo esse sujeito
pertence e adequa as recomendações com base nas informações sobre
outros sujeitos do grupo (CABRÉ, 2011).
● Filtragem Baseado em Conhecimento: realiza o processo de
recomendação baseando-se em inferências sobre as necessidades e
preferencias do sujeito (PRIMO, 2014).
Segundo Primo (2014) a classificação de uma técnica de recomendação
frente a esta taxonomia, depende exclusivamente de suas fontes de conhecimento.
Segundo o autor as fontes podem ser obtidas através do Conhecimento de Domínio,
ou seja, é relacionado ao domínio de aplicação como por exemplo: Domínio
Educacional, Esportivo, Domínio de Filmes e outros. Ou também em Base de
Produtos onde as informações seriam sobre os itens a serem recomendados como
exemplo do autor: descrição, funcionalidade entre outros. Ou também as Bases de
Avaliações que são as informações sobre as avaliações dos sujeitos sobre itens
previamente recomendados, exemplo: sujeito X avaliou filme Y com uma medida Z.
E para finalizar, temos a Base Demográfica que são as informações sobre a
localização do sujeito e possíveis recomendações pertinentes a sua localização, o
autor dá exemplo de um país que o sujeito se encontra no momento e a
recomendação pode ser um item referente a esse país.
Segundo Burke (2002) além das técnicas já mencionadas acima, de filtragem
de informação, existe também a alguns pesquisadores que utilizam mais de uma
técnica de filtragem para conseguir uma recomendação satisfatória. É o caso da
técnica de filtragem hibrida. Burke (2002) identifica sete formas de obter um
resultado usando métodos híbridos tais como alternar os resultados fornecidos por
vários métodos, misturar os resultados, ponderar os resultados ou aplicar vários
métodos em cascata. Para demonstrar conceitualmente essas técnicas,
65
visualizamos o quadro 2 criado pelo autor Pequeno (2014, pg.24) no qual apresenta
as vantagens e desvantagens de cada técnica de Sistema de Recomendação.
Quadro 4: Quadro comparativo de sistemas de recomendação. Fonte: Pequeno (2014, pg.24)
66
Esse capítulo conceitua Sistemas de Recomendação e as técnicas mais
utilizadas e como se dão os sistemas de recomendação em materiais educacionais
além de descrever tecnologias que auxiliam na recomendação. Os websites de
comércio eletrônico são atualmente o maior foco de utilização dos Sistemas de
Recomendação, empregando diferentes técnicas para encontrar os produtos mais
adequados para seus clientes e aumentar deste modo sua lucratividade (CAZELLA
et al. 2010). Muitos são os produtos comercializados que precisam atingir um
número grande de consumidores. Esses sistemas utilizam as recomendações como
forma de definir o perfil do consumidor a ser “abordado” e de selecionar os produtos
que mais se relacionam com esse consumidor. Os usuários acabam utilizando
diferentes tipos de recursos de busca e localização para identificar quais itens são
mais interessantes, valiosos ou divertidos. As recomendações complementam esse
cenário fazendo o caminho inverso. Ao invés do usuário ir atrás dos produtos, estes
são apresentados a ele através de dicas e informações baseada em diferentes
critérios (MEURER, 2014). Muitas são as empresas que utilizam esses serviços a
bastante tempo, como por exemplo, a Amazon16. Os sistemas de recomendação da
livraria se baseiam no histórico de navegação e de compra do usuário bem como
suas preferências previamente preenchidas no perfil. Além dessas características
também sugere produtos a partir do perfil de outros usuários (que tenham gosto
similar). Neste caso, para Lee (2001), a filtragem executada pelos sistemas de
recomendação supre a necessidade de conteúdo personalizado, uma vez que é
capaz de obter nas preferências dos usuários os parâmetros necessários para
realizar as recomendações.
Apesar do principal foco dos sistemas de recomendação ter sido o comércio
eletrônico, existe uma tendência para que estes sistemas venham a ser
incorporados em outros serviços, associando filtragem baseada em conteúdo a
16
www.amazon.com
67
outras informações (dados demográficos, comportamentais, contextuais) na busca
por recomendações personalizadas em distintas áreas (KONSTAN, RIEDL, 2012).
4.1 Estratégias de Recomendação
Segundo o autor Cazella et al. (2010), existem diferentes estratégias para
recomendar produtos e personalizar as ofertas aos usuários. Ele descreve alguns
exemplos, tal como:
- Reputação do Produto: próximo aos produtos a serem adquiridos é comum
encontrar ícones que representam opiniões de outros usuários que adquiriram esse
produto;
- Recomendação por Associação: é obtida a partir dos hábitos de compra ou
consulta dos usuários e delas identificar os padrões e partir deles, recomendar itens.
- Associação por Conteúdo: recomendação baseado em conteúdo de
determinado item, tal como autor, palavra-chave, ano, etc.;
- Análise de Sequência de Ações: identificação de padrões de compras ou
consultas a partir de sequencias temporais, diferenciando-se da recomendação por
considerar o tempo em que ocorrem as ações.
Costa et al. (2013) descrevem em um exemplo as quatro estratégias de
recomendação a partir de um site e-commerce de uma loja de departamento (figura
9). Os ícones de estrela (seta 1) representando avaliações — escala de 1 a 5
estrelas —, além das indicações de “Eu Amo”, “Eu Quero” e “Eu Tenho” (seta 2),
exemplificam a estratégia de Reputação do Produto. A parte indicada pela seta 3
exemplifica a estratégia de Recomendação por Associação. A estratégia de
Associação por Conteúdo pode ser percebida nas partes indicadas pelas setas 5 e
6. E, finalmente, a estratégia de Análise de Sequências de Ações pode ser
exemplificada na parte indicada pela seta 4.
68
Figura 9: Exemplo de utilização de estratégias de recomendação em um site
69
4.2 Filtragem baseada em Conteúdo
A filtragem baseada em conteúdo é uma das abordagens dos sistemas de
recomendação na qual são analisadas diferentes informações armazenadas sobre
os itens e identificam quais serão de interesse para o usuário (MEURER, 2014).
Conforme Reategui (2005), a partir das informações fornecidas pelo usuário
explicitamente ou coletadas pelo sistema de maneira implícita, o sistema busca por
materiais que correspondam às estas informações. Esta descrição de interesses do
usuário pode ser obtida por ações, seleções de links, visualização de páginas,
elaboração de textos e inserção de conteúdo.
Essa técnica de sistema de recomendação é muito utilizada no comércio
eletrônico, como mencionado em exemplo anteriormente. Porém, é importante
destacar a relevância deste tipo de artefato em outras áreas, como na educação a
distância onde se dispõe de técnicas e ambientes virtuais com muitas informações
sobre os alunos, conteúdos e professores. Muitos autores julgam que é pertinente
a existência de atrativos em AVA, como por exemplo, a recomendação de materiais
didáticos (FERRO, 2010). Como defendem Cazella et al. (2009), é ainda mais
desafiador quando se pretende identificar e recomendar materiais personalizados,
baseando-se em necessidades individuais de cada aluno, além de interesses e
competências a serem desenvolvidas.
A figura 10 explica a ideia da abordagem de recomendação baseada em
filtragem por conteúdo. Como o usuário leu os livros X, Y e Z e o livro B não possui
informações semelhantes a esses, então B não será recomendado ao usuário;
todavia, o livro A possui características que se assemelham aos três livros lidos,
logo, será recomendado; os livros C e D, dependendo do nível de similaridade
considerado no sistema, também podem ser recomendados, sendo C mais similar
ao gosto do usuário que D.
70
Figura 10: Representação da abordagem de filtragem por conteúdo. Fonte: (Costa, et al, 2013)
Devido a sua relativa simplicidade de implementação, a filtragem baseada
em conteúdo é bastante utilizada no universo dos sistemas de recomendação, com
diferentes variantes propostas de acordo como o tipo de aplicação e conteúdo a ser
recomendado (MEURER, 2014). Os Sistemas de Recomendação, na maioria dos
casos,
apresentam
algumas
limitações
quando
utilizados
em
contextos
educacionais. Uma percepção metodológica que só o professor que conhece sua
classe pode ter e com conhecimentos de tecnologia que lhe dê suporte no ensino.
Sistemas de Recomendação, portanto, prestam-se, por exemplo, para filtrar
recursos educacionais contemplando os perfis individuais dos alunos ou até mesmo
perfis de um grupo de alunos de uma disciplina. Dessa forma, esses sistemas
podem auxiliar o professor na composição de recursos digitais para uma disciplina
e no acompanhamento dos alunos. Assim, os Sistemas de Recomendação podem
atingir todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem (COSTA, 2013).
As técnicas de sistemas de recomendação podem ser importantes no
desenvolvimento de uma aula, o autor Costa (2013 pg.58) menciona:
[...] os professores podem se beneficiar com os Sistemas de Recomendação de
forma a obterem conteúdos que complementem seus planos de aulas, além de
outros inúmeros recursos. Apesar de os sistemas de busca na Web serem bastante
úteis e utilizados, muitos dados são retornados e, dentre esses, conteúdos
irrelevantes para os professores. Sistemas de recomendações específicos permitem
aos professores encontrar conteúdos próximos ao seu perfil, agilizando seu trabalho.
71
A área educacional pode usufruir de estratégias de recomendação para
contribuir no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que os alunos poderão
receber recomendações personalizadas de materiais didáticos, além de contribuir
para explorar mais o acervo existente, permitindo maior interação entre os materiais
didáticos e os usuários (FERRO, 2010).
4.4 Tecnologias para Recomendação
Muitos são os projetos utilizando sistemas de recomendação, alguns deles
com foco na recomendação de conteúdo. Esta seção apresenta alguns destes
projetos.
4.4.1 GroupLens
GroupLens17 foi um dos primeiros projetos de pesquisa no contexto da
recomendação de recursos educacionais, foi desenvolvido na década de 1990 pela
Universidade de Minnesota. O sistema coletava a avaliação feita por usuários a
artigos mantidos pelo sistema e, a partir da identificação dos usuários com
avaliações similares, recomendava novos artigos (KONSTANET al., 1997).
O Sistema coleta a avaliação dos usuários referente aos artigos lidos (escala de 15
pontos) e utiliza esta avaliação para identificar os vizinhos mais próximos com avaliações
semelhantes. Desta forma o sistema é capaz de predizer se um usuário pode se interessar
por um novo artigo baseando-se nas avaliações dos usuários vizinhos (CAZELLA et al.
2010).
17
http://grouplens.org/
72
4.4.2 Recomendação de Objetos de Aprendizagem Empregando Filtragem
Colaborativa e Competências
O modelo permite que alunos recebam a recomendação de objetos de
aprendizagem de forma automática conforme interesses do aluno, e de acordo com
as competências que devem ser desenvolvidas dentro de um plano de aula. O
protótipo implementado permitiu recomendar conteúdo relevante para os alunos
com o intuito de auxiliá-los no processo de desenvolvimento destas competências
(CAZELLA et al. 2009). A estratégia de recomendar objetos de aprendizagem que
melhor se adaptam aos interesses do aluno, mas respeitando competências que
precisam ser desenvolvidas, é importante e pode ser mais um atrativo em AVA, nos
quais se luta contra a evasão dos alunos (COSTA et al. 2013). Com base na
definição do autor e da figura construída do sistema, o sistema tem o seguinte
funcionamento:
- O professor planeja sua aula com base nas competências descritas na
ementa da disciplina e disponibiliza dos objetos de aprendizagem a serem
utilizados.
- Existem os cálculos de coeficiente de similaridade e predição
- O modelo aplica as regras criadas anteriormente de competência, que
conteúdos
recomendados
pela
predição
para
permitir
ao
usuário
o
desenvolvimento de determinadas competências em um determinado tempo
(CAZELLA et al. 2009). A figura 11 ilustra essas observações descritas pelo
autor.
