ISSN 2526-8910
Artigo Original
Atividades humanas na terapia ocupacional:
construção e compromisso1
Human activities in occupational therapy: construction and commitment
Isadora Cardinallia , Carla Regina Silvaa
a
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, São Carlos, SP, Brasil.
Como citar: Cardinalli, I., & Silva, C. R. (2021). Atividades humanas na terapia ocupacional: construção e
compromisso. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2880. https://doi.org/10.1590/25268910.ctoAO2176
Resumo
Apresenta-se uma síntese propositiva sobre os usos e compreensões do termo
“atividades humanas” que, a partir da década de 1990, passou a ser privilegiado na
produção de conhecimentos da terapia ocupacional brasileira. É feita uma descrição
sobre a construção epistemológica e social em torno das atividades, apontando suas
dimensões como instrumento e/ou elemento centralizador e orientador do processo
terapêutico ocupacional e, por fim, propomos um debate crítico contemporâneo.
Tem-se como referência quatro movimentos históricos e marcadores teóricometodológicos da produção da terapia ocupacional para abordar o deslocamento das
compreensões até um conceito humano, cultural, plural e polissêmico, sobretudo
voltado para a dinâmica viva das pessoas e coletivos. As perspectivas das Terapias
Ocupacionais do Sul e da Terapia Ocupacional como Produção de Vida são
apresentadas para contribuir com o debate propositivo, sustentado pelo compromisso
ético-político-cultural deste campo de saberes e práticas, contextualizado na realidade
brasileira. Ao indicar desafios e urgências das atividades humanas, vê-se que as
mudanças não cessarão e, portanto, novas compreensões e ressignificações são
importantes. Valoriza-se as contribuições epistemológicas e sociais que mobilizam
construções culturalmente coerentes com a transformação social, que enfrenta os
domínios e poderes hegemônicos, com abertura para a inventividade e solidariedade
profissional.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional, Atividades Humanas, Epistemologia, Teoria
Crítica, Formação de Conceito.
Abstract
We presented in the study, a propositional synthesis about the uses and
understandings of the term human activities, which from the 1990s, became
privileged in the production of knowledge of Brazilian occupational therapy. There is
1
Esse trabalho é resultado de uma pesquisa de doutorado em que os procedimentos éticos vigentes foram cumpridos. Parecer do
Comitê de Ética em Pesquisa nº 3.402.197.
Recebido em Out. 15, 2020; 1a Revisão em Mar. 15, 2021; 2a Revisão em Maio 8, 2021; Aceito em Maio, 25, 2021.
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso,
distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.
Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2880, 2021 | https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO2176
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Atividades humanas na terapia ocupacional: construção e compromisso
a description of the epistemological and social construction around the activities,
pointing out its dimensions as a tool and/or centralizing and guiding element of the
occupational therapy process and, finally, we propose a contemporary critical
discussion. Using as reference four historical movements and theoreticalmethodological markers of the production of occupational therapy to address the
displacement of understandings to a human, cultural, plural, and polysemic concept,
above all, focused on the living dynamics of people and collectives. The perspectives
of Occupational Therapies in the South and Occupational Therapy as Production of
Life are presented to contribute to the propositional debate, supported by the ethicalpolitical-cultural commitment of this field of knowledge and practices, contextualized
in the Brazilian reality. By indicating challenges and urgencies of human activities, we
have that changes will not stop and, therefore, new understandings and reframes are
important. The epistemological and social contributions that mobilize constructions
that are culturally consistent with social transformation are valued, facing the
hegemonic domains and powers, with openness to inventiveness and professional
solidarity.
Keywords: Occupational Therapy, Human Activities, Knowledge, Critical Theory,
Concept Formation.
Introdução
“As atividades humanas são instrumento privilegiado das ações dos terapeutas
ocupacionais e constituem o elemento centralizador e orientador na construção complexa
e contextualizada do processo terapêutico neste campo” (Universidade de São Paulo,
1997). Este trecho compõe uma concepção de terapia ocupacional amplamente difundida
no Brasil, orientando, inclusive, a definição brasileira da profissão junto à Federação
Mundial de Terapeutas Ocupacionais (World Federation of Occupational Therapists,
2017).
A centralidade das atividades humanas para os processos terapêuticos ocupacionais no
contexto brasileiro é reconhecida a partir da década de 1990, ainda que coexistam outros
termos ou qualificadores das atividades e mesmo diferentes compreensões sobre um mesmo
termo na discussão dos instrumentais e/ou objetos de estudo da profissão ao longo do
tempo (Cardinalli, 2017; Poellnitz, 2018). Afinal, é preciso reconhecer “[...] a polissemia,
a polivocidade e a pluralidade inevitável para a construção de um campo que foi,
necessariamente, marcado por práticas e saberes diversos” (Silva, 2013, p. 462).
Este ensaio busca contribuir com o debate sobre os usos e compreensões das atividades
humanas na terapia ocupacional brasileira. Para tanto, ele realiza uma revisão assistemática
crítica da literatura2, com base na recuperação de referências chaves organizadas e debatidas a
partir da proposição dos quatro movimentos da produção da terapia ocupacional brasileira
proposto por Galheigo et al. (2018). Assim, este ensaio parte da recuperação histórica do termo
atividade e suas compreensões, considerando suas dimensões de instrumento e/ou elemento
centralizador e orientador do processo terapêutico ocupacional e a compreensão das atividades
humanas ancorada por um posicionamento ético-político-cultural.
