FISIOLOGIA ARTICULAR
A minha mulher
A. I. KAPANDJI
Ex-Interno dos Hospitais de Paris
Ex-Chefe de Clínica-Auxiliar dos Hospitais de Paris
Membro da Sociedade Francesa de Ortopedia e Traurnatologia (S.O.F.C.O. T.)
Membro da Sociedade Francesa de Cirurgia da Mão (GEM.)
FISIOLOGIA ARTICULAR
ESQUEMAS COMENTADOS
DE MECÂNICA HUMANA
VOLUME
I
5ª edição
MEMBRO SUPERIOR
I. - O OMBRO
11. - O COTOVELO
111.- A PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO
IV. - O PUNHO
V. - A MÃO
Com 550 desenhos originais do autor
~
~r
MALOINE
Título do original em francês
PHYSIOLOGIE ARTICULAIRE. 1. Membre Supérieur
© Éditions MALOL'lE. 27, Rue de l'École de Médecine. 75006 Paris.
Tradução de
Editorial Médica Panamericana
S.A.
Revisão Científica e Supervisão por Soraya Pacheco da Costa, fisioterapeuta
ISBN (do volume): 85-303-0043-2
ISBN (obra completa): 85-303-0042-4
© 2000 Éditions 1\IALOINE.
27, rue de l'École de Médecine. 75006 Paris.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS,
RJ.>
K26f
v.1
Kapandji, A. L (Ibrahim Adalbert)
Fisiologia articular, volume 1 : esquemas comentados de
mecânica humana / A. L Kapandji ; com desenhos originais
do autor; [tradução da 5.ed. original de Editorial Médica
Panamericana S.A. ; revisão científica e supervisão por
Soraya Pacheco da Costa]. - São Paulo: Panamericana ; Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000
: 550 il.
Tradução de: Physio1ogie articulaire, 1 : membre
supérieur
Inclui bibliografia
Conteúdo: V.l. Membro superior: O ombro - O cotovelo A pronação-supinação
- O punho - A mão
ISBN 85-303-0043-2
l. j\!ecânica humana. 2. Articulações - Atlas. 3.
Articulações - Fisiologia - Atlas. L Título.
00-1623.
231100
CDD 612.75
CDU 612.75
241100
009947
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(Medicina Panamericana Editora do Brasil Ltda.)
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Impreso en Espana
ADVERTÊNCIA
DO AUTOR À QUINTA EDIÇÃO
A partir de sua primeira edição, há sete anos atrás, este livro, inspirado principalmente por
Duchenne de Boulogne, o "grande precursor" da Biomecânica, permâneceufiel a si mesmo, exceção
feita por algumas pequenas correções. Neste momento. na oportunidade do aparecimento da quinta
edição, achamos necessário incluir modificações importantes. em especial no que se refere à mão. De
fato, o rápido desenvolvimento da cirurgia da mão exige um incessante aprofundamento quanto ao
conhecimento de sua fisiologia. Este é o motivo pelo qual, à lu: de recentes trabalhos, temos escrito e
desenhado novamente tudo relacionado ao polegar e ao mecanismo de oposição: a função da articulação trapézio-metacarpeana na orientação e rotação longitudinal da coluna do polegar se explica de
maneira matemática a partir da teoria das articulações de dois eixos tipo cardan; assim mesmo, se esclarece afunção da articulação metacalpofalangeana no "bloqueio" da preensão de grandes objetos
e, enfim, a função da articulação intelfalangeana na "distribuição" da oposição do polegar sobre a
polpa de cada um dos quatro dedos. A riqueza na variedade de preensão e preensões associadas às
ações está ilustrada com novos desenhos. Temos apelfeiçoado a definição das distintas posições funcionais e de imobilização. Porfim, com o objeti,'o de estabelecer um balanço funcional rápido da mão,
propõe-se uma série de provas de movimentos, as "preensões mais ação" que, melhor do que as valorações analíticas da amplitude de cada uma das articulações e da potência de cada mÚsculo,facilitam uma apreciação sintética do valor da utilização da mão.
No final do livro suprimimos alguns modelos obsoletos ou que não oferecem muito interesse,
e substituímos por um modelo da mão que explica. neste caso de maneira satisfatória, a oposição do
polegar.
Em resumo, este é um livro renovado e enriquecido em profundidade.
1- ---
PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS
Passaram mais de vinte e cinco anos desde o momento em que se escreveram estes três volumes de Esquemas Comentados de Fisiologia Articular obtendo grande sucesso entre os leitores de
todo tipo, estudantes de medicina e fisioterapia, médicos, fisioterapeutas e cirurgiões. O fato de que
continue atual se deve ao particular caráter destas obras, cujo objetivo é o ensino do funcionamento
do Aparelho Locomotor de maneira atrativa, privilegiando a imagem diante do texto: o princípio é
explicar uma Única idéia através do desenho, o qual permite uma memorização e uma compreensão
definitims. O fato de que estes livros não tenham competidor sério demonstra nitidamente o seu valor
intrínseco. Na verdade, é a clareza da representação espacial do funcionamento dos mÚsculos e das
articulações o que faz com que seja tão evidente: estes esquemas não integram unicamente as três
dimensões do espaço, mas também uma quarta dimensão, a do Tempo, porque a Anatomia Funcional
está viva e, conseqüentemente, móvelisto é, inscrita no Tempo. Isto diferencia a Biomecânica da
Mecânica propriamente dita, ou Mecânica Industrial. A Biomecânica é a Ciência das estruturas evolutivas, que se mod!ficám segundo os contratempos e evolu,em em função das necessidades, capazes
de renovar-se constantemente para compensar o desuso. E uma mecânica sem eixo materializado,
móvel inclusive no percurso do movimento. As suas supeifícies articulares integram um jogo mecânico que seria por completo impossível na mecânica industrial, porém lhe outorga possibilidades adiclOnazs.
Eis aqui o espírito que impregna estes volumes, ao mesmo tempo que deixa a porta aberta aos
outros métodos de ensino para o futuro. Este é, na verdade, o segredo da sua perenidade.
A. I. KAPANDJI
ÍNDICE
o OMBRO
FÍsiologia do ombro
12
A flexão-extensão e a adução
14
A abdução
16
A rotação do braço sobre o seu eixo longitudinal
18
Movimentos do coto do ombro no plano horizontal
Flexão-extensão horizontal
18
20
O movimento de circundução
22
O "paradoxo" de Codman
24
Avaliação dos movimentos do ombro
26
Movimentos de exploração global do ombro
28
O complexo articular do ombro
30
As superfícies articulares da articulação escápulo-umeral
32
Centros instantâneos de rotação
34
A cápsula e os ligamentos do ombro
36
O tendão da porção longa do bíceps intra-articular
38
Função do ligamento glenoumeral
40
O ligamento córaco-umeral na flexão-extensão
42
A coaptação muscular do ombro
44
A "articulação" subdeltóide
46
A articulação escápulo-torácica
48
Movimentos da cintura escapular
50
Os movimentos reais da articulação escápulo-torácica
52
A articulação estemocostoclavicular
(As superfícies articulares)
54
A articulação estemocostoclavicular
(Os movimentos)
56
A articulação acrômio-clavicular
58
Função dos ligamentos córaco-claviculares
62
Músculos motores da cintura escapular
64
O supra-espinhal e a abdução
68
Fisiologia da abdução
70
As três fases da abdução
As três fases da flexão
74
Músculos rotadores
78
A adução e a extensão
80
76
o COTOVELO
Flexão-extensão
82
O cotovelo: Articulação de separação e aproximação da mão
84
8 ÍNDICE
As superfícies articulares
86
A paleta umeral
88
Os ligamentos do cotovelo
90
A cabeça radial
A tróclea umeral
92
As limitações da flexão-extensão
Os músculos motores da flexão
96
94
98
Os músculos motores da extensão
100
Os fatores de coaptação articular
102
A amplitude dos movimentos do cotovelo
104
As referências clínicas da articulação do cotovelo
104
Posição funcional e posição de imobilização
106
Eficácia dos grupos flexor e extensor
106
A PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO
Significado
108
Definição
110
Utilidade da pronação-supinação
112
Disposição geral
114
Anatomia fisiológica da articulação rádio-ulnar superior
116
Anatomia fisiológica da articulação rádio-ulnar inferior
118
Dinâmica da articulação rádio-ulnar superior
122
Dinâmica da articulação rádio-ulnar inferior
124
O eixo de pronação-supinação
128
As duas articulações rádio-ulnar são co-congruentes
132
Os motores da pronação-supinação:
134
os músculos
As alterações mecânicas da pronação-supinação
136
Compensações e posição funcional
138
O PUNHO
Significado
140
Definição dos movimentos do punho
142
Amplitude dos movimentos do punho
144
O movimento de circundução
146
O complexo articular do punho
148
As articulações rádio-carpeanas e médio-carpeanas
150
Os ligamentos da articulação rádio-carpeana e da médio-carpeana
152
Função estabilizadora dos ligamentos
154
A dinâmica do carpo
158
O par escafóide-semilunar
162
O carpo de geometria variável
164
ÍNDICE 9
As alterações patológicas
166
Os músculos motores do punho
168
Ação dos músculos motores do punho
170
A MÃO
A sua função
174
Topografia da mão
176
Arquitetura da mão
178
O maciço do carpo
182
A escavação palmar
184
As articulações metacarpofalangeanas
186
O aparelho fibroso das articulações metacarpofalangeanas
190
A amplitude dos movimentos das articulações metacarpofalangeanas
194
As articulações interfalangeanas
Sulcos ou canais e bainhas dos tendões tlexores
196
200
Os tendões dos músculos flexores longos dos dedos
Os tendões dos músculos extensores dos dedos
202
Músculos interósseos e lumbricais
208
A extensão dos dedos
210
Atitudes patológicas da mão e dos dedos
214
Os músculos da eminência hipotenar
216
O polegar
218
Geometria da oposição do polegar
220
A articulação trapézio-metacarpeana
222
A articulação metacarpofalangeana
A interfalangeana
do polegar
206
238
246
do polegar
Os músculos motores do polegar
248
As ações dos músculos extrínsecos do polegar
252
As ações dos músculos intrínsecos do polegar
254
A oposição do polegar
258
A oposição e a contra-oposição
264
Os tipos de preensão
266
As percussões - O contato
-=-
A expressão gestual
284
Posições funcionais e de imobilização
286
As mãos ficções
A mão do homem
288
Modelos de mecânica articular para cortar
292
BIBLI OG RAFIA
296
290
10 FISIOLOGIA ARTICULAR
\
-
1. ME\fBRO
Fig.1-1
SUPERIOR
11
12 FISIOLOGIA ARTICULAR
FISIOLOGIA DO OMBRO
o ombro, articulação proximal do membro superior (fig. 1-1, pág. 11), é a mais móvel
de todas as articulações do corpo humano.
Possui três graus de liberdade (fig. 1-2), o
que permite orientar o membro superior em relação
.... aos três planos do espaço, graças a três
eixos pnnClpals:
1) Eixo transverso,
frontal:
incluído no plano
Permite movimentos de fIexão-extensão realizados no plano sagital (ver
figo 1-3 e plano A da figo 1-9).
2) Eixo ântero-posterior,
plano sagital:
incluído
no
Permite os movimentos de abdução (o
membro superior se afasta do plano de
simetria do corpo), adução (o membro
superior se aproxima ao plano de simetria) realizados no plano frontal (ver
figs. 1-4 e 1-5 e plano B da figo 1-9).
3) Eixo vertical, determinado pela intersecção do plano sagital e do plano
frontal:
Corresponde à terceira dimensão do espaço; dirige os movimentos de fIexão e
de extensão realizados no plano horizontal, o braço em abdução de 90° (ver
também figo 1-8 e plano C da figo 1-9).
O eixo longitudinal do úmero (4) permite
a rotação externalinterna do braço e do mem-
bro superior, de duas maneiras diferentes:
a rotação voluntária (também denominada "rotação adjunta') que utiliza
o terceiro grau de liberdade e não é
possível se,não for em articulações de
três eixos (as enartroses). Deve-se à
contração dos.músculos rotadores;
a rotação automática (também denominada "rotação conjunta") que aparece sem nenhuma ação voluntária nas
articulações de dois eixos, ou nas articulações de três eixos quando funcionam como articulações de dois eixos.
Mais adiante trataremos o paradoxo
de CODMAN.
A posição de referência é definida como
decrevemos a seguir:
O membro superior pende ao longo do
corpo, verticalmente, de maneira que o eixo
longitudinal do úmero (4) coincide com o eixo
vertical (3). Na posição de abdução a 90° o eixo longitudinal (4) coincide com o eixo transversal (1). Na posição de fIexão de 90°, coincide como o eixo ântero-posterior (2).
Portanto, o ombro é uma articulação com
três eixos principais e três graus de liberdade;
o eixo longitudinal do úmero pode coincidir
com um dos dois eixos ou se situar em qualquer posição intermédia para permitir o movimento de rotação externa/interna.
1. MEMBRO
I
,II2-4.J\,- -.,
i/0
,
(
(
I
Fig.1-2
SUPERIOR
13
14 FISIOLOGIA ARTICULAR
A FLEXÃO-EXTENSÃO E A ADUÇÃO
Os movimentos
de flexão-extensão
(fig.1-3) se realizam no plano sagital (plano
A, figo 1-9), ao redor de um eixo transversal
(1, figo 1-2):
do "coto" do ombro no plano horizontal (pág.
18) e por isso é preferível não utilizá-los quando nos referimos aos movimentos do membro
supenor.
a) extensão: movimento de escassa amplitude, 45 a 50°;
A partir da posição anatômica (máxima
adução), a adução (fig. 1-4) no plano frontal é
mecanicamente impossível devido à presença
do tronco.
b) flexão: movimento de grande amplitude, 180°; observar que a mesma
posição de flexão a 180° pode ser
definida também como uma abdução de
180°, próxima à rotação longitudinal
(ver mais adiante o paradoxo de
CODMAN).
Com freqüência se utilizam, embora de
modo errôneo, os termos de antepulsão para se
referir à flexão e retropulsão para a extensão.
Isto leva a uma confusão com os movimentos
A partir da posição anatômica, não é possível a adução se não for associada com:
a) uma extensão: adução muito leve;
b) uma flexão: a adução alcança de 30 a 45°.
A partir de qualquer posição de abdução, a
adução, neste caso denominada "adução relativa", é sempre possível no plano frontal, até a
posição anatômica.
L MEMBRO SUPERIOR
Fig. 1-3
a
Fig.1-4
b
b
15
16 FISIOLOGIA ARTICULAR
AABDUÇÃO
A abdução (fig. 1-5), movimento que
afasta o membro superior do tronco, se realiza
no plano frontal (plano B, figo 1-9), ao redor
do eixo ântero-posterior (fig. 1-2, eixo 2).
A amplitude da abdução alcança os 180°:
o braço está em posição vertical por cima do
tronco (d).
Duas advertências:
-
-
a partir dos 90°, a abdução aproxima o
membro superior ao plano de simetria
do corpo; também é possível chegar à
posição final de abdução de 180° mediante um movimento de flexão de
180°;
do ponto de vista das ações musculares
e do jogo articular, a abdução, a partir
da posição anatômica (a), passa por
três fases:
(b) abdução de 0° a 60°, que unicamente pode se realizar na articulação escápulo-umeral;
(c) abdução de 60° a 120° que necessita
da participação da articulação escápulo-torácica;
(d) abdução de 120° a 180° que utiliza,
além das articulações escápuloumeral e escápulo-torácica, a inclinação do lado oposto do tronco.
Observar que a abdução pura, descrita unicamente no plano frontal, é um movimento pouco comum. Pelo contrário, a abdução associada
com uma fiexão determinada, isto é, a elevação
do braço no plano da escápula, formando um
ângulo de 30° em sentido anterior com relação
ao plano frontal, é o movimento mais utilizado,
principalmente para levar a mão até a nuca ou à
boca.
1. J\IEMBRO SUPERIOR
.
\
/
a
b
/ \ 1/\
c
Fig.1-5
d
17
18 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ROTAÇÃO DO BRAÇO SOBRE O SEU EIXO LONGITUDINAL
A rotação do braço sobre o seu eixo longitudinal (fig. 1-2, eixo 3) pode ser realizada em
qualquer posição do ombro. Trata-se da rotação
voluntária ou adjunta das articulações com três
eixos e três graus de liberdade. Em geral, esta
rotação se mede na posição anatõmica do braço
que pende verticalmente ao longo do corpo (fig.
1-6, vista superior).
a) Posição anatômica, denominada rotação externa/interna 0°: para medir a amplitude destes movimentos de rotação, o
cotovelo deve estar necessariamente jlexionado a 90° de maneira que o antebraço esteja no plano sagital. Se não tomamos esta precaução, à amplitude dos
movimentos de rotação externa/interna
do braço se somaria à dos movimentos
de pronação-supinação do antebraço.
ao longo do corpo. Pelo contrário, a rotação externa mais utilizada, portanto a
mais importante do ponto de vista funcional, é o setor compreendido entre a
posição anatõmica fisiológica (rotação
externa -30°) e a posição anatõmica
clássica (rotação 0°).
c) Rotação interna: a sua amplitude é de
100 a 110°, Para conseguir realizar essa
rotação, o antebraço deve passar necessariamente.por trás do tronco, o que
exige um certo grau de extensão do ombro. A liberdade deste movimento é indispensável para que a mão possa chegar até as costas. É a condição para se
poder realizar a higiene perineal posterior. Com relação aos primeiros 90
graus de rotação interna, é exigida necessariamente uma flexão do ombro
sempre que a mão estiver na frente do
tronco.
Esta posição anatõmica, o antebraço no
plano sagital, se utiliza de maneira totalmente arbitrária. Na prática, a posição
de partida mais utilizada, porque se cor- .
Os músculos motores da rotação longitudiresponde com o equilíbrio dos rotadores,
nal serão estudados na página 78. No que se reé a de rotação interna de 30° com relação
fere à rotação longitudinal de braço nas outras
à posição anatõmica, de maneira que a
posições que não seja a anatõmica, não é possímão fica na frente do tronco. Poder-se-ia
vel medir de maneira precisa se não for medianse denominar posição de referência fite um sistema de coordenadas polares (ver pág.
siológica.
26). Os músculos rotadores intervêm de maneira diferente em cada posição, uns perdem a sua
b) Rotação externa: a sua amplitude é de
ação rotadora, enquanto outros a adquirem. Isto
80°, jamais alcança os 90°. Esta amplitude total de 80° normalmente não é utilié um exemplo da lei da inversão das ações musculares segundo a posição.
zada nesta posição, com o braço vertical
MOVIMENTOS DO COTO DO OMBRO NO PLANO HORIZONTAL
Estes movimentos desencadeiam a ação
da articulação escápulo-torácica (fig. 1-7):
a)
posição anatômica;
b) retroposição do coto do ombro;
c) anteposição do coto do ombro.
Observar que a amplitude da anteposição
é maior do que a da retroposição.
Ação muscular:
Anteposição: peitoral maior, peitoral menor, serrátil anterior.
Retroposição: rombóides, trapézio (porção média), grande dorsal.
1. MEMBRO SUPERIOR
o
a
c
Fig.1-6
a
Fig.1-7
c
19
20
FISIOLOGIA ARTICULAR
FLEXÃO-EXTENSÃO HORIZONTAL
É o movimento do membro superior no plano horizontal (fig. 1-8 e plano C da figo 1-9) ao
redor do eixo vertical ou, mais exatamente, em
tomo de uma sucessão de eixos verticais, dado
que o movimento se realiza não só na articulação escápulo-umeral (fig. 1-2, eixo 4), mas também na escápulo-torácica (ver figo 1-37).
Posição anatõmica: o membro superior
está em abdução de 90° no plano frontal, o qual
provoca a contração da seguinte musculatura:
-
deltóide (principalmente a sua porção
acromial, figo 1-65, IIl),
-
supra-espinhal,
-
trapézio: porções superior (acromial e
clavicular) e inferior (tubercular),
serrátil anterior.
-
Flexão horizontal, movimento que associa
a flexão e a adução de 140° de amplitude, ativa
os seguintes músculos:
deltóide (fascículos ântero-intemo I e
ântero-extemo II em proporção variável entre eles e com o fascículo IIl),
subescapular,
peitorais maior e menor,
serrátil anterior.
Extensão horizontal, movimento que associa a extensão e a adução de menor amplitude,
30-40°, ativa os seguintes músculos:
deltóide (fascículos póstero-extemos
IV e V, e póstero-intemos VI e VII em
proporção variável entre eles e com o
fascículo IIl),
,
supra-espinhal,
infra-espinhal,
redondos maior e menor,
rombóides,
trapézio (fascículo espinhal que se soma aos outros dois),
grande dorsal (em antagonismo-sinergismo com o deltóide que anula o importante componente de adução do
grande dorsal).
A amplitude total deste movimento de flexão-extensão horizontal alcança quase os 180°.
Da posição extrema anterior à posição extrema
posterior se ativam, sucessivamente, como se
fosse uma escala musical de piano, as diferentes
porções do deltóide (ver pág. 70), que é o principal músculo deste movimento.
1. MEMBRO SUPERIOR
b
a
c
Fig.1-8
21
22
FISIOLOGIA ARTICULAR
o MOVIMENTO
DE CIRCUNDUÇÃO
A circundução combina os movimentos
elementares ao redor de três eixos (fig. 1-9).
Quando esta circundução alcança a sua amplitude máxima, o braço descreve no espaço um cone irregular: o cone de circundução. Este cone
delimita, na esfera cujo centro é o ombro e cujo
raio é igual à longitude do membro superior, um
setor esférico de acessibilidade, em cujo interior
a mão pode pegar objetos sem deslocar o tronco, para eventualmente levá-Ios à boca.
Neste esquema, a curva representa a base
do cone de circundução (trajetória da extremidade dos dedos), percorrendo os diferentes setores
do espaço determinados pelos planos de referência da articulação:
a) plano sagital (ftexão-extensão),
b) plano frontal (adução-abdução),
c) plano horizontal (ftexão horizontal ou
extensão horizontal).
A partir da posição de referência - representada por um ponto espesso - a curva passa
sucessivamente (para o membro superior direito) pelos setores:
lU - abaixo, na frente e
à
esquerda;
II - acima, na frente e à esquerda;
VI - acima, atrás e à direita;
V - abaixo, atrás e à direita;
VIII - abaixo, atrás e à esquerda, em um
trajeto muito curto, porque a extensão-adução tem pouca amplitude (no esquema o setor VIII se localiza por baixo do plano C,
por trás do setor III e à esquerda do setor V.
O setor VII, não visível, se situa por cima).
A seta, prolongamento da direção do braço,
indica o eixo do cone de circundução e a sua
orientação no espaço se corresponde levemente
com a definida como posição funcional (ver figo
1-16), mas neste caso o cotovelo se encontra em
extensão. O setor V que inclui o eixo do cone de
circundução é o ~etor de acessibilidade preferencial. A orientação para a frente do eixo do
cone de circundução r.esponde à necessidade de
proteger as mãos que trabalham sob o controle
visual. O cruzamento parcial e para frente dos
dois setores de acessibilidade dos membros superiores obedece à mesma necessidade, permitindo que ambas as mãos trabalhem simultaneamente sob controle visual, cooperem entre si e,
se for necessário, se substituam uma à outra; de
modo que o conjunto dos dois setores esféricos
de acessibilidade dos membros superiores é controlado pelo campo visual dos olhos até seus
movimentos extremos, mantendo a cabeça fixa
no plano sagital. Os campos visuais e os setores
de acessibilidade das mãos se superpõem quase
completamente.
É necessário ressaltar que esta disposição
só é possível no percurso da filogenia graças ao
deslocamento para baixo do forame occipitaL
permitindo assim que a superfície possa se dirigir para a frente e que o olhar adote uma direção perpendicular ao eixo longitudinal do corpo, enquanto nos quadrúpedes o olhar está dirigido em direção ao eixo do corpo.
1. MEMBRO
I
11
VI
I
V
111
IV
Fig.1-9
B
SUPERIOR
23
24
FISIOLOGIA
ARTICULAR
o "PARADOXO" DE CODMAN
Quando, a partir da posição anatômica (fig.
1-10, a e b), o membro superior vertical ao longo do corpo, a palma da mão girada para dentro, o polegar apontando para a frente (a), pedimos a um sujeito que realize, com o seu membro superior, um movimento de abdução de
+180° no plano frontal (c), seguido por um movimento de extensão relativa de -180° no plano
sagital (d), o membro superior se encontra novamente vertical ao longo do corpo mas com a
palma da mão girada para fora e o polegar
apontando para trás (e).
Também é possível realizar o ciclo inverso:
flexão de 180° e, a seguir, uma adução de 180°,
mas os sinais estão invertidos e obtemos uma
rotação externa de 180°.
É fácil constatar que a palma da mão modifica a sua orientação, provocando um movimento de rotação longitudinal de 180°.
Neste duplo movimento de abdução seguido por uma extensão, se produz AUTOMATICAMENTE uma rotação interna de 180°: um
movimento sucessivo em tomo de dois dos eixos
do ombro dirige mecanicamente e involuntariamente um movimento ao redor do eixo longitudinal do membro superior. É o que Mac Conaill
denominou rotação conjunta, que aparece num
movimento diadocal, isto é, realizado sucessivamente em tomo dos dois eixos de uma articulação com dois graus de liberdade. Neste exemplo, a articulação do ombro, que possui três
graus de liberdade, é utilizada como uma articulação de dois eixos.
Se utilizamos o terceiro eixo para realizar,
voluntária e simultaneamente, uma rotação inversa de 180°, desta vez, a mão retoma à posição de
partida, o polegar apontando para a frente, depois
de descrever um ciclo ergonômico; tais ciclos se
utilizam com freqüência nos gestos profissionais
ou esportivos repetidos, por exemplo na natação.
Esta rotação longitudinal voluntária que Mac Conaill denomina rotação adjunta, só é viável em
articulações com três graus de liberdade e é indispensável durante o ciclo ergonômi€o. Isto fica demonstrado na seguinte experiência: a partir da posição anatômica, em rotação interna, com a palma
da mão girada pará fora e o polegar para trás, abdução até os 180°, a partir dos 90° de abdução, o
movimento fica bloqueado e é necessário realizar
uma rotação externa voluntária para continuar. De
fato, causas anatômicas, tensão ligamentar e muscular, não permitem que a rotação conjunta continue no sentido da rotação interna e é necessário
recorrer a uma rotação adjunta externa para anular
a rotação conjunta interna e finalizar o ciclo ergonômico. Isto explica a necessidade de uma articulação de três eixos na raiz dos membros.
Em resumo, o ombro é capaz de realizar
dois tipos de rotação longitudinal: a rotação voluntária ou adjunta e a rotação automática ou
conjunta. Em todo momento estas duas rotações
se somam algebricamente:
- se a rotação voluntária (adjunta) é nula,
a rotação automática (conjunta) aparece
com claridade: é o (pseudo) paradoxo de
Codman,
- se a rotação voluntária tem a mesma direção que a rotação automática, ela se
amplifica,
- se a rotação voluntária tem direção contrária, esta diminui ou até mesmo anula
a rotação automática: é o ciclo ergonômlCO.
1. MEMBRO SUPERIOR 25
+ 1800
c
b
a
e
d
Fig.1-10
26
FISIOLOGIA ARTICULAR
AVALIAÇÃO DOS MOVIMENTOS DO OMBRO
A avaliação dos movimentos e das posições nas articulações com três eixos principais e
três graus de liberdade, como o ombro, representa uma dificuldade, porque existem ambigüidades. Por exemplo, se de maneira geral definimos a abdução como um movimento de separação do membro superior do plano de simetria,
esta definição só é válida até os. 90°, já que, a
partir daí, o membro superior se aproxima do
plano de simetria por cima e, contudo, continuamos com a denominação de abdução; para avaliar a rotação longitudinal o problema é ainda
mais árduo.
Embora seja simples avaliar um movimento quando o membro se desloca no plano de
referência, frontal ou sagital, sem dúvida selecionado arbitrariamente, a questão é mais complicada quando nos referimos aos setores intermédios; são necessárias pelo menos duas coordenadas angulares que utilizam um sistema de
coordenadas retangulares, ou um sistema de
coordenadas polares.
No sistema de coordenadas retangulares (fig. 1-11), medimos o ponto de projeção do
eixo longitudinal do braço, pelo menos em dois
dos três planos de referência: frontal, F, sagital,
Se trans\erso, T, localizando o "centro" do ombro na interseção O dos três planos. A projeção
do ponto P no plano frontal F em M e no plano
sagitalAS em Q permite medir o ân~ulo de abdução SO?vl e o ângulo de flexão SOQ. Observar
que a posição do ponto N, projeção de P no plano
transverso T, pode ser definido sem ambigüidade
a partir do momento em que conhecemos M e Q.
Contudo, neste sistema, não existe nenhum modo
de avaliar a rotação sobre o eixo longitudinal
OP.
No sistema das coordenadas polares
(fig. 1-12) ou acimutais, se define a direção do
braço pela posição que ocupa o cotovelo P numa esfera cujo centro é o ombro O e o raio OP
equivale à longitude do úmero. Do mesmo modo que no globo terráqueo, a posição do ponto
P se define mediante dois ângulos, a longitude
e a latitude. O ponto P se localiza na intersecção de um grande círculo cuja lqngitude passa pelos dois pólos e de um círculo pequeno de
latitude cujo plano é paralelo ao do Equador,
representado aqui J?elo grande círculo do plano
sagital S. A linha dos pólos é a interseção do
plano frontal F e do plano transversal T, o meridiano O é o semicírculo inferior do plano
frontal F. Mede-se aflexão como uma longitude contada para a frente, ou como o ângulo
BÔL (L é a intersecção do meridiano que passa por P e do Equador), e a abdução como uma
latitude, isto é, o ângulo AÔK, ou melhor ainda o seu suplementar BÔK. Além disso é viável avaliar a rotação longitudinal do úmero como um cabo em relação com um meridiano
vertic~l BPA que passe por P: este cabo é o ângulo C determinado a partir de AP.
Portanto, este sistema de avaliação é
bem mais preciso e completo que o primeiro; inclusive é o único que permite representar o cone
de circundução como uma trajetória fechada na
esfera, embora se utilize menos na prática devido à sua complexidade.
Apresenta uma diferença importante com o
sistema de coordenadas retangulares (fig. 1-13):
se o ângulo de flexão BÔL é o mesmo, o ângulo de abdução BÔK é diferente de BÔM (em
coordenadas retangulares) e esta diferença é
mais importante quanto mais se aproxime a flexão aos 90°. De fato, para uma flexão de 90° o
ponto P se situa no meridiano horizontal que
passa por E. O ângulo BÔM, então, é sempre
igual a 90°, enquanto o ângulo AÔK pode variar
de O a 90°.
1. ME\IBRO
Fig.1-11
Fig.1-12
Fig.1-13
SUPERIOR
27
28
FISIOLOGIA ARTICULAR
MOVIMENTOS DE EXPLORAÇÃO GLOBAL DO OMBRO
Primeiro movimento de exploração global do ombro (fig. 1-14)
a) pentear-se;
b) levar a mão à nuca.
Quando está livre e a sua amplitude é norlal, este movimento dirige a mão em direção à
°elhaoposta e da parte superior da região escar'ular contralateral.
Este movimento realizado com o cotovelo
em flexão explora tanto a abdução (120°) quanto a rotação externa (90°).
Segundo movimento de exploração global do ombro (fig. 1-15)
Vestir um casaco:
-
o braço que se introduz na primeira
manga (braço esquerdo na figura) realiza um movimento de flexão-abdução;
-
o braço que vai procurar a segunda
manga (braço direito na figura) realiza
um movimento de extensão-rotação in-
terna, a mão entra em contato com a região lombar.
Quando está livre e a sua amplitude é normal, este movimento dirige a mão até a parte inferior da região escapular contralateral.
Posição funcional do ombro (fig. 1-16)
O eixo longitudinal do braço está em flexão
de 45° e abdução de 60°, isto é, se encontra no
plano vertical formando um ângulo diedro de
45° com o plano sagital (ou frontal) e o braço está em rotação interna de 30-40°.
Esta posição se corresponde com o estado
de equilíbrio dos músculos periarticulares do
ombro: por isso se utiliza esta posição para a
imobilização das fraturas da diáfise umeral já
que, nestas condições, o fragmento inferior, o
único sobre o qual podemos atuar, se encontra
no eixo do fragmento superior sobre o qual
atuam os músculos periarticulares.
Corresponde-se também com o eixo do cone de circundução (fig. 1-9).
1. MEMBRO SUPERIOR
a
Fig.1-14
Fig.1-16
Fig.1-15
29
30
FISIOLOGIA ARTICULAR
o COMPLEXO
ARTICULAR DO OMBRO
o ombro não está constituído por uma articulação, mas por cinco articulações que conformam o COMPLEXO ARTICULAR DO OMBRO (fig. 1-17), cujos movimentos com relação
ao membro superior acabamos de explicar. Estas
cinco articulações se classificam em dois grupos:
Primeiro grupo: duas articulações:
1) Articulação escápulo-umeral
Articulação verdadeira do ponto de
vista anatômico (contato de duas superfícies cartilaginosas de deslizamento)
Esta articulação é a mais importante
do grupo.
2) Articulação subdeltóide ou "segunda articulação do ombro"
Do ponto de vista estritamente anatômico não se trata de uma articulação;
contudo podemos considerar do ponto de vista fisiológico, devido ser
composta por duas superfícies que
deslizam uma sobre a outra. A articulação subdeltóide está mecanicamente
unida à articulação escápulo-umeral:
qualquer movimento na articulação
escápulo-umeral provoca um movimento na subdeltóide.
Segundo grupo: três articulações.
3) Articulação escápulo-torácica
Neste caso se trata outra vez de uma
articulação fisiológica e não anatômica. É a articulação mais importante do
grupo, contudo não pode atuar sem as
outras duas, já que está mecanicamente unida a elas ..
4) Articulação acrômio-clavicular
Articulação verdadeira, localizada na
porção externa da clavícula.
S)
Articulação esternocostoclavicular
Articulação verdadeira, localizada na
porção interna da clavícula.
Em geral, o complexo articular do ombro
pode ser esquematizado da seguinte maneira:
Primeiro grupo:
uma articulação verdadeira e principal: a articulação escápulo-umeral;
uma articulação "falsa" e acessória:
a articulação subdeltóide.
Segundo grupo:
uma articulação "falsa" e principal;
a articulação escápulo-torácica;
duas articulações verdadeiras e acessórias: a acrômio-clavicular e a estem o-costo-cIavicular.
Em cada um dos grupos, as articulações estão unidas mecanicamente, isto é, atuam necessariamente ao mesmo tempo. Na prática, os dois
grupos também funcionam simultanearnente, segundo proporções variáveis no percurso dos movimentos. De maneira que podemos afirmar que
as cinco articulações do complexo articular do
ombro funcionam simultaneamente e em proporções variáveis de um grupo ao outro.
1. MEMBRO SUPERIOR
31
32
FISIOLOGIA ARTICULAR
AS SUPERFÍCIES ARTICULARES DA ARTICULAÇÃO ESCÂPULO-UMERAL
Superfícies esféricas, características
de
uma enartrose e, portanto, articulação de três eixos e com três graus de liberdade (fig. 1-18).
a)
Cabeça umeral
Orientada para cima, para dentro e trás, pode ser comparada com um terço de esfera de 30
mm de raio. Na verdade, esta esfera está longe
de ser regular devido a seu diâmetro vertical ser
3 a 4 mm maior do que o seu diâmetro ânteroposterior. Além disso, num corte vértico- frontal
(quadro) podemos comprovar que o seu raio de
curva diminui levemente de cima para baixo e
que não existe um único centro da curva, mas
uma série de centros de curva alinhados ao longo de uma espiral. Portanto, quando a parte superior da cabeça umeralentra em contato com a
glenóide, a região de apoio é maior e a articulação é mais estável, quanto mais tensos estejam
os fascículos médio e inferior do ligamento glenoumeral. Esta posição de abdução de 90° corresponde à posição de bloqueio ou close-packed position de Mac Conaill.
O seu eixo forma com o eixo diafisário um
ângulo denominado "inclinação" de 135° e, com
o plano frontal, um ângulo denominado "declinação" de 30°.
Está separada do resto da epífise superior
do úmero pelo colo anatômico, cujo plano está
inclinado 45° com relação à horizontal (ângulo
suplementar do ângulo de inclinação).
Contém duas proeminências nas quais se
inserem os músculos periarticulares:
- tuberosidade
rior,
-
tuberosidade
menor ou troquino,
ante-
I
maior ou troquino, externa.
b) A cavidad'e glenóide da escápula
Localizada no ângulo superior-externo do
corpo da escápula, se orienta para fora, para a
frente e levemente para cima. É côncava em ambos os sentidos (vertical e transversal), mas a sua
concavidade é irregular e menos acentuada do
que a convexidade da cabeça. Está rodeada pela
proeminente margem glenóide, interrompida pela
incisura glenóide na sua parte ântero-superior. A
sua superfície é menor que a da cabeça umeral.
c) O lábio glenóide
Trata-se de um anel fibrocartilaginoso localizado na margem glenóide, de maneira que
ocupa a incisura glenóide e aumenta ligeiramente a superfície da glenóide, embora, principalmente, acentua a sua concavidade restabelecendo a congruência (coincidência) das superfícies
articulares.
Triangular, quando está seccionado,
senta três superfícies:
apre-
-
uma superfície interna que se insere no
contorno glenóide;
-
uma superfície periférica onde se inserem algumas fibras da cápsula;
-
uma superfície central (ou axial) cuja
cartilagem é um prolongamento da glenóide óssea e que entra em contato com
a cabeça umeral.
1. MEMBRO SUPERIOR 33
Fig.1-18
34
FISIOLOGIA
ARTICULAR
CENTROS INSTANTÂNEOS DE ROTAÇÃO
o centro da curva de uma superfície articular não necessariamente coincide com o centro
de rotação porque, além da forma da superfície,
intervêm também o jogo mecânico da articulação, a tensão dos ligamentos e a contração dos
músculos.
No que se refere à cabeça umeral, não existe, como se acreditava durante muito tempo
quando se comparava a sua forma com uma porção de esfera, um centro fixo e imutável durante
o movimento, mas sim, como demonstraram os
recentes trabalhos de Fischer e cols., uma série
de centros instantâneos de rotação (CIR) que se
correspondem com o centro do movimento realizado entre duas posições muito próximas entre
elas. Estes pontos se determinam mediante a
análise informática de uma série de radiografias
suceSSivas.
Assim sendo, durante o.movimento de abdução considerado plano, isto é, mantendo unicamente o componente de rotação de úmero no
plano frontal, existem dois grupos de CIR (fig.
1-19) dentre os quais aparece uma descontinuidade (3-4) até hoje sem explicação viável. O primeiro grupo se localiza num "círculo de dispersão" C1, situado perto da parte inferior-interna
da cabeça umeral, cujo centro é o baricentro dos
CIR e cujo raio é a média das distâncias desde o
baricentro até cada um dos CIR. O segundo gru-
po se situa em outro "centro de dispersão" C2,
situado na metade superior da cabeça. Os dois
círculos estão separados pela descontinuidade.
Com relação ao movimento de abdução,
podemos comparar a articulação escápulo-umeral (fig. 1-20) com duas articulações:
- no início do movimento até os 500, a rotação da cabeça umeral se realiza ao redor de um ponto situado em algum lugar do círculo Ci;
-
no fim da abdução entre 50 e 900, o centro de rotação se localiza no círculo C2;
-
ao redor dos 500, a descontinuidade do
movimento acontece cujo centro se localiza claramente por cima e por dentro
da cabeça.
Durante o movimento de flexão (fig. 1-21,
vista externa) a mesma análise demonstra que
não existe uma grande descontinuidade na trajetória dos CIR, o que corresponde a um único
"círculo de dispersão" centrado na parte inferior da cabeça à mesma distância de ambas as
margens.
Por último, durante o movimento de rotação longitudinal (fig. 1-22, vista superior), o círculo de dispersão se localiza perpendicularmente à cortical diafisária interna e à mesma distância das duas margens da cabeça.
1. MEMBRO SUPERIOR
3-4
Fig.1-19
Fig. 1-20
Fig.1-21
Fig.1-22
'00
35
36 FISIOLOGIA ARTICULAR
A CÁPSULA E OS LIGAMENTOS DO OMBRO
As superfícies articulares e a bainha capsular (fig. 1-23, segundo Rouviere).
raco-umeral fecha, na parte de cima,
a incisura intertuberositária, por onde
o tendão da porção longa do bíceps
sai da articulação: este percorre o sulco intertuberositário,
convertido em
canal pelo ligamento umeral transverso (8).
a) A cabeça wneral (vista interna)
Rodeada pela cápsula como se fosse uma
gorjeira (1) na qual se distingue:
os "frenula capsulae" (2) por baixo
do pólo inferior da cabeça; trata-se de
pregas sinoviais elevadas por fibras
recorrentes da cápsula;
o engrossamento formado pelo fascículo superior do ligamento
glenoumeral (3).
Dentro da cápsula podemos ver o tendão seccionado da porção longa do bíceps (4).
Por fora da cápsula podemos apreciar a secção do músculo subescapular (5), perto de sua inserção na tuberosidade menor.
b) A cavidade glenóide (vista externa)
Com o lábio g1enóide (1) que passa por cima
da incisura glenóide formando uma ponte (2) e cujo pólo superior serve de inserção para as fibras da
porção longa do bíceps (intracapsular) (3), neste
caso seccionado.
tares:
Com a cápsula (4) e os seus reforços ligamen-
ligamento glenoumeral, com os seus
três fascículos, superior supraglenosupra-umeral (9), médio suprag1enopré-umeral (10) e inferior pré-g1enossubumeral
(11).
O conjunto forma um Z expandido sobre a superfície anterior da cápsula.
Entre os três fascículos existem pontos fracos:
Forame de Weitbrecht (12) e forame de Rouviere (13), por onde a sinovial articular pode-se comunicar com a bolsa serosa subcoracóide.
-
a porção longa do tríceps (14).
Vista posterior da articulação escápuloumeral (fig. 1-24 bis, segundo Rouviere)
Na parte posterior da cápsula, abrimos uma
"janela" e a cabeça umeral foi removida (1). A lassidão da cápsula permite separar 3 cm das superfícies articulares no cadáver, de maneira que podemos distinguir:
os fascículos médio (2) e inferior (3)
do ligamento glenoumeral (vistos desde a sua superfície profunda);
ligamento córaco-umeral (4), ao qual
está unido o ligamento córaco-glenóide (5), que não possui função mecânica;
a parte intra-articular da porção longa
do bíceps (6);
a cavidade glenóide (7) e o lábio glenóide (8);
dois ligamentos que não possuem ação
mecânica: o ligamento coracóide (9) e o
ligamento espinho-g1enóide (10);
as inserções dos três músculos periarticulares: o supra-espinhal (11), o
infra-espinhal (12) e o redondo menor (13).
1. .\1E~'1BRO SUPERIOR
4
3
5
8
Fig.1-23
14
9
Fig.1-24
10
5
11
12
13
.!
Fig. 1-24bis
37
38
FISIOLOGIA ARTICULAR
o TENDÃO
DA PORÇÃO LONGA DO BÍCEPS INTRA-ARTICULAR
Em corte frontal da articulação escápuloumeral (fig. 1-25, segundo Rouviere), podemos
observar:
-
as irregularidades da cavidade glenóide óssea desaparecem na cartilagem glenóide;
-
margem cotilóide (2) acentua a profundidade da cavidade glenóide; contudo, o encaixe desta articulação não é muito compacto, o qual explica as freqiientes luxações. Na sua parte superior (3) a margem
glenóide não está totalmente fixa: a sua
margem central cortante fica livre dentro
da cavidade, como se fosse um menisco;
-
na posição anatômica, a parte superior da
cápsula (4) está tensa, enquanto a inferior
(5) apresenta pregas: esta "elasticidade"
capsular e o "despregamento" dos frenula
capsulae (6) possibilitam a abdução;
-
tendão da porção longa do bíceps (7) se
insere no tubérculo subglenóide e no pólo
superior do lábio glenóide. Para sair da articulação pela incisura intertuberositária
(8) se desliza por baixo da cápsula (4).
Corte que mostra as conexões do tendão com
a sinovial (quadro):
Na cavidade alticular o tendão da porção longa do bíceps pode estabelecer ligações com a sinovial mediante três posições diferentes:
1) aderido à superfície profunda da cápsula
(c) pela sinovial (s);
2) a sinovial forma duas pequenas pontas
(fundos de saco) entre a cápsula e o tendão que, desta maneira, se une à cápsula
mediante um fino septo denominado mesotendão;
3) estando dois "fundos de saco" unidos de
tal maneira que desaparecem, o tendão fica liberado, mas envolvido por uma pequena lâmina sinovial.
Normalmente, estas três disposições podem observar-se de dentro para fora à medida que
se afastam da inserção tendinosa. Mas, em todo
caso, o tendão, embora intracapsular, permanece
extra-sinovial.
N a atualidade sabemos que o tendão da
porção longa do bíceps desempenha um papel importante na fisiologia e na patologia do ombro.
Quando o bíceps se contrai 'para levantar
um objeto pesado, as suas duas porções desempenham um papel muito importante para manter a
coaptação simultânea do ombro: a porção curta
e1e\"a o úmero com relação à escápula e se apóia
sobre o processo coracóide; assim sendo, junto
com os outros músculos longitudinais (porção
longa do tríceps, coracobraquial, deltóide), impede a luxação da cabeça umeral para baixo. Simultaneamente, a porção longa coapta a cabeça umeral na glenóide; isto é exatamente assim no caso
da abdução do ombro (fig. 1-26), porque a porção
longa do bíceps também forma parte dos abdutores: quando sofre mptura a força da abdução diminui 29%.
O grau de tensão inicial da porção longa
do bíceps depende da longitude do trajeto percorrido pela porção horizontal intra-articular (fig. 1-27,
vista superior). Esta longitude é máxima em posição intermédia (A) e em rotação externa (B): neste caso a eficácia da porção longa é máxima. Pelo
contrário, em rotação interna (C) o trajeto intra-articular é o mais curto e a eficácia da porção longa
é mínima.
Também podemos compreender, considerando a reflexo do tendão da porção longa do bíceps na incisura intertuberositária, que neste ponto ele sofre uma grande fadiga mecânica à qual
não pode resistir se o seu trofismo não é excelente, considerando que isto também se acentua pelo
fato de não contar com um sesamóide neste ponto crítico. Se, com a idade, aparece a degeneração
das fibras colágenas, o tendão termina se rompendo pela sua porção intra-articular, na entrada do
sulco ou canal bicipital, inclusive com um esforço
mínimo, produzindo um quadro clínico característico das periartrites escápulo-umerais.
1. MEMBRO SUPERIOR
8
7
4
3 1 1
32Z//////~c
2~
~.:.I
S
Fig.1-25
Fig.1-26
B
Fig.1-27
39
40
FISIOLOGIA ARTICULAR
FUNÇÃO DO LIGAMENTO
Durante a abdução (fig. 1-28)
a) posição anatõmica (as franjas tracejadas
representam os fascículos médio e inferior do ligamento);
b) durante a abdução podemos comprovar
como estão tensos os fascículos médio e
inferior do ligamento glenoumeral, enquanto o fascículo superior e o ligamento córaco-umeral - não representado no
desenho - se distendem. A tensão máxima dos ligamentos, associada à maior
superfície de contato possível das cartilagens articulares (o raio da curva da cabeça umeral é ligeiramente maior em cima que embaixo) fazem da abdução a
posição de bloqueio do ombro, a closepacked position de Mac Conaill.
Outro fator limitante é o impacto da tuberosidade maior do úmero contra a parte supe-
GLENOUl\:1ERAL
rior da glenóide e da margem cotilóide. A rotação externa desloca a tuberosidade do úmero
para trás no fim da abdução, que se encontra
por baixo da abóbada acrõmio-coracóide e a incisura intertuberositária, e distende ligeiramente o fascículo inferior do ligamento glenoumeral de maneira que consegue retardar o impacto. Assim sendo, a amplitude da abdução é de
90°.
Quando a abdução se realiza com uma flexão de 30°, no plano do corpo da escápula, a
tensão do ligamento glenoumeral é retardada,
permitindo que a abdução atinja uma amplitude de 110° na articulação escápulo-umeral.
Durante a rotação (fig. 1-29)
a) a rotação externa provoca a tensão dos
três fascículos do ligamento g1enoumeral,
b) a rotação interna os distende.
1. MEMBRO SUPERIOR
a
Fig.1-28
b
b
a
Fig.1-29
41
42
FISIOLOGIA ARTICULAR
o LIGAMENTO
CÓRACO-UMERAL NA FLEXÃO-EXTENSÃO
Em vista esquemática extema (fig. 1-30)
podemos observar a tensão relativa dos dois fascículos do ligamento córaco-umeral:
a) posição anatômica mostrando o ligamento córaco-umeral com os seus dois fascículos (tuberosidade maior do úmero por
trás e tuberosidade menor do úmero pela
frente);
b) tensão predominante sobre o fascículo da
tuberosidade menor do úmero durante a extensão;
c) tensão predominante sobre o fascículo da
tuberosidade maior do úmero durante a
fiexão.
A rotação intema do úmero que aparece no
fim da flexão distende os ligamentos córaco-umeral e glenoumeral, possibilitando
uma maior amplitude de movimento.
1. MEMBRO SUPERIOR
c
b
a
Fig.1-30
43
44
FISIOLOGIA
ARTICULAR
A COAPTAÇÃO MUSCULAR DO OMBRO
Os músculos periarticulares transversais
(fig. 1-31), verdadeiros ligamentos ativos da articulação, proporcionam a coaptação das superfícies articulares: encaixam a cabeça umeml na
cavidade glenóide:
a) vista posterior,
b) vista anterior,
c) vista superior.
Nestes esquemas podemos observar os seguintes músculos:
1) supra-espinhal,
2) subescapular,
3) infra-espinhal,
4) redondo menor,
5) tendão da porção longa do bíceps. Quando este músculo se contrai, o tendão, sujeito ao tubérculo supraglenóide, desloca
a cabeça para dentro.
Alguns autores mencionam um papel
coaptador da pressão atmosférica, que não atua
na glenóide, mas por baixo da camada dos mÚsculos periarticulares (ver também figs. 1-33 e 134).
Os mÚsculos longitudinais do braço e da
cintura escapular (fig. 1-32) impedem, mediante a sua contração tônica, que a cabeça umeral
se luxe por baixo da glenóide sob tração de uma
carga mantida na mão ou o próprio peso do
membro superior. Esta luxação inferior se observa na síndrome do "ombro caído" quando,
por qualquer motivo, os mÚsculos do braço e do
ombro se paralisam. Contudo, recentes trabalhos
eletromiográficos demonstram que só intervêm
ativamente quando o membro superior suporta
grandes cargas, desempenhando o papel de suporte em situação normal e não, como se acreditava até então, ô ligamento córaco-umeral,
clássica faixa de fixação de Farabeuf, mas a
porção inferior da cáp·sula, como se demonstra
nos trabalhos de Fischer e cols.
Contudo, a presença da abóbada acrômiocoracóide acolchoada pela porção final do supra-espinhal impede e limita a luxação da cabeça para cima, sob influência de uma potente
contração destes músculos longitudinais.
Quando é destruída esta abóbada acolchoada
pela terminação do supra-espinhal, a cabeça
umeral realiza um impacto direto contra a superfície inferior do acrômio e do ligamento
acrômio-coracóide, e isto é a causa das dores da
periartrite escápulo-umeral ou, mais concretamente, da síndrome da ruptura da bainha rotatória.
a) vista posterior,
b) vista anterior.
Nos desenhos podemos observar:
(5') a porção curta do bíceps,
(6) o córaco-braquial,
(7) a porção longa do tríceps,
(8 e 8') fascículos do deltóide,
(9) o fascículo clavicular do peitoral maior.
(A seta preta indica a tração para baixo.)
1. MEMBRO SUPERIOR
c
Fig. 1-32
Fig.1-31
45
46
FISIOLOGIA ARTICULAR
A "ARTICULAÇÃO"
Articulação subdeltóide aberta (fig. 1-33,
segundo Rouviere)
O deltóide está seccionado horizontalmente e deslocado para um lado (1), permitindo,~
desta maneira, a vista da "superfície" profunda
do plano de deslizamento anatômico subdeltóide, constituído por:
-
extremidade
superior do úmero (2);
-
bainha dos músculos periarticulares: supra-espinhal (3), infra-espinhal (4), redondo menor (5). O subescapular não
está representado no desenho, contudo,
podemos claramente distinguir o tendão
da porção longa do bíceps (6) ao sair do
canal bicipital.
Entre a superfície descrita e a abóbada
acrômio-coracóide formada pela superfície inferior do acrômio e do ligamento acrômio-coracóide que se prolonga pela frente ao tendão do
córaco-bíceps, o plano de deslizamento anatômico celular adiposo contém uma bolsa se rosa
subdeltóide (7), aberta no desenho.
Outros músculos visíveis no desenho são: o
redondo maior (8), a porção longa do tríceps (9),
a porção lateral do tríceps (10), o córaco-braquial (11), a porção curta do bíceps (12), o peitoral menor (13) e o peitoral maior (14).
SUBDELTÓIDE
Em corte vertical-frontal do coto do ombro (fig. 1-34)
,
a) com o braço vertical ao longo do corpo
podemos
distinguir:
o supra-espinhal
(1), que se desliza para baixo da articulação acrômio-clavicular
(2) para se inserir
na tuberosidade maior do úmero, e o deltóide (4) acima do qual se situa a bolsa
serosa suldeltóide (5).
b) durante
desloca
a abdução: o infra-espinhal (1)
a tuberosidade maior do úmero
(3) para cima e para dentro, de maneira
que:
-
o fundo superior da bolsa se desloca
e se situa debaixo da articulação
acrômio-clavicular
(2),
-
a lâmina profunda da bolsa se desloca para dentro com relação à lâmina superficial (6), que se enruga.
Desta forma, a cabeça umeral podese deslizar por baixo da abóbada
acrômio-deltóide.
Por outro lado, o fundo da bolsa inferior da
articulação escápulo-umeral
(7) se desdobra e
está tenso.
Porção longa do tríceps (8).
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Fig.1-33
5
4
3
Fig.1-34
b
7
2
13
6
12
11
.14
48
FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO
ESCÁPULO- TORÁCICA
É fácil entender a articulação escápulo-torácica num corte horizontal do tórax (fig. 1-35).
Na metade esquerda do corte (posição anatômica), podemos observar as duas zonas de
deslizamento desta falsa articulação:
ra fora e de trás para adiante, formando
com o plano frontal um ângulo diedro
de 30°, aberto para fora e para a frente;
-
1) Zona escápulo-serrática, compreendida entre:
-
por trás e por fora: a escápula recoberta pelo músculo subescapular;
Em vista posterior do tórax (fig. 1-36) é
possível localizar a éscápula.
-
pela frente e por dentro: a camada
muscular do serrátil anterior, que se
estende da margem interna da escápuIa até a parede ântero-Iateral do tórax.
A escápula, em posição normal, se estende
da 2a à 7a costela. Com relação à linha dos processos espinhosos (linha média):
-
seu ângulo superior-interno
se corresponde com o 1.° processo espinhoso torácico;
-
seu ângulo inferior ao 7.° ou 8.° processo espinhoso torácico;
-
a porção interna da espinha da escápula
(ângulo constituído pelos dois segmentos da margem interna) ao 3.° processo
espinhoso torácico.