73
Figura 11: Modelo proposto para recomendação de objetos de aprendizagem por
competência. Fonte: Cazella et al. 2009).
O sistema conta com a participação importante do professor no sentido de
criação das aulas e da organização dessa aula com as competências também
criadas. Para o autor, o modelo proposto procura se alinhar a estes princípios,
recomendando objetos de aprendizagem que melhor se adaptam aos interesses do
aluno, mas respeitando competências que precisam ser desenvolvidas em
determinado momento (CAZELLA et al. 2009). A aplicação dos testes desse sistema
foi feita com alunos de graduação em Engenharia da Computação e teve como
resultado um grau de precisão de 76% de recomendação de objetos de
aprendizagem aos usuários recomendar os objetos de aprendizagem que
satisfariam os alunos para seus estudos. Com isso, percebe-se que o sistema foi
avaliado satisfatoriamente atingindo os seus objetivos.
74
4.4.3 Sistema de Recomendação Acadêmico para Apoio a Aprendizagem
O objetivo do projeto é integrar os dados do sujeito com o seu histórico de
informações na web. Ou seja, suas informações são extraídas da internet evitando
que o usuário precise preencher formulários para definir seu perfil. O sistema realiza
uma busca de artigos acadêmicos — com o auxílio da ferramenta Google Scholar
— sobre um determinado assunto considerando o perfil do usuário, sendo dados
pessoais, idiomas, formação acadêmica, áreas de interesse e atuação as
informações do usuário consideradas pelo sistema (BARCELLOS et al. 2007).
Segundo o autor, o usuário, ao realizar uma pesquisa, informará apenas a(s)
palavra(s)-chave para a busca, enquanto o sistema encarrega-se de coletar dados
para o seu perfil e realizar a busca com base nessas informações (perfil e palavrachave). Assim, uma das vantagens do sistema é realizar uma busca sobre o assunto
desejado de acordo com o perfil do usuário, refinando a pesquisa e apresentando
resultados mais específicos e relevantes.
Figura 12: Sistema de recomendação acadêmico. Fonte: Barcelos et al. 2007.
75
Seguindo as informações da figura 12, o usuário cadastra-se no sistema
(login e senha) nos passos 1. Após é feita uma busca implícita pelos dados desse
usuário na Internet e daí se define o seu perfil. No passo 2 o usuário informa assunto
do seu interesse (palavras-chave). No seguinte passo (3) o sistema de
recomendação processa de forma implícita o perfil do usuário e realiza então a
seleção de artigos referentes ao perfil do usuário. No passo 4 o sistema mostra os
resultados da busca referente aos artigos recomendados.
Interessante mencionar que o autor explica que o grau de personalização é
baseado em atributo e do tipo persistente, onde o perfil do usuário está armazenado
e é atualizado periodicamente, e essas informações refletem em sua
recomendação. A técnica mais adequada para esta solução é de mineração de
dados baseado em regras associativas, pois os dados devem ser minerados
periodicamente e as recomendações criadas por associações de outras fontes.
Para avaliar o modelo, foi implementado o protótipo denominado “Ponto com filtro”
e realizado um estudo de caso, no qual 10 usuários (entre 29 e 40 anos) usaram o
sistema e responderam um questionário em relação às recomendações recebidas,
funcionalidades e comparações entre o Google Scholar e o “Ponto com filtro”
(BARCELLOS et al. 2007). Os autores afirmam que os usuários demonstraram
bastante satisfação com os resultados das buscas providos pelo sistema.
4.4.4 Um Modelo de Sistema de Recomendação de Materiais Didáticos
para Ambientes Virtuais de Aprendizagem
Normalmente um Ambiente Virtual de Aprendizagem armazena dezenas de
materiais didáticos, esse sistema foi criado para recomendar esses materiais
didáticos já armazenados num AVA. Esse sistema utilizou recomendação hibrida
combinando a recomendação baseada em conteúdo e baseada em filtragem
colaborativa e não personalizada. Segundo o autor descreveu em seu trabalho,
esse sistema consistiu em 4 etapas (FERRO et al 2011):
76
- Geração de uma lista de materiais didáticos usando filtragem
colaborativa.
- Geração de um ranking dos materiais da lista gerada em 1 cuja
ordenação é baseada no conteúdo.
- Geração de um ranking dos materiais da lista gerada em 1 cuja
ordenação é feita a partir da procura de materiais didáticos mais requisitados por
outros usuários (essa técnica é a não personalizada).
- É feito o cálculo (Quadro 4) e resultado dos itens buscados a partir das
listas geradas 1, 2 e 3.
Quadro 5: Equação para cálculo dos graus de utilidade híbrida Fonte: Ferro et al. 2011).
77
A figura 13 descreve o modelo do sistema de recomendação de materiais
didáticos.
Figura 13: Modelo do componente Gerador de recomendações híbridas. Fonte: Ferro et al.
2011).
A validação do sistema foi feito no AVA Moodle e foi feito com turmas de
curso de extensão e validado satisfatoriamente como resultado de pesquisa
segundo seus autores.
78
4.5 Considerações sobre o capítulo
Como mencionado anteriormente, o principal serviço no qual se utilizam os
sistemas de recomendação tem sido no comércio eletrônico ou sistema de filmes a
la carte como Netflix. No entanto, observa-se uma tendência da expansão do uso
da técnica em outras áreas, como na Educação. Nesse capítulo vimos alguns
exemplos de sistemas de recomendação aplicados em projetos educacionais afim
de auxiliar como suporte ou facilitadores no processo de aprendizagem. Para
atender o escopo do experimento prático e realizar as recomendações, Ferramenta
Educa utiliza um modelo de filtragem baseada em conteúdo e associado à inserção
de palavras-chave por parte do professor quando este cria o conteúdo do plano de
aula. O dispositivo não necessita identificar o perfil do professor para realizar
recomendações. Ele faz isso a partir dos termos inseridos pelo professor bem como
pelos termos minerados no conteúdo textual do plano. As recomendações poderão
ser obtidas buscando-se materiais em toda a web. Já a possibilidade de o professor
poder inserir termos de referência foi proposta por duas razões. A primeira se deve
ao fato da recomendação depender do conteúdo produzido. Ela não será possível
se, no início da atividade, não houver nenhum texto gerado pelos professores. Nos
sistemas descritos no capítulo, vê-se o uso da abordagem de diferentes formas, no
entanto nenhuma delas atenta especificamente para os aspectos de acessibilidade,
como na proposta desta tese.
79
4.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa realizada neste trabalho seguiu abordagem quanti-qualitativa,
com etapas de análise de dados quantitativas complementadas por informações
obtidas a partir dos instrumentos de coleta como observação e entrevista. Como
base para análise foram feitas triangulação de dados na qual foram utilizados os
dados dos questionários, das observações e da interação dos participantes com a
ferramenta.
Optou-se nesta pesquisa pelo desenvolvimento de uma pesquisa na
modalidade de estudo de caso. Trata-se de uma modalidade com características de
abordagem qualitativa na qual um certo grau de subjetividade é contemplado.
Segundo Yin (1990):
Obviamente, não existe nenhum método que seja melhor ou pior que algum
outro, o que se deve é procurar uma melhor adequação entre o método, o
objetivo e as condições nos quais uma pesquisa está sendo realizada.
Desta forma, entende-se a modalidade como uma forma de realizar um
estudo profundo, mas não amplo, que busca conhecer pequenos elementos dentro
da pesquisa a partir de um grande número e aspectos inter-relacionados.
Como foi apresentado na Introdução, o problema de pesquisa definido para
esta tese buscou responder a seguinte pergunta: De que maneira uma ferramenta
de criação de planos de aula pode auxiliar os professores por meio da
recomendação de conteúdo, utilizando critérios de acessibilidade para sugerir
materiais didáticos que atendam à diversidade na educação superior?
Para responder a essa questão, três objetivos específicos foram definidos:
Objetivos
1. Desenvolver uma ferramenta de criação de planos de aula
80
2. Implementar sistema de recomendação de conteúdos e critérios de
acessibilidade
3. Conceber e implementar a ferramenta a partir da perspectiva do
professor.
Para responder a essa questão, foram definidas diferentes etapas para
realização da pesquisa, a saber:
●
Desenvolvimento e testagem da ferramenta
●
Coleta de dados por meio da utilização da ferramenta por professores
●
Análise dos dados coletados
●
Resultados alcançados
Cada uma destas etapas é detalhada nas subseções a seguir.
5.1 Desenvolvimento e testagem da ferramenta
A idealização do projeto se deu a partir da Ferramenta Educa, a qual foi
remodelada e recebeu funcionalidades de recomendação de conteúdo com foco em
acessibilidade. Assim como Pressman (2011, pg.32) define “software é
desenvolvido ou passa por um processo de engenharia; ele não é fabricado no
sentido clássico. Uma das características revelam que pela sua complexidade,
projetos requerem dedicação e períodos de tempo relativamente longos para serem
desenvolvidos” (MEURER, 2014).
O projeto da Ferramenta Educa passou pelos processos de desenvolvimento
de software e pode ser visualizado seu resultado nos itens seguintes. Afim de
atender um nicho de pesquisa em que possibilita os professores a criarem seus
planos de aula e que possa ser disponibilizado aos alunos de forma simples e
acessível. A engenharia de software engloba processos, métodos e ferramentas
que possibilitam a construção. Para desenvolver um software precisa-se seguir
cinco atividades estruturais tais como: comunicação, planejamento, construção e
emprego. Tais itens serão descritos a seguir.
Nesse trabalho, levou-se em
81
consideração o emprego do modelo de cascata, ou modelo de ciclo de vida clássico
no desenvolvimento da Ferramenta Educa. Esse Modelo Cascata pode ser
desenhado da seguinte maneira na figura 14.
Comunicaç
ão
Planejamen
to
Modelagem
Construção
Emprego
Figura 14: Fluxo de processo linear. Modelo Cascata definido por Pressman, 2011 pg.54.
Esse modelo se define pela forma relativamente linear. Segundo Pressman
(2011)
essa
situação
ocorre
algumas
vezes
quando
adaptações
ou
aperfeiçoamento bem definidos precisam ser feitos em um sistema existente.
5.1.1 Comunicação: Levantamento de requisitos
A fase de Comunicação, na qual são feitos os levantamentos das
necessidades de desenvolvimento e do usuário, busca identificar soluções para o
problema envolvido. Segundo Pressman (2011), utilizando do conceito de
engenharia de software, descrevem-se as categorias de requisitos que atendem ao
projeto. O levantamento de requisitos do sistema foi definido inicialmente na escolha
do tema da pesquisa. Ele foi inicialmente feito a partir de uma entrevista com alunos
de pós-graduação com deficiência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
– UFRGS onde foi identificado em sua totalidade, a dificuldade de acesso aos
materiais educativos disponibilizados pelos seus professores. Essa falta de acesso
se dava pelo fato do professor não planejar sua aula para atender esse aluno com
deficiência e com isso impossibilitando o mesmo de compreender o conteúdo.
Alguns alunos/colegas relataram a falta de atenção do professor em sala de aula,
disponibilizando conteúdo ou em apresentações em slides no Powerpoint ou no
quadro verde com giz. A solução desses alunos era a utilização de um serviço
82
disponibilizado pela Universidade18 de apoio e adaptação dos materiais para esses
alunos. No decorrer dos 4 anos da pesquisa e ainda em contato com esses alunos,
descobriu-se que alguns desses alunos permaneceram até se formar, outros
desistiram dos estudos. Os motivos relatados foram exatamente os apontados no
começo da pesquisa, o descaso do professor em acolhê-lo em suas aulas e da
dificuldade desse aluno em obter do professor materiais adaptados e acessíveis. O
levantamento de requisitos, portanto, identificou a necessidade de desenvolvimento
de uma ferramenta de criação de planos de aula que atendesse esses estudantes.