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Este ensaio parte de um recorte dos resultados de uma pesquisa de doutorado na área da terapia ocupacional, cujo enfoque são as
atividades humanas para e na terapia ocupacional brasileira, desenvolvido entre 2018 e 2021.
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Constituição Histórica e Epistemológica
Este ensaio parte da proposição apresentada por Galheigo et al. (2018), a qual sugere
quatro movimentos distintos na produção da terapia ocupacional brasileira. Reconstituirse-ão usos e compreensões sobre as atividades relacionados aos processos históricos da
profissão.
O primeiro movimento tem início em 1956, com o surgimento dos cursos de terapia
ocupacional no Brasil, quando se configuram as primeiras bases teórico-práticas da
profissão no país, durando até o final da década de 1970 (Galheigo et al., 2018).
Soares (1991, p. 12) considera que o início da intervenção em terapia ocupacional foi
junto aos “doentes mentais” nos anos 1940 e o enfoque da década seguinte esteve sobre os
“incapacitados físicos”, utilizando o “[...] trabalho, a recreação e o exercício como meio de
desenvolvimento e adaptação do homem à sociedade”. Esses três recursos constituíam um
papel social contraditório para a terapia ocupacional, pela falta de condições para alcançar
“[...] autonomia do indivíduo em suas atividades de vida diária e sua absorção ao mundo
do trabalho” (Soares, 1991, p. 13).
Para Maroto (1991), até meados da década de 1970, a terapia ocupacional buscou
legitimidade para seu projeto social com a incorporação do discurso internacional
dominante, voltado para a reinserção produtiva de sua clientela, definindo seu fazer
profissional pelas técnicas paramédicas. Feriotti (2013) indica que o modelo médico
reducionista marcou a compreensão sobre a profissão, vinculando-a aos
meios/instrumentos/recursos de intervenção terapêutica, ou seja, a limitaram e a
condicionaram à aplicação de ocupações ou atividades terapêuticas visando ao tratamento
de doenças, disfunções ou sintomas. Salles & Matsukura (2016) relacionam o uso dos
termos atividade e ocupação, neste período, com a compreensão de passatempo para
pessoas institucionalizadas ou para a própria manutenção das instituições e da lógica de
submissão.
Ferrigno (1991) afirma que os conceitos de saúde e de incapacidade incorporados e
transmitidos pelas primeiras gerações de profissionais foram fundamentados na visão
saúde-doença como fenômenos excludentes e isolados, cuja superação se restringia à cura
imediata do problema. Nessa compreensão, os determinantes de saúde estariam no
indivíduo e em sua predisposição a doenças ou condições socioeconômicas e culturais, que
seriam imutáveis.
Já neste período, também houve influência humanista e psicanalítica na produção
nacional (Galheigo et al., 2018). A profissão incorporou aos discursos os aspectos
psicológicos, as relações interpessoais e o bem-estar consigo mesmo e com o meio,
considerando prioritariamente a família, pois a “[...] integração social veiculada pela TO
pressupõe a família como núcleo de socialização” (Maroto, 1991, p. 129). Na dissertação
de mestrado de Ferrari (1975), aparece a questão da significação das atividades: “A
atividade, pois, só tem valor quando o indivíduo realmente participa dela, isto é, quando a
mesma tem significado para a pessoa” (Ferrari, 1975, p. 49).
Os apontamentos desse primeiro movimento apresentam reproduções e contradições
das práticas em terapia ocupacional e as primeiras mobilizações relacionadas às demandas
sociais do contexto. Podemos ressaltar a dimensão das atividades como
meio/instrumento/ferramenta/recurso e sua aplicabilidade para minimizar ou suprimir
alguma falta, aplacar ou curar doenças, sintomas ou incapacidades. Da mesma forma,
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podemos notar preocupações relacionadas aos contextos sociais e relacionais, como se essa
dimensão pudesse contribuir também para as demandas e necessidades da inserção social.
O segundo movimento estaria compreendido entre o final dos anos 1970 até 1996 e
foi marcado pela problematização da terapia ocupacional a partir de aportes da saúde
coletiva e das ciências humanas e sociais. “Destaca-se o surgimento do pensamento crítico
na terapia ocupacional brasileira, ao final dos anos 1970, inicialmente, por meio de crítica
às práticas hegemônicas, e posteriormente, através de proposições de práticas
emancipatórias” (Galheigo et al., 2018, p. 734). Neste período, vemos também a
construção de alicerces para a concepção das atividades humanas.
A dissertação de Galheigo (1988) cita que o conceito de atividade humana começava a
ser utilizado por terapeutas ocupacionais, avançando a ideia de trabalho. Isso porque o
[...] conceito de atividade possibilita à terapia ocupacional acesso à toda
manifestação humana. Coloca sob seu domínio: o cotidiano nas necessidades de
autocuidado e automanutenção, a capacidade de criação e produção, o lazer, a
brincadeira infantil, a necessidade de instrumentos para a adaptação (Galheigo,
1988, p. 69).
Essa reflexão caminha no sentido da promoção da autonomia dos sujeitos para além da
lógica do trabalho, tal como mencionado por Soares (1991) sobre o movimento anterior.