2) Zona tóraco-serrática ou parieto-serrática, compreendida entre:
-
por dentro e pela frente: a parede torácica (costelas e músculos intercostais);
-
por trás e por fora: o serrátil anterior.
N a metade direita do corte (estrutura funcional da cintura escapular), podemos comprovar que:
-
a direção geral da clavícula é oblíqua
para fora e atrás e forma com o plano da
escápula um ângulo de 60° aberto para
dentro.
I
a escápula não se localiza no plano frontal, mas no plano oblíquo de dentro pa-
A margem interna ou espinhal da escápula
se situa a 5 ou 6 cm da linha dos processos espinhosos.
Fig. 1-35
Fig.1-36
50
FISIOLOGIA ARTICULAR
MOVIMENTOS DA CINTURA ESCAPULAR
Moyimentos de deslocamento lateral
da escápula (fig. 1-37, corte esquemático horizontal)
1) Lado direito do corte: quando a escápula
se desloca para dentro:
-
tende a orientar-se no plano frontal;
-
a cavidade glenóide está dirigida mais
diretamente para fora;
-
a porção externa da clavícula se dirige
para dentro e atrás;
-
ângulo entre a clavícula e a escápula
mostra tendência a abrir-se.
2) Lado esquerdo do corte: quando a escápu-
Ia se desloca para fora:
-
tende a se orientar no plano sagital;
-
a porção externa da clavícula está dirigida para fora e para frente e o seu eixo longitudinal tem a tendência de estar no plano frontal; assim sendo, o
diâmetro transversal dos ombros chega
até a sua máxima amplitude;
-
o ângulo entre a clavícula e a escápula
tende afechar-se.
Entre estas duas posições extremas, o plano
da escápula forma um ângulo diedro de 40 a 45°,
que corresponde à amplitude global da mudança
de orientação da glenóide no plano horizontal,
isto é, em tomo de um eixo vertical fictício.
Moyimentos de translação lateral da escápula (fig. 1-38; vista superior)
1) Lado direito: translação interna (observar uma ligeira basculação).
2) Lado esquerdo: translação externa.
3) A amplitude total entre estas duas posições extremas é de 15 cm.
I
Moyimentos de translação yertical da escápula (fig. 1-39)
1) Lado direito: descenso.
2) Lado esquerd0: ascenso.
3) Amplitude total: 10 a 12 cm.
Estes movimentos verticais vão acompanhados, necessariamente, de uma certa basculação.
Moyimentos denominados "sino" ou
basculação da escápula (fig. 1-40)
Rotação da escápula ao redor de um eixo
ao plano da escápula localizado
ligeiramente por baixo da espinha; não muito
perpendicular
longe do ângulo superior-externo.
1) Lado direito: rotação "para baixo" (no
caso da escápula direita, no sentido dos ponteiros do relógio): o ângulo inferior se desloca para dentro, o ângulo superior e externo para baixo e a glenóide tem a tendência a se dirigir para
baixo.
2) Lado esquerdo: rotação "para cima":
movimento inverso, a glenóide é orientada mais
diretamente para cima e o ângulo externo se
eleva.
3) Amplitude total: 60°.
4) Deslocamento do ângulo inferior: 10 a
12 cm; do ângulo superior-externo: de 5 a
6 cm.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.1-37
Fig.1-38
Fig.1-39
Fig.1-40
51
52
FISIOLOGIA ARTICULAR
OS MOVIMENTOS REAIS DA ARTICULAÇÃO ESCÁPULO- TORÁCICA
Antes existia uma descrição dos movimentos elementares da articulação escápulo-torácica, mas, na atualidade, sabemos que durante
os movimentos
de abdução ou de fiexão do
membro superior estes movimentos diferentes
elementares se combinam em um grau variável.
Graças a uma série de radiografias (fig. 1-41)
realizadas no percurso do movimento de abdução, J. '{ de Ia Caffiniere pôde, comparando-as
com fotografias da escápula "seca" em diferentes atitudes, estudar os componentes do seu movimento real; as vistas em perspectiva do acrômio (fig. 1-42), da coracóide e da glenóide (fig.
1-43) permitem estabelecer que, durante a abdução ativa, a escápula realiza quatro movimentos:
-
um ascenso de 8 a 10 cm aproximadamente sem ter associado, como classicamente é afirmado, um deslocamento para frente.
-
um movimento de sino de progressão
praticamente linear, de 38° quando a abdução do membro superior passa de O a
145°. A partir de 120° de abdução, a rotação angular é igual na articulação escápulo-umeral e na escápulo-torácica.
-
um movimento de basculaçc70 ao redor
de um eixo transversal, oblíquo de dentro para fora e de trás para diante, deslo-
cando a ponta da escápula para a frente
e para cima, enquanto a porção superior
do osso se desloca para trás e para baixo, movimento que imita o de um homem inclinado para trás para olhar o topo de um arranha-céus. A sua amplitude
é de 23° durante a abdução de O a 45°.
-
um movimento de "pÍvô" ao redor de
um eixo vertical cuja característica é a
de ser difásico:
• no primeiro momento, durante a abdução de O a 90°, a glenóide tende paradoxalmente a orientar-se para trás seguindo um ângulo de 10°,
• a seguir, a partir dos 90° de abdução, a
glenóide tende a recuperar a orientação
para cima seguindo um ângulo de 6°;
em realidade, não recupera a sua orientação inicial no plano ântero-posterior.
No percurso da abdução, a glenóide sofre um deslocamento
complexo, ascendendo e
aproximando-se
da linha média, ao mesmo
tempo que realiza uma mudança de orientação
de tal maneira que a tuberosidade
maior do
úmero "escapa" pela frente do acrômio para se
deslizar para baixo do ligamento acrômio-coracóide.
1. MEMBRO SUPERIOR
145
Fig.1-43
I
I
I
I
I
Fig.1-42
Fig.1-41
53
54
FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO
ESTERNOCOSTOCLAVICULAR
(As superfícies articulares)
Estas duas superfícies articulares (fig. 144), representadas aqui em separado, têm aforma de uma sela usada para cavalgar (superfície
"toróide negativa", ver mais adiante quando
mencionarmos a articulação trapézio-metacarpeana), com uma curva dupla, mas no sentido
inverso; são convexas num sentido e côncavas
no outro. Da curva côncava um eixo perpendicular no espaço corresponde ao eixo da curva
convexa; estes dois eixos se localizam em um e
noutro lado da superfície com forma de sela. A
de menor superfície (1) é c1avicular, a de maior
superfície (2) é esternocostal. Na verdade, a superfície c1avicular (1), mais estendida horizontalmente que verticalmente, ultrapassa pela frente e, principalmente, para trás, os limites da superfície esternocostal (2).
A superfície c1avicular encaixa com facilidade (fig. 1-45) na superfície esternocostal, da
mesma maneira que o cavaleiro se adapta à sela
e esta, por sua vez, ao cavalo. A curva côncava
da primeira e a curva convexa da segunda encaixam-se perfeitamente. Os dois eixos de cada
uma das superfícies coincidem de dois em dois,
de maneira que o sistema só possui dois eixos
perpendiculares no espaço, representados no desenho em perspectiva:
-
eixo 1 se corresponde com a concavidade da superfície c1avicular e permite
os moviméntos c1a\'iculares no plano
horizontal;
-
eixo 2 se corresponde com a concavidade da superfície esternocostal e permite os movimentos c1aviculares no
plano vertical.
Portanto, esta articulação possui dois
eixos e dois graus de liberdade. O seu modelo mecânico é o "CARDÃO", Contudo, existe
um movimento de rotação longitudinal (ver
pág. 56).
A articulação esternocostoc1avicular direita está representada aberta na sua superfície anterior (fig. 1-46).
A porção interna da c1a\'ícula (1), cuja superfície articular podemos observar (2), foi removida depois da secção do ligamento superior
(3), do ligamento anterior (-1.) e do ligamento
costoc1avicular (5), o mais poderoso. Só se
conserva o ligamento posterior (6). A superfície esternocostal (7) se vê nitidamente junto
com as suas duas curvas: concavidade no sentido vertical e convexidade no sentido ânteroposterior.
1. MEMBRO SUPERIOR
2
Fig.1-44
Fig.1-45
423
Fig.1-46
55
56
FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO
ESTERNOCOSTOCLAVICULAR
(Os movimentos)
Vista composta da articulação esternocostoclavicular (fig. 1-47, segundo Rouviere).
- Metade direita: corte vértico-frontal no
30° de amplitude. Até agora acreditavase que isso era possível graças ao jogo
mecânico da articulação, devido à lassidão ligamentar. Porem, é mais que provável que, como todas as articulações de
dois graus de liberdade, a esternocostoclavicular
realize uma rotação conjunta durante a rotação ao redor de dois
eixos. Isto se confirma pelo fato de que,
na prática, á rotação longitudinal da clavículajamais
aparece isolada fora de um
movimento de élevação-retroposição
ou
descenso-anteposição.
qual podemos observar:
-ligamento
costoclavicular (1) que, a partir de sua inserção na superfície superior
da primeira costela se dirige para cima e
para fora, em direção à superfície inferior da clavícula;
-
com freqüência, as duas superfícies articulares não têm os mesmos raios de curva; um menisco (3) reestabelece a concordância, como a sela entre o cavaleiro
e o cavalo. Este menisco subdivide a ar-
ticulação em duas cavidades secundárias, que podem ou não se comunicar
entre elas, dependendo se o menisco está ou não perfurado na sua parte central;
-ligamento
estemoc1avicular (4), ligamento
superior da articulação, está recoberto por
cima pelo ligamento interclavicular (5).
- Metade esquerda: "istaanterior que mostra:
-ligamento
costoc1avicular (1) e o músculo subclávio (2);
- eixo X, horizontal e levemente oblíquo
para a frente e para fora, se corresponde
com os movimentos da clavícula no plano vertical. Amplitude: elevação 10 cm;
descenso 3 cm;
-
o eixo Y, localizado no plano vertical,
oblíquo para baixo e levemente para fora, passando pela parte média do ligamento costoclavicular,
se corresponde
com os movimentos da clavícula no plano horizontal. Amplitude:
• anteposição da porção externa da clavícula: 10 cm;
• retroposição da porção interna da clavícula: 3 cm.
Do ponto de vista estritamente mecânico, o
verdadeiro eixo (Y') deste movimento é paralelo
ao eixo Y; mas está situado por dentro da articulação (ver eixo 1, figo 1-45).
- também existe um terceiro movimento,
a rotação longitudinal da clavícula de
Movimentos da clavícula no plano horizontal (fig. 1-48, vista superior)
-
posição média da clavícula (traço escuro);
o ponto Y' se corresponde com o eixo
mecânico do movimento;
-
as duas cruzes representam as posições
extremas da inserção clavicular do ligamento costoclavicular.
No quadro: corte no nível do ligamento
costoclavicular mostrando sua tensão nas posições extremas.
- a anteposição está limitada pela tensão do
ligamento costoclavicular e do ligamento
anterior (1);
- a retroposição está limitada pela tensão do
ligamento costoclavicular e do ligamento
posterior (2).
Movimentos da clavícula no plano frontal
(fig. 1-49, vista anterior)
- a cruz se corresponde com o eixo X;
- quando a porção externa da clavícula se
eleva (traço escuro), sua porção interna se
desliza para baixo e para fora (seta branca). O movimento está limitado pela tensão do ligamento costoclavicular (faixa
tracejada) e pelo tônus do músculo subclávio (seta grande estriada);
- quando a clavícula descende, a sua porção
interna se eleva. O movimento está limitado pela tensão do ligamento superior e
pelo contato da clavícula com a superfície superior da primeira costela.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.1-47
2
Fig.1-48
y'
Fig.1-49
57
58
FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO
ACRÔMIO-CLA VICULAR
Em vista póstero-externa da articulação
acrômio-clavicular (fig. l-50) estão separados
artificialmente a escápula e a clavícula, uma da
outra. De tal modo que podemos observar:
-
-
-
a espinha da escápula (1) prolongada
para fora pelo acrômio (2) que possui
uma superfície articular plana e ligeiramente convexa na sua margem ânterointerna - esta articulação é uma artródia ~ orientada para a frente, para dentro e para cima;
a clavícula (3), cuja porção extema está
seccionada à custa de sua superfície inferior por uma superfície articular (5)
plana ou ligeiramente convexa "orientada" para baixo, para trás e para fora;
da base do processo coracóide (6) partem dois potentes ligamentos:
• o ligamento conóide (7) que se insere
na superfície inferior da clavícula no
tubérculo conóide, próximo a sua margem posterior;
• o ligamento trapezóide (8) que se dirige obliquamente para cima e para fora,
em direção à tuberosidade coracóide,
zona mgosa e triangular que prolonga o
tubérculo conóide para a frente e para
fora, na superfície inferior da clavícula;
-
fossa supra-espinhal (9) e cavidade glenóide (10).
O plano vertical P secciona a articulação
acrômio-clavicular pela sua parte média. Este
corte representado no quadro permite localizar
os diferentes elementos já descritos e, além disso, observar:
- a existência de uma cápsula reforçada
por cima por um potente ligamento
acrômio-clavicular (15); ,
- a presença - num terço dos casos - de
uma fibrocártilagem interarticular (11)
que restabelece a congruência das superfícies articulares. É excepcional que
esta fibrocartilagem chegue a constituir
um me'nisco completo;
- a obliqÜidade do plano articular: a clavícula está como "pousada" sobre o acrônuo.
A vista anterior do processo coracóide direito (fig. l-51) permite observar ligamentos córacoc1aviculares.
- o ligamento conóide (C), que se insere
no vértice da dobra do processo coracóide, com forma de leque de vértice inferior, situado no plano frontal;
- o ligamento trapezóide (T), que se insere
na margem intema do segmento horizontal do processo, dirigindo-se para cima e
para fora, lâmina fibrosa com forma de
quadrilátero, orientada obliquamente de
tal maneira que a sua superfície ântero-intema esteja dirigida para dentro, para a
frente e para cima e a sua superfície póstero-externa para trás, para fora e para baixo.
A margem posterior do ligamento trapezóide
faz contato com o ligamento conóide e, em geral,
no nível de sua margem externa.
Estes ligamentos estão dispostos em dois
planos mais ou menos perpendiculares e formam
um ângulo diedro aberto para a frente e para
dentro.
58
FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO
ACRÔMIO-CLA VICULAR
Em vista póstero-externa da articulação
acrômio-cIavicular (fig. l-50) estão separados
artificialmente a escápula e a clavícula, uma da
outra. De tal modo que podemos observar:
-
-
-
a espinha da escápula (I) prolongada
para fora pelo acrômio (2) que possui
uma superfície articular plana e ligeiramente convexa na sua margem ânterointerna - esta articulação é uma artródia - orientada para a frente, para dentro e para cima;
a clavícula (3), cuja porção externa está
seccionada à custa de sua superfície inferior por uma superfície articular (5)
plana ou ligeiramente convexa "orientada" para baixo, para trás e para fora;
da base do processo coracóide (6) partem dois potentes ligamentos:
• o ligamento conóide (7) que se insere
na superfície inferior da clavícula no
tubérculo conóide, próximo a sua margem posterior;
• o ligamento trapezóide (8) que se dirige obliquamente para cima e para fora,
em direção à tuberosidade coracóide,
zona rugosa e triangular que prolonga o
tubérculo conóide para a frente e para
fora, na superfície inferior da clavícula;
-
fossa supra-espinhal (9) e cavidade glenóide (10).
O plano vertical P secciona a articulação
acrômio-clavicular pela sua parte média. Este
corte representado no quadro permite localizar
os diferentes elementos já descritos e, além disso, observar:
-
a existência de uma cápsula reforçada
por cima por um potente ligamento
acrômio-cIavicular (15); ,
- a presença - num terço dos casos - de
uma fibrocdrtilagem interarticular (11)
que restabelece a congruência das superfícies articulares. É excepcional que
esta fibrocartilagem chegue a constituir
um me·nisco completo;
- a obliqÜidade do plano articular: a clavícula está como "pousada" sobre o acrômIO.
A vista anterior do processo coracóide direito (fig. l-51) permite observar ligamentos córacoclaviculares.
- o ligamento conóide (C), que se insere
no vértice da dobra do processo coracóide, com forma de leque de vértice inferior, situado no plano frontal;
- o ligamento trapezóide (T), que se insere
na margem interna do segmento horizontal do processo, dirigindo-se para cima e
para fora, lâmina fibrosa com forma de
quadrilátero, orientada obliquamente de
tal maneira que a sua superfície ântero-intema esteja dirigida para dentro, para a
frente e para cima e a sua superfície póstero-externa para trás, para fora e para baixo.
A margem posterior do ligamento trapezóide
faz contato com o ligamento conóide e, em geral,
no nível de sua margem externa.
Estes ligamentos estão dispostos em dois
planos mais ou menos perpendiculares e formam
um ângulo diedro aberto para a frente e para
dentro.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig. 1-50
T
c
Fig.1-51
59
60
FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO ACRÔMIO-CLAVICULAR
(continuação)
Em vista póstero-externa da articulação
acrômio-clavicular direita (fig. 1-52, segundo
Rouviere)
-
o plano superficial do ligamento acrômio-clavicular (11) está seccionado
para mostrar o seu plano profundo que
reforça a cápsula;
-
além dos ligamentos conóide (7) e trapezóide (8), podemos observar o ligamento córaco-clavicular interno (12),
também denominado ligamento bicorne de CALDANI;
-
o ligamento acrômio-coracóide (13),
que não tem ação mecânica, contribuipara formar o canal do supra-espinhal
(ver fig. 1-49);
-
superficialmente se localiza a camada
aponeurótica
do deltóide e do trapézio,
não representada no desenho, constituída por fibras aponeuróticas que unem as
fibras musculares do deltóide e do trapézio. Esta formação recentemente descrita desempenha um papel importante na
coaptação da articulação, e é o único fator limitante da amplitude da luxação
acrômio-clavicular.
A clavícula aparece "em laço" na sua porção interna (fig. l-53, vista inferior-externa, segundo Rouviere). Podemos observar novamente os elementos antes descritos e o ligamento
coracóide (14) que se estende de uma margem
a outra da incisura coracóide, carente de ação
mecânica.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.1-52
Fig.1-53
61
62
FISIOLOGIA ARTICULAR
FUNÇÃO DOS LIGAiVIENTOS CÓRACO-CLAVICULARES
Vista superior esquemática da articulação
acrômio-clavicular (fig. 1-54) que mostra a função do ligamento conóide:
-
em pontilhado, a escápula vista desde
Cima;
-
em traços descontínuos, a silhueta da clavícula em posição de partida;
-
em traços contínuos, posição extrema da
clavlcula.
Este desenho mostra como quando o ângulo
formado pela clavícula e a escápula se abre, o ligamento conóide (as duas faixas tracejadas representam a suas duas posições sucessivas) está tenso e limita o movimento.
Uma vista semelhante (fig. l-55) mostra a
função do ligamento trapezóide.
Quando o ângulo formado pela clavícula e a
escápula sefecha, o ligamento trapezóide está tenso e limita o movimento.
O movimento de rotação axial na articulação acrômio-clavicular (fig. 1-56) se vê com
clareza nesta vista ântero-intema:
-
a cruz representa o centro de rotação da
articulação;
-
os traços contínuos, a posição inicial da
escápula (cuja metade inferior foi removida);
-
a superfície tracejada representa a posição final da escápu1a após ter osciJado
na extremidade da clavícula, como no
caso de urna pá de debulhadeira no extremo do cabo.
Podemos có'mprovar a tensão dos ligamentos conóide (faixa tracejada) e trapezóide
(pontilhado). A amp1itude desta rotação (30°)
se sorna à rotação de 30° da articulação esternocostoclavicular para possibilitar os 60° de
amplitude dos movimentos de "sino" da escápula.
Um estudo recente realizado por Fischer e
co1s. demonstra, graças a uma série de fotografias, a complexidade dos movimentos da articulação acrômio-clavicular, artródia debilmente encaixada.
Durante a abdução, tornando como ponto
de referência fixo a escápula, podemos comprovar:
-
urna elevação de 10° da porção interna
da clavícula;
-
urna abertura até 70° do ângulo escápulo-clavicular;
-
e urna rotação longitudinal de 45° da
clavícula para trás.
Durante a flexão os movimentos elementares são semelhantes, embora um pouco menos acentuados no que diz respeito à abertura
do ângulo escápulo-clavicular.
Durante a extensão, o ângulo escápuloclavicular se fecha 10°.
Durante a rotação interna, o ângulo escápulo-clavicular só se abre 13°.
I. MEMBRO SUPERlOR
Fig.1-54
Fig.1-56
63
64
FISIOLOGIA ARTICULAR
MÚSCULOS MOTORES DA CINTURA ESCAPULAR
Neste esquema do tórax (fig. l-57) a metade direita representa uma vista posterior:
• gira a escápula para baixo: a glenóide
fica orientada para baixo;
1) Trapézio: dividido em três porções cujas ações são diferentes:
• fixa o ângulo inferior da escápula contra as costelas; a sua paralisia provoca
um "descolamento" das escápulas.
Porção superior (1); acrômio-clavicular.
Ação:
- eleva o coto do ombro, evita a sua
queda sob o peso de uma carga;
hiperlordose cervical + rotação da cabeça para o lado contrário, quando
este fascículo toma o ombro como
ponto fixo.
-
Porção média (1'); espinhal. Direção
transversal. Ação:
-
-
aproxima de 2 a 3 cm a margem interna da escápula à linha dos processos espinhosos, encaixa a escápula no tórax;
desloca o coto do ombro para trás.
Porçcio inferior (1 "). Direção oblíqua
para baixo e para dentro. Ação:
-
desloca a escápula para baixo e para
dentro.
Contração simultânea das três porções:
- desloca a escápula para dentro e para trás;
-
-
gira a escápula para cima (20°): desempenha um modesto papel na abdução,
embora importante na hora de levar cargas pesadas;
impede a queda do braço e o descolamento da escápula.
2) Rombóide: direção oblíqua para cima e
para dentro. Ação:
-
desloca o ângulo inferior para cima e
para dentro, de maneira que:
• eleva a escápula;
3) Angular: direção oblíqua para cima e
para dentro. Ação (parecida 'com a dos
rombóides):
-
desloca o ângulo superior interno para cima (2 a 3 cm) e para dentro (ação
de levantar os ombros). Contrai-se
quando seguramos algo pesado. A
paralisia deste músculo provoca a
queda do coto do ombro;
-
leve rotação da glenóide para baixo.
4) Serrátil anterior: (Yer figo l-58).
A metade esquerda (fig. l-57) representa
uma vista anterior.
5) Peitoral menor: direção oblíqua para
baixo, para frente e para dentro. Ação:
- descende o coto do ombro, deslocando a glenóide para baixo. Esta ação é
exercida, por exemplo, nos movimentos que realizamos nas barras
paralelas;
-
desliza a escápula para fora e para a
frente, descolando a sua margem posterior.
6) Subclávio: direção oblíqua para baixo e
para dentro, quase paralela à clavícula.
Ação:
-
descende a clavícula e, portanto, o
coto do ombro;
-
encaixa a porção interna da clavícula
contra o manúbrio esternal de maneira que coapta a articulação esternocostoclavicular.
1. l\IEMBRO SUPERIOR
Fig. 1-57
65
66
FISIOLOGIA ARTICuLAR
MÚSCULOS MOTORES DA CINTURA ESCAPULAR
(continuação)
No esquema do tórax visto de perfil (fig.
l-58), podemos observar com nitidez o músculo serrátil anterior com as suas duas porções:
te de cargas pesadas, mas só quando a
abdução do braço ultrapassa os 30° (é o
caso de transporte de um balde cheio de
água).
- porção superior: direção geral horizontal para frente. Ação:
Neste corte horizontal do tórax (fig. l-59),
podemos observar:
dirige a escápula de 12 a 15 cm para a
frente e para fora, ao mesmo tempo que
a impede de retroceder quando empurramos um objeto pesado para a frente
(prova de paralisia: ao realizar esta ação
a margem interna se "descola");
- do lado esquerdo: ação dos músculos
trapézio (porção média), angular, rombóides, todos eles adutores da escápula:
a aproximam da linha média. Também
são, em conjunto (com exceção da porção inferior do trapézio), elevadores da
escápula;
o
- porção inferior: direção geral oblíqua
para a frente e para baixo. Ação:
• realiza a basculação da escápula para cima: a glenóide tem a tendência a se
orientar para a frente. Esta ação intervém na flexão, na abdução, no transpor-
- do lado direito: ação dos músculos serrátil anterior e peitoral menor como abdutores da escápula: a afastam da linha
média. Por outro lado, o peitoral menor
e o subc1ávio descendem pela cintura escapular.
I. MEMBRO SUPERIOR
Fig.1-58
Fig.1-59
67
68
FISIOLOGIA ARTICULAR
o SUPRA-ESPINHAL
o canal do supra-espinhal (representado
por uma estrela) comunica a fossa supra-espinhal com a região subdeltóide (fig. 1-60, vista
externa da escápula) e está limitada:
-
por trás, pela espinha da escápula e do
acrômio;
-
pela frente, pelo processo coracóide;
-
por cima, pelo ligamento acrômio-coracóide. Acrômio, ligamento e coracóide
constituem uma abóbada ósteo-ligamentar: a abóbada acrômio-coracóide.
Este canal do supra-espinhal forma um anel
rígido e sem possibilidade de estender; se o tendão do músculo aumenta em volume, devido a
uma cicatriz ou um processo inflamatório, já não
pode-se deslizar pelo canal e se bloqueia. Se o
nódulo consegue vencer a dificuldade, o movimento de abdução pode continuar com um ressalto: é o fenômeno, não muito freqüente, do
ombro em ressalto.
Nas perfurações da bainha rotatória, o tendão do supra-espinhal degenerado e roto já não
se interpõe entre a cabeça umeral e a abóbada. O
contato direto da cabeça umeral e da abóbada
acrômio-coracóide durante a abdução é, para
muitos autores contemporâneos, a causa das dores da "síndrome de ruptura da bainha".
Em vista ântero-superior da escápula (fig.
1-62), podemos observar como o supra-espinhal,
E A ABDUÇÃO
que se estende da fossa supra-espinhal até a tuberosidade maior do úmero, se desliza por baixo
do ligamento acrômio-coracóide.
Os quatro músculos responsáveis da abdução, esquematizados (fig. 1-61) numa vista
posterior da escápula e do úmero, são os
seguintes:
• o deltóide;
• o supra-espinhal; estes dois músculos formam um par funcional, motor da abdução da articulação escápulo-umeral;
• o serrátil anterior;
• o trapézio; estes dois músculos formam
um par funcional, motor da abdução da
articulação escápulo-torácica.
Sem representar no esquema, mas não por
isso menos úteis para a abdução segundo conceitos recentes, participam também os músculos
subescapular, infra-espinhal e redondo menor.
Deslocam a cabeça umeral para baixo e· para
dentro, formando junto com o deltóide um segundo par funcional responsável pela abdução
da articulação escápulo-umeral.
Por último, o tendão da porção longa do bíceps é também motor da abdução, já que a sua
ruptura produz uma perda de 20% da força da
abdução.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.1-58
J
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
1~
Fig.1-59
67
68
FISIOLOGIA ARTICULAR
o SUPRA-ESPINHAL
o canal do supra-espinhal (representado
por uma estrela) comunica a fossa supra-espinhal com a região subdeltóide (fig. 1-60, vista
externa da escápula) e está limitada:
-
por trás, pela espinha da escápula e do
acrômio;
-
pela frente, pelo processo coracóide;
-
por cima, pelo ligamento acrômio-coracóide. Acrômio, ligamento e coracóide
constituem uma abóbada ósteo-ligamentar: a abóbada acrômio-coracóide.
Este canal do supra-espinhal forma um anel
rígido e sem possibilidade de estender; se o tendão do músculo aumenta em volume, devido a
uma cicatriz ou um processo inflamatório, já não
pode-se deslizar pelo canal e se bloqueia. Se o
nódulo consegue vencer a dificuldade, o movimento de abdução pode continuar com um ressalto: é o fenômeno, não muito freqÜente, do
ombro em ressalto.
Nas perfurações da bainha rotatória, o tendão do supra-espinhal degenerado e roto já não
se interpõe entre a cabeça umeral e a abóbada. O
contato direto da cabeça umeral e da abóbada
acrômio-coracóide durante a abdução é, para
muitos autores contemporâneos, a causa das dores da "síndrome de ruptura da bainha".
Em vista ântero-superior da escápula (fig.
1-62), podemos observar como o supra-espinhal,
E A ABDUÇÃO
que se estende da fossa supra-espinhal até a tuberosidade maior do úmero, se desliza por baixo
do ligamento acrômio-coracóide.
Os quatro músculos responsáveis da abdução, esquematizados (fig. 1-61) numa vista
posterior da escápula e do úmero, são os
seguintes:
• o deltóide;
• o supra-espinhal; estes dois músculos formam um par funcional, motor da abdução da articulação escápulo-umeral;
• o serrátil anterior;
• o trapézio; estes dois músculos formam
um par funcional, motor da abdução da
articulação escápulo-torácica.
Sem representar no esquema, mas não por
isso menos úteis para a abdução segundo conceitos recentes, participam também os músculos
subescapular, infra-espinhal e redondo menor.
Deslocam a cabeça umeral para baixo e· para
dentro, formando junto com o deltóide um segundo par funcional responsável pela abdução
da articulação escápulo-umeral.
Por último, o tendão da porção longa do bíceps é também motor da abdução, já que a sua
ruptura produz uma perda de 20% da força da
abdução.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.1-60
Fig.1-61
Fig.1-62
----------~----
69
70
FISIOLOGIA ARTICULAR
FISIOLOGIA DA ABDUÇÃO
À primeira vista, a fisiologia da abdução
parece simples: é o resultado da ação de dois
músculos, o deltóide e o supra-espinhal. Contudo, não existe uma opinião unânime sobre o papel que desempenha cada um deles, nem sobre
as suas ações recíprocas. Recentes estudos eletromiográficos realizados por J.J. Comtet e Y.
Auffray (1970) aportam uma nova visão a respeito.
Papel do deltóide
Para Fick (1911) podemos distinguir sete
porções funcionais no deltóide (fig. 1-65, corte
esquemático horizontal, parte inferior):
- fascículo anterior, clavicular, inclui
dois: I e lI;
-
fascículo médio, acromial, só um: III;
-
fascículo posterior, espinhal, quatro: IV,
V, VI e VII.
Considerando estas porções com relação à
sua localização em função do eixo de abdução
puro AA' (fig. 1-63, vista anterior e figo 1-64,
vista posterior), podemos comprovar que algumas delas são em princípio abdutoras, como é o
caso de todo o fascículo acromial (III), a parte
mais externa da porção II do fascículo clavicular
e a porção IV do fascículo espinhal, porque estão situadas por fora do eixo (fig. 1-65). Pelo
contrário, as outras restantes (I, V, VI e VII) são
adutoras quando o membro superior pende ao
longo do corpo. Por isso, estas porções do deltóide são antagonistas das primeiras. Elas vão,
se convertindo em abdutoras à medida que o
movimento de abdução as desloca para fora do
eixo sagital. De maneira que, no que se refere a
estas porções, podemos ver uma inversão de sua
ação dependendo da posição de início do movimento. De todas as maneiras, algumas permanecem como adutoras (VI e VII) seja qual for o
grau de abdução.
Em linhas gerais, Strasser (1917) está de
acordo com este conceito, embora ressalte que,
no caso da abdução realizada no plano da escá-
pula, isto é, com uma flexão de 30° ao redor de
um eixo BB' (fig. 1-65) perpendicular ao plano
da escápula, quase todo o fascículo clavicular é,
de aferência, abdutora.
Os estudos eletromiográficos demonstram que as diferentes porções atuam sucessivamente à medida que a abdução progride, com
um intervalo de tempo maior quanto mais adutoras sejam no início do movimento, como se
fossem dirigidas pôr um quadro de comandos.
Por isso, as porçõe.s abdutoras não estão
restringidas pelas antagonistas. Neste caso se
trata de um exemplo do fenômeno de inervação
recíproca de Sherrington.
Durante a abdução pura, a ordem de entrada em ação é a seguinte:
- fascículo acromial III;
-
porções IV e V quase imediatamente depOIS;
- por último, a porção II a partir dos 20-30°.
Durante a abdução associada a uma flexão de 30°:
-
as porções III e II atuam imediatamente;
-
as porções IV e V cada vez mais tarde.
como a porção L
Quando a rotação externa do úmero se
associa com a abdução:
-
a porção II se contrai desde o primeiro
momento;
-
as porções IV e V nem sequer intervêm
no fim da abdução.
Quando a rotação interna do úmero se
associa com a abdução:
- se observa o mecanismo inverso.
Em resumo, o deltóide, ativo desde o início da abdução, pode realizar a abdução sozinho
até a sua máxima amplitude. A sua atividade
máxima se estabelece ao redor dos 90° de abdução. Para Inman, sua força seria equivalente a
8,2 vezes o peso do membro superior.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.1-63
Fig.1-64
Fig.1-65
71
72
FISIOLOGIA ARTICULAR
FISIOLOGIA DA ABDUÇÃO
(continuação)
Papel dos músculos rotadores
Depois de fazer com que a sinergia deltóide supra-espinhal desempenhe um papel importante, inclusive fundamental, parece agora que
os outros músculos da bainha são indispensáveis
para a eficácia do deltóide (Inman).
De fato, durante a abdução (fig. 1-66), a decomposição da força do deltóide D provoca a
aparição de um componente longitudinal Dr,
que, diminuído do componente longitudinal Pr
do peso P do membro superior (atuando sobre o
centro de gravidade), se aplica como força R ao
centro da cabeça umeral. Contudo, esta força R
pode, por sua vez, se decomponer em uma força
Rc que encaixa a cabeça na glenóide, e em oura
força Ri, mais potente, que tem a tendência de
provocar uma luxação para cima e para fora. Se
os músculos rotadores (infra-espinhal, subescapular, redondo menor) se contraem neste preciso momento, a sua força global Rm se opõe diretamente ao componente de luxação Ri e a cabeça não pode luxar-se para cima e para fora
(quadro em destaque). Desta maneira, a força
descendente Rm dos músculos rotadores cria,
com a força de elevação Dt do deltóide, um par
de rotação que dá origem à abdução. A força dos
músculos rotadores é máxima aos 60° de abdução. A eletromiografia (Inman) confirma dita atividade máxima no caso do infra-espinhal.
Papel do supra-espinhal
Até então, o músculo supra-espinhal era
considerado como o iniciador da abdução (o
"abductor starter" dos autores anglo-saxões). A
"deixada de escanteio" do supra-espinhal mediante bloqueio anestésico do nervo supra-escapular (B. Van Linge e l.D. Mulder) possibilita
demonstrar que ele não é indispensável para
I
realizar a abdução, nem sequer para iniciá-la
isoladamente abdução; o deltóide não é suficiente para obter uma abdução completa.
Contudo, e ao contrário, o supra-espinhal é
capaz de realizar uma abdução da mesma amplitude que a do deltóide (experiência de excitação elétrica de Duchenne de Boulogne e observações clínicas da :earalisia isolada do deltóide).
A eletromiografia demonstra que ele se contrai ao longo de toda a abdução e que a sua atividade máxima aparece aos 90° de abdução, como
no caso do deltóide.
No início da abdução (fig. 1-67) o seu componente tangencial Et é proporcionalmente mais
forte que o do deltóide Dt, embora o seu braço de
alavanca seja mais curto. O seu componente radial Er encaixa com força a cabeça umeral sobre
a g1enóide e contribui vigorosamente para evitar a
sua luxação para cima e sob ação do componente
radial Dr do deltóide. Assim sendo, desempenha
um papel coaptador idêntico ao dos músculos rotadores. De igual maneira, provoca a tensão da
parte superior da cápsula e se opõe à subluxação
inferior da cabeça umeral (Dautry e Gosset).
Desse modo, o supra-espinhal é sinérgico
dos outros musculos da bainha, os músculos rotadores. Ajuda com força e eficácia ao deltóide
que, quando atua isoladamente, se fatiga com rapidez.
Em resumo, a sua ação é ao mesmo tempo
qualitativa sobre a copatação articular, e quantitativa sobre a resistência e potência da abdução.
A sua fisiologia, bastante simples, se opõe à do
deltóide, já complexa por si mesma. Sem dar o
título de abductor-starter que teve até hoje, podemos afirmar que é útil e eficiente principalmente no início da abdução.
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL
13
6
10
11
12
4
5
2
4
3
4
3
2
5
Fig.2-27
71
72 FISIOLOGIA ARTICULAR
INFLUÊNCIA
DA POSIÇÃO SOBRE AS ARTICULAÇÕES
Em posição ortostática simétrica, as arti. culações da cintura pélvica são solicitadas pelo
peso do corpo. O mecanismo destas pressões se
pode analisar em uma vista lateral (fig. 2-29), na
qual o osso ilíaco, supostamente transparente,
permite ver o fêmur. O conjunto formado pela coluna vertebral, sacro, osso ilíaco e membros inferiores constitui um sistema articulado: por um lado, na articulação coxofemoral e, por outro, na articUlação sacroilíaca. O peso do tronco (seta P),
ao recair sobre a face superior da primeira vértebra sacral, tem a tendência de deslocar o promontório para baixo. Portanto, o sacro é solicitado no
sentido da nutação (NJ Este movimento é rapidamente limitado pelos ligamentos sacroilíacos
anteriores, o freio de nutação, e principalmente,
pelos dois ligamentos sacrociáticos que impedem
a separação do vértice do sacro com relação à tuberosidade isquiática.
Simultaneamente, a reação do chão (seta R),
transmitida pelos fêmures e exercida no nível das
articulações coxofemorais, forma, com o peso do
corpo sobre o sacro, um par de rotação, que tem
a tendência de bascular o osso ilíaco para trás (seta NJ Esta retroversão da pelve acentua mais a
nutação nas articulações sacroilíacas.
Embora esta análise trate dos movimentos,
na verdade, deveria referir-se às forças que os
provocam, visto que os movimentos são quase
nulos; se trata mais de tendência de movimentos,
do que movimentos propriamente ditos, porque
os sistemas ligamentares são extremamente potentes e impedem imediatamente qualquer deslocamento.
Em apoio monopodal (fig. 2-30), e em cada
passo durante a marcha, a reação do chão (seta
R), transmitida pelo membro que suporta o peso,
levanta a articulação coxofemoral correspondente, enquanto do outro lado, o peso do membro em
suspensão tem a tendência de fazer descer a coxofemoral oposta. Isto provoca uma compressão em
cisalhamento da sínfise púbica que apresenta a
tendência de levantar o púbis do lado que suporta
, o peso (A) e a descer o púbis do lado em suspensão (B). Normalmente, a solidez da sínfise púbica
impede qualquer deslocamento nesta articulação,
porém quando está deslocada, se pode ver como
DA CINTURA PÉLVICA
aparece um desnível (d) na margem superior de
cada um dos púbis durante a marcha. Do mesmo
modo, se pode entender que as articulações sacroilíacas se solicitem de forma oposta em cada passo. A sua resistência aos movimentos se deve à
força dos seus ligamentos, mas quando uma das
sacroilíacas está lesada por um deslocamento
traumático, aparecem movimentos que provocam
dor em cada passo. A solidez mecânica do anel
pélvico condiciona assim tanto a posição ortostática quanto a marcha.
Em decúbito, as articulações sacroilíacas se
solicitam de diferente maneira (fig. 2-33) dependendo se os quadris estão em flexão (A) ou em
extensão (B).
Quando os quadris estão estendidos (fig.
2-32), a tração sobre os músculos flexores (seta
branca) bascula a pelve em anteversão, ao mesmo tempo em que o vértice do sacro está impulsado para a frente. Produz-se uma diminução da
distância entre o vértice do sacro e a tuberosidade isquiática e, simultaneamente, uma rotação na
sacroilíaca no sentido da contranutação (a seta 2
indica o movimento do osso ilíaco ao redor do eixo de nutação). Esta posição corresponde ao início do parto e a contranutação, que alarga a abertura superior da pelve, favorece a descida da cabeça letal em direção à escavação pélvica.
Quando os quadris estão flexionados (fig.
2-31), a tração dos músculos ísquio-tibiais (seta I)
tem a tendência de bascular a pelve em retroversão com relação ao sacro. Isto constitui, então, um
movimento de nutação (a seta 1 indica o movimento do osso ilíaco com relação ao sacro); este
movimento diminui o diâmetro ântero-posterior
da abertura superior da pelve e aumenta os dois
diâmetros da abertura inferior da pelve. Esta posição adotada durante o momento expulsivo do parto favorece, assim, a saída da cabeça letal durante a sua passagem pela abertura inferior da pelve.
Durante a mudança de posição entre a extensão e a flexão das coxas, a amplitude média do
deslocamento do promontório é de 5,6 mm. As
mudanças de posição das coxas modificam, notavelmente, as dimensões da escavação pélvica para facilitar a passagem do feto durante o parto.
1. MEMBRO SUPERIOR
Pr
Fig.1-67
1-
73
74 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS TRÊS FASES DAABDUÇÃü
Primeira fase da abdução (fig. 1-68): de O
a 90°
Os músculos motores desta primeira fase
são principalmente:
-
deltóide (1);
-
supra-espinhal (2).
-
os músculos motores desta segunda fase
são:
• o trapézio (3 e 4);
• o serrátil anterior (5).
Constituem o par ~bdutor da articulação escápulo-torácica.
Estes dois músculos formam o par da abdução da articulação escápulo-umeral. De fato, nesta articulação é onde se inicia o movimento de
abdução. Esta primeira fase finaliza perto dos
90°, quando a articulação escápulo-umeral se
bloqueia devido ao impacto da tuberosidade
maior do úmero contra a margem superior da
glenóide. A rotação externa, e também uma ligeira ftexão, desloca a tuberosidade maior do úmero para trás e atrasa dito bloqueio. Com Steindler, podemos considerar que a abdução associada
com uma ftexão de 30° no plano do corpo da escápula é a verdadeira abdução fisiológica.
O movimento está limitado perto dos 150°
(90° + 60° de amplitude do mo\"imento pendular
da escápula) pela resistência dos músculos adutores: grande dorsal e peitoral maior.
Segunda fase da abdução (fig. 1-69): de
90 a 150°
Se os dois braços realizam a abdução, não
podem estar paralelos se não estiverem emftexão máxima. Para chegar à vertical é necessária
uma hiperlordose lombar, também sob dependência dos músculos espinhais.
Com a articulação escápulo-umeral bloqueada, a abdução só pode continuar graças à
participação da cintura escapular:
-
movimento pendular da escápula, rotação no sentido inverso aos ponteiros do
relógio (no caso da escápula direita) que
dirige a glenóide mais diretamente para
cima; sabemos que a amplitude deste
movimento é de 60°;
-
movimento de rotação longitudinal, do
ponto de vista mecânico, das articulações esternocostoclavicular e acrômioclavicular, cuja amplitude de movimento é de 30° cada uma;
Terceira fase da abdução (fig. 1-70): de
150° a 180°
É necessário que a coluna vertebral participe deste movimento para chegar à vertical.
Se só um braço realiza a abdução, basta
uma inclinação lateral sob ação dos músculos
espinhais do lado contrário (6).
Esta descrição da abdução em três fases é,
naturalmente, esquemática: em realidade, as
participações musculares estão inter-relacionadas e "encadeadas intimamente"; é fácil comprovar que a escápula começa um "giro" antes
que o membro superior chegue a uma abdução
de 90°. Igualmente, a coluna vertebral começa a
se inclinar antes de chegar a uma abdução de
150°.
No fim da abdução, todos os músculos motores da abdução estão contraídos.
1. MEMBRO SUPERIOR
J
I)
Fig.1-69
Fig.1-68
/
Fig.1-70
(
75
76
FISIOLOGIA ARTICULAR
AS TRÊS FASES DAFLEXÃO
Primeira fase da flexão (fig. 1-71): de 0° a
50-60°
cular e acrômio-clavicular, cuja amplitude é de 30° cada uma.
Os músculos motores desta primeira fase são:
- fascículo anterior, c1avicular, do deltóide (1);
Os músculos motores são os mesmos que
participam da abdução:
- córaco-braquial (2);
- fascículo superior, clavicular, do peitoral maior (3).
Estafiexão está limitada na articulação escápulo-umeral por dois fatores:
-
a tensão do ligamento córaco-umeral
(ver figo 1-30, c);
- a resistência dos músculos redondo menor, redondo maior e infra-espinhal.
Segunda fase da flexão (fig. 1-72): de
60° a 120°
Função da cintura escapular:
- rotação da escápula 60° mediante um
movimento pendular que orienta a glenóide para cima e para a frente;
- rotação axial, do ponto de vista mecânico, das articulações esternocostoc1avi-
-
trapézio (4 e 5);
serrátil anterior.
Esta flexão escápulo-umeral está limitada
pela resistência do músculo grande dorsal e da
porção inferior do peitoral maior.
Terceira fase da flexão (fig. 1-73): de
120° a 180°
O movimento de flexão está bloqueado pela articulação escápulo-umeral e a intervenção
da coluna vertebral na escápulo-torácica é necessária.
Se a flexão é unilateral, é possível finalizar
o movimento realizando uma abdução máxima
do braço e, a seguir, uma inclinação lateral da
coluna.
Se a flexão é bilateral, o fim do movimento é idêntico ao da abdução associada a uma
hiperlordose por ação dos músculos lombares
(7).
1. J\'lEMBRO SUPERIOR
Fig.1-71
I
Fig.1-72
Fig.1-73
77
78
FISIOLOGIA ARTICULAR
MÚSCULOS ROTADORES
a) Vista superior esquemática (Fig. 1-74)
da articulação escápulo-umeral, que mostra os
músculos rotadores;
b) Rotadores internos (desenho):
1) grande dorsal;
2) redondo maior;
3) subescapular;
4) peitoral maior.
c) Rotadores externos (desenho):
5) infra-espinhal;
6) redondo menor.
Diante da quantidade e da potência dos rotadores internos, os rotadores externos são fracos;
contudo, são indispensáveis para a correta utilização do membro superior, porque só eles podem
afastar a mão da superfície anterior do tronco,
deslocando-a para a frente e para fora; este movimento da mão direita de dentro para fora é imprescindível para a escritura.
Observe-se que, embora estes dois músculos
possuam um nervo diferente (nervo supra-escapular no caso do infra-espinhal e nervo circunflexo
no caso do redondo menor), ambos os nervos têm
origem na mesma raiz (Cs) do plexo braquial, de
maneira que podem paralisar-se simultaneamente
nos alongamentos do plexo braquial nas quedas
sobre o coto do ombro (acidente de motocicleta).
Mas a rotação da articulação escápuloumeral não é suficiente para completar a máxima rotação do membro superior: é necessário
acrescentar modificações na orientação da escápula (e da glenóide) durante os movimentos de
translação lateral da articulação (ver figo 1-37);
esta mudança de orientação de 40° a 45° aumenta. na mesma medida, a amplitude da rotação.
Os músculos motores são:
-
no caso da rotação externa (adução da
escápula): rombóide e trapézio;
- no caso da rotação interna (abdução da escápula): serráti1anterior e peitoral menor.
1. MEMBRO SUPERIOR
5
6
2
,
c
b
Fig.1-74
I
79
80
FISIOLOGIA ARTICULAR
AADUÇÃO E A EXTENSÃO
Os músculos adutores são representados
em vista anterior (fig. 1-75) e em vista pósteroexterna (fig. 1-76).
A contraç~o do grande dorsal, músculo
adutor muito potente, tende a luxar a cabeça umeral para baixo (seta preta);
Números comuns para ambas as figuras:
(1) redondo maior;
A porção longa do tríceps, que é ligeiramente adutora, quando se contrai simultaneamente, se opõe a esta luxação e eleva a cabeça umeral (seta branca).
(2) grande dorsal;
(3) peitoral maior;
(4) rombóide.
No quadro: esquemas que explicam o funcionamento dos dois pares musculares da adução:
a) par rombóide (1) redondo maior (2)
A ação sinérgica destes dois músculos é
indispensável para a adução. De fato, se
o redondo maior se contrai sozinho, o
membro superior resiste à adução e a escápula gira para cima sobre o seu eixo
(representado por uma cruz).
A contração do rombóide evita esta rotação e possibilita a ação adutora do redondo maior.
b) par porção longa do tríceps (4) grande
dorsal (3)
Os músculos extensores estão representados em vista póstero-extema (fig. 1-77).
ral:
Extensão da articulação escápulo-wne-
redondo maior (1);
-
redondo menor (5);
- porção posterior, espinhal, do deltóide (6);
-
grande dorsal (2).
Extensão da articulação escápulo-torácica, por adução da escápula:
-
rombóide (4);
-
porção média, transversal, do trapézio
(7);
-
grande dorsal (2).
Fig.1-76
Fig.1-75
82
FISIOLOGIA ARTICULAR
FLEXÃO-EXTENSÃO
Anatomicamente O cotovelo só contém
uma articulação: de fato, só existe uma cavidade
articular.
Contudo, a fisiologia permite distinguir
duas funções diferentes:
-
a pronação-supinação, que envolve a
articulação rádio-ulnar superior;
-
a f1exão-extensão, que precisa da ação
de duas articulacões:
• a articulação úmero-ulnar;
• a articulação úmero-radial.
Neste capítulo, será analisada únIca e
exclusivamente a função da FLEXÃOEXTENSÃO.
1. MEMBRO SUPERlOR
83
84
FISIOLOGIA
ARTICULAR
o COTOVELO:
ARTICULAÇÃO DE SEPARAÇÃO E APROXIMAÇÃO DA MÃO
o cotovelo é a articulação intermédia do
membro superior: ao realizar a união mecânica
entre o primeiro segmento - o braço - e o segundo - o antebraço - do membro superior, possibilita, orientado nos três planos do espaço
graças ao ombro, deslocar mais ou menos longe
do corpo a sua extremidade ativa: a mão.
O homem pode levar os alimentos à boca
graças à flexão do cotovelo. Quando pegamos
um alimento com extensão-pronação (fig. 2-1),
este é levado à boca mediante um movimento
de flexão-supinação; assim sendo, podemos
afirmar que o bíceps é o músculo da alimentação.
o cotovelo constitui junto com o braço e o
antebraço um compasso (fig. 2-2, a) que possibilita a aproximação, até quase tocar, do punho
P ao ombro O (a distância que os separa é o que
mede o punho), de maneira que a mão chega
com facilidade ao ombro e à boca. Na montagem telescópica (fig. 2-2, b) a mão não pode
alcançar a boca porque o comprimento mínimo
é a soma da longitude L de um segmento e da
coaptação necessária para manter a rigidez da
montagem. No caso do cotO\elo, a solução tipo
"compasso" é mais lógica e melhor em comparação com a do tipo "telescópico", supondo
que esta última seja viável.
1. 11EMBRO SUPERIOR
Fig.2-1
a
Fig.2-2
. b
85
86 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS SUPERFÍCIES ARTICULARES
(as explicações são as mesmas para todas as figuras)
No nível da porção inferior do úmero:
duas superfícies articulares (figo 2-3, segundo
Rouviere):
por cima, com o bico do olécrano (11),
por baixo e pela frente com o bico do
processo coronóide (12); a cada lado da
crista,. que se corresponde com a garganta da tróclea, se localizam duas vertentes côncavas (13), que se correspondem com as "superfícies articulares"
trocIeares. A forma geral desta superfície articular é_,comparáve1(fig. 2-4, b) à
superfície de urna prancha de ferro ondulada, da que só.tomamos um elemento (seta branca): uma nervura (10) e
dois canais (11).
- a tróclea umeral (2), em forma de polia
ou diabolô (fig. 2-3, a), com urna garganta que se localiza no plano sagital, entre
duas "superfícies articulares" convexas;
-
côndilo umeral, superfície esférica (3),
situada por fora da tróclea.
Podemos comparar o conjunto côndilo-tróelea com a associação (figo2-4) de um diabolô e
de wna bola, atravessados por um mesmo eixo.
Este eixo representa - numa primeira aproximação - o eixo de flexão-extensão do cotovelo.
São necessárias duas observações:
-
-
o côndilo não é uma esfera completa,
mas sim uma hellliesfera (a metade anterior da esfera) "localizada" pela frente
da porção inferior do úmero. ConseqÜentemente, o côndilo, ao contrário da
tróclea, não existe na parte posterior; se
interrompe na extremidade inferior do
osso sem ascender para trás;
no espaço (4) situado entre o côndilo e a
tróc1ea (figo 2-4), existe urna zona de
transição, a superfície ou canal côndilotrodear (figo 2-3), com forma de cone
cuja base maior se apóia na superfície
articular externa da tróclea. Mais adiante esclareceremos a utilidade desta zona
côndilo-troclearo
No nível da porção superior dos dois ossos do antebraço, duas superfícies correspondentes:
-
a grande cavidade sigmóide da ulna
(fig. 1-3) que se articula com a tróc1ea,
de modo que a sua conformação é inversa, isto é, que apresenta urna crista
romba longitudinal (10) que finaliza,
-
a abóbada radial (fig. 1-3), superfície superior da cabeça radial, cuja concavidade
(14) possui a mesma curva que o côndilo
(3) sobre a qual se adapta. Está limitada
por uma margem (ver pág. 93) que se articula com a zona côndilo-troclear.
Estas duas superfícies constituem um conjunto único graças ao ligamento anular (16).
As figuras 2-5 e 2-6 mostram o encaixe das
superfícies articulares. Figura 2-5, vista anterior (lado direito) com: a fosseta coronóidea (5)
por cima da tróclea, e a fosseta supracondilar
(6), a epitróclea (7) e o epicôndilo (8). Figura 26, vista posterior (lado esquerdo), que também
mostra a fosseta olecraniana (17) receptora do
bico do olécrano (20).
Na secção vértico-frontal da articulação
(fig. 2-7, segundo Testut), podemos observar corno a cápsula (17) constitui só urna cavidade articular para duas articulações funcionais: (fig. 2~8,
corte esquemático) a articulação de flexão-extensão (traços verticais) com a interlinha trócleo-ulnar (18) (fig. 2-7) e a interlinha côndilo-radial (19)
e a articulação rádio-ulnar superior (traços horizontais) no caso da pronação-supinação. Também
podemos distinguir o bico do olécrano (11) que,
na extensão, ocupa a fosseta olecraniana.
2
8
13
14
12
15
16
b
Fig.2-4
Fig.2-5
Fig.2-3
14
20
"'('111.·':~,i~~
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8
18
17
\1
Fig.2-8
~~
Fig.2-6
88
FISIOLOGIA ARTICULAR
A PALETA UMERAL
Denomina-se paleta umeral à porção inferior do úmero (fig. 1-12, vista anterior e figo213, vista posterior), plana de diante para trás e
em cuja margem inferior se localizam as superfícies articulares, tróclea e côndilo.
É importante conhecer a estrutura e a forma
desta paleta umeral para compreender a fisiologia do cotovelo.
1) a paleta umeral possui a estrutura de
uma forquilha que suporta entre os seus
dois ramos o eixo das superfícies articulares (fig. 2-14), como se fosse uma forquilha de bicicleta.
De fato, na sua parte central, a paleta umeral apresenta duas cavidades:
-
-
pela frente, a fosseta supratroclear, receptora do bico do processo coronóide
durante a flexão (fig. 2-11);
por trás, a fosseta olecraniana, recep~
tora do olécrano durante a extensão
(fig. 2-9).
Estas duas fossetas são imprescindíveis para que o cotovelo tenha uma determinada amplitude de flexão-extensão: atrasam o momento em
que os bicos da coronóide ou do olécrano impactam contra a paleta. Sem elas, a grande cavidade sigmóidea da ulna, que realiza um arco de
180°, só percorreria um trajeto muito curto sobre
a tróclea, ao redor da posição média (fig. 2-10).
