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experiencias
OFICINA “PERFOGRAFIA
performance como cartografia, performer como cartógrafo”
COORDENAÇÃO DA OFICINA:
COLETIVO PARABELO
Diego Marques - Graduado Comunicação e Artes do Corpo
com ênfase em Performance, PUC/SP
ACOMPANHANTE:
Priscila Lolata - Doutoranda PPG Arquitetura e Urbanismo/UFBA ,
membro do Laboratório Urbano
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Perfografia
Performance como cartografia,
performer como cartógrafo
Diego Marques
Graduado Comunicação e Artes do Corpo com ênfase em Performance,
PUC/SP
Denise Rachel
Mestranda Arte Educação/UNESP
Uma lembrança para estes artistas de hoje. Escavar camadas da
história pessoal e coletiva, chegar ao rosto enigma, debaixo da
máscara ‘civilizada’. Tatear os frágeis alicerces da nossa “polis”
miserável. Chegar à terra que pulsa sob o asfalto.
Cassiano SydowQuilici
Começamos este artigo em busca de rastros,
vestígios, pegadas na memória do corpo em um
Escrita como
experiment[ação]
errante ou conto
não/e conceitualdesdobramentos
ficcionais de uma
suposta experiência
da cidade
Yuri Tripodi
Graduando Artes Cênicas
Priscila Lolata
Graduada Turismo, doutoranda PPG Arquitetura e Urbanismo/UFBA e
membro Laboratório Urbano
esforço de propormos aproximações e desdobramentos possíveis da experiência metodológica
que nos propusemos compartilhar, nesta terceira
Esse escrito não possui elucubração teórica [visto
edição do Corpocidade. Compartilhamento que
por uma superfície de percepção]. Não para ser
nos propiciou um mergulho intensivo na geo-
avesso às citações e às metodologias, sabe-se o
grafia dos afetos, cujos trajetos tentaremos aqui
quanto proporcionam, acrescentam, potenciali-
transfazer, ao deixarmo-nos roçar pela ausência
zam [...] Mas é justamente para tencionar o lugar
da presença daquelas longínquas, ensolaradas e
da escrita do relacionar; e propor uma espécie de
azuladas tardes de Abril.
escrito-relato-poético (performativo por si) que
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Fomos de São Paulo até Salvador, para ministrar a
ultrapassa o cunho da primeira pessoa a partir
oficina Perfografia – Performance como cartogra-
da reflexão sobre (e como) uma experimentação,
fia, performer como cartógrafo. Em linhas gerais, a
a performance intrínseca a esta e, no comparti-
proposta consistia em um compartilhamento da
lhamento, reverberar meditações sobre a cidade
pesquisa que desenvolvemos como integrantes
contemporânea. Enviesado na afirm[ação]: refle-
do Coletivo Parabelo,1 por meio do qual, temos in-
tir-compor a partir de um acontecimento por si já
vestigado interações possíveis entre espaço urba-
é conceito. Incorporados alguns outros e a partir
no, corpo e a performance arte. Talvez possamos
das discussões e do exercício na rua junto à oficina
dizer que nossas experimentações tem se nortea-
perfografia, no Corpocidade, surgiu este conto:
do em torno de duas questões que não cessam de
se reconfigurarem: o que pode um corpo em estado performático mover no espaço urbano? Ou
ainda, quê corpo pode mover na cidade? (FABIÃO,
2008, p. 238)
ponentes da perfografia, recordo que era algo do
tipo: “ocupe os espaços vazios da cidade”. tentando me livrar de algumas resistências e certezas-casca-duras como a da imprevisibilidade da ex-
Foi na tentativa de esboçar possíveis respostas
periência, ultrapass(e)ei o portão da FAU-UFBA e,
para questões como estas, que começamos a pro-
como de se esperar naquele contexto, me deparei
por uma conversa entre leituras e procedimentos
com a avenida recheada de corpos-máquina na
que vínhamos testando em nossas performances
aceleração própria d’o que é (o) contemporâ-
urbanas, pelas periferias paulistanas. De um lado,
neo(?). ocupar espaços vazios. espaços vazios? es-
tínhamos a pesquisa pioneira empreendida por
vaziados? expropriados? espetacularizados? [...] e
Renato Cohen em seu livro Performance como lin-
ocupar? preencher? se relacionar? [...] excerto pul-
guagem (1989), no qual ele propõe um consisten-
sante do pensamento-guia que conduziu o mo-
te estudo sobre a Arte da Performance, até então
mento posterior: “ande e repare. somente”. foi o
inédito no Brasil; de outro, Cartografia sentimental
que fiz. segui, pelo pouco espaço destinado àque-
(1989), de Suely Rolnik que, de modo geral, discu-
les que andam, em direção a dois lugares: algum
te a modelização das subjetividades femininas na
lugar e lugar nenhum. passeei por algum tempo.
sociedade capitalista contemporânea e chama-
observei o espaço destinado àqueles que andam.
