Renúncia Pulsional
Luiz Sérgio Duarte da SILVA
Freud deu forma a uma concepção do homem partido. Até o final do século XIX a psicologia tratava das manifestações da consciência (inteligência, vontade, memória, sentimento, imaginação, moralidade); Freud fala do inconsciente e do seu saber, a psicanálise. Os homens do fim do último século incorporaram a fragmentação do mundo, à sua sensibilidade. A mente que produz formas de enxergar o mundo caótico é ela própria carregada de contradições, ambigüidades e conflitos. O desejo e o inconsciente (mais tarde o id) vieram complicar toda a estrutura psíquica que durante o século XIX foi a base dos idealismos. As antecipações barroca e romântica não haviam conseguido abalar o império da razão. Linearidade, perfeição e sentido eram tidos como marca da natureza e da história. O pensamento de Freud veio afirmar a incerteza: a cada momento o homem executa lances fundamentais em uma partida que não tem sentido nem fim, a não ser aqueles que ele próprio lhes atribuir. A razão não é um dado é uma conquista.
Na “Interpretação dos sonhos” Freud descobriu o papel do desejo, da censura e iniciou a ciência do inconsciente e do seu funcionamento. Interpretação é diferente de explicação, nesta já existe uma referência anterior, naquela só possibilidades lógicas:
Nosso procedimento consiste em abandonar todas as representações-meta que normalmente dirigem nossas reflexões, focalizar nossa atenção num único elemento do sonho e, então, tomar nota de todos os pensamentos involuntários que possam ocorrer-nos a propósito dele. Tomamos então a parte seguinte do sonho e repetimos o processo com ela. Deixamo-nos impelir por nosso pensamento, qualquer que sejam a direção em que nos conduzam, e assim vagamos a esmo de uma coisa para outra. Mas nutrimos a firme crença de que, no final, sem qualquer intervenção ativa de nossa parte, chegamos aos pensamentos oníricos de que se originou o sonho. (FREUD, 1900, 483)
O inconsciente é como a escrita sagrada: cada elemento de texto é essencial, nenhum detalhe é casual. A psicanálise não admite a casualidade (a não ser nos seus limites). Existe um determinismo dos eventos psíquicos, não há neles nada de arbitrário. O sonho (como o sintoma e os erros) é uma estrutura disfarçada. O produto do trabalho do sonho é a distorção. Cada elemento é uma pista. O conteúdo latente (aquilo que está por traz dos sonhos). A forma do sonho é determinada por duas forças psíquicas: uma constrói o deseja a outra o distorce (FREUD, 1900, 159) Existe uma dissimulação, uma distorção deliberada. O oposto é criado a cada momento e visa atenuar e esconder um sentimento contra o qual existe resistência. Os sonhos, como todas as estruturas psicopatológicas, tem mais de um sentido: às vezes limitação, às vezes dissimulação. De qualquer forma, sempre a realização distorcida de um desejo: se não um, outro; é só procurar.
O sonho manifesto é o produto do trabalho do sonho. O material sobre o qual esse trabalho (de distorção) é realizado são os acontecimentos do dia a dia (que como instigadores oníricos nunca são irrelevantes), o material infantil (que está na base de um conjunto de desejos superpostos), e os estímulos corporais (sensações incorporadas e disfarçadas para atender ao imperativo do desejo de dormir). As fontes dos sonhos podem ser: uma experiência recente e psiquicamente significativa diretamente representada no sonho, uma combinação de experiências recentes e significativas, uma experiência contemporânea irrelevante combinada com experiências recentes e significativas, ou, por último, experiências significativas internas que são invariavelmente representadas por menção a impressões recentes.