Existindo uma ferramenta de planos de aula já desenvolvida pelo grupo de pesquisa
GTech da UFRGS, a mesma foi reaproveitada e remodelada.
5.1.2 Planejamento
Pressman (2011) afirma que o planejamento é definido a partir das estimativas
e cronogramas no acompanhamento das atividades do projeto. Nesse caso, o
planejamento se deu com várias reuniões com o grupo. Foram feitos estudos sobre
ferramentas de criação de plano de aula, estudos mencionados no capítulo 2 desse
trabalho. A partir desses foram definidas as principais funções para a ferramenta:
editor de planos de aula, recomendador de conteúdos para o professor, avaliador
de acessibilidade de conteúdo web.
5.1.3 Modelagem
A modelagem do projeto consiste na organização de todos os requisitos
relacionados, buscando-se modelar o sistema de acordo com seus processos e
18
No começo da pesquisa em 2011 esse programa era denominado Programa de Acessibilidade na
Educação Superior (Incluir). O Programa Incluir propunha ações de acesso e permanência aos
alunos com deficiência no ensino superior e se mantinha vinculado ao PROGRAD (Pró-Reitoria de
Graduação). No ano de 2014 foi transformado no Núcleo de Inclusão e Acessibilidade, este agora
vinculado institucionalmente à Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progesp) incorporando as
atribuições até então desenvolvidas pelo antigo Programa Incluir.
83
ações. Foi realizada a análise do projeto, suas necessidades e possibilidades para
a implementação empregada. A partir desses estudos, foram definidas as ações da
Ferramenta Educa, nas 15 e 16:
84
Figura 15: Fluxo de ações da Ferramenta Educa. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
85
Na figura 15, o diagrama começa com o professor pensando na criação do
seu plano de aula. A partir daí os diagramas são separados por caminho pontilhado
de acordo com as funcionalidades. Portanto, o primeiro diagrama de em formato
quadrado demonstra as funções do editor de criação de plano de aula (representam
telas com abas). A partir daí, durante a criação do plano, entra em execução a
segunda funcionalidade de sistemas de recomendação. A partir da mineração do
texto de conteúdo são extraídas as palavras-chave (no diagrama representam um
funil) e essas palavras são enviadas à API do Google (no diagrama representam
uma nuvem), a qual retorna conteúdos relacionados disponíveis na Web. Essas
páginas Web poderão ser agregadas ao plano de aula (seta direcionando).
Importante ressaltar que são feitas avaliações automáticas nas páginas web
recomendadas e só são recomendadas páginas acessíveis. A partir do conteúdo
pronto, o professor pode executar a terceira funcionalidade que é a de avaliação
automática de acessibilidade e verificar se seu plano de aula é acessível (seta na
aba de Conteúdo direcionando para Avaliação de Acessibilidade). O diagrama da
figura 16 resume este processo.
86
Figura 16: O sistema de recomendação. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
87
O sistema apresenta dicas de como corrigir o plano do professor. Após
finalizar, o professor pode clicar em Salvar e Publicar (deixa disponível a Todos no
sistema) ou Salvar (deixa disponível para somente ele no sistema), o sistema terá
duas versões: versão do Professor (que deve estar logado no sistema para poder
ver e editar seus materiais) e a versão do Aluno (não precisa estar logado no
sistema). Desta forma, a URL com o link do plano de aula pode ser compartilhada
para uso pelos alunos a partir de qualquer sistema com acesso Web (por isso o
diagrama representado é de um quadrado com setas direcionais).
5.1.4 Implementação da Ferramenta
Essa etapa começou a ser desenvolvida no início do projeto de pesquisa. A partir
dela foram desenvolvidos um editor básico de HTML e aplicado a ele uma API de
recomendação do Google.
O ambiente criado prevê um perfil individual de
professor, no qual este pode inserir seus dados, históricos de aula e banco de dados
que armazena as informações tanto do professor quanto da sua produção. A
recomendação contempla as informações oferecidas pela API como Vídeos,
Imagens, Links Web, Livros e outros. Também fez parte da etapa de
desenvolvimento a alteração do editor criado inicialmente por um editor mais
completo com funcionalidades que podem auxiliar o professor na escrita da sua
aula.
Inicialmente, foram estudados editores de texto que pudessem ser
incorporadas ao Ambiente Educa. Um editor de conteúdo web é classificado como
ferramentas de criação e como isso se define como uma ferramenta que permite
aos usuários criar seus próprios conteúdos web. Exemplo são os editores que lidam
com estilo WYSIWYG (What You See Is What You Get), ou seja, o usuário tem um
espaço edição que adiciona conteúdo como textos, tabelas, imagens, vídeos, etc.
88
(GARZÓN, 2012). Segundo o autor é importante ressaltar alguns tipos de editores
de texto e suas particularidades.
●
TinyMCE: editor de texto para HTML desenvolvido na linguagem Javascript.
Conta com características de acessibilidade que o fazem acessível e agrega
complementos que permitem gerar conteúdos acessíveis. É gratuito e pode
ser integrado a outras aplicações.
●
CKEditor: versão posterior do FCKEditor é um editor de texto utilizado para
gerar conteúdo HTML.
●
RADEditor: esse editor tem várias possibilidades de integração com outras
aplicações porém não é gratuito.
●
CMSimple: outro editor de texto que pode ser customizado e adaptada para
integração com outras aplicações, porém não é gratuito e precisa de licença
para utilizá-lo.
Segundo Garzón (2012) observa-se que alguns dos editores de conteúdo
Web, são concebidos como ferramentas de criação, apresentam recursos de
acessibilidade para pessoas com ou sem limitação. No entanto, para que o
conteúdo Web seja acessível, utilizar um editor não seria o suficiente, para isso você
também deveria realizar uma revisão manual de acessibilidade. Para facilitar essa
revisão manual foram feitos estudos e verificou-se que no editor TinyMCE pode ser
incluído recurso de avaliação automática de acessibilidade. Portanto, o editor
TinyMCE19 foi escolhido para essa pesquisa (figura 17).
19
http://www.tinymce.com/
89
Figura 17: Interface do editor de conteúdo. Fonte: www.tinymce.com
Na versão utilizada do editor (3.4), alguns ajustes foram feitos para favorecer
a utilização do mesmo em conjunto com leitores de tela e também a utilização de
atalho de teclas para o navegador Firefox.
Como mencionado anteriormente, o Educa foi desenvolvido pelo grupo de
pesquisa GTech, algumas das suas funcionalidades já estavam implementadas
como a criação do ambiente para um professor criar sua aula e a utilização
integrada de um minerador de textos ao ambiente. Durante o processo inicial da
pesquisa, foi alterado o leiaute do ambiente para um mais simples, com a intenção
de focar mais nas funcionalidades desenvolvidas (figura 18).
90
Figura 18: : Interface do editor de conteúdo. Fonte: www.tinymce.com
No novo leiaute, com editor TinyMCE funcionando em conjunto com avaliador
automático de acessibilidade AChecker, também foi integrado ao minerador de texto
desenvolvido por um estudante de doutorado e integrante do grupo de pesquisa GTech da
UFRGS, SOBEK20 como mostra a figura 19.
SOBEK (Macedo et al., 2009) é uma ferramenta capaz de extrair termos frequentes
em documentos e encontrar os relacionamentos entre estes a partir de um processo
conhecido como mineração de texto. Este processo é definido como um método de
extração de informações relevantes em bases de dados não estruturadas, ou
semiestruturadas (Feldman e Sanger, 2006). No caso da ferramenta SOBEK, um algoritmo
específico definido por Shanker (2003) foi implementado, baseado em análises estatísticas
dos textos e representação das informações extraídas em um modelo de grafo chamado
de distância n-simples (n-simple distance) (Klemann, 2009). O sistema Educa utiliza do
conceito de sistemas de recomendação por inicialmente necessitar do cadastro de
palavras-chaves (definido na ferramenta como Marcadores) para auxiliar o professor no
momento em que necessitar alguma utilizar-se de alguma busca no sistema. O professor
necessita cadastrar essas palavras no item Marcadores, essas palavras são referentes ao
tema de sua aula.
20
http://sobek.ufrgs.br/
91
Figura 19: Tela principal da ferramenta SOBEK. Fonte: http://sobek.ufrgs.br/
Como mencionado no texto, no SOBEK as informações são extraídas do texto e
representadas em formato de grafo. Porém, como foi implementado para funcionar
integrado à Ferramenta Educa, nessa aplicação somente são extraídos os termos mais
relevantes do texto analisado, sem que o grafo seja apresentado. Estes termos são então
enviados a outra aplicação. Essa aplicação chamada de Custom Search Engine21 ou
Pesquisa Personalizada, é um produto da Google disponível para desenvolvedores. Essa
aplicação tem a intenção de funcionar dentro de uma ferramenta, buscar na Web
informações e retornar os dados para essa mesma ferramenta. No caso da Ferramenta
Educa, portanto, o SOBEK minera as palavras chave mencionadas no texto e envia essas
palavras para a API da Google que retorna as informações recomendando conteúdo da
Web.
Já a função de validação automática de acessibilidade utilizada se trata de uma
aplicação que utiliza as diferentes diretrizes de acessibilidade estabelecidas por
21
https://cse.google.com/cse/
92
órgãos não-governamentais. Um exemplo dessas diretrizes são as recomendações
de WCAG 2.0, que significa na versão original Web Content Accesibility Guidelines,
ou seja, Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdos Web, sendo 2.0 porque
contempla o conceito de internet 2.0 da W3C – World Wide Web Consortium.
Alguns estudos foram feitos sobre ferramentas de avaliação automática e alguns
dos resultados são mostrados a seguir:
●
AChecker: ferramenta que faz a avaliação automática a partir do código HTML
da página. Para avaliar uma página diretamente no site da ferramenta, pode-se
somente incluir o endereço URL ou enviar um arquivo com código HTML. A
avaliação é feita identificando três tipos de problemas: Problemas conhecidos
(que são barreiras de acessibilidade), Problemas prováveis (que podem
ocasionar barreiras de acessibilidade) e Problemas Potenciais (que são
problemas que necessitam de avaliação manual e que o avaliador automático
não pode ajudar). Esse avaliador possui além do site de avaliação (serviço online), uma aplicação que pode ser integrada em outras ferramentas. É gratuito,
idioma inglês, italiano e alemão e código aberto.
●
TAW: Essa ferramenta possui somente serviço on-line e significa Test of
Accessibility Web. É uma ferramenta de avaliação de acessibilidade, tal como o
AChecker e bastante recomendado para desenvolvedores de sites. É gratuito e
idioma inglês.
●
Examinator: ferramenta que também faz avaliação on-line de páginas a partir
do seu código HTML. Utiliza as recomendações das Diretrizes de Acessibilidade
WCAG 2.0. É gratuito e idioma inglês.
●
DaSilva: Site brasileiro que faz avaliação de acessibilidade. Utiliza também as
Diretrizes WCAG 2.0 e faz as verificações a partir do código HTML da página.
Gratuito com idioma português – Brasil.
●
AccessMonitor: Esse avaliador automático desenvolvido pela Fundação da
Ciência e Tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia de Portugal, tem as
mesmas funcionalidades dos avaliadores on-line fazendo as verificações
baseadas nas diretrizes WCAG. Gratuito com idioma português – Portugal.
93
Neste estudo, portanto, determinou-se que a ferramenta a ser integrada
como avaliador automático de acessibilidade, seria o AChecker (figura 20), porque
além do serviço além do mesmo ser gratuito, também tem código aberto podendo
ser integrado a outras aplicações.
