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PORTUGAL GEMAS, Nº 5

2009, Portugal Gemas

Conteúdos: O Regresso das Espinelas; Notícias (Diamante Wittelsbach - recorde em leilão; Moissanites sintéticas negras; www.ourivesariaportuguesa.info; Espinelas sintéticas estão de volta); Âmbar ou Copal; Paládio; Nomenclatura Gemológica; Entrevista a Hécliton Santini Henriques, Presidente do IBGM - Brasil; Os Anos do Exílio da Rainha D. Amélia; Livros (Photoatlas of Inclusions in Gemstones. vol. 3; A ourivesaria no Porto ao tempo dos Almada; Geology of Gem Deposits); Eventos (Byzantium 330-1453; Apples of Gold in Pictures of Silver; Curso Monográfico de Joalharia); Agenda (Eventos Gemológicos Internacionais Adiados; AGA Annual Conference; European Gemmological Symposium)

PORTUGALGEMAS D I G I T A L D E G E M A S E J O A L H A R I A Foto Robert Weldon © Gemological Institute of America. Reprinted by permission Anel “Dancer” em platina e diamantes com uma espinela da Tanzânia com 13,37 ct número 5 Janeiro 2009 M A G A Z I N E O Regresso das Espinelas de volta à alta-joalharia Rui Galopim de Carvalho Neste Número: Notícias Âmbar ou Copal? Paládio Termos em desuso Entrevista:Hécliton Santini Henriques Os Anos de Exílio da Rainha D. Amélia Livros Exposições & Eventos Agenda Por muito tempo tidas como substitutos de rubis, as espinelas têm ultimamente registado um aumento de popularidade por todo o Mundo. O seu reconhecimento como gema de altajoalharia está de volta. Normalmente, quando se fala em espinelas, pensa-se em quase tudo menos nas próprias: espinelas sintéticas azuis (joalharia popular do séc. XX); espinelas sintéticas incolores (substitutos do diamante desde 1920); pedras encarnadas que imitam o rubi... As que aqui se abordam são as espinelas vermelhas que, apesar de terem valia própria, foram sendo apelidadas de rubis dadas as suas semelhanças. Aliás, existem espinelas famosas que, ainda hoje, estão referenciadas como rubis. É o caso do Rubi número 5 Janeiro 2009 do Príncipe Negro, uma grande espinela na Imperial State Crown do Reino Unido e o Rubi de Timur, também nas jóias da coroa britânica. Encontram-se também espinelas em colecções reais no Kremlin, em Moscovo e no tesouro do Shah da Pérsia em Teerão. Para se ter uma ideia do seu valor, no oriente estas eram muito estimadas, em especial pelos Mogul que as colocavam frequentemente acima dos rubis. Segundo o investigador Vincent Pardieu (“Spinel: resurrection of a classic”, ICA InColor, Summer 2008, pp. 10-18), a pouca fama das espinelas no ocidente tem uma explicação: na Europa, estas gemas chegavam quase sempre designadas como rubis balas, balaios ou ballax, expressão que aludia à procedência destas gemas no Badaquistão (nas minas Kuh-i-lal no actual 1 GEMOLOGIA PORTUGALGEMAS Tajisquistão). Desta forma, o termo “rubi” era amplamente promovido e “espinela” nem por isso. Mas daqui resulta que, independentemente do nome, a espinela era cotada entre as mais valiosas gemas dos nossos antepassados. Mas a má representação prolongada conduziu-a à posição de curiosidade gemológica ou de mero substituto do rubi. Contudo, desde há uns anos a esta parte que as espinelas voltaram à ribalta da alta-joalharia. A isto não será alheia a grande beleza e brilho dos melhores exemplares, associados à sua boa resistência, estabilidade e durabilidade. O facto de praticamente não haver tratamentos para estas gemas contribuirá também para este ressurgimento. Na realidade, a grande maioria dos materiais gemológicos é sujeita a um ou mais processos para o melhoramento da sua cor e/ou transparência e a espinela, nesta matéria, é excepção. Um melhor marketing e maior informação junto do consumidor e do profissional também foram importantes neste regresso. A espinela, cujo nome se pensa derivar do latim spina (espinho) em alusão aos vértices dos cristais octaédricos em que ocorre, surge em diversas cores. A vermelha é a mais rara, havendo também, nomeadamente, variedades rosa, violeta, magenta, laranja e azul. Acontece que apenas muito raramente o vermelho da espinela iguala o “sangue-de-pombo” do rubi. Verifica-se, quase sempre, uma tonalidade púrpura e, por vezes, alaranjada, não obstante as mais valorizadas terem uma cor viva, intensa e sem tonalidades secundárias. É raro encontrar espinelas de boa cor e limpas de inclusões visíveis, tendo estas muita procura e grande valorização no mercado. Relativamente aos tamanhos, apesar de se conhecerem Espinelas rosadas lapidadas a partir do grande cristal de 52 kg recolhido em Mahange, Tanzânia, em 2007 Foto Robert Weldon © GIA - Gemological Institute of America. Reprinted by permission número 5 Janeiro 2009 Cristal octaédrico de espinela com pedra lapidada em talhe esmeralda. Foto Robert Weldon © Gemological Institute of America. Reprinted by permission espinelas com mais de 100 quilates, nomeadamente nos tesouros já mencionados, exemplares vermelhos de boa qualidade são escassos acima dos 5 ct. Já no que toca às outras cores (e.g. laranja, rosa, púrpura) este factor de raridade sobe para os 20 ct. As espinelas vermelhas ocorrem no mesmo tipo de depósitos que os rubis, sendo aí mais abundantes do que estes. Antigamente, procediam fundamentalmente de Kuh-i-Lal no Badaquistão, onde hoje é o Tajisquistão (durante muitos anos se foi atribuindo esta ocorrência ao Afeganistão). Actualmente, os mais importantes jazigos de espinela estão no Myanmar, tanto na histórica região mineira de Mogok, como em Nayma. O Vietname, o Quénia e o Sri Lanka também produzem espinelas de qualidade, mas os bons exemplares vermelhos serão raros nestas ocorrências. Recentemente, na década de 1980, a Tanzânia também se juntou como produtor de espinelas, apesar de estas serem fundamentalmente de cor rosa. Em 2007, porém, recolheram-se em Mahange vários cristais gigantescos de espinela, um deles com mais de 50 quilos, de onde foram lapidados muitos milhares de quilates de gemas de alta qualidade. Este achado foi notícia em todo o Mundo e gerou uma inédita onda de atenção sobre a espinela como pedra de excepção. É com interesse que se tem acompanhado o ressurgimento das espinelas na posição de excelência que ocuparam em tempos. Porém, a sua beleza, raridade e durabilidade ainda carecem de um maior reconhecimento público e, em particular, pelos profissionais menos ousados. Na alta-joalharia, porém, o seu lugar está cada vez mais firmado. 