Em algumas ocasiões, ditas fossetas são tão
profundas que a fina lâmina óssea que as separa
se perfura: neste moemento é quando entram em
contato entre si.
Seja como for, a sólida estrutura da paleta
se localiza a cada lado das fossetas, conformando dois pilares divergentes (fig. 1-13) que finalizam por dentro da epitróclea, por fora do epicôndilo e que, no seu intervalo, contêm o con-
junto articular côndilo-troclear. Esta estmtura
em forquilha é a que faz a redução tão delicada
e, principalmente, a correta imobilização das
fraturas da porção inferior do úmero.
2) a paleta umeral, em conjunto, se encontra deslocada para a frente (fig.2-15,
a). O plano da paleta forma um ângulo
de aproximadamente 45° com o eixo da
diáfise. Esta ..configuração tem uma conseqüência mecânica: toda a tróclea se situa pela frente do eixo diafisário.
Igualmente, a grande cavidade sigmóide
da u/na, orientada para frente e para cima seguindo um eixo inclinado 45° sobre a horizontal
(a), também se situa totalmente pela frente do
eixo diafisário da ulna. Isto está esquematizado
em (b).
O deslocamento das superfícies articulares
para frente junto com sua orientação de 45° favorece a flexão por dois motivos (e):
I) o impacto do bico coronóide não ocorre
até que os dois ossos estejam paralelos
(flexão teórica: 80°);
2)
inclusive em flexão máxima, persiste
uma separação (seta dupla) entre os dois
ossos, o que permite paIpar as massas
musculares.
Se estas duas condições mecânicas não
existissem (f), é fácil entender:
- que a flexão estaria limitada a 90° devido ao impacto coronóide (g);
-
e, supondo que não existisse tal impacto (como seria o caso de uma perfuração importante da paleta), os dois ossos entrariam em contato durante a flexão sem deixar lugar para as massas
musculares (h).
1. MEMBRO SUPERIOR
89
Fig.2-13
Fig.2-14
Fig.2-11
Fig.2-12
Fig.2-9
Fig.2-10
o
a
b
c
e
d
Fig.2-15
9
h
90
FISIOLOGIA ARTICULAR
OS LIGAMENTOS DO COTOVELO
(as explicações são as mesmas para todas as figuras)
Os ligamentos da articulação do cotovelo
têm a função de manter as superfícies articitlares em contato. São autênticos tensores, dispostos a cada lado da articulação: o ligamento lateral interno (fig. 2-16, segundo Rouviere) e o ligamento lateral externo (fig. 2-17, segundo Rouviere).
Em conjunto, têm a forma de um leque fibroso que se estende de cada uma das duas proe-
que possa produzir o movimento de lateralidade
para o lado oposto (seta preta) e para que as superfícies articulares percam contato: é o mecanismo habitual da luxação do cotovelo, que numa primeira fase, é uma entorse grave do cotovelo (ruptura do ligamento lateral i~terno).
Particularidades:
-
minências para-articulares - epicôndilo por fora,
epitróc1ea por dentro -, onde o vértice do leque
se fixa num ponto que se corresponde, aproximadamente, com o eixo xx' de flexão-extensão
(fig. 2-18, segundo Rouviere), até o contorno da
grande cavidade sigmóide da ulna onde se insere a periferia do leque.
• um fascículo anterior (1), cujas fibras
mais anteriores reforçam (fig. 2-17) o
ligamento anular (2);
• um fascículo médio (3), o mais potente;
• um fascículo posterior (4), ou ligamento de Bardinet, reforçado pelas
fibras transversais
do ligamento de
Cooper (5).
Por isso, podemos imaginar o modelo
mecânico do cotovelo como vemos a seguir
(fig. 2-19):
-
na parte superior, a forquilha da paleta
umeral, suporte da polia articular;
-
na
de
de
xa
-
parte inferior, um semi-anel (a grancavidade sigmóide) unido ao braço
alavanca antebraquial e que se encaina polia;
Além disso, neste esquema podemos distinguir: a epitróc1ea (6), de onde sai o leque
do LU, o olécrano (7), a corda de Weitbrecht (8), o tendão do bíceps (9) que se insere na tuberosidade bicipital do rádio.
- o ligamento lateral externo (LLE),
constituído também por três fascículos
(fig. 1-17):
o sistema ligamentar está representado
por dois tensores unidos ao "talo" que
simula o antebraço, e que se articula
com os dois extremos do eixo da polia.
• um fascículo anterior (10), que reforça o ligamento anular pela frente;
• um fascículo médio (11), que reforça
o ligamento anular por trás;
É fácil entender que estes "tensores" late-
• um fascículo posterior (12). Epicôn-
rais desempenhem um duplo papel (fig. 2-20, a):
-
manter o semi-anel encaixado
(coaptação articular);
-
impedir qualquer movimento
lidade.
na polia
de latera-
Basta (fig. 2-20, b) a ruptura de um dos tensores, por exemplo o interno (seta branca), para
o ligamento~ lateral interno (LU) está
constituído por três fascículos (fig. 2-16):
dilo (13).
-
a cápsula se encontra reforçada, pela
frente, pelo ligamento anterior (14) e o
ligamento oblíquo anterior (15). Por
trás, está reforçada por fibras transversais úmero-umerais e por fibras úmeroolecranianas.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.2-16
Fig.2-17
X'
15
a
Fig.2-19
b
Fig.2-18
Fig.2-20
91
92
FISIOLOGIA ARTICULAR
A CABEÇA RADIAL
A forma da cabeça radial está totalmente
condicionada pela sua função articular:
-
função de rotação axial (ver capítulo
IIl: pronação~supinação): é cilíndrica;
-
função de flexão-extensão em tomo ao
eixo xx' do côndilo:
• em primeiro lugar, a cabeça radial deve-se adaptar (fig. 2-21) à forma esférica do côndilo umeral (A): por isso, a
sua superfície superior (B) é côncava,
é a abóbada radial. Para que isto
aconteça basta remover (C) um casquete esférico, cujo raio de curva seja
igual ao do côndilo; de modo que durante a pronação-supinação a abóbada
radial possa pivotar sobre o côndilo
umeral seja qual for o grau de flexãoextensão do cotovelo;
• porém o côndilo umeral se encontra
limitado (fig. 2-22), por dentro, por
uma superfície troncocônica, a zona
côndilo-troclear (A). Desta forma, durantea flexão-extensão, para que possamos realizar a adaptação da cabeça
radial, é necessário que uma "esquina" (C) do contorno interno dela desapareça, como se um plano (B) tangente ao tronco do cone tivesse sepa-
rado uma porção da margem da abóbada;
• por último, a função da cabeça radial
não consist_~unicamente em se deslizar sobre o côndilo e a zona côndilotroclear girando em tomo ao eixo xx',
mas pode girar ao mesmo tempo em
tomo de seu eixo vertical yy' , durante
a pronação-supinação (B); a secção
praticada no contorno da abóbada (C)
se estende sobre uma porção de sua
circunferência, como se, no percurso
desta rotação (B), uma navalha tivesse
recortado uma lâmina espiral no bordo (fig. 2-23).
Ligações articulares da abóbada radial
nas posições extremas (fig. 2-24):
- em extensão máxima (a), só a metade anterior da abóbada se articula com o côndi10; de fato, a superfície cartilaginosa do
côndilo se interrompe no limite inferior
da paleta umeral e não ascende para trás;
- emjlexão máxima (b), O contorno da cabeça radial ultrapassa, por cima, a superfície do côndilo e se introduz na fosseta
supracondilar (ver figo 2-5), muito menos profunda que a fosseta supratroclear
ou coronóide.
1. MEMBRO
x
A
B
c
Fig.2-21
Fig.2-22
Fig.2-23
b
a
Fig.2-24
SUPERIOR
93
94
FISIOLOGIA
ARTICULAR
A TRÓCLEA UMERAL
(variações)
A primeira vista, afirmamos anteriormente
(pág. 86) que a garganta da tróclea se localiza no
plano sagital. A realidade é bastante mais complexa.
De fato, a garganta da tróclea não é vertical, mas é oblíqua; além disso, esta obliqÜidade
varia segundo o sujeito. A figura 2-25 é um resumo destas situações diferentes e as suas conseqüências do ponto de vista fisiológico:
1)
Caso mais freqüente (fileira superior)
De frente (a), a garganta da tróclea é vertical: por trás, a parte posterior da garganta (b: vista posterior) é oblíqua para baixo e para fora.
Em conjunto (c), a garganta da tróclea se
enrola em espiral em tomo do eixo. As conseqüências fisiológicas são as seguintes:
-
em extensão (d) (esquema inspirado em
Roud), a parte posterior da garganta faz
conexão com a cavidade sigmóidea; de
modo que a sua obliqüidade provoca a
do antebraço; portanto, o antebraço se
posiciona levemente oblíquo para baixo
e para fora e o seu eixo não prolonga o
do braço, porque forma com ele um ângulo obtuso aberto para fora, claramente definido na mulher e denominado val-
go fisiológico (fig. 2-26);
-
em ftexão, é a parte anterior da garganta a que determina a direção do antebraço e, como esta parte da garganta é vertical, durante a ftexão (e), o antebraço
acaba-se projetando exatamente pela
Em conjunto
Durante a extensão (d), o antebraço fica
oblíquo para baixo e para fora: é a ulna em valgo fisiológico, como no caso anterior.
Durante a ftexão (e), a obliqüid~de da parte
anterior da garganta determina a obliqüidade do
antebraço: este último se projeta levemente por
fora do braço.
3) Caso muito rar~ (fileira inferior)
De frente (a), a garganta da tróclea é oblí-
qua para cima e para dentro.
A parte posterior
inter-
De frente (a), a garganta da tróclea é oblí-
qua para cima e para fora.
A parte posterior
da garganta (b)
para baixo e para fora.
é oblíqua
da garganta (b) é oblíqua
para baixo e para fora.
Em conjunto (c), a garganta da tróclea descreve um círculo, cujo plano é oblíquo para baixo
e para fora, ou uma espiral muito fechada e inclinada para dentro. Conseqüências fisiológicas:
-
na extensão (d): valgo fisiológico;
na ftexão (e): o antebraço se projeta por
dentro do braço.
Outra conseqüência desta fOffi1a em espiral
da garganta é que não existe um eixo da tróclea,
mas uma série de eixos instantâneos entre duas
posições extremas (fig. 2-27):
- um eixo naflexão (traço contínuo): é perpendicular à direção do antebraço ftexionado (aparece ilustrado o caso mais freqüente: ver I);
- um eixo na extensão (traço descontínuo):
é perpendicular
tendido.
frente do braço.
2) Caso menos freqüente (fileira
média)
(c), a garganta descreve uma
autêntica espiral em tomo do eixo.
ao eixo do antebraço es-
A direção do eixo de ftexão-extensão varia
continuamente entre duas posições extremas,
durante
os movimentos
de ftexão-extensão
do
cotovelo, diz-se que o eixo é evolutivo. A figura
2-28 ilustra estas duas posições extremas no esqueleto.
1. MEMBRO SUPERIOR
lU
\
'"
Fig.2-26
-
/';9.2-27
a
•..•.
b
~
\
\
'''\\
\
\
II
~
III
\
\
\
\
I
I
I
L._J
111
a
d
Fig.2-25
9S
96 FISIOLOGIA ARTICt:LAR
AS LIMITAÇÕES DA FLEXÃÜ-EXTENSÃü
A limitação da extensão (fig. 2-29) se
deve a três fatores:
compartimento anterior do braço e do
antebraço, endurecida pela contração.
Este mecânismo explica que a flexão
ativa não pC!de ultrapassar os 145°,
fato que se acentua quanto mais musculoso é o indivíduo.
1) o impacto do bico olecraniano no fundo
da fosseta olecraniana;
2) a tensão da parte anterior da cápsula
articular;
3) a resistência que opõem os músculos
flexores (bíceps, braquial anterior e
braquirradial).
Se a extensão continua. um dos mencionados ji-eios se rompe:
~ fratura do olécrano (1) (fig. 2-30), seguida de desgane capsular (2);
-o
olécrano (1) resiste (fig. 2-31), mas a
cápsula (2) e os ligamentos se rompem,
e se produz uma luxação posterior (3)
do cotovelo. Os músculos, em geral,
p<.:rmanecemintatos. Contudo, a artéria
umeral pode romper-se ou, pelo menos,
sofrer uma contusão.
-
Se a flexão é passiva (fig. 2-33) pela ação
de uma força (seta preta) que "fecha" a articulação:
-
-
neste momento aparecem
fatores limitantes:
os outros
• impacto da cabeça radial contra a fosseta supracondílea e do processo coronóide contra a fosseta supratroclear (2);
• tensão da parte posterior da cápsula (3);
Se a flexão é atim (fig. 2-32):
o primeiro fator de limitação é o contato das massas musculares (1) do
as massas musculares sem contrair (1)
podem - se achatar ltma contra a outra
de modo que a flexão possa ultrapassar os
145°;
A limitação da flexão é diferente, dependendo de ser uma flexão ativa ou passiva.
-
os outros fatores, impacto ósseo (2)
e tensão capsular (3), quase não intervêm.
• tensão passiva do tríceps braquial (4).
160°.
Nestas condições, a flexão pode alcançar os
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.2-29
Fig.2-31
1
Fig.2-32
Fig.2-33
97
98
FISIOLOGIA ARTICULAR
OS MÚSCULOS MOTORES DA FLEXÃO
Os músculos motores da ftexão do cotovelo são essencialmente três:
A eficácia dos músculos fiexores é máxima
com o cotovelo fiexionado a 90°.
-
o braquial anterior (1) que se estende
do tubérculo do processo coronóide da
ulna até a superfície anterior do úmero
(fig. 2-34): mono articular, é exclusivamente ftexor do cotovelo; é um dos raros
músculos do corpo que realizarp uma
única função;
-
o braquiorradial (2) que se estende do
processo estilóide do rádio até a margem externa do úmero (fig. 2-34): a sua
função principal é a fiexão do cotovelo.
Como músculo acessório e só na pronaçâo máxima se converte em supinador,
igualmente é pronador na supinação má-
De fato, quando o cotovelo está estendido
(fig. 2-36), a direção da força muscular é quase
paralela (seta branca) à direção do braço de alavanca. O componente centrípeto ç dirigido ao
centro da articulação é preponderante, mas ineficaz. O componente tangencial ou transversal T,
o único realmente éncaz, é relativamente insignificante, quase nulo.
XIma;
-
o bíceps braquial (3) é o fiexor principal (fig. 2-35). A sua inserção inferior se
localiza na tuberosidade bicipital do rádio. As suas inserções superiores não se
situam no úmero (se trata de um músculo biarticular), mas na escápula mediante duas porções:
porção longa (3') no tubérculo supraglenóide após ter atravessado a articulação (ver capítulo I: o ombro);
• (I
• a porçâo curta (3") no bico do processo coracóide.
Mediante as suas duas inserções superiores,
o músculo bíceps coapta o ombro e sua porção
longa o abduz.
A sua ação principal é a ftexão do cotovelo.
A sua ação secundária, porém importante, é
a supinação (ver capítulo III: a pronação-supinação), máxima quando o cotovelo está fiexionado
a 90°.
Com o cotovelo fiexionado, o bíceps tende
a luxar o rádio (ver pág. 102).
Contudo, na semifiexão (fig. 2-37), a força
muscular está perpendicular à direção do braço
de alavanca (seta branca: bíceps, seta preta: braquirradial), o componente centrípeto se anula e
o componente tangencial se confunde com a
própria força muscular: assim, toda a força muscular se utiliza na ftexão.
Este ângulo de máxima eficácia se situa entre os 80 e 90° no caso do bíceps.
Com relação ao braquirradial, a 90° a força
muscular não se confunde com o componente
tangencial; isso não se apresenta até os 100II 0°, isto é, numa fiexão mais acentuada que a
do bíceps.
A ação dos músculos fiexores se realiza segundo o esquema das alavancas de terceiro gênero: de modo que favorece a amplitude e a rapidez dos movimentos a expensas de sua potênCIa.
Músculos ftexores fundamentalmente acessórios:
-
extensor radial (RI): debaixo do braquirradial (fig. 2-37);
- pronador redondo: sua retração, provocada pela síndrome de Volkmann, constitui uma corda que impede a extensão
completa do cotovelo.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.2-34
Fig.2-35
T
Fig.2-37
Fig.2-36
99
100 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS MÚSCULOS MOTORES DA EXTENSÃO
A extensão do cotovelo se deve à ação de só
um músculo: o tríceps braquial (fig. 2-38); de fato, a ação do ancôneo (A), embora notável para
Duchenne de Boulogne, não vale a pena tratar no
plano fisiológico devido à debilidade do seu momento de ação.
tríceps braquial está constituído por três
corpos carnosos que finalizam num tendão comum que se insere no olécrano.
Os três corpos musculares do tríceps têm
°
uma inserção superior diferente:
-
a cabeça (ou porção) medial (1) se fixa
na superfície posterior do úmero, para
baixo do canal ou sulco do nervo radial;
-
a cabeça (ou porção) lateral (2) se fixa
sobre a margem externa da diáfise umeral, principalmente por cima do canal do
nervo radial;
Portanto, estas duas porções são monoarticulares.
-
a porção longa (3), que não se insere so-
bre o úmero, mas sobre a escápula, no tubérculo subglenóide: de modo que esta
porção é um músculo biarticular.
A eficácia do tríceps é diferente dependendo do grau de flexão do cotovelo:
- em extensão completa (fig. 2-39), a força
muscular se decompõe em:
• um componente centrífugo C, que tende a luxar a ulna para trás;
• um componente tangencial ou transversal T, o único eficaz e predominante;
- em ligeira flexão (fig. 2-40), entre 20 e
30°, o componente radial (anteriormente
centrífugo) se anula, e o componente eficaz se confunde com a força muscular: é
a posição na qual o músculo desenvolve
a sua máxima eficácia;
-
em conseqüência (fig. 2-41), quanto mais
aumenta a flexão mais diminui o componente eficaz T em benefício do componente centrípeto C;
-na flexão completa (fig. 2-42), o tendão tricipital se reflete na superfície superior do
olécrano, como se fosse uma polia, o que
contribui a compensar a sua perda de eficácia. Por outro lado, com as fibras musculares em máxima tensão, a sua potência de
contração é máxima de mopo que se transforma em outro fator de compensação.
A eficácia da porção longa do tríceps e,
conseqüentementé, todo o músculo, também depende da posição do ombro: este fato deriva de
sua natureza biarticulâr (fig. 2-43).
É fácil comprovar que a distância que separa os dois pontos de inserção da porção longa do
tríceps é maior na posição de flexão de 90° que
na posição vertical do braço (o cotovelo permanece no mesmo grau de flexão). De fato, os centros dos dois círculos "traçados" pelo úmero (1)
e pela porção longa do tríceps (2) estão separados. Se a longitude do tríceps não varia, se situaria em O', mas como o olécrano se encontra em
02' necessariamente, o músculo se alonga passivamente uma distância 0'02'
De modo que a força do tríceps é maior
quando o ombro está flexionado. A porção longa
do tríceps reforça uma parte da potência dos músculos flexores do ombro com o cotovelo estendido (fascículos claviculares do peitoral maior e do
deltóide); este é um exemplo do papel que desempenham os músculos biarticulares. Também é
maior para o movimento que associa a extensão
do cotovelo e a extensão do ombro (a partir da posição de flexão de 90°), como é o caso do movimento do lenhador ao bater com o machado.
Pelo contrário, a força do tríceps é menor
quando o movimento que associa a extensão do
cotovelo com a flexão do ombro, como por
exemplo dar um soco para a frente (a porção
longa do tríceps fica "cercada" entre dois imperativos contraditórios: alongar (flexão), encurtar
(extensão do cotovelo).
É bom lembrar que a porção longa do tríceps
constitui junto com o grande dorsal um par adutor do ombro (ver pág. 80).
1. MEMBRO SUPERIOR
c
Fig.2-38
b
Fig.2-39
T
\
\
\
0'\
Fig.2-40
Fig.2-41
I
I
Fig.2-42
101
102
FISIOLOGIA ARTICULAR
OS FATORES DE COAPTAÇÃO ARTICULAR
A coaptação longitudinal impede que a
articulação do cotovelo em extensão se desloque:
• tanto quando se exerce uma força para
baixo (fig. 2-44, vista externa e figo2A5,
vista interna), como quando transportamos um balde de água;
• quanto quando exercemos uma força para cima (figs. 2-47 e 2-48), como acontece na queda com as mãos para a frente
e os cotovelos em extensão.
1) Resistência à tração longitudinal
O fato de que a grande cavidade sigmóide
não ultrapasse os 180° de arco faz com que a tróclea não fique fixa mecanicamente devido à ausência de partes moles. A coaptação é assegurada por:
-ligamentos:
LU (1) e LLE (2);
- os músculos: não unicamente os do braço: tríceps (3), bíceps (4), braquial (5),
mas também os do antebraço: braquirradial (6), músculos epicondilares (7),
músculos epitrocleares (8).
Em máxima extensão, o bico do olécrano
se engancha por cima da tróclea na fosseta olecraniana, o qual proporciona à articulação úmero-ulnar certa resistência mecânica em sentido
longitudinal.
Contudo, é preciso ressaltar que a articulação côndi10-radial está mal disposta para resistir às forças de tração: a cabeça radial se luxa
para baixo com relação ao ligamento anular: é o
mecanismo desencadeado no caso da "pronação
dolorosa das crianças". O único elemento anatômico que impede o "descenso" do rádio com relação à ulna é a membrana interóssea.
2) Resistência à pressão longitudinal
,
Só a resistência óssea intervém mecanicamente:
-
no rádio: é a cabeça a que transmite as
forças de pressão e a que se fratura
(fig. 2-47);
-
na ulna, é o processo coronóide o que
transmite as pressões, daí vem a denominação processo consolador que o dera Henle. Se fratura por efeito do impacto, permite a luxação posterior da ulna.
Devido a isso, a luxação é irredutível
(fig. 2-48).
Coaptação em flexão (fig. 2-46)
Na posição de ftexão de 90°, a ulna é perfeitamente estável (a) porque a grande cavidade
sigmóide está limitada pelas duas potentes inserções musculares do tríceps (3) e do braquial anterior (5) que mantêm o contato entre as superfícies articulares.
Contudo (b), o rádio tende a se luxar para
cima sob a tração do bíceps (4). Somente o ligamento anular evita esta luxação. Quando o ligamento se rompe, a luxação do rádio para cima e
para a frente acontece com a menor tentativa de
flexão do cotovelo (contração do bíceps).
1. MEMBRO SUPERIOR
a
Fig.2-44
Fig.2-45
Fig.2-46
103
104
FISIOLOGIA
ARTICULAR
DOS MOVIMENTOS DO COTOVELO
A AMPLITUDE
A posição de referência (fig. 2-49) é definida da seguinte maneira: o eixo do antebraço se
localiza no prolongamento
do eixo do braço.
A extensão é o movimento que dirige o
antebraço para trás. A posição de referência
corresponde
à extensão completa (fig. 2-49);
por definição, não existe amplitude no caso da
extensão do cotovelo, menos em alguns sujeitos que possuem uma grande lassidão ligamentar, como as mulheres e as crianças, que podem
alcançar de 5 a 10° de hiperextensão
do cotovelo (fig. 2-50, z).
Contudo, a extensão relativa sempre é viável em qualquer posição de flexão do cotovelo.
Quando a extensão é incompleta se mede
negativamente;
por exemplo, uma extensão de
- 40° corresponde a um déficit de extensão de
40°, estando o cotovelo flexionado em 40° quando tentamos estender o mesmo completamente.
Neste esquema (fig. 2-50), o déficit de extensão é -y, a flexão + x (Df representa então o
déficit de flexão) e a amplitude útil de flexão-extensão é x - y.
A flexão é o movimento que dirige o antebraço para diante, de tal maneira que a superfície anterior do antebraço entra em contato com
a superfície anterior .do braço.
A amplitude
2-51).
dafiexão
ativa é de 145° (fig.
A amplitude da fiexão passiva é de 160° (a
distância entre o coto do ombro e o punho corresponde à medida de lima mão fechada: o punho
não entra em contato com o ombro.
AS REFERÊNCIAS CLÍNICAS DA ARTICULAÇÃO DO COTOVELO
Os três pontos de referência,
páveis, do cotovelo são:
-
visíveis e pal-
o olécrano (2), proeminência
do coto-
velo, na linha média;
-
a epitróclea (1), por dentro;
-
o epicôndilo (3), por fora.
Em posição de extensão (fig. 2-52), estes
três pontos de referência estão alinhados na horizontal. Entre o olécrano (2) e a epitróclea (1)
se localiza o canal epitrócleo-olecraniano,
por
onde passa verticalmente (seta tracejada) o nervo ulnar ou cubital: um impacto violento neste
ponto provoca uma dor de tipo elétrico que se
irradia por toda a zona ulnar (borda interna da
\
mão). No lado externo, por baixo do epicôndilo,
podemos palpar o giro da cabeça radial durante
os movimentos de pronação-supinação.
Em posição de flexão (fig. 2-53), estes três
pontos de referência formam um triângulo eqÜilátero (b), situado no plano vértico-frontal tangente à superfície posterior do braço (a).
Nas luxações de cotovelo estas conexões se
alteram:
-
em extensão, o olécrano ascende por cima da linha epicôndilo-epitroclear
(luxação posterior);
-
em flexão, o olécrano recua para trás do
plano frontal (luxação posterior).
1. MEMBRO SUPERIOR
1
./
Fig.2-51
Fig.2-49
Fig.2-50
3
•
~/
Fig.2-52
Fig.2-53
3
lOS
106 FISIOLOGIA ARTIClJLAR
POSIÇÃO FUNCIONAL E POSIÇÃO DE IMOBILIZAÇÃO
A posição funcional do cotovelo e a sua posição de imobilização
se definem
como segue
-
fiexão de 90°;
-
pronação-supinação
neutra (mão no plano vertical; ver capítulo IlI).
(fig. 2-54):
EFICÁCIA DOS GRUPOS FLEXOR E EXTENSOR
Em conjunto, os flexores são um pouco
mais eficazes que os extensores: em posição de
relaxamento, braço pendente ao longo do corpo,
o cotOl'elo ligeiramente fiexionado, proporcionalmente mais flexionado quanto mais musculoso seja o indivíduo.
A força dos flexores é diferente dependendo da posição de pronação-supinação:
-
a força de flexão em pronação é maior que
-
a força de flexão em supinação.
5
(F em pronação)
3
(F em supinação)
é de:
Por último, a força dos grupos musculares
é diferente, dependendo da posição do ombro:
isto se sintetiza no esquema da figura 2-55:
1) Braço vertical por cima do ombro (O)
-
lU
a força de flexão (seta 2), como quando elevamos um corpo em suspensão, é
de 83 kg.
2) Braço em flexão de 90° (AV):
-
a força de extensão (seta 3), como quando empurramos um objeto pesado para
frente, é de 37 kg;
-
a força de fiexão (seta 4), como quando
remamos, é de 66 kg.
3) Braço vertical ao longo do corpo (B):
De fato, o bíceps está mais alongado e, portanto, é mais eficaz quando o antebraço está em
pronação.
A relação entre ambas as potências
-
a força de extensão (seta 1), como no caso do levantamento de pesos, é de 43 kg;
-
a força de fiexão (seta 5), como para levantar um objeto pesado, é de 52 kg;
-
a força de extensão (seta 6), como a que
realizamos
ao levantarmos
para cima
em barras paralelas, é de 51 kg.
De modo que existem posições preferenciais nas que a eficácia dos grupos é máxima:
-
no caso da extensão, para baixo (seta 6);
-
no caso da fiexão, para cima (seta 2).
Isto significa que a musculatura dos membros superiores está totalmente adaptada para
trepar (fig. 2-56).
1. .MEMBRO SUPERIOR
Fig.2-54
Fig.2-56
107
108 FISIOLOGIA ARTICULAR
SIGNIFICADO
A pronação-supinação é o movimento de
rotaçc7odo antebraço ao redor do seu eixo longitudinal.
Este movimento precisa da intervenção de
DUAS ARTICULAÇÕES MECANICAMENTE UNIDAS (fig. 3-1):
- a articulaçc70 rádio-ulnar superior
(RUS), que pertence anatomicamente à
articulação do cotovelo;
-
a articulaçc70 rádio-ulnar inferior
(RUI) que é diferente anatomicamente
da articulação rádio-carpeana.
Esta rotação longitudinal de antebraço introduz um terceiro grau de liberdade no complexo articular do punho. Deste modo, a mão,
como "extremidade realizadora" do membro superior, pode-se situar em qualquer ângulo para
poder pegar ou segurar um objeto. Se refletimos
corretamente, a presença de uma articulação tipo enartrose com três graus de liberdade no punho, complicaria extraordinariamente os problemas mecânicos: neste caso seria necessário "ins-
talar" na extremidade móvel, o carpo por exemplo, proeminências apofisiárias que pudessem
serÚr como braço de alavanca aos músculos rotadores; além disso, seria mecanicamente impossível que os tendões dos músculos do antebraço "franqueassem" o punho, devido à torção
que realizaria sobre si mesmo durante a rotação
ao redor do seu eixo longitudinal; conseqüentemente a maior parte dos músculos extrínsecos se
encontrariam na mão de tal maneira que a sua
potência diminuiria e a mão seria pesada e volumosa.
Esta rotação longitudinal no antebraço é a
solução lógica e elegante, cuja única conseqüência é complicar um pouco o esqueleto deste segmento, introduzindo um segundo osso, o rádio,
que suporta a mão e a ulna gira ao seu redor, graças às duas articulações rádio-ulnares.
Esta estrutura do segundo segmento do
membro apareceu na filogenia a 400 milhões de
anos atrás, quando alguns peixes abandonaram o
mar e colonizaram a terra se convertendo em anfíbios tetrápodes.
1. MEMBRO SUPERlOR
Fig.3-1
109
110 FISIOLOGIA ARTICULAR
DEFINIÇÃO
Só é possível analisar a pronação-supinação com o cotovelo flexionado a 90° e encostado no corpo. De fato, se o cotovelo está estendido, o antebraço se encontra no prolongamento
do braço e na rotação longitudinal do antebraço
se acrescenta a rotação do braço ao redor do seu
eixo longitudinal, graças aos movimentos de rotação externa e interna do ombro.
Com o cotovelo em flexão de 90°:
-
a posição de supinação (fig. 3-2) se
realiza quando a palma da mão se dirige
para cima com o polegar para fora;
-
a posição de pronação (fig. 3-3) se realiza quando a palma da mão "se orienta"
para baixo e o polegar para dentro;
-
a posição intermédia (fig.3-4) é determinada pela direção do polegar para cima e da palma para dentro, ou seja, nem
pronação, nem supinação. As amplitudes dos movimentos de pronação-supinação se medem a partir desta pósição
intermédia ou posição zero.
De fato, quando observamos o antebraço e
a mão alinhados e de frente, quer dizer, no prolongamento do eixo longitudinal:
-
a mão em posição intermédia (fig. 3-5) se
situa no plano vertical, paralela ao plano
sagital, plano de simetria do corpo;
-
a mão em posição de supinação (fig. 3-6)
se situa no plano horizontal; assim sendo,
a amplitude de mm'imento de supinação
é de 90°.
-
a mão em posição de pronação (fig. 3-7)
só chega até o plano horizontal; a amplitude de pronação é de 85° ( mais adiante poderemos ver por que não chega até
os 90°)
Em resumo, a amplitude total da verdadeira pronação-supinação, isto é, quando unicamente participa a rotação axial do antebraço, é
de aproximadamente 180°.
Quando também participam os movimentos
de rotação do ombro, com o cotovelo em exten-
são total, esta amplitude total alcança:
-
360° quando o membro superior está
vertical ao longo do tronco;
-
360° quando o membro superior está em
abdução de 90°;
- 270° em flexão de 90° e em extensão
de 90°;
-
ultrapassa um pouco os 180° quando o
membro superior está vertical, em posição de máxima abdução. Isto confirma
que o ombro tem uma amplitude de rotação axial quase nula em abdução de
180°.
. 1. MEMBRO SUPERIOR 111
Fig.3-3
Fig.3-2
Fig.3-4
1
Fig.3-6
Fig:--3-5
Fig.3-7
112 FISIOLOGIA
ARTICULAR
UTILIDADE DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO
Dos sete graus de liberdade que comporta a
cadeia articular do membro superior, começando pelo ombro e terminando na mão, a pronação-supinação é um dos mais importantes,
porque é indispensável para o controle da atitude da mão. De fato, este controle permite que a
mão esteja perfeitamente colocada para alcançar
um objeto num setor esférico de espaço centralizado no ombro e levá-Io à boca (função de alimentação). Também permite que a mão chegue
a qualquer ponto do corpo com a finalidade de
proteção ou higiene (função de limpeza). Além
disso, a pronação-supinação desempenha um
papel essencial em todas as ações da mão, principalmente durante o trabalho.
Graças à pronação-supinação, a mão pode
(fig 3-8) segurar uma bandeja ou um objeto, em
supinação, ou comprimir um objeto para baixo e
inclusive se apoiar em pronação.
Também permite que se realize um movimento de rotação nas preensões centradas e rotativas, como no caso em que utilizamos uma
chave de fenda (fig. 3-9) na qual o eixo do utensílio coincide com o eixo de pronação-supinação. Por causa da obliqiiidade da preensão com
r--
toda a palma da mão em contato com o cabo
(fig. 3-10), a pronação-supinação modifica a
orientação da ferramenta através do mecanismo
da rotação cônica: como conseqüência da assimetria da mão, o cabo pode-se situar no espaço
sobre um segmento de cone centralizado pelo
eixo de pronação-supinação, de modo que o
martelo bate no prego sob uma incidência regulável.
Neste caso, podemos comprovar um dos
aspectos do encaixe funcional entre a pronaçãosupinação e a articulação rádio-carpeana, onde
podemos observar outro exemplo na variação da
abdução-adução do punho em função da pronação-supinação: a atitude normal da mão em pronação ou em posição intermédia é o desvio ulnar
que "centraliza" a pinça tridigital sobre o eixo
da pronação-supinação, enquanto na supinação
a mão se coloca mais em desvio radial, favorecendo a preensão de sustentação, como quando
carregamos uma bandeja.
Este encaixe funcional obriga a integração
fisiológica da articulação rádio-ulnar inferior
com a do punho, embora mecanicamente esteja
unida à articulação rádio-ulnar superior.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.3-8
Fig.3-9
Fig. 3-10
113
114 FISIOLOGIA ARTICULAR
DISPOSIÇÃO GERAL
Em posição de supinação (figs. 3-11, 3-12
e 3-13 e diagramas a e b, figo3-17):
A ulna e o rádio estão um ao lado do outro,
a ulna por dentro e o rádio por fora. Os seus eixos longitudinais são paralelos (fig. 3-17, a). Podemos observar:
- no esquema frontal (fig. 3-11), onde vemos:
• a membrana interóssea, com a camada
superior (1) cujas fibras são oblíquas
para baixo e para dentro e sua camada
posterior (2) de obliqüidade inversa,
realiza o principal da ligação mecânica em sentido longitudinal e transversal: impede o deslocamento do rádio
para baixo, porque o deslocamento para cima é bloqueado pelo côndilo umeral, e inclusive após uma secção dos ligamentos das duas articulações rádioulnares, é por si mesma suficiente para
manter os dois ossos em contato. De
modo que é a grande desconhecida do
antebraço;
• a corda de Weitbrecht (3), elemento fibroso;
• o ligamento anterior da articulação rádio-ulnar inferior (4).
Estes três elementos estão em tensão durante a supinação e a limitam;
• o ligamento anular (5), reforçado pelo
• fascículo anterior do ligamento lateral
externo do cotovelo (6) (LLE) e pelo
• fascículo anterior do ligamento lateral
interno do cotovelo (7) (LLI);
• ligamento triangular (8) visto em secção;
-
no esquema dorsal (fig. 3-11):
• a membrana interóssea (1) com suas
duas camadas;
• ligamento posterior da articulação rádio-ulnar posterior (2);
• ligamento anular (3) reforçado pelo fascículo médio do LLE do cotovelo (4);
- em vista externa (fig. 3-13) o rádio oculta em parte a ulna, e podemos comprovar que há uma leve concavidade anterior do rádio, acentuada no desenho e
esquematizada no diagrama b da figura
3-17.
Em posição de pronação (figs. 3-14, 3-15
e 3-16 e diagramas c e d da figo3-17):
A ulna e o rádio não estão paralelos, mas
estão cruzados: isto pode ser apreciado tanto no
esquema frontal (fig. 3-14) quanto no dorsal
(fig. 3-15), e está esquematizado no diagrama
da figura 3-17. Em pronação (fig. 3-17, d) o rádio está:
-
por cima, externo com relação à ulna, e
-
por baixo, interno com relação à ulna.
Em vista de perfil externo (fig. 3-16) podemos observar que o rádio é deslocado pela frente da ulna. A sua concavidade, dirigida para trás,
lhe permite "cavalgar" literalmente sobre a ulna. Ver esquema do diagrama c da figura 3-17.
Assim sendo, podemos entender que a pronação só pode~se aproximar de 90° de amplitude, sem conseguir alcançar esta cifra, graças à
curva do rádio no plano sagital. Também podemos entender que os músculos flexores, que se
localizam pela frente do esqueleto na supinação
(fig. 3-18, a), se interpõem entre o rádio e a ulna (fig. 3-18, b) durante a pronação, para constituir, ao final desta (fig. 3-18, c), um "colchão"
que amortece o contato entre ambos os ossos.
Simultaneamente a membrana interóssea se enrola ao redor da ulna, de modo que, junto com
o "acolchoado" muscular, desloca a ulna por
trás do rádio, produzindo a subluxação posterior da cabeça ulnar no fim da pronação.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.3-15
Fig.3-13
7
4
3
2
Fig.3-12
a
I
b
c
d
Fig.3-17
Fig.3-18
Fig.3-14
Fig.3-16
115
116 FISIOLOGIA ARTICULAR
ANATOMIA FISIOLÓGICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR SUPERIOR
(os números das explicações se correspondem em todas as figuras)
A ,articulação rádio-ulnar superior é uma
TROCOIDE, as suas superfícies são cilíndricas
e possui só um grau de liberdade: rotação ao redor do eixo dos dois cilindros encaixados. Podemos comparar, em mecânica, com um simples
amortecedor ou, melhor ainda, com um verdadeiro rolamento de bolas (fig. 3-20).
Portanto, está constituída por duas superfícies cilíndricas:
-
a cabeça radial (fig. 3-21) com o seu
contorno cilíndrico (1) preenchido de
cartilagem, mais ampla pela frente e por
dentro e que se corresponde com o anel
central (1) do amortecedor ou rolamento de bolas. Outras particularidades:
• a abóbada (2), côncava, que se articula
(fig. 3-25, secção sagital) com o côndilo
umeral (9). Dado que o côndilo não se
expande para trás, a abóbada entra em
contato com ele durante a extensão só
pela metade anterior da sua superfície;
* um meio de união: rodeia a cabeça radial e a encaixa contra a pequena cavidade sigmóide;
* uma superfície articular: se articula
com o contorno da cabeça radial e ao
revés da pequena cavidade sigmóide,
se deforma.
um anel osteofibroso, claramente visível na figura 3-19 (segundo Testut), no
qual a cabeça radial está removida. Se
corresponde com o anel periférico (5 e
6) do rolamento de bolas (fig. 3-20) e está constituído por:
O ligamento quadrado de Dénucé (4),
segundo meio de união, está seccionado na figura 3-21, intato na figura 3-22 (ligamento
anular seccionado e rádio deslocado, segundo
Testut) e na figura 3-23 (vista superior, olécrano e ligamento anular seccionados, segundo
Testut). É uma faixa fibrosa que se insere na
margem inferior da pequena cavidade sigmóide
da ulna e na base do contorno interno da cabeça radial (fig. 3-24, secção central). Estas duas
margens estão reforçadas (figs. 3-21 e 3-22)
por fibras originadas da margem superior do ligamento anular.
• pequena cavidade sigmóide da ulna
(6) preenchida de cartilagem, côncava
de diante para trás, separada da grande
cavidade (8) por uma crista romba (7):
O ligamento quadrado representa um reforço da parte inferior da cápsula; o resto desta (10)
une as articulações do cotovelo em um conjunto
anatômico.
• o biseI (3) do contorno (ver figo3-21).
-
• ligamento anular (5), intato na figura
3-19 e seccionado na figura 3-21. Faixa fibrosa inserida nas margens anterior e posterior da pequena cavidade
sigmóide, a sua superfície interna está
preenchida por uma cartilagem, prolongamento da pequena cavidade que
ao mesmo tempo é:
1. MEMBRO SUPERIOR
117
5-6
6
Fig.3-19
Fig.3-20
Fig.3-21
2
1
5
Fig.3-22
2
1
5
Fig.3-25
Fig.3-23
118 FISIOLOGIA ARTICULAR
ANATOMIA FISIOLÓGICA DA ARTICULAÇÃO
RÁDIO-ULNAR INFERIOR
(estrutura e constituição mecânica da porção inferior da ulna)
Como a articulação rádio-ulnar superior, a
articulação rádio-ulnar inferior também é uma
trocóide: as suas superfícies são cilíndricas e somente possui um grau de liberdade, ou seja, a
rotação em tomo ao eixo dos dois cilindros encaixados.
A primeira destas superfícies cilíndricas
(tig.3-26) está presa pela cabeça da ulna. Podemos considerar que a porção inferior da ulna está formada (a) pela penetração de um cilindro
diatisário (1) num cone epitisário (2). Mas, é necessário ressaltar que o eixo do cone está deslocado para fora com relação ao do cone do cilindro. Por cima desta sólida composição (b), o
plano horizontal (3) desprende um tronco de cone (c) e forma a superfície inferior (4) da cabeça da ulna. A seguir (d), um segundo cilindro secante (5) desprende uma meia-lua sólida (6) e
determina (e) a formação da superfície cilíndrica (7) da cabeça da ulna. É necessário destacar
que o cilindro secante (5) não é concêntrico ao
cilindro diatisário (1), nem ao cone epitisário
(2), estando deslocado para fora. Isto explica a
forma da superfície articular: uma meia-lua "en-
rolada" num cilindro, com uma haste pela frente e outra por trás, que "limitam" o processo estilóide da ulna (8), deslocado-a em direção póstero-interna da epítise. Na verdade, esta superfície não é totalmente cilíndrica (tig. 3-27) já que
o seu gerador está levemente convexo para fora,
o que lhe dá uma forma de barrilÚnho inclinado
para baixo e para dentro, embora esteja inscrita
num cone de vértice inferior cujo eixo é paralelo ao eixo diatisário da ulna d. A superfície periférica da cabeça da ulna (A, vista de perfil, B,
vista anterior) apresenta uma altura máxima (h)
para frente e levemente para fora.
A superfície inferior da cabeça da ulna (D)
apresenta uma superfície semilunar cuja largura máxima corresponde com o ponto de máxima altura (h) da superfície periférica. Desta
maneira, sobre o plano de simetria (seta) estão
alinhados: a inserção do LU da rádio-ulnar
(quadrado) sobre o processo estilóide, a inserção principal do vértice do ligamento triangular (estrela), o centro da curva da superfície periférica (cruz) e o ponto de máxima altura do
contorno.
1. MEMBRO SUPERIOR
\
8~
c
Fig.3-26
B
A
Fig.3-27
119
120 FISIOLOGIA ARTICULAR
ANATOMIA FISIOLÓGICA
DA ARTICULAÇÃO
RÁDIO-ULNAR INFERIOR
(continuação)
(as explicações são as mesmas para todas as figuras)
A segunda superfície, a cavidade sigmóide
do rádio (3), está presa pela epífise do rádio
(figs. 3-28 e 3-29), onde está incluída nos ramos
de desdobramento da margem interna (2). Esta
superfície (3) está "orientada" para dentro (fig.
3-29), é côncava de diante para trás, plana ou levemente côncava de cima para baixo, está inscrita na superfície de um cone de vértice inferior
(fig. 3-27, c). A sua máxima altura se localiza na
parte média e se articula com a superfície cilíndrica (4) da cabeça radial.
Na sua margem inferior se insere o ligamento triangular (5) situado no plano horizontal (fig. 5-30, secção frontal). O seu vértice se insere por dentro, em três níveis:
-
a fossa localizada entre o processo estilóide e a superfície inferior da cabeça
da ulna;
-
a superfície externa do processo estilóide da ulna;
-
a superfície profunda do LU da articulação rádio-carpeana.
Assim sendo, o ligamento triangular ocupa
o espaço entre a cabeça da ulna e o piramidal,
constituindo uma "almofada elástica" que se
comprime no curso da adução do punho. As suas
margens anterior e posterior são mais espessas,
apesar de a secção ser bicôncava (fig. 3-29, vista ântero-superior interna). A sua superfície superior, preenchida de cartilagem, prolonga a cavidade glenóide do rádio (8) para dentro, limitada por fora pelo processo estilóide radial (1), e
se articula com o côndilo carpeano (13).
Desta forma, o ligamento triangular ao
mesmo tempo é:
- um meio de união da articulação rádioulnar inferior;
- uma supeifície articular; acima se articula com a cabeça ulnar e abaixo com o
côndilo carpeano. Devemos ressaltar
que a cabeça ulnar não se articula com
o côndilo carpeano;
-
um septo entre a articulação rádio-ulnar
inferior (acima) e a articulação rádiocarpeana (abaixo) (fig. 3-30), que são
anatomicamente diferentes, menos nos
casos em que:
• o ligamento triangular, muito bicôncavo, esteja perfurado no seu centro;
• a inserção da sua base esteja incompleta (figs. 3-28 e 3-29) e .deixe uma pequena fenda (6), mais freqüente com a
idade, o que, para alguns autores, seria
a prova de sua origem atrófica.
Forma uma cavidade receptora (fig. 3-29)
para a cabeça radial junto com a cavidade sigmóide do rádio. Parte desta cavidade receptora
tem a propriedade de se deformar.
Funcionando como um autêntico "menisco
suspenso" entre a articulação rádio-cubital inferior e a rádio-carpeana, o ligamento triangular
está submetido a importantes forças (fig. 3-31):
tração (seta horizontal), compressão (setas verticais), movimento de ziguezague (setas horizontais) Freqüentemente, estas forças se combinam.
1. MEMBRO Sl.JPERIOR
5
Fig.3-29
Fig.3-28
Fig.3-31
Fig.3-30
121
122 FISIOLOGIA
ARTICULAR
DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR SUPERIOR
(nas figuras 3-32, 3-33, 3-34 e 3-35, a fileira superior (a) corresponde à supinação,
os números das explicações são os mesmos)
o
movimento principal (fig. 3-32) é um
movimento de rotação da cabeça radial (1), ao
redor do seu eixo xx', no interior de um anel (2)
osteofibroso, ligamento anular-pequena cavidade sigmóide.
Este movimento
está limitado
(fig.
3-33) pela tensão do ligamento quadrado de Dénucé (3) que, desta forma, atua como freio.
Por outro lado, não é cilíndrica, mas levemente ovalada: o seu eixo maior (fig. 3-34, a),
oblíquo de diante para trás, mede 28 mm, em
comparação com os 24 mm do eixo menor. Isto
explica que o anel que aperta a cabeça radial não
pode ser ósseo, rígido. Está constituído, nas
suas três partes, pelo ligamento anular, flexível,
o que permite que se deforme, ao mesmo tempo
que proporciona à cabeça radial uma fixação
permanente.
Os movimentos secundários são quatro:
1) abóbada radial (1) gira ao contato do
côndilo umeral (fig. 3-36);
2) o bisel radial (2) (ver pág. 92) se desliza
por baixo da cabeça conóide (fig. 3-36);
3) o eixo da cabeça radial se desloca para
fora durante a pronação (fig. 3-35). Este
fato se deve à forma "ovalada" da cabeça radial: na pronação (b) o eixo maior
da abóbada está transversal, deslocando
o eixo xx' para fora, a uma distância (e)
igual à metade da diferença entre os dois
eixos da abóbada e equivalente a 2 mm.
A importância deste deslocamento mecânico é primordial: permite que o rádio
a inferior (b) à pronação;
se afaste da ulna no momento ideal para
que a tuberosidade bicipital possa passar pela fossa supinadora (nela se insere o músculo supinador). A seta branca
da figura 3-32, b, indica esta insinuação
da tuberosidade bicipital "entre" o rádio
e a ulna.
4) o plano da superfície da cabeça radial
se inclina para baixo e para fora, durante a pronação (fig. 3-37). Isto se deve ao
movimento de rotação do rádio ao redor
da ulna durante a pronação:
-
no início do movimento, em supinação (a), o eixo diafisário do rádio é
vertical e paralelo ao da ulna;
-
no fim do movimento, em pronação
(b), o eixo do rádio é oblíquo para
baixo e para dentro: o plano da abóbada radial, que é perpendicular a este eixo, se inclina para baixo e para
fora e forma um ângulo (y) com o
plano horizontal.
Neste movimento, o eixo diafisário do rádio "varre" uma porção da superfície cônica cujo eixo (pontilhado fino) é o eixo comum para as
duas articulações rádio-ulnares.
Observamos também que a ulna valga (ver
também figo 3-26, pág. 95) que, em supinação
aparece claramente (c), pode desaparecer em
pronação (d) devido à mudança de obliqüidade
do eixo diafisário do rádio: em pronação, o eixo
global do antebraço se localiza no prolongamento do eixo do braço.
1. MEMBRO SUPERIOR
2
2
a
a
~
b
Fig.3-33
Fig.3-34
X'
Fig.3-32
b
Fig.3-37
b
Fig.3-35
123
124 FISIOLOGIA ARTICULAR
DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR
Podemos começar pensando que a nIna
permanece fixa e que só o rádio é móvel. Neste caso (fig. 3-38), o eixo de pronação-supinação na mão se localiza no nível do lado ulnar e
do quinto dedo (o eixo está indicado por uma
cruz preta). Isto acontece quando o antebraço,
apoiado sobre uma mesa, realiza movimentos de
pronação-supinação sem perder o contato com a
mesa.
O principal movimento (fig. 3-39) é uma
translação circunferencial da porção inferior do
rádio ao redor da ulna.
-
-
supinação: rádio e ulna vistos de baixo
após ablação do carpo e do ligamento
triangular. Amplitude de 90°.
-
o deslocamento circular (seta tracejada,
figo 3-40, manivela em supinação) em
torno de um cilindro, que corresponde à
cabeça ulnar;
-
rotação sobre si mesma, manifestada pela mudança de direção da seta branca
(fig. 3-41): o processo estilóide radial
"se orienta" para fora durante a supinação e para dentro durante a pronação.
Quando o rádio gira ao redor da ulna, passando da supinação à pronação, a congruência
articular (concordância geométrica das superfícies) varia.
Isto é devido a:
-
por um lado, as superfícies articulares
não são superfícies de revolução; o seu
raio de curva varia: é mais curto no centro que nas extremidades;
-
por outro lado, o raio de curva da cavidade sigmóide é levemente maior que o
da cabeça ulnar.
pronação: amplitude de 85°.
Este movimento de translação circunferencial fica explícito quando o rádio é comparado a
uma manivela (figs. 3-40 e 3-41): a trajetória de
um ramo (o outro permanece fixo) é uma translação circunferencial:
1. 1-lEMBRO SUPERIOR
SUPINAÇÃO
PRONAÇÃO
Fig.3-39
Fig.3-38
I -I
Fig.3-40
Fig.3-41
125
126 FISIOLOGIA ARTICULAR
DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR
(continuação)
Portanto, existem posições incongruentes (fig. 3-42), em supinação (B), a cabeça ulnar
só entra em contato com a cavidade sigmóide
através de uma pequena parte da sua superfície
e os raios de curva são pouco concordantes, daí
vem esta escassa congmência; e em máxima
pronação (C), está agravada por uma verdadeira
subluxação posterior da cabeça ulnar, e uma posição de máxima congruência que, em geral se
corresponde com a posição intermédia ou posição zero (nula): a máxima altura da superfície
periférica coincide com a altura máxima da cavidade sigmóide de maneira que, simultaneamente, o contato entre as superfícies é máximo
enquanto coincidam os raios da curva.
Durante os movimentos de pronação-supinação, o ligamento triangular "varre" literalmente a superfície inferior da cabeça ulnar (fig.
3-43) como se fosse um limpador de pára-brisas,
mas o que provoca a descentralização do seu
ponto de inserção ulnar é o que proporciona a
notável variação do seu estado de tensão:
-
a tensão é mínima em máximas supinação e pronação (B e C);
-
pelo contrário, a tensão é máxima na
posição de máxima congruência, que se
corresponde com a maior altura da superfície periférica da cabeça ulnar,
porque o ligamento "percorre" o caminho mais longo entre a sua inserção e o
contorno da cabeça (D).
De maneira que podemos nos referir a uma
posição de estabilidade máxima da articulação
rádio-ulnar inferior, que se corresponde, em geral, co~ a posição intermédia de pronação-supinação. E o que denominamos "c1ose-packed position" de Mac Conai11: congmência máxima
das superfícies associada com tensão ligamentar
máxima. Neste caso não é uma posição de bloqueio intermédio, embora possamos observar a
distribuição de funções entre o ligamento triangular e a membrana interóssea:
-
em máximas pronação e supinação, o ligamento triangular está estendido, porém a membrana interóssea está tensa.
Observamos que os ligamentos anterior
e posterior da articulação rádio-ulnar inferior, pequenos espessamentos capsulares, não desempenham nenhuma função nem na coaptação, nem na limitação
dos movimentos;
-
em posição de estabilidade máxima,
perto da posição intermédia, o ligamento triangular está tenso e a membrana
interóssea está distendida, a menos que
os músculos que se inserem nela provoquem a sua tensão novamente.
Em resumo, podemos afirmar que a coaptação da articulação rádio-ulnar inferior está fixa
por duas formações anatômicas desconhecidas
freqüentemente no tratamento das lesões traumáticas desta zona: a membrana interóssea, cuja função é primordial, e o ligamento triangular.
A pronação está limitada pelo impacto de
rádio contra a ulna, daí vem a importância da leve concavidade da diáfise radial para frente, de
maneira que atrasa o contato.
A supinação está limitada pelo impacto do
extremo posterior da cavidade sigmóide contra o
processo estilóide ulnar através do tendão do extensor ulnar do carpo. Nenhum ligamento pode
deter este movimento que, apesar disso, consegue
amortecer o tônus dos músculos pronadores.
1. MEMBRO SUPERIOR 127
A
c
B
Fig.3-42
B
D
A
Fig.3-43
128 FISIOLOGIA
ARTICULAR
o EIXO
DE PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO
Até agora tratamos a fisiologia da articulação rádio-ulnar inferior (RUI) isoladamente,
mas é fácil compreender que existe um par funcional entre a articulação rádio-ulnar inferior e a
superior, porque estas duas articulações estão
mecanicamente unidas de maneira que uma não
pode funcionar sem a outra.
Este par funcional se encontra em dois níveis: o dos eixos e o da congruência.
As duas articulações rádio-ulnares são coaxiais: o seu funcionamento normal necessita de
que o eixo de uma seja o prolongamento do eixo
da outra (fig. 3-44) sobre uma mesma reta XX'
que constitui a charneira de pronação-supinação
e passa pelo centro das cabeças ulnar e radial.