A censura onírica é a responsável pela resistência. Os pensamentos oníricos, produtos dos desejos reprimidos, são transvalorizados (e distorcidos) para que possam ganhar acesso ao sonho. A distorção obedece a quatro regras de expressão: a) condensação – figuras coletivas que concentram, por composição, várias referências; determinação múltipla de elementos do conteúdo do sonho;
Não só os elementos de um sonho são repentinamente determinados pelos pensamentos do sonho como também cada pensamento do sonho é representado neste último por vários elementos. As vias associativas levam de um elemento do sonho para vários pensamentos do sonho e de um pensamento do sonho e de um pensamento do sonho para vários elementos do sonho. (...) o sonho é construído por toda a massa de elementos de pensamento do sonho, submetida a uma espécie de processo manipulativo em que os elementos que tem suportes mais numerosos e mais fortes adquirem o direito de acesso ao conteúdo do sonho. (FREUD, 1900, 276);
b) deslocamento –
... no trabalho do sonho está em ação uma força psíquica que, por um lado, despoja os elementos com alto valor psíquico de sua identidade, e, por outro lado, por meio da subredeterminação, cria, a partir de elementos de baixo valor psíquico, novos valores, que depois penetram no conteúdo do sonho. Assim sendo, ocorrem uma transferência e deslocamento de intensidade psíquica no processo de formação do sonho, e é como resultado que se verifica a diferença entre o texto do conteúdo do sonho e o dos pensamentos do sonho. (FREUD, 1900, 292);
c) consideração pela representabilidade em imagens visuais (simbolização):
Dentre os vários pensamentos acessórios ligados aos pensamentos oníricos essenciais, dá-se preferência àqueles que admitem representação visual; e o trabalho do sonho não se furta ao esforço de remodelar pensamentos inadaptáveis numa nova forma verbal - mesmo numa que seja menos casual -, contanto que esse processo facilite a representação e, desse modo, alivie a pressão psicológica causada pela construção de pensar. (FREUD, 1900, 327);
d) elaboração (ou revisão) secundária – a ação da censura não se faz apenas por limitações e omissões, faz-se também por intercalações e acréscimos. Os sonhos de aparência lógica são submetidos a uma elaboração, aparentada ao pensamento de vigília, dentro do próprio sonho. Funciona fornecendo a esse último uma fachada racional. Esse rearranjo e composição novos são análogos a uma fantasia, a um devaneio.
O sonhar é uma regressão em duplo sentido. O sonhador revive os desejos da sua infância e ao mesmo tempo, sua mente volta a trabalhar com os métodos de expressão que dispunha nessa época. (FREUD, 1900, 502) Todo sonho possui um sentido: a realização de um desejo. Mas os desejos realmente importantes são os que estão reprimidos no inconsciente. A atualização dos desejos é a possibilidade pelo inconsciente. Um desejo inconsciente só se torna operativo se encontrar um seu paralelo no inconsciente. O desejo que é representado no sonho tem que ser, em última instancia um desejo infantil. Os desejos reprimidos (de origem infantil) são fundamentais para o trabalho do sonho: o deslocamento e a condensação são formas primárias do pensamento, só a infância e o inconsciente pensam assim. É no inconsciente que estão preservados os métodos de expressão e as pulsões originais (para Freud, não só do indivíduo, mas da espécie inteira) que nos permitem o conhecimento do que é psiquicamente inato. O reservatório de desejos primitivos que é inconsciente, durante o sono (quando a censura está relaxada), é acessado regressivamente por outros desejos originados no sistema pré-consciente/consciente ou então emergem dele próprio despertados por estímulos recentes externos e, principalmente, internos (o que é fundamental, para alguém, como Freud, que quer afirmar a independência dos processos mentais).
O sonho, esforço de preservação do sono, só se mantém se consegue estabelecer as mínimas condições de diálogo entre consciência e inconsciência. Mas existe um elemento determinante: os restos diurnos pré-conscientes (o inconcluido, o irresolvido, o rejeitado, o despertado, o indiferente) tem que buscar reforço e submetem-se à dinâmica das hesitações inconscientes ao longo de seus “tortuosos caminhos”. (FREUD, 1900, 507) As formações de compromisso são o resultado dessa inter-relação com determinante: o reprimido ganha acesso à consciência, mas para isso tem que pagar o preço da sua deformação. A censura, transformando os processos e conteúdos, é quem controla esses fluxos. A censura é a guardiã da saúde mental. Se não limitamos, os processos infantis e primitivos da mente, estes ao dominá-la, tornariam-na incapaz de satisfazer nossas necessidades em relação ao mundo exterior. O sonho é um ressurgimento desses processos, mas se na vida de vigília eles se tornam ativos e atuais (por exemplo, na alucinação) o que temos é a psicose.
A doença não é apenas abolição de elementos que a sociedade tornou possíveis e sua substituição por formas arcaicas de comportamento (ao diálogo substitui o monólogo; à significação integrada e coerente do mundo substitui o universo disperso das significações por si mesmas; à verdade intersubjetivamente válida substitui a projeção de desejos e temores em fantasmagorias geradoras da alucinação e do delírio). A doença é também positivamente, criação, realce de estruturas e esquemas emocionais inconscientes: a paranóia como exagero dos comportamentos costumeiros da personalidade; as explosões emocionais nas quais o melancólico afirma seu desespero; e na esquizofrenia “... as esteriotipias, as alucinações, os esquemas verbais cristalizados em sílabas incoerentes, e bruscas irrupções afetivas atravessando como meteoros a inércia demente”. (FOUCAULT, 1968, 35)
Entretanto, o papel repressor da censura possui outro aspecto importante. Como defesa de “impulsos repulsivos” o ato de repressão (recalque é repressão sem sublimação) exige um esforço permanente do eu contra a insistência desses impulsos em retornar: comprometido nessa tarefa, empobrece-se. Pior, mesmo assim os impulsos podem encontrar caminhos indiretos para sua descarga. Surgem os sintomas neuróticos. Mais tarde, o tema será desenvolvido.
