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Capítulo 4
Mercado de capitais
As fontes de recursos necessários aos investimentos de uma empresa podem ser obtidas de diversas formas no sistema financeiro.
Empréstimos e financiamentos, disponíveis no mercado de crédito, têm
como contrapartida a necessidade de apresentação de garantias por
parte dos tomadores de recursos – o que limita o potencial de recursos
à disposição de uma companhia.
Em algumas situações, como nos investimentos de longo prazo, novas instalações ou de aquisição de um concorrente, o volume de recursos requerido por uma empresa é superior ao disponível em linhas
convencionais de crédito de instituições financeiras.
Desse modo, uma das soluções possíveis para as empresas é acessar o mercado de capitais, que é um segmento do sistema financeiro
nacional no qual as empresas constituídas como sociedades anônimas
podem obter recursos financeiros mediante a emissão de títulos representativos de dívidas ou de participação societária.
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Neste capítulo, o objetivo é apresentar como funciona o mercado de
capitais e descrever sua importância para as empresas e os investidores.
1 Mercado de capitais: definição e sua
importância
Há várias alternativas para captação de recursos por uma empresa.
De forma geral, podemos dividi-las em duas categorias.
A primeira categoria é dada pelas operações financeiras de crédito
obtidas com as instituições financeiras.
Empréstimos e financiamentos são formas de captar recursos via
mercado de crédito. A obtenção se dá com a empresa apresentando
garantias às instituições financeiras, que, por sua vez, disponibilizam
linhas de crédito a partir de recursos captados de poupadores. Estes
têm como contrapartida ativos financeiros emitidos pelas instituições.
Dessa forma, a instituição financeira se interpõe na relação entre o poupador e a empresa. Ela assume o risco da empresa tomadora, ou seja,
em caso de inadimplência, a instituição arca com o prejuízo, pois o poupador não direcionou seus recursos diretamente à empresa, e sim para
a instituição.
A segunda categoria é formada por operações de emissão primária
de títulos, ou valores mobiliários, pela empresa no mercado de capitais.
O mercado de capitais é um segmento no qual há, de um lado, as
empresas em busca de recursos financeiros de médio e longo prazos
e, de outro, poupadores aplicando seus recursos de forma direta nos
títulos emitidos pelas empresas.
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Mercados de créditos e de capitais
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Os títulos mais comuns emitidos pelas empresas são as obrigações,
como as debêntures e as ações ordinárias ou preferenciais. O mercado
de capitais tem como órgão regulador no Brasil a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM). O papel das instituições financeiras é disponibilizar
(distribuir/vender) os títulos aos potenciais investidores.
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Nesse caso, as instituições financeiras assumem o papel de distribuir o título da empresa junto aos poupadores e, assim, viabilizar a captação. A remuneração das instituições decorre do pagamento de comissões pela empresa de acordo com o volume de recursos obtidos junto
aos poupadores.
No Brasil, todo o processo de emissão de títulos é regulamentado e
fiscalizado pela CVM (2003).
A etapa do processo de emissão de títulos por empresas é definida
pela instrução normativa no 400 da CVM (2003).
De forma resumida, podemos descrever o procedimento de emissão
usando o esquema a seguir:
Figura 1 – Procedimento de emissão de valores mobiliários
CVM
Mercado
de capitais
Empresa
1
2
4
Instituição
financeira
Poupadores
3
O mercado de capitais é importante no desenvolvimento da economia por estimular a canalização e a participação de poupança em investimentos de natureza produtiva. Isso ocorre porque, ao adquirir um valor
mobiliário (ação ou obrigação), o poupador direciona recursos para a
empresa e viabiliza investimentos de médio e longo prazos, colaborando para o crescimento da economia.
Mercado de capitais
57
As ações são valores mobiliários representativos de participação em
uma sociedade anônima. Por definição, segundo Pinheiro (2014, p. 111):
As ações são títulos de participação negociáveis, que representam parte do capital social de uma sociedade econômica, que
confere ao seu possuidor o direito de participação nos resultados
da mesma.
Desse modo, o proprietário de ações é um sócio da empresa, visto
que seus recursos compõem o patrimônio líquido dela.
As ações emitidas por uma empresa podem ser ordinárias e preferenciais. Na tabela a seguir, observamos as principais características dos
tipos de ações.