Durante o seu movimento com relação à ulna, ao redor deste eixo, o rádio se desloca sobre
um segmento de superfície cônica, aberto por
trás, de base inferior e cujo vértice se situa no nível da articulação côndilo-radial.
Estando a cabeça ulnar fixa, a pronação-supinação se realiza por rotação da epífise radial
inferior ao redor do eixo da articulação rádio-ulnar inferior que também é o da rádio-ulnar superior. Esta situação é a única em que o eixo de
pronação-supinação se confunde com a cherneira de pronação-supinação.
As duas articulações rádio-ulnares são coaxiais igual às duas dobradiças de uma porta
(fig. 3-45): os seus eixos estão sobre uma mesma reta. Neste caso a porta pode-se abrir sem dificuldade (a).
Quando estas duas articulações deixam de
ser co-axiais, devido a uma fratura mal reduzida de um ou de ambos os ossos, a pronação-supinação se encontra comprometida dado que
não existem duas charneiras para o mesmo
segmento móvel: é o caso de uma porta cujas
dobradiças deixam de estar alinhadas e que necessitaria se partir em duas para poder abrir totalmente.
Se a pronação-supinação se realiza ao redor de um eixo que passa pela coluna do polegar, o rádio gira ao redor do processo estilóide
radial (fig. 3-46), ao redor de um eixo que não
é a charneira da pronação-supinação, e a extremidade inferior da ulna sofre urna translação
seguindo um semicírculo que a desloca para
baixo e para fora, sem deixar de permanecer
paralela a si mesma. O componente vertical
deste movimento pode-se explicar por um movimento de extensão seguido por um movimento de flexão na articulação úmero-ulnar.
Com relação ao deslocamento para fora, parece difícil, em vista da sua amplitude (quase
duas vezes a amplitude do punho) explicar, como fazemos até agora, por um movimento de
lateralidade numa articulação troclear tão fechada quanto a da úmero-ulnar. M.C. Dbjay
propôs recentemente uma explicação mais mecânica e satisfatória: a rotação externa associada com o úmero sobre o seu eixo longitudinal (fig. 3-47) que provoca o deslocamento externo da cabeça ulnar (A) enquanto o rádio gira sobre si mesmo (B).
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.3-46
A
Fig.3-44
Fig.3-45
B
129
130 FISIOLOGIA ARTICULAR
o EIXO
DE PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO
(continuação)
Para confirmar esta hipótese seriam necessárias radiografias precisas ou registros eletromiográficos dos rotadores, para ser objetivos,
demonstrando que a sua amplitude é de 5° a 20°.
Se a experiência a confirmasse, esta hipótese somente seria válida no caso da pronação-supinação com o cotovelo flexionado em um ângulo
reto, quando alcança a sua amplitude máxima
(supinação de 90° e pronação de 80-85°). Com o
cotovelo em extensão total, a ulna está imobilizada devido ao encaixe do olécrano na sua fossa
e se o cotovelo for imobilizado com firmeza podemos comprovar que a pronação é quase nula,
enquanto a supinação se mantém intata em toda
a sua amplitude. A pronação perdida é compensada por uma rotação interna do úmero. No curso da extensão do cotovelo existiria um "ponto
de transição" no qual a rotação associada com o
úmero seria nula.
Que podemos dizer sobre a limitação da
pronação em 45° com o cotovelo completamente tlexionado? Parece que o úmero não pode girar sobre o seu eixo longitudinal, de maneira que
é necessário um deslocamento para fora da cabeça ulnar mediante um movimento de lateralidade externa na tróc1ea do cotovelo.
Entre os dois casos extremos, em que o eixo de pronação-supinação passa pelo lado ulnar
ou pelo lado radial do punho, a pronação-supinação normal baseada na preensão tridigital
(fig. 3-48) se realiza ao redor de um eixo intermediário que passa pela epífise inferior do rádio,
perto da cavidade sigmóide (fig. 3-49): o rádio
gira sobre si mesmo aproximadamente 180° e a
ulna desloca, sem nenhuma rotação, por uma
trajetória em arco de círculo de igual centro, integrando um componente de extensão E e um
componente de lateralidade externa L.
O eixo de pronação-supinação ZZ', sem
materializar, é na verdade totalmente diferente
da charneira de pronação-supinação (fig. 3-50)
que, deslocado de XX' para YY' pela cabeça ulnar descreve um segmento de superfície cônica
cuja cavidade está "orientada" para frente.
Definitivamente, não existe uma pronaçãosupinação, mas várias pronações-supinações,
das quais a mais comum se realiza sobre um eixo que passa pelo rádio e ao redor do qual "giram" os dois ossos. O eixo de pronação-supinação, geralmente diferente da charneira de pronação-supinação, é um eixo sem materializar,
variável e evolutivo.
O fato de que este eixo de pronação-supinação esteja sem materializar e não esteja fixo não
significa de jeito nenhum que não exista; neste
caso também não existiria o eixo de rotação da
Terra. O fato de que a pronação-supinação seja
uma rotação permite deduzir exatamente que o
eixo de pronação-supinação existe, real embora
imaterial, e que se confunde com a chameira de
pronação-supinação excepcionalmente, mas a
sua posição com relação ao esqueleto depende
tanto do tipo de pronação~supinação quanto do
seu estado em cada instante.
1. MEMBRO
SUPERIOR
Fig.3-48
L
iI
~111111111111111111111111111111l~
I
I
I
I
I
1
I
,
I
s
Fig.3-49
Y'
Z''f
p
Fig.3-50
131
132
FISIOLOGIA
ARTICULAR
AS DUAS ARTICULAÇÕES RÁDIO-ULNAR SÃO CO-CONGRUENTES
o par
funcional das articulações rádio-ulnar se destaca pela sua congruência simultânea:
a posição de estabilidade máxima da articulação
rádio-ulnar inferior (RUI) e a da articulação rádio-ulnar superior (RUS) se consegue com o
mesmo grau de pronação-supinação (fig. 3-51).
Ou seja, quando a cabeça da ulna se situa na sua
altura máxima (h) na éavidade sigmóide do rádio, o contorno da cabeça radial também alcança a sua altura máxima (y) na pequena cavidade
sigmóide da ulna. O plano de simetria da cavidade sigmóide do rádio (s) e o da cabeça radial
(T), que passam pelo ponto de maior altura do
contorno, formam um ângulo diedro para dentro
e para frente ou um ângulo de torção do rádio
igual ao ângulo de torção da ulna determinado
da mesma maneira pelo plano de simetria da cabeça ulnar (passando pelo ponto de maior altura
do contorno) e pelo da pequena cavidade sigmóide da ulna.
Porém, este ângulo varia dependendo de
cada pessoa (fig. 3-52). Para se convencer é suficiente observar uma ulna "em escapada" pela
sua extremidade inferior.
Dependendo da posição do estilóide ulnar e
do ponto de máxima altura no contorno da cabeça, podem aparecer três casos:
a) o processo estilóide está situado exatamente por trás: o plano de simetria (S)
da cabeça ulnar coincide com o plano sagital (F), que contém a crista romba da
grande cavidade sigmóide. Não existe
nem "avanço" nem "atraso" para a pro-
nação e a posição de estabilidade máxima coincide com a posição intermédia
de pronação-supinação;
b) o processo estilóide está situado por trás
e levemente para dentro: o plano de simetria da cabeça ulnar (S) forma um ângulo aberto para frente e para fora de 20°
com o plano sagital (F). Se avalia em
-20° e se diz que existe um "atraso de
20° da pronação". A posição de estabilidade máxima não coincide com a posição intermédia. Está em supinação de
20° de maneira que a pronação completa
é menos ampla que no caso anterior;
c) o processo estilóide está situado por trás
e levemente para fora: desta vez existe
um ângulo de "avanço da pronação",
por exemplo de 15°, avaliado + 15°, e a
posição de estabilidade máxima é a de
15° de pronação, e a amplitude da pronação máxima é maior que nos dois casos anteriores.
Para cada um dos três casos existe um ângulo diferente de torção da ulna, sendo mais
agudo quanto mais acentuado seja o "avanço da
pronação". Embora em todos os casos o ângulo
de torção da ulna (u) seja igual ao ângulo de torção do rádio (r), o que determina a congruência
simultânea das duas articulações rádio-ulnares.
Um estudo estatístico sobre numerosos casos permitiria, sem dúvida, conhecer as variações e as distribuições dos ângulos.
1. MEMBRO SUPERIOR
t)
B
A
Fig.3-51
SnF
B
A
Fig.3-52
Fn +150
c
133
134 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS MOTORES DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO:
Para poder compreender a forma de atuar
dos músculos rotadores devemos analisar, desde
um ponto de vista mecânico, a forma do rádio
(fig. 3-53).
Este osso está constituído por três segmentos cuja união representa, de maneira aproximada, uma manivela.
-
-
o colo (segmento superior, oblíquo para
baixo e para dentro) forma com o segmento médio (porção média da diáfise,
oblíqua para baixo e para fora) um ângulo obtuso aberto para fora, cujo vértice
(seta 1) está ocupado pela tuberosidade
bicipital, inserção do bíceps. Estes dois
segmentos descrevem, em conjunto, a
"curva supinadora" do rádio;
o segmento médio constitui, com o segmento inferior (oblíquo para baixo e para dentro), um ângulo obtuso aberto para dentro, cujo vértice (seta 2) é o ponto
de inserção do pronador redondo. Ambos os segmentos descrevem, em conjunto, a "curva pronadora" do rádio.
É preciso ressaltar que a "manivela radial"
é oblíqua com respeito ao seu eixo (esquema pequeno): de fato, este eixo xx', que é o eixo de
pronação-supinação,
passa pelos extremos dos
ramos e não pelos próprios ramos. De maneira
que os vértices das duas curvas se localizam a
um lado e a outro do eixo.
O eixo xx' é comum para as duas articulações rádio-ulnares; esta coincidência dos dois eixos é indispensável para poder realizar a pronação-supinação. Isto requer que os dois ossos estejam íntegros, sem fraturas, seja em conjunto ou
em separado.
Existem duas formas de mover essa manivela (fig. 3-54):
- "desenrolar" um tracionador enrolado em
um dos ramos (seta 1);
~ puxar do vértice de uma das curvas (seta
2).
Esta é a forma de atuar dos músculos pronadores-supinadores.
OS MÚSCULOS
Os músculos pronadores-supinadores
são
quatro, associados de dois em dois. Para cada um
dos movimentos existem:
,-
um músculo curto e plano, cuja ação é a
de "desenrolar" (ver seta 1);
-
um músculo longo que se insere no vértice de uma curva (ver seta 2).
Músculos motores da supinação (figs.
3-55 e 3-56; secções, lado direito, vista do fragmento inferior). São os seguintes:
1) o supinador (1), enrolado em tomo do colo do rádio (fig. 3-56, a): atua ao "desenrolar-se";
2) o bíceps (2), que se insere no vértice da
curva supinadora no nível da tuberosidade
bicipital (fig. 3-56, b): atua por tração e
mostra a sua máxima eficácia quando o cotovelo está em ftexão de 900• E o músculo
mais potente de todos os que intervêm na
pronação-supinação,
o que explica que se
enrole como um parafuso "supinando",
com o cotovelo ftexionado.
Músculos motores da pronação (figs.
3-57 e 3-58). São os seguintes:
1) o pronador quadrado (1), enrolado ao redor da extremidade inferior da ulna: atua
"desenrolando" a ulna com relação ao rádio (fig. 3-58, vista inferior, lado direito);
2) o pronador redondo (2), que se insere no
vértice da curva pronadora, atua por tração, mas o seu momento de ação é fraco,
especialmente com o cotovelo em extensão.
Os músculos pronadores são menos potentes
que os supinadores: na tentativa de desaparafusar
um parafuso bloqueado, é necessária a ajuda da
pronação obtida mediante a abdução do ombro.
Apesar do seu nome, o braquiorradial não é
supinador, mas ftexor do cotovelo. Não é supinador inclusive na posição zero, a não ser a partir da
pronação completa. Paradoxalmente, a partir da
supinação completa, é pronador até a posição zero.
Existe somente um nervo para a pronação: o
mediano. Dois nervos para a supinação: o radial é
o músculo-cutâneo (no caso do bíceps).
1. tvfEMBRO SUPERIOR
Fig.3-57
Fig.3-58
Fig.3-54
Fig.3-56
135
136 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS ALTERAÇÕES MECÂNICAS DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO
Fraturas dos dois ossos do antebraço (figs.
3-59 e 3-60, segundo Merle D'Aubigne).
O deslocamento dos fragmentos é diferente
dependendo da localização das linhas de fratura;
está condicionado pelas ações musculares.
1) se a linha de fratura radial se localiza
no terço superior (fig. 3-59), separa
fragmentos sobre os que atuam músculos com a mesma função: supinadores no
fragmento superior, pronadores no fragmento inferior. Neste caso, o deslocamento (rotação dos fragmentos um com
relação ao outro) será máximo: o fragmento superior estará em pronação máxima e o inferior em supinação máxima;
2) se a linha de fratura radial se localiza na
porção média (fig. 3-60), o deslocamento
será normal. De fato:
-
a pronação do fragmento inferior é
realizada exclusivamente pelo pronador quadrado;
- a supinação do fragmento superior é
moderada pelo pronador redondo.
O deslocamento fica reduzido pela metade.
A redução deve corrigir o desvio angular e
também restabelecer as curvas de ambos os ossos,
principalmente do rádio:
- curva no plano sagital, de concavidade
anterior. Se desaparece ou fica invertida, a
pronação é menos ampla;
~ curvas no plano frontal, na prática a CUIva pronadora, sem a qual a pronação fica limitada pela ineficácia do pronador
redondo.
Luxações das articulações rádio-ulnares
1) luxação da articulação rádio-ulnar inferior
Pode ocorrer de forma isolada ou associada com uma fratura da diáfise radial. O
seu tratamento é complicado e pode provocar a ressecção da cabeça ulnar (operação de Darrach) ou a sua reposição.
Somente podemos repor e fixar com parafuso se provocamos uma pseudo-artrose
intencionada por ressecção segmentária
da ulna, pela parte de cima (fig. 3-61)
(operação de M. Kapandji e Sauvé);
2) luxação da cabeça radial
Associa-se com freqüência (fig. 3-62) a
uma fratura por impacto direto (seta branca) da ulna (fratura de Monteggia). A luxação da cabeça radial para cima (seta
preta) se produz quando o bíceps se contrai (seta tracejada): para realizar a oponência desta ação luxante do bíceps, é necessário reconstruir cirurgicamente um ligamento anular.
Fraturas da porção inferior do rádio
Durante as fraturas da porção inferior do rádio (fig. 3-63), a basculação externa da epífise radial (A) provoca uma incongruência da articulação rádio-ulnar inferior e uma tensão exagerada
do ligamento triangular. Se não reduzimos o deslocamento com precisão e se a consolidação se
realiza com um calo vicioso, a pronação-supinação pode estar gravemente alterada.
Quando o traumatismo é suficientemente intenso para arrancar o ligamento triangular, fato
que observamos em radiografias, o resultado é o
mesmo.
Em alguns casos (B), o ligamento triangular
arranca a sua inserção interna, isto é, a estilóide radial (fratura de Gerard-Marchant). Isto provoca
duas conseqüências:
- uma luxação da articulação rádio-ulnar
inferior com diástase, limitada unicamente pela membrana interóssea;
- uma entorse grave do ligamento lateral
interno da articulação rádio-carpeana.
A basculação posterior das fraturas da porção
inferior do rádio (fig. 3-64) também prejudica a
pronação-supinação:
a) em estado normal os eixos das superfícies
radial e ulnar se confundem;
b) quando o fragmento epifisário inferior do
rádio realiza a basculação para trás, o eixo
da superfície radial forma com o da superfície ulnar um ângulo aberto para baixo e
para trás: a congruência das superfícies articulares desaparece.
s
.•..••..•
"1
I
,
III
f
II
I
I
p
Fig.3-59
Fig.3-61
Fig.3-63
Fig.3-62
138 FISIOLOGIA ARTICULAR
COMPENSAÇÕES
E POSIÇÃO FUNCIONAL
"A supinação se realiza com o antebraço" (fig. 3-65)
De fato, como a posição normal do membro
superior é ao longo do corpo com o cotovelo flexionado, não existe outra possibilidade de realizar a supinação se não for nas articulações rádioulnares exclusivamente: verdadeira supinação.
. É o movimento que se realiza quando abrimos uma fechadura com chave.
O fato de que o ombro não intervém na supinação explica a dificuldade para compensar a paralisia da supinação. Contudo, isto se atenua porque
a paralisia completa da supinação é rara, porque o
bíceps possui uma inervação diferente (nervo músculo-cutâneo) da do supinador (nervo radial).
"A pronação
(fig. 3-66)
se realiza com o ombro"
Porém, no caso da pronação, a ação dos
músculos pronadores puros pode-se ampliar
com relativa facilidade ou pode-se compensar
com uma abdução do ombro. É O movimento
realizado para virar o conteúdo de uma panela.
Posição funcional
Esta posição se situa entre:
-
a posição intermédia (fig. 3-67) utilizada,
por exemplo, para segurar um martelo;
-
e a posição de semi-pronação (figs. 3-68
e 3-69): segurar uma colher ou escrever.
A posição funcional corresponde a um estado de equilíbrio natural entre os grupos
musculares antagonistas e, portanto, com o mínimo gasto muscular possível.
O movimento de pronação-supinação é imprescindível para levar os alimentos à boca. De
fato, quando pegamos um alimento de um plano
horizontal (uma mesa ou o chão), a mão realiza a
sua aproximação em pronação, para pegar o objeto por cima e o cotovelo se estende. Para levar
o alimento até a boca é necessário flexionar o cotovelo ao mesmo tempo que se apresenta o alimento realizando um movimento de supinaçâo.
É necessário fazer duas advertências:
-
a supinação "poupa" a flexão do cotovelo: se fosse necessário levar o
mesmo objeto até a boca mantendo
uma atitude de pronação, para realizar
este gesto precisamos de uma maior
flexão do cotovelo;
-
o bíceps é o músculo que melhor se
adapta a este movimento "alimentar", já que é flexor do cotovelo e supinador.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.3-66
Fig.3-67
Fig.3-68
~.
Fig.3-69
139
140 FISIOLOGIA ARTICULAR
SIGNIFICADO
o punho, articulação distal do membro superior, permite que a mão - segmento realizador - se coloque numa posição ótima para a
preensão.
De fato, o complexo articular do punho
possui dois graus de liberdade. Com a pronação-supinação, rotação do antebraço sobre o seu
eixo longitudinal, a mão pode-se orientar em
qualquer ângulo para pegar ou segurar um objeto.
O complexo articular do punho compreende duas articulações:
- a rádio-carpeana, que articula a glenóide
antebraquial com o côndilo carpeano;
- a médio-carpeana, que articula entre elas
as duas fileiras dos ossos do carpo.
1. MEMBRO SUPERIOR 141
142 FISIOLOGIA
ARTICULAR
DEFINIÇÃO DOS MOVIMENTOS DO PUNHO
Os movimentos do punho (fig. 4-1) se realizam em torno de dois eixos, com a mão em posição anatômica, isto é, em máxima supinação:
-.- um eixo AA', transversal, que pertence
ao plano frontal (tracejado vertical). Este eixo condiciona os movimentos de
ftexão-extensão que se realizam no plano sagital (tracejado horizontal):
• flexão (seta 1): a superfície anterior ou
palmar da mão se aproxima da superfície anterior do antebraço;
• extensão (seta 2): a superfície posterior ou dorsal da mão se aproxima da
superfície posterior do antebraço. É
preferível não utilizar os termos ftexão dorsal e, com maior motivo, ftexão palmar, por tratar-se de uma tautologia.
-
um eixo BB', ântero-posterior que pertence ao plano sagital (tracejado horizontal). Este eixo condiciona os movimentos de adução-abdução que se realizam no plano frontal (tracejado vertical):
• adução ou desvio ulnar (seta 3): a mão
se aproxima do eixo do corpo e o seu
lado interno - ou lado ulnar (do dedo
mínimo) -, forma, com o lado interno
do antebraço, um ângulo obtuso aberto para dentro;
• abdução ou desvio radial (seta 4): a
mão se afasta do eixo do corpo e o seu
lado externo - ou lado radial (do po~
legar) -, forma, com o lado externo
do antebraço, um ângulo obtuso aberto para fora.
1. MEMBRO SUPERIOR 143
f\g.4-"\
----------
\- -
_-
-. - -
~._---~-~------------~-
144 FISIOLOGIA ARTICULAR
AMPLITUDE DOS MOVIMENTOS DO PUNHO
Movimento de abdução-adução (fig. 4-2)
-
A amplitude dos movimentos é medida a
partir da posição de referência (a): o eixo da
mão, representado pelo terceiro metacarpeano e
terceiro dedo, se localiza no prolongamento do
eixo do antebraço.
A amplitude do movimento de abdução ou
desvio radial (b) não excede os 150•
A amplitude de adução ou desvio ulnar (c)
é de 450, quando medimos o ângulo na linha que
une o centro do punho com a porção distal do
terceiro dedo (linha tracejada).
Contudo, esta amplitude é diferente dependendo do que consideramos:
- o eixo da mão: em cujo caso é de 300;
-
o eixo do dedo médio: em cujo caso é de
550•
Isto se deve a que a adução da mão se associa com a adução dos dedos.
Todavia, na prática, podemos considerar
que a amplitude da adução é de 450•
Devemos ressaltar vários fatos:
I
-
o desvio ulnar é de duas a três vezes mais
amplo do que o desvio radial;
-
o desvio ulnar é mais amplo em supinação que em pronação (Sterling Bunnel),
quando não ultrapassa os 25-300;
em geral, a amplitude dos movimentos
de adução-abdução é mínima em flexão
forçada ou em extensão do punho, posições nas quais os ligamentos do carpo
estão tensos. É máxima na posição de
referência ou em leve flexão, porque os
ligamentos se distendem.
Movimentos de flexão-extensão (fig. 4-3)
A amplitude dos movimentos é medida a
partir da posição de referência (a): punho
alinhado, superfície dorsal da mão no prolongamento da superfície posterior do antebraço.
A amplitude da flexão (b) é de 850, isto é,
que não alcança os 900•
A amplitude da extensão (c), incorretamente denominada "flexão dorsal", também é
de 850, de modo que também não alcança os
900•
Como no caso dos movimentos laterais, a
amplitude dos movimentos depende do grau de
distensão dos ligamentos do carpo:
-
a flexão-extensão é máxima quando a
mão não se encontra nem em abdução
nem emadução;
-- a flexão-extensão é de menor amplitude
quando o punho está em pronação.
1. MEMBRO SUPERIOR
a
b
c
Fig.4-2
b
a
Fig.4-3
c
145
146 FISIOLOGIA ARTICULAR
o MOVIMENTO
DE CIRCUNDUÇÃO
o
movimento de circundução se define como a combinação dos movimentos de flexão-ex-
tensão com os movimentos de adução-abdução.
Então, é um movimento que se realiza, simultaneamente, com relação aos dois eixos da articulação do punho.
Quando o movimento de circundução alcança a sua máxima amplitude, o eixo da mão descreve uma superfície cônica no espaço, denominada "cone de circundução" (fig. 4-4).
Este cone tem um vértice O, localizado no
"centro" do punho, e uma base, representada na
figura pelos pontos F, R, E, C, que descrevem a
trajetória que segue a ponta do dedo médio durante o movimento de máxima circundução.
Além disso, o citado cone não é regular, a
sua base não é circular. Isto se deve a que a amplitude dos diferentes movimentos elementares
não é simétrica com relação ao prolongamento do
eixo do antebraço 00'.
Sendo a amplitude máxima no plano sagita!
FOE e mínima no plano frontal ROC, o cone é
achatado no sentido transversal e podemos comparar a sua base com uma elipse (fig. 4-5, c) com
um eixo maior ântero-posterior FE.
Inclusive está deformada pela parte interna
C, devido à maior amplitude do desvio ulnar. Por
conseguinte, o eixo do cone de circundução OA
não se confunde com 00', mas que se encontra
em desvio ulnar de 15°. Por outro lado, a posição
da mão em adução de 15° corresponde à posição
de equilíbrio entre os músculos que dirigem o
desvio. É um elemento da posição funcionaL
A figura 4-5 mostra a parte da base do cone de circundução (c):
-
o corte do cone pelo plano frontal (a)
com a posição de abdução R-adução C
e o eixo do cone de circundução OA;
-
o corte do cone pelo plano sagital (b)
com a posição de flexão F e a posição
de extensão E.
A amplitude dos movimentos
do punho é
menor em pronação do que em supinação, de
modo que o cone de circundução
é menos
"aberto" em pronação.
Contudo, graças aos movimentos associados de pronação-supinação, o achatamento
do cone de circundução pode-se compensar de
certo modo, e o eixo da mão pode ocupar todas as posições no interior de um cone cujo
ângulo de abertura é de 160 a 170°.
Além disso, como em todas as articulações com dois eixos e dois graus de liberdade,
do mesmo modo que vamos expor mais adiante ao falar da articulação trapézio-metacarpeana, um movimento
simultâneo
ou sucessivo
em torno de dois eixos ocasiona uma rotação
automática ou inclusive uma rotação conjunta
(Mac Conaill) em torno do eixo longitudinal
do segmento móvel, a mão, que orienta a palma em direção oblíqua com relação ao plano
da superfície anterior do antebraço. Isto não
está claro, salvo nas posições de extensão-adução e de flexão-adução,
embora não tenha a
mesma importância
funcional que no caso do
polegar.
1. MEMBRO SUPERIOR
147
Fig.4-4
E
o
/
•
/ O'
E
c
R
R
a
E
Fig.4-5
r
148 FISIOLOGIA ARTICULAR
o COMPLEXO
o complexo
articular
ARTICULAR DO PUNHO
do punho (fig. 4-6)
inclui duas articulações:
1)
a articulação rádio-carpeana entre a
porção inferior do rádio e os ossos da fileira superior do carpo;
2) a articulação médio-carpeana entre a
fileira superior e a fileira inferior do
carpo.
A articulação rádio-carpeana
A articulação rádio-carpeana é uma articulação condilar (fig. 4-7): a superfície do côndi10 carpeano,
considerada como um bloco, apresenta duas curvas convexas:
-
uma curva transversal (seta 1), de raio
R e cujo eixo BB' é ântero-posterior: esta curva se corresponde com os movimentos de adução-abdução;
-
uma curva ântero-posterior (seta 2),
de raio r (menor que R) e cujo eixo AA'
é transversal: esta curva se corresponde
com os movimentos de flexão-extensão.
Os ligamentos anterior e posterior (fig.
4-11, vista externa esquemática) que serão estudados com detalhe mais adiante:
3) o ligamento anterior (ou melhor, sistema
ligamentar anterior) se insere no lado anterior da glenóide radial e do colo do osso
capitato;
4) o ligamento (ou complexo ligamentar)
posterior, que também constitui uma faixa
posterior.
Os dois ligamentos anterior e posterior se fixam no carpo nos pontos de "início" do eixo BB'
de abdução-adução.
Sempre considerando, numa primeira aproximação, que o carpo constitui um bloco único, o
que está longe de ser verdade como veremos mais
adiante, a entrada em ação dos ligamentos da
rádio-carpeana se decompõe da seguinte maneira:
-
No esqueleto:
-
eixo AA' de f1exão-extensão
passa pela
interlinha semilunar-osso capitato;
-
eixo BB' de adução-abdução passa pela
cabeça do osso capitato, perto de sua
superfície
articular.
Os ligamentos da articulação rádio-carpeana se organizam em dois sistemas:
Os ligamentos laterais (fig. 4-8):
1) o ligamento lateral externo, que se estende do processo estilóide radial até o escafóide;
2) o ligamento lateral interno, que se estende do processo estilóide ulnar ao piramidal e ao pisiforme.
A inserção inferior destes dois ligamentos
se localiza, aproximadamente,
no ponto de "início" do eixo AA' de flexão-extensão.
nos movimentos de adução-abdução
(figs. 4-8, 4-9 e 4-10, vistas anteriores),
são os ligamentos anteriores os que trabalham. Partindo da posição de repouso
(fig. 4-8), podemos observar que:
-
durante a adução (fig. 4-9), o ligamento externo está tenso e o interno
está distendido;
-
durante a abdução (fig. 4-10), se produz o fenômeno inverso.
O ligamento anterior, fixo perto do centro de
rotação, participa pouco.
Nos movimentos de flexão-extensão (figs.
4-11, 4-12 e 4-13, vistas laterais), são, principalmente os ligamentos anterior e posterior os que
mais trabalham. Partindo da posição de repouso
(fig. 4-11), podemos observar que:
-
o ligamento posterior está tenso durante a
f1exão (fig. 4-12);
-
o ligamento anterior está tenso durante a
extensão (fig. 4-13).
Os ligamentos laterais participam pouco.
A'
A
Fig.4-7
Fig.4-9
....
....
....
-
=
4~4J.· L3
Fig.4-12
Fig.4-11
I
Fig.4-13
150 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS ARTICULAÇÕES RÁDIO-CARPEANAS E MÉDIO-CARPEANAS
As superfícies articulares da rádio-carpeana
são (figs. 4-14 e 4-15): o côndilo carpeano e a glenóide antebraquial.
Na vista anterior do carpo (fig. 4-15), podemos observar como o côndilo carpeano é formado
pela justaposição da superfície superior dos três ossos da fileira superior que são, de fora para dentro:
-- o escafóide (1), o semilunar (2), o piramidal (3), unidos entre si pelos ligamentos
escafo-Iunar (el) e piramido-Iunar (pl).
Observar que o pisiforme (4) não participa da
formação do côndilo carpeano, e com mais razão
os ossos da fileira inferior, o trapézio (5), o trapezóide (6), o capitato ou grande (7) e o hamato ou
ganchoso (8), unidos entre si pelos três ligamentos
trapézio-trapezóideo
(tt), trapézio-osso capitato
(toc) e hamato-osso capitato (hoc).
A superfície superior do escafóide, do semilunar e do piramidal tem uma camada de cartilagem,
igual aos ligamentos que unem estes três ossos entre si, formando uma superfície contínua.
Numa vista da articulação aberta (fig. 4-14, segundo Testut), podemos observar, além do côndilo
carpeano com as superfícies articulares do escafóide
(1), do semilunar (2) e do piramidal (3), a superfície
côncava da glenóide antebraquial constituída por:
- porção inferior do rádio (9), por fora, cuja superfície inferior, côncava e coberta
com cartilagem fica dividida por uma crista romba em duas superfícies articulares
que se correspondem aproximadamente
com o escafóide (10) e o semilunar (11);
- superfície inferior do ligamento triangular
(12), côncavo e coberto com cartilagem, o
seu vértice se insere no processo estilóide
ulnar (13); a cabeça ulnar (14) o ultrapassa levemente pela frente e por trás; algumas vezes, a sua base não se insere totalmente, provocando o aparecimento de
uma pequena fenda (15) que comunica a
rádio-carpeana com a rádio-ulnar inferior.
A cápsula (16), desenhada intata na sua parte
posterior, une o côndilo com a glenóide. A médiocarpeana (fig. 4-16, segundo Testut: representada
,aberta por sua superfície posterior), situada entre
as duas fileiras do ossos do carpo, compreende:
- a superfície superior, em vista pósteroinferior. Está constituída de fora para dentro por:
• escafóide, com: duas superfícies articulares inferiores, levemente convexas,
uma (1) para o trapézio, outra (2), por
dentro, para o trapezóide; uma superfície
articular interna (3), de concavidade
acentuada, para o osso capitato;
• superfície articular inferior do semillllzar
(4), côncava abaixo, que se articula com
a cabeça do osso capitato;
• superfície articular inferior do piramidal
(5), côncava abaixo e para fora, que se
articula com a superfície superior do osso hamato.
O pisiforme, articulado sobre a superfície anterior do piramidal, não participa na formação da
interlinha médio-carpeana.
- a superfície inferior, em vista póstero-superior. Está constituída de fora para dentro
por:
• superfície articular superior do trapé:.:io
(6) e do trapezóide (7);
• cabeça do osso capitato (8), que se articula com o escafóide e o osso capitato;
• superfície superior do osso hamato (9), sua
maior parte se articula com o piramidaL e
uma pequena superfície articular (I O) que
entra em contato com o semilunar.
Considerando que cada uma das fileiras do
carpo formam um bloco, podemos comprovar que
a interlinha médio-carpeana está constituída por
duas partes:
- uma parte externa, formada por superfícies articulares planas (trapézio e trapezóide sobre a base do escafóide), articulação tipo artródia;
- uma parte interna, constituída pela superfície convexa, em todos os sentidos, da cabeça do osso capitato e do osso hamato, que
se encaixa na superfície côncava dos três
ossos da fileira superior: é uma articulação
condilar.
Os movimentos numa articulação deste tipo
estão condicionados pela maior ou menor elasticidade dos ligamentos que permite um determinado
'jogo" mecânico. São os movimentos de flexão-extensão, de desvio lateral e de rotação em tomo do
eixo longitudinal. Mais adiante poderemos estudálos mais detalhadamente.
1. MEMBRO SUPERIOR 151
. 10
I
14
Fig.4-14
Fig.4-15
Fig.4-16
152 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS LIGAMENTOS DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-CARPEANA
E DA MÉDIO-CARPEANA
Usamos como referência a N. Kuhlmann (1978) para ressaltar os elementos novos na descrição dos ligamentos da articulação rádio-carpeana e da médio-carpeana.
Como poderemos ver mais adiante, este conceito moderno do aparelho ligamentar pennite explicar muito melhor
o papel que desempenha na estabilidade do carpa e, na
verdade, na sua adaptação às alterações que derivam dos
movimentos do punho.
Em vista anterior (fig. 4-17), se distinguem:
- os dois ligamentos laterais da rádio-carpeana:
• o ligamento lateral interno, que se origina no
processo estilóide ulnar e se entrelaça com a
inserção do triangular (1), no nível de seu vértice. A seguir, se divide num fascículo posterior estilo piramidal (2) e um fascículo anterior estilo-pisiforme (3);
• o ligamento lateral externo, também constituído por dois fascículos que se originam no processo estilóide radial: um fascículo posterior
(4), que se expande do vértice do processo estilóide até a superfície extema do escafóide para
inserir-se por baixo da superfície articular superior, e umfascículo anterior (5), muito espesso
e resistente que se estende do lado anterior do
processo estilóide até o tubérculo do escafóide;
- o ligamento anterior da rádio-carpeana, constituído por dois fascículos:
• por fora, o fascículo rádio-lunar anterior (6),
que se estende obliquamente por baixo e por
dentro do lado anterior da glenóide radial até o
haste anterior do semilunar; daí vem a denominação de freio anterior do lunar;
••por dentro, ofascículo rádio-piramidal anterior
(7), recentemente individualizado por N. Kuhlmann; suas inserções superiores ocupam a metade interna do lado anterior da glenóide e todo
o lado anterior da cavidade sigmóide do rádio,
onde se entrelaça com as inserções radiais do ligamento anterior (8) da rádio-ulnar inferior; este ligamento, de forma triangular, forte e resistente, se dirige para baixo e para dentro para inserir-se na superfície anterior do piramidal, por
fora da sua superfície articular junto com o pisiforme; constitui a parte anterior da "tira do piramidal", que voltaremos a ver mais adiante;
- os ligamentos da médio-carpeana:
• o ligamento rádio-capital (9), que se estende
obliquamente por baixo e por dentro da parte
externa do lado anterior da glenóide até a superfície anterior do osso capitato. Está incluído
no mesmo plano fibroso que 9s fascículos rádio-lunar e rádio-piramidal. E um ligamento
anterior da rádio-carpeana e da médio-carpeana ao mesmo tempo;
• o ligamento lunatocapital (10), que se estende
verticalmente desde o haste anterior do semilu-
Em
-
-
-
-
nar à superfície anterior do colo do osso capitato, prolonga para baixo o ligamento rádio-lunar;
• o ligamento triqueto-capital (11), que se estende obliquamente por baixo e por fora da superfície anterior do piramidal ao colo do osso capitato onde constitui, com os dois ligamentos precedentes, um autêntico aparelho ligamentar;
• o ligamento trapézio-escaf6ide (12), curto,
mas largo e resistente, une o tubérculo do escafóide com a superfície anterior do trapézio, por
cima da sua crista oblíqua;
• o ligamento triqueto-ganchoso (ou triqueto-hamata!) (13), verdadeiro ligamento lateral interno da médio-carpeana;
• finalmente, os ligamentos pisiunciforme (14) e
pisimetacarpeano (15), este último participa na
articulação carpometacarpeana.
vista posterior (fig. 4-17 bis), podemos localizar:
o ligamento lateral externo da rádio-carpeana,
pelo seu fascículo posterior (4);
o ligamento lateral interno da rádio-carpeana,
também pelo seu fascículo posterior (2), cujas
inserções estão entrelaçadas com o vértice do ligamento triangular (1);
o ligamento posterior da rádio-carpeana
constituído por dois fascículos oblíquos para
baixo e para dentro:
• ofascículo rádio-lunar posterior (16), ou freio
posterior do lunar;
• o fascículo rádio-piramidal posterior (17), cujas inserções são mais ou menos simétricas com
as do seu homólogo anterior, incluída a sua
união com a terminação do ligamento posterior
da rádio-ulnar inferior (18) sobre o lado posterior da cavidade sigmóide do rádio: este fascículo posterior completa a "tira do piramidal";
as duas faixas transversais posteriores do carpo:
• afaixa da primeira fileira (19), que se estende transversalmente da superfície posterior
do piramidal até a do escafóide, para se inserir no haste posterior do lunar e enviando
uma expansão (20) ao ligamento lateral externo e uma expansão (21) ao ligamento rádio-piramidal posterior;
• afaixa da segunda fileira (22) que se estende
obliquamente por fora e levemente por baixo
da superfície posterior do piramidal à do trapezóide (23) e a do trapézio (24), passando por
trás do osso capitato;
por último, o ligamento triqueto-hamatal (13),
cuja parte posterior se insere na superfície posterior do piramidal que, de tal forma desempenha,
para a parte posterior do carpa, o papel de segurar o ligamento atribuído ao colo do osso capitato na sua superfície anterior.
1. MEMBRO SUPERIOR
8
6
9
4
5
10
12
Fig.4-17
Fig. 4-17 bis
I
-
153
154 FISIOLOGIA ARTICULAR
FUNÇÃO ESTABILIZADORA DOS LIGAMENTOS
Estabilização no plano frontal
A primeira função dos ligamentos do
punho é a de estabilizar o carpo nos dois planos
frontal e sagita!.
No plano frontal, o papel que desempenham os ligamentos é necessário, devido à
orientação da glenóide antebraquial (fig. 4-18,
vista anterior esquemática) que "se orienta" para
baixo e para dentro, de tal modo que pode parecer, no seu conjunto, com um plano oblíquo de
cima para baixo e de dentro para fora, formando
com a horizontal um ângulo de 25 a 30°. Sob a
pressão das forças musculares longitudinais, o
carpo alinhado tende a deslizar para cima e para
dentro, no sentido da seta branca.
Contudo, (fig. 4-19) se o carpo se aduz
aproximadamente 30°, a força da compressão de
origem muscular se exerce perpendicularmente
ao plano de deslizamento descrito anteriormente, o que estabiliza e centraliza novamente o
côndilo carpeano na glenóide. Além disso, esta
posição em leve adução é a posição natural do
punho, a posição funcional, que coincide com a
sua máxima estabilidade.
Pelo contrário (fig. 4-20), quando o carpo
se abduz, por escassa que seja a abdução, a com-
pressão de origem muscular acentua a instabilidade e acarreta urna tendência ao deslocamento
do côndilo carpeano para cima e para dentro.
Os ligamentos laterais da rádio-carpeana
não são suficientes para "atrapalhar" este movimento devido à sua direção longitudinal. Corno
o demonstrara N. Kuhlmann, esta função é própria (fig. 4-21) dos dois ligamentos rádio-piramidais anterior e posterior cuja direção oblíqua
para cima e para fora permite centralizar de novo e de maneira permanente o côndilo carpeano
de modo que evita o seu deslocamento para
dentro.
Em vista póstero-interna (fig. 4-22) da porção inferior do rádio, após ter sido removida a
porção inferior da ulna, de modo que podemos
observar a cavidade sigmóide do rádio (1) e o
piramidal (2), acompanhado pelo pisiforme (3),
e removidos também os outros ossos do carpo,
se observa que o piramidal se une com o rádio
mediante os dois ligamentos rádio-piramidal anterior (4) e posterior (5). Constituem em conjunto uma "faixa ligamentar" que dirige permanentemente o piramidal para cima e para dentro.
Também desempenham, como veremos mais
adiante, urna função importante na mecânica interna do carpo durante a abdução.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.4-18
Fig.4-19
Fig.4-20
3
155
156 FISIOLOGlAARTICULAR
FUNÇÃO ESTABILIZADORA DOS LIGAMENTOS
(continuação)
Estabilização no plano sagital
No plano sagital, as condições são muito
parecidas.
Devido à orientação para baixo e para diante da glenóide (fig. 4-23, vista esquemática de
perfil), o côndilo carpeano tem a tendência de
"escapar" para cima e para frente, na direção da
seta branca), deslizando-se sobre o "plano" da
glenóide que forma um ângulo de 20 a 25° com
a horizontal.
A flexão do punho de 30 a 40° (fig. 4-24)
orienta o deslocamento ósseo, sob pressão das
forças musculares, perpendicularmente ao "plano" da glenóide, o que estabiliza e centraliza novamente o côndilo carpeano.
Assim sendo, a função dos ligamentos (fig.
4-25) se reduz relativamente: os ligamentos anteriores, distendidos, não intervêm; pelo contrário, o freio posterior do lunar e a faixa transver-
sal da primeira fileira se encontram tensos, o que
coapta o semilunar na glenóide radial.
Em posição de alinhamento (fig. 4-26), a
tensão dos ligamentos anteriores e posteriores se
equilibra, estabilizando o côndilo na glenóide.
Pelo contrário, em extensão (fig. 4-27), a
tendência a que o côndilo carpeano escape para
cima e para diante se reforça.
A função dos ligamentos (fig. 4-28) é essencial, não tanto a dos ligamentos posteriores, que
permanecem distendidos, mas a dos anteriores,
cuja tensão é proporcional ao grau de extensão.
Pela sua superfície profunda, comprimem o semilunar e a cabeça do osso capitato para cima e
para trás, produzindo ao mesmo tempo a estabilização e a recentralização do côndilo carpeano;
o que corresponde à posição de tensão ligamentar e de máxima compressão articular, ou também "close packed position" de Mac Conaill.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.4-24
Fig.4-23
Fig.4-28
Fig.4-26
157
158 FISIOLOGIA ARTICULAR
A DINÂMICA DO CARPO
Coluna do semilunar
Se é conveniente, numa primeira aproximação, considerar o maciço do carpa como um bloco imutável, os recentes trabalhos de anatomia
funcional mostram que este conceito monolítico
já não corresponde à realidade: é melhor ter em
mente um carpo de geometria variável no qual
se produzem, por ação de pressões ósseas e de
resistências ligamentares, movimentos relativos
dos ossos no interior do carpa que modificam
sensivelmente a sua forma.
N. Kuhlmann estudou recentemente estes
movimentos elementares, principalmente no que
se refere à coluna média do semilunar e do osso
capitato, além da coluna externa do escafóide e
do par trapézio-trapezóide.
A dinâmica da coluna média depende da
forma assimétrica do semilunar, mais avultado,
mais espesso pela frente que por trás: dependendo dos casos, a cabeça do osso capitato está
coberta por um capuz frígio (fig. 4-29), um boné de cossaco (fig. 4-30) ou um turbante (fig. 431); é raro que esteja coberto por um bicorne
"primeiro império" (fig. 4-32) simétrico e neste
caso, a cabeça do osso capitato é assimétrica,
mais oblíqua pela frente. Aproximadamente na
metade dos casos, o "capuz frigia" se coloca entre o osso capitato e a glenóide radial, como se
fosse uma cunha curva. Conseqüentemente, esta
distância útil entre a cabeça do osso capitato e a
glenóide radial varia dependendo do grau de flexão-extensão do punho.
Em posição de alinhamento (fig. 4-33), a
distância útil corresponde à espessura média do
semilunar.
Na extensão (fig. 4-34) esta distância útil
diminui já que corresponde à menor espessura
do semilunar.
Pelo contrário, esta aumenta na flexão (fig.
4-35), já que se interpõe a maior espessura da
,cunha lunar.
Contudo, a obliqüidade da glenóide se
combina com esta variação da distância útil, o
I
que anula, em parte, os efeitos: deste modo, em
alinhamento, o centro da cabeça do osso capitato é o mais afastado do fundo da glenóide, no
sentido do eixo longitudinal do rádio. Em extensão (fig. 4-34), a "subida" do centro da cabeça do osso capitato se anula em parte pela "descida" do lado posterior da glenóide. Em flexão
(fig. 4-35), sua descida se anula, em parte, pela
"subida" do lado anterior da glenóide. Porém, o
centro da cabeça do osso capitato se localiza,
em ambos os casos, aproximadamente no mesmo nível h por cima de sua posição de alinhamento.
Por outro lado, em flexão (fig. 4-35), este
centro se submete a um deslocamento anterior a
igual a mais de duas vezes a retrocessão r associada à extensão (fig. 4-34), o que modifica ao
contrário o grau de tensão e o momento de ação
dos flexores em relação aos extensores.
Tradicionalmente, a flexão é maior na rádio-carpeana (50°) que na médio-carpeana (35°),
e ao contrário, a extensão é maior na médio-c arpeana (50°) que na rádio-carpeana (35°). Isto é
correto para as amplitudes extremas, mas nos
setores de escassa amplitude, o grau de flexão ou
de extensão é mais ou menos o mesmo em cada
uma das articulações.
A assimetria do semilunar faz com que a
estática do carpo seja muito sensível à sua posição relativa na cadeia articular. Se, a partir da
posição de alinhamento (fig. 4-36) que corresponde a um adosamento normal do semilunar
pelos seus dois freios anterior e posterior, se introduz, sem nenhuma flexão-extensão do osso
capitato com relação ao rádio, uma basculação
do lunar para frente (fig. 4-37), ou uma basculação para trás (fig. 4-38), podemos constatar que
o centro da cabeça do osso capitato se desloca
para cima (e) e respectivamente para trás (c) ou
para frente (b): a instabilidade localizada do semil~tnar, por ruptura ou distensão do freio anterior (fig. 4-37) ou do freio posterior (fig. 4-38),
repercute, mediante o osso capitato, em todo o
carpa.
I
1. MEMBRO SUPERIOR
V
Fig.4-30
VFi9.4-31
a
Fig.4-34
Fig.4-36
c
VFí9.4-32
Fig.4-35
Fig.4-38
b
159
160 FISIOLOGIA ARTICULAR
A DINÂMICA DO CARPO
(continuação)
Coluna do escafóide
A dinâmica da coluna externa depende da
forma e orientação do escafóide.
De perfil (fig. 4-39), o escafóide possui uma
silhueta renifonne, ou em forma de feijão, a parte
mais alta, arredondada, corresponde à superfície
superior convexa, articulada com a glenóide radial, a parte inferior representa a parte alta do tubérculo escafóide, em cuja superfície inferior se
articulam o trapezóide e o trapézio; só este último
está representado aqui; situa-se claramente mais
para frente que o trapezóide e o osso capitato, já
Isto envolve três observações:
1) os pontos de contato se deslocam sobre a
glenóide radial e o escafóide (fig. 4-46):
-
tensão c' se localiza pela frente do ponto de contato em posição de alinhamento a', e estes dois últimos pela frente do ponto de contato em flexão e';
-
Em posição neutra ou de "alinhamento" (fig.
4-43) é quando a distância é maior entre o rádio e
o trapézio; o contato entre o escafóide e a glenóide radial se localiza nos dois pontos correspondentes a a e a', e entre o ponto central g da superfície superior do trapézio e o escafóide em b.
Em extensão (fig. 4-44), a distância útil diminui enquanto o escafóide se "ergue" e o trapézio
se desloca para trás; o contato entre a glenóide e o
escafóide se produz nos pontos homólogos c e c' ,
e entre o trapézio e o escafóide nos pontos de g.
Em fiexão (fig. 4-45), a distância rádio-trapézio também diminui quando o escafóide está totalmente deitado e o trapézio se desloca para frente;
os pontos de contato se situam em e, e' eJ, g.
no escafóide:
• no nível da supeifície superior, o
contato em flexão e é anterior, o
contato em extensão c é posterior, e
o contato em posição de alinhamento a entre ambos;
que, com ele, se inicia a anteposição da coluna do
polegar com relação ao plano da mão. Deste modo, o escafóide fica intercalado obliquamente entre o rádio e o trapézio, embora esta obliqüidade
esteja mais ou menos acentuada dependendo da
sua forma. Assim sendo, podemos encontrar escafóides renifonnes "deitados" (fig. 4-39), escafóides dobrados "sentados" (fig. 4-40) e escafóides
quase erguidos "em pé" (fig. 4-41). Nos esquemas está representado o escafóide "deitado" por
tratar-se do mais freqüente.
A forma alongada do escafóide permite observar dois diâmetros (fig. 4-42), os diâmetros
maior e menor, que aparecem, dependendo da posição, em contato com a glenóide radial e a superfície articular superior do trapézio; isto determina
as variações do "espaço útil" entre estes dois ossos.
na glenóide radial, o contato em ex-
• no nível da supeifíGie infe ri 01; a ordem dos pontos correspondentes f
para a flexão, d para a extensão, b
para a posição de alinhamento é a
mesma (j para diante, d para trás e b
entre ambos).
2) os diâmetros
úteis no escafóide ab, cd e
que correspondem respectivamente à
posição de alinhamento, à de extensão e
à de flexão, são quase paralelos e praticamente iguais:
eJ,
-
cd e ef são paralelos;
-
ab e ef são iguais, cd é levemente mais
curto.
3) deslocamento do trapézio com relaçâo ao
rádio (fig. 4-47)
As posições de alinhamento A, de flexão
F e de extensão E, se realizam praticamente num círculo concêntrico com curva
ântero-posterior da glenóide radial, enquanto o trapézio realiza uma rotação sobre si mesmo, aproximadamente igual ao
ângulo do arco que descreve: dito de outra
forma, a sua superfície articular superior
se dirige para o centro do círculo C.
Toda esta dinâmica se refere aos movimentos
simultâneos do escafóide e do trapézio. Mais
adiante exporemos o resultado dos movimentos
isolados do escafóide.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.4-44
Fig.4-43
Fig.4-45
161
162
FlSIOLOGIA
ARTICULAR
o PAR ESCAFÓIDE-SEMILUNAR
Nos movimentos de flexão-extensão do
punho, N. Kuhlmann distingue quatro setores
(fig. 4-48):
-
-
o setor de adaptação pennanente (I) até
20°: as amplitudes dos deslocamentos
elementares são escassas e difíceis de
apreciar; os ligamentos estão distendidos e a pressão sobre as superfícies articulares é mínima. Os movimentos mais
..
comuns e que preCIsam necessanamente restabelecer a sua mobilidade após
uma intervenção cirúrgica ou traumatismo se realizam neste setor;
o setor de mobilidade comum (lI) até
40°; o jogo ligamentar começa a se ma-
nifestar e as pressões articulares se notam. Até este ponto, as amplitudes na
rádio-carpeana e na médio-carpeana
são quase iguais;
-
-
\
o setor de alteração fisiológica momentânea (IlI) até 80°; as tensões ligamentares e as pressões articulares alcançam o seu ponto máximo, para realizar no fim do trajeto a posição de bloqueio ou dose packed position (Mac
Conaill);
O setor de alteração patológica (IV) superior aos 80°: a partir deste ponto, a
continuação do movimento ocasiona
obrigatoriamente umà ruptura ou uma
distensão ligarnentar que, lamentavelmente, passa despercebida com freqüênCia, provocando uma instabilidade do
carpo, ou uma fratura ou luxação, como
veremos mais adiante.
O fato de se repetir a idéia do bloqueio articular foi necessário para esclarecer o assincronismo do bloqueio em extensão das colunas do
semilunar e do escafóide.
De fato, o bloqueio em extensão da coluna
do escafóide (fig. 4-49), causado pela tensão
máxima dos ligamentos rádio-escafóide (1) e
trapézio-escafóide (2), provoca um autêntico encaixamento do escafóide entre o trapézio e a glenóide radial, que acontece antes do bloqueio em
extensão da coluna do semilunar (fig. 4-50):
neste bloqueio intervêm não só a tensão dos ligamentos rádio-lunar anterior (3) e lunatocapital
(4), mas também o impacto ósseo da superfície
posterior do colo do osso capitato contra o lado
posterior da glenóide; de modo que o movimento de extensão continua na coluna do semilunar,
enquanto já está parado na do escafóide.
Se partirmos da posição de flexão (fig. 4-51)
(vista conjunta de perfil do semilunar e do escafóide), num primeiro momento (fig. 4-52), a extensão arrasta simultaneamente o escafóide e o
semilunar, a seguir (fig. 4-53) o escafóide se detém, enquanto o semilunar continua a sua basculação anterior 30° mais, graças à elasticidade do
ligamento interósseo escafolunar. Assim sendo a
amplitude total do movimento do semilunar é
30° maior que a do escafóide.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.4-48
3
Fig.4-50
Fig.4-51
163
164 FISIOLOGIA ARTICULAR
o CARPO
DE GEOMETRIA VARIÁVEL
A abdução-adução
Mais que como um bloco monolítico, o carpo deve ser considerado uma bolsa de bolinhas de gude, principalmente no que se
refere aos movimentos de abdução-adução no percurso dos quais a
sua forma se modifica sob pressões ósseas e tensões ligamentares.
O estudo minucioso das radiografias frontais em abdução e em
adução permite constatá-lo: os esquemas desta página correspondem a este estudo.
Durante a abdução (fig. 4-54), num primeiro
momento, o carpo gira em conjunto em tomo de um
centro situado na cabeça do osso capitato, a fileira
superior se desloca (seta 1) para cima e para dentro
de tal maneira que a metade do semilunar se situa
abaixo da cabeça ulnar e o piramidal, no seu movimento para baixo, aumenta o espaço que o separa.
Mas a tensão do ligamento lateral interno (LU) e
principalmente a "faixa" do piramidal (C) detêm
muito cedo este deslocamento, transformando o piramidal num bloco contra o qual impacta o semilunar. Como a abdução continua, a segunda fileira é a
única que continua o seu movimento:
-
-
o trapézio e o trapezóide ascendem (seta 2),
diminuindo o espaço útil entre o trapézio e
o rádio, por efeito da compressão entre o
trapézio (2) e o rádio (3), o escafóide perde
a sua altura "encostando-se" por flexão (f)
na rádio-carpeana (fig. 4-56), enquanto a
médio-carpeana se estende (e);
o osso capitato "desce" (seta 4), aumentando
o espaço útil do semilunar; retido pelo seu
freio anterior. de modo que pode bascular
(fig. 4-57) para trás por flexão (f) na rádiocarpeana, apresentando a sua maior espessura; simultaneamente, o osso capitato se acopIa (e) na médio-carpeana; a diminuição da
altura do escafóide permite um deslizamento relativo do osso capitato e do osso hamato por baixo da primeira fileira (setas pretas):
o piramidal, retido pelos seus três ligamentos, "sobe" pela rampa do osso hamato em
direção à cabeça do osso capitato. Como os
movimentos relativos dos ossos do carpa estão esgotados. o conjunto constitui um bloco
travado em abdução (close packed position).