No início estava o desejo. Os processos primários (a energia psíquica sob a forma livre/móvel) foram sendo inibidos e suplantados pelos processos secundários (energia psíquica ligada/quiescente). A repressão que é fundamental nesse processo. A Segunda tópica freudiana mantém essa perspectiva em que a renúncia pulsional é uma conquista da humanidade. O superego é o herdeiro do conjunto do Complexo de Édipo, ou seja, mesmo como instância repressora, o superego é expressão das mais poderosas pulsões: aquelas que nos marcaram nos primeiros anos e nos permitiram a construção de um aparelho psíquico minimamente articulado. Ao substituirmos libido objetal (amor pela mãe) por libido narcísica (identificação com o pai e a interiorização da sua autoridade) construímos o nosso próprio ego, sublimando tendências do id. Dessexualizando essas tendências e fornecendo-lhes um novo objeto (o próprio ego) a identificação significa sobrevivência. Submetendo-se ao imperativo das energias primárias (exigência de fluxo), o ego constrói um espaço seu. O ego é construção cuja estrutura e telhado é pura pulsão. Com o tempo é que consegue fortalecer-se e resistir às renovadas arremetidas do id. No inicio era o id, o amontoado de desejo; por influências externas surge o ego e deste último, por força da ação do id, o superego. Para Freud, uma parte do id pode ser herdade e assim, resíduos das existências de incontáveis egos, que deixaram seus precipitados através do si, no id, servem para formar o superego. A tese da filogênese mereceria outro texto que discutisse Jung e Roheim, mas isso deve ser feito em outro lugar e em outro momento.
Inconsciente e renuncia pulsional envolvem uma complicação. Freud originalmente acreditava poder solucionar os problemas do funcionamento da mente através da dicotomia inconsciente/consciente. Acontece que na evolução das suas pesquisas (caso privilegiado da construção de uma teoria que se aperfeiçoa por retomar seus temas, criticando-os ininterruptamente por mais de cinqüenta anos) essa dicotomia foi substituída por um esquema mais complicado em que as fronteiras já não são tão seguras. A tópica de “O ego e o id” (23), formula que o inconsciente está presente no próprio ego (através das resistências) e, mais que isso, que o próprio ego é parte que se diferenciou do id, por força das influências do mundo externo; e que essa diferenciação só possui continuidade na medida em que o ego consegue criar uma instância que, subproduto seu, possa ao mesmo tempo controlar-lhe as ações e fornecer-lhe limites. Mas isso só é possível na medida em que o ego subjuga-se ao id (seu senhor) e agindo assim consegue, oferecendo-se como substituto do objeto, acalmar as pulsões e, sublimando, estabelecer relações positivas com o mundo exterior. Renúncia pulsional coaduna-se com o conceito de id e não com o de inconsciente. Freud quis garantir a validade do segundo conceito (desenvolvimento na “interpretação dos sonhos”) como único indicador dos caminhos pelos quais andar nas investigações sobre o funcionamento da mente. Isso é conseguido de uma dupla forma: o inconsciente continua a desempenhar seu papel ampliado e determinante (no início tudo era inconsciente, o caos das pulsões), além disso, ele está em todo lugar e as pequenas vitórias do homem são apenas temporárias, pois tais vitórias só são conseguidas por processos que apenas desviam a direção das pulsões e estão, portanto, longe de eliminá-las ou, quiçá, domesticá-las.