2 NOTÍCIAS PORTUGALGEMAS Diamante Wittelsbach - recorde em leilão Foi numa conjuntura aparentemente desfavorável que, no passado dia 10 de Dezembro, na Christie’s em Londres, se bateu o recorde absoluto de valor de saída de uma pedra ou jóia em leilão: 18,7 milhões de euros! O protagonista foi um diamante de origem indiana “fancy deep grayish-blue” com 35,56 ct e pureza VS2. Esta gema foi, em tempos, pertença do Rei Filipe IV de Espanha (o destronado Filipe III de Portugal por D. João IV no 1º de Dezembro de 1640) que, em 1664, o presenteou à sua filha Infanta Margarida Teresa, por ocasião do seu casamento com o Imperador Leopoldo I da Áustria. Mais tarde, acabou por incorporar o tesouro da Casa da Baviera, os Wittelsbach, daí o seu actual nome. Desde 1931 que se perdeu o seu rasto, após ter ido a leilão na Christie’s, tendo sido referenciado em 1964 como pertença de um coleccionador privado. O diamante Wittelsbach é agora propriedade de Laurence Graff, o famoso joalheiro e diamantário londrino que surpreendeu com a mais alta licitação de sempre numa pedra, 13 anos volvidos sobre o anterior recorde (o diamante incolor em talhe pêra, com 100,10 ct vendido por $16.5M). Correm rumores de que o diamante irá ser relapidado para lhe conferir uma aparência mais adequada aos actuais padrões de qualidade, conferindo-lhe maior valor. Levantar-se-á a questão da manutenção do seu valor histórico, o que tem gerado alguma polémica nos meios académicos. O histórico diamante Wittelsbach com 35,56 ct atingiu o preço recorde de M18,7€, o mais elevado da história em leilão. © Christie’s Moissanites sintéticas negras Num recente comunicado à comunidade gemológica, a Associação de Gemologia do Japão (GAAJ - Gemmological Association of All Japan) alerta para a crescente presença de moissanites sintéticas (MS) negras a simular os populares diamantes negros tratados (irradiação ou alta-temperatura). Estas surgem na joalharia em tamanhos pequenos (até 3mm), normalmente engastadas em “pavé”. A moissanite sintética é conhecida como substituto do diamante desde finais dos anos 1990, encontrando-se sobretudo em pedras quase-incolores de dimensão média (acima dos 5mm). A sua identificação é normalmente conseguida seguindo um protocolo de observações da cor (tom esverdeado), dispersão de luz (elevada), inclusões aciculares (em forma de agulha) e efeito de duplicação de imagens provocado pela elevada birrefrangência (bem visível com ampliação de 10x ou superior). Contudo, nestas pedras negras em concreto, a identificação é mais complexa e o recurso aos aparelhos electrónicos específicos para a moissanite nem sempre é conclusiva. De acordo com a GAAJ, para o rastreio destas, recomenda-se a inspecção de cada pedra ao microscópio, havendo ocasionalmente necessidade de recurso a técnicas laboratoriais sofisticadas, tais como a fluorescência de raios-X e espectroscopia de Raman. número 5 Janeiro 2009 Anel em ouro branco referenciando-se as três moissanites sintéticas. Em baixo: diamante revelando concentrações de grafite diagnósticas, visíveis apenas ao micriscópio © GAAJ 3 NOTÍCIAS PORTUGALGEMAS www.ourivesariaportuguesa.info A grande falta de conteúdos específicos sobre ourivesaria portuguesa, em especial no que toca ao seu mercado de antiguidades e leilões, levou dois especialistas nacionais a criarem um sítio de internet sobre a matéria. Henrique Correia Braga, conhecido avaliador com ampla experiência nesta área, e Sofia de Ruival Quintas, responsável pelo departamento de Ourivesaria da Cabral Moncada Leilões, em Lisboa, são os responsáveis pelos conteúdos deste novo sítio de acesso livre, em português. O visitante pode aceder a variados artigos de opinião, teses, imagens e notícias sobre estudos de ourivesaria e joalharia, marcas nacionais e internacionais (de que Henrique Braga é uma reconhecida autoridade) e reportagens sobre leilões nacionais e estrangeiros, com especial foco no desempenho da produção portuguesa. De acordo com os seus editores, o sítio, recentemente colocado on-line, está a crescer tanto em informação como em visitantes, registando-se um particular interesse na problemática das marcas, ou contrastes, de prataria nacional. Aliás, um dos pontos fortes para o visitante é a apresentação da “Base de Dados dos Ourives da Prata”, onde se presta uma merecida homenagem ao Engº Fernando Moitinho de Almeida a quem se devem os primeiros grandes avanços na investigação desta temática em Portugal. Para consultar os conteúdos deste novo sítio na internet, visite www.ourivesariaportuguesa.info Par de castiçais em prata dourada por Juliano Braga (ca. 1967), curiosamente pai de um dos editores do sítio “Ourivesaria Portuguesa”. © Christie’s Espinelas sintéticas estão de volta No seguimento da evolução da popularidade das espinelas vermelhas de alta qualidade, verificou-se o ressurgimento