Em um dos primeiros livros nacionais, “Terapia Ocupacional”, Francisco (1988)
analisa os modelos relacionadas à atuação profissional: a ocupação teria como pressuposto
uma natureza ocupacional das pessoas, considerando o lazer uma preparação evolucionária
para o trabalho ou produção, segmentando e hierarquizando a vida em atividades de vida
diária em uma lógica social sistêmica e positivista com incentivo à produtividade; a
atividade como exercício, dependente de roteiros minuciosos de análise e protocolos de
adaptação e graduação, teria o modelo biomédico reducionista como orientação; a
atividade como expressão teria como referências a psicodinâmica e a psicanálise; e,
contrapondo com tais recursos terapêuticos, a atividade humana como criação e
transformação teria embasamento na visão marxista.
Nesse diálogo, a dissertação de mestrado de Medeiros (2010), publicada em 1988, faz
uma análise epistemológica e social da terapia ocupacional, indicando seu interesse pelos
problemas dos indivíduos/coletivos em sua vida de atividades. Considera as atividades
humanas como produto e meio de construção do próprio ser humano, sendo papel da
profissão buscar entender as relações que este ser ativo estabelece em sua condição de vida
e saúde. A profissão teria, segundo a autora,
[...] intenção de estruturar um conhecimento a respeito do homem-ativo, de suas
possibilidades de ação e das interdeterminações de suas diferentes dimensões e
contextualização histórico-social, na construção de si mesmo e de um mundo
humanizado, como ponto de partida e meta de sua intervenção (Medeiros, 2010,
p. 28).
Como ressalva, a autora também aponta que as atividades nem sempre são centrais em
todas as perspectivas em terapia ocupacional, já que a história da profissão é marcada por
rupturas e produção de diversos princípios e ações (Medeiros, 2010).
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Nascimento (1990, p. 17, grifos da autora) questionou enfaticamente que se “[...]
aplique ou supervisione atividades com determinados pacientes, dando-lhes um caráter
terapêutico [...] o sentido terapêutico, capaz de transformar qualquer atividade em
atividade terapêutica. Isto é, na minha opinião, um mito”. Em sua crítica, denuncia a
construção hegemônica do modelo biomédico que introjetou a visão linear de caráter
causa/efeito e a medicalização do cuidado pelas atividades, imprimindo-lhes crenças
benfeitoras e terapêuticas de forma descontextualizada (Nascimento, 1990).
No mesmo ano, Castro & Silva (1990) publicaram um artigo sobre os processos
criativos em terapia ocupacional, no qual contextualizam sujeito e atividades humanas,
assim como sua dimensão cultural e criadora, demarcando essa dimensão para o campo:
[...] toda atividade humana está inserida numa realidade social, portanto, ao
realizar uma atividade, o homem criador não está exclusivamente exprimindo
seus sentimentos, mas projetando nela tudo que percebe como próprio dos
homens de sua época e lugar, em outras palavras, do seu contexto cultural que
afetou, direta ou indiretamente suas experiências. As experiências sejam elas
pessoais, sociais ou afetivas, são fundamentais visto que se constrói pelas relações
(Castro & Silva, 1990, pp. 74-75).
Em 1991, o livro de Soares questiona a lógica do capital na terapia ocupacional,
apresentando concepções e práticas desde o reducionismo, com reflexões críticas, para
propor uma práxis mais coerente com as mudanças políticas do país, corroborando com
Francisco (1988) e Medeiros (2010) sobre o referencial marxista no uso do termo atividades
humanas. Aponta “[...] que não foi possível atender às necessidades das classes populares
sem promover alterações conjunturais que promoveram a absorção dessa oferta para
necessidades similares das classes dominantes” (Soares, 1991, p. 204). E, ao indagar sobre
o conflito de sua relevância e papel social, provoca: “[...] se a atividade humana, em seu
aspecto físico, psíquico e social, deixasse de ser a essência da terapia ocupacional, o que
viria a sê-lo?” (Soares, 1991, p. 190).
Furtado (1991) entendeu que os estereótipos e estigmas da terapia ocupacional derivam de
seu desconhecimento associado a compreensões enviesadas como “ocupar as pessoas” ou
“realizar atividades manuais” que desqualificam sua atuação e relação com as demandas e
populações. Salientou a diferenciação entre o fenômeno e o objeto de atuação como única saída
para transformação do seu valor profissional. Com isso, o processo identitário da terapia
ocupacional necessitaria realizar um deslocamento para que a profissão não fosse definida pelas
técnicas empregadas e sim pelas variáveis que determinam suas formas de atuar.
Maria Caníglia (Machado, 1991, p. 63) marcou fortemente esse deslocamento no sentido de
criar um corpo de conhecimento próprio que abrangeria o sujeito e o objeto de estudo da profissão
no “significado da atividade humana”. Ela sugeriu uma mudança etimológica para a profissão praxiterapia - pois traduziria melhor sua atuação pela e para práxis, tendo a praxiologia como
referencial mais adequado, ou seja, a ciência da atividade humana. Dedica-se ao ser humano em
atividade, visando a práxis, que é a atividade humana em sua completude teórica e prática,
indissociando “[...] espiritual e material, idealização e realização, planejamento e execução,
pensamento e ação” (Machado, 1991, p. 62).
Esse segundo movimento foi marcado por questionamentos e apropriação de reflexões
sobre a fundamentação e o papel social da terapia ocupacional. A elaboração crítica sobre
a proposição das atividades, com identificação do conceito de atividades humanas,
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contribuiu para o deslocamento de uma visão técnica para uma visão ética e política da
profissão, problematizando diretamente sua função e identidade. A constituição de
alicerces contextualizados por reflexões sociais, políticas, econômicas e culturais, presentes
no período, fortalecem-se no movimento seguinte.