Durante a adução (fig. 4-55), num primeiro
momento, o carpo gira em conjunto, mas desta vez,
a primeira fileira se desloca para baixo e para fora,
de modo que o semilunar se desliza totalmente por
baixo do rádio, enquanto o trapézio e o trapezóide
descem (seta 1) aumentando o espaço útil para o escafóide. Este, deslocado para baixo pelo ligamento
trapézio-escafóide, se endireita (fig. 4-58) em extensão (e) da rádio-carpeana, de modo que ganha altura
e preenche o espaço que estava vazio debaixo do rádio. Simultaneamente, o trapézio se desliza em flexão (f) da médio-carpeana debaixo do escafóide;
quando a descida do escafóide (seta 2) fica interrompida pelo ligamento lateral externo (LLE), a abdução continua na segunda fileira; provocando um
deslizamento relativo em relação à primeira fileira
(setas pretas): a cabeça do osso capitato se afunda na
superfície côncava do escafóide, o semilunar se desliza sobre a cabeça do osso capitato e toca o osso hamato, o piramidal "desce" pela rampa do osso hamato. Ao mesmo tempo, o piramidal sobe (seta 3) em
direção à cabeça ulnar que constitui um topo, mediante o ligamento triangular, transmitindo as forças
que provêm do antebraço para os dois raios internos
da mão; o osso capitato ascende (seta 5) reduzindo o
espaço útil para o semilunar, o qual, graças à distensão do seu freio anterior pode bascular para frente
(fig. 4-59) em extensão (e) na rádio-carpeana, de
modo que apresenta a sua menor espessura, enquanto o osso capitato se flexiona (f) na médio-carpeana.
Também neste caso, por ter esgotado todos os
movimentos relativos dos ossos do carpo, o conjunto constitui um bloco travado em adução (close
packed position).
Em resumo, se compararmos (esquema em detalhe) o par
escafóide-semilunar em abdução (cor cinza) e em adução (cor clara), podemos comprovar que cada um dos dois ossos se transforma
ao contrário: em abdução, o escafóide diminui de superfície e o semilunar aumenta; em adução ocorre o contrário. Esta "metamorfose" se deve aos movimentos de f1exão-extensão nas duas articulações do carpo:
-
em abdução (figs. 4-56 e 4-57), a f1exão na rádio-carpeana desaparece devido à extensão na médio-carpeana;
-
em adução (figs. 4-58 e 4-59), ao contrário, a extensão na
rádio-carpeana se compensa pela f1exão na médio-carpeana.
Por lógica, se considerarmos a proposta recíproca, podemos
afirmar que:
-
a f1exão de punho se associa com uma abdução da rádiocarpeana e uma adução da médio-carpeana;
-
a extensão de punho provoca uma adução da rádio-carpeana e uma abdução da médio-carpeana.
Deste modo, se confirma o mecanismo descrito por Henke.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.4-54
Fig.4-55
U
Fig.4-56
Fig.4-57
Fig.4-58
165
166
FISIOLOGIA ARTICULAR
AS ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS
Os dois movimentos cujo esforço máximo
gera mais desgastes anatômicos são a abdução e
a extensão, com freqüência associados.
perfície externa do corpo do osso que se
fratura neste ponto devido ao cisalhamento.
A abdução levada além da posição de bloqueio pode provocar dois tipos de lesões:
A extensão exagerada acarreta, com muita
freqüência, como' acabamos de comentar (fig. 461), uma fratura de Pouteau-Colles. Muito poucas vezes provoca desgastes ligamentares cujo
primeiro momento é a ruptura do ligamento lunatocapital; em segundo lugar podem existir
duas possibilidades:
-
umafratllra
da porção inferior do rádio
(fig. 4-60): a pressão do escafóide sobre
a SALIÊNCIA externa da glenóide radial fratura a epífise mais frágil devido à
osteoporose do indivíduo de idade avançada; o deslocamento se realiza para fora e se associa com uma basculação posterior pela extensão do punho (fig. 4-61).
Este tipo de fratura permite notar a resistência do escafóide, sem dúvida bem
protegido quando está "ftexionado" (fig.
4-61), situado totalmente debaixo do
processo estilóide radial; também indica
a resistência dos ligamentos anteriores; o
processo estilóide ulnar sob tração associada do ligamento triangular e do ligamento lateral interno da rádio-carpeana
se fratura com freqüência na sua base;
-
ou umafratura do escafóide (fig. 4-62):
o escafóide, desta vez se encontra em
extensão e se localiza, em toda a sua
longitude, debaixo da saliência da glenóide radial; por conseguinte, o processo estilóide radial impacta contra a su-
-
o osso capitato ascende em extensão e a
sua cabeça se encaixa por trás da haste
posterior do semilunar que permanece
no lugar: é a lllxação retrollll1ar do carpo (fig. 4-64):
-
o freio posterior do semilunar, solicitado
pela hiperextensão e a cabeça do osso
capitato, se desprende, provocando a
enucleação para frente do lunar que, ao
ficar fixo pela sua haste anterior, realiza
uma rotação sobre si mesmo de 90 a
120° em tomo de um eixo transversal,
de modo que a sua superfície inferior se
dirige para cima; então, a cabeça do osso capitato ascende por baixo da glenóide, deslocando o lunar para frente no canal carpeano onde comprime o nervo
mediano. É a lllxação anterior do semilunar (fig. 4-65).
-------
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.4-60
~
Fig.4-63
.
Fig.4-64
~-------
167
168 FISIOLOGIA
ARTICULAR
OS MÚSCULOS MOTORES DO PUNHO
Em vista anterior do punho (fig. 4-66),
podemos observar:
-
-
-
o palmar maior (1) que, após ter percorrido um canal especial por baixo do
ligamento anular anterior do carpa, se
insere na superfície anterior da base do
segundo metacarpeano e, de maneira
acessória, no trapézio e base do terceiro metacarpeano;
o palmar menor (2), menos potente,
entrelaça as suas fibras verticais com as
fibras transversais do ligamento anular
anterior do carpo e envia quatro faixas
pré-tendíneas que se inserem na superfície profunda da dermis da palma da
mão;
o flexor ulnar do carpo (3) que, após
ter passado pela frente do processo estilóide ulnar, se insere no pólo superior
do pisiforme e, de maneira acessória, no
ligamento anular, osso hamato e o quarto e quinto metacarpeanos.
Para não sobrecarregar este esquema, não
desenhamos os tendões flexores dos dedos que
passam pelo canal carpeano junto com o nervo
mediano:
-
os quatro tendões flexores profundos;
-
os quatro tendões flexores superficiais;
-
o flexor longo próprio do polegar.
Estão representados no corte (fig. 4-71).
Em vista posterior do punho (fig. 4-67),
podemos observar:
-
-
I
o extensor ulnar do carpo (4) que,
após passar por trás do processo estilóide ulnar, se insere na supeifície posterior da base do quinto metacarpeano;
os dois extensores radiais longo e curto do carpo (5 e 6) que, após percorrer
a parte superior da tabaqueira anatômi-
ca, se inserem, o primeiro (6) na base do
segundo metacarpeano e o segundo (5)
na base do terceiro metacarpeano.
Para simplificar, nesta vista posterior não se
representaram:
-
os quatro tendões extensores comuns;
o tendão do extensor p~óprio do dedo indicador;
-
o tendão do extensor próprio do dedo
mínimo.
Poderemos ver mais adiante no corte (fig.
4-71).
Numa vista do lado interno do punho
(fig. 4-68), podemos observar os tendões:
-
do flexor ulnar do carpo (3), a sua inserção, deslocada para frente pelo pisiforme, aumenta a sua eficácia;
-
do extensor ulnar do carpo (4).
Estes dois tendões delimitam lateralmente
o processo estilóide ulnar.
Numa vista do lado externo do punho
(fig. 4-69), podemos observar os tendões:
- do extensor radial longo (6) e curto (5)
do carpo;
-
do abdutor longo do polegar (7), que
se insere na parte externa da base do
primeiro metacarpeano;
-
do extenso r curto do polegar (8), que
se insere na superfície dorsal da base da
primeira falange do polegar;
-
do extenso r longo do polegar (9), que
se insere na segundafalange do polegar.
Tanto os extensores radiais quanto os músculos do polegar delimitam o processo estilóide
radial. O tendão do extensor longo do polegar
constitui o limite posterior da tabaqueira anatômim. Os tendões do abdutor longo e do extensor
curto do polegar constituem o seu limite anterior.
1. MEMBRO SUPERIOR
169
Fig.4-68
Fig.4-69
170 FISIOLOGIA
ARTICULAR
AÇÃO DOS MÚSCULOS MOTORES DO PUNHO
Na superfície posterior do punho, os tendões extensores passam por baixo do ligamento
anular dorsal do carpo (fig. 4-70; as explicações
são as mesmas para a figura seguinte) por seis
túneis osteofibrosos acompanhados de seis
bainhas sinoviais. São de dentro para fora:
-
o túnel do extensor ulnar do carpo;
-
o do extensor próprio do dedo mínimo;
-
o dos quatro extensores comuns e o do
extensor próprio do dedo indicador;
3.° grupo: os palmares, o maior (2) e o menor
(3), são:
-
o do abdutor longo e o do extensor curto do polegar.
O ligamento anular e os túneis osteofibrosos constituem para os tendões polias de reflexão quando o punho se encontra em extensão.
Tradicionalmente,
os músculos motores
do punho se classificam em quatro grupos. O
esquema 4-71 representa esta classificação em
relação aos dois eixos do punho:
-
o eixo AA': flexão-extensão;
-
o eixo BB': adução-abdução.
(O esquema representa um corte do punho
direito, parte inferior do corte, pelo qual B' na
frente, B por trás, A' por fora e A por dentro. Os
tendões assombreados são os motores do punho,
os brancos são os motores dos dedos.)
1.0 grupo: o fiexor ulnar do carpo (1) é:
-
flexor do punho (localizado para diante do eixo AA') e
-
adutor (localizado para dentro do eixo
BB'), mas em menor grau que o extensor
ulnar do carpo. Exemplo de flexão-adução: mão esquerda tocando o violino.
-
I
-
extensóres do punho (localizados por trás
do eixo AA');
-
abdutores do punho (localizados por fora
do eixo BB').
Pela sua situação com relação aos dois eixos
da rádio-carpeana, nenhuma ação dos músculos
motores do punho é pura, o qual significa que para obter uma ação pura será sempre necessária a
ação simultânea de dois grupos para anular um
componente: este é um exemplo de relação antagonismo-sinergia muscular.
-
Flexão (a): 1.0 (flexor ulnar do carpo) e 3.°
grupos (palmares);
-
Extensão (b): 2.° (extensor ulnar do carpo)
e 4.° grupos (radiais);
-Adução
(c): 1.°(flexorulnar do carpo) e 2.°
grupos (extensor ulnar do carpo);
-Abdução
(d): 3.° (palmares) e 4.° grupos
(radiais).
Na verdade, estas ações estão mais matizadas. As experiências de excitação elétrica de Duchenne de Boulogne (1867) demonstraram que:
2.° grupo: o extensor ulnar do carpo (6) é:
-
abdutores (localizados por fora do eixo
BB').
4.° grupo: os extensores radiais do carpo, o
longo (4) e o curto (5), são:
- - o do extensor próprio do polegar;
- o dos dois extensores radiais;
-
flexores do punho (localizados pela frente
do eixo AA');
extensor do punho (localizado por trás
do eixo AA');
adutor (localizado por dentro do eixo
BB').
--------------
-
só o extensor radial longo (4) é extensorabdutor; o extensor radial curto é diretamente extensor, daí vem a sua importância fisiológica;
-
palmar menor é diretamente flexor; o palmar maior é também diretamente flexor; e
também flexiona o segundo metacarpeano
sobre o camo de maneira que prona a mão.
Portanto, o palmar maior excitado de maneira isolada não é abdutor, e se se contrai durante a desvio radial, é para contrabalançar o componente extensor do radial
longo, principal motor da abdução.
-
---
---------
1. MEMBRO SUPERIOR
4
Fig.4-70
r
171
172 FISIOLOGIA ARTICl.JLAR
AÇÃO DOS MÚSCULOS MOTORES DO PUNHO
(continuação)
-
Os músculos motores dos dedos não podem mover o punho se não for em determinadas condições:
Os flexores dos dedos, flexores comuns
profundos (7), flexores comuns superficiais (12) e o flexor longo próprio do polegar (13) só são flexores do punho se a
flexão dos dedos se detém antes do que
o trajeto dos tendões se esgote: por
exemplo, se a mão segura um objeto volumoso, como uma garrafa, a flexão do
punho pode ser ajudada com a flexão
dos dedos.
Assim sendo, os extensores dos dedos,
os extensores curtos (8), o extensor próprio do dedo mínimo (14) e o extensor
próprio do dedo indicador (15) participam na extensão do punho quando a
mão está fechada.
-
-
-
O abdutor longo (9) e o extensor curto
do polegar (10) se converiem em abdutores do punho se a sua ação não é contrabalançada pela do extensor ulnar do
carpo. Se o extensor ulnar do carpo se
contrai simultaneamente, a abdução isolada do polegar se realiza por ação do
abdutor longo. De modo que a ação sinérgica do extensor ulnar do carpo é indispensável para a abdução do polegar.
Neste caso, podemos inclusive afirmar
que o extensor ulnar do carpo estabiliza
o punho.
O extensor longo do polegar (11), que
realiza uma extensão e uma retropulsão
do polegar, pode acarretar uma abdução
e uma extensão do punho se o flexor ulnar do carpo está distendido.
Outro estabilizador do punho, o extensor radial longo do carpo (4), é imprescindível para manter uma posição correta da mão: a sua paralisia provoca um
desvio ulnar pemwnente.
A ação sinérgica e estabilizadora
músculos do punho (fig. 4-72):
dos
-
os músculos extensores do punho são
sinérgicos dos flexores dos dedos (a):
ao estender o punho, os dedos se flexionam automaticamente, para estender os
dedos nesta posição, é necessária uma
ação voluntária.
Além disso, nesta posição de extensão
do punho, os flexores possuem a sua máxima eficácia, porque os tendões flexores são relativamente mais curtos que na
posição de alinhamento do punho e, conseqüentemente, em flexão do punho: a
força dos fiexores dos dedos, medida com
o dinamômetro é, em fiexão do punho, a
quarta parte da que desenvolvem em extensão.
-
os músculos flexores do punho são sinérgicos dos extensores dos dedos (b):
quando se flexiona o punho, a extensão
da primeira falange dos dedos é automática; é necessária uma ação voluntária para flexionar os dedos sobre a palma da mão e esta flexão carece de força. Assim sendo, a tensão dos flexores
dos dedos limita a flexão do punho; é
suficiente estender os dedos para que a
flexão do punho aumente 10°.
Este delicado equilíbrio muscular podese alterar com facilidade: a deformação
de uma fratura de Pouteau-Colles sem
reduzir não só determina uma mudança
de orientação da glenóide antebraquial,
mas também provoca um alongamento
relativo dos extensores do punho, de modo que repercute na eficácia dos flexores
dos dedos.
A posição funcional de punho (fig. 4-73)
se corresponde com a máxima eficácia dos músculos motores dos dedos, e sobretudo, dos flexores. Esta posição funcional é definida como:
- leve extensão do punho, de 40-45°;
-leve
adução (desvio u1nar), de 15°.
Nesta posição do punho é que a mão se
adapta melhor para realizar apreensão.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.4-72
Fig.4-73
I .
173
174 FISIOLOGIA ARTICULAR
A SUA FUNÇAO
A mão do homem é uma ferramenta maravilhosa, capaz de executar inumeráveis acões
graças à sua função principal: a preensão. E "o
instrumento dos instrumentos" como disse Aristóteles.
Está dotada de uma grande riqueza funcional que lhe proporciona uma superabundância
de possibilidades nas posições, nos movimentos
e nas ações.
Esta função de preensão pode-se encontrar
desde a pinça do caranguejo à mão do símio,
mas em nenhum outro ser, que não seja o homem, alcança este grau de perfeição. Isto se deve à posição peculiar que apresenta o polegar de
poder opor-se a todos os outros dedos. Em macacos avançados, o polegar é oponente, mas a
amplitude desta oposição jamais alcança a do
polegar humano.
Ao mesmo tempo, a ausência de especialização da mão do homem é um fator de adaptabilidade e de criatividade.
Do ponto de vista fisiológico, a mão representa a "extremidade realizadora" do membro
superior que constitui o seu suporte e lhe permi-
te adotar a posição mais favorável para uma
ação determinada. Porém, a mão não é unicamente um órgão de execução, também é um receptor funcional extremamente sensível e preciso, cujos dados são imprescindíveis para a sua
própria ação. Por último, graças ao conhecimento da espessura e das distâncias que lhe
proporciona o córtex cerebral, a mão é a educadora da visão, permitindo-lhe controlar e interpretar as informações: sem ela a nossa visão do
mundo seria plana e sem relevo. Ela constitui a
base deste sentido tão específico que é a estereognosia, conhecimento do relevo, da forma, da
espessura, em resumo, do espaço. Também é a
educadora do cérebro devido às noções de superfície, peso e temperatura. É capaz, por si
mesma, de reconhecer um objeto, sem sequer recorrer à vista.
I
Portanto, a mão constitui junto com o cérebro um par funcional indissociável, onde cada
termo reage logicamente sobre o outro, e é graçasà proximidade desta inter-relação que o homem pode modificar a natureza segundo os seus
desígnios e ser superior a todas as espécies terrestres viventes.
------~-----------~--------~-
---------
1. MEMBRO SUPERIOR
175
176 FISIOLOGIA ARTICULAR
TOPOGRAFIA DA MÃO
Podemos estudar a topografia das duas superfícies
da mão: a palmar e a dorsal.
A superfície palmar (fig. 5-1), ou anterior da mão,
consta de duas partes possíveis de descrever: a palma e
a superfície palmar dos dedos.
Assim sendo, a palma da mão inclui três partes:
-
-
-
no centro, a palma propriamente dita (1), o
"oco" da mão, que corresponde à cela palmar
média com os tendões flexores, os vasos e os
nervos, limitada por duas pregas transversais:
a prega palmar inferior (2), que se corresponde com as três últimas articulações metacarpofalangeanas e a prega palmar média (3),
que corresponde, por fora, com a metacarpofalangeana do dedo indicador;
por fora, uma zona especialmente convexa, carnosa, contígua à base do polegar, a eminência
tenar (4), limitada por dentro pela prega palmar
superior (5), também denominada prega de oposição do polegar, inclui os músculos tenares que
são motores intrínsecos do polegar; na sua porção superior, a palpação indica a proeminência
óssea dura do tubérculo do escafóide (1);
por dentro, a eminência hipotenar (7), menos
proeminente que a anterior, inclui os músculos
hipotenares, que são motores intrínsecos do
dedo mínimo: a palpação permite localizar na
sua parte superior a proeminência dura do pisiforme (8), lugar de inserção da corda tendínea
do ulnar anterior.
Acima da palma, o punho se corresponde com o
maciço do carpo, a articulação rádio-carpeana no nível
da prega de fiexão do punho (9), sobre o qual finalizam
perpendicularmente o tendão do palmar maior (10); que
limita por dentro o canal do pulso (11), o ligamento anular anterior do carpo que forma um septo transversal
nesta zona e a porção superior da palma.
A supeifície palmar dos dedos tem origem na prega dígito-palmar (12) localizada de 10 a 15 mm abaixo
da metacarpofalangeana. Os quatro últimos dedos estão
separados entre si pela segunda, terceira e quarta comissuras (13), menos profundas que na superfície dorsal. A
prega defiexão da inteifalangena proximal (14) é dupla
e se situa um pouco acima da sua articulação; separa a
primeirafalange (15) da segunda (16); a prega de fiexão
da inteifalangeana distal é simples (17), também localizada um pouco acima da sua articulação; constitui o limite superior da polpa do dedo (18), superfície anterior
da terceira falange. O polegar, situado na base do lado
externo da mão está separado pela primeira comissura
(19), ampla e profunda; está unido à eminência tenar
mediante duas pregas de fiexão do polegar com a palma
(20) que estão ao redor da sua metacarpofalangeana; a
primeirafalange (21) está separada da polpa do polegar
(22), superfície anterior da segunda falange, pela prega
da inteifalangeana (23) localizada um pouco acima da
sua articulação.
A superfície dorsal (fig. 5-2), ou posterior da
mão, também compreende duas regiões, a superfície
dorsal da mão e a dos dedos.
A supeifície dorsal da mão, coberta com uma pele
fina e móvel, percorrida pela rede venosa que drena todo
o sangue da mão e dos dedos, elevada pelos tendões extensores (24), está limitada por baixo por três eminências
duras e arredondadas, qu·e correspondem às cabeças dos
metacarpeanos (25), e pelas três comissuras interdigitais
(26) profundamente marcadas na superfície dorsal.
Por dentro, o bordo ulnar da mão (27) está acolchoado pelo adutor do dedo mínimo.
Por fora (fig. 5-3), se localizam a primeira comissura (19) e a tabaqueira anatômica (28); esta última ligeiramente côncava, situada na união do punho com o
polegar, está limitada pelos tendões do abdutor longo
adosado ao do extensor curto (29) e pelo do extenso r
longo do polegar (30); no fundo da tabaqueira anatômica se situam de cima para baixo o processo estilóide radial, a articulação trapézio-metacarpeana (31) e a artéria radial; os tendões convergem sobre a superfície dorsal do primeiro metacarpeano (32) no nível da metacarpofalangeana do polegar (33).
Na parte interna da superfície dorsal do punho aparece, só na pronação, a proeminência dura e arredondada da cabeça ulnar (34).
A superfície dorsal dos dedos está indicada pelas
pregas de extensão da inteifalangeana proximal (35)
que correspondem à sua articulação. A última e terceira
falange contém a unha, inserida no limbo periungueal
(37). A zona situada entre a unha e as pregas da interfalangeana distal cobre a matriz ungueal (38).
A topografia funcional (fig. 5-4) permite ~ividir a
mão em três partes dependendo da sua utilização:
O polegar (I) que representa por si mesmo quase
todas as funções da mão, graças à sua propriedade de
oposição em relação aos outros dedos;
O dedo indicador e o médio (lI) que constituem
junto com o polegar as preensões de precisão, as pinças
do polegar com os dedos, bidigitais ou tridigitais;
O anular e o dedo mínimo (III) que, com o resto da mão, são indispensáveis para as preensões palmares, porque bloqueiam as preensões dos cabos das ferramentas pelo lado ulnar, mantendo, dessa forma, a firmeza do punho.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-1
Fig.5-4
Fig.5-2
177
178 FISIOLOGIA
ARTICULAR
ARQUITETURA DA MÃO
Para pegar objetos a mão deve adaptar a
• arco do dedo indicador OD2 (fig. 5-8)
sua forma.
Numa superfície plana, um vidro por
exemplo (fig. 5-5), a mão se estende e se aplaina, entrando em contato (fig. 5-6) com a eminência tenar (1), a eminência hipotenar (2), a cabeça
dos metacarpeanos (3) e a superfície palmar das
falanges (4). Só a parte inferior-externa da palma
permanece à distância.
que é o que se opõe com maior fre·
qüência ao do polegar;
-
• o mais importante destes arcos oblíquos une é opõe o polegar e o dedo indicador: D1-D2 (fig. 5-8);
• mais extremo dos arcos de oposição
passa pelo polegar e o dedo mínimo:
D -D s (figs. 5-7 ' 5-8 e 5-9) .
Quando desejamos pegar um objeto volumoso, a mão se escava e se formam uns arcos
orientados em três direções:
-
-
no sentido transversal (fig. 5-7): o arco
do carpo XOY que corresponde à concavidade do maciço do carpo. Prolonga-se
para baixo mediante o arco metacarpeaDO, no qual se alinham as cabeças metacarpeanas. O eixo longitudinal do canal
do carpo passa pelo semilunar, o osso capitato e o terceiro metacarpo;
no sentido longitudinal (figs. 5-7 e 5-8):
os arcos carpometacarpofalangeanos
que assumem uma posição radiada do
maciço do carpo e estão constituídos, em
cada dedo, pelo metacarpeano e as falanges correspondentes. A concavidade destes arcos se orienta para a frente da palma
e a chave da abóbada se localiza na articulação metacarpofalangeana:
um desequilíbrio muscular neste ponto provoca
uma ruptura da curva (ver figo 5-98, b,
pág. 215). Os dois arcos longitudinais
mais importantes são:
• arco do dedo médio OD3 (fig. 5-7), arco
axial, porque prolonga o eixo do canal
do carpo, e especialmente
no sentido oblíquo (figs. 5-7, 5-8 e 5-9).
os arcos de oposição do polegar com
os outros quatro dedos:
1
Em conjunto, quando a mão se "escava",
forma um canal de concavidade anterior, cujas
margens estão limitadas por três pontos:
-
o polegar (D), que constitui por si mesmo a superfície externa;
-
o dedo indicador (D 2) e o dedo mínimo
(Ds)' que limitam a superfície interna.
Os quatro arcos oblíquos de oposição se
localizam entre ambas as superfícies.
A direção geral, oblíqua, deste canal palmar - representado pela seta enorme que mantém a mão (figs. 5-8 e 5-9) - está cruzada com relação aos arcos de oposição: se localiza em uma
linha que se estende da base da eminência hipotenar (X) (fig. 5-7) - onde podemos palpar o pisiforme - à cabeça do segundo metacarpo (2)
(fig. 5-7). Esta direção se obtém, na palma da
mão, pela parte média da prega de oposição do
polegar ("linha da vida"). Também é a direção
que segue um objeto cilíndrico segurado com toda a mão, como por exemplo o cabo de um instrumento.
1. MEMBRO SUPERIOR 179
2
Fig.5-7
Fig.5-9
Fig.5-6
180 FISIOLOGIA
ARTICULAR
ARQUITETURA DA MÃO
(continuação)
Quando os dedos se separam, vollmtariamente (fig. 5-10), o eixo de cada um deles converge com a base da eminência tenar, num ponto
que cOlTesponde aproximadamente ao tubérculo
do escafóide, fácil de palpar. Na mão, os movimentos dos dedos no plano frontal normalmente
não se realizam com relação ao plano de simetria
do corpo (movimentos de adução-abdução), mas
sim em relação ao eixo da mão, constituído pelo
terceiro metacarpeano e o dedo médio; assim
sendo nos referimos aos movimentos de separação (fig. 5-10) e de aproximação (fig. 5-12) dos
dedos. Durante estes movimentos, o dedo médio
permanece praticamente imóvel. Porém, é possível que realize movimentos voluntários para fora
(verdadeira abdução, em relação ao plano de simetria) e para dentro (autêntica adução).
Quando se aproximam voluntariamente os
dedos uns dos outros (fig. 5-12), os eixos dos dedos não são paralelos, mas convergem num ponto bastante afastado, que se localiza fora da extremidade da mão. Isto se deve ao fato de que os
dedos não são cilíndricos, sendo de calibre decrescente da base até a ponta.
Quando permitimos que os dedos assumam uma posição natural (fig. 5-11) - posição a partir da qual podemos realizar os movimentos de separação ou aproximação - ficam
ligeiramente afastados entre si, mas os seus eixos não convergem todos num único ponto. No
exemplo que se expõe, existe um paralelismo
entre os três últimos dedos e uma divergência
entre os três primeiros, sempre considerando
que o médio constitui o eixo da mão e serve de
zona de transição.
Quando fechamos a mão com as articulações interfalangeanas distais estendidas (fig.
5-13), os eixos das duas últimas falanges dos
quatro últimos dedos e o eixo do polegar, menos a sua última falange, convergem num
ponto situado na parte inferior do canal do pulso. Observe-se que desta vez, o eixo longitudinal é o do dedo indicador, enquanto os eixos
dos três últimos dedos são mais oblíquos
quanto mais se afastam do dedo indicador.
Mais adiante poderemos ver (pág. 198) a utilidade e o motivo desta flexão oblíqua dos
dedos.
1. ':'IEMBRO SUPERIOR
\.' ''-. ~
\ \ -~
Fig.5-13
\ Fig.5-10
Fig.5-11
Fig.5-12
181
182 FISIOLOGIA ARTICULAR
o MACIÇO
o maciço do carpo constitui um corredor
de concavidade anteri07; convertida em canal
pelo ligamento anular anterior do carpo, que se
estende de lado a lado do corredor.
Esta disposição em forma de sulco ou canal
pode ser apreciada com bastante evidência
quando observamos o esqueleto da mão, com o
punho em hiperextensão (fig. 5-14). Nesta posição, a direção do olhar se encontra exatamente
no eixo do canal do carpo, cujas margens podemos distinguir facilmente:
- por fora: o tubérculo do escafóide (1) e
a crista do trapézio;
- por dentro: o pisiforme (3) e o processo
unciforme do osso hamato (4) (estas
anotações levam a mesma numeração
nas figuras seguintes).
Uma radiografia especial permite tanto observar o mesmo aspecto em sulco quanto encontrar as mesmas referências.
Dois cortes horizontais confirmam esta forma em sulco:
-
-
o primeiro (fig. 5-15) passa pela fileira
sllperi07; nível A (fig. 5-13): se distinguem, de fora para dentro, o escafóide
(1), a cabeça do osso capitato (5), limitada pelos dois comas do semilunar, o
piramidal (7) e o pisiforme (3);
o segundo (fig. 5-16) passa pela fileira
inferior, nível B (fig. 5-13): de fora para
dentro se localizam o trapézio (2), o trapezóide (6), o osso capitato (5) e o osso
hamato (4).
Nestes dois cortes, o ligamento anular anterior do carpo está representado por uma linha
tracejada.
Durante os movimentos de "escavação da
palma da mão", a concavidade do túnel do car-
DO CARPO
po se aumenta ligeiramente graças aos pequenos
movimentos de deslizamento nas artródias que
se localizam entre os diferentes ossos do carpo.
A cavidade glenóide do escafóide se desliza sobre a convexidade da cabeça do osso capitato
num movimento de "parafuso" para baixo e para frente; o piramidal e o osso ):1amatose deslocam simetricamente para frente, e especialmente o trapezóide e o trapézio se deslizam sobre as
duas superfícies articulares inferiores do escafóide: o trapézio, em particular, percorre para
frente e para dentro da superfície articular de
forma cilíndrica que se estende até a superfície
inferior do tubérculo do escafóide. Os motores
destes movimentos são os músculos tenares (seta X) e hipotenares (seta Y) cujas inserções superiores provocam a tensão do ligamento anular
(fig. 5-16), de modo que os dois lados se aproximam (representação em pontilhado).
No sentido longitudinal, podemos considerar que o maciço do carpo (fig. 5-17) está constituído por três colunas (fig. 5-18):
-
-
-
a coluna externa (a) (traços verticais):
a mais importante, por se tratar da coluna do polegar de Destot. Está constituída pelo escafóide, o trapézio e o primeiro metacarpo;
a coluna média (b) (traços oblíquos):
constituída pelo semilunar, o osso capitato e o terceiro metacarpo, e forma,
como mencionado anteriormente, o eixo da mão;
a coluna interna (c) (traços horizontais): desemboca nos dois últimos dedos. Está constituída pelo pir~midal e o
osso hamato, que se articula com o
quarto e o quinto metacarpeanos. O pisiforme se desloca pela frente do piramidal, de modo que não intervém na
transmissão de forças.
1. MEMBRO SUPERIOR
3
Fig.5-16
~A
Fig.5-17
I
3
183
184 FISIOLOGIAARTICliLAR
A ESCAVAÇÃO PALMAR
A escavação da palma se deve principalmente aos movimentos dos quatro últimos metacarpeanos (por enquanto se exclui o primeiro
metacarpeano) em relação ao carpo. Estes movimentos, realizados nas articulações carpometacarpeanas, consistem em movimentos de flexão-extensão de escassa amplitude, como
acontece com todas as artródias. Porém, dita
amplitude vai aumentando do segundo ao quinto metacarpo:
-
quando a mão está plana, as cabeças
dos quatro últimos metacarpeanos estão alinhadas numa mesma reta AB
(fig. 5-20: mão "em pé");
-
quando se torna "oca", a cabeça dos três
últimos metacarpeanos "vão para frente" (fig. 5-19), quanto mais se aproxima
do quinto metacarpeano. Assim as cabeças dos metacarpeanos se dispõem ao
longo de uma linha curvaA'B (fig. 5-20):
o arco transversal metacarpeano.
tá claramente oblíquo em relação ao
plano frontal (traço preto): está oblíquo
de fora para dentro e de trás para diante.
Qualquer movimento de flexão ao redor
deste eixo desloca, logicamente, a cabeça do quinto metacarpeano para frente e
para fora (direção da seta branca);
2) o eixo XX' desta articulação não é estritamente~perpendicular ao eixo diafisário
OA do quinto metacarpeano, mas forma
um ângulo XOA um pouco menor que o
ângulo reto (fig. 5-18). Esta disposição
também contribui para deslocar a cabeça
do quinto metacarpo para fora, pelo mecanismo de rotação cônica:
-
quando um segmento OA (fig. 5-23) gira ao redor de um eixo perpendicular
YY', o ponto A descreve um círculo de
centro 0, incluído no plano P perpendicular ao eixo YY' (rotação plana);
-
após certo grau de rotação, o ponto A se
situa em A';
-
se este segmento OA gira ao redor de
um eixo XX' não perpendicular, já não
descreve um círculo, e sim um cone de
vértice 0, tangencial ao plano P em relação ao segmento OA. Após o mesmo
grau de rotação, o ponto A se localiza
num ponto A' da base do cone (rotação
cônica), e este ponto A' se situa, em relação ao plano P, do mesmo lado que o
ângulo agudo que formam o eixo XX' e
o segmento OA.
É necessário salientar duas observações:
a) a cabeça do segundo metacarpeano B
quase não avança: os movimentos de fiexão-extensão na articulação trapez.óidesegundo metacarpeano são, praticamente, inexistentes;
b) a cabeça do quinto metacarpeano A, dotada do movimento mais amplo, se desloca não somente para frente, mas também
ligeiramente para fora, até a posição A' .
Isto conduz ao estudo da articulação osso
hamato-quinto metacarpeano:
Trata-se de uma artródia (fig. 5-22) cujassuperfícies são ligeiramente cilíndricas e cujo eixo
XX' apresenta uma dupla obliqüidade. Esta dupla
obliqüidade explica os deslocamentos da cabeça
do metacarpeano no sentido lateral externo.
I) quando se observa a superfície inferior
do maciço do carpo (fig. 5-21), o eixo
XX' da superfície articular interna (indicado com uma cruz) do osso hamato es-
Se transportarmos esta demonstração geo~
métrica ao esquema da articulação (fig. 5-22), entendermos que a cabeça do metacarpeano sai do
plano sagital para situar-se ligeiramente para fora.
Este movimento do quinto metacarpo para
frente e para fora ao mesmo tempo que realiza
uma ligeira supinação por rotação longitudinal
automática pode ser semelhante a uma oposição
em direção ao polegar, participando na oposição
simétrica do quinto dedo.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-20
XI
Fig.5-19
Fig.5-21
~XI
XI
X
Fig.5-22
185
186 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS
As articulações metacarpofalangeanas
de tipo condilar (fig. 5-24).
são
limitando
em
mento da flexão-extensão é possível graças à
ponta arredondada posterior (4) e anterior (5) da
cápsula. A profImdidade da ponta arredondada
anterior é indispensável para o deslizamento da
fibrocartilagem gle.nóide. Na parte posterior da
base falangeana, se insere a lingüeta profunda
(6) do tendão extensor.
Possuem dois graus de liberdade:
- fiexão-extensão,
no plano sagital,
tomo do eixo transversal yy';
- desvio lateral, no plano frontal, em torno do eixo ântero-posterior
xx'.
A cabeça do metacarpeano possui uma
superfície articular A, o côndilo, convexa em
ambos os sentidos e mais extensa e larga pela
frente que por trás.
A base da primeira falange está "escavada" por uma superfície B, a cavidade glenóide,
côncava em ambos os sentidos, de menor superfície que a cabeça do metacarpeano. Prolonga-se
pela frente mediante uma superfície de "apoio":
afibrocartilagem glenóide (2), pequena lingüeta
fibrosa inserida no bordo anterior da base falangeana, com uma pequena
serve de charneira.
incisura
(3) que lhe
De fato (fig. 5-25), na extensão (a), a superfície profunda e cartilaginosa da fibrocartilagem
se encontra em contato com a cabeça do metacarpo. Enquanto na flexão (b), a fibrocartilagem
ultrapassa a cabeça e, pivotando em tomo da
sua chameira, desliza sobre a superfície anterior
do metacarpeano, o que é possível graças à sua
flexibilidade. A fibrocartilagem
permite conciliar dois imperativos aparentemente contraditórios: uma superfície de máximo contato entre as
duas extremidades ósseas e a ausência de pico,
o movimento.
A liberdade
A cada lado da articulação
de movi-
se estendem
dois tipos de ligamentos:
-
um ligamento metacarpoglenóide (ver
mais adiante) que controla os movimentos da fibrocartilagem glenóide;
-
um ligamento lateral, mostrado num
corte (1) da figura 5-24. Os dois ligamentos laterais mantêm as superfícies
articulares em contato e limitam os movimentos.
Na cabeça metacarpeana (fig. 5-26, segundo Dubousset), a inserção proximal A do ligamento lateral não se situa no centro da curva articular, estando claramente por trás; por outro
lado, existe toda uma série de centros de Cllrra
que formam uma espiral, o que indica a variação
do raio de curva da cabeça metacarpeana. Deste
modo, a distância entre o ponto de inserção proximal A e o ponto de inserção distal B na primeira falange em extensão e B' em flexão passa
de 27 mm a 34 mm. Por conseguinte, o ligamento lateral se distende na extensão e está tenso na
jlexão.
1. MEMBRO SUPERlOR
X'
A
6
4
5
2
Fig. 5-25 a
3
Fig.5-24
6
Fig.5-26
187
188 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS
!
(continuação)
Assim sendo, é fácil entender (fig. 5-27,
corte frontal) que na extensão (a) a distensão dos
ligamentos laterais permite os movimentos de
lateralidade (b): um está tenso, enquanto o outro
se distende.
Por isso, a estabilização da metacarpofalangeana se mantém na flexão pelos ligamentos
laterais e na extensão pelos músculos interósseos.
Outra conseqüência importante desta consideração é que as metacarpofalangeanas
jamais devem imobilizar-se em extensão a não
ser em caso de rigidez quase impossível de recuperar: a distensão dos ligamentos laterais
permite a sua retração, algo que não pode acontecer na flexão.
A forma das cabeças metacarpeanas (figs.
5-28, 5-29, 5-30 e 5-31, cabeças dos metacarpeanos lI, IlI, IV e V do lado direito) e a longitude dos ligamentos, bem como a sua direção,
desempenham um papel essencial, por uma parte, na flexão oblíqua dos dedos (ver mais adian-
r
te) e, por outra parte, segundo R. Tubiana, no
mecanismo das inclinações ulnares durante o
seu processo reumático.
A cabeça do II metacarpeano (fig. 5-28) é
claramente as simétrica devido à sua grande superfície posterior-interna e ao seu aplainamento
externo; o ligamento lateral interno é mais grosso e mais longo que o externo cuja inserção é
mais posterior.
A cabeça do III metacarpeano (fig. 5-29)
possui uma assimetria similar à do II metacarpo.
embora menos acentuada; os seus ligamentos
possuem características idênticas.
A cabeça do IV metacarpeano (fig. 5-30) é
mais simétrica com superfícies dorsais iguais: os
ligamentos laterais são de espessura e obliqüidade idênticos, sendo o externo ligeiramente mais
longo.
A cabeça do V metacarpeano
(fig. 5-31)
possui uma assimetria inversa à do dedo indicador e à do médio; os ligamentos laterais se apresentam como os da IV cabeça.
1. MEMBRO SUPERIOR 189
Fig.5-27
Fig.5-28
Fig.5-30
Fig.5-29
Fig.5-31
190 FISIOLOGIA
ARTICULAR
o APARELHO
FIBROSO DAS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS
Os ligamentos laterais da metacarpofalangeana se integram num aparelho fibroso mais complexo que levanta e "c entra" os tendões extensores
e ftexores.
contra a cabeça de metacarpeano de modo a
manter a sua estabilidade;
-
Numa vista em perspectiva posterior, superior e
lateral da articulação (fig. 5-32), podemos observar
os seguintes tendões:
-
-
o extensor comum (1), que, na superfície
dorsal da cápsula dirige a sua expansão
profunda (a) para a base da primeira falange na qual se insere; a seguir, o tendão se
divide numafaixa média (b) e duas faixas
laterais (c), que recebem as expansões dos
interósseos (não representadas nas figuras). Pouco antes da separação da expansão profunda, podemos observar como se
desprendem das margens laterais do extensor umas faixas sagitais (d), supostamente
transparentes
nos desenhos, que atravessam as margens laterais da articulação
para inserir-se no ligamento transverso intercarpeano (4); deste modo, o tendão extensor se mantém no eixo sobre a superfície dorsal convexa da cabeça metacarpeana, no percurso da ftexão da articulação;
os flexores, o profundo (2) e o superficial
(3), se introduzem na polia metacarpeana
(5) que tem origem nafibrocartilagem glenóide (5) e se prolonga (5) sobre a superfície palmar da primeira falange: neste ponto,
o ftexor superficial se divide em suas duas
faixas (3') antes que o tendão do ftexor profundo o perfure (2).
Também podemos observar o aparelho cápsulo-ligamentar:
-
a cápsula articular (7) reforçada por:
• ligamento lateral que se insere no tubérculo lateral (8) da cabeça metacarpeana,
deslocada por trás da linha dos centros de
curva (ver antes) e se divide em três partes:
- um fascículo metacarpofalangeano (9) oblíquo para baixo e para frente em direção à base da primeira falange; mencionado anteriormente;
- o fascículo metacarpoglenóide (10), que se
dirige para frente para inserir-se nas margens
da fibrocartilagem glenóide (6) que o adapta
o fascículo falangoglenóide (11) mais fino,
que realiza a "chamada" da fibrocartilagem
glenóide durante a extensão;
• ligamento transverso intermetacarpeano (4) se insere nas margens adjacentes
das fibrocartilagens glenóides vizinhas, de
tal forma que as suas fibras se estendem de
um ládo ao outro da mão, no nível das articulações metacarpofalangeanas com as
que delinlitam túneis osteofibrosos por cujo interior passam os tendões dos interósseos (sem representação nas figuras); pela
frente do ligamento transverso se desliza o
tendão do músculo lumbrical (sem representação nas figuras).
Deste modo, a polia metacarpeana (5), que se
insere nas superfícies laterais da fibrocartilagem, fica
literalmente suspensa na cabeça metacarpeana mediante o fascículo metacarpoglenóideo e a fibrocartilagem glenóide.
Este dispositivo desempenha um papel muito
importante durante a flexão da metacarpofalangeana:
- em estado normal (fig. 5-33), a polia, cujas
fibras se '·arregaçam" distalmente, transmite
todo o "componente de decolagem" (seta) à
cabeça do metacarpeano, através do fascículo glenóide: os tendões ftexores permanecem aderidos ao esqueleto e a base falangeana fica estável;
- em estado patológico (fig. 5-34), quando os
fascículos do ligamento lateral se distendem
até destruir-se por um processo reumático, o
"componente de decolagem" (seta), provocado pela tração dos ftexores, já não se exerce sobre a cabeça do metacarpeano, mas sim
sobre a base da primeira falange que se luxa
anteriormente e para cima, de modo que provoca uma proeminência acentuada da cabeça do metacarpeano;
-
a correção de tal situação (fig. 5-35) podese conseguir, em certa medida, mediante
uma remoção da parte proximal da polia
metacarpeana, mas em detrimento da eficácia dos ftexores.
1. MEMBRO SUPERIOR
2
M
Fig.5-33
Fig.5-34
Fig.5-35
191
] 92 FISIOLOGIA ARTICULAR
o APARELHO
FIBROSO DAS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS
(continuação)
Os tendões extensores comuns (fig. 5-36)
que convergem na superfície dorsal do punho
são extremamente solicitados para dentro (setas brancas) do bordo ulnar, devido ao "ângulo
de distração" formado entre o metacarpeano e
a primeira falange, mais acentuado no caso do
dedo mínimo (14°) e do anular (13°) que no caso do dedo indicador (8°) e especialmente do
médio (4°). Unicamente a faixa sagital do extensor, situada no bordo radial, se opõe a este
componente de luxação ulnar do tendão extensor sobre a superfície dorsal convexa da cabeça do metacarpeano.
No curso de um processo reumático (fig.
5-37, vista em corte das cabeças metacarpea-
nas), as lesões degenerativas destroem não somente os ligamentos laterais (10), o que "desengancha" a placa palmar (6) ou fibrocartilagem glenóide na qual se insere a polia metacarpeana (5) que inclui os flexores profundo
(2) e superficial (3), mas também distendem
ou despegam a faixa sagital (d) do bordo radial, permitindo assim o deslocamento do tendão extensor (1) do bordo ulnar e a sua "luxação" nos "vales" intermetacarpeanos. Em condições normais, este espaço intermetacarpeano
só contêm os tendões dos interósseos (12) pela frente do ligamento intermetacarpeano (4),
enquanto o tendão do lumbrical (13) se localiza por trás.
1. MEj\1BRO SUPERIOR
Fig.5-36
Fig.5-37
193
194 FISIOLOGIA ARTICULAR
A AMPLITUDE DOS MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES
METACARPOFALANGEANAS
A amplitude da flexão (fig. 5-38) é aproximadamente de 90°; todavia, é necessário ressaltar que, embora alcance os 90° justos no caso do
dedo indicador, aumenta progressivamente até o
quinto dedo. Além disso, a flexão isolada de um
dedo (neste caso o dedo médio) está limitada pela tensão do ligamento palmar interdigital.
A amplitude da extensão ativa varia em
cada indivíduo: pode atingir de 30 a 40° (fig. 540). A extensão passiva pode atingir quase os
90° em indivíduos com uma grande lassidão ligamentar (fig. 5-41).
De todos os dedos (exceto o polegar), o
dedo indicador é o que possui (fig. 5-42) a
maior amplitude de movimento em direção lateral (30°) e, como é fácil movê-l o de forma
isolada, podemos nos referir à abdução (A) e
adução (B). O dedo indicador deve a sua denominação, índice = indicador, à esta mobilidade privilegiada.
Combinando movimentos em diferentes
graus (fig. 5-43) de abdução (A)-adução (B) e de
extensão (C)-flexão (D), o dedo indicador pode
realizar movimentos de circundução. Estes
movimentos se limitam ao interior do cone de
circundução definido pela sua base (ACBD) e o
seu vértice (articulação metacarpofalangeana).
Este cone está achatado transversalmente devido
à maior amplitude dos movimentos de flexãoextensão. O seu eixo (seta branca) representa a
posição de equiltbrio - tamb~m denominada
funcional - da articulação metacarpofalangeana
do dedo indicador.
As articulações de tipo condilar não possuem normalmente p terceiro grau de liberdade
(rotação longitudinal). É o caso das articulações
metacarpofalangeanas dos quatro últimos dedos
que não possuem rotação longitudinal ativa.
Contudo, a laxitude ligamentar permite certa amplitude de rotação axial passiva. A sua
amplitude é de 60° aproximadamente (Roud).
É necessário ressaltar que no caso do dedo
indicador, a amplitude da rotação axial passiva
interna - ou pronação - é muito maior (45°) que
a amplitude da rotação axial externa - supinação
- quase nula.
Se não possuem movimento de rotação
longitudinal ativa individualizada, as metacarpofalangeanas possuem, porém, devido à as simetria do côndilo metacarpeano e da desigualdade de tensão e de comprimento dos ligamentos laterais, um movimento de rotação longitudinal automática no sentido da supinação.
Este movimento cujo mecanismo é idêntico ao
da interfalangeana do polegar é mais acentuado
quanto mais interno seja o dedo, de modo que
é máximo no caso do dedo mínimo onde se integra no movimento de oposição simétrica ao
do polegar.
--------.
-----.--
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-40
Fig.5-38
Fig.5-42
I
Fig.5-41
Fig.5-43
195
----------~
-----
s
----------
196 FISIOLOGIA ARTICULAR
ASARTICULAÇÕESINTERFALANGEANAS
As articulações interfalangeanas são do
tipo troclear: possuem só um grau de liberdade:
-
a cabeça da falange (fig. 5-44 e figo5-45,
A) tem a forma de uma polia e possui só
um eixo XX', transversal, em tomo do
qual se realizam os movimentos de fiexão-extensão, no plano sagital;
-
a base da falange distal (B), que lhe
corresponde (fig. 5-45), está escavada
por duas pequenas cavidades glenóides
que se encaixam sobre as duas superfícies articulares da tróclea. A crista romba que separa ambas as cavidades glenóides se aloja na garganta da polia.
Como no caso das articulações metacarpofalangeanas, e pelas mesmas razões mecânicas, existe uma fibrocartilagem
glenóide
(2) (os números cOlTespondem aos da figura
5-24).
Em fiexão (fig. 5-46), a fibrocartilagem glenóide desliza sobre a superfície anterior da falange proximal.
Em vista lateral (fig. 5-47), podemos distinguir, além dos ligamentos laterais (1), as expansões do tendão extensor (6) e os ligamentos falangoglenóides
(7).
É necessário ressaltar que os ligamentos laterais estão mais tensos na fiexão que no caso
das articulações metacarpofalangeanas: de fato
(fig. 5-45), a polia falangeana (A) se alarga notavelmente para frente, de modo que a tensão
dos ligamentos aumenta e proporciona um apoio
mais amplo para a base da falange distal. Portanto, os movimentos
no caso da fiexão.
de lateralidade
não existem
Também estão tensos durante a máxima extensão que representa uma posição de estabilidade lateral absoluta. Contudo, estão distendidos
na posição de fiexão intermédia, que jamais deye
ser uma posição de imobilização porque favoreceria a sua retração e uma rigidez posterior.
I··
Outro fator de rigidez em fiexão está constituído pela retração dos "freios da extensão".
O autores anglo-saxões recentemente decreveram estas estruturas nas articulações interfalangeanas proximais (fig. 5-48, vista palmar externa e superior de uma articulação interfalangeana
proximal) com a denominação ,de "check rein ligaments": estão constituídas por um fascículo
de fibras longitudinais (8) localizado na superfície anterior da placa palmar (2) em um e noutro
lado dos tendões fiexores profundo (11) e superficial (12), entre a 'inserção da polia da segunda
falange (10) e a da primeira (sem representação), formando o limite lateral das fibras diagonais (9) da polia da interfalangeana proximal.
Estes freios da extensão impedem a hiperextensão da interfalangeana proximal e, pela sua retração, são uma causa primordial da rigidez em
ftexão; de modo que devem remover-se cirurgicamente.
Em resumo, as interfalangeanas, especialmente as proximais, devem ser imobilizadas numa posição próxima à extensão.
A amplitude dafiexão nas articulações interfalangeanas proximais (fig. 5-49) ultrapassa os
90°: por conseguinte. F I e F_formam entre si um
ângulo agudo (neste esquema, as falanges não se
\"êm exatamente de perfil, o qual faz com que os
ângulos pareçam obtusos). Como no caso das
metacarpofalangeanas, esta amplitude de fiexão
aumenta progressivamente do segundo ao quinto dedo, para alcançar os 135° no dedo mínimo.
A amplitude da fiexão nas articulações interfalangeanas distais (fig. 5-50) é ligeiramente
inferior a 90° (o ângulo entre F2 e F3 permanece
obtuso). Como no caso anterior, esta amplitude
aumenta do segundo ao quinto dedos, para atingir os 90° no dedo mínimo.
A amplitude
da extensão ativa (fig.j-51)
nas articulações interfalangeanas é:
-
inexistente nas articulações proximais
(P);
-
inexistente ou muito pequena (5°) nas
articulações distais (D).
1. MEMBRO SUPERIOR
•
XI
Fig.5-49
Fig.5-50
Fig.5-47
Fig.5-46
11
12
8
9
1
2
7
Fig.5-45
Fig.5-48
t
P
D
197
198 FISIOLOGIA
ARTICULAR
ASARTICULAÇÕESINTERFALANGEANAS
(continuação)
Com relação à extensão passiva (fig. 552), esta é inexistente na interfalangeana proximal (P), mas bastante acentuada (30°) na interfalangeana distal (D).
As articulações interfalangeanas possuem
só um grau de liberdade, nesse caso não existem movimentos ativos de lateralidade. Se
existem alguns movimentos passivos de lateralidade no caso da interfalangeana distal
(fig. 5-53), pelo contrário, a interfalangeana
proximal é bastante estável lateralmente, o
que explica o transtorno que traz uma ruptura
de um ligamento lateral neste nível.
Um ponto importante é o plano no qual
se realiza a flexão dos quatro últimos dedos
(fig. 5-54):
- o dedo indicador se flexiona diretamente
no plano sagital (P), em direção à base
da eminência tenar (seta branca grande);
-
-
porém, vimos anteriormente (ver figo
5-13) que, na flexão dos dedos, os seus
eixos convergem num ponto situado na
parte inferior do canal do pulso. Portanto, para que isto aconteça, é necessário
que os três últimos dedos se flexionem,
não como o dedo indicador no plano sagital, mas sim numa direção mais oblíqua quanto mais interno seja o dedo;
com relação ao dedo mínimo, esta direcão, oblíqua ao máximo, está representada no esquema pela seta branca pequena.
A importância deste tipo de flexão "oblíqua" é que permite que os dedos mais internos
realizem o movimento de oposição ao polegar
do mesmo modo que o faz o dedo indicador.
Como é possível esta flexão "oblíqua"?
Um esquema simples (fig. 5-55) e um encaixe
r
(ver no final deste volume) facilitam a compreensão:
-
-
uma tira estreita de papelão (a) representa a cadeia articular de um dedo: o
metacarpeano (M) e as três falanges (FI'
F2 e F);
se a dobra, que representa o eixo de flexão de uma interfalangeana, é perpendicular (xx') ao eixo longitudinal da tira, a
falange vai se flexionar diretamente no
plano sagital (d) e vai cobrir exatamente a falange suprajacente;
-
pelo contrário, se a dobra é levemente
oblíqua para dentro (xx'), a flexão já
não se produz no plano sagital e a falange flexionada (b) desdobrará para
fora a falange suprajacente;
-
basta uma leve obliqüidade do eixo de
flexão, já que se multiplica por três
(xx', yy', zz'), para que o dedo mínimo totalmente flexionado (c), sua obliqüidade lhe permita atingir o polegar:
-
esta demonstração é válida, em graus
decrescentes, para o anular e o médio.
Na realidade, os eixos de flexão das metacarpofalangeanas e das interfalangeanas não
são fixos nem imutáveis: perpendiculares em
máxima extensão, se tornam progressivamente
oblíquos no decurso da flexão; assim, dizemos
que são evolutivos.
A evolução dos eixos de flexão das articulações dos dedos se deve à assimetria das superfícies articulares metacarpeanas (ver acima) e falangeanas e à tensão diferencial dos ligamentos laterais, como teremos ocasião de
comprovar no caso da metacarpofalangeana e
interfalangeana do polegar.
Fig.5-53
Fig.5-52
-
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Fig.5-54
I
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b
Fig.5-55
c
200 FISIOLOGIA ARTICULAR
SULCOS OU CANAIS E BAINHAS DOS TENDÕES FLEXORES
Para percorrer as porções côncavas da sua trajetória, os tendões devem estar ligados ao esqueleto mediante sulcos ou canais fibrosos, porque senão, a tensão provocaria que seguissem a corda do arco do esqueleto, de
modo que seriam ineficazes devido ao relativo alongamento em relação ao esqueleto.