das espinelas sintéticas de fluxo que fizeram notícia no último quartel do séc. XX, mas, nessa altura, sem grande mercado. Face a esta realidade, têm surgido variados comunicados alertando para as metodologias de identificação destas pedras. As tradicionais “espinelas sintéticas” dos anos 1920 e 30 (produzidas pelo método de fusão) distinguem-se facilmente das naturais pelas diferentes propriedades gemológicas que apresentam (resultantes de diferenças ligeiras nas suas composições). Pelo contrário, este tipo de espinela sintética produzida com fundentes (fluxo) é química e estruturalmente idêntica às suas contrapartes naturais, tendo, portanto, as mesmas propriedades gemológicas. A identificação destes “novos” sintéticos pode ser efectuada com recurso a técnicas de gemologia clássica, designadamente a microscopia. O seu mundo interno é muito característico e bastante diferente do das espinelas naturais que, habitualmente, apresentam inclusões típicas. A espectrometria de Raman também é eficiente na detecção destes sintéticos, mas este método analítico estará apenas acessível em laboratórios gemológicos sofisticados. Assim, na presença de uma pedra vermelha cujas propriedades gemológicas sejam consistentes com espinela, é recomendável que se reforce a observação das inclusões para a despistagem dos sintéticos. número 5 Janeiro 2009 Vestígio de platina numa espinela sintética de fluxo. Em baixo: espinelas sintéticas lapidadas e em cristal © M.S. Krzemnicki, SSEF 2008 4 GEMOLOGIA PORTUGALGEMAS Âmbar ou Copal? diferenças e semelhanças destas resinas antigas O âmbar é sobejamente conhecido como uma resina fóssil, muito popular em joalharia. O que muitas vezes se desconhece é que existe uma outra resina, não-fóssil, que tem uma aparência muito semelhante: o copal. O âmbar é uma resina fóssil decorrente da conservação da seiva de algumas árvores que, ao perder o seu conteúdo em voláteis e ao polimerizar, ficam mais duras e resistentes, fossilizando. Acontece, muito raramente, que insectos e outros animais se conservem aprisionados na resina. Para estas peças, ao óbvio valor científico para os paleontólogos, acresce o seu valor coleccionístico. Desde muito cedo na história que se conhece o uso gemológico do âmbar, designadamente em joalharia e objectos decorativos. Contudo, uma das suas primeiras utilizações foi como incenso, o que, aliás, está na origem do seu nome, do radical grago br (arder). O âmbar mais conhecido é o do Báltico, no nordeste europeu, que teve origem em árvores semelhantes ao pinheiro que viveram há cerca de 30-40 milhões de anos (Ma). A República Dominicana também tem importantes jazigos de âmbar, o que terá inspirado o filme Jurassic Park que baseava a sua história no ADN de mosquitos aí aprisionados. No entanto, este âmbar não tem mais de 20 Ma, o que constitui um anacronismo interessante, pois os dinossáurios estavam extintos há 66 Ma. Outros depósitos de âmbar com valor gemológico ocorrem, nomeadamente, na Roménia, Myanmar e EUA. Uma característica distintiva do âmbar é a sua densidade (<1,10) que o faz flutuar na água do mar, capacidade que, aliás, está na origem da sua grande dispersão pelas costas do Mar Báltico. Com o tempo e a subsequente exposição ao ar e à luz, a sua superfície torna-se mais escura e ocorre fissuração num padrão característico. O âmbar pode ser tratado com calor para melhorar, por exemplo, a sua transparência. Esse tratamento deixa marcas, tais como a geração de fissuras internas em forma de leque. Existe, porém, um outro tipo de resina com utilização gemológica. Trata-se do copal que, curiosamente, deve ao seu nome a um termo azteca, copali, que também significa incenso. Não obstante ser uma resina endurecida, não está fossilizada, tendo normalmente menos de 10 mil anos de idade. Não se verifica, pois, a completa polimerização dos seus número 5 Janeiro 2009 Contas de âmbar do Báltico com texturas diversas. Em baixo: fragmentos de copal de origens variadas. © Maggie Campbell Petersen elementos, contendo, além disso, as substâncias voláteis próprias das resinas e que são praticamente inexistentes no âmbar. Ocorre, designadamente, na Nova Zelândia, Colômbia, Madagáscar, Tanzânia e Quénia, sendo actuais os animais aí aprisionados. O copal é um excelente substituto do âmbar, tendo cor, textura, transparência, características interiores e outras propriedades gemológicas muito semelhantes. A sua distinção é, por vezes, complexa recorrendo-se, por exemplo, ao teste da reacção a solventes (e.g. acetona) que, geralmente (mas nem sempre), torna o copal peganhoso. Devido aos voláteis, a superfície do copal sofre alterações relativamente rápidas quando exposta a factores ambientais, gerando-se uma típica patina microfissurada (crazing), semelhante à do âmbar. No âmbar, contudo, esta alteração é substancialmente mais lenta e não provoca a desagregação do material, como sucede, em geral, aos artefactos de copal mais antigos. Distinguir os materiais não é, portanto, fácil mas o admitir a existência do copal pode ajudar a despistar a sua detecção, em especial em antiguidades. 