O terceiro movimento, entre 1997 a 2005, esteve relacionado à diferenciação e à consolidação
dos campos de investigação e práticas da terapia ocupacional por meio de contextualização
sociopolítica, embasamento em políticas públicas, problematização teórico-conceitual e
proposição de práticas emancipatórias - essas, construídas desde, para e com o mundo da vida,
considerando atividades e cotidianos (Galheigo et al., 2018).
As práticas de terapia ocupacional, acompanhando as políticas sociais territoriais
brasileiras que vinham se constituindo, puderam se efetivar além dos limites institucionais
restritivos, viabilizando a participação nos espaços da vida cotidiana.
Galheigo (2003) observou uma ressignificação do foco da terapia ocupacional com a
compreensão da vida cotidiana que abrange a subjetividade e as relações sociais. Para Surjus
(2017, p. 902), a atividade humana foi tomada como elemento fundamental da inserção
de indivíduos ou grupos em seus espaços cotidianos, considerando uma ampliação da
definição da profissão, “[...] reorientando-se pelas condições e necessidades da população
marginalizada e excluída”.
Apesar das questões sociais permearem a função da profissão desde seus primórdios, nesse
momento, acontece sua apropriação como preceitos fundamentais, tendo a priorização da
cidadania na busca por “[...] produzir acesso e garantia de direitos para os sujeitos e coletivos”
(Galheigo et al., 2018, p. 730). Trazendo o referencial da Filosofia da Diferença, Lima (2003),
mostra que o compromisso ético-político com a população fez surgir, para além da tolerância e
da defesa dos direitos, o desejo à diferença. “Não basta reconhecer o direito às diferenças
identitárias, com essa tolerância neoliberal tão em voga, mas caberia intensificar as diferenciações,
incitá-las” (Quarentei, 1999, p. 200).
Lima (1997, p. 100) apresenta a arte como “[...] dimensão intrínseca a toda forma de
produção e atividade humana” e o adoecimento é compreendido como impedimento da
criação, sendo a clínica um acolhimento para libertação da potência criadora da vida.
Assim, o trabalho clínico não se esgota ao instaurar um estado permanente de criação e de
novos modos de ser. “É preciso também que essas novas formas constituídas de existência,
sua processualidade própria, bem como suas produções materiais possam ganhar
significação coletiva” (Lima, 1997, p. 100).
Para Quarentei (2001), a inesgotável conexão com outros campos do saber e o
distanciamento da racionalidade moderna aproximaram a terapia ocupacional da produção
de vida, dos modos de vida, das formas subjetivas de existência e da própria fabricação de
mundos. Para ela, a vida é um “[...] continuum incessante de atividades”, em que as
atividades humanas são matérias de vida, nas quais terapeutas ocupacionais investem
intensamente e de formas múltiplas (Quarentei, 2001, p. 2).
Vemos que o aprofundamento da crítica à atividade como instrumento ou recurso
positivista fortalece a concepção da atividade humana como elemento cultural, de caráter
polissêmico e complexo, relacionada ao cotidiano e às dimensões sociopolítica, subjetiva e
afetiva da condição humana (Galheigo et al., 2018).
Brunello (1991, p. 31), em artigo publicado ainda no movimento anterior, aponta a
influência do fator cultural no processo em terapia ocupacional, advertindo que é “[...]
necessário conhecer a realidade cultural para se compreender realmente o outro”. Para
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Atividades humanas na terapia ocupacional: construção e compromisso
Barros (2004, p. 96), “[...] torna-se imperativo para o terapeuta ocupacional desenvolver
atividades culturalmente pertinentes, pois se trata de compreender como as atividades mais
valorizadas são percebidas na comunidade”.
Barros et al. (2002), marcando o deslocamento para a terapia ocupacional social,
apresentam o conceito de atividade como um construto,
[...] uma mediação de relações múltiplas, mas situada no tempo e no espaço culturais;
é um conceito inacabado e incorpora em si essa incompletude, constituindo-se pelo
movimento, pelo processo de comunicação em linguagem (verbal, gestual, sonora, ou
seja, icônica, indicial e simbólica). Trata-se de um conceito que se realiza na experiência
e na situação vivida (Barros et al., 2002, p. 102).
O capítulo de Castro et al. (2001) sobre as atividades humanas, publicado no livro
“Terapia Ocupacional no Brasil”, que se tornou uma referência importante para este
debate, apresenta uma retrospectiva sobre o uso das atividades e atualiza sua concepção e
sentidos como um circuito de relações humanas e trocas sociais que envolvem
[...] o lúdico, o corpo, a arte, a criação de objetos, os estudos e o conhecimento,
a organização dos espaços e o cuidado com o cotidiano, os cuidados pessoais, os
passeios, as viagens, as festas, as diversas formas produtivas, a vida cultural, são
alguns exemplos de temas que referendam, conectam e agenciam experiências,
potencializam a vida, promovem transformações, produzem valor (Castro et al.,
2001, p. 46-47).
A atividade é compreendida como humana e cultural, elemento articulador entre indivíduo e
comunidade, vida cotidiana e produções culturais. “O sentido fundamental das atividades é
ampliar o viver e torná-lo mais intenso, nunca diminuí-lo ou esvaziá-lo” (Castro et al., 2001, p.
55). Castro et al. (2004) e Lima (2004) também abordam a análise das atividades a partir dessa
atualização de concepção e prática em terapia ocupacional.