Figura 20: Tela principal do avaliador automático AChecker. Fonte:
http://achecker.ca/checker/index.php
O avaliador AChecker foi então integrado à ferramenta, resultando em um editor
com um botão de acesso às funções de avaliação de acessibilidade, como ilustrado
na figura 21.
94
Figura 21: Tela do editor TinyMCE integrado com o avaliador AChecker. Fonte: Elaborado pela
autora, 2015.
Após testes de funcionalidades das aplicações de mineração de texto, busca na
Web e avaliação de acessibilidade pela pesquisadora e pelo desenvolvedor ficou
claro que todos os elementos funcionavam adequadamente. Porém, como o
avaliador AChecker foi desenvolvido no idioma inglês, essas informações
retornadas ao professor dificultavam sua utilização nos planos de aula. No caso
dessa pesquisa, o professor teria que ter bons conhecimentos da língua inglesa e
conseguir interpretar bem as informações passadas pelo avaliador (figura 20).
Pensando na complexidade da questão e do contraponto que faria com a intenção
da Ferramenta Educa (facilitar na criação de planos de aula) decidiu-se: (a) criar
uma aba no editor de conteúdo do Educa que, quando clicada, mostrasse as
informações de avaliação de acessibilidade da página; (b) apresentar as
95
informações retornadas do AChecker traduzidas para idioma português-Brasil,
reformulando-as no sentido de deixar o editor menos técnico e mais didático. As
figuras 22 e 23 mostram o resultado desta fase do trabalho.
Figura 22: Figura x: Recomendação de Acessibilidade reformulados a partir das
Recomendações do AChecker em arquivo XML. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
96
Figura 23: Resultado da avaliação de acessibilidade na Ferramenta Educa. Fonte: Elaborado
pela autora, 2015.
Como mencionado anteriormente, o AChecker faz uma avaliação
identificando três tipos de problemas: problemas conhecidos que são barreiras de
acessibilidade,
problemas
prováveis
que
podem
ocasionar
barreiras
de
acessibilidade, problemas potenciais que são problemas que necessitam de
avaliação manual e que o avaliador automático não pode ajudar. Para a Ferramenta
Educa, ficou estabelecido que os problemas potenciais não seriam mostrados já
que não podiam ser tratados de forma automática. Com isso, alguns dados foram
reduzidos em relação às recomendações originalmente trazidas pela ferramenta
AChecker.
97
5.1.5 Sujeitos
Foram convidados para validação dessa pesquisa professores do ensino
superior e ensino tecnológico. Fizeram parte da amostra 20 professores, entre eles
docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do
Amazonas, Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, Instituto Federal Sul RioGrandense - IFSUL, Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Uniritter - Laureate International
Universities, Universidade Feevale, Instituto Federal Farroupilha e Universidade
Nacional de San Juan na Argentina. Os professores atuam em diferentes áreas:
● Ciência da Computação
● Educação
● Matemática
● Letras
● Pedagogia
● História
● Design
● Engenharia Mecânica
● Licenciatura em Computação
Também buscou-se trabalhar com professores que conheciam o tema
acessibilidade (4), além daqueles que desconheciam o tema (16).
Os professores na sua maioria são professores com muitos anos de
profissão, com exceção 2 professores iniciantes na carreira (menos de 2 anos).
Suas formações em sua maioria são técnicas e por causa disso precisaram fazer
especialização em didática para atuar na área.
98
5.2 Coleta de dados por meio da utilização da ferramenta por professores
No estudo desenvolvido como parte desta tese, buscou-se compreender o
processo de construção de planos de aula apoiado por uma ferramenta de criação
e recomendação de conteúdos acessíveis para isso foi proposta atividades,
observações e questionário e planos de aula como forma de coleta dos dados.
5.2.1 A Atividade Proposta
Inicialmente foi feito um Roteiro para aplicar o teste. A primeira interação da
pesquisadora com o professor convidado foi em um debate sobre Plano de Aula e
como são elaborados. Foi solicitado ao professor que comentasse seu
conhecimento sobre o assunto, e a pesquisadora fazia observações. Após essa
conversa, o professor era convidado a elaborar um plano de aula utilizando uma
ferramenta somente com um editor de texto. Em seguida, passava-se para a
segunda etapa do estudo que envolvia a apresentação ao professor da Ferramenta
Educa, agora abrindo debate sobre acessibilidade. Após o debate, o professor era
convidado a criar seu segundo plano de aula. Na medida em que o professor ia
criando seu plano de aula, as funcionalidades da Ferramenta Educa iam sendo
acionadas, tais como o sistema de recomendação de conteúdo e avaliação de
acessibilidade. A pesquisadora só respondia perguntas quando feitas pelo
professor. Porém, durante o tempo todo, fazia observações/anotações escritas para
a boa condução do estudo.
5.2.2 Coleta de dados por meio de questionários
Foram elaborados dois questionários para coletar as percepções dos
professores com relação à abordagem e ferramenta utilizada na construção dos
planos de aula. O primeiro questionário continha perguntas referentes à
identificação do perfil dos sujeitos da pesquisa, aplicado no início da pesquisa
99
(ANEXO 1). O segundo questionário foi elaborado para avaliação da Ferramenta
Educa e aplicado no final da pesquisa (ANEXO 2).
As questões do questionário foram elaboradas para conhecer a percepção
dos professores quanto a diferentes habilidades envolvidas no planejamento e
criação de planos de aula, além da percepção do professor perante seus alunos e
suas necessidades de aprimoramento dos seus materiais de aula.
As perguntas do questionário 1, referente ao perfil do sujeito de pesquisa,
compreendia perguntas nas quais o professor informava seu conhecimento sobre
planos de aula, quais tecnologias (caso utilizasse) utilizava para elaborar suas
aulas. Também compreendia conhecimento de acessibilidade e sua experiência ou
não com educação a distância.
O segundo questionário, de avaliação da Ferramenta Educa, contava com
perguntas referentes à utilização da ferramenta e à percepção do professor ao
utilizá-la. O questionário foi definido a partir de uma escala do tipo Likert com o
objetivo de identificar o nível de concordância dos participantes com relação a
diferentes critérios: Concordo totalmente, Concordo, Não concordo nem discordo,
Discordo, Discordo totalmente. Gil (2009) ressalta que os valores possíveis para as
variáveis para este tipo de escala devem ser equilibrados entre as possibilidades de
avaliações positivas e negativas, incluindo uma avaliação neutra entre elas, no
caso: Não concordo nem discordo. As questões estão relacionadas com o problema
de pesquisa, bem como com o referencial teórico escolhido. Por questões práticas,
o questionário foi elaborado e disponibilizado para os professores participantes pelo
Google Forms.
5.2.3. Observação teste da ferramenta
Durante a utilização da Ferramenta Educa pelos professores participantes da
pesquisa, foram feitas observações/anotações sobre seu emprego. Estas
anotações ajudaram no processo de análise no sentido de identificar, a partir das
100
categorias, em quais se mostravam mais presentes. Como por exemplo: "um
professor exalta surpresa ao ver que foram recomendados vários sites referentes
ao conteúdo que estava inserindo, sua fala é de interesse e alegria".
Além das observações e anotações, foram feitos registros em vídeo do
professor e também da sua interação com o computador. Estes vídeos foram
importantes para verificar todo o processo de criação dos planos de aula e registrar
o uso ou não, do dispositivo de recomendações. Com estes dados em mãos, foi
possível contrastar o real uso da ferramenta com as respostas dos questionários
sobre a interação dos participantes com a ferramenta.
5.2.4 Coleta de dados por meio dos planos elaborados
Os planos de aula elaborados pelos professores também serviram como
elementos importantes na etapa de análise de dados. Buscou-se nos planos de aula
dos professores informações relativas à estrutura e acessibilidade dos materiais.
5.2.5 Coleta de dados por meio de entrevistas
Além dos dados do questionário, observações e planos de aula dos
professores, alguns destes foram entrevistados através Google Hangouts ou Skype.
Para capturar o áudio e o vídeo, recorreu-se ao aplicativo ScreenCast-O-Matic22,
além de uma câmera em um tripé acompanhando a distância esse professor. Em
seguida, as entrevistas foram transcritas para que partes importantes pudessem ser
utilizadas na análise de dados, como referência. Como o foco do estudo está em
avaliar a utilização da Ferramenta pelo professor, os dados fornecidos por estes
foram importantes para complementar, confirmar ou contestar as informações.
22
http://screencast-o-matic.com/
101
5.3 Análise dos dados coletados
Os dados obtidos através da avaliação dos planos de aula, das observações,
questionários e entrevistas, foram organizados com vistas à realização de
triangulação de dados. As respostas do questionário foram contabilizadas e
contrastadas com as demais informações obtidas nas diferentes formas de coleta,
de acordo com as categorias de análise especificadas. Foram definidas quatro
categorias de análise, cada uma apresentada nas subseções a seguir:
5.3.1 Categoria 1: Recomendação de conteúdo
Duas das perguntas do questionário estavam relacionadas ao aspecto de
Recomendação de conteúdos web. O intuito na elaboração dessas perguntas foi
de verificar os efeitos da recomendação de conteúdo na elaboração do plano de
aula pelo professor. Os resultados referentes a cada uma das perguntas do
questionário são apresentados a seguir, e são feitas considerações gerais sobre o
conjunto de respostas obtidas a partir da análise dos questionários, das
observações e dos planos de aula.
A primeira pergunta e resultados
correspondentes são apresentados no gráfico 1.
102
Gráfico 1: Resultados do questionário referentes à adequação das recomendações feitas pela
ferramenta. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Pelas informações obtidas no questionário e mostradas graficamente é
possível perceber que essa funcionalidade teve 100% de aceitação. Apesar da
recomendação de conteúdo ser bastante utilizada atualmente em aplicações
comerciais, observamos que nos sistemas educacionais são menos frequentes. No
contexto dos sujeitos pesquisados, as instituições fornecem um sistema para
criação e preenchimento dos planos de aula e esses sistemas não apresentam
sugestões de outros conteúdos ou recomendação, como é o caso da professora S
que depois de comentar que a instituição possui um sistema de criação de aula
diferente e que não contém recomendação, expressou a importância da
recomendação no seu plano de aula.
Eu acho válido. Olha só, aqui do lado ele “puxou” primeiro:
ESCOLA. Se for relacionado ao que “tu tá dando” é extremamente
útil. Porque “tu vai ter” outros exemplos, exercícios novos, monte
de coisas que tu pode usar.
Ou:
103
As vezes “tu não quer” colocar a mesma coisa que colocou no
semestre passado, “tu precisa” atualizar teu material. Eu acho que é
uma boa o sistema de recomendação por isso, né?!
No sentido de obter dados úteis e precisos a professora comentou sobre as
sugestões de recomendação mostradas para ela pela ferramenta e seu comentário
foi:
No segundo item pra baixo já são mais adequados [para o tema da
aula que ela estava criando]. Já tem exemplos de exercício, ó !
Se elas viessem corretas, não precisaria “tu ir” descartando
visualmente as que não te ajudam. Eu acho que é legal esse sistema!
Além destas, pode-se citar também os dispositivos de recomendação de
conteúdos
capazes
de
oferecer
informações
mais
pontuais
e
melhor
contextualizadas dentro do que o aluno necessita em determinada atividade. Ao
contrário dos sistemas de busca, que exigem que o aluno defina o que deseja, os
dispositivos de recomendação sugerem informações baseadas em semântica ou
estatística (MEURER, 2014). Como todo sistema de busca observa-se que para
obter precisão dos dados, as informações precisam ser precisas. Nesse caso, a
recomendação parte na busca de informações inseridas pelo professor, caso o
mesmo queira obter dados mais precisos, precisa então inserir essas informações
no seu plano de aula.