-nos a atenção para a dimensão política do desejo,
(re)parei nas re(l)ações. os corpos-humanos se
ao afirmar a possibilidade da configuração de sub-
deslocavam numa velocidade inferior, mas direta-
jetividades que desestabilizam os modelos vigen-
mente proporcional à dos corpos anteriormente
tes, ao fermentar outras possibilidades de vida.
citados. quem se mantinha estático (numa per-
O que pode parecer um tanto quanto discrepante à primeira vista, pode não o ser em uma leitura
mais acurada: ambas as obras foram publicadas
pela primeira vez no emblemático ano de 1989 e
apontam, cada uma a seu modo e em seus dados
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Não me lembro de certo qual a indicação dos pro-
cepção superficial de movimento), reparava em
minha observância e minha atenção se desviava,
simultaneamente, para essa ou esse. um suposto
campo comum de vibração dos vagantes. agora
o texto é que se desvia do trajeto pensado como
primordial e apesar de contribuir para enunciar
contextos, a alteridade e a experiência corporal
como chaves para a constituição de territórios
existenciais (ROLNIK, 1989; CARVALHAES, 2012)
ou a criação de um tempo-espaço de experimentação (COHEN,1989) seja na vida, seja na arte, ou
ainda, na emergência de territórios existenciais
que borrem as fronteiras entre arte e vida, como
costuma operar a performance arte ao enfatizar a
materialidade, a presença ou mesmo a cotidianidade do corpo.
Assim, se para Cohen o performer é um ritualizador
do instante presente, que lança mão de leitmotivs,
dentre outras formas, como procedimentos para
disparar uma ação performática auto-organizada;
para Rolnik o cartógrafo é aquele que, ao acionar
seu corpo vibrátil, participa das estratégias da formação de desejo no campo social, o que por sua
vez, só se dá no exercício ativo do que ela chama
de Linhas de Vida. Deste modo, podemos observar que tanto o performer quanto o cartógrafo ao
operarem através de linhas de força/vida, deixam-se afetar de corpo inteiro, indo para além do
olhar, não só ao refazerem, mas ao transfazerem
linguagem artística quanto a cartografia parecem
o caminho do outro, neste caso,o outro urbano.
estar interessadas no engendramento de proces-
(AQUINO; AZAMBUJA; MEDEIROS, 2008) Trajetos
sos criativos no/com o mundo. A teórica de teatro
poéticos que por excelência permitem a desrei-
alemã, Erika Fischer-Lichte em seu livro The trans-
ficação, à medida que o Perfomer e o Cartógrafo
formative power of performance, a new aesthetics
são atravessados pelo devir urbano, propiciando
(2004), chama-nos a atenção para um fenômeno
a reativação da cidade subjetiva (GUATTARI,1992)
acontecido nos idos dos anos 60, no campo das ar-
o que torna evidente a dimensão ética, estética e,
tes em geral e ao qual ela denomina performative
portanto eminentemente política da prática do
turn. Segundo a autora, esta virada performativa
performer e do cartógrafo.
pode ser constatada não só na borra das fronteiras
Nesta perspectiva, outra aproximação entre a prática do performer e do cartógrafo pode ser feita,
uma vez que ambas apresentam uma lógica notadamente processual. Tanto a performance como
entre as linguagens artísticas, de onde provém a
arte da performance, como também no deslocamento do processo criativo para o centro do ato artístico, rarefazendo a noção de obra, artista e público, reaproximando a práxis artística da práxis vital.