O quarto movimento, iniciado em 2006, envolve dificuldades de análise, visto que
perdura até o presente. Percebe-se uma intensa diversificação teórico-conceitual e
metodológica na produção de saberes e práticas de terapia ocupacional, marcada pelo
aumento progressivo da produção acadêmica, como publicações de livros e de pesquisas.
Há também uma ampliação das cooperações internacionais e “[...] uma reincorporação de
perspectivas teórico-metodológicas, referenciais teórico-práticos e modelos de terapia
ocupacional internacionais [...] com destaque para os papéis ocupacionais, e a Ciência
Ocupacional” (Galheigo et al., 2018, p. 733).
Nessa direção, engendra-se uma dada mudança no perfil das produções da área que
também interferiu nos debates em relação às atividades humanas, sobretudo porque os
referencias e modelos de terapia ocupacional internacionais utilizam outros conceitos e
outras compreensões e, na maioria dos casos, reproduzem e derivam dos modelos anglosaxões hegemônicos de ciência e conhecimento.
Por outro lado, também são realizadas investigações e retrospectivas históricas sobre a
produção de conhecimento e os usos dos termos no Brasil (Lima et al., 2011; Lima et al.,
2013; Feriotti, 2013; Salles & Matsukura, 2016; Cardinalli, 2017; Poellnitz, 2018),
constatando a polivocidade dos termos, ainda que atividade apareça como mais utilizado a
partir de 1990 (Lima et al., 2011; Lima et al., 2013; Poellnitz, 2018).
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Atividades humanas na terapia ocupacional: construção e compromisso
Elisabeth Lima, em sua tese de livre-docência (Lima, 2017), aprofunda a investigação
do conceito de atividade humana a partir da obra de Hannah Arendt, acompanhando seu
estudo histórico, desde a proposição aristotélica. Problematiza a sociedade capitalista, o
totalitarismo e as condições que produzem isolamento e ao desenraizamento social.
Enquanto estratégias de resistência, estão a recuperação das esferas da atividade humana
junto ao espaço público e ao mundo comum, no sentido da vida ativa. Tais estratégias se
imbricam e se articulam: no reencantamento do mundo comum através da arte; no
investimento da ação e da dignidade política; no exercício de pensamento e de
compreender; e na reinvenção da convivência com estabelecimento de uma política da
amizade (Lima, 2017).
Em 2019, é lançado o primeiro livro sobre o tema “Atividades Humanas & Terapia
Ocupacional: saber-fazer, cultura, política e outras resistências”, reunindo discussões teóricopráticas de autores de diferentes regiões do país que compõem o Grupo de Pesquisa
interinstitucional Atividades Humanas e Terapia Ocupacional - AHTO (Silva, 2019). O grupo
tem investido em pesquisas e produção de conhecimento na temática, além da organização de
eventos, como o Encanto – Encontro sobre Atividades na Terapia Ocupacional.
Esse quarto movimento mostra a multiplicação de práticas relacionadas a políticas
sociais, como saúde, educação, assistência social, cultura, trabalho e direitos humanos, e a
contextos variados, “[...] incluindo serviços, equipamentos, projetos e ações de base
domiciliar, comunitária, territorial, institucional e privada” (Galheigo et al., 2018, p. 733).
Assim como a institucionalização do debate sobre as atividades humanas e a cultura pela
terapia ocupacional, que se constituiu como campo amparado por políticas e direitos
específicos e integrados às dimensões culturais simbólica, econômica e cidadã
(Gonçalves et al., 2017; Silva, 2019; Silvestrini et al., 2019).
Comprometimento Ético-Político-Cultural
Ao tratar das atividades humanas em terapia ocupacional a partir de uma leitura históricocrítica, corroboramos com Bezerra (2011) que identificou duas linhas de pensamento na análise
da literatura sobre a gênese e o desenvolvimento da profissão no Brasil:
[...] endogenista, na qual os autores analisam a origem da profissão, a partir da utilização
indiscriminada da “atividade” nos problemas de saúde, ao longo da história da
humanidade, desconsiderando - em suas análises - os aspectos econômicos e políticoideológicos, de cada momento histórico [...] A segunda perspectiva, denominada
histórico-crítica situa a gênese da profissão em um momento histórico preciso: o
contexto do capitalismo monopolista. Nesses autores, notamos a presença dos fatores
sociais, econômicos e políticos, como fundamento da existência profissional e uma
consideração sobre a funcionalidade da profissão na reprodução das relações sociais
(Bezerra, 2011, p. 150, grifo do autor).
Galheigo (2012) apresenta um enfoque sensível e crítico como uma perspectiva
epistemológica de acolhimento das experiências singulares e problematização dos
macroprocessos e desigualdades imbricados nos cotidianos, típicos da acumulação
capitalista, como compromisso ético-político que afirma movimentos de resistência da vida
e explicita as tensões macro e micropolíticas. Esse investimento busca por transformação e
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Atividades humanas na terapia ocupacional: construção e compromisso
justiça social, emancipação das pessoas e coletivos, respeito à diversidade e um caminho
para superação da dominação e para redistribuição de recursos.
Lima (2019) propõe uma perspectiva ético-estético-política para as atividades na terapia
ocupacional, ao problematizar a relação com a produtividade capitalista que envolve as atividades
humanas e o modo de vida contemporâneo. A autora propõe reconfigurar a compreensão sobre
as atividades envolvendo sua condição intrínseca de não-atividade, para restabelecer seu valor de
produção, ação e relação com a vida comum.