A segunda questão buscou elucidar o fato das recomendações, adequadas ou
não, influenciarem a seleção de materiais pelo professor (gráfico 2).
104
Gráfico 2: Resultados do questionário referentes à influência das recomendações na seleção
de materiais. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Observa-se no gráfico que apesar da maioria dos participantes concordarem
com a significância das recomendações do sistema, alguns não mostraram essa
satisfação. Para exemplificar os resultados nos quais as recomendações foram
satisfatórias, foram detalhados dois casos de professores que alteraram seu plano
de aula por indicação da recomendação.
A professora R desenvolveu um plano de aula sobre o tema Engenharia de
requisitos utilizando um material dela, um tutorial que ela usa em aula. Durante a
criação da aula com os tópicos relacionados ela se deparou com as recomendações
e foi abrindo uma a uma as páginas recomendadas (5 por tema). Em uma das
páginas ela verificou que seu material não estaria completo se ela não inserisse um
tópico que ela não tinha em seu material. Foi a página recomendada pela
Ferramenta que a lembrou de incluí-la.
105
Eu precisava para “botar” aqui [mostra uma parte do conteúdo do plano
de aula que estava em branco].
Isso aqui era o que eu precisava para colocar aqui e eu encontrei no site
que foi recomendado.
E aqui também [mostra outra parte que estava em branco para
preenchimento].
Já a professora LF achou interessante incluir como material de apoio as
recomendações sugeridas. Algumas delas para que o aluno possa procurar outras
explicações além das seus, para os conceitos apresentados no plano. Enquanto
digitava o conteúdo do plano, apareceram as recomendações na tela e ela
comentou:
Olha, gostei muito disso!
Já fui atrás de um vídeo sugerido. E sugeriu algumas aulas também sobre
o tema. Gostei!
Seu plano de aula é visualizado na figura 24.
106
Figura 24: Plano de aula da professora LF com destaque em ·Material complementar·
adicionado a partir das recomendações sugeridas pela Ferramenta. Fonte: Elaborado pela autora,
2015.
Em contraste com a opinião destas professoras, percebe-se que outros
docentes não ficaram satisfeitos com as recomendações efetuadas pela ferramenta.
Percebe-se em uma pesquisa que os dados nem sempre são totalmente positivos.
Isso faz com que a investigação se desenvolva num processo mais condizente com
a realidade e que possa ser repensada e reavaliada. Esse processo amadurece
tanto o pesquisador quanto a Ferramenta. Nessa pesquisa observou-se que
algumas das recomendações sugeridas para o professor durante a criação do seu
plano de aula não foi interessante em razão de alguns fatores:
107
●
pela dificuldade do professor em informar com precisão o tema
●
pelo resultado recomendado não ser relevante para o professor visto que
ele já tem seus materiais próprios e ele não indica outros além dos seus a
seus alunos.
Esse aspecto de precisão dos resultados é muito importante e foi observada
nessa pesquisa. Uma das professoras mencionou que além do tema da sua aula
(Poliedros) ser muito específico e complexo é também um tema para o qual
dificilmente se encontram informações na Internet.
Escolhi um tema bem polêmico, a definição dele [Poliedro] é bem
complicada. Geralmente é raro encontrar na internet, é raro de encontrar
uma definição correta, por isso gosto desse meu material.
A definição que eu uso é uma definição bem completa, por que o assunto
é meio polêmico.
Como resultado, seu plano de aula ficou como ilustrado na figura 25:
Figura 25: Plano de aula da professora G. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
108
Outro problema foi identificado no caso de uma aula com conteúdo muito
específico para o quais o professor não deixou claro os temas a serem trabalhados
(na definição de palavras-chave, por exemplo). A recomendações de páginas web,
vídeos ou imagens é definida no contexto dos materiais que estão sendo produzido,
ou seja, a recomendação acontece basicamente a partir da filtragem das
informações que os professores incluem no sistema enquanto realizam as
atividades de criação da sua aula. Xiao e Benbast (2007) denominam os dispositivos
de recomendação de ‘Sistemas de Suporte à Decisão’ (SSD) do usuário. Para os
autores, professores precisam tomar decisões para realizar suas atividades e às
vezes podem se deparar com dois pontos conflitantes: Maximizar a precisão
(qualidade) e Minimizar o esforço (objetividade e a rapidez na busca da
informação) (MEURER, 2014).
Podem oferecer suporte e ampliar atividades de aprendizagem bem
desenhadas [planejadas], principalmente no sentido de melhorar a
motivação dos alunos no envolvimento dos mesmos nas tarefas,
fornecendo acesso a fenômenos simulados ou modelados, não
disponíveis de outra maneira (DONNELLY, p.158, 2005).
Boss e Krauss (2007) acreditam que os educadores já reconhecem que
ferramentas digitais são aspectos essenciais dos ambientes em que os estudantes
estão vivendo e aprendendo. “Ainda, esses educadores veem como a tecnologia
abre oportunidades para reinventar projetos, tornando-os mais autenticamente
conectados com a vida dos estudantes, principalmente os nativos digitais (os que
nasceram após o início da revolução digital). Quando eles são bem-sucedidos
projetando algo efetivo, os professores são sábios o suficiente para reconhecer que
eles também são mudados pelo sucesso de seus estudantes” (BOSS e KRAUSS,
2007 p.21). Porém, os autores salientam que é necessário um esforço constante na
aprendizagem das tecnologias novas e emergentes. A renovação e a transformação
109
das mesmas costuma ser rápida, continuada e influencia diretamente no papel
tradicional do professor como o detentor do conhecimento, tirando-o de cena. Isso
significa que é preciso encontrar novas maneiras de gerenciar o ambiente e a
interação com os alunos.
5.3.2 Categoria 2: Acessibilidade do conteúdo
As seguintes perguntas do questionário estão relacionadas ao aspecto de
Acessibilidade de conteúdo web. Os resultados referentes a cada uma das
perguntas do questionário são apresentados a seguir, e são feitas considerações
gerais sobre as observações, entrevistas e o plano de aula.
Gráfico 3: Resultados sobre acessibilidade das recomendações. Fonte: Elaborado pela autora,
2015.
110
A maior parte dos professores concordou ou concordou totalmente com a
capacidade da ferramenta em recomendar materiais acessíveis. Para Conforto
(2012) ao preceito que marca a emergência da Internet como um significativo temoespaço projetado pelo homem: será que podemos caracterizá-lo como
verdadeiramente inclusivo? Percebemos com isso a quantidade de informações
disponíveis hoje em dia, com imagens, animações e que tem influenciado o
processo de exclusão de determinadas pessoas dentre elas, por exemplo, as
pessoas com deficiência. Para qualificar a condição de acesso aos conteúdos da
Web e garantir o caráter democrático desse acesso, é imprescindível que os
professores percebam de maneira crítica quais os conteúdos disponibilizados na
Web que são acessíveis a todos os públicos.
Percebeu-se, no entanto, que a convenção utilizada na interface da
ferramenta para identificar a acessibilidade de uma página não estava totalmente
clara. Empregou-se um símbolo de V ("check") em verde, ao lado das páginas com
bom nível de acessibilidade. No entanto, alguns dos professores não perceberam
este detalhe, como demonstra a fala de um deles:
O visto esse quer dizer que vai aparecer aqui? [Mostrando o check de
acessibilidade ao lado da página recomendada]
Ou tem que fazer alguma coisa?
A fala da professora demonstra que para ela não ficou clara a imagem verde
em formato de V. Para ela, essa imagem significava que o link seria
automaticamente inserido no conteúdo do seu plano de aula. Foi explicado que
aquela imagem era o resultado positivo de uma avaliação de acessibilidade em cima
da página recomendada.
Segundo Conforto (2012) a maioria dos professores não tem proximidade
com o campo de saber da Informática, mas, pelas facilidades de editoração e de
publicação, tem se tornado autor da Web.
Com isso, todas as pessoas que
111
publicam conteúdo na Web, em seus mais variados formatos, devem conhecer e
aplicar as normativas de acessibilidade, garantindo a possibilidade de apropriação
da Informação a um conjunto cada vez maior de usuários (CONFORTO, 2012 pg.
204). Por isso percebe-se a importância da formação de professores para utilização
de ferramentas digitais. Uma formação mais detalhada/extensa com os professores
para utilização da Ferramenta Educa teria possivelmente minimizado este
problema.
A segunda questão buscou avaliar a capacidade da ferramenta em auxiliar
os professores a tornar seus materiais acessíveis (gráfico 4).
Gráfico 4: Resultados sobre capacidade da ferramenta em auxiliar professor na construção de
materiais acessíveis. Fonte: Elaborado pela autora, 2015
O gráfico mostra que 19 dos 20 professores pesquisados entenderam que a
Ferramenta atendeu esse requisito. Como mencionado anteriormente, 16 dos
pesquisados não tinham conhecimento prévio a respeito dos conceitos de
acessibilidade.
Um dos professores, chamado aqui de V, cria seu plano de aula e após
finalizá-lo faz a avaliação de acessibilidade. O professor incluiu links no seu plano,
112
porém com endereço somente, sem informações prévias. Nesse caso, ao avaliar se
seu plano de aula estava acessível, o avaliador informou que pelo fato do professor
ter incluído um endereço de link, ele precisava também contextualizar o texto desse
link, ou seja, atender às recomendações 2.4 Navegável, indicando que o endereço
fosse descritivo para ajudar o usuário a compreender sua navegação. Para
compreender esse processo, montou-se uma sequência de imagens que
descrevem os passos do professor. Nessa sequência de atividades o professor
finaliza seu plano de aula (figura 26, parte 1) e clica em avaliação de acessibilidade
(figura 26, parte 2).
Figura 26: Primeira parte da sequência de plano de aula. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Num segundo momento, o professor volta ao conteúdo do seu plano de aula
(figura 27 parte 1) e corrige o link a partir da recomendação de acessibilidade (figura
27, parte 2).
Figura 27: Segunda parte da sequência de plano de aula. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
113
Após, o professor inclui descrição no link inserido e (figura 28, parte 1) e
finaliza o plano de aula com análise bem-sucedida (figura 28, parte 2).
Figura 28: Terceira parte da sequência de plano de aula. Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Apesar da temática ser nova para alguns professores, como no caso desses
professores, desacomoda o mesmo e faz com que ele comece a problematizar o
“Universo da Internet” a partir de um novo filtro: a possibilidade de interação da
pessoa com deficiência (CONFORTO, 2012).
O mesmo procedimento de alteração do plano de aula a partir da avaliação
de acessibilidade é encontrado no plano de aula do professor F (figuras 29). Nessa
sequência de atividades o professor visualizou a avaliação de acessibilidade que
informava a respeito dos itens invisíveis no texto, como por exemplo, marcadores.
Figura 29: Plano de aula professor F. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
114
Nessa sequência de atividades o professor identificou onde estavam os
marcadores inseridos (figura 29, lado esquerdo) e achou melhor excluir do seu plano
de aula (figura 30, lado direito).
Figura 30: Sequência do plano de aula professor F. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Nesse caso a exclusão foi uma escolha da professora, porém os marcadores
não apresentam importância com relação ao leiaute da página pois são meramente
decorativos, a não ser para os videntes. Para as pessoas com deficiência visual ou
para cegos, os marcadores são itens invisíveis e serão ignorados pelas tecnologias
de auxílio. Já a diferença dos professores para os especialistas é que os
especialistas produziram seu plano de aula pensando na sua acessibilidade. Dois
exemplos mostram claramente isso.