O sonho é uma fantasia que trabalha em prol da manutenção do sono, essa é a sua única utilidade. O sonho não é uma reflexão razoável: pertence àquele conjunto das atividades mentais que perseguem em rendimento imediato de prazer. O fato de recordarmos alguns sonhos é uma concessão do inconsciente (aqui id) ao ego, é uma ajuda à tarefa de remoção das ameaças de perturbação do sono. Se as coisas vão bem, preferível para o ego é não Omar conhecimento do que foi sonhado. São as ameaças ao sono que nos permitem o acesso ao recalcado e tentar desfazer suas deformações para entender o desejo que clama por realização. As pistas são dadas pela resistência (o paciente que se opõe ao acesso ao seu inconsciente). No momento em que, através da análise das deformações, obtemos acesso ao conteúdo do sonho (pensamentos pré-conscientes e impulsos desejos reprimidos), descobrimos a censura (deformações, ansiedade, substituição, punição) a que foram submetidos os pensamentos oníricos para poderem ter acesso ao conteúdo manifesto. Em poucos casos a censura relaxa-se e o sonho é pura e explícita satisfação de impulsos desejosos imorais (egoístas, sádicos, pervertidos ou incestuosos). Mas sonhos desse tipo são exceções: os criminosos mascarados são mais comuns. De qualquer forma somos completamente responsáveis pelos nossos impulsos. A novidade meta-psicológica da segunda tópica é assentar o ego sobre o id: “Esse ego desenvolvido a partir do id, contudo forma com ele uma unidade biológica isolada, é apenas uma parte periférica especialmente modificada dele, e está sujeito às influências e obedece às sugestões ambas originarias do id”. (FREUD, 1925, 166)
A separação entre inconsciente e consciente era muito mais marcada, na “Interpretação dos sonhos”. Porém mesmo aí já esteja presente a concepção da sobre determinação dos processos primários:
... os processos primários acham-se presentes no aparelho anímico desde o princípio, ao passo que somente no decorrer da vida é que os processos secundários se desdobram e vêm inibir e sobrepor-se aos primários. (FREUD, 1900, 546)
A consciência é uma formação contra o mal percebido no id. A ambigüidade está também aqui. A interpretação dos sonhos provou não só a natureza má dos homens, mas também a sua natureza moral (senão, porque a deformação?). Além disso, só a hipocrisia, inibição ou narcisismo ético não satisfeito.
A civilização foi construída a partir de conquistas do território da agressividade. A soma das vitórias de Eros (a pulsão integradora), porém, está sob constante ameaça de Thanatos (a pulsão redutora). Thanatos não é apenas exterioridade agressiva, possui também um caráter interno como autodestrutividade. Os fenômenos sado-masoquistas (onde a simetria e oposição das tendências se completem) e o conceito de narcisismo (quando se estabelece a contradição em que o ego, lugar das pulsões de auto- preservação do indivíduo, fica ocupado pela energia das pulsões objetais) comprovam que Eros e Thanatos nunca aparecem separadamente, sendo constituintes de toda humanidade.
Civilização é renuncia pulsional. É a culpa que possibilita tal renuncia. A fonte da culpa é o superego, instituidor de uma permanente tensão interna capaz de forçar o desenvolvimento do indivíduo (e da sociedade, no trabalho das gerações) sob o preço de uma permanente infelicidade. A severidade do superego é resultado de uma inversão: toda a agressão contra a autoridade externa, quando reprimida, volta-se contra o ego. A culpa é o subproduto do banquete totêmico: a morte daquele é ao mesmo tempo odiado e amado, transforma-se em fonte de remorso e identificação.
A agressividade é constituinte da humanidade. Com exceção do relacionamento da mãe com seu filho homem toda relação de afeto e amor entre pessoas possui a sua marca. A aproximação de uns exige o afastamento de outros. O conforto da intimidade só é compreensível como contraponto de antipatias e hostilidades. Grupos próximos tendem a extinguir-se. O conceito é o de narcisismo das pequenas diferenças. (FREUD, 1930, 74)
Os hebreus possuem elevada auto-estima e um marcado otimismo porque acreditam ser um povo escolhido por Deus. O etnocentrismo não é monopólio dos judeus, entretanto, possui entre eles uma força especial fornecida pela religião mosaica. Nesse sentido foi o homem Moisés que criou os judeus. O grande homem exerce influência devido a sua personalidade e pela idéia que defende. A Personalidade é mais importante: a massa anseia pela figura do pai, quer uma autoridade que a dirija e puna. Ao pai deve-se admirar, confiar e temer, como ao Deus do Judaísmo (o deus de Moisés).
O monoteísmo não é privilégio dos judeus, o que é específico desse povo é a continuidade dessa tradição. A religião mosaica possui um preceito básico: a proibição de se fabricar a imagem do deus. Ao afastar a magia, e sua tendência a preservar a onipotência de pensamentos, a religião de Moisés representou um ganho em intelectualização. A desmaterialização do deus é verdadeira renuncia pulsional: aos judeus rendeu a proeminência do trabalho intelectual através de dois mil anos.