Entre as duas margens do canal do carpo (fig. 556) se estende uma faixa fibrosa, o ligamento anular
anterior do carpo (1). Assim, se constitui um primeiro
sulco osteofibroso, o canal do carpo (fig. 5-57, segundo
Rouviere) pelo qual passam (seta branca) todos os tendões flexores que se dirigem do antebraço à mão.
No corte do canal do carpo (fig. 5-58), podemos
observar os dois planos dos tendões flexores superficiais
(2) e profundos (3), bem como o tendão do flexor longo
próprio do polegar (4). O tendão do palmar maior (5)
passa por um compartimento especial do canal do carpo
para inserir-se no segundo metacarpeano (fig. 5-57). O
nervo mediano (6) também passa pelo canal, onde, em
determinadas circunstâncias, pode ficar comprimido, o
qual não acontece com freqÜência no caso do nervo ulnar (7) que, acompanhado da sua artéria, passa por um
canal especial, o canal de Guyon, pela frente do ligamento anular.
Os tendões flexores estão mantidos por três polias
fibrosas em cada dedo (figs. 5-56 e 5-59): a primeira (8)
ligeiramente acima da cabeça do metacarpeano, a segunda (9) na superfície anterior da primeira falange, a terceira (10) na superfície anterior da segunda falange. Desse
modo, com a superfície anterior ligeiramente côncava
das falanges, as polias constituem (destaque na figo5-56)
autênticos canais osteofibrosos. Entre estes três canais,
os tendões estão mantidos por um sistema de fibras tanto oblíquas quanto cruzadas (11) que passam "em fanfarra", diante da articulação metacarpofalangeana e interfalangeana proximal.
As bainhas serosas permitem o deslizamento
dos tendões no interior dos sulcos, como se fossem as
bainhas dos cabos de freio.
As bainhas digitais têm a estrutura mais simples
no caso dos três dedos médios (fig. 5-60, esquema simplificado): o tendão (para simplificar só está representado um deles) está envolvido numa bainha serosa (uma
parte do qual foi removida no esquema) constituído por
duas lâminas: uma lâmina "visceral" (a) em contato
com o tendão e uma lâmina "parietal" que recobre a superfície profunda do sulco osteofibroso. Entre estas duas
lâminas se encontra uma cavidade virtual fechada (c),
porque as duas lâminas continuam uma com a outra formando dois recessos peritendinosos (d); o corte A cor-
responde a esta disposição simples. Quando o tendão se
desloca no seu sulco, a lâmina visceral, lubrificada por
uma pequena quantidade de líquido sinovial, desliza sobre a lâmina parietal (semelhante ao movimento da corrente de um trator). Se, por conseqüência da infecção de
uma bainha, as duas lâminas se aderem entre si, o tendão
já não pode deslizar pelo seu canal, fica "entalado" como se fosse um cabo de freio enferrujado: deixa de funcionar.
Em algumas zonas (corte B) vasos destinados ao
tendão deslocam arÍlbas as lâminas, de modo que constituem um "mesotendão" (e), os vincula tendinorum, espécie de septo longitudlnal que parece manter o tendão
no interior da cavidade sinovial (c). Trata-se de uma descrição bastante simplificada, principalmente com relação aos recessos (ver a descrição num tratado de anatomia).
Na palma da mão, os tendões deslizam por três
bainhas carpeanas (fig. 5-56) que são, de fora para
dentro:
-
a bainha rádio-carpeana
(13), que envolve o
tendão do flexor longo do polegar e se continua
com a bainha digital do polegar;
-
a bainha média (12), anexa ao tendão flexor
profundo do dedo indicador;
-
a bainha ulnocarpeana
(14), que desloca três
recessos para frente, para trás e entre os tendões
superficiais e profundos (fig. 5-58) e se prolonga com a bainha digital do quinto dedo.
No plano topográfico,
é importante ressaltar:
1) as pontas superiores das bainhas do carpo
ultrapassam amplamente por cima do ligamento anular, em direção ao antebraço
(fig. 5-56);
2) as bainhas digitais dos três dedos médios ascendem quase até a metade da palma e as suas pontas superiores se correspondem com a prega palmar inferior (ppi) para o terceiro e quarto dedo
e com a prega palmar média (ppm) para o segundo (fig. 5-56),
3) as pregas palmares (setas pretas) de flexão dos
dedos (fig. 5-59) são - salvo a prega superior
- suprajacentes às articulações correspondentes; neste caso a pele entra diretamente em contato com a bainha que pode ser inoculada por
uma injeção séptica.
Observar também que as pregas dorsais (setas
brancas) são suprajacentes à sua articulação.
r
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-57
ppi
B
Fig.5-60
---.....
) J
Fig.5-59
201
202 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS-TENDÕES DOS MÚSCULOS FLEXORES LONGOS DOS DEDOS
o corpo carnoso
dos músculos flexores dos
dedos se localiza no compartimento anterior do
antebraço: portanto, se trata de músculos extrínsecos, com relação à mão. Após haver estudado o seu trajeto no punho e na palma da mão,
resta considerar de que maneira finalizam e que
ação realizam.
O músculo mais superficial - o flexor comum superficial dos dedos (sem tracejar, figo 561, a) - deve terminar antes (em F) que o músculo mais profundo - o flexor comum profundo dos
dedos (tracejado, figo5-61, a). De modo que é necessário que estes dois tendões se Cnlzem no espaço e de forma simétrica a não ser que seja introduzido um componente lateral prejudicial. A
única solução é que um dos tendões passe atra-rés do outro. Mas, qual dos dois deve perfurar o
outro? Podemos entender com facilidade que o
profundo é o que perfura o supe1jicial. Os esquemas tradicionais de anatomia (fig. 5-61) mostram
as diferentes modalidades do cruzamento:
-
o tendão superficial (b) se divide em duas
lingüetas no nível da articulação metacarpofalangeana; ditas lingüetas rodeiam as
margens do tendão profundo (c) antes de
reunir-se na articulação FoF
"
1 para se inserir nas superfícies laterais de F2• Isto fica
claro nos cortes e na vista em perspectiva
(fig. 5-62), na qual podemos observar
também os mesotendões (ver figo5-60).
Estes vincula tendinorum asseguram a vascularização dos tendões, segundo Lundborg e
cols., conforme dois sistemas (fig. 5-62):
-
o sistema do flexor comum superficial,
por dois aportes:
• proximal, para a zona A, pelos microvasos longitudinais intrínsecos (1) e os
vasos da ponta proximal da bainha sinovial (2);
• distal, para a zona B, pelos vasos do
vinculum brevis (3) nas inserções das
faixas laterais da segunda falange;
Entre as duas zonas, existe um segmento
avascular (4) que se corresponde com a divisão das faixas.
I
-
o siste~ma do flexor comum profundo,
por três aportes:
• proximal, para a zona A, com os dois
tipos de vasos (5) e (6) comparáveis
aos do flexor superficial;
• intermédio, para a zona B, pelos vasos do vinculum longus (7) dependente por sua vez do vinculum brevis do
flexor superficial;
• distal, para a zona C, pelos vasos do
vinculum brevis, que se insere na terceira falange (8).
No caso do flexor profundo, existem três
zonas avasculares:
-
um segmento (9) entre as zonas A e B;
-
um outro segmento (10) entre as zonas
B e C;
-
e por último, no nível da "terra de ninguém", na frente da interfalangeana
proximal, urna zona periférica (11) de
um milímetro de espessura, ou seja a
quarta parte do diâmetro do tendão.
O conhecimento desses sistemas de vascularização tendinosa é indispensável para o
cirurgião da mão, se ele não quiser comprometer ou destruir os aportes vasculares necessários para o bom trofismo dos tendões. Além
disso, as zonas avasculares têm o maior risco
de desco1amento das suturas.
1. MEMBRO SUPERIOR
a
b
Fig.5-61
Fig.5-62
c
203
204 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS TENDÕES DOS MÚSCULOSFLEXORES
LONGOS DOS DEDOS
(continuação)
tração do extensor comum (antagonis-
Poderíamos
conceber
uma disposição
mais simples na qual os tendões não deveriam
se cruzar (o tendão que termina em Fo seria
profundo e o que se insere em F3 seria süperficial) de modo que seria útil perguntar: qual é a
necessidade mecânica deste cruzamento tão
complicado? Sem cair na posição finalista, é
conveniente assinalar (fig. 5-63) que permanecendo superficial quase até a sua terminação o
tendão flexor da segunda falange forma com
esta um ângulo de tração ou ângulo de aproximação. maior que se estivesse em contato com
o esqueleto; isto aumenta a sua eficácia e podemos dar uma explicação lógica ao fato de que o
tendão superficial e não o profundo é o que é
perfurado.
A ação destes dois músculos se pode deduzir pela sua inserção:
-
o flexor comum superficial dos dedos
(fig. 5-63) que se insere, como foi comprovado anteriormente, na segunda falange, é fiexor da segunda falange:
• naturalmente, está privado de ação sobre a terceira falange;
• é pouco flexor da primeira falange e inclusive é necessário que a segunda esteja completamente flexionada;
• a sua eficácia é máxima quando a pri-
meira falange está estendida pela con-
I
-
mo-sinergia) ,
• seu ângulo de aproximação, e portanto
a sua eficácia, aumenta progressivamente à medida que F2 se flexiona.
-
flexor comum profundo dos dedos (fig.
5-64); que se insere na base da terceira
falange, é antes de tudo flexor da terceira
falange:
• mas esta flexão de F3 se associa rapidamente com a flexão de Fo, porque não
existe extensor seletivo de Fo capaz de
realizar a oposição a esta flexão. Para
explorar a força do flexor profundo é
necessário manter manualmente F2 em
extensão;
• quando FI e F2 se colocam manualmente em flexão de 900, o flexor profundo
é incapaz de flexionar F3: fica distendido demais e, portanto, é ineficaz;
• a sua eficácia é máxima quando a pri-
meira falange se mantém em extensão
por contração do extenso r comum (antagonismo-sinergia)
.
Apesar dessas limitações, se pode demonstrar a importante função do flexor profundo. Os
extensores radiais longo e curto do carpo (Rs)e o
extensor comum (EC) são sinérgicos dos fiexores
(fig. 5-65).
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-63
EC
EC
Fig.5-64
~EC
Rs
Fig.5-65
•
205
206 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS TENDÕES DOS MÚSCULOS EXTENSORES DOS DEDOS
Os músculos extensores dos dedos também
são músculos extrínsecos. Percorrem os sulcos,
mas como o seu trajeto é, em conjunto, convexo,
são menos numerosos. Só existem no punho,
único ponto onde o trajeto dos tendões se transforma em côncavo durante a extensão. Neste caso, o sulco osteofibroso está constituído pela
porção inferior dos dois ossos do antebraço e pelo ligamento anular posterior do carpo (fig. 566). Este sulco, por sua vez, está subdividido
em seis túneis por septos fibrosos que se estendem da superfície profunda do ligamento anular
ao esqueleto. Podemos observar, de dentro para
fora (de esquerda à direita no esquema), os túneIS:
da cápsula da metacarpofalangeana, para inserirse junto com a cápsula na base de FI: em uma
vista dorsal (a), um segmento de tendão removido deixa ver esta expansão profunda (1).
Pelo contrário, a ação sobre a segunda
falange - através da lingüeta média (2)- e sobre a terceira falange - através das duas lingüetas laterais (3) - depende do grau de tensão
do tendão e, por conseguinte, da posição do
punho (fig. 5-69), e também do grau de fiexão da metacarpofalangeana:
- só é relevante quando o punho está flexionado (A);
-
é parcial e incompleta em posição de
alinhamento (B);
-
é inexistente quando o punho está estendido (C).
1) do extensor ulnar do carpo;
2) do extensor do dedo mínimo cujo tendão
se une mais abaixo com o do extensor comum destinado também ao quinto dedo;
3) dos quatro tendões do extensor comum,
acompanhado em profundidade pelo
tendão do extensor próprio do dedo indicador, que se une um pouco mais abaixo
do tendão do extensor comum destinado
ao dedo indicador;
4) do extensor longo próprio do polegar;
5) dos extensores radiais longo e curto do
carpo;
6) do extensor próprio curto do polegar e
do abdutor longo do polegar.
Nestes sulcos osteofibrosos, os tendões expostos estão envolvidos por bainhas serosas
(fig. 5-67) que passam por cima do ligamento
anular dorsal e se estendem bastante abaixo sobre a superfície dorsal da mão.
Do ponto de vista fisiológico, o extenso r
comum dos dedos é, principalmente, o extensor da primeira falange sobre o metacarpeano.
Esta ação se manifesta com força e evidência, seja qual for a posição do punho (fig. 5-69).
Transmite-se à primeira falange pela expansão
profunda (1), longa de 10 a 12 mm, que se descola da superfície profunda do tendão, diferente
De fato, a ação do extensor comum sobre
as duas últimas falanges depende do grau de tensão dos flexores:
-
se os tendões estão tensos devido à extensão do punho ou da metacarpofalangeana, o extensor comum é incapaz, por si
só, de estender as duas últimas falanges;
-
se, pelo contrário, os tendões estão distendidos devido à flexão do punho ou da
metacarpofalangeana (ou por sua secção), o extensor comum pode estender
facilmente as duas últimas falanges.
O tendão do extensor próprio do dedo indicador e o do dedo mínimo possuem a mesma
fisiologia que o tendão correspondente do extensor comum com o qual se confundem. Permitem
a extensão isolada do dedo indicador e do quinto dedo (gesto de "pôr chifres").
De maneira acessória, no caso do dedo indicador, os tendões extensores têm, segundo Duchenne de Boulogne, uma ação de lateralidade
(fig. 5-70): o extensor próprio (EP) realiza a
"adução" e o extensor comum (EC) a "abdução".
Esta ação aparece quando a flexão das duas últimas falanges e a extensão da primeira anulam a
ação dos interósseos correspondentes.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-66
Fig.5-67
-
b
a
Fig.5-68
J
Fig.5-69
EP
EC
Fig.5-70
207
----- .-----------------------------
208 FISIOLOGIA ARTICULAR
MÚSCULOS INTERÓSSEOS
Não descreveremos de novo as inserções dos interósseos; e:'.tão resumidas nas figuras 5-71, 5-72 e 573. Estas inserções não interessam se não for para esclarecer as ações musculares.
No plano fisiológico, os interósseos possuem dois
tipos de ações: ação de lateralidade e ação sobre a flexão-extensão.
E LUMBRICAIS
dão se desloca para frente e perde a sua ação de
abdução para se converter em flexor.
A sua ação sobre a flexão-extensão não pode ser
entendida sem descrever previamente a estrutura da
aponeurose dorsal do dedo (figs. 5- 74, 5-75 e 5-76):
-
após ter emitido a sua inserção (1) para o tubérculo lateral de FI' o tendão do interósseo constitui uma lâmina fibrosa que,' passando sobre a
superfície dorsal de F. vai continuar na sua homóloga cOfltralateral:' se trata da correia dos
interósseos (2). Vista pela sua superfície profunda (foram removidas as falanges), a aponeurose dorsal·(fig. 5-75) permite observar esta cOlTeia formada de uma parte relativan1ente
espessa (2) e de uma parte mais fina (2'), fibras
oblíquas que se expandem em direção às lingÜetas laterais (7) do extensor comum. A parte
espessa (2) desliza sobre a superfície dorsal de
FI e da articulação metacarpofalangeana mediante uma pequena bolsa selvsa (9), debaixo
da qual se descola a lingÜeta profunda (4) do
extensor comum;
-
uma terceira expansão do tendão do interósseo constitui uma fina lingÜeta (3) que se dirige em dois contingentes de fibras para o extensor:
Sua ação de lateralidade sobre os dedos está determinada pela inserção de uma parte do tendão terminal sobre o tubérculo lateral da base da primeirafalange (1); esta ação é tão diferente que esta inserção inclusive se cOlTesponde, às vezes, com um corpo muscular
diferente (disposição encontrada no primeiro interósseo
dorsal, segundo Winslow).
O sClllido do movimento de lateralidade está regulado pela direção do corpo muscular:
1--
-
quando se dirige em direção ao eixo da mão
(terceiro dedo) - é o caso dos interósseos dorsais (traços verticais, figs. 5-71 e 5-73) - o
músculo ordena a separação dos dedos (setas
brancas, figo 5-71).
É evidente que, se o segundo e o terceiro interósseos se contraem simultaneamente, a sua
ação de lateralidade sobre o médio se anula.
Com relação ao quinto interósseo, a separação
é realizada pelo adutor do quinto (5) (fig. 572), que equivale a um interósseo dorsal. No
polegar, a escassa separação que produz o abdutor curto do polegar (6) está compensada pela realizada pelo abdutor longo que age sobre o
primeiro metacarpeano;
-
-
• a maior parte das fibras se fundem com a lingÜeta lateral pouco antes da sua passagem pela interfalangeana proximal, para formar uma
faixa (12), que vai inserir-se sobre F, com a
sua homóloga contralateral:
'
quando se afasta do eixo da mão - é o caso dos
interósseos palmares (traços horizontais, figs.
5-72 e 5-73) - o músculo dirige a aproximação
dos dedos (setas brancas, figo 5-72);
• observar (fig. 5-76) que a faixa lateral (12)
não passa exatamente pela superfície dorsal
da interfalangeana proximal, mas sim ligeiramente sobre o lado onde está colada à cápsula por algumas fibras transversais, a expansão capsular (11):
os interósseos dorsais são mais volumosos e
portanto mais potentes que os pa1mares, o que
explica que estes últimos sejam menos eficazes
quanto à aproximação dos dedos;
-
• algumas fibras oblíquas (10) para a lingÜeta
média constituem a lâmina triangular;
os tendões dos interósseos, envolvidos em formações fibroaponeuróticas anexadas ao ligamento transverso intermetacarpeano, não podem se luxar para frente durante a flexão das
metacarpofalangeanas,
porque o ligamento
transverso, localizado na frente deles, os mantém no seu lugar. Não é o caso do primeiro interósseo dorsal que carece deste mecanismo:
quando a faixa fibrosa que o mantém seguro se
distende por um processo reumático, o seu ten-
-
os quatro lumbricais (fig. 5-77), numerados
de fora para dentro. se inserem nas margens
dos tendões fiexores profundos, principalmente na margem radial. O seu tendão (13)
se dirige para baixo e volta para dentro. Em
primeiro lugar o ligamento transverso intermetacarpeano o separa do tendão do interósseo (fig. 5-76), dando-o, assim, uma posição
mais palmar. A seguir (figs. 5-75 e 5-76), se
funde com a terceira expansão do interósseo,
mais abaixo do que a correia.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-77
Fig.5-76
Fig.5-75
Fig.5-74
209
210 FISIOLOGIA
ARTICULAR
A EXTENSÃO DOS DEDOS
A extensão dos dedos se deve à ação combinada
do extensor comum (EC), dos interósseos (Is), dos lumbricais (Ls) e também em certa medida, do flexor superficial (FCS); todos estes músculos intervêm nas ligações de sinergia-antagonismo variáveis dependendo da
posição da articulação metacarpofalangeana (MP) e do
punho. Acrescente-se a ação totalmente passiva do ligamento retinacular, que coordena a extensão das duas
últimas falanges.
O extensor comum
Já vimos anteriormente (pág. 206) que o extensor
comum não é verdadeiro extensor salvo no caso da primeirafalange (F) e que não atua sobre F2 e F3 se os flexores não estão distendidos (flexão do punho, flexão da metacarpofalangeana, secção dos flexores). Numa peça anatômica. a tração do extensor comum determina uma extensão completa da FI e incompleta de F2 e F3 (fig. 5-69, C).
O grau de tensão das diferentes inserções do extensor comum
depende praticamente da flexão das falanges:
-
a flexão isolada de F, (fig. 5-78) distende 3 rum a faixa
média e a expansão profunda; de modo que o extensor co-
-
a flexão de F, (fig. 5-79) tem duas conseqüências:
mum já não atua diretamente
-
se a metacarpofalangeana se flexiona (fig. 5-82)
por distensão do extensor comum (a) e contração
do lumbrical (sem representação na figura);
-
a correia desliza sobre o dorso de FI (b); o seu
trajeto é de 7 rnm (Sterling Bunnel);
-
a contração dos interósseos (c) atuando sobre a
correia flexiona com potênc~a a metacarpofalangeana;
-
embora, por este fato, as expansões laterais, mantidas pela correia, se distendessem (d) e a sua ação
extensora sobre FI e F2 desaparecesse, quanto
mais flexionada estiver a metacarpofalangeana;
-
contudo, neste preciso momento é quando o extensor comum é eficaz sobre FI e F2•
Portanto existe, cómo o demonstrara Sterling Bunnel, um balanço sinérgico na ação de extensão do extensor comum e dos interósseos sobre FI e F2 (fig. 5-89):
-
metacarpofalangeana flexionada 90°: ação máxima do extensor comum sobre F2 e F3; ação máxima dos lumbricais estando as faixas laterais tensas outra vez (fig. 5-84), sendo ineficazes os interósseos;
-
metacarpofalangeana
em posição intermédia:
ação complementar do extensor comum e dos interósseos;
-
metacarpofalangeana estendida: ação inexistente
do extensor comum sobre F2 e F,; ação máxima
dos interósseos estando as faixas laterais tensas
outra vez (fig. 5-81, b).
sobre F, e F,;
• distende 3 rum as faixas laterais (a) graças à "derrapagem" das faixas que deslizam em posição palmar, atraídas pela expansão capsular (fig. 5-75, 11). Durante a extensão de F, voltam à sua posição dorsal devido à elasticidade da lâmina triangular (fig. 5-75, 10);
• distende de 7 a 8 rum a expansão profunda (c) o que anula a ação direta sobre F, do extensor comum. Porém, pode estender indiretamente F, através de F" se esta última
está estabilizada em flexão pelo flexor comum superficial' que desempenha assim um papel coadjuvante do extensor comum na extensão da metacarpofalangeana
(fig.
5-80): e" e f" se anulam, e' e f" se somam e se decompõem sobre FI em A, componente axial e em B, componente de extensão, incluindo uma parte da ação do flexor
comum superficial (R. Tubiana e P. Valentin).
Os interósseos
Os interósseos são flexores de FJ e extensores de F2
e F3, mas a sua ação sobre as falanges depende do grau de
flexão da metacarpofalangeana e do estado de tensão do
extensor comum:
-
se a metacarpofalangeana está estendida (fig. 581) por contração do extensor comum;
-
se a correia se desloca (a) por cima da metacarpofalangeana em direção à superfície dorsal do
primeiro metacarpo (Sterling Bunnel);
-
deste modo, as expansões laterais podem estar
tensas (b) e produzir a extensão de FI e F2;
Os lumbricais
Flexores de FI e extensores de F2 e F3 possuem, ao
contrário dos interósseos, estas funções seja qual for a
flexão da metacarpofalangeana. São músculos extremamente importantes para os movimentos dos dedos. Devem
esta eficácia a duas disposições anatôrnicas:
- a sua localização mais palma/; pela frente do ligamento transverso intermetacarpeano, lhes outorga um ângulo de aproximação de 35° com
FI (fig. 5-83): deste modo, podem flexionar a
metacarpofalangeana inclusive se está hiperestendIda. São, assim, os "iniciadores" da flexão
de FI (flexor-starters), os interósseos atuam secundariamente sobre a correia;
-
a sua inserção distal se localiza (fig. 5-84) nas expansões laterais debaixo do nível da correia. Ao
não estar mantidos por este último, podem tensionar de novo o sistema extensor de F2 e F3seja qual
for o grau de flexão da metacarpofalangeana.
1. MEMBRO
SUPERIOR
EC
b
Fig.5-81
Fig.5-85
Fig.5-86
Fig.5-87
1------I
Ec
Fig.5-82
Fig.5-83
Fig.5-84
a
Fig.5-88
211
212 FISIOLOGIA
ARTICULAR
A EXTENSÃO DOS DEDOS
(continuação)
-
-
-
Eyler e Marquée, e Landsmeer demonstraram
que em certos indivíduos os interósseos possuem
duas porções, uma porção para a correia e outra
porção para a expansão lateral;
para Recklinghausen, os lumbricais facilitam a
extensão de F2 e F3 (fig. 5-85) produzindo a distensão da porção distal dos tendões do fiexor comUln superficial (a) nos quais se localiza a sua inserção superior (b). Graças a este sistema diagonaI, a contração dos lumbricais desloca funcionalmente a inserção teI1lÚnal do flexor comum
superficial da superfície palmar à superfície dorsal de F3' transformando-o num extensor, equivalente a um interósseo; este sistema é semelhante,
em eletrônica, a um transistor que troca a passagem da corrente num sentido ou outro dependendo do seu estado de excitação. Este "efeito transistor" conduz, graças a uma baixa potência - a
do lumbrical -, à derivação de uma forte potência - a do flexor comum profundo - para o sistema extensor;
Em caso de patologia, a retração do ligamento retinacular:
- instaura a deformação do dedo denominada "em
casa de botão", devido à ruptura da aponeurose
dorsal;
por último, os lumbricais, possuidores de numerosos receptores proprioceptivos, recolhem infOlmações essenciais para coordenar o tônus
dos extensores e dos flexores entre os quais estão tensos formando uma diagonaI.
Flexão isolada de FI: Ls (starters) + ls (antagonismo EC/Is: relaxamento EC).
O ligamento retinacular
(LR)
O ligamento retinacular (Landsmeer, 1949) está
constituído por fibras (fig. 5-86) que partem da superfície
palmar (a) de F, e se projetam (b) sobre as faixas laterais
do extensor comum e, através destas, sobre F). Todavia, é
necessário ressaltar como algo essencial o fato de que, ao
contrálio das faixas laterais do extensor comum, as fibras
do ligamento retinacular cruzam a interfalangeana proximal (IFP) pela frente do seu eixo (c), isto é, em posição
palmar. Então podemos deduzir que (fig. 5-87) a extensão da interfalangeana
proximal provoca a tensão das
fibras do ligamento retinacular e produz a extensão da
interfalangeana distal(IFD) na metade do seu recorrido,
passando de uma flexão de 80° a uma flexão de 40°. Esta
tensão do ligamento retinacular pela extensão da interfalangeana proximal é fácil de comprovar (fig. 5-88): se
seccionarmos o ligamento retinacular em B, a extensão
da F, já não se associa com a extensão automática de F3 '
enqllamo é possível observar a separação de uma distância CD (D representa a posição final de B, ponto do ligamento retinacular que gira em tomo de A, enquanto C representa a posição final de B, ponto de Fo girando em torno de O) das duas margens do ligamentõ retinacular.
Ao contrário, é possível obter, mediante uma flexão
passiva da interfalangeana distal, e estando intacto o ligamento retinacular, a flexão automática da interfaIangeana
proximal.
-
provoca a hiperextensão da interfalangeana distal
na doença de Dupuytren nO,seu terceiro grau.
Resumo das ações musculares para a flexão-extensão dos dedos
Extensão simultânea de Fj + F2 + FJ (fig. 5-89, A):
Sinergia EC + Is + Ls.
Ação passiva e automática do ligamento retinacular.
Extensão isolada de Fj: EC.
(coadjuv~nte do EC)
relaxamento dos Is
+
Flexão
F
:
FCS
)
+ Flexão F): FCP
+ Flexão F2: FCS (Id.)
+ Extensão F3: Ls + Is (esta última ação é muito
difícil).
+ Extensão F, e F, (fig. 5-89, C): Ls (extensores em
qualquer põsição da metacarpofalangeana) + balanço sinérgico EC + Is (fig. 5-89, B).
+ Flexão F,: FCS.
+ Extensão F}: Ls (ação difícil porque a ftexão das
interfalangeanas proximais distende as faixas laterais).
+ Flexão F,: FCS.
+ Flexão F3: FCP (a sua ação está facilitada pela
"derrapagem das faixas laterais devido à ftexão da
interfalangeana proximal ").
Os movimentos
tuações:
-
habituais
dos dedos ilustram as seguintes
os movimentos que se realizam
chenne de Boulogne):
durante a escritura
si(Du-
-
-
quando empurramos o lápis para frente (fig. 5-90),
o interósseo flexiona F, e estende F, e F,;
- quando conduzimos
novamente o lápis para trás
(fig. 5-91), o extensor comum estende F, e o tlexor
comum superficial tlexiona F,:
os movimentos dos dedos em gancho (fg. 5-92): o flexor comum superficial e o flexor comum profundo se
contraem e os interósseos se relaxam. Este movimento é
indispensável
para o alpinista que se agarra a uma parede rochosa vertical;
-
os movimentos dos dedos em martelo (fig. 5-93): o extensor comum intervém para estender FI enquanto o flexor comum superficial e o flexor comum profundo flexionam F, e F, . É a posição inicial dos dedos do pianista. O dedo percute a tecla por contração dos interósseos
e dos lumbricais que tlexionam a metacarpofalangeana
quando o extensor comum se relaxa.
1. i\IEMBRO SUPERIOR
Fig.5-89
-
,-----I
I
I
213
214 FISIOLOGIAARTIClJLAR
ATITUDES PATOLÓGICAS
A insuficiência ou o excesso de ação de qualquer
dos músculos que acabamos de expor pode desencadear múltiplas atitudes ,iciosas.
Entre as atitudes viciosas dos dedos (fig. 5-94),
devemos conhecer:
a) a ruptura da aponeurose dorsal, na lâmina
triangular, que se estende entre as duas faixas
laterais e cuja elasticidade é necessária para
que estas faixas voltem à posição dorsal quando a interfalangeana proximal se estenda de
novo. Neste caso. a superfície dorsal da articulação produz uma hérnia na fenda aponeurótica, e as faixas se luxam sobre as suas superfícies laterais; se mantém assim em semi-fiexão,
enquanto a interfalangeana proximal está em
hiperextensão. Esta mesma atitude denominada "em casa de botão" aparece ante uma secção do extensor na interfalangeana proximal;
b) a ruptura do tendão extenso r imediatamente anterior à sua inserção em F} provoca a fiexão de F,. que pode reduzir-se de forma passiva, mas não ativa. A flexão se deve à
tonicidade do flexor comum profundo não
compensada pelo extensor comum; a deformação se denomina "dedo em martelo" (ou
mallet finger);
c) a ruptura do tendão do extenso r longo por
cima da metacarpofalangeana se deve àfiexão da metacarpofalangeana sob a ação predominante da correia dos interósseos; esta atitude "intrínseca plus" se observa quando os
interósseos predominam sobre o extensor comum,
d) a ruptura ou a insuficiência do flexor comum superficial determina uma hiperextensão da interfalangeana proximal sob a influência predominante dos interósseos. Esta atitude
"em inversão" da interfalangeana proximal se
associa com uma ligeira flexão da interfalangeana distal devido ao encurtamento relativo
do flexor comum profundo (por hiperextensão
da interfalangeana proxirnal), daí a sua denominação de deformação "em pescoço de cisne";
e) a paralisia ou a secção do tendão do flexor
comum profundo conduz à impossibilidade
de flexionar ativamente a última falange;
DA MÃO E DOS DEDOS
f) a insuficiência
dos interósseos, implica
uma hiperextensão de M/FI sob a ação do
extensor comum e por uma fiexão acentuada
das duas últimas falanges sob a ação do flexor comum superficial e do flexor comum
profundo. Deste modo, a paralisia dos músculos intrínsecos rompe o arco longitudinal
na "chave" da sua abóbada. Esta atitude, denominada "em garra" (fig. 5-96) ou "intrínseca menos", aparece principalmente na paralisia dó nervo ulnar - que inerva os interósseos - e é a razão pela qual também se denomina garra ulnar. Acompanha-se de uma
atrofia da eminência tenar e dos espaços interósseos.
A perda dos extensores do punho e dos dedos,
com freqüência no curso de uma paralisia radial,
determina uma atitude caraterística de "mão caÍda"
(fig. 5-95) com flexão acentuada do punho e flexão
das articulações metacarpofalangeanas, estando as
duas últimas falanges estendidas pelos interósseos.
Na doença de Dupuytren (fig. 5-97), a retração das faixas pré-tendíneas da aponeurose palmar
média acarreta umafiexão irredutível dos dedos sobre a palma: flexão da metacarpofalangeana e da interfalangeana proximal e extensão da interfalangeana distal. Freqüentemente, esta atitude viciosa é
mais acentuada nos dois últimos dedos, o dedo indicador e o médio se afetam posteriormente e poucas
vezes afeta o polegar.
A doença de Volkmann (fig. 5-98) se deve à
retração isquêmica dos músculos fiexores e determina uma atitude em garra dos dedos, muito nítida na
extensão do punho (a), e menos visível na flexão (b),
que distende os flexores.
Outra atitude en garra (fig. 5-99) que se corresponde com a inflamação da bainha ulnocarpeana.
A garra é mais acentuada quanto mais interno é o dedo (atinge o seu máximo no quinto dedo). Qualquer
tentativa de reduzir esta garra resulta muito dolorosa.
Por último, a atitude em "rajada ulnar" (fig.
5-100, segundo o quadro de G. La Tour, "Briga de
mendigos") se caracteriza pelo desvio simultâneo
dos quatro últimos dedos em direção à superfície interna da mão; também podemos apreciar a proeminência anormal das cabeças metacarpeanas. Este
conjunto de deformações permite considerar o diagnóstico (retrospectivo) de poliartrite reumatóide.
1. MEMBRO SUPERIOR
~/rc
c.~
Fig.5-95
~~~
e
d
~
Fig.5-94
Fig.5-98
Fig.5-100
215
216 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS MÚSCULOS
A eminência hipotenar
três mÚsculos (fig. 5-101):
DA ElVIINÊNCIA HIPOTENAR
está composta
por
1) o flexor curto do quinto dedo (1); se insere abaixo, no tubérculo interno da base de FI' a sua direção é oblíqua para cima e para fora em direção à sua inserção
carnosa na superfície anterior do ligamento anular e do processo unciforme;
2) o adutor do quinto dedo (2); adutor em
relação ao plano de simetria do corpo.
termina abaixo como um interósseo no
tubérculo lateral de F I (com o fiexor CUfto), por uma correia comum com o quarto interósseo palmar e por uma expansão
para a faixa lateral do extensor comum.
Por cima, se insere na superfície anterior
do ligamento anular e no pisiforme;
3) o oponente do quinto dedo (3) se insere abaixo na superfície interna do quinto
metacarpeano, rodeia a sua margem (fig.
5-88) para se dirigir (seta branca) para
cima e para fora em direção à margem
inferior do ligamento anular e do processo unciforme, no qual se insere.
No plano fisiológico
O oponente (fig. 5-102) fiexiona o quinto
metacarpeano sobre o carpo, em tomo do eixo
XX", o qual o desloca para frente (seta 1) e parafora (seta 2). Esta direção oblíqua é a do corpo muscular (seta branca).
Mas, ao mesmo tempo, proporciona
ao
quinto metacarpeano
um movimento de rotação em torno ao seu eixo longitudinal
(representado por uma cruz) no sentido da seta 3, em
supinação, isto é, de tal maneira que a parte
anterior do metacarpeano
se orienta para fora, em direção ao polegar. Portanto, o oponente merece a sua denominação
porque realiza a
oposição do dedo mínimo com relação ao polegar.
Ofle_xor curto (1) e o adutor do quinto deem conjunto uma ação quase
idêntica (fig. 5-103):
do (2) exercem
-
o fiexor curto (1) fiexiona a primeira falange sobre o metacarpeano e separa o
quinto dedo em relação ao eixo da mão;
-
o adutor (2) possui a mesma ação: de
modo que é abdutor com relação ao eixo da mão (terceiro dedo) e pode ser
considerado equivalente a um interósseo dorsal. Como os interósseos,
flexiona a primeira falange, por ação da
correia, e estende duas falanges por
ação de sua expansão lateral.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-102
Fig.5-103
1-
217
218 FlSIOLOGIAARTICULAR
o POLEGAR
o
polegar ocupa uma posição e desempenha uma função à parte na mão, porque é indispensável para realizar as pinças polegar-digitais com cada um dos outros dedos, e principalmente com o dedo indicador, e também para a
constituição de uma preensão de força com os
outros quatro dedos. Também pode participar
em ações associadas às preensões que se referem à própria mão. Sem o polegar, a mão perde
a maior parte de suas capacidades.
O polegar deve esta função eminente, por
uma parte, à sua localização para frente tanto
da palma da mão quanto dos outros dedos (fig.
5-104) que lhe permite, no movimento de oposição, se dirigir aos outros dedos, de forma isolada ou global, ou se separar pelo movimento de
contra-oposição para relaxar a preensão. Por
outro lado, deve a sua função à grande flexibilidade funcional que lhe proporciona a organização tão peculiar da sua coluna articular e dos
seus motores musculares.
A coluna ósteo-articular do polegar (fig.
5-105) contêm cinco peças ósseas que constituem o raio externo da mão:
-
-
maiS curto, como seria o caso após
uma amputação falângica, perde as
suas possibilidades de oposição por
não ter suficiente longitude, nem suficiente separação, nem suficiente flexão global;
-
mais longo, como seria o caso de uma
malfor,mação congênita com três falanges, a oposição fina ponta do dedoponta do ~edo (término-terminal) pode se ver perturbada pela flexão insuficiente da interfalangeana distal do
dedo ao qual se opõe.
Então, isto é um exemplo do princípio de
economia universal (princípio de OCCAM).
segundo o qual qualquer função está assegurada pela mínima estrutura e organização: para
uma função ótima do polegar, são necessárias
e suficientes cinco peças.
As articulações da coluna do polegar são
quatro:
-
a trapéÚo-escafóidea
(TE) artródia
que, como já vimos, permite que o trapézio realize um curto deslocamento
para frente sobre a superfície articular
inferior, a qual se apóia sobre o tubérculo do escafóide: neste caso se esboça um movimento de flexão de escassa amplitude;
-
a trapéÚo-metacarpeana (TM) dotada
de dois graus de liberdade;
-
a metacarpofalangeana (MF) que possui dois graus de liberdade;
-
a interfalangeana (IF) com só um grau
de liberdade;
o escafóide (esc);
- o trapézio (T) que os embriologistas consideram equivalente a um metacarpeano;
-
o primeiro metacarpeano
-
a primeira falange (F);
(Mr);
- a segunda falange (F).
O polegar anatomicamente só possui duas
falanges, mas, o que é importante, a sua coluna
se articula com a mão num ponto muito mais
proximal que no caso dos outros dedos. A sua
coluna é claramente mais curta e o seu extremo
só alcança a parte média da primeira falange do
dedo indicador. Este é o seu comprimento perfeito porque:
ou seja, em total, CINCO GRAUS DE
LIBERDADE necessários e suficientes
para se realizar a oposição do polegar.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-104
Fig.5-105
TOTAL: 5 GRAUS
,_1F:10
219
220 FISIOLOGIA ARTICULAR
GEOMETRIA DA OPOSIÇÃO DO POLEGAR
Desde um ponto de vista estritamente geométrico (fig. 5-106), a oposição do polegar consiste em que, num ponto dado A' , a polpa do polegar seja tangente à polpa do outro dedo, como
por exemplo o dedo indicador, num ponto A: isto é, fazer coincidir no espaço num único ponto
A + A' os planos das polpas tangentes A e A' .
Para começar, para coincidir dois pontos no
espaço (fig. 5-107) são necessários três graus de
liberdade segundo as coordenadas x, y e z. A seguir, são necessários mais dois graus de liberdade para que possam coincidir os planos das polpas, plano sobre plano e direção sobre direção,
por rotação em tomo aos eixos teu (como as polpas não podem entrar em contato pela superfície
dorsal, é inútil um terceiro grau em tomo de um
eixo y e perpendicular aos dois precedentes).
Em resumo, a coincidência dos planos das
polpas necessita de cinco graus de liberdade:
-
três para que coincidam os pontos de
contato;
-
dois para que coincidam mais ou menos
os planos das polpas.
Como podemos demonstrar de forma simples que cada eixo de uma articulação constitui
um grau de liberdade que se soma aos outros para contribuir para o resultado final, podemos deduzir que os cinco graus de liberdade da coluna
do polegar são imprescindíveis e suficientes para se realizar a oposição.
Se considerarmos, unicamente no plano
(fig. 5-108), o movimento dos três segmentos
móveis M 1, F 1 e F 2 da coluna do polegar em torno dos três eixos de flexão yy' para a TM, fi para a MF e f, para a IF, podemos constatar que são
necessários dois graus para situar o extremo de
F2 num ponto H do plano: se se bloqueia fi ou f:.
só existe uma forma para ambos os casos alcançarem o ponto H. Porém, introduzir um terceiro
grau permite chegar a H com diferentes incidências: estão representadas na figura duas orientações O e O' da polpa, de modo que podemos
constatar como este mecanismo necessita de três
graus de liberdade no plano.
No espaço (fig. 5-109), se acrescenta um
quarto grau de liberdade, em tomo do segundo eixo xx' da TM, permitindo uma orientação
adicional da polpa que "se orienta" numa direção diferente, a qual autoriza uma verdadeira
escolha da oposição com um determinado dedo
do dedo indicador ao dedo mínimo.
Um quinto grau de liberdade (fig. 5-110)
conseguido graças ao segundo eixo da MF melhora ainda mais a coincidência dos planos das
polpas, permitindo uma rotação limitada de um
plano sobre outro em torno do ponto de tangência. De fato, podemos comprovar que o eixo de
flexão f 1 da MF não é estritamente transversal
a não ser no curso da flexão direta; na verdade.
durante a maior parte do tempo é oblíquo num
sentido ou outro:
-
oblíquo em f' 1: a flexão se associa com
um desvio ulnar e com uma supinação:
-
oblíquo em f" 1: neste caso se associa
com um desvio radial e com uma pronação.
1. MEMBRO
SUPERIOR
tI
z
Fig.5-106
Fig.5-107
y
x
H
Xl
X
y
Fig.5-108
Xl
[
Fig. 5-110
Fig.5-109
221
222 FISIOLOGIA
ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO
TRAPÉZIO-META
Topografia das superfícies
A articulação trapézio-metacarpeana (TM)
se localiza na base da coluna móvel do polegar
e desempenha um papel primordial dado que assegura a sua orientação e participa de maneira
preponderante no mecanismo da oposição.
Os anatomistas a denominam articulação
por encaixamento recíproco, o que não significa
muito, ou também articulação selar (fig. 5-111),
o que parece mais correto porque esta última denominação lembra a forma de sela de cavalgar,
côncava num sentido e convexa no outro. Existem duas superfícies em sela, uma no trapézio e
a outra na base do primeiro metacarpeano que só
se correspondem por causa de uma rotação de
90° que faz coincidir a curva convexa de uma
com a curva côncava da outra e vice-versa.
A topografia exata das superfícies desta articulação tem sido causa de numerosos estudos e
debates. A descrição mais precisa foi exposta recentemente por K. Kuczynski (1974). Com a
trapézio-metacarpeana aberta (fig. 5-112) e a base do primeiro metacarpeano deslocada para fora, as superfícies articulares do trapézio T e do
primeiro metacarpeano M1 apresentan as seguintes particularidades:
-
a superfície do trapézio T apresenta uma
crista média CD ligeiramente curva seguindo uma concavidade orientada para
dentro e para frente. A parte dorsal C
desta crista é claramente mais convexa
que a sua parte palmar F que é quase
plana. Esta crista aparece deprimida na
sua parte média por um sulco AB que a
cruza transversalmente e se estende da
margem dorsal externa A à margem palmar interna B onde é evidentemente
mais escavada. Um fato importante é
que este sulco é curvo e apresenta uma
CARPEANA
convexidade ântero-externa. A parte
posterior-externa E é quase plana;
-
a superfície metacarpeana M) se forma
ao contrário, apresentando uma crista
A'B' que corresponde ao sulco AB da
superfície do trapézio e um sulco C'D'
que encaixa sobre a crista do trapézio
CD.
-
Encaixada sobre a superfície do trapézio
(fig. 5-113), a metacarpeana a ultrapassa por
ambos os extremos a e b do sulco. Além disso,
num corte (fig. 5-114) se pode observar que a
concordância das duas superfícies não é absoluta. Porém, encaixadas com firmeza uma contra
a olltra, "o encaixamento" das superfícies não
permite nenhuma rotação sobre o eixo longitudinal do primeiro metacarpo, sempre segundo
Kuczynski.
A causa da curva da sela sobre o seu eixo
longitudinal, Kuczynski a compara com uma sela (mole) colocada sobre o lombo de um "cavalo com escoliose" (fig. 5-115). Também podemos compará-Ia com um desfiladeiro (fig. 5116) entre duas montanhas, percorrido por uma
rodovia curva: a direção do caminhão que sobe
pela rodovia forma um ângulo r com a do caminhão que desce por ela. Para Kuczynski, este
ângulo que atinge os 90° entre os pontos a e b do
sulco do trapézio explicaria a rotação do primeiro metacarpo sobre o seu eixo longitudinal no
percurso da oposição. Todavia, para que isto seja assim, seria necessário que a base de M) percorresse (como o caminhão no desfiladeiro) todo o sulco do trapézio, o que requereria uma luxação completa da articulação num sentido e/ou
no outro, enquanto o deslocamento só é parcial:
o importante desta rotação longitudinal se realiza, então, segundo a nossa opinião, graças a outro mecanismo que será exposto mais adiante.
1. MDIBRO SUPERIOR 223
224 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULA çÃO TRAPÉZIO- METACARPEANA
(continuação)
Coaptação
A cápsula da articulação trapézio-metacarpeana é conhecida pela sua lassidão, de modo
que permite um importante jogo mecânico,
que, segundo os autores clássicos e inclusive
segundo os modernos, origina a rotação do primeiro metacarpeano sobre o seu eixo longitudinal, o que, como se poderá comprovar mais
adiante, é falso.
De fato, a lassidão capsular só tem como
efeito, na prática, permitir o deslocamento da
superfície metacarpeana sobre a do trapézio,
mas esta articulação trabalha em compressão,
semelhante a um pivô (fig. 5-117), permitindo
assim orientar o primeiro metacarpeano em todas as direções do espaço, como se se tratasse
de uma capa cuj a orientação se pode variar
modificando a tensão das cordas representadas
neste caso pelos músculos tenares. Estes asseguram a coaptação articular em qualquer posiçao.
Os ligamentos da trapézio-metacarpeana
dirigem o movimento e asseguram, segundo o
seu grau de tensão, a coaptação em cada posição. A sua descrição e a sua função foram recentemente particularizados por J.Y. da Caffiniere
(1970) que diferencia quatro (figs. 5-118, vista
anterior, e 5-119, vista posterior).
-
o ligamento intermetacarpeano (UM).
Ramo fibroso, espesso e curto, se estende das bases do primeiro e do segundo
metacarpeanos
..
. até a parte superior da
pnmelra cormssura;
-
o ligamento oblíqUf( póstero-interno
(LOPI), descrito pelos clássicos, se trata
de uma faixa larga mas fina que envolve
a articulação por trás como uma gravata, para se enrolar por dentro da base do
primeiro rnetacarpeano se dirigindo para frente;
-
o ligamento oblíquo ântero-interno
(LOAI) se estende da parte distal da
crista do trapézio até a zona justacomissural da base do primeiro metacarpeano, cruza a superfície anterior da
articulação se enrolando no sentido inverso ao precedente;
-
o ligamento
reto ântero-externo
(LRAE) se estende diretamente entre o
trapézio e a base do primeiro metacarpeano até a superfície ântero-externa da
articulação, o seu claro e agudo limite
interno delimita um hiato capsular por
onde passa uma bolsa serosa para o tendão do abdutor longo (AbL).
Para J.Y. de Ia Caffiniere, estes ligamentos
podem se associar de dois em dois:
-
UM e LRAE, a abertura da primeira comissura no plano da palma da mão é limitada pelo LIM e o seu fechamento pelo LRAE;
-
LOPI e LOAI são solicitados principalmente durante a rotação do primeiro
metacarpeano sobre o seu eixo longitudinal. O LOPI limita a pronação e o
LOAI a supinação .
1. 1IEMBRO SUPERIOR
I
•
Fig.5-117
•
AbL
UM
Fig.5-118
Fig.5-119
225
226 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO
TRAPÉZIO-lVIETACARPEANA
(continuação)
Função dos ligamentos
Segundo a nossa opinião, estes fenômenos
são algo mais complexos, já que precisamos
descrever a ação dos ligamentos em relação aos
movimentos de anteposição e retroposição, e de
flexão e extensão do primeiro metacarpeano tal
como serão definidos mais adiante.
N o curso dos movimentos de anteposição e
retroposição podemos observar:
-
-
numa vista anterior (fig. 5-120) em anteposição, como o LOAI está tenso e se
distende o LRAE ao passo que para trás
(fig. 5-121) o LOPI está tenso;
numa vista anterior (fig. 5-122) em retroposição, como o LRAE está tenso e
se distende o LOAI, ao passo que para
trás (fig. 5-123) se distende o LOPI;
-. com relação ao UM (fig. 5-124, vista
anterior), como está tenso, tanto em anteposição (AP), onde "traciona" a base
de M1 para ;"12, quanto em retroposição
(RP) onde "retém" a base de M1 anteriormente subluxada pelo trapézio. Distende-se em posição intermédia.
No curso dos movimentos de flexão-extensão podemos observar:
-
como na extensão (fig. 5-125) os ligamentos anteriores LRAE e LOAI estão
tensos e o LOPI se distende;
-
como naflexão (fig. 5-126) se produz a
situação contrária: distensão dos LRAE
e LOAI e tensão do LOPI.
Ao estar enrolados em sentido contrário sobre a base de M1 (fig. 5-127, vista axial de M1 so-
bre o trapézio e M2M) o LOPI e o LOAI controlam a estabilidade rotatória de M sobre o seu
eixo longitudinal.
1
-
o LOAI está tenso durante a pronação;
de modo que a sua tensão isolada acarretaria urna supinação;
-
o LOPI é solicitado durante a supinação;
podemos afirmar que a sua tensão independente dos outros acarretaria uma
pronação do primeiro metacarpeano.
Na oposição que associa a anteposição e a
flexão, todos os ligamentos (UM, LOAI, LOPI)
estão tensos exceto o LRAE, o que é normal
porque este ligamento é paralelo aos músculos
contraídos (abdutor curto, oponente, flexor curto). É notável que o mais tenso seja o LOPI que
assegura deste modo a estabilidade da articulação para trás. A oposição se corresponde então
com a close packed position, como já havia ressaltado Mac Conaill: é a posição na qual as superfícies articulares estão mais firmemente encaixadas uma contra a outra, o que, somado ao
fato de que os dois ligamentos oblíquos estão simultaneamente tensos, exclui toda rotação sobre o eixo longitudinal do primeiro metacarpeano que corresponderia a um jogo mecânico
entre as superfícies articulares.
Na posição intermédia, que será definida
mais adiante, todos os ligamentos estão distendidos e, conseqüentemente, o jogo mecânico é
máximo, o qual não aporta nenhuma vantagem
com relação à rotação longitudinal de M.
Na contra-oposição, a tensão quase isolada
do LOAI é capaz de produzir certo grau de supinação de M1 sobre o seu eixo longitudinal.
1. MEMBRO SUPERIOR
LRAE$
LOPI ffi
LOAI8
~
ANTEPOSIÇÃO
~
ANTEPOSIÇÃÓ
Fig.5-120
."-t>
RETROPOSIÇÃO
Fig.5-122
LOPI
UM
e
EB
<}---'
RETROPOSIÇÃO
Fig.5-123
LOPI
EB
Fig.5-125
LRAE
LOAI
8
e
Fig.5-126
Fig.5-127
227
228 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA
(continuação)
Geometria das superfícies
Se a rotação do primeiro metacarpeano sobre o seu eixo longitudinal não se pode explicar
nem pelo jogo mecânico nem pela ação dos ligamentos, a única explicação que resta é pelas propriedades das superfícies articulares (além disso, esta explicação não foi contestada no caso do
quadril).
As superfícies selares possuem, como afirmam os matemáticos, uma curva negativa, isto
é que sendo convexas num sentido e côncavas
no outro, não podem fechar-se sobre si mesmas,
como seria o caso da esfera, exemplo perfeito de
curva positiva. Tentaram comparar estas superfícies selares a um segmento hiperbolóide de revolução (fig. 5-128) como Bausenhart e Littler,
ou com um segmento hiperbolóide parabólico
(fig. 5-129, a hipérbole H se apóia sobre uma parábola P), ou inclusive hiperbólico (fig. 5-130, a
hipérbole H se apoia sobre outra hipérbole H').
No nosso caso, parece mais interessante compará-Ias com um segmento axial de superfície tórica (fig. 5-131): na parte central de uma câmara
de ar, que representa o toro ou bocel, existe uma
curva côncava cujo centro é o eixo da roda O e
uma curva convexa cujo centro é o eixo da "moldura" (na verdade, existem uma série de eixos p,
q, s, etc ... um dos quais, q, corresponde à posição média). Esta superfície selar ou "toróide negativa" possui dois eixos principais ortogonais
e, por conseguinte, dois graus de liberdade. Se
considerarmos
a descrição de K. Kuczynski,
com a curva lateral da crista da sela (o "cavalo
com escoliose"), este segmento axial de superfície tórica deve delimitar-se assimetricamente
(fig. 5-132) sobre o toro, como se a sela se tivesse deformado, deslizando lateralmente sobre o
lombo de um cavalo normal. O eixo maior longitudinal (a crista) da sela nm está curvado late-
ralmente de tal modo que os raios li, v, \1', que
passam por cada ponto da crista, convergem
num ponto O' situado no eixo xx' do tara para
fora do seu plano de simetria. Esta superfície selar sempre é uma superfície, toróide negativa
com dois eixos principais ortogonais e dois
graus de liberdade. Claro que isto só é certo para um pequeno segmento de superfície, porque,
caso contrário, a multiplicidade dos eixos converteria em "caduca" a comparação. De fato, enquanto a superfície for pequena, os eixos sucessivos (p, q, s, etc ... ) estarão suficientemente próximos entre si para que o jogo mecânico compense as discordâncias. É o caso das superfícies
do trapézio e das metacarpeanas cujas curvas
são relativamente moderadas, menos acentuadas
que nos esquemas.
Nestas condições, é totalmente lógico e lícito modelar a articulação trapé::.io-metacarpeana do mesmo modo que os biomecânicos
modelam o quadril, como se se tratasse de uma
articulação "de patela", embora saibamos de sobra que a cabeça femoral não é uma esfera perfeita.
o modelo mecânico de uma
articulação de
dois eixos é o "Cardão" (fig. 5-133): dois eixos
xx' e yy' perpendiculares
e concorrentes que
permitem movimentos em dois planos perpendiculares AB e CD. Do mesmo modo, duas superfícies selares A e B situadas uma sobre a outra
(fig. 5-134) permitem, uma em relação à outra
(fig. 5-135), movimentos AB e CD em dois planos perpendiculares.
Porém, o estudo da mecânica do cardão
mostra que as articulações de dois eixos possuem uma possibilidade adicional, a rotação automática do segmento móvel sobre o seu eixo
longitudinal, neste caso o primeiro metacarpo.
1. MEMBRO SUPERIOR
®
o
Fig.5-128
x
Fig.5-130
x
Fig.5-132
Fig.5-131
,I ,, - ,",'
...
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Fig.5-129
....
\
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II
I
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/
.•....
Fig.5-134
,,,,
\
\
\
\
\
Fig.5-133
Fig.5-135
229
230 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA
(continuação)
A rotação sobre o eixo longitudinal
É fácil construir um cardão cortando e colando (fig. 5-136): sobre as duas superfícies de
um círculo a, colar os semicírculos de duas tiras
b e c pregadas em ângulo reto em 1-2 e 3-4, de
tal maneira que as pregas sejam perpendiculares.