O professor F comentou que iria criar um plano de uma aula que já conhecia,
utilizou a ferramenta de com recursos de Lupa do Windows por ter deficiência visual,
em nenhum momento teve alguma dúvida sobre a Ferramenta e criou o plano aula
a seguir (figura 31):
115
Figura 31: Plano de aula criado pelo professor F. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
À primeira vista pode ser um plano de aula normal como os outros, porém o
principal não é o resultado em si e sim o processo como foi desenvolvido. O plano
de aula foi construído já pensando em ser acessível, portanto, não precisou ser
corrigido. Esse é um dado importante que foi descoberto nessa pesquisa, que as
pessoas que estão habituadas a pensar e também têm o conhecimento a respeito
116
do tema acessibilidade, tendem a se importar mais e a desenvolver materiais com
essa preocupação. Nesse caso, tanto o vídeo quanto a imagem apresentam
descrição. O vídeo foi escolhido e inserido porque apresenta audiodescrição, ou
seja, já apresenta acessibilidade. A imagem apresenta texto oculto, ou seja, que os
leitores de tela como tecnologia de auxílio podem interpretar e ler como observa-se
na figura 32.
Figura 32: Amostra do código da imagem inserida no plano de aula. Fonte: Elaborado pela
autora, 2015.
A democratização do acesso à informação deve permitir que mais pessoas
tenham acesso aos conteúdos disponibilizados na Web, porém a mudança de
atitude e o pensamento com relação à construção de materiais educacionais seria
um passo a mais no processo de inclusão.
O entusiasmo relacionado à Sociedade da Informação não deve impedir o
reconhecimento de seus pontos de fragilidade, em especial, quanto à
implementação de tecnologias digitais acessíveis, recursos que asseguram o acesso
e a usabilidade para as pessoas com deficiência (CONFORTO, 2012 pg. 235).
O segundo plano de aula foi criado por outro especialista em acessibilidade
e as observações serão feitas em sequência. Esse plano de aula foi criado também
sem muitos questionamentos a respeito da utilização da Ferramenta Educa. Como
117
o conteúdo não estava preparado para esse teste, a professora utilizou-se de uma
apresentação em Powerpoint para incluir em seu plano. Como existe uma limitação
na ferramenta para agregar apresentações, a professor incluiu somente o endereço
da mesma. Seu plano de aula é apresentado na figura 33.
Figura 33: Amostra do código da imagem inserida no plano de aula. Fonte: Elaborado pela
autora, 2015.
Após finalizado e verificado no avaliador de acessibilidade, a professora
comentou que gostaria de testar novamente e o fez constatando:
118
Não, ele não “tá” me mostrando.
Ele teria que me mostrar o nome passando o mouse por cima.
O que a professora na verdade gostaria era que aparecesse uma legenda
com a descrição da imagem. Seria em termos de programação, chamado de TITLE.
Segundo nossos estudos a acessibilidade em imagens se dá pela inclusão de uma
TAG chamada ALT na programação HTML que funciona como uma descrição
textual da imagem, portanto oferecer um texto caso uma imagem não apareça ou
não possa ser visualizada.
Isso tem mais sentido pois pessoas que conseguem visualizar alguma
imagem também conseguem compreender seu sentido e propósito em uma página.
Por outro lado, uma pessoa com deficiência visual ou que necessite de alguma
tecnologia auxiliar, se não tiver uma descrição invisível na imagem (ALT) essa
imagem não fará sentido nessa página, mesmo que contenha uma legenda ao
passar o mouse (TITLE).
Para o avaliador da Ferramenta, o ALT tem papel importante pois contempla
um requisito chamado Recomendação 1.1 Alternativas textuais, onde para
elementos não textuais deverão ser apresentados elementos textuais. Um exemplo
básico seria:
<img src="foto.jpg" alt="Fotos do Verão" />
Se a imagem não aparecer (se estiver com o endereço errado ou as imagens
estiverem desabilitadas) ou se o usuário usar um leitor de tela, a mensagem que
ele vai ler (ou ouvir) será "Fotos do Verão".
119
Para exemplo seu plano de aula ficou registrado na figura 34.
1
2
Figura 34: Tela (1) do plano de aula com imagem oculta, porém uma tecnologia auxiliar
poderia ler a descrição e; (2) Amostra do código da imagem (descrição ALT) inserida no plano de
aula. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Compreende-se a importância da crítica da professora, porém a partir de
estudos foi previsto que para contemplar esses requisitos, a inserção de descrição
invisível como ALT seria mais interessante em termos de acessibilidade e isso que
foi adotado.
120
5.3.3 Categoria 3: Estrutura e utilidade da ferramenta
As seguintes perguntas do questionário, estão relacionadas ao aspecto de
Estrutura e utilidade da ferramenta. Os resultados referentes a cada uma das
perguntas do questionário são apresentados a seguir, e são feitas considerações
gerais sobre o conjunto de respostas obtidas a partir da análise dos questionários,
das observações e do plano de aula. A primeira pergunta, apresentada no gráfico
5, busca verificar a percepção dos usuários quanto às facilidades disponibilizadas
para organização dos planos de aula.
Gráfico 5: Resultados quanto à estrutura dos planos de aula. Fonte: Elaborado pela autora,
2015.
121
Observando o gráfico referente à primeira pergunta, é possível perceber que
a maior parte dos professores concorda (9) ou concorda totalmente (9) com a
afirmação de que o sistema contribuiu para que pudessem criar uma estrutura
organizada do seu plano de aula.
No capítulo 1 onde foram abordados os temas planos de aula e produção
docente, foram estudados alguns ambientes tecnológicos que auxiliavam na
produção dos planos. De acordo com esse estudo, alguns desses ambientes se
tornavam engessados, não possibilitando passar para uma tarefa sem a finalização
da anterior, como é o caso do Portal do Professor. A partir de algumas referências
entre autores na definição do conceito de organização de um plano de aula, definiuse como requisito para este projeto o desenvolvimento de um ambiente com
estrutura mais flexível. Segundo Pimenta e Anastasiou (2002 pg 43) a didática vai
sendo construída como teoria do ensino, não para criar regras e métodos válidos
para qualquer tempo e lugar, mas para ampliar nossa compreensão das demandas
que a atividade de ensino produz, com base nos saberes acumulados. Para os
autores, todo o processo de ensino é englobado por pontos de vista políticoideológico, éticos, psicopedagógicos e os propriamente didáticos como organização
dos sistemas de ensino, de formação, seleção de conteúdos, currículos, modos de
ensinar, avaliação, etc. Para esses autores o não conhecimento das práticas de
ensino e dos procedimentos didáticos resultam:
o professor transforma-se em um ‘palanqueiro’ e retórico, com discursos
muitas vezes vazios, abusando dos recursos audiovisuais e da moderna
tecnologia, tentando cumprir o seu papel de transmissor de informações, que
dificilmente se transformarão em conhecimento.
Para atender aos questionamentos feitos no decorrer da pesquisa sobre a
estrutura dos planos de aula, foram criadas e testadas duas opções da Ferramenta.
Uma ferramenta com editor em branco no qual não apareciam informações
estruturais ao professor.
122
Figura 35: Tela de criação de plano de aula. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
123
Tais condições geraram dúvidas como nos questionamentos de professora S.
professora G., professor C. :
O que eu coloco aqui no campo Conteúdo?
Ou:
O que seria Informações da Aula?
Ou:
O que eu coloco aqui?
Para atender esses questionamentos, foram feitas adições no editor. Algumas
dessas alterações foram realizadas para orientar os professores sobre os itens a
serem incluídos em um Plano de aula. Ao invés de responder a essas perguntas
oralmente, optamos por inserir algumas informações dentro do próprio editor de
texto, como ilustra a figura 36:
Figura 36: Modelo de inserção de informações na Ferramenta. Fonte: Elaborado pela autora,
2015.
Um dos professores experimentou esses dois momentos e a reação foi
positiva como se refletiu na fala da professora D.:
Ah melhorou. Melhor que a outra.
124
Essas
informações
foram
inseridas somente para dar ideia
ao professor do que incluir de
dados. Elas não são estáticas, são
modelos, podem ser excluídas ou
alteradas conforme interesse.
Figura 36: Modelo de inserção de informações na Ferramenta. Fonte: Elaborado pela autora,
2015.
O autor define essas questões com exemplos práticos do uso de várias
técnicas que podem ajudar o trabalho docente. O primeiro exemplo retrata o ‘plano
de trabalho’. Define que esse plano de trabalho deve ser direcionado no sentido de
envolver o aluno e motivá-lo, objetivando a continuidade do que foi combinado para
o encontro seguinte e os demais. A organização da aula, as leituras de casa, a aula
expositiva, o uso da mídia eletrônica, situações reais e a avaliação pertinente.
Um dado importante é de que os conceitos de planos de aula são diversificados
dependendo da formação e da concepção do professor. Alguns planos de aula
foram construídos (individualmente pelos professores da pesquisa sem interferência
da autora) pensando na perspectiva de um curso a distância e outros em formato
de cursos ou até mesmo em formato de uma aula e/ou unidade didática sendo ela
teórica ou prática.
125
Sacristán (2007 pg 202) comenta oportunamente que
Como por currículo se entendeu de forma dominante o compendio de conteúdos,
planejá-lo é fazer um esboço ordenado do que se deveria transmitir ou aprender
sequenciado adequadamente; mesmo que esse trabalho se referisse a uma area ou
disciplina completa, ou se aludisse a uma unidade didática que ordenasse os
conteúdos mais limitados para um tempo escolar mais breve [...]
Portanto, exemplifica-se a seguir os modelos de plano de aula para esses
professores pesquisados.
a) Como esboço
Tendo essa ideia como perspectiva, na elaboração desse trabalho, essa
característica foi levada em consideração e deixando aberto ao professor a inclusão
de uma estrutura e organização de acordo com suas necessidades e intenções.
Essas referências vão de encontro com os depoimentos do professor G interagindo
com a Ferramenta no qual identifica-se na fala:
No meu plano de aula ele não é detalhado a nível de conteúdo. Que no
conteúdo eu uso livro, ppt ou alguma coisa assim.
Para o autor Sacristán (2007, pg 197) “Plano indica a confecção de um
apontamento, rascunho, croqui, esboço ou esquema que representa uma ideia, um
objeto, uma ação ou sucessão de ações, uma aspiração ou projeto que serve como
guia para ordenar a atividade de produzi-lo efetivamente”. Então como forma de
corroborar com a sua própria fala, o professor G criou o seguinte plano de aula tal
como na figura 37:
126
Figura 37: Plano de aula do professor G. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Além da professora G, observamos também que esse conceito de planos de aula
como organizador de ideias da aula foi presente em outros momentos por outros
professores, como foi o caso da professora S. que em seu depoimento descreve
que:
Eu não faço plano individual, eu faço um plano inicial tipo esse que tá na tela
agora [e mostra para a autora da pesquisa o plano da instituição] e nesse sistema
ele cria as atas das aulas e tu só coloca os conteúdos que tu vai ministrar em cada
uma das aulas.
De acordo com o que a professora S comentou, ela reproduziu o plano de aula
tal como ela produziria no sistema de criação de planos de classe da sua instituição
e pode-se ver na figura 38.
127
Figura 38: Plano de aula criado pela professora S. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
128
b) Como Modelo como em curso a distância
Alguns professores com experiência na modalidade EAD, organizaram seu
Plano de Aula utilizando aulas e cursos no formato a distância. Ou utilizaram
materiais de aulas já preparadas em um ambiente virtual de aprendizagem, como o
Moodle. Para demonstrar como esse plano de aula ficou pode-se visualizar na figura
39.
Figura 39: Exemplo de Modelo de plano de aula com foco na criação de um curso criado
pela professora D. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Algumas profissões caracterizam-se por planejar objetos, lugares, situações
e processos. A profissão do professor e o processo de ensino leva em consideração
algumas características dentre elas a necessidade de planificar ideias,
conhecimentos, ações.