5 JOALHARIA PORTUGALGEMAS Oportunidades no Paládio alternativa de baixo custo Num período difícil para a indústria de joalharia, a inovação e a criatividade são importantes factores de diferenciação. O paládio, metal do grupo da platina, de custo substancialmente inferior, pode afirmar-se como solução. Desde que a platina entrou definitivamente no mais destacado palco da alta-joalharia, por mão de Karl Fabergé e Louis Cartier em finais do séc. XIX, que os metais brancos assumiram um prestígio que a prata não havia conseguido até então. A introdução da liga de ouro branco, algures após a Primeira Grande Guerra, veio confirmar a popularidade do branco, assumindo-se como uma alternativa de menor custo do que a platina. Além de mais cara, a platina tinha maior dureza e elevado ponto de fusão (acima dos 1700ºC), o que constituía igualmente um desafio na manufactura. O paládio, mineral do grupo da platina, foi identificado em 1803 pelo inglês William Wollaston e deve o seu nome a Pallas, um dos epítetos de Atena, a deusa grega da sabedoria. Tem propriedades semelhantes à platina, designadamente a cor branca, elevado brilho e dureza, funde a mais baixas temperaturas (ca. 1550ºC) e é menos denso (cerca de metade da platina). A utilização do paládio na indústria fez-se sentir com vigor a partir dos anos 1970, nomeadamente no sector automóvel. Na joalharia, o seu aparecimento é anterior, remontndo a a 1939. Apesar de não ter tido aí grande divulgação, número 5 Janeiro 2009 Par de brincos em paládio com meias-pérolas e safiras. Lainie Mann & Schuyler Mann © Mann Design Group. Em baixo: Cronógrafo Parmigiani Pershing 115 com caixa em paládio. © Parmigiani Fleurier SA foi um dos metais preferidos no fabrico do ouro branco, pois apesar de mais caro do que o níquel e a prata, o paládio tinha vantagens sobre estes, uma vez que permitia ligas mais brancas e duradouras. Foi, contudo, mais recentemente que este metal começou a ser considerado como alternativa válida para a alta-joalharia. Com o aumento acentuado do preço da platina que, em 2008, teve períodos acima dos $2000/onça, o paládio, nessa altura entre os $400 e $500/onça, começou a ser visto como uma oportunidade. Já desde 2006 que vinha sendo registado um crescente número de criadores de altajoalharia e também de relojoaria com soluções em paládio. O facto de ser um platinóide e de ter, portanto, propriedades físicas semelhantes à platina, constituía um bom argumento de marketing. De igual relevância tem-se o mais baixo custo com que peças em paládio chegavam ao público, mesmo quando comparadas com artigos em ouro branco. Todavia, a falta de conhecimento que ainda subsiste quanto às virtudes deste metal precioso continua a ser um entrave à sua utilização mais ampla. Esta lacuna não está só no campo da procura, mas também no campo da oferta. Os joalheiros e criadores terão que explorar ainda mais as potencialidades do paládio para que este se torne ainda mais competitivo no panorama mundial da joalharia e da relojoaria, em especial neste contexto económico desfavorável, que ainda agora começou. 6 HISTÓRIA PORTUGALGEMAS Nomenclatura Gemológica interpretação de expressões em desuso Quem se dedica aos estudos de história da joalharia, depara-se por vezes com termos de interpretação complexa. As expressões antigas e em desuso que aqui se apresentam tentam contribuir para entender melhor o seu significado. Água - Caracteriza a qualidade das gemas, como, por exemplo, “diamante de primeira água”. Aljôfar - Usado no século XVI para as pérolas, em particular as do Golfo Pérsico. Surge como corruptela de Al Julfar, designação de um porto nas costas do actual Bahrein. Ainda vai sendo hoje utilizado como sinónimo de pérola natural de pequenas dimensões. Ametista oriental - Safiras ou espinelas violetas provenientes do Ceilão (actual Sri Lanka). Antrax - Termo grego utilizado por Teofrasto no séc. IV a.C., que aludia a gemas vermelhas, semelhantes ao carvão em brasa, entre as quais se incluía a espinela, o rubi e a granada. O mesmo que carbúnculo. Anel Cartier em platina e diamantes com rubi de tom púrpura. Há 2000 anos, o rubi teria sido designado de antrax ou carbúnculo. © Cartier Cristal - Designação ancestral do quartzo hialino (cristal-de-rocha). Era, por vezes, indiscriminadamente utilizado para aludir a gemas incolores em joalharia de prata no séc. XVIII. Ballas - O mesmo que balas, balax. Ver “Rubi balas”. “Crystal” - Classificação de cor do diamante equivalente ao J da escala GIA. “Blue-white” - Diz respeito aos diamantes “brancos” com forte fluorescência azul, em tempos considerados de grande qualidade. Diamante-brilhante - Designação por que eram conhecidos os diamantes em talhe brilhante no séc. XVIII. Calaíte - Designação ainda comum na comunidade arqueológica para designar turquesas ou minerais de aspecto semelhante (e.g. variscite). Nas escavações do megalítico de Vila Viçosa foram encontrados alguns artefactos em turquesa, descritos como calaíte. Os termos Pedra de Callais e Calaina são por vezes utilizados também com este significado. Diamante de Matara - Zircão incolor proveniente da região de Matara, no Sri Lanka, e que constituía um bom substituto de diamante. Diamante Naife - Termo do séc. XVI que aludia aos diamantes não lapidados de forma (ou hábito) octaédrico. Cape - Classificação de cor do diamante equivalente ao M da escala GIA. Na gíria refere também diamantes com franca coloração amarelada que foram característicos da região do Cabo na África do Sul. Carbúnculo - Termo latino antigo utilizado pelo naturalista Plínio, o Velho no séc. I, e que aludia a gemas vermelhas, semelhantes ao carvão em brasa entre as quais se incluía a espinela, o rubi e a granada. O mesmo que antrax. Crisólita(o) - (1) Designação comercial dos crisoberilos amarelo-esverdeados a partir de finais do séc. XVIII no Brasil e Portugal. (2) Nome obsoleto da variedade gemológica da olivina ou peridoto. número 5 Janeiro 2009 Diamante em talhe brilhante “antigo” com 7,23 ct com cor consistente com a classificação “Cape” (M na escala GIA) 7 HISTÓRIA PORTUGALGEMAS Anel em prata e ouro com diamantes e esmeralda