Tabela 1 – Características das ações ordinárias e preferenciais
CARACTERÍSTICA\TIPO DE AÇÃO
ORDINÁRIAS
PREFERENCIAIS
Direito de voto (voz de gestão)
Sim
Não
Subordinada, quando
Distribuição de resultados
existirem, as ações
preferenciais
Composição máxima no capital
social da CIA
1/3
Preferencial em relação às
ações ordinárias
2/3
Fonte: Adaptado de Revista Capital Aberto (2006).
Assim, o capital social de uma sociedade por ações pode ser constituído de duas formas. A primeira, apenas com ações ordinárias representando o capital social e a segunda com parte das ações ordinárias e
parte preferenciais. Nesse segundo tipo de composição, os acionistas
proprietários de ações preferenciais financiam a empresa, na medida
em que as ações preferenciais renunciam ao direito ao voto na administração da empresa (voz de gestão) em detrimento de receber uma
parcela maior dos resultados distribuídos.
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Mercados de créditos e de capitais
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2 Mercado acionário
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Com base na definição de ações como um valor mobiliário, podemos
descrever como funciona o mercado acionário.
2.1 Definição e características
A circulação das ações, caracterizada pelas negociações diárias nas
bolsas de valores, é precedida de um processo no qual as empresas
fazem a emissão pública de seus papéis. Esse processo é conhecido
como colocação primária de ações. Encerrada a colocação primária
das ações, os investidores podem negociar os papéis, registrados em
bolsas de valores, nos pregões diários. Assim acontecem as operações
do chamado mercado acionário ou mercado secundário.
As bolsas de valores, enquanto entidades ou empresas, oferecem
um ambiente apropriado à admissão de negociações com ações. As
emissões primárias de ações permitem que investidores adquiram
ações de determinada empresa. Posteriormente, esses investidores
podem negociá-las no pregão – que é uma sessão contínua de negociação simultânea de todas as ações registradas por uma bolsa de valores. Por exemplo, na Bolsa de Valores de São Paulo, atualmente B3
S.A., existem 343 empresas listadas, ou seja, são 343 companhias com
ações admitidas a negociação no pregão, que acontece diariamente em
uma sessão contínua, sem interrupção, das 10 às 17 horas.
As negociações com ações nas bolsas de valores são consideradas
secundárias, pois nesse caso apenas o estoque de ações em circulação é negociado entre os investidores. Nesse sentido, a formação das
cotações ou o preço das ações ocorre conforme a oferta e procura por
elas durante o pregão. Diversos fatores influenciam a oferta e demanda
pelas ações – podemos dividi-los em fatores internos e externos. Os
fatores internos estão associados ao comportamento e às expectativas
dos negócios da empresa, enquanto os externos, ao contexto macroeconômico em que opera a empresa.
Mercado de capitais
59
O valor de mercado de uma companhia é obtido multiplicando-se
a quantidade total de ações da empresa, representada em seu capital
social pela respectiva cotação. Por exemplo, em 30 de maio de 2018, o
Banco do Brasil possuía 2.865.417.020 (dois bilhões, oitocentos e sessenta e cinco milhões, quatrocentos e dezessete mil e vinte) de ações
ordinárias representando seu capital social. Considerando a cotação
de R$ 30,37/ação, no encerramento do pregão dessa data o valor de
mercado estimado para o Banco do Brasil era de R$ 87.022.714.897,40
(oitenta e sete bilhões, vinte e dois milhões, setecentos e catorze mil,
oitocentos e noventa e sete reais e quarenta centavos).
Com relação ao ambiente de negociação, o mercado acionário atualmente desenvolve suas negociações em plataformas eletrônicas de
negociação. As bolsas de valores desenvolveram sistemas em que as
ofertas de compra e venda de ações admitidas (listadas) para negociação são inseridas em terminais de computadores dos participantes do
mercado. As ofertas são colocadas em ordem de entrada no sistema
e a informação dos negócios realizados é atualizada em tempo real. O
livro de ofertas, como é conhecido o quadro com as ofertas de compra
e venda de uma determinada ação, contém as seguintes informações:
I. Cotação do último negócio realizado, quantidade e horário da
operação.
II. As ofertas de compra organizadas em ordem decrescente de preço (do maior para o menor) e suas respectivas quantidades.
III. As ofertas de venda organizadas em ordem crescente de preço
(do menor para o maior) e suas respectivas quantidades.
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Os negócios realizados no pregão representam apenas a troca de titularidade das ações, ou seja, ao negociar uma ação no pregão, um investidor vende e outro compra os papéis, trocando-se assim, a propriedade da
ação. Não há, nesse caso, qualquer tipo de ingresso ou saída de recursos
das empresas. A precificação dada pela negociação apenas confere a
possibilidade de avaliar-se a estimativa de valor de mercado da empresa.