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No que diz respeito à cartografia, a própria Rolnik
com esse desvio, volto para o mote de criação
é quem nos conta que esta, diferentemente de
da performance-experimento: a quantidade de
um mapa, que representa um todo mais ou me-
lixo(s) que encontrei na calçada. era exorbitante.
nos estático, é um desenho em movimento que
muito lixo. praticamente em todos os postes que
acompanha e se faz ao mesmo tempo em que o
passei haviam mais de três sacos plásticos de re-
movimento de transformação da paisagem. Nes-
síduos do consumo. o pouco espaço destinado
ta perspectiva, podemos pensar a cartografia
àqueles que andam é (para) lixo. vivenciei o que
não como um método, mas como um hódosmetá
surgiu [...] existiam dois pontos nevrálgicos. dois
(ESCÓSSIA, KASTRUP, PASSOS, 2012) uma vez que
grandes lixões que, por ocuparem a calçada por
esta propõe uma inversão metodológica, etimoló-
inteiro, faziam desviar o trajeto dos andantes. para
gica e conceitual ao escolher uma postura na qual
se deslocar, gente disputava com carro. combate
o cartógrafo não preestabelece um caminho (do
desleal. o grande espaço-asfalto não foi produ-
grego hódos) em direção a uma meta (do grego
zido para àqueles que andam. tenso. tamanha e
metá), mas sim aposte nos caminhos, nos trajetos,
contínua velocidade dos carros ao dobrarem a
nos percursos, em suma, na experimentação dos
curva. eita, esqueci de avisar: um dos lixões era es-
processos criativos; o que não implicaria em uma
quina. começo a me relacionar com esta. abri dois
falta de rigor, uma vez que este estaria diretamen-
dos sacos. resto de carne vermelha. embalagens
te implicado com a potência de vida. Deste modo,
amassadas de cigarro e produtos de supermer-
podemos entender que tanto o performer como o
cado. livro. três calcinhas. o cheiro de sangue era
cartógrafo são aqueles que vão sem ver, mas vão
forte em uma das. organizei caixas de papelão pra
de corpo inteiro, porque sabem de saída, que o ca-
sentar. e li um pouco do livro. uma ode à biografia
minho só se faz caminhando.
de um escritor baiano que o nome é o que menos
Foi no meio do caminho do Coletivo Parabelo, que
o performer encontrou o cartógrafo e que a performance arte abraçou a cartografia e deste modo
compuseram os híbridos: Perfógrafo e Perfografia.
Contudo, cabe frisar aqui que esta aproximação,
em suas amplas acepções, não é de todo inaudita no terreno movediço da performance, desde o
seu âmbito antropológico, sociológico e até o artístico. Richard Schechner (2006), no subcapítulo
Maps as Performance do seu já clássico Performance Studies: an Introduction, second edition, salienta o aspecto performativo dos mapas, uma vez
que estes performam uma interpretação específica do mundo, para além de uma pretensa neutralidade dos mesmos. Já o mexicano Guillermo Gó-
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importa. na quinta página concluí que o livro era
desinteressante demais e re(parei) nos olhares.
muitos. diversos como às subjetividades que os
produziram. vislumbrei, com a que me compôs
naquele momento, um comum no olhar: a desconfiança. atravessei a rua e pedi um saco plástico
transparente que coloquei na cabeça para turvar
um pouco a(quela) visão. voltei a fuçar os sacos,
agora com um deles envolvendo a cabeça, preso
no pescoço. uma espécie de homem-lixo, espécie
de camuflagem forjada. simultaneamente: alguns
olhares desapareceram por conta da transparência plástica, outros se distanciaram com receio
pela extracotidianidade do ato, supus; um sujeito gritou: é performance! aí muitos que estavam
mez-Peña(2005), um dos artistas mais influentes
da arte da performance, em seu artigo “Endefensa
del arte del performance”, propõe a si mesmo e
por consequência ao artista performático, como
um cartógrafo experimental.O performero, como
o próprio Gómez Peña prefere para referir-se ao
performer, seria um refugiado, seja ele estético,
político, étnico e/ou de gênero e, seria justamente
esta condição de exilado que o colocaria à deriva
não só pelas linguagens artísticas, como também
pela cultura instituída, de forma que, em seu êxodo para fora das instituições e categorias oficiais
da arte, o artista da performance com frequência
elege a rua como espaço privilegiado de atuação.