colombiana, outrora conhecida como esmeralda do Peru. Espinela vermelha, também conhecida como balas, ballax, rubi balaio, rubi balas e rubi-espinela. © ICA Esmeralda brasileira - Turmalinas verdes recolhidas no Brasil, por exemplo, durante a expedição do bandeirante Fernão Dias Paes Leme no séc. XVII, que acreditou ter encontrado esmeraldas. Jagersfontein - Classificação de cor do diamante equivalente às cores D e E da escala GIA e para pedras com fluorescência azul. Esmeralda do Peru - Esmeraldas do Novo Mundo, por se acreditar que procediam do Peru. Na realidade, as minas de esmeraldas estavam em Nova Granada, na actual Colômbia. Jacinto - Granada laranja (hessonite, var. de andradite). Também usado para o zircão vermelhoacastanhado e, mais raramente, para a safira. Jacinto oriental - Designação comercial das safiras amarelas e laranjas. Jagonça - Zircão amarelo-avermelhado, laranja e castanho proveniente do Ceilão (actual Sri Lanka), constituindo outrora uma família que incluía, por exemplo, os então chamados jacintos. Pérola romana - Imitação de pérola que consistia numa esfera de vidro com o interior pintado com essência do oriente e preenchida com cera. Rosa-de-França - Ametista de cor clara. Pode também aludir a outras pedras violetas e rosadas: safira sintética, turmalina e granada (rodolite). Rubi balas - Rubi balaio, balax, ou simplesmente balas são termos antigos que aludem à alegada proveniência da espinela vermelha do Badaquistão no Tajiquistão. Rubi da Boémia - Granadas vermelhas procedentes desta famosa região da República Checa. Rubi-espinela - O mesmo que espinela vermelha. Safira branca - Começou por aludir às safiras sintéticas incolores usadas como substituto do diamante. O termo persistiu, continuando a ser empregue para as espinelas sintéticas que se lhes sucederam. Safira de água - Cordierite e, provavelmente, safiras de cor azul menos intensa e topázios azuis. Smaragdus - Significado pouco preciso. Na antiguidade incluía gemas verdes, tais como, a esmeralda, a turquesa, o crisocola e a malaquite. “Top Cape” - Classificação de cor do diamante equivalente ao K e L da escala GIA. “Top Crystal” - Classificação de cor do diamante equivalente ao I da escala GIA. “Top Wesselton” - Classificação de cor do diamante equivalente ao F e G da escala GIA. Topázio oriental -Safira amarela. Alfinete do séc. XIX com duas granadas hessonites, outrora descritas como jacintos. Foto Carlos P. Monteiro © FEA número 5 Janeiro 2009 Wesselton - Classificação de cor do diamante equivalente ao H da escala GIA. 8 ENTREVISTA PORTUGALGEMAS Hécliton Santini Henriques Presidente do IBGM - Brasil O IBGM - Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos, tem assumido grande protagonismo na promoção internacional das gemas e jóias brasileiras. O seu presidente, Hécliton Santini Henriques, fala-nos desta organização e da sua política. Portugal Gemas - Quais são os objectivos do IBGM? Hécliton Santini Henriques - Desde que foi criado, em 1977, o IBGM tem como função principal representar e defender os interesses de toda a cadeia produtiva de gemas, jóias e afins (mineração, indústria e comércio), a nível nacional e internacional, apoiando as 21 entidades estaduais filiadas, em suas acções regionais. Para tanto, actua de forma integrada, em três áreas fundamentais: institucional, articulando acções e convénios junto a órgãos e entidades dos governos Federal, Estadual e Municipal e propostas junto ao Congresso Nacional, bem como representando o Sector no exterior; técnica, participando de Fóruns e Comissões e desenvolvendo projectos e acções voltadas para o fortalecimento competitivo do Sector; e promocional, apoiando e/ou promovendo eventos e acções de marketing e publicidade, além da realização de feiras e exposições no Brasil e no exterior. PG - O seu enfoque é, portanto, tanto no mercado interno como no externo HSH - Estamos, de facto, mais voltados para o mercado interno, onde, em parceria com diversos órgãos de governo e de fomento, se criam condições favoráveis para o crescimento do Sector, e.g. carga tributária, simplificação de procedimentos, melhoramento do suporte de capacitação técnica e qualificação de pessoal, sistemas de informação úteis aos empresários, incluindo estudos e pesquisas, suporte laboratorial e apoio à promoção e comercialização dos diversos segmentos do sector. Por outro lado, nos últimos 10 anos, o IBGM tem apoiado a internacionalização das gemas e jóias brasileiras, de forma contínua e mais profissional, com estratégias e mercados alvo definidos. O Brasil é um dos principais produtores mundiais de pedras de cor e exporta cerca de 80% de sua produção. No que se refere às jóias e às bijuterias, não existe a mesma tradição, embora haja meritórios casos no comércio exterior. Houve um importante incremento na conquista de mercados externos após a criação do Programa de Apoio às Exportações que estamos desenvolvendo com a Apex-Brasil e depois de se capacitarem de sua aptidão competitiva internacional. número 5 Janeiro 2009 PG - Como exerce, então, o apoio à internacionalização das empresas brasileiras? HSH - Procuramos actuar de forma integrada, nas diversas áreas (gestão, técnica, financeira e mercado), em parceria com órgãos estaduais e privados, com o objectivo de atender às necessidades das empresas. Para os produtos de maior valor agregado (e.g. jóias e bijuterias), não bastam qualidade, preço e impacto visual. Precisamos de um design inovador e diferenciado, com um conceito de brasilidade, embora seguindo as tendências actuais. Estamos tendo bom feed-back, com um aumento das exportações. As jóias