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A tabela a seguir mostra a estrutura de um livro de ofertas.
Tabela 2 – Estrutura de informações de um livro de ofertas dos sistemas de negociação de ações
EMPRESA
Último nég.
R$ 30,00
BANCO DO BRASIL – ON
600 ações
01/06/2018
OFERTAS DE COMPRA
14:35
OFERTAS DE VENDA
PREÇO
QUANTIDADE
CORRETORA
PREÇO
QUANTIDADE
CORRETORA
R$ 29,80
100
Alfa
R$ 30,10
800
Iota
R$ 29,70
2.100
Beta
R$ 30,15
700
Lambda
R$ 29,60
1.200
Gama
R$ 30,16
1.500
Omicron
R$ 29,00
700
Zeta
R$ 31,00
200
Alfa
Fonte: Adaptado de Book de Ofertas ([s. d.]).
As negociações são divulgadas pela Bolsa de Valores de duas formas. A primeira é direta aos participantes do mercado, com acesso a
terminais de negociação ligados ao computador central da Bolsa de
Valores. A segunda forma de divulgação é por meio de vendors, empresas de mídia financeira autorizadas pelas bolsas a difundir as informações ao público geral (assinantes de serviços e outros grupos de mídia).
3 Proventos e aquisição de ações: dividendos,
juros sobre capital próprio, bonificação,
desdobramento, grupamento e subscrição de
novas ações
O titular de ações, sejam elas ordinárias ou preferenciais, tem garantido direitos representados por proventos. De forma geral, os proventos
têm por objetivo:
I. remunerar os acionistas (dividendos e juros sobre o capital
próprio);
Mercado de capitais
61
bramento e grupamento de ações);
III. garantir a possibilidade de aumento de participação societária
nos casos de captação de novos recursos (direito de subscrição).
Todos os proventos são propostos e aprovados em assembleias
gerais de acionistas ou pelo conselho de administração da empresa.
3.1 Dividendos e Juros sobre Capital Próprio
Os dividendos são a parcela do lucro líquido distribuída aos acionistas. Assim, se uma empresa apurou R$ 100 milhões de lucro líquido nas demonstrações financeiras de um determinado ano e decide
distribuir 30% desse valor na forma de dividendos, teremos um dividendo total de R$ 30 milhões. Supondo um capital social representado por 7.500.000 ações ordinárias, o dividendo por ação será de
R$ 4,00/ação (R$ 30 milhões/7.500.000).
Os Juros sobre o Capital Próprio (JSCP) foram introduzidos pela Lei
9.249/95 e também são uma forma de remuneração aos acionistas.
No caso do JSCP, a empresa efetua o pagamento aos sócios de
forma similar ao dividendo. A diferença está relacionada ao tratamento
contábil e fiscal.
Enquanto o dividendo é pago com base no lucro líquido, valor apurado após o pagamento do imposto de renda pela empresa, o JSCP
é lançado como despesa financeira na demonstração de resultados
da empresa.
Esse procedimento beneficia a empresa na apuração do imposto de
renda a pagar, pois ele é pago pelo acionista em alíquota única de 15%.
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Mercados de créditos e de capitais
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II. melhorar as condições de liquidez das ações (bonificação, desdo-
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3.2 Bonificação
A bonificação consiste na distribuição de recursos financeiros ou
novas ações aos acionistas com base na incorporação de reservas de
capital. É mais comum a bonificação paga em novas ações.
A bonificação em dinheiro, menos comum, é semelhante ao dividendo, a diferença é que o valor distribuído é oriundo das reservas de capital. Por outro lado, a bonificação em ações é um processo que funciona
da seguinte forma: a empresa incorpora ao patrimônio líquido recursos
da sua reserva de capital e distribui o valor equivalente em ações. Os
acionistas recebem novas ações na proporção bonificada.
Em geral, as reservas são incorporadas na forma de bonificação
para reduzir as cotações das ações sem afetar o valor de mercado da
empresa. Esse processo melhora as condições de liquidez, na medida em que os custos de negociação diminuem, atraindo um número
maior de investidores para comprar e vender os papéis (giro).
3.3 Desdobramento
Consiste em aumentar a quantidade de ações representativas do
capital social da empresa sem a incorporação de reservas. É um tipo
de provento que visa melhorar as condições de liquidez da empresa,
da mesma forma que a bonificação. A diferença entre bonificação e
desdobramento está ligada ao caráter contábil. Enquanto a bonificação
é um provento de natureza contábil, em que o acionista recebe novas
ações, fruto da bonificação, o desdobramento é uma medida na qual a
empresa desdobra a quantidade de ações em determinada proporção,
por exemplo 10:1; 5:1; etc. e com isso, reduz sua cotação aumentando a
negociabilidade das ações.