O que distingue a atividade humana que aumenta a potência de agir dos seres humanos
e aquela que ameaça a própria vida no planeta é justamente a incorporação, no seio da
ação e do fazer, da impotência, da incapacidade e da vulnerabilidade. Em suma, a
possibilidade de não fazer e não agir (Lima, 2019, p. 121).
Tais posicionamentos explicitam como o modo de vida ocidental capitalista neoliberal atua
sobre o incentivo e a compreensão de atividades humanas, que também promovem exploração e
destruição da condição humana e da natureza. Essa contradição é alimentada pelo estímulo à
produtividade exploratória e à inserção social pela via da normatividade que mantêm a produção
de riqueza e de hegemonia, ou de pobreza e submissão.
Com tal ponderação, é reconhecido o uso do termo atividades humanas em sua
construção histórico-crítica anti-hegemônica como contribuição às reflexões das Terapias
Ocupacionais desde Sul que partem de uma construção coletiva composta de saberes e
fazeres próprios das Epistemologias do Sul (Santos & Meneses, 2010; Silva et al., 2018).
As Epistemologias do Sul reconfiguram processos de produção e valorização de
conhecimentos científicos e não científicos, revendo as formas de relação entre os diferentes
tipos de saberes e experiências, a partir de realidades sociais que têm sofrido de maneira
sistemática as injustiças e as discriminações causadas pelo capitalismo, pelo colonialismo e
pelo patriarcado (Santos & Meneses, 2010).
Para Galheigo (2014, p. 219), a produção de “Epistemologias do Sul é a principal
identificação em curso da Terapia Ocupacional latino-americana contemporânea”, sob a
qual as perspectivas críticas têm se destacado como referência. Assim, o fortalecimento de
produções nesse sentido pode e deve abarcar um diálogo ainda mais promissor com o que
é possível estabelecer em trocas de saberes em nível intercontinental.
Guajardo (2016a), quando concebe várias terapias ocupacionais, compreende este
espaço de disputa, vendo que as Terapias Ocupacionais do Sul teriam como destaque e
diferencial suas identidades, historicidades, culturas, fundamento social e propósito crítico
de transformação social.
Silva et al. (2019, p. 172) apresentam as Terapias Ocupacionais da América Latina
desde/com/no Sul como um compromisso urgente para visibilizar e conectar “Terapias
Ocupacionais engajadas, críticas, baseadas no compromisso ético e político que buscam
uma sociedade mais justa e equitativa, e que estão preocupadas que nossas práxis sejam
realmente relevantes”.
Núñez (2019) apresenta, enquanto temas constituintes das Terapias Ocupacionais do
Sul, questões como: social, política, descolonização, direitos humanos, atividades coletivas
(ocupaciones colectivas), feminismo e a interculturalidade. Já Tolvett (2017) reafirma o
compromisso das práticas de Terapias Ocupacionais do Sul em atuar com comunidades,
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Atividades humanas na terapia ocupacional: construção e compromisso
principalmente vulnerabilizadas, a partir de experiências que promovem uma práxis
decolonizadora nas realidades latino-americanas.
Perspectivas do Sul e a crítica decolonial
Barros & Galvani (2016, p. 107) propõem o desafio da autocrítica e da reformulação
de noções e conceitos desenvolvidos sem conexões entre técnicas e culturas, ação técnica e
ação política na complexidade e diversidade. As autoras ressaltam a importância de
desenvolver diálogos Sul-Sul e reaprender nosso conhecimento a partir de “[...] parâmetros
políticos complexos e vinculados à grande multiplicidade de linguagens, expressões
estéticas e éticas e de formas de trocas culturais”.
Valorizar uma produção local, implicada na experiência de sua realidade, é um processo
de reconhecimento pela terapia ocupacional sobre a dominação cultural e a hierarquização
das ciências, conhecimentos, saberes e fazeres. Temos que considerar que a terapia
ocupacional hegemônica também é contextualizada, situada e historicizada. Tal como nos
atenta Hammell (2018), é aquela que produziu e transmitiu um conhecimento de homens
e mulheres brancos/as, anglofalantes, com ‘boa educação’, de classe média, em modo de
vida urbano, relacionados/as principalmente a religiões judaico-cristãs.
A terapia ocupacional hegemônica perpetua o colonialismo quando teorias, avaliações,
intervenções, medidas de resultados e modelos de prática são produzidos a partir e para
responder pressupostos neoliberais ocidentais culturalmente específicos, sobre o que é
valioso e desejável, e ainda são promovidos e reproduzidos em contextos nos quais a
política, a cultura e a economia são totalmente distintos (Hammell, 2018).
O último Congresso Mundial de Terapeutas Ocupacionais, realizado na África do Sul,
em maio de 2018, foi o primeiro a ser realizado no continente africano, apesar das reuniões
terem se iniciado em 1951 e desde 1952 o país sede ser membro da WFOT, além de, no
continente, existir 17 países com cursos de terapia ocupacional (Zango, 2018).
Em seu discurso de abertura, Ramugondo (2018) descreve a colonialidade do saber
como a forma que os conhecimentos endógenos, indígenas ou tradicionais têm sido
demonizados e considerados inferiores pelo mundo ocidental convenientemente para a
supremacia branca. Com isso, a decolonialidade do saber deve considerar as historicidades,
reconhecer que existem múltiplas fontes de conhecimento, incluindo o saber intuitivo, o
conhecimento relativo, a criatividade e a ética, e ainda reivindicar o sentido de humanidade
das pessoas (ex)colonizadas, reconhecendo saberes diversos como contribuições dignas ao
patrimônio global intelectual.