brasileiras estão sendo internacionalmente reconhecidas como um produto novo, alegre, colorido, com movimento e sensualidade, incorporando a diversidade das gemas nacionais. Com este conceito/ design temos promovido sectorialmente o Brasil, em revistas especializadas e em feiras, a maioria delas com um Pavilhão Brasil, também diferenciado. Em termos institucionais internacionais, participamos na CIBJO, ICA e ALAJOYAS. PG - A estratégia de apoio ao design de joalharia veio acrescentar valor às matérias primas brasileiras. Qual tem sido o papel do IBGM nesta política? HSH - Embora saibamos que nem sempre é possível lapidar e mesmo consumir na joalharia nacional toda a 9 ENTREVISTA PORTUGALGEMAS HÉCLITON SANTINI HENRIQUES produção de pedras, gostaríamos de industrializar a maior parte de nossas matérias-primas, pois o Brasil é um país jovem, que precisa gerar emprego e renda de forma crescente. É certo que o design tem sido um dos principais factores para o aumento das exportações das jóias brasileiras, a maioria delas com harmoniosa combinação no uso das nossas pedras, agregando valor em toda a cadeia produtiva. Da mesma forma, temos promovido a chamada lapidação diferenciada, com design na própria pedra, designadamente com o Prémio IBGM de Design, que promovemos desde 1990. PG - O IBGM tem apoiado inúmeras feiras do sector. Fale-nos dessas iniciativas. HSH - O IBGM promove a FENINJER, que é a principal feira brasileira do sector, que tem lugar em São Paulo (Fevereiro e Agosto), a TECNOGOLD, voltada para tecnologia e equipamentos, e copatrocina, em conjunto com a Associação de Minas Gerais a BRAZIL GEM SHOW, especializada em pedras, em Governador Valadares. Além dessas, apoiamos outras feiras sectoriais: FIPP, Soledade Gem Fair, AJORSUL FAIR, BIJÓIAS, ALJÓIAS e AJORESP. Todos são certames voltados para o mercado interno, embora alguns tenham também a participação de grande número de importadores internacionais. Natural de Belo Horizonte, é licenciado em Economia, pela Universidade de Brasília, com mestrado na Universidade de Manchester, Inglaterra, na área de Ciência e Tecnologia. Iniciou a sua carreira profissional no Ministério da Indústria e do Comércio, em 1971, onde ocupou diversos cargos, entre os quais o de Coordenador da Assessoria Económica do Ministro, de Secretário de Coordenação e Planejamento e de Secretário Geral Adjunto. Foi Director Técnico do Sebrae Nacional, no período 1985/90, quando se “privatizou”, deixando o serviço público. A partir daí, constituiu uma empresa de consultoria empresarial, actuando nas áreas económica, tributária, comércio exterior e cooperação internacional. É também o presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos, onde, além de representar o Sector junto do Governo, Congresso Nacional e entidades internacionais, como a CIBJO, ICA e ALAJOIAS, tem coordenado ou supervisionado diversos programas na área de capacitação, informação, design e promoção comercial, tanto interna quanto externa. termos empresariais, a capacitação, intuição e flexibilidade dos empresários se tornarão ainda mais fundamentais. Trabalho em equipa, fabricação de produtos com diferencial competitivo, voltados para nichos de mercado, com atendimento personalizado, tanto para o varejo (retalho) quanto para os consumidores finais, serão cada vez mais necessários para vencer os novos desafios, independentemente da crise por que estamos actualmente passando. Estamos também preparando o IBGM para que esteja apto a auxiliar os empresários nessa nova fase. PG - A rede de laboratórios gemológicos insere-se nessa estratégia de apoio ao sector? HSH - A rede IBGM, presente em quatro estados, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, tem prestado importantes serviços junto às indústrias e aos consumidores, garantindo confiança no mercado interno. Temos um projecto para actualizar os laboratórios, com equipamentos mais modernos, exigência do rápido avanço na tecnologia, principalmente na área de pedras sintéticas e dos tratamentos. Além disso, temos difundido a gemologia, através de cursos , palestras e publicações, como o conhecido Manual Técnico das Gemas. PG - Como antevê o futuro no sector e que recomendações daria às empresas? HSH - Antevejo uma concorrência cada vez maior, tanto no produto jóia – onde o estilo e o conceito vão ter predominância, como na disputa pela preferência do consumidor face a outros produtos de luxo e de tecnologia, e no avanço de novos canais de comercialização, como a internet e a televisão. Em número 5 Janeiro 2009 Baldassare Peixoto (MG) Patrocinador; Lapidação Viking do Brasil/ Manoel Bernardes/ Antonella Vieira Mattana 10 EXPOSIÇÕES PORTUGALGEMAS Os Anos do Exílio da Rainha D. Amélia jóias e objectos preciosos Decorre até 30 de Abril, em Lisboa, uma mostra de objectos pessoais ligados à última Rainha de Portugal, onde não faltam jóias e outras preciosidades. A Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves recebe uma interessante colecção de objectos pessoais de D. Amélia de Orleães e Bragança, pertencentes ao coleccionador francês Rémi Fénérol. Não se tratam das jóias do tesouro da Casa Real, apesar de estas figurarem em alguns retratos da última Rainha de Portugal (e.g. o diadema de estrelas do ourives Estevão de Sousa e o colar de diamantes com pendentes de safira do Ceilão). Está também retratado um importante diadema manufacturado pelos joalheiros da Coroa, Leitão & Irmão, oferecido pela família real portuguesa por altura do seu casamento com o Rei D. Carlos. Esta mesma jóia foi usada por D. Isabel de Herédia, por ocasião do seu casamento com D. Duarte Pio, Duque