Mercado de capitais
63
O grupamento é um provento utilizado pelas empresas para aumentar o valor unitário das ações e reduzir a oscilação das cotações. Ele
consiste em reduzir a quantidade total de ações mediante o grupamento dos papéis. Por exemplo, a Cia Leste S.A. tem 10.000.000 de ações
ordinárias representando seu capital social. Suponha uma cotação de
R$ 0,10/ação, ao ser negociada, as oscilações seriam altas (0,01/0,10
equivale a 10%). Para reduzir essa condição, a empresa realiza um grupamento de 10:1 ou seja, a quantidade de 10.000.000 de ações será
agrupada em 10 vezes, passando para 1.000.000 de ações. Assim, a
cotação, para manter a mesma relação, passa de R$ 0,10 para R$ 1,00.
Nesse caso, oscilações de R$ 0,01/ação são equivalentes a 1% contra
10% na condição anterior, antes do grupamento.
3.5 Subscrição de novas ações
A subscrição de novas ações, ou direito de subscrição, é um provento com o qual é oferecido ao acionista o direito de subscrever (comprar)
mais ações da empresa.
O objetivo da subscrição é capitalizar a empresa por meio dos atuais
sócios. Eles têm a preferência em subscrever (comprar) as ações oriundas do aumento de capital.
A proporção de novas ações a serem subscritas é proporcional à
quantidade da qual o acionista é titular. Por exemplo, se uma empresa decide realizar uma subscrição de 10% de suas ações ao preço de
R$ 15,00, um acionista titular de 100.000 ações terá o direito de subscrever 10.000 ações ao preço de R$ 15,00.
Caso esse acionista não tenha interesse em subscrever, pode negociar os direitos de subscrição no mercado. Ele pode tentar vender a outro
investidor o direito de comprar 10.000 ações ao preço de R$ 15,00/ação.
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Mercados de créditos e de capitais
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3.4 Grupamento
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Mas a pergunta é: quanto valeria o direito de subscrição? O valor de
negociação do direito depende da cotação das ações. Se as ações do
exemplo estiverem cotadas no mercado ao preço de R$ 20,00/ação, o
valor máximo do direito seria R$ 5,00. Ele é a diferença entre a cotação
de mercado e o preço de subscrição. O raciocínio é o seguinte: supondo
a negociação dos direitos a R$ 4,00/cada, teremos:
• O comprador pagará R$ 4,00 para ter o direito de comprar 10.000
ações ao preço de R$ 15,00. Ao comprar o direito e subscrever
as ações, ele desembolsará R$ 190.000 [(R$ 4,00 + R$ 15,00) x
10.000]. As ações, pela cotação de mercado, valem R$ 200.000,00
(R$ 20,00 x 10.000).
• O vendedor receberá R$ 4,00 por direito vendido, ou seja,
R$ 40.000,00, e sua posição original de ações continuará a ser
de 100.000 ações. Lembre-se: ele vendeu apenas os direitos de
subscrição.
As negociações de direitos de subscrição são autorizadas e acontecem nas bolsas de valores onde as ações têm seu registro.
4 Mercado primário
4.1 Underwriting
O mercado primário de ações é a fase inicial na qual a companhia oferta ao público suas ações. As operações intituladas como underwriting,
ou “subscrição”, equivalem às ofertas públicas iniciais ou subsequentes
realizadas pelas empresas no mercado de capitais.
Uma oferta pública inicial ou IPO (initial public offering) é a operação em que uma companhia, constituída na forma de uma sociedade
anônima, realiza oferta de ações ao público pela primeira vez, ou seja,
nesse caso, a empresa não possui ações em circulação e vende em
oferta pública.
Mercado de capitais
65
nesse caso, constitui aumento do capital social da empresa.
Outra possibilidade é a venda de ações pertencentes aos atuais sócios da empresa, caso em que há uma oferta pública inicial secundária.
Os recursos obtidos pela venda das ações em uma oferta pública
inicial secundária não são da empresa, mas sim dos sócios participantes da oferta secundária.
A operação de oferta pública é regulamentada pela Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), com base na Instrução Normativa no 400. Ela
estabelece os critérios para a condução de uma oferta pública de ações.