As Terapias Ocupacionais desde Sul oferecem oportunidades de reflexão,
conscientização e enfrentamento de poderes hegemônicos instituídos. Tal como proposto
por Pino Morán & Ulloa (2016, p. 245), esse debate nos leva a tomar uma posição éticapolítica-cultural radical, porque se trata de um “[...] desprendimento epistêmico na esfera
do social, um movimento que sai da compreensão universalista hegemônica, para uma
pluriversatilidade da terapia ocupacional”.
A crítica também predispõe a interdependência entre teoria e prática como saberesfazeres constitutivos da experiência, integrados e produzidos na dialogicidade, pois a
reflexão verdadeiramente crítica não se dissocia das ações: é uma práxis consciente e
engajada. A consciência, como proposta por Freire (1979, p. 42), é “um compromisso
histórico”, compreende um trabalho humanizante de desmitificação, pois é necessário
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Atividades humanas na terapia ocupacional: construção e compromisso
desvelar a realidade que sustenta a estrutura dominante através do diálogo, ou seja, “[...] o
encontro no qual a reflexão e a ação, inseparáveis daqueles que dialogam, orientam-se para
o mundo que é preciso transformar e humanizar”.
Ao considerar que a prática terapêutica ocupacional é constitutivamente e
necessariamente política, rompemos com o fundamento dominante para recriar e subverter
a ordem estabelecida. Também para repensar a própria terapia ocupacional pela ética dos
direitos humanos em ações coletivas e comunitárias; assim, seu objetivo ético e político se
torna a emancipação, a autonomia e a liberdade (Guajardo, 2016a; 2016b).
Silvestrini et al. (2019) reafirmam que esse é um processo eminentemente cultural:
terapeutas ocupacionais podem contribuir na produção de estratégias, reflexões e
práticas contra hegemônicas, anticoloniais, anti heterocispatriarcais e
antirracistas na busca pela ruptura e superação dos impactos gerados pelas
práticas hegemônicas e violentas, nos modos de vida e relações humanas.
Entende-se a importância da busca pela justiça, equidade e respeito à diversidade
humana e ambiental, cujas transformações passam necessariamente pela
dimensão cultural das vidas humanas (Silvestrini et al., 2019, p. 934).
Fazer-pensar atividades humanas como produção de vida
Alinhando às premissas anteriores, propõe-se aqui um diálogo com a compreensão de
atividade humana proposta por Mariangela Quarentei, terapeuta ocupacional brasileira que
enunciou a terapia ocupacional como produção de vida. As atividades humanas são
compreendidas como territórios de existência, intrínsecos e singulares às pessoas; são suas
matérias de criação, expressão dos modos de existir e sua própria fabricação de mundos
(Quarentei, 1999; 2001).
Diante da complexidade com que se tecem produção de subjetividade, desejos, práticas
culturais, organizações sociais, políticas e econômicas, poderes, interesses, desigualdades,
indivíduos, comunidades, cotidianos, atividades e modos de vida, busca-se reconhecer
afetações entre esses e outros elementos que não existem fora do todo. Para entrar nesse
universo, acredita-se que é preciso reconhecer e se desfazer de saberes-poderes que mantêm a
produção de hegemonia nas relações, que costumam pré-conceber ideais pouco realistas, por
exemplo, de bem-estar e qualidade de vida, e experimentar a humildade epistemológica.
Afinal, a quem serve a terapia ocupacional? Entende-se que todo esforço deve estar na
busca de reverter lógicas de (re)produção capitalista, colonial e patriarcal que imperam na
racionalidade moderna. E o comprometimento ético-político-cultural com pessoas e
comunidades em suas experiências cotidianas tem como enfoque as atividades humanas e a
problematização dos efeitos do poder sobre elas, o que também incide sobre as práticas de
cuidado e de produção de conhecimentos, de cultura e de vida.
A produção de vida, afirmada por Quarentei (2001), acontece em um continuum de
atividades, de múltiplas atividades simultâneas, que caracterizam um território onde se
produz o sentido da própria existência e seu potencial de criação. Não existe “não fazer nada”,
pois a vida é um movimento incessante, assim como não há “atividades sem significado”, são
múltiplos e são ressignificáveis. Portanto, terapeutas ocupacionais não são detentores do saber
sobre elas ou condutores de técnicas estéreis, mas dependem da troca de experiências para
produzir cuidado e existência conjuntamente com as pessoas que acompanham. O que requer
menos manuais e mais devires inventivos, pois “[...] não há receitas, ainda que proliferem
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Atividades humanas na terapia ocupacional: construção e compromisso
[práticas] na perspectiva de cuidado, de garantias para afastar o mal-estar. E esse lugar de
vulnerabilidade é, também, lugar de criação” (Quarentei et al., 2020, p. 316).
As atividades humanas são construções sócio-históricas, relacionais, culturais, expressões
de modos de vida; elas envolvem cotidianos e seus desejos, saberes-fazeres, potenciais
transformadores próprios; são produção de vida e de mundos. Para terapeutas
ocupacionais, elas são pistas inquietantes e oportunidades relacionais para experimentações
conjuntas. Quando se apresenta uma dimensão tecnológica, é preciso torná-la crítica e
sensível o suficiente para que não seja reprodutível e fechada em si, descolada de sua
condição viva. Recursos ajudam, mas são superáveis e se modificam, não devendo
caracterizar os processos terapêuticos-ocupacionais, ou seja, a identidade da profissão não
deveria ser definida por técnicas empregadas (Furtado, 1991).