de Bragança. O núcleo de joalharia desta mostra é, assim, constituído por peças reunidas durante os 41 anos de exílio de D. Amélia. Estas são peças pessoais da Rainha e ofertas que, ao longo destes anos, foram feitas aos seus leais servidores que a acompanharam até ao fim da sua vida. A proveniência Real, assim como o seu período de execução (primeira metade de novecentos), reveste estas jóias de um grande interesse. O espólio inclui, ainda, peças fabricadas por importantes Casas europeias e mundiais, tais como a Tiffany & Co. e, naturalmente, a Casa Leitão & Irmão, que permaneceu como importante fornecedora de jóias, pratas e outros objectos preciosos da Rainha. Estas jóias são, portanto, peças de quotidiano, simples e, algumas delas, de forte cariz de memória. Destaca-se um importante conjunto de alfinetes de gravata, sendo um deles em ouro amarelo com granadas rosa número 5 Janeiro 2009 D. Amélia de Orleães e Bragança. Foto Taponier © R. Fénérol Em baixo: conjunto de jóias incluindo os alfinetes de gravata e, ao lado, botões de punho da Casa Leitão & Irmão (rodolites) e que foi pertença do Rei D. Manuel II. Refira-se ainda um conjunto de botões onde se conta um par de botões de punho de produção nacional, pela Casa Leitão & Irmão, feito em cristal-de-rocha com aplicações de rubis e um outro, em ouro amarelo e esmalte azul. Os objectos preciosos não se esgotam nas jóias. Os leques em tartaruga, madre-pérola e marfim, os castões de bengala em metal e tartaruga, as cruzes, imagens e outras peças devocionais, assim como os porta moedas e carnés de baile acrescentam interesse à exposição. Esta mostra é, seguramente, um marco importante no panorama museográfico em Portugal, reunindo nesta Casa-Museu, um testemunho intimista dos anos do exílio da última Rainha de Portugal. 11 LIVROS PORTUGALGEMAS Photoatlas of Inclusions in Gemstones. vol. 3 Edward Gübelin e John Koivula, 672pp, Ed. Opinio Verlag, Basel, 2008, $300,00 O volume 3 desta estupenda série de livros sobre o mundo interno das gemas é o resultado de 35 anos de trabalho de dois dos mais prestigiados gemólogos da actualidade: Edward E. Gübelin (1914-2005) e John I. Koivula. Após a edição em 1986 do Vol. 1 e, em 2005, do Vol. 2, eis que é dado agora à estampa o último desta série, focando nas inclusões das gemas comercialmente mais relevantes (e.g. diamante, rubi, safira e esmeralda). Inclui também uma vasta secção de inclusões em pedras raras, tais como a ekanite e a taafeite. Com este terceiro volume do Photoaltas, ilustrado com excelentes fotomicrografias de grande interesse científico e até estético, os autores proporcionam aos gemólogos uma valiosa base de dados de imagens de inclusões em materiais gemológicos, fundamental nos trabalhos de identificação. Apesar do seu elevado custo, o volume 3, e os anteriores, são cruciais na biblioteca do gemólogo actual. A ourivesaria no Porto ao tempo dos Almada Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, 206pp, Ed. Un. Católica e CITAR, Porto, 2008, 20€ Assinada por uma das mais respeitadas autoridades portuguesas na história da joalharia, esta obra agora publicada surge da investigação que o autor realizou desde 1994 em sede da sua dissertação de mestrado “A Joalharia no Porto no séc. XVIII: aspectos socio-artísticos”. Os resultados desta pesquisa foram parcialmente publicados em 1999 pela Civlização em “A Joalharia em Portugal: 1750-1825”. O presente livro complementa, assim, este volume de referência, aludindo à produção de joalharia no Porto ao tempo de João de Almada e seu filho Francisco de Almada e Mendonça, figuras emblemáticas da cidade, ou seja, na último terço de setecentos e inícios de oitocentos. São revelados também dados inéditos sobre o envio de peças de joalharia para o Brasil e elementos para a compreensão do ofício de ourives e ensaiador. Um dos capítulos mais interessantes aborda a importância do retrato enquanto elemento de identificação da utilização corporal da jóia. Esta obra bem documentada é uma excelente referência para os estudos da história da joalharia. Geology of Gem Deposits Lee Groat, coord., 288pp,, Ed. Mineralogical Association of Canada, Québec, 2007, $50 Integrado na colecção “Short Course Series”, a Associação Mineralógica do Canadá apresenta o 37º volume exclusivamente dedicado à geologia das pedras preciosas. O livro é composto por 10 capítulos de diversos autores, onde se discute a formação das ocorrências económicas de algumas gemas, designadamente o diamante, o corindo (rubi e safira), a esmeralda e outros berilos, crisoberilo, tanzanite, tzavorite, topázio e jade (nefrite e jadeíte). Há também um capítulo sobre pegmatitos gemíferos, havendo notas sobre a turmalina, o berilo e o topázio que aí cristalizam. A obra culmina com um ensaio sobre a ocorrência de pedras de cor no Canadá. Apesar da sua linguagem eminentemente técnica, este livro não deixa de ser um suporte importante para quem pretende entender melhor a formação destes minerais com qualidade gemológica. Útil para estudantes, gemólogos e para geólogos de prospecção gemológica. número 5 Janeiro 2009 12 EXPOSIÇÕES & EVENTOS PORTUGALGEMAS Byzantium 330-1453 Royal Academy of Arts, Londres Está patente até 22 de Março na Royal Academy of Arts, em Londres uma excelente exposição com mais de 300 peças, algumas delas inéditas, que pretendem exaltar o esplendor de mais de 1000 anos de história do Império Bizantino. Desde a fundação de Constantinopla, no ano 330, pelo imperador Constantino, até à sua queda, em 1453, após a invasão Otomana, que a actual cidade de Istambul foi um importante centro criação artística e