Este movimento pode ser observado de maneira
proeminente, sobretudo nos países da América
Latina, do Leste Europeu e no Japão em meados
do século XX, nos quais “performadores” asfixiados ou mutilados por contextos ditatoriais e/ou
bélicos encontram na interação entre espaço urbano, corpo e performance artística a possibilidade de reafirmar a aliança entre arte e política, em
detrimento do conluio arte e consumo.
Ainda neste sentido, podemos observar em diversos movimentos artísticos ou em artistas diretamente ou indiretamente relacionados com a arte
da performance, uma série de ações performáticas em diálogo com múltiplos entendimentos
de mapa e/ou cartografia como chave para a experimentação da relação corpo e cidade. Alguns
exemplos podem ser encontrados nos mapas afetivos desenvolvidos pela Internacional Situacionista, em suas derivas pela Europa do pós-guerra
ou, em Map Piece, no qual Yoko Ono, no verão de
1962, instruía os transeuntes a desenharem mapas imaginários para em seguida performá-los pe-
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las ruas dos Estados Unidos e, ainda mais recente-
parados na observância rumaram à atividades
mente, nas performances do artista belga Francis
outras; apareceu um morador de rua, aparente
Alys, que, por exemplo, em The Collector passeou
frequentador daquele lixão e soltou: “parceiro,
pelas ruas da cidade do México entre os anos de
trabalhe um pouco mais pra lá, porquê os carros
1991 e 1992, com uma espécie de cachorro mag-
passam voando aqui” e apontou. parei. estacionei
nético de brinquedo confeccionado pelo próprio
o corpo na reverberação do gesto. um outro ex-
e para a qual o artista encontrou no mapa a pos-
certo pulsante da lembrança do instante: “parceria
sibilidade de organizar uma narrativa cartográfica
no reconhecer e que(!) reconhecimento”. achei de
como forma de registro da ação performática.
uma beleza tão paradoxal tão verbalmente indizí-
Esta breve e incipiente genealogia das ramificações entre os diversos conceitos de performance
e cartografia tenta não só ilustrar a multiplicidade
de configurações que esta discussão tem tomado
vel que o que posso descrever é que o saco ficou
úmido. turvou ainda mais a visão. ele ajeitou algumas “compras” ao meu lado, deviam estar reservadas por ele e pra ele e partiu [...].
ao longo do tempo, como também procura observar como estas estão constantemente em contato
com a relação corpo e cidade, de modo que talvez
...
possamos deduzir que proposições como os híbridos Perfógrafo e Perfografia, estejam interessados
em insistir na natureza politicamente incorreta
da performance como linguagem artística, uma
vez que esta pode vir a ser uma potente forma de
ativação de micro resistências urbanas (JACQUES,
2010) ao desdomesticar a relação entre corpo e
cidade, ao investir nas formas de vida imanentes
às zonas urbanas opacas ou ainda, ao reafirmar o
sentido público do espaço urbano comumente estranhado dos cidadãos, sobretudo no que diz respeito às zonas urbanas luminosas. (SANTOS, 1996)
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Partimos da tentativa de construção de um texto coletivo, que levantasse às experiências individuais e coletivas do grupo que participou da
Oficina “Perfografia”, oferecida pelo Coletivo Parabelo, no Corpocidade 3. Neste contexto, Yuri
Tripodi, muito observador durante as discussões,
com poucas intervenções com sua fala, sucedeu
às propostas iniciais e lançou uma escrita da (e
como) experimentação. Relato ficcional que
aborda o exercício proposto no primeiro dia da
Oficina, em que os integrantes deveriam seguir
Nesta perspectiva, o Perfógrafo em suas Perfogra-
uma instrução individual, oferecida de forma es-
fias não estaria interessado na regulação de um
crita num pequeno papel, pelos proponentes do
espaço autônomo e privado em relação à cida-
Parabelo. No segundo dia, o encontro ocorreu
de, pelo contrário, ele deseja ir sem ver, de corpo
numa esplanada, em mesas que pertenciam a
inteiro mergulhado no fluxo cotidiano urbano,
um restaurante e, sem consumirmos nada, sen-
experimentando as chamadas errâncias urbanas
tamos e discutimos textos previamente lidos. Le-
(JACQUES, 2012) ora fazendo visitas a lugares inu-
vantamos questões sobre performance, cartogra-
sitados da metrópole, como faziam os Dadaístas
bitar um território existencial no espaço urbano,
no começo do século passado, ora em um Delirium
uma vez que toda obra de arte é uma habitação.