Este cardão de demonstração (faça-o!) permitirá materializar a rotação automática em torno
ao eixo longitudinal do segmento móvel.
Em primeiro lugar, podemos constatar (fig.
5-137), que estando um dos segmentos fixos,
pode mobilizar o segundo ao redor dos dois eixos do cardão; seja em torno do eixo 1-2 num
movimento a no curso do qual permanece no
mesmo plano, ou ao redor do eixo 3-4 num movimento b que faz formar um ângulo diedro com
a sua posição inicial.
Se considerarmos
(fig. 5-138) o primeiro
movimento em torno do eixo 1-2, sem que se
realizem flexão ou extensão prévias em torno do
eixo 3-4 que permanece perpendicular ao segmento móvel, podemos constatar, que este "se
orienta" sempre na mesma direção, indicada pelas setas: é uma rotação plana, igual às que se
observam nas articulações de charneira onde o
eixo é perpendicular ao segmento móvel.
Se anteriormente (fig. 5-139), o segmento
móvel realiza uma flexão b, inferior a 90°, em
torno do eixo 3-4, a rotação a em torno do eixo
1-2 provoca uma mudança de orientação do segmento móvel, representado nesta figura pelas setas que apontam para um ponto P situado no prolongamento do eixo 1-2. Esta troca de orientação do segmento móvel no curso de uma rotação cônica realiza uma rotação automática sobre o eixo longitudinal que Mac Conaill denomina rotação conjunta. Esta existe nas articulações de charneira cujo eixo é oblíquo em relação
ao segmento móvel; é de valor constante. Existe
principalmente
nas articulações de dois eixos
nas quais é variável em função do grau de flexão
prévia. Podemos calcular com uma fórmula trigonométrica simples considerando as duas rotações.
Um caso particular interessante desta rotação conjunta automática, ocorre durante a rotação cilíndrica (fig. 5-140): sendo de 90° a flexão
prévia sobre o eixo 3-4, toda rotação a em torno
do eixo 1-2 produz uma mudança de orientação
grau a grau do segmento móvel; neste caso, a rotação automática é máxima.
Claro que entre a rotação conjunta automática nula da rotação plana e o máximo da rotação
cilíndrica, são viáveis todos os valores intern1édios nas articulações de dois eixos de tipo cardão.
É possível encontrar de novo esta rotação
cilíndrica (fig. 5-141) se se articulam ao cardão
três segmentos pelo eixo 3-4, paralelos aos outros dois 5-6 e 7-8. A flexão de 90° sobre o eixo
3-4, podemos, então, distribuir sobre os três eixos, o que faz com que o último segmento seja
paralelo ao eixo 1-2. Observamos como a rotação conjunta automática aumenta do primeiro ao
último segmento para atingir o seu valor máximo no segmento distal. Isto modela a coluna do
polegar articulada na sua base por um cardão e
cuja segunda falange sofre uma rotação conjunta automática sem que em nenhum momento intervenha qualquer jogo mecânico na trapéziometacarpeana.
Graças à ação coordenada das três articulações trapézio-metacarpeana,
metacarpofalangeana e interfalangeana se realiza a rotação do
polegar sobre o seu eixo longitudinal, mas é a
trapézio-metacarpeana,
"a rainha", a que inicia o
movimento.
Esta demonstração pode se reproduzir com
o modelo mecânico da mão mostrado ao final
deste volume.
----------------
1. MEMBRO SUPERIOR
~
a
Fig.5-136
Fig.5-137
I
Fig.5-140
I
I
~
I
I
I,
I
I
\
Fig.5-139
Fig.5-141
-----
231
232 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA
(continuação)
Os movimentos do primeiro metacarpeano
rige o polegar para frente, quase perpendicular
ao plano da palma da mão, numa posição que
os autores da língua inglesa denominam abdução (o que não contribui para esclarecer muito);
o primeiro
metacarpeano
pode realizar, de forma isolada ou
simultânea, movimentos
em tomo de dois eixos ortogonais e um
movimento sobre o seu eixo longitudinal que deriva dos movimentos precedentes.
Resta definir a posição no espaço de dois eixos
principais da trapézio-metacarpeana.
Numa peça anatômica (fig. 5-142), se inserirmos um espeto
metálico no centro da curva média de cada uma das superfícies do
trapézio e do metacarpeano,
podemos materializar:
-
na base do primeiro metacarpeano,
o eixo xx' que corresponde à curva côncava do trapézio;
-
no trapézio, o eixo yy' que corresponde
da sela metacarpeana.
à curva côncava
Claro que na realidade viva, estes eixos não são imutáveis
mas sim móveis, evolutivos no curso mesmo do movimento, o espeto representa uma posição média. Contudo, numa primeira aproximação. podemos considerá-Ios,
com objetivo de modela1; isto é,
de representar parcialmente a realidade para facilitar a compreensão de um fenômeno complexo, como os dois eixos da trapéziometacarpeana.
Constituem
o que os mecânicos
denominam
um
cardão porque são ortogonais, ou seja, perpendiculares
entre si no
espaço. Portanto, a articulação possui as propriedades de um cardcio.
Além disso, observamos
duas características
importantes:
-
por uma parte, o eixo xx' é paralelo aos eixos de flexãoextensão da metacarpofalangeana
fi e da interfalangeana
f" fato que se poderá ver as conseqüências;
-
por outra parte, o eixo xx', ortogonal
a yy', também
o é
ao fi e f, e, portanto, está incluído no plano de flexão da
primeira e da segunda falange; isto é, no plano de flexão
da coluna do polegar.
Por último, como fato essencial, os dois eixos xx' e yy' da
trapézio-metacarpeana
são oblíquos em relação aos três planos de
referência frontal (F), sagital (5) e transversal (T). Podemos deduzir que os movimentos puros do primeiro metacarpeano
se realizam
nos planos oblíquos em relação aos três planos de referência clássicos e não podemos designá-los pelos termos inventados pelos antigos anatomistas, ao menos quanto à abdução cujo plano é frontal.
Desse modo, podemos definir os movimentos puros do primeiro metacarpeano (fig. 5-143) no sistema
de referência do trapézio:
-
r
em torno do eixo XX' que se denominará principal, porque graças a este eixo o polegar "escolhe" o dedo ao qual vai se opor, se realiza um
movimento de anteposição-retroposição
no
percurso do qual a coluna do polegar supostamente estendida se desloca num plano AOR
perpendicular ao eixo xx' e que inclui a unha
do polegar. A retroposição R dirige a unha do
polegar para trás para conduzi-Io ao plano da
palma da mão, afastado aproximadamente 60°
do segundo metacarpeano. A anteposição A di-
-
em tomo ao eixo yy' que, por referência ao primeiro, se denominará secundário, se realiza um
movimento de flexão-extens&o num plano FOE
perpendicular ao eixo yy' e ao plano precedente.
A extensãç E dirige o primeiro metacarpeano
para cima, para trás e para fora e se prolonga
pela extensão da primeira e da segunda falanges, conduzi na o a coluna do polegar quase ao
plano da palma da mão.
Aflexão F dirige o primeiro metacarpeano para baixo, para frente e para dentro, sem ultrapassar nesta direção o plano sagital que passa
pelo segundo metacarpeano, embora prolongando-se através da f1exão das falanges que faz
com que a polpa contate com a palma da mão
no nível da base do dedo mínimo.
Assim, a noção de f1exão-extensão do primeiro
metacarpeano é perfeitamente justificada porque se complementa com o movimento homólogo nas outras duas articulações da coluna do
polegar.
Além destes movimentos puros de ante-retroposição e de flexão-extensão, todos os outros movimentos do
primeiro metacarpeano são movimentos complexos que
associam, em diversos graus, movimentos em tomo dos
dois eixos, sucessivos ou simultâneos e que integram, como ficou demonstrado anteriormente, uma rotação automática ou uma rotação conjunta sobre o eixo longitudinaL Esta, como teremos ocasião de comprovar, desempenha uma função essencial na oposição do polegar.
Os movimentos de f1exão-extensão e de ante-retroposição do primeiro metacarpeano se originam na
posição neutra ou de repouso muscular do polegar (fig.
5-144), como a definiram C. Hamonet e P. Valentin, se
correspondendo com a posição de "silêncio" eletromiográfico: nenhum dos músculos do polegar, em estado de
descontração, libera potencial de ação. Esta posição N é
importante nas radiografias: a projeção sobre o plano
frontal de Mj com M2 forma um ângulo de 30°. No plano sagital, o mesmo ângulo é de 40°.
Devemos lembrar que esta posição N corresponde
à distensão dos ligamentos e à máxima congruência das
superfícies articulares que, neste caso, se recobrem totalmente.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-142
Fig.5-143
Fig.5-144
I
233
234 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA
(continuação)
Avaliação dos movimentos do primeiro
metacarpeano
Após definir os movimentos reais do primeiro metacarpeano, convém explicar corno
avaliá-Ias na prática. Existem três sistemas, o
que não ajuda a esclarecer o problema.
O primeiro sistema que poderia se denominar clássico (fig. 5-145): o primeiro metacarpeano evolui num triedro de referência retangular constituído pelos três planos perpendiculares. transversal T, frontal F e sagital S, estes dois últimos se cortam no eixo longitudinal
do segundo metacarpeano e a intersecção dos
três planos se situa na trapézio-metacarpeana.
A posição de referência se consegue quando o
primeiro metacarpeano está "colado" ao segundo no plano da palma da mão, a grosso modo o
plano F. Convém ressaltar duas observações:
esta posição não é natural e o primeiro metacarpeano não pode ser estritamente paralelo ao
segundo.
A abdução (seta 1) é a separação do primeiro em relação ao segundo metacarpeano no
plano F, a adução ou aproximação, o movimento contrário.
A flexão (seta 2), ou avanço, é o movimento que dirige o primeiro metacarpeano para frente, a extensão ou retrocesso, o movimento contrário.
A posição do primeiro metacarpeano se
define mediante dois ângulos (ilustração
menor): a abdução a e a flexão b.
Este sistema apresenta dois inconvenientes:
-
medir projeções sobre p'lanos abstratos e
não sobre ângulos reais;
-- não avaliar a rotação sobre o eixo longitudinal. ~
O segundo sistema, que poderia se denominar moderno (fig. 5-146), proposto por J. Dupare, J.Y de Ia Caffiniere e H. Pineau, não define movimentos, mas sim, posições do primeiro
metacarpeano seguindo um sistema de coordenadas polares. A localização do primeiro metacarpeano se define pela sua posição sobre um
cone cujo eixo se confunde com o eixo longitudinal do segundo metacarpeano e o vértice se situa na trapézio-metacarpeana. O semi-ângulo no
vértice do cone (seta 1) é o ângulo de separação
a, válido quando o primeiro metacarpeano se
desloca sobre a superfície do cone. A sua posição se particulariza sem ambigüidade alguma,
graças ao ângulo (seta 2) que forma o plano que
passa pelo eixo dos dois primeiros metacarpeanos com o plano frontal. Este ângulo b é denominado por alguns autores "ângulo de rotação
espacial", o que é urna tautologia porque qualquer rotação somente pode ocorrer no espaço.
Assim sendo, seria mais indicado denominá-Io
ângulo de circundução, já que o deslocamento
do primeiro metacarpeano sobre a superfície do
cone é uma circundução.
O mais interessante deste sistema de avaliação é que estes dois ângulos são bastante fáceis
de medir com um esquadro.
1. MEMBRO SUPERIOR 235
s
T
Fig.5-146
r
236 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULA çÃO TRAPÉZIO-META CARPEANA
(continuação)
o sistema
do trapézio
-
Porém, o maior inconveniente destes sistemas de avaliação, é que medem movimentos
complexos da trapézio-metacarpeana integrando obrigatoriamente um componente de rotação
longitudinal, produto das rotações em tomo dos
dois eixos da articulação.
• afiexão de 20 a 25° de amplitude coloca quase paralelo o eixo dos dois primeiros metacarpeanos;
O terceiro sistema que se propõe é um sistema de referência do trapézio que só pode explorar-se com radiografias em incidências específicas:
-
• a extensão de 30 a 45° de amplitude faz
com que o eixo do primeiro metacarpeano forme um ângulo de 65° com o
do segundo. Também, neste caso, o
deslizamento da superfície basal côncava do primeiro metacarpeano sobre o
trapézio se entende perfeitamente como o resultado de uma rotação em torno do centro da curva convexa do
trapézio, se projetando no trapé~io como o eixo secundário YY' da trapéziometacarpeana.
quando colocamos a coluna do polegar
de frente (fig. 5-147), a curva côncava
do trapézio e a curva convexa do primeiro metacarpo se vêm estritamente
de perfil, sem nenhum efeito de perspectiva. Se realizamos uma radiografia
em retroposição e outra em anteposição e se constata que:
• a retroposição de 15 a 25° de amplitude conduz o eixo do primeiro metacarpeano a estar quase paralelo ao do segundo, enquanto a sua base se "subluxa" por fora da superfície do trapézio;
• a anteposição de 25 a 35° de amplitude "abre" o ângulo entre os dois primeiros metacarpeanos até 65°, enquanto a base do primeiro desliza por dentro em direção a do segundo.
Estes deslocamentos da base do primeiro metacarpo sobre a sela do trapézio se
entendem perfeitamente como o resultado de uma rotação em tomo centro da
curva côncava do trapézio, projeção
na base de M] do eixo principal xx' da
trapézio- metacarpeana.
quando se dispõe a coluna do polegar
de perfil (fig. 5-148), a curva convexa do
trapézio e a curva côncava do metacarpeano se vêm sem nenhuma defomlação
em perspectiva. Uma radiografia da coluna do polegar em máximafiexão e outra em extensão permitem constatar que:
Em resumo, a amplitude dos movimentos
na trapézio-metacarpeana é mais reduzida do
que podíamos pensar pela grande mobilidade da
coluna do polegar:
-
trajeto de 40 a 60° entre a anteposição e
retroposição máximas;
-
trajeto de 50 a 70° entre a flexão e a extensão máximas.
Só a realização de radiografias em incidências específicas da trapézio-metacarpeana, colocando a coluna do polegar de frente e de perfil, permite explorar convenientemente a fisiologia desta articulação e apreciar as limitações
(Kapandji, 1980).
1. MEMBRO SUPERIOR
25-85°
ANTEPOSIÇÃO-
RETROPOSIÇÃO
= 40-60'
Fig.5-147
FLEXÃO-EXTENSÃO
Fig.5-148
= 50-70'
237
238 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO lVIETACARPOFALANGEANA DO POLEGAR
Os anatomistas consideram a articulação
metacarpofalangeana uma condilar, uma ovóide,
como denominam os autores ingleses. Portanto,
possui, como todas as condilares, dois graus de
liberdade, a flexão-extensão e a lateralidade. Na
verdade, a sua complexa biomecânica associa
um terceiro grau de liberdade, a rotação da primeira falange sobre o seu eixo longitudinal, seja em supinação ou em pronação, movimento
não somente passivo, mas principalmente ativo
indispensável na oposição.
Com a metacarpofalangeana aberta pela
frente (fig. 5-149) e a primeira falange deslocada para trás, a cabeça do metacarpeano (1) aparece convexa em ambos os sentidos, mais longa
que larga, prolongada para frente por dois espaldões assimétricos, o interno (a) mais proeminente que o externo (b). A base da primeirafalange
está ocupada por uma superfície cartilaginosa
(2) côncava nos dois sentidos e a sua margem
anterior serve de inserção àfibrocartilagem glenóide (3) ou placa palmar que contém, próximos à sua margem inferior, os dois ossos sesamóides internos (6) e externos (7). O corte da
cápsllla (8) se caracteriza, de um lado ao outro,
pelo espessamente que formam os ligamentos
metacarpoglenóides interno (9) e externo (10).
Podemos observar os recessos capslllares anterior (11) e posterior (12), bem como os ligamentos laterais, o interno (13) mais curto e que
está tenso antes que o externo (14). As setas xx'
representam o eixo de fiexão-extensão e a seta
yy' o eixo de lateralidade.
Em vista anterior (fig. 5-150), podemos observar os mesmos elementos: o metacarpeano
(15) abaixo, a primeira falange (16) acima, embora se distingam muito melhor os detalhes da placa palmar com a fibrocartilagem glenóide (3), o
sesamóide interno (4) e o externo (5) unidos pelo
ligamento intersesamóide (17) e fixos à cabeça
metacarpeana pelos ligamentos metacarpoglenóides interno (18) e externo (19) e à base da primeira falange pelas fibras falango-sesamóides diretas
(20) e cruzadas (21). Os músculos sesamóides internos (6) se inserem no sesamóide interno e enviam uma expansão (22) à base da falange ocultando parcialmente o ligament0 lateral interno
(13). Está seccionada a expansão falangeana (23)
dos sesamóides externos (7) para poder observar
melhor o ligameÍlto lateral externo (14).
Em vista lateral interna (fig. 5-152) e em
vista lateral externa (fig. 5-153) podemos observar também o recesso capsular posterior (24) e o
anterior (25), bem como a inserção do tendão do
extensor curto próprio do polegar (26), e é preciso ressaltar a inserção do metacarpo claramente descentrada dos ligamentos laterais interno
(13) e externo (14) e dos ligamentos metacarpoglenóides (18) e (19). Também podemos
constatar que o ligamento lateral interno (fig. 5152), mais curto, está tenso antes que o externo
(fig. 5-153), o que provoca um deslocamento
mais limitado da base da falange sobre a margem interna da cabeça do metacarpeano que sobre a margem externa. Uma vista esquemática
superior (fig. 5-157, página 241) da cabeça do
metacarpeano (tracejada) explica como este deslocamento diferencial, I para dentro, L para fora,
provoca uma rotação longitudinal em pronação
da base da falange, especialmente quando os sesamóides externos (SE) se contraem mais vigorosamente que os internos (SI).
Este fenômeno se acentua ainda mais pela
assimetria da cabeça do metacarpeano (fig. 5151, vista de frente), onde o espaldão ântero-interno (a) mais proeminente desce menos que o
externo (b): no lado externo a base da falange se
desloca mais para frente e para baixo o que, na
flexão, provoca uma pronação e um desvio radial da primeira falange.
1. MEMBRO SUPERIOR
6
7
4
5
9
10
3
239
8
2
12
13
14
1
13
21_
23
-14
20
20~
22
_21
4
18
8
~19
17
23
b
a
6
7
10
9
11
15
Fig.5-149
Fig.5-150
a
b
Fig.5-151
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18
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Fig.5-153
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7
240 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO METACARPOFALANGEANA DO POLEGAR
(continuação)
As possibilidades de inclinação e de rotação longitudinal da falange dependem de seu
grau de flexão.
Em posição de alinhamento
ou de extensc70
(fig. 5-154) os ligamentos laterais estão distendidos, mas o sistema da placa palmar e dos ligamentos metacarpoglenóides está tenso (como as
superfícies articulares condilares do joelho em
extensão), o que impede a rotação longitudinal e
a lateralidade. É a primeira posiçc7o de bloqueio,
em extensão.
Em posição
intermédia
tenares externos. É a dose packed position
Mac Conaill. Trata-se da segunda posição
bloqueio, em flexão.
'
Em resumo (Kapandji, 1980), a metacarpofalangeana do polegar pode realizar dois tipos
de movimentos a partir da posição de alinhamento (fig. 5-158, vista posterior da cabeça do
metacarpeano com os eixos de diferentes movimentos):
-
Em posição de fiexc70 máxima Oli de bloqueio (fig. 5-156), o sistema da placa palmar se
distende, mas os ligamentos laterais estão tensos
ao máximo, o que acarreta um deslocamento da
base da falange em desvio radial e pronação. A
articulação fica literalmente bloqueada pela tensão dos ligamentos laterais e o recesso dorsal
numa posição de oposição máxima pela ação
predominante e quase exclusiva dos músculos
afiexc70 plira (seta 1) em tomo de um ei-
xo transversal fi' por ação equilibrada
dos músculos sesamóides externos e internos até a semiflexão;
ou de sel71ifle:rc7o
(fig. 5-155), os ligamentos laterais ainda estão
distendidos, o externo mais que o interno, e o
sistema da placa palmar se distende, devido à
basculação dos sesamóides debaixo dos espaldões anteriores da cabeça do metacarpeano. Trata-se da posição de máxima mobilidade na qual
os movimentos de lateralidade e rotação longitudinal são viáveis pela ação dos músculos sesamóides: a contração dos internos determina um
desvio ulnar e uma leve supinação e a dos externos um desvio radial e uma pronação.
de
de
-
os movimentos complexos de fiexãolongitudinal:
desvio-rotação
• seja a fiexc7o-desvio ulnar-supinação
(seta 2) ao redor de um eixo oblíquo (e
evolutivo) f" o que produz uma rotação
cônica. Este movimento se deve à ação
predominante dos sesamóides internos;
• seja a fiexc7o-desvio radial-pronação
(seta 3) em tomo de outro eixo oblíquo
no outro sentido (e também evolutivo)
de obliqÜidade mais acentuada f3'Também neste caso se trata de uma rotação
cônica e o movimento se deve à ação
predominante dos sesamóides externos.
A máxima flexão sempre conduz ao desvio
radial-pronação devido à forma assimétrica da
cabeça do metacarpeano e à tensão desigual dos
ligamentos laterais.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-154
Fig.5-156
Fig.5-155
Fig.5-157
Fig.5-158
r
241
242 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO METACARPOFALANGEAN~
DO POLEGAR
(continuação)
Os movimentos
Aposição de referência da metacarpofalangeana do polegar é a posição de alinhamento
(fig. 5-159): o eixo da primeira falange se localiza no prolongamento do eixo do primeiro metacarpeano. A partir desta posição, a extensão
num indivíduo normal, seja ativa ou passiva, é
inexistente. A fiexão ativa (fig. 5-160) é de 6070°, afiexão passiva pode atingir 80° e inclusive
90°, As amplitudes dos diferentes componentes
do movimento na metacarpofalangeana podem
ser observadas, fixando sobre a superfície dorsal
do polegar, de um lado e outro da articulação,
um triedro de referência construído com fósforos, de tal modo que na posição de alinhamento
sejam paralelas (ou no prolongamento uma da
outra) (fig. 5-161). Dessa forma, podemos evidenciar os componentes de rotação e desvio.
[
--
Em posição de semifiexão podem-se contrair tanto os sesamóides internos quanto os externos.
A contração dos sesamóides internos (fig.
5-162, vista distal com o polegar em leve anteposição e figo5-163, vista proximal com o polegar em retroposição no plano da palma) leva a
um desvio ulnar de alguns graus e a uma supinação de 5 a
r
A contração dos sesamóides externos (fig.
5-164, vista distal e figo 5-165, vista proximal)
produz um desvio radial, muito visível na vista
proximal, claramente maior que o desvio ulnar
precedente e uma pronação de 20°.
Poderemos ver mais adiante toda a importância deste movimento de fiexão-desvio radialpronação na oposição do polegar.
1. MEMBRO
SUPERIOR
243
'~
'"
\ \ \'
Fig. 5-161
,
~
~
Fig.5-160
Fig.5-163
Fig.5-162
Fig.5-165
Fig.5-164
r
244 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ARTICULAÇÃO METACARPOFALANGEANA DO POLEGAR
(continuação)
Os movimentos
Nas preensões cilíndricas com toda a palma da mão, a ação dos músculos sesamóides externos sobre a metacarpofalangeana é a que assegura o bloqueio da preensão. Quando o polegar não intervém (fig. 5-166) e permanece paralelo ao eixo do cilindro, a preensão não é bloqueada e o objeto pode cair facilmente pelo espaço que fica livre entre os dedos e a eminência
tenar.
Se, por outro lado, o polegar se dirige aos
outros dedos (fig. 5-167), o cilindro já não pode
cair: o desvio radial da primeira falange, claramente visível no desenho, completa o movimento de anteposição do primeiro metacarpeano.
Desta maneira, o polegar percorre o caminho
mais curto em tomo do cilindro, isto é, o círculo gerado (f), enquanto sem desvio radial seguiria um trajeto elíptico mais longo (d).
Portanto, o desvio radial é indispensável
para o bloqueio da preensão, cada vez melhor
quanto mais fechado esteja o anel formado pelo
polegar e o dedo indicador que segura o objeto e
percorre na sua superfície o trajeto mais curto
(fig. 5-168): da posição onde o polegar está situado ao longo de um gerador do cilindro e pela
qual se rompe o anel da preensão, passando pelas posições sucessivas b-c-d-e pelas quais o
anel vai se fechando progressivamente até chegar, finalmente, à posição f onde o polegar segue
o círculo gerador, o que fecha totalmente o anel
e dá firmeza à preensão.
Além disso, a pronação da primeira falange (fig. 5-169), visível pelo ângulo de 12° formado pelos dois pontos de referência transversais,
n
permite que o polegar entre em contato com o
objeto com a máxima superfície da sua superfície palmar e não com a sua margem interna. Aumentando a superfície de contato, a pronação da
primeira falange é um fator de consolidação da
preensão.
Quando, por causa do diâmetro mais reduzido do cilindro (fig. 5-170). o polegar cobre
parcialmente o dedo indicador, o anel da preensão é ainda mais estreito, o bloqueio é absoluto
e a preensão é mais firme.
A fisiologia peculiar da metacarpofalangeana do polegar e dos seus músculos motores
se adapta notavelmente à função de preensão.
A estabilidade da metacarpofalangeana
do polegar não somente depende de fatores articulares, mas também de fatores musculares.
Normalmente, no movimento de oposição do
polegar (fig. 5-171), as duas cadeias articulares
do dedo indicador e do polegar se estabilizam
pela ação de músculos antagonistas (representados por pequenas setas pretas). Em alguns casos
(fig. 5-172, segundo Sterling Bunnel), podemos
constatar como "se inverte a metacarpofalangeana" em extensão (seta branca):
1) quando uma insuficiência do abdutor
curto e do flexor curto provoca um deslocamento da falange:
2) quando uma retração dos músculos do
primeiro espaço interósseo aproxima o
primeiro metacarpeano do segundo;
3) quando uma insuficiência do abdutor
longo impede a abdução do primeiro
metacarpeano.
1. MEMBRO SUPERIOR
245
Fig.5-168
Fig.5-166
Fig.5-170
Fig.5-169
Fig.5-171
Fig.5-172
246 FISIOLOGIA ARTIClJLAR
A INTERFALANGEANA DO POLEGAR
À primeira vista, a articulação interfalangeana do polegar não tem mistério: de tipo troclear, possui só um eixo transversal e fixo, que
passa pelo centro da curva dos côndilos da primeira falange, ao redor do qual se realizam os
movimentos de fiexão-extensão.
Flexão (fig. 5-173) ativa de 75 a 800, passiva de 900•
Extensão (fig. 5-174) ativa de 5 a 10°, mas
é especialmente notável a hiperextensão passiva
(fig. 5-175) que pode ser muito pronunciada
(30°) em alguns profissionais, como é o caso dos
escultores que utilizam o polegar como espátula
para trabalhar a argila.
A realidade é muito mais complexa porque,
à medida que se fiexiona, a segunda falange roda
longitudinalmente no sentido da pronação.
Numa peça anatômica (fig. 5-176), após
haver inserido dois espetos paralelos, a na cabeça da primeira falange e b na base da segunda,
em máxima extensãCY.a fiexão da interfalangeana produz a aparição de um ângulo de 5 a 100,
aberto do lado interno. no sentido da pronação.
A mesma experiência, realizada no ser vivo
com fósforos colados paralelos entre si na superfície dorsal de F e F . conduz ao mesmo resultado: a segunda falange do polegar realiza a pronação de 5 a 10° no curso da sua fiexão.
I
2
A explicação deste fenômeno se consegue
com argumentos puramente anatômicos: com a
articulação aberta pela sua superfície dorsal (fig.
1- --
5-177), podemos observar as diferenças entre
ambos os côndilos: o interno é mais proeminente, se estende mais para frente e para dentro que
o externo. O raio de curva do externo é menor,
embora a sua parte anterior "desça" de forma
mais abrupta em direção à superfície palmar.
Assim sendo, podemos deduzir que o ligamento
lateral interno (LU), que está rapidamente mais
tenso que o externo durante a fiexão, freia a parte interna da falange, enquanto a parte externa
da base da falange continua o seu trajeto.
Em outros termos (fig. 5-178), o trajeto percorrido AA' sobre o côndilo interno é levemente
mais curto que o trajeto sobre o externo BB', o
que acarreta a rotação longitudinal da pequena
falange. De modo que podemos afirmar que não
existe um eixo de fiexão-extensão, mas sim, uma
série de eixos instantâneos e evolutivos entre a
posição inicial i e a posição final.f
Se temos a intenção de modelar esta articulação, sobre uma lâmina de papelão, por exemplo, (fig. 5-179), basta traçar uma prega de fiexão, que não seja perpendicular ao eixo longitudinal do dedo, mas sim inclinada uns 5-10°: a
pequena falange descreverá o seu trajeto em fiexão corno uma rotação cônica provocando uma
mudança de orientação proporcional ao grau de
fiexão.
Este componente de pronação na interfalangeana se integra, como poderemos conferir
mais adiante, na pronação global da coluna do
polegar no percurso da oposição.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-175
LU
Fig.5-174
Fig.5-177
Fig.5-176
Fig.5-179
[
Fig.5-178
247
248 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS MÚSCULOS MOTORES DO POLEGAR
o polegar possui nove músculos motores:
esta riqueza muscular, que ultrapassa com
evidência à dos outros dedos, condiciona a mobilidade superior e a principal função deste dedo.
Estes músculos se classificam em dois
grupos:
a) os músculos extrínsecos, ou músculos
longos, são quatro e se localizam no antebraço. Três são abdutores e extensores
e se utilizam para soltar a preensão, o último é flexor e a sua potência se utiliza
para o bloqueio das preensões de força;
b) os músculos intrínsecos, incluídos na
eminência tenar e no primeiro espaço
interósseo, são cinco. Participam na realização de diferentes preensões e em particular na oposição. Não se trata de motores de potência. mas de precisão e
coordenação.
Para entender a ação dos motores sobre o
conjunto da coluna do polegar, é necessário situar o seu trajeto em relação aos dois eixos teóricos da trapézio-metÇlcmpeana (fig. 5-180): o
eixo yy' de flexão-extensão, paralelo aos eixos
fi' e f2 de f1exão da metacarpofalangeana e da
interfalangeana, e o eixo xx' de anteposição e
retroposição delimitam entre eles quatro quadrantes:
- um quadrante x'y' localizado atrás do
eixo yy' de f1exão-extensão da trapéziometacarpeana e diante do eixo xx' de antepu1são/retropulsão, ocupado pelo tendão de só um músculo, o abdutor longo
(1), que se localiza muito perto deste último eixo xx'. Isto explica a escassa importância do seu componente de anteposição e a sua forte ação de extensão so-
bre o primeiro metacarpeano (fig. 5-181,
vista externa e proximal do punho em
posição de fuga);
- um quadrante x'y situado por trás do eixo xx' e por trás do eixo yy', que inclui
os dois tendões extensores:
• o extensor:.curto (2),
• o extensor longo (3);
- um quadrante Xy localizado pela frente
do eixo yy' e por trás do eixo xx', ocupado por dois músculos situados no primeiro espaço e que produzem uma retroposição associada a uma ligeira f1exão
na trapézio-metacarpeana:
• o adutor com os seus dois fascículos (8),
• o primeiro interósseo palmar (9) quando existe.
Estes dois músculos são adutores do primeiro metacarpeano: fecham a primeira comissura. aproximando o primeiro metacarpeano do
segundo (fig. 5-182);
- um quadrante xy' situado pela frente dos
dois eixos xx' e yy' que inclui os principais músculos da oposição, por realizarem ao mesmo tempo uma f1exão e
uma anteposição do primeiro metacarpeano:
• o oponente (6),
• o abdutor curto (7).
Com relação aos dois últimos:
• o flexor longo próprio do polegar (4),
• e o flexor curto (5).
Situam-se no eixo xx' e, portanto, são f1exores puros da trapézio-metacarpeana.
1. MEMBRO SUPERIOR
249
y'
Fig.5-181
Fig.5-180
Fig.5-182
[
250 FISIOLOGIA
ARTICULAR
OS MÚSCULOS MOTORES DO POLEGAR
(continuação)
Uma breve lembrança de anatomia esclarece a fisiologia dos músculos motores do polegar.
do ligamento anular e do tubérculo do
trapézio; terminam mediante um tendão
comum no sesamóide externo e no tubérculo externo da base da primeira falange; direção oblíqua para cima e para
dentro;
Músculos extrÍnsecos (fig. 5-183, vista anterior e 5-184, vista externa):
- o abdutor longo do polegar (1) se insere
na parte ântero-externa da base do primeiro metacarpeano;
- o extensor curto do polegar (2) paralelo
ao anterior (fig. 5-184) se insere na parte dorsal da base da primeira falange;
- o extenso r longo do polegar (3) se insere na parte dorsal da base da segunda falange;
Com relação a estes três músculos podemos constatar duas observações:
• no plano anatômico: estes três tendões, visíveis na superfície dorsal e externa do polegar, delimitam entre si um
espaço triangular de vértice inferior, a
tabaqueira anatõmica, em cujo fundo
deslizam os tendões paralelos do primeiro (10) e segundo radial (11);
• no plano "funcional: cada um deles é
motor de um segmento do esqueleto do
polegar e os três em conjunto no sentido da extensão;
- o fiexor próprio do polegar (4) corre pelo túnel do carpo, passa entre os dois fascículos musculares do flexor curto, desliza entre os dois ossos sesamóides (fig.
5-183) para se inserir na superfície palmar da base da segunda falange.
Músculos intrínsecos (figs. 5-183
5-184). Classificam-se em dois grupos:
e
O grupo externo contêm três músculos,
inervados pelo mediano, que são, da profundidade à superfície:
- o fiexor curto (5) constituído por dois
fascículos, um se fixa no fundo do canal
do carpo e o outro na margem inferior
- o oponente (6) se insere na parte externa
da superfície anterior do metacarpeano, se
dirige pata cima, para dentro e para frente
para se inserir na metade externa da superfície anterior' do ligamento anular;
- o abdutor curto (7) se fixa no ligamento
anular, acima do anterior e sobre o tubérculo do escafóide, constituindo o plano
superficial dos músculos tenares e se insere no tubérculo externo da primeira falange; uma expansão dorsal forma um
espaldão com o primeiro interósseo palmar (9), este músculo não se localiza para fora, mas para frente e para dentro do
primeiro metacarpeano, e se dirige, como o oponente, para cima, para dentro e
para a frente.
Estes três músculos constituem o grupo externo porque se inserem na parte e:rterna do metacarpeano e da primeira falange. O flexor curto e o abdutor curto formam os sesamóides extemos.
O grupo interno contém dois músculos
inervados pelo ulnar que se inserem na margem
interna da articulação metacarpofalangeana:
- o primeiro interósseo palmar (9), cujo
tendão se insere no tubérculo interno da
base da primeira falange e envia uma expansão dorsal;
- o adutor do polegar (8), cujos dois fascículos oblíquo e transverso se inserem
no sesamóide interno e no tubérculo interno da base da primeira falange.
Por motivo de simetria, estes dois músculos
constituem os sesamóides internos. São sinérgicos-antagonistas dos sesamóides externos.
1-----
Fig.5-183
Fig.5-185
Fig.5-186
252 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS AÇÕES DOS MÚSCULOS EXTRÍNSECOS DO POLEGAR
o abdutor
longo do polegar (AL) (fig. 5-187)
o primeiro metacarpeano para fora e para
frente. Portanto, não só é abdutor mas também antepulsor do metacarpeano, especialmente quando o
punho está em flexão leve. Este componente anterior se deve ao fato de que o tendão do abdutor longo é o mais anterior dos tendões da tabaqueira anatômica (ver figo 5-184). Quando o punho não está
estabilizado
pelos extensores radiais - principalmente o curto - o abdutor longo também é fiexor do
punho. Quando o punho está estendido, o abdutor
longo se transforma em retropulsor do primeiro metacarpeano.
desloca
No p/ano funcional, o par abdutor longo e
músculos do grupo externo desempenha um papel
primordial na oposição. De fato, para que o polegar
se coloque em oposição, é necessário que o primeiro metacarpeano
se desloque perpendicularmente
pela frente do plano da palma da mão, com a eminência tenar formando um cone proeminente por cima da margem externa da palma da mão. Esta ação
é o resultado do funcionamento
do par funcional
(figs. 5-185 e 5-186, página anterior: o primeiro metacarpeano aparece estilizado):
- primeira fase (fig. 5-185): o abdutor longo
(]) estende o metacarpeano,
para frente
para fora, da posição
à posição
I
II;
e
- segunda fase (fig. 5-186): a partir desta po-
sição II, os músculos do grupo externo, flexor curto e abdutor curto (5 e 7) e oponente
(6) deslocam o metacarpeano para frente e
para dentro (posição lU) e o rodam sobre o
seu eixo longitudinal.
Para maior comodidade
da descrição
expor as duas fases de maneira sucessiva.
vamos
Na verdade, são simultâneas e a posição final
metacarpeano é o resultado da ação sincrôni-
lII do
ca dos dois elementos do par funcional.
O extensor curto do polegar (EC) (fig. 5-188)
possui duas ações:
a) estende a primeirafalange
peano;
sobre o metacar-
b) desloca o primeiro metacarpeano
e, por
conseguinte o polegar, diretamente para fora:
se trata do verdadeiro abdutor do polegar, o
que corresponde a uma extensão e a uma retroposição da trapézio-metacarpeana.
Para que
esta abdução se relize de maneira isolada, é necessário estabilizar o punho mediante a contração sinérgica do flexor ulnar do carpo e principalmente do extensor ulnar do carpo, caso
contrário, o extensor curto também realiza a
abdução do punho.
O extensor longo do polegar (EL) (fig. 5-189)
tem três ações:
a) estende a segundafa/ange
sobre a primeira:
b) estende a primeirafalange
peano;
sobre o metacar-
c) desloca
trás:
o metacarpeano
para dentro e para
• para dentro: "fecha"
interósseo,
o primeiro espaço
de modo que é adutor do pri-
meiro metacarpeano;
• por trás do plano da mão: é retropulsor
do primeiro metacarpeano graças a sua
reflexão sobre o tubérculo de Lister (fig.
5-181). Devido a isto, o extensor longo é
um antagonista da oposição: contribui a
aplanar a palma da mão; a polpa do polegar se orienta para frente.
O extensor longo forma um par antagonistasinérgico com o grupo externo dos mLÍsculos tenares: de fato, quando queremos estender a segunda
falange sem deslocar o polegar para trás, é necessário que o grupo tenar externo estabilize o metacarpeano e a primeira falange pela frente. O grupo tenar externo atua como moderador do extenso r longo do polegar: quando os músculos tenares se paralisam, o polegar se desloca irresistivelmente
para
dentro e para trás. De maneira acessória, o extensor
longo também é extenso r do punho quando esta
ação não está anulada pela contração do palmar
maIOr.
O flexor longo próprio do polegar (FL) (fig.
5-190) é fiexor da segunda falange sobre a primeira, e de maneira acessória flexiona levemente
meira falange sobre o metacarpeano.
Para que
xão da segunda falange se realize de maneira
da, o extensor curto, mediante sua contração,
impedir a flexão da primeira (par sinérgico).
a pria fleisoladeve
Mais adiante poderemos analisar o papel indiscutível que desempenha o fiexor longo do polegar
na preensão terminal (ver figs. 5-211 e 5-212).
EC
EL
Fig.5-189
AL
Fig.5-187
254 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS AÇÕES DOS MÚSCULOS INTRÍNSECOS DO POLEGAR
Grupo interno dos músculos tenares,
também denominados músculos sesamóides internos:
O adutor do polegar (fig. 5-191), com os
seus dois fascículos (I, fascículo transverso; 1',
fascículo oblíquo), estende sua ação sobre as
três peças ósseas do polegar:
a) no primeiro metacarpeano (esquema,
figo5-192), a contração do adutor desloca o primeiro metacarpo para uma posição de equilíbrio ligeiramente para fora
e para frente do segundo metacarpeano
(posição A), embora o sentido do movimento dependa da posição inicial do
metacarpeano (segundo Duchenne de
Boulogne):
• o adutor é realmente adutor se o metacarpeano parte de uma posição de máxima abdução (posição 1);
• mas se transforma em abdutor se o metacarpeano está, no ponto de partida,
em máxima adução (posição 2);
• se o metacarpeano está em máxima retropulsão, sob a influência do extensor
longo próprió (posição 3), o adutor se
transforma em antepulsor;
• ao contrário, se o metacarpeano é colocado previamente em anteposição pelo
abdutor curto (posição 4), se transforma em retropulsor;
(R indica a posição de repouso do primeiro metacarpeano);
Recentes estudos eletromiográficos demonstraram que o adutor do polegar
não intervém ativamente durante a adução somente, mas também durante a retropulsão do polegar, durante a preensão com toda a palma e no percurso da
preensão subterminal (pulpar) e principalmente subterminal-lateral (pulparlateral). Durante a oposição do polegar
,----
aos outros dedos, intervém mais ativamente quanto mais o polegar realiza a
oposição a um dedo mais interno. Portanto, sua ação é máxima para a oposição polegar/dedo mínimo.
O adutor não intervém na abdução, na
antepulsão, na preensão tetminal-terminal (pulpoungueal).
Posteriores -trabalhos eletromiográficos
confirmaram que "a sua atividade se manifesta principalmente no movimento
que aproxima o polegar do segundo metacarpeano, e isto em todos os setores da
oposição. Sua atividade é menor num
trajeto maior que em outro menor" (fig.
5-193, esquema de ação do adutor segundo Hamonet, de Ia Caffiniere e Opsomer).
b) na primeira falange (fig. 5-191) a ação é
tripla: ligeira fiexão, inclinação sobre a
margem interna (margem ulnar), rotação longitudinal em supinação (rotação
externa) (seta preta);
c) na segllndafalange: extensão, na medida em que as inserções terminais do adutor são comuns com as do primeiro interósseo.
O primeiro interósseo palmar possui uma
ação muito semelhante:
- adllção (aproximação do primeiro metacarpeano ao eixo da mão);
- fiexão da primeirafalange pelo espaldão;
- extensão da segunda por expansão lateral.
A contração global dos músculos do grupo
tenar interno provoca que a polpa do polegar entre em contato com a superfície externa da primeira falange do dedo indicador e, ao mesmo
tempo, uma supinação da coluna do polegar (fig.
5-191). Estes músculos são indispensáveis para
segurar com firmeza os objetos entre o polegar e
o dedo indicador.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-191
~p
~~
@
~~~
Fig.5-192
I
255
256 FlSIOLOGIAARTICULAR
AS AÇÕES DOS MÚSCULOS INTRÍNSECOS DO POLEGAR
(continuação)
Grupo externo dos músculos
tenares
(fig.5-194)
O oponente (2) possui três ações, simétricas
às do oponente do quinto (ver figo 5-102); o diagrama eletromiográfico (fig. 5-195, mesma origem) ressalta os setores:
-
antepulsão do primeiro metacarpeano sobre
o carpo, principalmente no maior trajeto;
-
adução, aproximando o primeiro metacarpeano ao segundo nas posições extremas;
-
rotação longitudinal no sentido da prona-
ção.
Sendo estas três ações simultâneas necessárias
para a oposição, este músculo faz jus ao seu nome.
De modo que o oponente intervém ativamente
em qualquer tipo de preensão que necessita da intervenção do polegar. Além disso, a eletromiografia
demonstra sua atuação paradoxal na abdução, no
curso da qual desempenharia uma função estabilizadora sobre a coluna do polegm:
O abdutor curto (3) afasta o primeiro metacarpeano do segundo no final da oposição (fig.
5-196, esquema eletromiográfico; mesma origem):
-
desloca o primeiro metacarpeano para
frente e para dentro no percurso do maior
trajeto da oposição, durante a máxima separação do segundo;
- jfexiona a primeira falange sobre o metacarpeano,provocando:
• um movimento de desvio radial (sobre a
margem externa) e
• uma rotação longitudinal no sentido da
pronação (rotação interna) (seta preta)
-
por último, estende a segunda falange sobre a primeira mediante a sua expansão ao
extensor longo.
Quando se contrai de maneira isolada (excitação elétrica), o abdutor curto desloca a polpa do
polegar em oposição com o dedo indicador e o
médio (fig. 5-194). Portanto, se trata de um músculo essencial na oposição. Já vimos anteriormente (figs. 5-185 e 5-186) que constitui, com o abdutor longo, um par funcional indispensável para a
oposição.
O flexor curto (4) participa na ação geral dos
músculos do grupo externo (fig. 5-197). Porém,
quando se contrai de maneira isolada (experiências
de excitação elétrica de Duchenne de Boulogne),
podemos constatar que a sua ação de adução é muito mais pronunciada, porque desloca a polpa do polegar em oposição com os dois ú\timos dedos. Pelo
contrário, sua ação de antepulsão do primeiro metacarpeano (projeção para frente) é menos ampla,
porque o seu fascículo profundo (4') realiza a oposição neste ponto ao superficial (4). Possui uma
ação de rotação longitudinal muito acentuada no
sentido da pronação.
A concentração dos potenciais sobre o seu fascículo superficial (fig. 5-198, esquema segundo a
mesma origem) mostra que existe uma atividade semelhante à do oponente: sua ação máxima se realiza durante o maior trajeto da oposição.
Este também é fiexor da primeira falange sobre o metacarpeano, porém o abdutor curto. com o
qual forma o grupo dos sesamóides externos. e o
primeiro interósseo palmar que fonna o espaldão da
primeira falange, também participam ajudando-o a
realizar esta ação.
A contração global dos músculos do grupo tenar externo, reforçada pela do abdutor longo. realiza a oposição do polegar.
A extensão da segunda falange se realiza
(experiências de Duchenne de Boulogne) por três
músculos ou grupos musculares que intervêm em
circunstâncias diferentes:
1) pelo extenso r longo próprio do polegar: se
associa com uma extensão da primeira falange e uma diminuição da eminência tenar. Estas ações acontecem quando abri~
mos e aplanamos a mão;
2) pelos músculos do grupo tenar interno
(primeiro interósseo palmar): se associa
com uma adução do polegar. Estas ações
acontecem quando fazemos a oposição da
polpa do polegar à superfície externa da
primeira falange do dedo indicador (ver figo
5-214);
3) pelos músculos do grupo tenar externo
(principalmente o abdutor curto) na ação
de oposição da polpa (ver figo5-213).
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-194
\.
Fig.5-196
Fig.5-197
257
258 FISIOLOGIA ARTICULAR
A OPOSIÇÃO DO POLEGAR
A oposição é o principal movimento do polegar: é a ação de deslocar a polpa do polegar
em contato com a polpa de um dos outros quatro dedos para constituir uma pinça polegar-digital. Portanto, não existe uma única oposição,
mas toda uma gama de oposições que realizam
uma grande variedade de preensões e de ações
dependendo do número de dedos envolvidos e
de sua modalidade de associação. O polegar adquire todo o seu significado funcional em relação aos outros dedos e vice-versa. Sem o polegar, a mão perde quase totalmente o seu valor
funcional até o ponto que as intervenções cirúrgicas complexas planejam a sua reconstrução
partindo dos elementos remanescentes: se trata
das operações de "polegarização" de um dedo e
atualmente, de transplante.
Todos os tipos de oposição estão incluídos
no interior de um setor cônico de espaço em cujo vértice se localiza a trapézio-metacarpeana, o
cone de oposição. Na verdade, este cone é bastante deformado porque a sua base está limitada
pelos "trajetos maior e menor de oposição". O
trajeto maior (fig. 5-199) descrito perfeitamente por Sterling Bunnel durante a sua clássica experiência dos "fósforos" (fig. 5-203). O trajeto
menor (fig. 5-200), no percurso do qual "o primeiro metacarpeano realiza num plano e de forma praticamente linear um movimento que desloca progressivamente a sua cabeça pela frente
do segundo metacarpeano", é, na verdade, uma
reptação do polegar pela palma da mão, muito
pouco utilizada e pouco funcional, que não merece a denominação de oposição porque não se
associa praticamente com este componente de
rotação que é, como já vimos, fundamental para
a oposição. Por outra parte, esta reptação do polegar pelo interior da palma da mão se observa
justamente nas paralisias da oposição por déficit
do nervo mediano.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-199
Fig.5-200
259
260 FISIOLOGIA ARTICULAR
A OPOSIÇÃO DO POLEGAR
(continuação)
Do ponto de vista mecânico, a oposição do
polegar é um movimento complexo que associa,
em diversos graus, três componentes: a anteposição, a flexão e a pronação da coluna ósteo-articular do polegar:
-
a anteposição ou projeção (fig. 5-201) é
o movimento que desloca o polegar para frente com relação ao plano da palma da mão, de modo que a eminência
tenar constitui um cone no ângulo súpero-externo da mão. Realiza-se principalmente no nível da trapézio-metacarpeana e de maneira acessória na metacarpofalangeana, onde o desvio radial
acentua o alinhamento da coluna do polegar. Esta separação do primeiro
metacarpeano com relação ao segundo
se denomina abdução no caso dos autores ingleses, o que se contradiz com o
segundo componente de adução que
desloca o dedo para dentro. De modo
que, se desejamos utilizar o termo de
abdução, devemos reservá-lo para a separação do primeiro metacarpeano do
segundo no plano fron tal;
- a flexão (fig. 5-202) desloca toda a coluna do polegar para dentro, e este é o
motivo pelo qual se denomina adução na
terminologia clássica. Participam as três
articulações do polegar:
• principalmente a trapézio-metacarpeana, embora não possa deslocar o primeiro metacarpeano além do plano sagital que passa pelo eixo longitudinal
do segundo. Trata-se de um movimento
de flexão porque se continua com a flexão da segunda articulação;
• a metacarpofalangeana que acrescenta
sua flexão em diversos graus dependendo do dedo "enfocado" pelo polegar no
seu movimento de oposição;
• por último, a interfalangeana se flexiona para dar o "toque final" prolongando
a ação da metacarpofalangeana de mo-
do que atinja o seu objetivo;
-
a pronação (fig. 5-203), componente
essencial da oposição do polegar, graças a qual as polpas dos dedos podem
tocar umas às outras, é definida como
a mudança de atitude da última falange do polegar que "se orienta" em direções diferentes dependendo do seu
grau de rótação sobre o seu eixo longitudinal. A denominação de pronação se
deve à analogia com o movimento do
antebraço e se realiza no mesmo sentido. Esta rotação da primeira falange
sobre o seu eixo longitudinal é o resultado da atividade da coluna do polegar
em conjunto, onde todas as articulações estão envolvidas em graus e por
mecanismos diversos. A experiência
"dos fósforos" de Sterling Bunnel
(fig. 5-203) o comprova: após ter colado um fósforo transversalmente na base da unha do polegar, e observando a
mão "em pé", medimos um ângulo de
90 a 1200 entre a sua posição inicial A,
mão plana, e a sua posição final B, posição de máxima oposição, polegar
contra dedo mínimo. Em princípio,
pensamos que a rotação da coluna do
polegar sobre o seu eixo longitudinal
se realizava graças à lassidão da cápsula da trapézio-metacarpeana. Porém,
trabalhos recentes demonstram que
durante a oposição é quando a articulação está mais "fechada" (close packed
position) e que o jogo mecânico é menor.
Hoje sabemos que se o essencial da rotação provém da trapézio-metacarpeana,
é graças a outro mecanismo, o do "c ardão" desta articulação de dois eixos. Por
conseguinte, uma prótese de dois eixos
da trapézio-metacarpeana realizada seguindo estes princípios desempenha perfeitamente a sua função, permitindo uma
oposição normal.
1-····
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-202
Fig.5-201
A
Fig.5-203
261
262 FISIOLOGIA ARTICULAR
A OPOSIÇÃO DO POLEGAR
(continuação)
o componente
de pronação
A pronação da coluna do polegar provém
de dois contingentes de rotação:
-
a rotação automática produzida pela
ação da trapézio-metacarpeana,
como se
mencionou
anteriormente
(ver pág.
230), lembrando que as duas outras articulações metacarpofalangeana
e interfalangeana intervêm acrescentando a sua
flexão à da trapézio-metacarpeana;
isto
faz com que o eixo longitudinal da segunda falange seja quase paralelo ao eixo principal xx' de anteposição e retroposição, conseguindo que esta falange
terminal realize uma rotação cilíndrica
onde toda rotação da trapézio-metacarpeana ao redor deste eixo realize uma
rotação igual, uma mesma mudança de
atitude, da polpa do polegar.
Este mecanismo
é fácil de verificar graças
ao modelo mecânico da mão (ver ao final deste
volume).
Da posição de partida (fig. 5-204) à posição de chegada (fig. 5-205) a mudança de atitude da segunda falange e a sua oposição com a última falange do dedo mínimo se obtém mediante a mobilização em tomo dos quatro eixos xx',
yy', fi e f2, sem necessidade de torcer o papelão
que seria equivalente a "um jogo mecânico" numa das articulações.
Resumindo (fig. 5-206), basta realizar sucessivamente
(ou simultaneamente)
as quatro
operações seguintes:
1) rotação na trapézio-metacarpeana em torno do eixo xx' da peça inter,média do cardão no sentido da anteposição (seta 1) deslocando o primeiro metacarpeano da posição 1 à posição 2 e o eixo YIYI' a y2y2';
2) rotação da trap~zio-metacarpeana
da primeira falange em tomo do eixo fi;
3) flexão da metacarpofalangeana
da primeira falange em torno do eixo fi;
4) flexão da interfalangeana
lange em tomo do eixo
da segunda faf2•
Desse modo se demonstra, não mediante
argumentos teóricos, mas por trabalhos práticos,
a importante função do cardão da trapézio-metacarpeana na rotação longitudinal do polegar.
~ a rotação "acrescentada" (fig. 5-207)
que aparece com clareza após ter fixado
os fósforos de referência transversais
sobre os três segmentos móveis do polegar cuja posição é a máxima oposição.
Assim, podemos constatar que a pronação aproximada de 30° que se soma à
anterior se situa em dois níveis:
• na metacarpofalangeana onde uma pronação de 24° é o resultado da ação dos
músculos sesamóides externos, abdutor
curto e flexor curto. É uma rotação ativa;
• na inteifalangeana onde uma pronação
de 7°, puramente automática, é o resultado do fenômeno de rotação cônica
(ver figo 5-176).
1. MEMBRO SUPERlOR 263
Fig.5-204
Fig.5-206
Fig.5-207
Fig.5-205
264 FISIOLOGIA
ARTICULAR
A OPOSIÇÃO E A CONTRA-OPOSIÇÃO
Já mencionamos a função essencial que desempenha a trapézio-metacarpeana, "a rainha",
poderíamos dizer, da oposição do polegar; só
falta dizer que a trapézio-metacarpeana e a interfalangeana permitem distribuir a oposição sobre
cada um dos últimos quatro dedos. De fato, é
graças ao grau de flexão mais ou menos acentuado destas duas articulações que o polegar pode
escolher o dedo que vai realizar a oposição.
Na oposição polegar-dedo indicador, polpa
contra polpa (fig. 5-208), a metacarpofalangeana se ftexiona muito pouco sem nenhuma pronação nem desvio radial. É o seu ligamento lateral
interno o que se opõe ao desvio radial do polegar sob o deslizamento do dedo indicador; a interfalangeana está estendida; mas existem outras
formas de oposição polegar-dedo indicador, a
ponta do dedo-ponta do dedo (término-terminal)
por exemplo, onde, pelo contrário, a metacarpofalangeana está totalmente estendida e a interfalangeana ftexionada.