Uma compreensão ampliada sobre a atividade humana deve incorporar o valor
histórico, ancestral, coletivo e a interdependência de processos geracionais. Enquanto
repertório cultural, recupera e constrói valores, símbolos, sentidos, significados e depende
da oralidade e da artesania que produzem saberes experenciais. Ao ampliar a percepção
sobre sua constituição e seus valores, contribui para a conscientização dos modos de
produção, consumo e descarte e do impacto da produtividade na natureza e na vida.
É preciso considerar a crise de valores éticos em que o poder de compra e consumo
governa as ações humanas e corrói as noções de pertencimento, autonomia e liberdade,
visto que a “[...] liberdade em ‘Ser’ foi substituída por ‘Poder Ser’ a partir ‘De’” (Furtado
& Marcondes, 2013, p. 654). Não se trata apenas de denunciar a lógica da “curaprodutividade”, mas de encontrar caminhos de resistência em busca de outros sentidos na
produção de vida, uma “[...] existência mais rica de recursos, possibilidades e experiências
é também uma existência em movimento-mudança” (Quarentei, 1999, p. 198).
A produção de sentidos e de afetos depende do compartilhamento da vida pelos
encontros, e as atividades se tornam preciosas para a terapia ocupacional, pois constituem
matéria para a expressão e transformação desses afetos que conduzem novas
experimentações na vida (Quarentei, 1994).
Entende-se que a terapia ocupacional implicada na produção de vida e na ampliação da
potência da atividade humana de sujeitos-coletivos complexos une sensibilidade e crítica e
se compromete de forma ética-política-cultural ou ética-estética-política com o encontro e
a troca de experiências, saberes-fazeres culturais diversos, para que haja uma produção
conjunta de cuidado, conhecimentos múltiplos, caminhos com sentidos partilhados em
práticas-processos em aberto, num desafio constante de ser consciente e coerente com a
realidade (Cardinalli et al., 2018).
Considerações no Fluxo Contemporâneo
A diversidade de experiências de vida e as formas de produção de saber sobre o mundo
são inesgotáveis e a dedicação às Epistemologias do Sul oferece “[...] novas concepções de
vida e de dignidade humana, novos universos simbólicos, novas cosmogonias, gnoseologias
e até ontologias […] também novas emoções e afectividades, novos sentimentos e paixões”
(Santos, 2008, p. 21). Nós, terapeutas ocupacionais, interessamo-nos, particularmente, por
essas experiências, chamadas de atividades humanas, cotidianos, modos de vida, relações
sociais, diversidade, entre outros conceitos, buscando compreender e contribuir nas
condições de existência humana e na produção do mundo comum.
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Atividades humanas na terapia ocupacional: construção e compromisso
Este texto histórico-propositivo apresentou uma reconstituição de compreensões sobre
atividades humanas pela produção de conhecimento da terapia ocupacional brasileira,
destacando o deslocamento entre ‘instrumento, meio ou recurso’ para o ‘conceito plural e
polissêmico’ e, sobretudo, implicado na dinâmica da vida sociocultural.
Assim, vê-se a cada tempo seus desafios e uma produção de saberes implicados neles, junto
a urgências que se fazem presentes com a nova crise sanitária e a antiga crise política, econômica
e ambiental. O acirramento das desigualdades e da exclusão social, a precarização das condições
de trabalho e insegurança na geração de renda, a forte onda conservadora e totalitária, a violência
e intolerância diante da diversidade humana e cultural e o avanço vertiginoso da tecnologia da
informação e comunicação. As mudanças em nossas atividades humanas não cessam e, portanto,
não pararemos de nos dedicar a compreender e a ressignificar tais processos.
Contudo, esses processos acontecem de formas distintas e dependentes dos marcadores
sociais, identitários, trajetórias e contextos de vida. Ainda que haja sensibilidade para lidar
com as singularidades, é preciso também conhecer as dinâmicas que nos colocam
coletivamente como semelhantes de alguns e desiguais frente aos privilégios de outros.
Como lembra Boaventura de Sousa Santos,
[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos
o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a
necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença
que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades (Santos, 2003, p. 56).
Por isso, valorizam-se as contribuições da terapia ocupacional como produção de vida
e das Terapias Ocupacionais do Sul que mobilizam compreensões epistemológicas e sociais
culturalmente em terapia ocupacional, com abertura para a inventividade e solidariedade
profissional e com comprometimento ético-político-cultural pautado no direito de existir,
na emancipação social e na dignidade humana.
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Contribuição dos Autores
Isadora Cardinalli e Carla Regina Silva foram responsáveis
pela concepção, redação e revisão do texto, organização de
fontes e análises. Carla Regina Silva foi orientadora da
pesquisa. Todos os autores aprovaram a versão final do
texto.
Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2880, 2021
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Atividades humanas na terapia ocupacional: construção e compromisso
Fonte de Financiamento
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – CAPES, código 001.
Autor para correspondência
Isadora Cardinalli
e-mail: isadora.cardinalli@gmail.com
Editor de seção
Prof. Dr. Milton Carlos Mariotti
Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2880, 2021
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