Ambulatorium, no qual descobre a rua através do
(PASSOS apud BARDAWIL, 2011) Arte entendida
andar, acionando o estado de criação ali, na vida
aqui não como monumento, ornamento, deco-
cotidiana, como fazia Hélio Oiticica pelo Rio de Ja-
ração ou espetáculo, mas como engendramento
neiro nos anos 1970. O Perfógrafo experimenta a
com o mundo, em um encontro incontornável e
precariedade das formas errantes durante os seus
irreversível com o outro urbano. Para Eleonora
movimentos de territorialização, desterritorializa-
Fabião, esta seria a força da performance: turbinar
ção e reterritorialização e testa a composição de
a relação do cidadão com a polis, do agente com
uma performance urbana pelo trajeto, ao mesmo
seu contexto histórico, do vivente com o tempo, o
tempo em que faz da errância uma interrogação
espaço, o corpo, o outro, o consigo. A potência da
política das cidades. (BOURRIAUD, 2011)
Performance residiria em seu poder de des-habitu-
Se estivermos de acordo com Clarice Lispector,
que dizia que perder-se também é caminho, podemos entender o Perfógrafo como um ser errante.
Em suas Perfografias este convoca os transeuntes
ar, des-mecanizar, escovar à contra pelo. Uma vez
que, parafraseando novamente Fabião: se o performer evidencia o corpo é para tornar evidente o
corpo cidade.
a transformarem os espaços ordinários da metrópole em espaços extraordinários, ao realizarem
não uma intervenção, o que poderia dar margens
ao entendimento da ação de um sujeito sobre um
objeto, mas uma Composição Urbana. (AQUINO;
AZAMBUJA; MEDEIROS, 2008) Proposição feita
pelos Corpos Informáticos, grupo de performancede Brasília, Distrito Federal, as CU’s transfazem
os sinais normatizantes que nos condicionam e
automatizam no cotidiano citadino, oferecendo-nos uma visão dada e ordeira do mundo, em sinais nomadizantes que consistem em instantes
singulares, inevitáveis e irrepetíveis, nos quais
transeuntes experimentam uma espécie de cesura no espaço-tempo, ao serem nocauteados por
um questionamento perturbador e obsceno. “Que
porra é essa?”, costuma ouvir o Perfógrafo. Mais
que respostas, as CU’s produzem perguntas.
Assim, o Perfógrafo investe no híbrido performance arte e cartografia como possibilidade de ha-
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NOTAS
1 Coletivo Parabelo de performance urbana atua na cidade
fia, cidade e as mais diversas relações possíveis
de São Paulo e é composto por Bárbara Kanashiro, Denise
Rachel, Diego Marques, Eliane Andrade e Thalita Duarte. Os
sites de referência para acompanhar o trabalho do coletivo
são: www.coletivo-parabelo.blogspot.com e http://coletivoparabelo.wix.com/standby
sobre esses temas. Ali mesmo, a poucos metros,
foi realizada uma ação coletiva do grupo que demandava sincronia, numa performance a partir
de improvisações, e uma relação foi construída
com os pedestres e carros que passavam rápidos ou paravam no semáforo. Yuri preferiu não
REFERÊNCIAS
participar deste momento, nem eu. Participamos
AQUINO, F. M.; AZAMBUJA, D.; MEDEIROS, M.B.
Composição urbana (CU) e Ueb arte iterativa
(UAI): práticas e teorias artísticas do Corpos
Informáticos. In: ENCONTRO NACIONAL DA
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM
ARTES PLÁSTICAS PANORAMA DA PESQUISA EM
ARTES VISUAIS, 17.2008. Disponível em: http://
www.anpap.org.br/anais/2008/artigos/171.pdf.
Acesso em: dez. 2012.
como observadores. Uma outra experiência...
BARDAWIL, A. Corpo, dança e performance: uma
breve reflexão. Revista Reticências... Crítica de arte,
Fortaleza, n. 3, p. 46-51, 2011.
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Martins Editora, 2011.
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São Paulo: Perspectiva, 2009.
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performance: A new aesthetics. Oxon: Routledge,
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GÓMEZ-PEÑA, G. Endefensa del arte del
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GUATTARI, L. F. Caosmose: um novo paradigma
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