4.2 American Depositary Receipts (ADR)
São recibos de ações de empresas estrangeiras emitidos no mercado americano com lastro em ações das companhias emissoras. A
emissão de uma ADR pode ser entendida na figura a seguir:
Figura 2 – Estrutura de emissão de ADR
Empresa
estrangeira
1
Banco
custodiante
2
Banco
emissor
3
Mercado de
ações americano
Poupadores
4
Existem três níveis de emissão de ADRs: o nível 1, no qual os recibos são emitidos com base em ações em circulação e são negociados
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Essa oferta pode ser de novas ações, oferta pública inicial primária e,
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apenas no mercado de balcão; o nível 2, composto por recibos emitidos com base em ações em circulação, mas negociados nas Bolsa de
Valores; e o nível 3, emitido com base em novas ações e negociado na
Bolsa de Valores.
4.3 Brazilian Depositary Receipts (BDR)
Os BDRs são recibos de ações de empresas estrangeiras emitidos
e negociados no mercado brasileiro. De forma similar aos ADRs, os recibos são emitidos com lastro em ações de empresas estrangeiras no
mercado brasileiro.
No Brasil, a regulamentação dos BDRs está definida na Instrução
CVM 332/2000. Nela, há uma classificação para os BDRs em níveis. O
nível I não necessita de registro na CVM e é negociado apenas no mercado de balcão. Os níveis II e III exigem registro da companhia emissora
na CVM.
Além disso, os BDRs podem ser patrocinados ou não patrocinados.
Os patrocinados são aqueles instituídos por uma única instituição financeira depositária, contratada pela empresa emissora. Os não patrocinados não possuem acordo com a companhia estrangeira emissora e
somente podem ser emitidos no nível I.
4.4 Tipos de oferta: emissões subscritas e melhores
esforços
Na relação entre uma companhia emissora de valores mobiliários e
as instituições financeiras participantes do processo de colocação pública das ações, são estabelecidos critérios relacionados às condições
de garantia do êxito da operação.
Existem dois tipos de garantia possível no processo. A “garantia firme”, ou “emissão subscrita”, e os “melhores esforços”.
Mercado de capitais
67
ra estabelecem a garantia plena da oferta, ou seja, nesse caso, se a oferta não for subscrita integral ou parcialmente pelo público, a instituição
subscreve a quantidade de ações não subscritas.
Esse tipo de garantia normalmente é mais aplicado nas colocações
de obrigações, como as debêntures, pois são títulos de renda fixa mais
aceitáveis em situações em que a operação não é bem-sucedida. As
ofertas públicas de ações raramente têm esse tipo de garantia, dados
os riscos de insucesso no processo em razão de fatores de mercado.1
Em condições de garantia por melhores esforços, as instituições participantes procuram fazer o melhor trabalho possível, junto aos potenciais
investidores, para que a operação tenha êxito. No entanto, nesse caso,
não há compromisso de garantia de subscrição à empresa emissora.
Considerações finais
Neste capítulo, descrevemos a importância e o funcionamento dos
mecanismos de captação de recursos por parte de empresas no sistema financeiro.
O mercado de capitais, como visto, abriga uma série de possibilidades de captação de recursos para companhias estabelecidas na forma
de sociedades anônimas. Ele facilita o acesso das empresas a recursos
financeiros, principalmente para os investimentos de grande volume
que requerem um prazo de maturação ou estratégias de longo prazo.
Assim, vale salientar as principais motivações de uma empresa em
realizar processo de emissão de ações. Na condição de companhia de
1 Podemos considerar fatores de mercado os riscos internos e externos relacionados à empresa e/ou seu
ambiente de negócios que podem inviabilizar a oferta. Por esse motivo, as instituições participantes não se
sentem seguras e não oferecem a garantia firme.
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Na garantia firme, as instituições contratadas pela empresa emisso-
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capital aberto, com ações em circulação, a empresa tem maior liquidez
patrimonial, pode dividir seus riscos com novos sócios, tem maior estabilidade de recursos, amplia sua imagem junto à comunidade financeira
e tem acesso a novas fontes de recursos financeiros para viabilizar seus
investimentos de longa maturação.
Portanto, um mercado de capitais desenvolvido, com possibilidade
de acesso para empresas e investidores, cria um ambiente mais favorável ao desenvolvimento econômico. Isso decorre da canalização dos
recursos ser direcionada, na maior parte dos casos, para investimentos
de natureza produtiva.
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CAVALCANTE, F.; MISUMI, J. V. Mercado de capitais: o que é, como funciona.
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