Na oposição polegar-dedo mínimo término-terminal (fig. 5-208 bis), a metacarpofalangeana se ftexiona com desvio radial e pronação,
e a interfalangeana se flexiona. Na oposição da
polpa, a interfalangeana está estendida.
Portanto, é totalmente viável afirmar que a
partir de uma posição de base do primeiro metacarpeano em oposição, a metacarpofalangeana
éa que permite escolher a oposição.
A oposição, indispensável para pegar objetos, não serviria de nada sem a contra-oposição
que permite soltá-Ios ou preparar a mão para objetos mais volumosos. Este movimento (fig. 5209) é definido por três componentes a partir da
oposição:
- extensão; "
-
retroposição;
- supinação da coluna do polegar.
Os seus motores são:
-
o abdutor longo;
o abdutor curto;
- e, principalmente, o extensor longo do
polegar, que é o único capaz de deslocá10 em máxima retroposição, no plano da
mão.
são:
Os nervos motores do polegar (fig. 5-210)
-
o radial no caso da contra-oposição;
-
o ulnar e especialmente o mediano para
a oposição.
Os testes de movimentos são:
-
a extensão do punho e das metacarpofalangeanas dos quatro últimos dedos, a
extensão e separação do polegar para a
integridade do radial;
-
a extensão das duas últimas falanges dos
dedos e separação e aproximação para o
ulnar;
-
o fechamento da mão e a oposição do
polegar para o mediano.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig. 5-208 bis
Fig.5-208
Fig.5-210
Fig.5-209
265
266 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS TIPOS DE PREENSÃO
A complexa organização anatõmica e funcional da mão converge na preensão; porém, não existe só um tipo de preensão, mas vários tipos que se classificam em três grandes grupos: as preensões
propriamente ditas, as preensões com a gravidade e as preensões com
ação. Isto não resume todas as possibilidades de ação da mão: além
da preensão, também pode realizar percussões, contato e expressão
gestual. De modo que vamos analisar sucessivamente: a preensão, a
percussão, o contato manual e a expressão gestual da mão.
APREENSÃO
As preensões propriamente ditas se classificam
em três grupos: as preensões digitais, as preensões palmares, as preensões centradas. Todas têm um ponto em
comum: ao contrário das que vamos expor a seguir, não
necessitam da participação da gravidade.
A) As preensões digitais se dividem por sua vez
em dois subgrupos: as preensões bidigitais e as
preensões pluridigitais:
a) as preensões bidigitais constituem a clássica
pinça polegar-digital, geralmente polegar-dedo
indicador. Assim, são de três tipos, dependendo
de que a oposição seja terminal, subterminal o
subterminal-lateral:
1)
a preensão por oposição terminal ou terminal-polpa (figs. 5-211 e 5-212) é a mais
fina e precisa. Permite segurar um objeto de
pequeno calibre (fig. 5-211) ou pegar um objeto muito fino: um fósforo ou um alfinete
(fig. 5-212). O polegar e o dedo indicador
(ou o médio) realizam a oposição pela extremidade da pàlpa e inclusive no caso de alguns objetos extremamente finos (pegar um
cabelo) com a ponta da unha. Portanto, precisa de uma polpa elástica e corretamente
terminada pela unha, cuja função é primordial neste tipo de preensão. Por este motivo,
também podemos denominá-Ia preensão
pulpoungueal. É a preensão mais fácil de
ser prejudicada, mesmo com uma mínima alteração da mão; de fato, precisa de um máximo jogo articular (a fiexão é máxima) e principalmente necessita de que os grupos musculares e os tendões estejam íntegros, e especialmente:
-
o fiexor profundo (lado dedo indicador),
que estabiliza a pequena falange em fiexão, daí a importância de uma reparação
prioritária do fiexor comum profundo
quando ambos os fiexores estão seccionados;
- fiexor longo próprio do polegar (lado polegar), pela mesma razão;
I
-
2) a preensão por oposição subterminal ou
da polpa (fig. 5-213) é o tipo mais comum. Permite segurar objetos relativamente mais grossos: um lápis ou uma folha de papel: o teste de eficácia da preensão da polpa sub-terminal consiste em
tentar arrancar uma folha de papel segurado com firmeza pelo polegar e o dedo indicador. Se a oposição é boa, a folha não
se pode arrancar. Também denominamos
signo de Froment, que avalia tanto a potência do adutor quanto a integridade do
nervo ulnar que o inerva.
Neste tipo de preensão, o polegar e o dedo
indicador (ou qualquer outro dedo) realizam
a oposição pela superfície palmar da polpa.
Naturalmente, o estado da polpa é importante, porém a articulação interfalangeana distal
pode estar em extensão ou inclusive bloqueada em semifiexão mediante uma artrodese. Os principais músculos deste tipo de
preensão são:
-
o fiexor superficial (lado dedo indicador)
para a estabilização em flexão da segunda falange;
-
os músculos tenares fiexores da primeira
falange do polegar: flexor curto, primeiro
interósseo palmar, abdutor curto e especialmente o adutor;
3) a preensão por oposição subterminal-Iateralou pulpolateral (fig. 5-214), como quando seguramos uma moeda. Este tipo de
preensão pode substituir a oposição terminal
ou a sub-terminal no caso de amputação das
duas últimas falanges do dedo indicador: a
preensão não é tão fina embora continue sendo sólída. A superfície palmar da polpa do
polegar entra em contato com a superfície
externa da primeira falange do dedo indicador. Os músculos mais importantes deste tipo de preensão são:
-
o primeiro interósseo dorsal (lado dedo
indicador) para estabilízar o dedo indicador lateralmente (além de estar auxiliado
pelos outros dedos);
-
o fiexor curto, o primeiro interósseo palmar e especialmente o adutor do polegar.
A atividade deste último músculo está
confirmada por eletromiografia.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-212
Fig.5-214
Fig.5-213
267
------~
268 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS TIPOS DE PREENSÃO
(continuação)
4) entre as preensões digitais, existe uma
que não constitui uma pinça polegar-digital, se trata da:
preensão interdigital lateral-lateral
(fig. 5-215): é um tipo de preensão acessória: por exemplo segurar um cigarro.
Geralmente, se realiza entre o dedo indicador e o médio, o polegar não intervém. O diâmetro do objeto que se deseja pegar deve ser pequeno. Os músculos
que participam são os interósseos (segundos interósseos palmar e dorsal). É
uma preensão débil e sem precisão, embora os indivíduos que tenham sofrido
amputação do polegar a realizem de
maneira surpreendente;
b) as preensões pluridigitais provocam a
participação, além do polegar, dos outros dois, três ou quatro dedos. Permitem uma preensão muito mais firme que
a bidigital que persiste como preensão
de precisão;
I) as preensões tridigitais envolvem o
polegar, dedo indicador e o médio e
são as que se utilizam com maior freqüência. Uma parte importante, para
não dizer preponderante, da humanidade que não usa o garfo, utiliza esta
preensão para levar os alimentos à
boca. É semelhante à preensão tridigital da polpa (fig. 5-216), que se utiliza para segurar uma bola pequena
em que o polegar realiza a oposição
da sua polpa à do dedo indicador e à
do médio com relação ao objeto. Por
exemplo, para escrever com um lápis
(fig. 5-217), necessitamos de uma
preensão tridigital, da polpa, no caso
do dedo indicador e do polegar, e do
lateral para a terceirafalange
do médio que serve de suporte da mesma
maneira que o fundo da primeira comissura. Assim sendo, esta preensão é
muito direcional e é semelhante às
preensões centradas e às preensões
ativas, que poderemos analisar mais
adiante, já que a escritura não é somente o resultado dos m'Ovimentos do
ombro e da mão que se desliza pela
mesa sobre o seu bordo ulnar e o dedo mínimo, mas também dos movimentos dos .três primeiros dedos que
provocam a participação do ftexor
longo próprio do polegar e do ftexor
superficial do dedo indicador para o
vaivém do lápis e dos músculos sesamóides externos e do segundo interósseo dorsal para segurá-Io.
A ação de desenroscar a tampa de uma
garrafa (fig. 5-208) é uma preensão tridigital, lateral para o polegar e a segunda falange do médio que realizam
a oposição diretamente e da polpa para o dedo indicador que bloqueia o
objeto sobre o terceiro lado. O dedo
médio serve de pico, encaixado entre o
anular e o dedo mínimo. O polegar
aperta com força a tampa contra o médio graças à contração de todos os
músculos tenares; o bloqueio se inicia
graças ao ftexor longo próprio e termina com o dedo indicador por ação do
seu ftexor superficial. Quando abrimos
a tampa, para desenroscar, não necessitamos de ajuda do dedo indicador,
com o polegar e o médio: ftexão do polegar, extensão do médio.
Se no início a tampa não estiver muito
apertada, podemos realizar apreensão
tridigital da polpa para os três dedos
com movimento de desenroscar por
ftexão do polegar, extensão do médio e
participação do dedo indicador em abdução (primeiro interósseo dorsal).
Também é considerada como uma
preensão ativa.
Fig.5-217
/
Fig.5-216
Fig.5-215
Fig.5-218
,I
I
I
270 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS TIPOS DE PREENSÃO
(continuação)
2)
as preensões tetradigitais se utilizam
quando um objeto é muito grande e deve
ser segurado com maior firmeza. Então,
a preensão pode ser:
- tetradigital
da polpa (fig. 5-219)
quando pegamos um objeto esférico
como uma bola de pingue-pongue.
Neste caso podemos observar que o
contato se faz com a polpa no caso do
polegar, dedo indicador e médio, sendo lateral no caso da terceira falange
do anular, cuja função é evitar que o
objeto escape para dentro da mão,
- tetradigital da polpa-lateral (fig. 5220) quando desenroscamos uma tampa. Neste caso, o contato do polegar é
amplo, abrangendo a polpa e a superfície palmar da primeira falange, bem
como sobre o dedo indicador e o mé-
dio; é lateral e da polpa na segunda falange do anular que bloqueia o objeto
por dentro. "A volta" da tampa pelos
quatro dedos produz um movimento
em espiral sobre o segundo, o terceiro
e o quarto dedos e podemos demonstrar que a resultante das forças que
exercem se anula no centro da tampa,
que se projeta para a metacarpofalangeana do dedo indicador;
- tetradigital da polpa do polegar-tridigital (fig. 5-221), como quando se
mantém um crayon, um pincel ou um
lápis: a polpa do polegar dirige e mantém o objeto com força contra a polpa
do dedo indicador, do médio e do anular quase em máxima extensão. Também é a maneira como o violinista e o
violoncelista
seguram o seu arco.
1. MEMBRO SUPERIOR
/
I/
Fig.5-221
Fig.5-219
\0
;/;
(
Fig.5-220
271
r272 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS TIPOS DE PREENSÃO
(continuação)
3) as preensões pentadigitais utilizam todos os dedos, o polegar realiza a oposição de forma variada com relação aos
outros dedos. São utilizadas geralmente
para pegar grandes objetos. Porém,
quando se trata de um objeto pequeno,
podemos pegar com urna preensão pentadigital da polpa (fig. 5-222), de modo
que só o quinto dedo realiza um contato lateral. Se o objeto é um pouco mais
volumoso, como urna bola de tênis, a
preensão se converte em pentadigital
polpa-lateral (fig. 5-223): os quatro
primeiros dedos entram em contato
com toda a sua superfície palmar e envolvem o objeto quase totalmente, o polegar realiza a oposição aos três outros
dedos e o dedo mínimo evita, mediante
sua superfície externa, qualquer possível deslocamento do objeto para dentro
e em sentido proximal. Embora não se
trate de uma preensão palmar, a bola se
localiza mais nos dedos que na palma
da mão, também é uma preensão firme.
Outra preensão pentadigital que poderia ser
denominada pentadigital comissural (fig. 5-224)
pega objetos grossos semi-esféricos, um prato
de sobremesa por exemplo, envolvendo-o com a
primeira comissura: polegar e dedo indicador
amplamente estendidos e separados entram em
contato com toda sua superfície palmar, o qual
precisa de uma grande flexibilidade e possibilidades normais de separação da primeira comissura. Este não é o caso após fraturas do primeiro metacarpeano ou feridas do primeiro espaço
que acarretam uma~retração da primeira comissura. Além do mais, seg~ramos o prato (fig. 5-225)
com os dedos médio, anular e mínimo, que só entram em contato por meio das suas duas últimas
falanges. Portanto, se trata de uma preensão digital e não palmar.
Apreensão pentadigital "panorâmica" (fig
5-226) permite pegar grandes objetos planos, uma travessa, por exemplo. Para poder realizá-Ia necessitamos de uma grande separação
dos dedos, amplamente divergentes, o polegar se
coloca em retroposição e em máxima extensão,
de modo que é em máxima contra-oposição. A
preensão se realiza diametralmente ao anular
(setas brancas) com o qual tensiona um arco de
180° sobre o que se engancham o dedo indicador e o médio. O dedo mínimo "morde" o outro
semicírculo de tal maneira que o arco estabelecido entre ele e o polegar é de 215°; estes dois
dedos, em máxima separação. uma oitava segundo os pianistas, formam com o dedo indicador
uma preensão "triangular" quase regular e, com
os outros dedos, uma preensão tipo "gancho" da
qual o objeto não pode escapar. Observamos que
a eficácia desta preensão depende da integridade
das interfalangeanas distais e da ação dos flexores profundos.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-222
Fig.5-223
Fig.5-225
Fig.5-224
Fig.5-226
273
r
274 FISIOLOGIA
ARTICULAR
OS TIPOS DE PREENSÃO
(continuação)
B) Nas preensões palmares particIpam
tanto os dedos quanto a palma da mão.
São de dois tipos, dependendo da utilização ou não do polegar:
a) apreensão
digital-palmar (fig. 5227) realiza a oponência da palma da
mão com os últimos quatro dedos. É
um tipo de preensão acessória, mas
utilizada com freqüência quando acionamos uma alavanca ou seguramos
um volante. O objeto, de escasso diâmetro (de 3 a 4 cm), está segurado entre os dedos flexionados e a palma da
mão, o polegar não participa: a preensão, até certo ponto, só é firme no sentido distal; o objeto pode deslizar com
facilidade em direção ao punho,
porque a preensão não está bloqueada. Além disso, podemos constatar
que o eixo da preensão é perpendicular ao eixo da mão e não segue a direção oblíqua do sulco palmar. Esta
preensão digital-palmar também pode
ser utilizada para se pegar um objeto
mais volumoso, um copo, por exemplo, (fig. 5-228), mas quanto mais importante seja o diâmetro do objeto,
menos firmeza possui apreensão.
b) apreensão palmar com toda a mão
ou toda a palma (figs. 5-229 e 5230) é a preensão de força para os
objetos pesados e relativamente volumosos. Um termo antigo e pouco
usado, mão fechada, é idôneo para
denominar este tipo de preensão e
merece esta honra. A mão literalmente se fecha ao redor de objetos cilíndricos (fig. 5-229); o eixo do objeto
fica na mesma direção que o eixo do
sulco palmar, isto é, oblíquo da base
da eminência hipotenar à base do dedo indicador. Com relàção à base da
mão e do antebraço, esta obliqüidade
se corresponde com a inclinação do
cabo das ferramentas (fig. 5-230) que
forma um ângulo de 100 a 110°. É fácil constatar que é possível compensar com mais facilidade um ângulo
muito aberto (120 a 130°) graças ao
desvio ulnar do punho, do que um ângulo muito fechado (90°), já que o
desvio radial é bastante menos amplo.
O volume do objeto que seguramos
condiciona a força da preensão: é perfeita quando o polegar pode entrar em
contato (ou quase) com o dedo indicador. De fato, o polegar constitui o único elemento que realiza a oposição
com relação à força dos outros quatro
dedos, e sua eficácia é maior quanto
mais flexionado esteja. O diâmetro
dos cabos das ferramentas depende
desta constatação.
A forma do objeto que seguramos
também não é indiferente e na atualidade se fabricam cabos que contêm
as marcas dos dedos.
Os principais músculos deste tipo
de preensão são:
-
-
os flexores superficiais e profundos
e especialmente os interósseos para
a flexão potente da primeira falange dos dedos;
todos os músculos da eminência tenar,especialmente o adutor e o flexor longo próprio do polegar para
bloquear a preensão graças à flexão
da segunda falange.
1. MEMBRO SUPERIOR 275
Fig.5-228
Fig.5-227
Fig.5-230
276 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS TIPOS DE PREENSÃO
(continuação)
1) Quando utilizamos apreensão palmar
cilíndrica para objetos de diâmetro
grande (figs. 5-231 e 5-232), apreensão
é menos firme quanto maior seja o diâmetro. De modo que o bloqueio depende, como já vimos anteriormente, da
ação da metacarpofa1angeana que permite que o polegar percorra uma direção
do cilindro, ou seja, um círculo, ou o caminho mais curto para dar a volta. Por
outro lado, o volume do objeto exige a
máxima
liberdade de separação da pri..
melra comlssura;
2) as preensões palmares esféricas po-
dem envolver três, quatro ou cinco de-
dos. Quando intervêm três (fig. 5-233)
ou quatro dedos (fig. 5-234), o último
dedo envolvido por dentro, seja o médio na preensão esférica tridigital, ou o
anular na preensão esférica tetradigital, entram em contato com o objeto pela superfície lateral externa, constituindo assim um elemento interno, reforçado pelos outros dedos (dedo mínimo
sozinho ou junto com o anular). Este
elemento realiza a oposição à pressão
do polegar de modo que o objeto fica
bloqueado distalmente pelos "ganchos"
dos dedos que mantêm um contato palmar com o objeto.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-232
;-
Fig.5-233
Fig.5-234
277
278 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS TIPOS DE PREENSÃO
(continuação)
Na preensão palmar esférica pentadigital (fig. 5-235) todos os dedos entram em contato com o objeto pela sua superfície palmar. O
polegar realiza a oponência ao anular; em conjunto ocupam o maior diâmetro e o bloqueio da
preensão está assegurada distalmente pelo dedo
indicador e o médio e proximalmente pelaeminência tenar e pelo dedo mínimo. O objeto, segurado com firmeza por todos os dedos em forma de gancho, o que supõe tanto as máximas
possibilidades
de separação das comissuras
quanto a eficácia dos f1exores superficiais e profundos, entra em contato com toda a palma da
mão. Esta preensão é muito mais simétrica que
as duas anteriores e, assim sendo, constitui a
transição para as seguintes.
C) As preensões centradas realizam, de fato. uma simetria em tomo do eixo longitudinal
que. em geral, se confunde com o eixo do antebraço. Isto é evidente no caso da batuta do maestro
(fig. 5-236) cuja função é prolongar a mão e representa uma extrapolação do dedo indicador
com relação à sua função de assinalar. Isto é indispensável
do ponto' de vista mecânico na
preensão da chave de fenda (fig. 5-237) que se
confunde com o eixo de pronação-supinação
no
ato de parafusar ou desparafusar. Também está
bastante claro na preensão de um gaifo (fig. 5238) ou de uma faca que tem o objetivo de prolongar a mão distalmente.
Em todo caso, o objeto de forma alongada
se agarra com firmeza mediante uma preensão
palmar na qual participam o polegar e os últimos
três dedos, o dedo indicador, neste caso, desempenha uma função orientativa indispensável para dirigir o talher.
As preensões centradas ou direcionais se
utilizam com freqüência; requerem a integridade da flexão dos três últimos dedos, a extensão
completa do dedo indicador cujos f1exores devem ser eficazes, e um mínimo de oposição do
polegar para o qual a flexão da interfalangeana
não é indispensável.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-236
Fig.5-235
I
(
---~----.-rI) '-"---
Fig.5-238
\
\
Fig.5-237
279
280 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS TIPOS DE PREENSÃO
(continuação)
Até aqui analisamos os tipos de preensão
nos casos em que a gravidade não intervém, mas
existem outros nos que a ação da gravidade é indispensável, de modo que não podem utilizar-se
em meios sem gravidade, como é o caso de uma
cápsula espacial.
Nestas preensões em que a gravidade ajuda, a mão serve de suporte, como quando seguramos uma travessa (fig. 5-239), o que supõe que
podemos aplanar, com a palma da mão horizontal,
orientada para cima (e, portanto, sem os dedos em
forma de gancho) ou que podemos constituir um
trípode debaixo do objeto que queremos segurar.
Graças à gravidade, a mão também pode-se
comportar como uma colher que contém grãos
(fig. 5-240) ou um líquido. A escavação da palma da mão se prolonga pela dos dedos aduzidos
ao máximo, pela ação dos interósseos palmares,
para evitar as possíveis fugas. O polegar, muito
importante nesta ação, fecha o sulco palmar por
fora: em semiflexão, se aproxima do segundo
metacarpeano e da primeira falange do dedo indicador, pela ação do adutor. A aproximação das
duas mãos "ocas" (fig. 5-241) em forma de dois
semipratos fundos unidos pelo seu bordo ulnar
pode constituir uma~cavidade muito mais ampla.
Todos estes tipos de preensão de suporte
necessitam de que a supinação esteja íntegra: de
fato, sem ela, a palma da mão, única parte da
mão capaz de constituir uma parede côncava,
não pode orientar-se para cima. Desse modo, o
teste da travessa permite constatar a recuperação
da supinação já que não existe nenhuma possibilidade de compensação do ombro.
A preensão de uma xícara com três dedos
(fig. 5-242) utiliza a gravidade porque a sua
circunferência está segurada por dois elementos, constituídos pelo polegar e dedo médio,
além de um gancho formado pelo dedo indicador. Esta preensão necessita de uma grande estabilidade do polegar e do médio, bem como a
integridade do flexor profundo do dedo indicador cuja terceira falange mantém a margem da
xícara. O adutor do polegar também é imprescindível.
As preensões em forma de gancho com
um ou vários dedos, como quando se transporta um balde ou uma mala ou, inclusive, no caso
de se agarrar nas pontas de uma parede rochosa,
também utilizam a ação da gravidade.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-239
Fig.5-240
Fig.5-241
j
Fig.5-242
281
282 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS TIPOS DE PREENSÃO
(continuação)
As preensões estáticas analisadas até aqui não
bastam para esgotar todas as possibilidades
da mão.
A mão também é capaz de "atuar pegando algo". É
o que se denominará de preensões ativas ou preen-
sões-ação.
Algumas destas ações são elementares como
por exemplo lançar um pião (fig. 5-243) mediante
uma preensão polegar-dedo indicador tangencial,
ou também lançar uma bolinha de gude (fig. 5-244)
mediante um impulso abrupto da segunda falange
do polegar (ação do extensor longo); a bolinha de
gude está mantida previamente na concavidade do
dedo indicador totalmente ftexionado (ação do ftexor profundo).
Existem ainda outras ações mais complexas,
nas quais a mão realiza uma ação reflexa sobre si
mesma. Neste caso, o objeto que seguramos por
uma parte da mão sofre uma ação que provém de
outra parte. Estas preensões-ação
em que a mão atua
sobre si mesma são inumeráveis; podemos mencionar como exemplos:
- a ação de acender um isqueiro (fig. 5-245)
que se parece bastante com a ação de lançar
uma bolinha de gude; seguramos o isqueiro
na concavidade do dedo indicador e dos outros últimos dedos, enquanto o polegar, em
forma de gancho, atua sobre o mecanismo
(ação do ftexor próprio e dos músculos tenares);
- a ação de apertar a tampa de um frasco de
aerosol (fig. 5-246): desta vez, seguramos o
- a ação de comer com pauzinhos chineses
(fig. 5-248), em que um dos pauzinhos
manece
móvel
do polegar,
mediante
polegar-dedo
pelo anular na coe o outro
pauzinho
uma preensão
indicador-médio
I
tridigital
forma uma
pinça com o primeiro. Isto constitui, sem
dúvida, um teste excelente de habilidade
manual para úm europeu, já que os asiáticos o realizam de forma inconsciente;
- a ação defazer nós só com uma mão (fig. 5249). Neste caso, também se trata de um teste de habilidade
dependente
manual que supõe a ação inde duas pinças bi-
e coordenada
digitais; uma dedo indicador-médio,
atua de preensão lateral-lateral,
legar-anular,
que
e a outra po-
que atua de preensão
polegar-
digital embora muito pouco utilizada. Os cirurgiões utilizam um método muito parecido
para fazer nós com uma mão só. Estas ações
múltiplas,
com uma mão só, são muito fre-
qüentes nos digitadores
destreza,
aperfeiçoada
exercícios
à média;
cotidianos,
e nos mágicos, cuja
constantemente
é claramente
com
superior
- a mão esquerda de um violinista (fig. 5-250)
ou a do guitarrista realiza uma preensão ativa móvel: o polegar segura o "cabo" do vio-
objeto por uma preensão palmar e a ftexão
do dedo indicador em forma de gancho é a
que atua sobre a tampa (ação do ftexor profundo);
lino e, mesmo que se mova, serve de contraapoio à ação dos outros quatro dedos que,
ao tocar as cordas, formam as notas. Esta
pressão que se exerce sobre a corda deve ser
- a ação de cortar com tesoura (fig. 5-247): os
anéis se inserem, por uma parte, com o polegar e, por outra, com o dedo médio ou o anular. A ação do polegar é principalmente motora tanto para fechar a tesoura (músculos tenares) quanto para abri-Ia (extensor longo
próprio). A separação dos anéis pode, quando se repete como um ato profissional, provocar a ruptura do extensor longo. O dedo
indicador orienta a tesoura, o que constitui
um exemplo de preensão ativa orientativa;
fixo, bloqueado
missura
per-
ao mesmo tempo precisa, firme e modulada
para conseguir
complexas
aprendizagem
a vibração.
são o resultado
e devem-se
çoar com exercícios
Estas ações tão
de uma longa
manter e aperfei-
cotidianos.
Cada leitor pode descobrir por si mesmo a infinita variedade de preensões ativas que representam a atividade
tegridade
mais elaborada
funcional.
da mão em plena in-
:/:
'/
Fig.5-250
Fig.5-244
,~-284 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS PERCUSSÕES - O CONTATO - A EXPRESSÃO
A mão do homem não é utilizada somente
para a preensão, mas também a podemos utilizar
corno instrumento de percussão:
-
seja no trabalho, por exemplo quando se
utiliza uma calculadora (fig. 5-251) ou
urna máquina de escrever, ou quando tocamos piano: cada dedo se comporta corno um martelo diminuto que toca a tecla, graças à ação coordenada dos interósseos e dos flexores, especialmente o
profundo. A dificuldade consiste em adquirir a independência funcional dos dedos entre si e das mãos entre si, o que requer urna aprendizagem cerebral e muscular, bem como um treino permanente;
-
seja na luta onde os golpes são dados
com a mão fechada (fig. 5-255) corno
no boxe, com o bordo ulnar da mão ou
a extremidade dos dedos, no karatê, ou
também a mão amplamente estendida
como numa tapa comum.
O contato da mão no caso de uma carícia
(fig. 5~253) é menos brusco; a mão desempenha
uma função primordial no contato social e principalmente afetivo. Também devemos ressaltar a
necessidade de urna sensibilidade cutânea intata,
tanto para a mão que acaricia quanto para o objeto da carícia. Em alguns casos, o contato de
ambas as mãos pode desempenhar urna função
terapêutica na imposição de mãos que pode ser
"eficaz", mesmo a distância. Por último, o gesto
mais trivial da vida cotidiana do homem ocidental, o aperto de mãos (fig. 5-254), representa um
contato social cheio de significado simbólico.
Isto conduz, sem dúvida, a urna função insubstituível da mão na expressão gestual. De
fato, esta expressão se realiza em estreita colaboração com o rosto e a mão; depende de cen-
GESTUAL
tros subcorticais, tal corno o demonstra o seu
desaparecimento na doença de Parkinson. Esta
linguagem da mão e do rosto está codificada para a comunicação entre surdo-mudos, mas a gesticulação instintiva constitui uma segunda linguagem; com diferença do sistema I de comunicação falado, o seu significado é universal. Este
tipo de comunicação compõe inumeráveis formas, que podem contar com algumas variações
regionais, mas que, em 'geral, se compreendem
em todos os lugares do planeta, tanto se se trata
da mão fechada em sinal de ameaça (fig. 5-252),
quanto do cumprimento com a mão amplamente
aberta em sinal de paz, do dedo apontando (fig. 5255, segundo Mathias Gnmewald no desenho de
Isenheim) como sinal de acusação, ou inclusive
dos aplausos em sinal de aprovação. Esta gesticulação está "trabalhada" profissionalmente pelos
atores de teatro, mas é instintiva no caso do homem comum, mais irreprimível quanto mais
meridional seja a sua origem. O seu objetivo é o
de ressaltar e acentuar o sentido da expressão,
mas, com freqüência, o gesto ultrapassa à palavra e, se basta por si só para expressar sentimentos e situações, o que explica a grande abundância da "mão gesticuladora" nas obras pictóricas e nas esculturas. Esta função da mão não é
a menos importante ao lado da sua utilidade funcional e sensorial. Em certas atividades artesanais, como é o caso das mãos do alfareiro (fig.
5-256), a ação da mão se realiza em todos os
planos de maneira simultânea: função realizadora na modelagem do objeto, função sensorial para reconhecer sua forma que se modifica continuamente sob a sua carícia-trabalho e, por último, o seu significado simbólico, gesto de oferecimento da sua criação à coletividade dos homens. Este caráter completo do gesto criativo
do artesão é o que lhe dá todo o seu valor.
1. MEMBRO
SUPERlOR
Fig.5-251
Fig.5-252
ô
~
Fig.5-255
Fig.5-256
285
286 FISIOLOGLc\ ARTICULAR
POSIÇÕES FUNCIONAIS E DE IMOBILIZAÇÃO
Descrita inicialmente por S. Bunnell (1948), como a posição da mão em repouso, a posição funcional da mão é, na verdade, bastante diferente da que se observa no indivíduo adormecido (fig. 5-257, segundo Miguel Ángel), igualmente denominada
posição de rela"Xamento, que também constitui a posição antiálgica da mão lesada: antebraço em pronação, punho jlexionado,
polegar em aduçãolretroposição, comissura fechada, dedos relativamente estendidos principalmente no nível das metacarpofalangeanas.
-
quando os dedos perdem a sua função de preensão, o
bloqueio do punho é mais vantajoso em flexão;
-
se os dois punhos estão definitivamente imobilizados,
necessitamos do bloqueio de um deles para a higiene
perineal;
-
a utilização de uma muleta ou de uma bengala induz ao
bloqueio do punho em posição de alinhamento. A utilização de duas muletas conduz a uma artrodese em extensão de 10° da mão dominante e uma artrodese em
flexão de 10° da outra;
W. Littler (1951) mencionou a posição funcional (figs. 5258 e 5-259): antebraço em semipronação, punho em extensão
de 30° e adução que situa o polegar, especialmente o primeiro
metacarpo, em alinhamento com o rádio, constituindo com o segundo metacarpo um ângulo aproximado de 45°, metacarpofalangeana e interfalangeana quase em posição de alinhamento,
dedos ligeiramentê flexionados, mais no nível das metacarpofalangeanas quanto mais interno seja o dedo. Em resumo, a posição funcional é aquela a partir da qual poderíamos realizar a
preensão com o núnimo de mobilidade articular se uma ou várias articulações dos dedos ou do polegar estivessem anquilosadas ou a partir da qual a recuperação dos movimentos resultasse
relativamente fácil. realizando a oposição quase em sua totalidade e bastando para completá-Ia alguns graus de flexão numa das
articulações remanescentes.
Contudo. segundo R. Tubiana (1973), na prática é preferível definir três tipos de posições de imobilizaçlio:
-
a posição de imobilização temporal, denominada
"proteção" (fig. 5-260), que tenta preservar a mesma
mobilidade da mão:
o
antebraço em semiflexão, pronação, cotovelo flexionadl\ 100°.
o
punbü em extensão a 20° e ligeira adução,
o
ded"s mais flexionados quanto mais internos sejam.
As métacarpofalangeanas flexionadas entre 50 e 80°,
aumc'otando em proporção quanto menos estejam flexionclJas as interfalangeanas proximais.
• para imobilizar o antebraço em pronação mais ou
menos completa;
o
o
o
-
Existe um grave risco de rigidez por estase venosa e
linfática. Este perigo diminui consideravelmente se as
articulações adjacentes às imobilizadas se movimentam ativamente:
o
no caso das interfalangeanas distais entre 10 e 20°,
o
polegar preparado para realizar a oposição: primeiro
metacarpo em ligeira adução e também em anteposição,
de modo que a abertura da primeira comissura esteja assegurada. metacarpofalangeana e interfalangeana numa
breve flexão de tal modo que a polpa do polegar esteja
dirigida em direção ao dedo indicador e médio.
o
-
as posições de imobilização
denominadas "fixação".
funcionais
definitivas
o
Dependem de cada caso particular:
o
-
no caso do punho:
quando os dedos mantêm as suas possibilidades de
preensão. devemos realizar uma artrodese do punho em
extensão de 25° para colocar a mão em posição de
preensão:
a artrodese da trapézio-metacmpeana se realiza numa posição adaptada a cada caso. mas cada vez que
se bloqueia definitivamente um dos elementos da
pinça polegar-digital, devemos considerar necessariamente as possibilidades da zona que fica móvel;
Só se justificam num período de tempo mais curto
possível para se obterem uma maior estabilidade num
foco de fratura ou um relaxamento numa sutura tendinosa ou nervosa.
no caso das interfalangeanas proximais entre 10 e 40°,
-
com relação às intelfalangeanas proximais a flexão
vai de 40 a 60°;
as posições não funcionais denominadas "imobilização temporal"-posições
de imobilização parcial.
As imerfalangeanas moderadamente flexionadas. proporcionalmente menos quanto se quer diminuir a tensão e a isquemia neste ponto:
-
no relativo às metr;zcarpofalangeanas, a posição de
flexão varia de 35" no caso do dedo indicador a 50°
no caso do dedo ilÚnimo;
o
após uma sutura do mediano. do ulnar ou dos flexores. podemos flexionar o punho até os 40° sem grandes conseqüências durante três semanas, porém é
imprescindível imobilizar as metacarpofalangeanas
em flexão aproximadamente de 80°, deixando as interfalangeanas no seu grau de extensão natural
porque a sua extensão é difícil de recuperar após
uma flexão forçada;
após a reparação dos elementos dorsais, as articulações devem ser imobilizadas em extensão, porém é
necessário conservar sempre pelo menos 10° de flexão nas metacarpofalangeanas. Com relação às interfalangeanas a flexão pode ser de 200 se a secção se localiza acima das metacarpofalangeanas, mas deverá
ser nula se a secção se localiza na primeira falange;
após tratamento das lesões denominadas "em casa de
botão", se imobiliza a interfalangeana proximal em
extensão e a interfalangeana distal em flexão para
realizar a tração distal do aparelho extensor;
ao contrário, se a lesão está localizada perto da interfalangeana distal, esta articulação ficaria imobilizada em extensão e a interfalangeana proximal
em flexão para relaxar, desta maneira, as faixas laterais do extensor.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-259
Fig.5-258
Fig.5-260
287
288 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS MÃOS FICÇÕES
As mãos ficções não são um simples exercício de imaginação, mas permitem uma melhor
compreensão das razões arquitetõnicas da mão.
De fato, poderíamos imaginar, sem problemas,
outras soluções que não fossem a mão normal,
por exemplo a mão assimétrica ou a simétrica.
As mãos assimétricas derivam da mão
normal por redução ou aumento do número de
dedos, ou por inversão da simetria.
O aumento do nÚmero de dedos, seis ou sete dedos, depois do dedo núnimo no lado ulnar
da mão, com certeza aumentaria a preensão com
toda a palma da mão, mas à custa de uma complicação funcional proibitiva.
A redução do nÚmero de dedos a quatro ou
três faz com que a mão perca as suas possibilidades. Alguns macacos de América Central possuem, no membro superior, uma mão com quatro dedos sem polegar, e a única ação que podem
realizar é a de se agarrarem nos ramos, mas no
membro inferior possuem uma "mão" de cinco
dedos com polegar capaz de realizar a oposição.
A mâo com três dedos (fig. 5-261), como podemos observar após determinadas amputações,
conserva as preensões tridigitais e bidigitais, as
mais freqüentes e as mais precisas, mas perde a
preensão com toda a palma da mão, indispensável para pegar os cabos das ferramentas. A mão
com dois dedos (fig. 5-262), polegar e dedo indicador, pode realizar um gancho, com o dedo
indicador e uma pinça bidigital para as preensões finas, mas não pode realizar, de jeito nenhum, as preensões tridigitais e as preensões
com toda a palma da mão; contudo, podemos
notar o resultado inesperado que pode oferecer a
conservação ou a restituição de uma mão com
dois dedos em alguns mutilados!
Observamos também que esta mão chega a
ser simétrica com os defeitos inerentes a esta
disposição.
A mão de simetria inversa, isto é, uma
mão com cinco dedos, mas com um polegar ul-
acarretaria uma mudança de obliqüidade do
sulco palmar: em pronação-supinação neutra, o
cabo de um martelo em vez de estar oblíquo para cima, estaria oblíquo para baixo, o que impediria bater um prego de cima para baixo, a não
ser que houvesse uma alteração de + 1800 da posição neutra de pronação-supinaçã0, a palma da
mão estaria orientada para fora! Desse modo, a
ulna passaria por cima do rádio e a inserção do
bíceps sobre este osso careceria de eficácia. Em
resumo, se deveria mop.ificar toda a arquitetura
do membro superior sem nenhuma evidência de
vantagem funcional.
nar,
As mãos simétricas teriam dois polegares, um radial, outro ulnar, limitando um, dois
ou três dedos médios. A mais simples, a mão simétrica com três dedos (fig. 5-263) pode realizar duas pinças polegar-digitais, uma pinça bipolegar (entre ambos os polegares) e uma
preensão tridigital (fig. 5-264) por oposição
dos dois polegares sobre o dedo indicador, sendo quatro preensões de precisão. Também é impossível imaginar uma preensão "com toda a
palma da mão" (fig. 5-265) entre os dois polegares por uma parte e, pela outra, entre a palma
da mão e o dedo indicador. Porém, dotada de
certa firmeza, esta preensão teria um sério inconveniente, a sua simetria converteria o cabo
da ferramenta perpendicular ao eixo do antebraço; entretanto, vimos anteriormente que a
obliqüidade do cabo unida à pronação-supinação permite orientar a ferramenta. O mesmo
aconteceria no caso de qualquer mão simétrica
com dois ou três dedos médios (fig. 5-266), ou
seja, de cinco dedos dos quais dois são polegares. Os papagaios possuem dois dedos posteriores que realizam uma garra simétrica que os
permite se segurar com firmeza a um galho.
Uma conseqüência inoportuna da mão com
dois polegares seria a estrutura simétrica do antebraço. Nestas condições, o que aconteceria
com a pronação-supinação?
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-262
Fig.5-261
Fig.5-263
1I
Fig.5-265
Fig.5-264
Fig.5-266
----~
289
290 FISIOLOGIA ARTICULAR
A MÃO DO HOMEM
A mão do homem, na sua complexidade,
se realiza como uma estrutura perfeitamente
lógica e adaptada às suas diferentes funções. A
sua arquitetura reflete o princípio da economia
universal. É um dos mais belos logros do universo.
1. MEMBRO SUPERIOR
Fig.5-267
291
292 FISIOLOGIA ARTICULAR
MODELOS DE MECÂNICA ARTICULAR
Estes modelos mecânicos, construídos mediante cortes, dobradiças e colagens, estão destinados a concretizar
no espaço noções expostas ao longo deste volume; são esquemas em três dimensões, com possibilidade de movimento. Com a sua montagem podemos adquirir, sem nenhum esforço, graças ao sentido cinestésico que adquirem,
conhecimentos difíceis de descobrir de outra forma. Portanto, recomendamos que o leitor dedique um pouco de
tempo e paciência; terá a sua recompensa.
Antes de começar, é necessário ler atentamente todas as indicações.
Pranchas
I e lI: Modelo
mecânico da mão
Este modelo está composto por quatro peças A, B, C
e D. distribuídas nas pranchas I e 11. Na parte inferior da
prancha II aparecem os esquemas de montagem a, b e c.
Por razões inerentes à edição deste livro, o papel sobre o qual estão impressos os desenhos não tem a espessura necessária para dar uma boa consistência ao modelo, isto significa que o melhor resultado pode se obter transferindo os desenhos das quatro peças A, B, C e D para um
papelão de pelo menos um milímetro de espessura.
PARA CORTAR
Dobradura
Não se deve realizar nenhuma dobradiça sobre o papelão sem recortar antes com a pequena faca ou o estilete
a terceira parte ou a metade da espessura do papelão
- incisão na parte da frente para as linhas tracejadas;
- incisão no verso para as linhas de pontos e traços;
para transportar estas últimas com precisão ao verso, é conveniente assinalar os seus extremos perfurando o papelão com uma agulha ou a ponta de um
compasso.
Após haver reaÍizado a incisão, se dobra o papelão
com facilidade e de forma precisa pelo lado oposto à incisão; durante a realização das dobradiças, a flexão do papelão nunca deve ultrapassar, no início, os 4SO. As duas dobradiças longitudinais da peça A se marcam levemente e
representam a escavação da mão. As dobradiças marcadas
eixo I sobre A e eixo 2 sobre C são de 90°. As duas pregas
convergentes a partir dos extremos do eixo I sobre a peça
A são superiores a 90°, igual que as das lingüetas j e h. A
peça B não contém nenhuma dobradiça.
Observar sobre a peça C a obliqüidade das dobradiças de flexão da interfalangeana e da metacarpofalangeana, que traduzem o tipo de flexão tão particular destas duas
articulações; quanto à metacarpofalangeana, consideramos um dos três eixos. o que. no curso da oposição do polegar, permite a flexão-pronação-desvio radial.
Corte
Cortam-se com tesouras as quatro peças seguindo o
traço contínuo da linha de contorno. Algumas peças contêm recortes de linhas interiores que deverão ser feitos
com uma lâmina Olfa ou estilete:
- peça A: entre as lingüetas h, j e k;
- peça D: linha reta perto de m e n -linha composta
por três segmentos perto de m' e n'.
Também se indicam algumas partes que ficarão vazias mediante:
- traços espessos
• peça A: perto de k';
• peça D: fenda central;
O esquema a mostra a montagem dos elementos:
. a peanha (peça D) se monta aproximando e fazendo coincidir m sobre m' e n sobre n'. Pode-se colar as lingüetas m e 11 nas superfícies tracejadas m'
e n'; se posteriormente desejamos desmontar o
modelo, podemos unir as duas com dois grampos
que passem através dos furos m, m', n, n ';
. na mão (peça A) após haver assinalado as dobradiças dos dedos e da palma da mão, devemos preparar o suporte da articulação trapézio-metacarpeana:
1. invertemos a superfície semicircular tracejada
90° para trás;
- traços duplos paralelos sobre as peças A e C: se deve
realizar uma fenda estreita entre os dois traços uma
vez aproximados, de modo que possamos receber
posteriormente as polias tendinosas (ver esquema c).
2. pregamos para frente os dois triângulos para
constituir uma pirâmide triangular de base supenor;
Também se devem perfurar alguns furos:
3. esta pirâmide está fixa:
- furos circulares: passagem dos tendões cujos números correspondem ao esquema c;
- colando as lingüetas h e j sobre as superfícies
h' e j' (montagem definitiva);
- furos circulares marcados com uma cruz: inserções
tendinosas;
- fixando a lingüeta k, que vai passar pelo espaço vazio entre h' e j'. dobrada por trás de k' e
fixa por um grampo nos furos k e k' (modelo
desmontável);
- cruz simples: fixação de faixas elásticas de lembrança.
-----
A10ntagem
1. MEMBRO SUPERIOR
- o polegar (peça C), após preparado pela dobradiça do eixo 2 para trás (seta 1) e colado (seta 2)
na parte da frente da peça B,fsobref',
fazendo
com que os furos e as linhas do eixo 2 coincidam. A seguir, colar este conjunto (seta 3) na
pirâmide que suporta o polegar, unindo o verso
g' da peça B sobre a parte da frente g da peça
A, de tal forma que tanto os furos quanto as
linhas do eixo 1 coincidam.
Deste modo, se realiza a articulação de tipo cardão
de dois eixos 1 e 2 da trapézio-metacarpeana.
O esquema b mostra como se fixa a mão sobre a sua
base, introduzindo-a na fenda central.
Utilização
Tal como está, este modelo permite entender por
mobilização passiva três características funcionais fundamentais da mão:
I. a escavação da palma da mão, por flexão das
duas dobradiças longitudinais que simula os movimentos de oposição do 4.° e principalmente do
5.° metacarpo;
2. a ftexão oblíqua dos dedos, que os faz converger
para a base da eminência terrar, graças à obliqÜidade cada vez mais acentuada dos eixos das interfalangeanas e das metacarpofalangeanas, quando
se dirige o dedo indicador em direção ao mínimo
(exemplo de rotação cônica). Este fenômeno é reforçado pela oposição dos raios metacarpeanos
internos (4.° e principalmente 5.° metacarpo);
3. a oposição do polegar: os três casos de rotação
plana, rotação cônica e rotação cilíndrica expostos
no texto podem se verificar aqui, considerando o
eixo I como eixo principal e o eixo 2 como eixo
secundário; deste modo, podemos comprovar que
a flexão sllcessiva no eixo 2 e as duas outras articulações do polegar (metacarpofalangeana e interfalangeana) permitem realizar uma rotação cilíndrica da última falange do polegar que provoca
uma mudança de orientação sem que esteja marcada a flexão na trapézio-metacarpeana e sem que
a rotação do primeiro metacarpeano sobre o seu
eixo longitudinal seja relevante. Podemos comprovar que sem a intervenção de nenhum jogo mecânico nas articulações do polegar, é possível realizar a oposição em "pequeno e grande trajeto" do
dedo indicador até o mínimo com uma mudança
de orientação da polpa do polegar que se corresponde rigorosamente com a realidade.
A flexão-pronação da interfalangeana e a da metacarpofalangeana aparecem graças à obliqÜidade das dobradiças.
Instalação dos "tendões"
É possível animar este modelo instalando "tendões"
(esquema c). Estes são constituídos por um cordãozinho
bloqueado por um nó na sua inserção falangeana (furos
293
circulares assinalados com uma cruz), passando a seguir
pelas "polias" preparadas nas falanges e os furos realizados na base. Cada tendão tem um número em todo o seu
trajeto:
1.
abdutor longo do polegar: fixo na peça B, mobiliza a trapézio-metacarpeana ao redor do seu eixo
principal (eixo 1);
2. flexor próprio do polegar: fixo sobre a 2: falange,
passa pelo sulco (2) da primeira falange na peça
B. Flexiona as duas falanges do polegar;
3. este "tendão" de direção transvt;rsal, fixo sobre o
primeiro metacarpo (3), e que desenha numa polia da palma da mão (3), é ao mesmo tempo equivalente do adl1tor e do flexor curto;
4. flexor profundo do dedo indicador fixo sobre a
terceira falange do dedo indicador (4) e que passa
através de três poÍias: flexiona totalmente o dedo
indicador;
5. este "tendão" de direção transversal, simétrico ao
3, se fixa sobre uma cunha de 6 a 7 mm de espessura (trapézio tracejado 5); se reflete na palma da
mão sobre a polia 5, equivale ao oponente do dedo mínimo;
6. flexor profundo do dedo mínimo (o mesmo trajeto, a mesma função que 04).
Nota: Os ftexores do 3.° e do 4.° dedos não estão
instalados com a finalidade de simplificar. apesar
de se poder fazer isto sem dificuldade;
7. este tendão não está visível no esquema. Trata-se
do extensor longo próprio do polegar: se fixa na
face dorsal de sua segunda falange no mesmo furo que o ftexor próprio (os dois nós estão opostos).
passa pela polia 7 da face dorsal da sua primeira
falange e logo após por um furo na peça B.
As polias podem ser construídas com facilidade me·
diante pequenas faixas de papelão de 6 mm de largura, suficientemente flexíveis para poder penetrar num túnel; cada um dos seus extremos se passa de diante para trás pelas
fendas realizadas nas peças A e C, e se cola sobre a sua face dorsal, depois de dobrar para o (em ômega).
A única exceção é a polia dupla 2-7 da peça C : é
ventral para 2 e dorsal para 7 (dois ômegas invertidos um
com relação ao outro).
No extremo de cada tendão podem se fazer rolos para passar os dedos, ou fixar anéis que permitam mobilizar
os tendões com mais facilidade.
Para estabilizar o polegar numa posição funcional,
podemos utilizar elásticos para manter os eixos 1 e 2 numa posição média.
No caso do eixo 1, o elástico tem origem num dos
furos el da peça B, se reflete no furo el da base da peça A
e se fixa de novo na peça B, no nível do outro furo
a
posição média se obtém deslizando o elástico pelo furo da
peça A. Fixamos o elástico com um pouco de cola em cada extremo. Para estabilizar o eixo 2 entre os três furos
marcados e2 nas peças B e C se realiza a mesma operação.
e,-
294
FISIOLOGIA ARTICULAR
Para ter certeza de que o dedo indicador e o mínimo voltem à exten"são, podemos colocar um elástico em
tensão sobre a sua face dorsal, entre os furos 4 e 6 e outros furos que se realizarão na face palmar da peça A.
Também neste caso é possível regular a tensão com um
pouco de cola.
Animação do modelo
Graças aos tendões podemos realizar praticamente
todos os modelos da mão:
1. escavação da palma da mão: puxando o tendão
5 (a eficácia desta manobra depende da altura do
cuneiforme 5);
2. flexão do dedo indicador e do mínimo mediante
tração dos tendões 4 e 6;
3. animação do polegar
a) colocação do polegar no plano da palma da
mão (mão plana: posição inicial da experiência
de Sterling-Bunnel): puxando de forma equilibrada os tendões 7 e 3;
b) oposição polegar-dedo indicador: enquanto flexionamos o dedo indicador é necessário puxar simultaneamente os tendões 1. 3 e
7:
c) oposição polegar-dedo mínimo: enquanto tlexionamos o dedo mínimo é preciso puxar simultaneamente os tendões 1,3 e 4;
d) oposição polegar-base do dedo mínimo: é
preciso puxar os tendões 1 e 2 e eventualmente o 3;
e) oposição término-lateral polegar-dedo indicador: como no caso b), mas tlexionando mais
o dedo indicador.
Prancha
III
Modelo de um dedo com as suas articulações e os
seus tendões.
Cortar com cuidado as quatro peças M, FI' F, e F]
que representam o metacarpeano e as três falanges. deixando vazia a fenda lateral de M, FI e F2• Marcar as dobradiças incidindo levemente com uma pequena faca, na parte da frente sobre as linhas tracejadas e no verso sobre as
linhas de pontos. Perfurar com uma agulha os passos do
eixo no nível das cruzes. Uma vez dobrada em ângulo reto a face lateral esquerda, pregar e colar como se indica no
esquema 1 a lingüeta da base das falanges (depositar a cola no canto da lingüeta). Dobrar a segunda face lateral colando igualmente a lingüeta e colar a face palmar com a
sua lingüeta para colar, tal como se indica no esquema 2.
Deste modo podemos dar forma e colar a polia de ~1, Fie
F, como se indica no esquema 3 (a lingüeta para colar deve passar pela fenda antes de se colar no interior). Cortar
as peças A e B, dobrar copiando do esquema 4 e colar nos
seus correspondentes lugares, marcar A eB na face dorsal
de M. Quando a cola das falanges e do metacarpeano está
bem seca, procedemos à montagem das articulações, como se indica no esquema 5: o eixo é constituído por um
alfinete ou um arame fino, passando pelos furos de eixo
anteriormente perfurados. Porém, na articulação F/ F2 o
eixo de arame (um grampo de cabelo fino é bastante maleável) se dobra em forma de garfo de cada lado (esquema 7).
Enquanto as falanges se secam, podemos construir
a base. Cortar a peça C, com as suas três fendas marcadas f e as suas dobradiças (seguindo o mesmo código);
colar a lingüeta tracejada sobre o lado aposto de maneira que se forme uma espécie de chaminé com quatro lingüetas na base. Inspirando-se no esquema 6, colar por
suas lingüetas de base. a chaminé sobre um quadrado de
papelão de 6 x 6 cm, no seu centro, cortar um segundo
quadrado de 6 x 6 e depois de esvaziar no centro um retângulo com as dimensões exteriores do pé da chaminé,
colar no primeiro quadrado encaixando-o sobre a chaminé (esquema 6). Uma vez constituída a base, encaixar o
metacarpeano (a chaminé, levemente cônica, se coloca
com facilidade na base do metacarpeano).
Resta construir e
mas em perspectiva 8
elásticos planos de 3-4
papelarias ou nas lojas
fixar, como se indica nos esquee 9, os diferentes tendões: com
mm de largura (se encontram em
de modelos de aviões):
- o flexor comum profundo (FCP) se coloca com
facilidade como se indica no esquema 9, passando um elástico pelas três polias e fixando o extremo na face palmar de FJ mediante um alfinete ou
uma fita adesiva;
- o flexor comum superficial (FCS), constituído
por um elástico separado 2,5 cm no seu extremo
(esquema 9), passa, a seguir, pelas duas primeiras
polias, e logo as suas pontas se fixam nas faces
laterais de F2 (ponto v);
- o extensor comum (EC) é mais difícil de realizar
(esquema 8); podemos cortar longitudinalmente
o elástico ou juntar três cabos de 1 mm com fios
aos pontos p, q, r, S, t.
De tas os três cabos estão colados. A partir de s
se descola a expansão profunda Ep que se fixa na face
dorsal de FI (fixa com o alfinete). Novamente, de r a q
com três cabos colados. A partir de q o cabo central figura a lingüeta mediana 1M que se fixa na face dorsal da
base de F2' os dois cabos laterais representam as faixas
laterais BI que passam pelos grampos do eixo da articulação FI / F2 antes de se unir em p para, por último, se fixar na face dorsal de F];
- os interósseos e lumbricais estão constituídos por
duas partes diferentes:
a) a expansão lateral El, constituída por um fino
cordão amarrado firmemente na faixa lateral,
antes dos grampos do eixo FI / F2, e que passa
pelos sulcos B e A;
b) o espaldão Es, localizado na face dorsal de FI
(esquema 8), fixos nas faces laterais de FI com
1. MEMBRO SUPERIOR
um alfinete que perfura o ponto u e que finalmente .passa pelo sulco A;
- o ligamento retinacular (sem representação na
prancha) : se bloqueia um fio apertado a cada lado da expansão lateral do extensor no nível de F2,
o mais perto possível da articulação F3/ F2' O dedo em extensão máxima, depois se fixa cada um
dos fios com adesivos na polia de FI procurando
que esteja moderadamente tenso e passe para
diante do eixo FI / F2•
Este modelo permite verificar praticamente todas as
ações dos músculos motores dos dedos:
1. ação de extensão preferente do EC sobre FI;
2. ação de extensão preferente dos interósseos e lumbricais sobre F2e F, quando o EC é ineficiente;
295
3. ação de flexão do espaldão sobre FI quando se
relaxa ligeiramente o EC;
4. eficácia do FCS na flexão de F, aumentada pela
sua posição superficial, que aumenta o seu ângulo de ataque;
5. "luxação" lateral das faixas laterais do EC no nível da articulação FI / F" que ao distender o sistema extensor facilita a flexão de F3' Neste caso não
existe sistema elástico dorsal para que retomem à
sua posição dorsal o que se corresponde com uma
ruptura da aponeurose dorsal; ,
6. a função do ligamento retinacular: F2 e F3 flexionados, se a tensão do fio é regulada corretamente,
podemos comprovar que a extensão passiva de F2
acarreta a extensão automática de F,.
296 FISIOLOGIA ARTICULAR
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