O plano faz parte fundamental da preparação profissional e serve, precisamente,
para distinguir a atuação própria da que é praticada por outras profissões, centradas
no cultivo direto do conhecimento ou na realização prática do plano. A atividade e
129
profissão de planejar vem a se situar num espaço intermediário entre o mundo das
intuições, ideias e conhecimentos e atividades práticas (Sacristán, 2007 pg. 198).
Segundo o autor Schon apud Sacristán (2007 pg. 198) o planejador é alguém
que dialoga com a situação em que atua que reflete sobre uma prática e que
experiência situações e reflete sobre fenômenos. A profissão de professor bem
como planejador tem que adequar, interpretar sua prática e suas concepções
teóricas.
c) Como aula prática
Alguns dos professores pesquisados definiram sua disciplina como pratica e,
portanto, seu plano de aula não apresenta muitas informações sobre conteúdo ou
teorias. Com isso, mostra-se uma diferente nuance sobre os planos de aula,
semelhante ao primeiro subtítulo mencionado Esboço, onde o professor define uma
organização prévia do que será dado em aula e a partir disso utiliza-se de outros
mecanismos didáticos afim de cumprir um objetivo, porém nesse caso as aulas
contam com mais detalhes sobre como a aula será desenvolvida.
Essa
característica é descrita pela professora M. em seu depoimento com tradução livre
da autora da pesquisa:
Se realizam planejamentos de disciplinas a cada ano, com teoria e
prática
Isso significa que os planos são preparados separadamente e por
professores diferentes, mas com a concordância dos temas, atividades e conteúdos
e em parceria entre os mesmos. Para Sacristán (2007) planejar implica a previsão
da ação antes de realizá-la, isto é, separação no tempo da função de prever a
prática, primeiro, e realizá-la depois; implica algum aclaramento dos elementos ou
agentes que intervém nela, uma certa ordem na ação, algum grau de
determinação da prática marcando a direção a ser seguida, uma consideração das
circunstâncias reais nas quais se atuará, recursos e/ou limitações, já que não se
planeja em abstrato, mas considerando as possibilidades em um caso concreto
130
(grifos do autor). Como a preocupação nesse caso é criar um plano de aula prático,
a professora M. comenta como é feita a sua criação
A preparação da aula prática é feita em Word, a elaboração da aula
prática na ferramenta Enterprise Architect e elaboração de perguntas
com encuestafacil.com
Em todo tipo de prática dirigidas explicitamente para fins desejados são feitos
planos prévios para racionalizar a ação, guia-la adequadamente afim de economizar
recursos, tempo e alcançar os objetivos propostos e estabelecidos. Para
exemplificar, alguns planos de aula voltados à uma organização prática de aula nas
figuras 40 e 41.
131
Figura 40: Plano de aula do professor H. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
132
Nesse plano de aula o professor H criou a partir de uma disciplina que
ministra em uma Universidade. Nessa disciplina, ele elabora grande parte do seu
conteúdo prático, pois a intenção dela é preparar o aluno para produtos para
comércio, indústria em geral. Grande parte do conteúdo é aplicado ao
desenvolvimento de modelos e maquetes como materiais concretos e no final da
disciplina aprendem a utilizar ferramentas tecnológicas que auxiliam na construção
desses modelos.
Em outro exemplo de plano de aula, duas professoras ministram em conjunto
a prática de uma disciplina de Desenho de Software. A pesquisa foi feita com as
duas professoras, separadamente. De acordo com a organização da universidade,
uma disciplina contém três professores, sendo dois de prática (um que auxilia o
aluno nas atividades de reforço) e outro responsável pelo conteúdo prático, ou seja,
por desenvolver atividades e recursos para atender o conteúdo e o terceiro e não
menos importante, professor responsável por todo o conteúdo teórico da disciplina.
As aulas seguem dois momentos, inicial teórico com o professor responsável e o
segundo momento somente com as aulas práticas em cima do conteúdo já
aprendido. Como esperado, o resultado foi muito parecido entre esses professores
da prática e pode ser visualizado na figura 41 e 42.
133
Figura 41: Plano de aula da professora L que ministra disciplina prática de Desenho de
Software. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
134
Figura 42: Plano de aula da professora M que ministra disciplina prática de Desenho de
Software. Fonte: Elaborado pela autora
135
Atividade e conteúdo ficam assim ligados no significado que a linguagem
usual e a especializada dão ao conceito. Enquanto que a atividade é o que primeiro
que se manifesta a nós, porque está mais ligada à vivência de experiências, o
conteúdo do mesmo fica mais oculto, ou antes suposto e não tão discutido
(Sacristán, 2007). Essa constatação do autor parece pertinente quando se refere à
proposta de uma disciplina de cursos das áreas de exatas e engenharias. Afim de
atender a produção e o sistema mercadológico as disciplinas das áreas de exatas
e das engenharias focam na produção de um produto. Sem entrar no mérito de
qualidade, visualizamos que essa é apenas uma das realidades no ensino.
A outra questão, que buscava verificar se os professores entendiam que a
ferramenta possibilitava a criação de materiais para os estudantes, trouxe os
resultados apresentados no gráfico 6.
Gráfico 6: Resultados quanto à possibilidade de criação de materiais direcionados aos alunos.
Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
136
No questionário inicial de definição perfil do professor enviado dias antes dos
testes com a ferramenta, demonstraram que 100% dos professores pensa nos seus
alunos antes de montar uma aula. Em consonância com essa afirmação, a atual
pergunta de avaliação da ferramenta é positiva visto que praticamente todas as
respostas (19 de 20) entenderam que a ferramenta pode ser utilizada para criar e
direcionar os materiais desenvolvidos para os alunos. Porém, não podemos deixar
de levar em consideração que o foco e pensamento do professor voltado à
construção de um plano de aula que melhor apresente o conteúdo para o seu
público-alvo, pode corroborar para que a utilização da ferramenta seja positiva e
atenda os objetivos. Apesar de existirem discussões e concepções sobre processos
de aprendizagem é sabido e acordado que as aprendizagens dependem das
características e singularidades de cada um dos aprendizes; correspondem, em
grande parte, às experiências que cada um viveu desde o nascimento; a forma
como se aprende e o ritmo da aprendizagem variam segundo as capacidades,
motivações e interesse de cada um. Enfim, a maneira e a forma como se produzem
as aprendizagens são o resultado de processos singulares e pessoais (Zabala,
1998). A questão seguinte avaliou a percepção dos professores quanto à
possibilidade de disponibilizar os materiais criados para seus alunos através da web
(gráfico 7).
137
Gráfico 7: Resultados quanto à possibilidade de disponibilização de materiais na web. Fonte:
Elaborado pela autora, 2015.
Na avaliação da ferramenta demonstrou-se a partir do questionário que a
ferramenta foi bem-sucedida na intenção de facilitar o acesso dos alunos. Para
facilitar o desenvolvimento dos materiais, o plano de aula produzido pelo professor
tem uma versão final direcionada ao aluno. Esse sistema de compartilhamento do
material produzido pela ferramenta é simples, podendo ser salvo como uma página
HTML. O registro do endereço pode ser copiado tanto para o Moodle como para as
redes sociais (Facebook ou Twitter). Para exemplificar algumas figuras 43, 44 e 45
dos planos de aula produzidos pelos professores H, L e P na versão de Aluno que
pode ser compartilhada através do envio do seu endereço (Link).
138
Figura 43: Plano de aula versão Aluno, criado pelo professor H. Fonte: Elaborado pela autora,
2015.
139
Figura 44: Plano de aula versão Aluno, criado pelo professor L. Fonte: Elaborado pela autora,
2015.
140
Figura 45: Plano de aula versão Aluno, criado pelo professor L. Fonte: Elaborado pela autora,
2015.
Em tempos de informações instantâneas é importante que esse meio seja
um facilitador na geração rápida e fácil dos materiais que o professor produz para
sua aula e que seu aluno tenha acesso fácil e instantâneo a ele.
141
5.3.4 Categoria 4: Satisfação subjetiva
As seguintes perguntas do questionário, estão relacionadas ao aspecto de
Satisfação subjetiva. Os resultados referentes a cada uma das perguntas do
questionário são apresentados a seguir, e são feitas considerações gerais sobre o
conjunto de respostas obtidas a partir da análise dos questionários, das
observações e do plano de aula.
Gráfico 8: Resultados do questionário referentes à satisfação dos professores com a
ferramenta. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Segundo o gráfico 8, a maioria dos professores ficaram satisfeitos com a
ferramenta, isso corrobora com as informações analisadas no decorrer desse
trabalho. A avaliação da satisfação do usuário faz parte de uma avaliação mais
abrangente conhecida como avaliação de usabilidade que busca identificar a
qualidade de uso, ou seja, a capacidade de uso de um produto específico por
usuários específicos, e está ligada a facilidade de uso, aprendizado, memorização,
exigindo pouco esforço do usuário (FERNANDES e PASCHOARELLI, 2002). Para
ou autores, nos testes de usabilidade a participação do usuário é efetiva, por isso
são aplicáveis testes de questionamentos que consistem em fazer perguntas
142
diretamente aos usuários da interface, a fim de descobrir se esta atende as
necessidades e anseios dos mesmos. Com isso foram aplicados questionários de
graus de satisfação, com dados quantitativos e também foram feitas observações
com dados qualitativos através de comentários feitos pelos professores.
A segunda questão apresentada para os professores, com relação a sua
satisfação no uso da ferramenta, buscou avaliar se estes utilizariam a ferramenta
na estruturação de suas aulas (gráfico 9).
Gráfico 9: Resultados do questionário referentes à possível utilização da ferramenta pelos
professores. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Como pode ser observado no gráfico, a maioria dos professores demonstrou
interesse na utilização da Ferramenta como instrumento para criação das suas
aulas. Segue alguns recortes da fala de alguns deles:
Muito útil a ferramenta.
Podemos usar aqui na nossa Instituição? Quero dizer, para novembro temos que
entregar o planejamento do ano de 2016, podemos utilizá-la?
143
“Pra” mim foi uma grata surpresa essa ferramenta.
Vou utilizá-la para elaborar em casa minhas aulas. A escola não utiliza um
sistema, cada professor elabora seu plano.
Ou:
Melhor estrutura quando “tu dá” templates que o professor possa escolher. Que
já foram programados para serem acessíveis. Então “praquele” professor que não
tem intimidade com a programação e com os parâmetros do HTML tem que ter uma
ferramenta simples e acessível.
Professor não quer usar uma ferramenta complicada.
O feedback dos professores foi importante, principalmente pela ênfase em
muitas das falas sobre a necessidade de ferramentas digitais de fácil utilização para
apoio ao trabalho docente. Tais comentários são relevantes para futuros
aprimoramentos e expansão de funcionalidades da ferramenta.
A seguinte questão apresentada aos professores buscou avaliar se eles a
recomendariam a seus colegas (gráfico 10).
144
Gráfico 10: Resultados do questionário referentes à possível recomendação da ferramenta a
colegas. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Nada exige mais responsabilidade do que recomendar algo para outras
pessoas, nessa pesquisa observa-se que todos os professores que ficaram
satisfeitos com a Ferramenta, também a recomendam para seus colegas. Toms e
Taves (2004, p.292) comenta sobre a expectativa de qualidade que seria a
reputação do site junto a seus usuários, em essência, criando expectativas de
interação. Os usuários muitas vezes tomam decisões em frações de segundo sobre
ficar e interagir ou mudar rapidamente para outro site. Essa decisão é baseada na
percepção individual de uma série de fatores do site, sendo que a avaliação da
qualidade que o usuário faz do site interfere em sua reputação. Já Bitner et al. (2000
apud Kuo & Wu, 2012) relatam que usuários insatisfeitos com serviços falhos podem
demonstrar essas insatisfações para outro através do boca-a-boca, impactando na
reputação da companhia. Schaik et al. (2008) identificaram que as características
do sistema influenciam diretamente a qualidade percebida, fazendo com que os
resultados da interação tenham efeitos sobre a percepção subsequente que, por
sua, vez terão efeitos sobre as avaliações.