mercantil que agora se apresenta. Nesta exposição, organizada em conjunto com o Museu Benaki de Atenas e com peças procedentes de colecções espalhadas pelo Mundo, encontram-se documentos, ícones, pintura e escultura assim como jóias, marfins e objectos preciosos. Este acervo é muito interessante do ponto de vista gemológico e da história da joalharia, pois contém testemunhos da produção artística, dos metais preciosos, gemas e estilos de lapidação da época, inseridos num contexto geográfico e histórico específicos. Mais informações em www.royalacademy.org.uk Apples of Gold in Pictures of Silver Israel Diamond Museum, Ramat Gan Termina no final de Março uma importante mostra de joalharia de raros exemplares recolhidos durante campanhas arqueológicas levadas a cabo em Israel. A exposição agora patente no Harry Oppenheimer Israel Diamond Museum em Ramat Gan, perto de Tel Aviv, conta com algumas peças anteriores aos tempos bíblicos. Estas são reveladoras da cultura e estilo de vida dos antigos israelitas e constituem testemunhos das influências estéticas, metodologias de manufactura e dos materiais usados pelos artesãos locais na antiguidade. As mais de 100 jóias desta exposição foram escolhidas pelo conservador Yehuda Kassif nas colecções da Israel Antiquities Authority e do Museu de Hecht, precisamente para ilustrar esta visão socio-artística. O próprio título da exposição transporta o visitante para os tempos bíblicos, quando as esférulas de ouro usadas em joalharia mais elaborada eram conhecidas como maçãs, tal como no Livro dos Provérbios, 25:11 “Maçãs douradas em bandeja de prata, assim são as palavras oportunas”. Sendo fundamentalmente uma janela sobre o passado, esta exposição pretende também ser uma fonte de inspiração para os novos criadores que, agora, têm uma oportunidade única para um trabalho de recolha. Curso Monográfico de Joalharia Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa Decorre ainda, até 7 de Março, no auditório do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, o IV Curso Monográfico de Joalharia. Coordenado pela investigadora Luisa Penalva, e sob a égide do Instituto de História da Arte, este curso conta com as contribuições de destacados membros da comunidade científica portuguesa. O seu timbre multi-disciplinar tem sido um dos seus atractivos que prometem cativar os inscritos nas 11 sessões planeadas para 2009. número 5 Janeiro 2009 13 AGENDA PORTUGALGEMAS Eventos Gemológicos Internacionais Adiados Diversas circunstâncias, políticas e económicas, têm forçado as comissões organizadoras de diversos encontros de carácter cientifico ou de mercado a adiar, realocar ou até mesmo cancelar a sua realização. É o caso do GRC Gemological Research Conference em S. Diego, EUA (adiado ainda sem data marcada); GIT 2008 em Bangkok (adiado para 9-12 de Março de 2009); Congresso da CIBJO (transferido de Macau para Istambul). AGA Annual Conference Tucson, Fevereiro de 2009 A AGA - Accredited Gemologists Association irá realizar a sua conferência anual em Tucson, no dia 4 de Fevereiro, em simultâneo com as famosas feiras de gemas nesta cidade do Arizona (EUA). A agenda de trabalhos inclui uma palestra por Christopher Smith sobre novas descobertas no laboratório AGL que dirige em Nova Iorque, incluindo novidades sobre a detecção da tanzanite tratada e não-tratada. O Dr. Emmanuel Fritsch (CRNS) e Frank Notari (Gem Tech Lab) dissertarão sobre a detecção do tratamento térmico no corindo (rubi e safira). Alan Hodgkinson, (Gem-A Scottland) partilhará os recentes desenvolvimentos no campo dos berilos naturais e sintéticos; Gary Smith (AGA) e Stan Hogrebe (Dazor Lighting) irão apresentar os resultados das investigações no campo da iluminação de gemas. Os trabalhos encerram com John Koivula (GIA) que irá falar sobre microscopia em gemologia. No jantar festivo que se segue após os trabalhos, o conhecido gemólogo Christohper Smith (AGL) irá receber o prestigiado prémio Antonio C. Bonanno Award for Excellence in Gemology, reconhecendo-se o seu meritoso percurso e empenho em prol da gemologia. Para mais informações visite www. accreditedgemologists.org Christopher P. Smith, vencedor do Antonio Bonano Award em 2009 European Gemmological Symposium Berna, Junho de 2009 Depois do sucesso do 1º EGS em 2007, na Alemanha, é a vez da Swiss Gemmological Society organizar em 2009, a 3ª edição deste encontro gemológico. Os trabalhos decorrem de 5 a 6 de Junho em Berna, e contam com a presença de figuras destacadas da gemologia mundial, tais como Sir Gabi Tolkowsky e Martin Rapaport, relevando-se igualmente as contribuições de Henri Haeni, Daniel Nyfeler, Jack Ogden e Maggie Campbell Petersen, Vincent Pardieu e Jean-Pierre Chalain. Diamantes, pedras de cor, pérolas e indústria de joalharia, serão abordados em vertentes tão diversas como a história da gemologia e os mais recentes avanços na investigação gemológica. No dia 7 haverá uma visita à famosa gruta de cristal de Grimsel nos Alpes Suíços. Estão também a ser consideradas apresentações científicas em póster, podendo os eventuais interessados contactar directamente a organização. Para mais informações visite www.gemmologie.ch PORTUGALGEMAS 2009 © Todos os Direitos Reservados Não é permitida a cópia parcial ou total, transmissão ou difusão destes conteúdos salvo autorização expressa do editor. Agradecemos a consideração pela propriedade intelectual que está devidamente legislada no Código do Direito de Autor e Direitos Conexos, tal como Dec. Lei 63/85 de 14 de Março, alterado pelos Dec. Lei 332/97 e 334/97 de 27 de Novembro. 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