Mesmo diante da dispersão e dos infortúnios de povo pária os judeus mantiveram elevada a autoconsideração. O orgulho de povo escolhido de um deus completamente abstrato e onipotente garantiu-lhes a ação da renúncia pulsional oriunda de forças internas. Nesses casos a conseqüência é um rendimento de prazer. O ego apreensivo e dependente sente a aprovação da instância observadora e crítica como liberação e satisfação. O ego ao sentir-se merecedor do amor do superego torna-se narcisicamente orgulhoso. A religião (como renúncia pulsional) gerou um ideal de perfeição ética alimentado por sentimentos narcisistas. Isto é claro mesmo no totemismo: a adoração do totem, a correlata proibição de matá-lo e o tabu da exogamia são os primórdios da ordem moral e social.
Por outro lado, a repressão também tem como conseqüência a neurose. O ego recusa satisfação a uma determinada exigência pulsional, considerada perigosa, reprimindo-a. O impulso é reprimido e esquecido durante o período de latência (o adiamento do desenvolvimento da vida sexual, exclusivo dos seres humanos). Porém o indivíduo permanece fixado nessas experiências (impressões de natureza sexual, lidas como agressividade). O neurótico tentará reviver esses traumas (ansioso por punição), ao mesmo tempo, desenvolve mecanismos de defesa (evitações e fobias) na tentativa de manter o material no seu estado de esquecido e não repetido. A solução é o encontro de uma saída alternativa, um novo caminho para a descarga da energia pulsional, uma satisfação substitutiva, já que o antigo caminho está barrado pela chamada cicatriz da repressão. O reprimido retorna sob a forma de sintoma. (FREUD, 1925b, 41)
O caráter do neurótico é marcado pelas reações à repressão de uma pulsão. Seu ego fica restringido pelas satisfações substitutivas que lhe causam sofrimento. Compulsivamente, ou seja, intensa e independentemente de outros fatores que não esses de natureza psíquica, contrapõem o neurótico ao mundo externo, inibem a sua vida tornando-a impossível. (FREUD, 1939, 90-96)
A civilização requer a repressão. Entendida como censura dos desejos inconscientes na primeira tópica, ou como renúncia pulsional na segunda, trata-se de um equilíbrio precário entre duas possibilidades. Repressão de menos: barbárie, repressão de mais: psicose. A psicanálise localizou esses limites e incorporou-os ao conhecimento. Mas existe uma escolha diante daquele que passa a saber. A infelicidade deve ser suportada, o mal deve ser evitado. (FREUD, 1936, 122)
BIBLIOGRAFIA
CHOEN, Ira H. Ideology and inconsciousness: Reich, Freud and Mar. New York, NY University Press, 1982.
ENDLEMAN, Robert. Psyche and society: explorations in psychoanalytic sociology. New York, Columbia University Press, 1981.
Textos de Freud:
Casos clínicos (1893 – 95) Vol. II da Edição Estandart.
A interpretação dos Sonhos 2 vol. IV e V.
A psicopatologia da vida cotidiana (1901) vol. VI.
Totém e tabu (1913) vol. XIII.
A história do movimento psicanalítico vol. XIV.
O caso de Schreber (1911) vol. XII.
Além do principio de prazer (1920) vol.XVIII.
O ego e o id (1923) vol. XIX.
Algumas notas adicionais sobre a interpretação dos sonhos como um todo (1925b).
Um estudo autobiográfico (1925b).
Entrevista (1926).
O futuro de uma ilusão (1972).
Moisés e o monoteísmo (1929).
FOULCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo, Martins Fontes, 1981.
GAY, Peter. Freud para historiadores. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989.
HABERMAS, Jürgen. Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro, Zahar, 1982.
LAPLANCHE, Jean. Vocabulário da psicanálise. São Paulo, Martins Fontes, 1981.
RIEFF, Philip. A cultura no fim do milênio: alguns traços do amanhã. Mimeografado.
___________. History, psychoanalysis, and the social sciences. Ethics (1925), vol. 63,p.107 – 120.
ROBINSON, Paul. The Freudian left: Wilhelm Reich, Geza Roheim, Herbert Marcuse. Ithaca, Cornell University Press, 1990.
ROUANET, Sérgio. O Édipo e o anjo: itinerários freudianos em Walter Benjamin. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1990.
SOUZA, Paulo César. Sigmund Freud e o Gabinete do Dr. Lacan. São Paulo, Brasiliense, 1989. Entrevista de Freud (1926).