Nessa pesquisa ficou clara a importância da participação dos professores para
avaliar a qualidade da Ferramenta e da interação com a mesma. Como já
145
informaram Iwaarden et al. (2004), a qualidade é uma área de importância crítica no
desenvolvimento de um produto porque nela estão contidas as expectativas do
usuário e sua motivação na utilização e permanência do produto.
146
5.
CONSIDERAÇÕES DA PESQUISA
Na presente tese, foi proposta a seguinte questão de pesquisa: De que maneira
uma ferramenta de criação de planos de aula pode auxiliar os professores por
meio da recomendação de conteúdos, utilizando critérios de acessibilidade
para sugerir materiais didáticos que atendam à diversidade na educação
superior?
Para respondê-la, foi desenvolvida e avaliada uma ferramenta para criação
de planos de aula junto a um grupo de 20 professores. Para iniciar o
desenvolvimento dessa ferramenta, foram entrevistados alunos com deficiência de
cursos superiores diversos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na
entrevista foram identificados problemas com relação à entrega de materiais
educacionais dos professores a esses alunos, que declararam falta de
conhecimento dos professores com relação a acessibilidade de materiais
educacionais, falta de capacitação dos mesmos e desconhecimento do assunto no
meio. Essa foi a motivação inicial para o desenvolvimento da pesquisa.
A partir daí estudos sobre o tema Plano de aula e produção docente foram
apresentados, trazendo conceitos e discussões sobre planos de aula, materiais
educacionais, ancorados em referencial teórico de autores como Zabala (1998),
Zabalza (2001) e Sacristán (2007), entre outros. Para Zabala (1998) o processo
criação de conteúdos de aprendizagem permeia as intenções educativas e se
dividem a partir do que ele chama de educar para a diversidade. Esse conceito se
define como um fator importante em atender a diversidade de alunos em sala de
aula e suas diversas formas de aprendizado. Para o autor essas intenções são
caracterizadas a partir de concepções construtivistas como modelo de
aprendizagem significativa, zona de desenvolvimento proximal e para ele que são
capazes de atender a diversidade.
147
Estudos como estes foram importantes para o desenvolvimento da
Ferramenta Educa na medida em que, a partir dos conceitos estudados, pensou-se
numa ferramenta com estrutura de plano de aula mais flexível. Definido, portanto, o
primeiro requisito da Ferramenta Educa, partiu-se para a implementação do
segundo e do terceiro requisito, a inserção da funcionalidade de recomendação de
conteúdo e de acessibilidade de conteúdo web. Esses conceitos serviram como
base para a integração da ferramenta de mineração de textos Sobek ao Educa,
ficando como responsável pela extração das informações adicionadas pelos
professores no seu plano de aula. Essas informações extraídas a partir de suas
palavras mais mencionadas serviram como base para a API do Google recomendar
conteúdo da web.
Os estudos desenvolvidos com a ferramenta desenvolvida permitiram concluir
que esta pode apoiar o trabalho do professor na elaboração de planos de aula, por
meio da recomendação e
verificação da acessibilidade dos conteúdos
criados/selecionados para os alunos. Dos 20 professores participantes na pesquisa,
a maior parte se mostrou receptivo à utilização da ferramenta, e demostrou
percepção positiva quanto à capacidade da ferramenta de recomendar conteúdos
adequados e de avaliar a acessibilidade dos materiais.
A partir dos estudos realizados, também foi possível perceber como a ferramenta
despertou nos professores uma maior preocupação na confecção de materiais
acessíveis. A maior parte dos professores, quando sinalizada sobre problemas de
acessibilidade em seus materiais, buscou solucioná-los antes de realizar sua
publicação. Alguns conceitos básicos como uma descrição contextualizada no
endereço do link inserido ou descrever uma imagem, parecem pequenos mas fazem
diferença na hora de disponibilizar esse material aos estudantes. Para os
participantes que já conheciam o tema acessibilidade, a ferramenta apenas reforçou
uma prática de avaliação de acessibilidade que já era habitual para estes
professores. Na medida em que aumenta a incidência das matrículas de pessoas
com deficiência nas escolas regulares, torna-se mais importante que o professor os
148
inclua educacionalmente. Ainda mais importante que isso é a prática de garantir a
manutenção dos mesmos no ambiente escolar. Alguns dos problemas enfrentados,
foram as tecnologias para acessibilidade serem descontinuadas na maioria dos
seus projetos. Percebe-se que são pouco utilizadas e com isso os projetos não são
continuados. Foi o que aconteceu com o AChecker, avaliador automático
incorporado no Educa. Suas atualizações são datadas de 2012, para uma
tecnologia diríamos, que está ultrapassada. Outra dificuldade enfrentada foi a não
participação dos professores convidados para a pesquisa. Foram feitos inúmeros
convites a mais de 50 professores e tivemos um retorno somente desses que
participaram. O que nos leva a crer na falta de comprometimento dos professores
frente a importância da uma pesquisa. Porém, o retorno positivo dessa pesquisa se
deu na identificação da importância do delineamento dos planos de aula e na
mudança de postura do professor frente a visualização de seus alunos no momento
de preparar suas aulas e trabalhar seu conteúdo. Ficou clara nas análises que o
professor que iniciou a preparação de um plano de aula, não foi o mesmo que o
finalizou. Ele percebeu que a partir das mensagens de avaliação de acessibilidade,
ele precisava corrigir e deixar o plano de aula acessível. E todos os professores
finalizaram seu plano de aula somente quando o mesmo estava totalmente
acessível. Crê-se que para o professor que não levava isso em consideração
inicialmente, no seu trabalho final, eles fizeram o fechamento contemplando todos
requisitos e essa mudança de atitude foi importante para o fechamento da pesquisa.
Para responder o problema de pesquisa foram elencados 3 objetivos. Os
seguintes objetivos foram definidos:
1. Desenvolver uma ferramenta de criação de planos de aula
2. Implementar sistema de recomendação de conteúdos e critérios de
acessibilidade
3. Estudar e implementar a ferramenta a partir da visão, perspectiva e
ideia do professor, sujeito da pesquisa.
149
Considera-se que o estudo desenvolvido contemplou os objetivos propostos
nesta pesquisa. Porém, julga-se importante o desenvolvimento de trabalhos futuros
que estendam as funcionalidades da ferramenta implementada, e que possibilitem,
por exemplo, o compartilhamento de aulas entre professores. O aprimoramento do
sistema de recomendação também seria relevante, para que levasse em conta as
opiniões dos professores sobre os materiais utilizados/ranqueados em suas aulas.
A realização de correções de acessibilidade automaticamente pela ferramenta
também faz parte de estudos futuros a partir desta pesquisa. Por isso, consideramse importantes futuras investigações sobre a necessidade e a relevância da
documentação detalhada (vídeos, observações escritas, questionários e tabulação
de dados) para projeto, o livre acesso dos colegas a essa documentação e a
discussão aberta entre instituições.
150
6.
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156
7.
ANEXOS
Anexo 1. Questionário preliminar aplicado
Questionário sobre conhecimentos preliminares em planos de aula
Desde já agradeço sua participação. Após sua identificação, responda as questões informando
se concorda ou não com as afirmações a seguir
*Obrigatório
Sua identificação *
Nome, Instituição que trabalha, Trabalha em que nível de ensino
(Fund.Médio.Técnico,Superior)
Sua área de atuação *
Curso e definição de área: Exatas, Humanas e Biológicas (Saúde)
Alguma experiência em Educação a Distância? *
Sim
Não
Minhas aulas! Planos de Aula
Elaboro planos de aula antes de efetivamente dar as aulas *
Nunca
Quase nunca
Neutro
Frequentemente
Sempre
Comente sua resposta
Utilizo recursos tecnológicos quando preparo minhas aulas com meu plano de aula? *
Nunca
157
Quase nunca
Neutro
Frequentemente
Sempre
Comente sua resposta
Quando preparo meu plano de aula, penso no público que quero atingir?
Nunca
Quase nunca
Neutro
Frequentemente
Sempre
Comente sua resposta
Já tive experiência de ter aluno(s) com deficiência em minha classe?
Nunca
Algumas vezes
Uma vez
Sempre
Não sei (sem laudo)
Conte sua experiência
Acessibilidade
Você está ciente das Recomendações de Acessibilidade para Conteúdos Web?
Suas aulas usam algum recurso que pode dificultar o acesso aos alunos com deficiência?
Como por exemplo animações ou apresentação em Powerpoint com transição automática, etc.
Nunca
Quase nunca
158
Neutro
Frequentemente
Sempre
Comente sua resposta
Você costuma utilizar páginas web, vídeos ou imagens para preparar suas aulas?
Nunca
Quase nunca
Neutro
Frequentemente
Sempre
Comente sua resposta
O que eu considero importante na criação de um plano de aula
A escolha da ferramenta que irei utilizar
O conteúdo rico em informações
Atividades a serem desenvolvidas
Nenhuma das questões mencionadas
Todas as questões mencionadas
Como eu imagino que uma ferramenta de criação de planos de aula seria
Podemos elencar alguns itens importantes: design, funcionalidade, tempo de resposta, meio de
interação, auxílio ou ajuda
159
Anexo 2: Questionário Aplicado –Avaliação
CRIAÇÃO DE PLANOS DE AULA E MATERIAIS EDUCACIONAIS VISANDO INCLUSÃO
Este questionário (2) faz parte da pesquisa de doutorado da aluna Cristiani de Oliveira Dias do
Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação (PPGIE/UFRGS). A tese tem por
objetivo investigar como a ferramenta denominada Educa pode apoiar o processo de criação de
materiais educacionais, mais precisamente planos de aula, de maneira que perceba a
acessibilidade como fator determinante para a inclusão social e digital de seus alunos.
A estrutura sugerida na ferramenta (Objetivos, Dados da aula Conteúdo, Estratégias
e Recursos) proporciona uma melhor organização da minha aula?
Concordo totalmente
Concordo
Não concordo nem discordo
Discordo
Discordo totalmente
A ferramenta permite que sua aula seja compreendida e direcionada aos alunos?
Concordo totalmente
Concordo
Não concordo nem discordo
Discordo
Discordo totalmente
A ferramenta permite que meus alunos tenham fácil acesso pela web aos materiais
de aulas?
Concordo totalmente
Concordo
Não concordo nem discordo
Discordo
Discordo totalmente
A funcionalidade de recomendação oferece alternativas condizentes com os temas
definidos para as minhas aulas?
Concordo totalmente
160
Concordo
Não concordo nem discordo
Discordo
Discordo totalmente
A ferramenta foi capaz de influenciar minha seleção de materiais para as aulas?
Concordo totalmente
Concordo
Não concordo nem discordo
Discordo
Discordo totalmente
A ferramenta foi capaz de recomendar materiais acessíveis?
Concordo totalmente
Concordo
Não concordo nem discordo
Discordo
Discordo totalmente
A ferramenta me auxiliou a tornar os materiais das minhas aulas acessíveis?
Concordo totalmente
Concordo
Não concordo nem discordo
Discordo
Discordo totalmente
Qual seu nível de satisfação com relação à ferramenta?
Muito satisfeito
Satisfeito
Não opino
Pouco satisfeito
Nada satisfeito
Você usaria essa ferramenta para preparar suas aulas?
161
Sim, usaria
Talvez usaria
Não opino
Não usaria
Você recomendaria essa ferramenta a seus colegas professores?
Recomendaria totalmente
Recomendaria
Não opino
Não recomendaria
162