Universidade Est adual de Campinas – Unicamp
Programa de Pós Graduação em Música
Inst it ut o de Art es
SEMINÁRIOS AVANÇADOS | Panorama Hist órico da Est ét ica Musical | Profª. Drª. Lia Tomás
segunda part e
Carl DAHLHAUS
A idéia de Música Absolut a
uma primeira aproximação nada absolut a e um t ant o obsolet a
Alunos:
Almir Côrt es Barret o
Sérgio Paulo Ribeiro de Freit as
Unicamp, o5 out ubro de 2oo7
Carl DAHlHAUS
Die Idee der absolut en Musik (Kassel, 1976)
LA IDEA DE LA MÚSICA ABSOLUTA
Barcelona, Idea-Books, 1998
(Traducción de Ramón Barce)
segunda part e
Música inst rument al e religião da art e ________ p.
Lógica musical e carát er lingüíst ico ________ p.
De t rês cult uras da música ________ p.
A idéia do absolut o musical e a prát ica da música programát ica ________ p.
Música absolut a e poesia absolut a ________ p.
o89
103
116
126
138
XVIII
1700
Palestrina
†1594
Monteverdi
†1643
†1650
DESCARTES
†1677
SPINOZZA
SEMINÁRIOS AVANÇADOS
Panorama Hist órico
da Est ét ica Musical
Profª. Drª. Lia Tomás
Alunos:
Almir Cort es Barret o
Sérgio Paulo Ribeiro de Freit as
Unicamp, o5 out ubro de 2007
...1760
...1780
Revoluções Burguesas
1750
A idéia de MÚSICA ABSOLUTA por Carl Dahlhaus (1928-1989) | alguns nomes e dat as:
XIX
XX
...... La Querelle des anciens et des modernes .............
Bach †1750
1800
1850
1900
Franz Liszt † 1886
Beethoven †1827
Schumann †1856
Richard Strauss †1949
Mahler †1911
Brahms †1897
Johann MATTHESON (1681-1764)
Bruckner †1896
Johann Nicholaus FORKEL (1749-1818)
Wagner † 1883
Abade DUBOS (1670–1742)
Charles BATTEUX (1713 -1780)
Johann Georg SULZER (1720-1779)
Ot t o KLAUWELL (1851-1917)
Heinrich Christ oph KOCH (1749-1816)
RAMEAU (1683-1764)
Adolf Bernhard MARX (1795-1866)
ROUSSEAU (1712-1778)
Hermann KRETZSCHMAR (1848-1924)
Johann Got t fried HERDER (1744-1803)
Immanuel KANT (1724-1804)
Johann Got t lieb FICHTE (1762-1814)
Georg Friedrich HEGEL (1770-1831)
Christ ian Friedrich Daniel SCHUBART (1739-1791)
Georg August GRIESINGER (1769-1845)
Got t fried Wilhem FINK (1783-1846)
Friedrich Wilhelm Joseph von SCHELLING (1775–1854)
Christian Hermann WEISSE (1801-1866)
SCHOPENHAUER (1788-1860)
Richard WAGNER (1813-1883)
Friedrich NIETZSCHE (1844-1900)
Eduard HANSLICK (1825-1904)
Karl Franz Brendel (1811-1868)
August Halm (1869-1929)
Ernst BLOCH (1885-1977)
Karl Phillipp MORITZ (1756-1793)
Arte pela arte 1785-88
Friedrich Daniel Ernst SCHLEIERMACHER (1768 —1834)
Johann Ludwig TIECK (1773-1853)
Wilhelm Heinrich WACKENRODER (1773-1798)
E.T.A. HOFFMANN (1776-1822)
Friedrich Richt er, JEAN-PAUL (1763-1825)
NOVALIS (1772-1801)
GOETHE (1749-1832)
Edgar Allan POE (1809 -1849)
(poesia pura) St éphane MALLARMÉ (1842-1898)
(poésie absolue) Paul VALÉRY (1871-1945)
Arnold SCHERING (1877-1941)
Hans EISLER (1898 - 1962)
Theodor W. ADORNO (1903-1969)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a
1
Referências
DAHLHAUS, Carl. La idea de la música absoluta. Barcelona: Idea Books, 1999.
BARROS, Cassiano de Almeida. A orientação retórica no processo de Composição do Classicismo
observada a partir do tratado Versuch einer Anleitung zur Composition (1782-1793) de H.C. Koch.
Instituto de Artes, Unicamp, 2006 (Dissertação de mestrado).
IRIARTE, Rita (Organização, tradução e notas) Música e literatura no romantismo alemão. Lisboa:
Apáginastantas, 1987, pp.54-61. Tradução: Antonieta Maria Lopes. Revisão: Rita Iriarte. Disponível
em: aulasdalia@yahoogrupos.com.br
TOMÁS, Lia. Vozes dissonantes: precursores da autonomia da música na Antigüidade. In:
DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.). Ensaios sobre música e filosofia. São Paulo:
Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 147-155.
VERMES, Mônica. Schumann, Hoffman e o cânone ocidental. In Anais do VI Fórum do Centro de
Linguagem Musical – CLM. São Paulo. ECA. USP, 2002. P. 86.
VIDEIRA, Mário. Música e filosofia no romantismo alemão. In Anais do VI Fórum do Centro de
Linguagem Musical – CLM. São Paulo. ECA. USP, 2005. P. 57.
VIDEIRA, Mário. O Romantismo e o Belo Musical. São Paulo: Editora UNESP, 2006.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a
2
... a palavra/ conceit o ABSOLUTO
e suas acepções e implicações...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a
3
Dicionário HOUAISS
ABSOLUTO
Rubrica: filosofia
Diz-se de ou a realidade plena, ilimit ada, essencial, que
não depende senão de si mesma para exist ir, em
oposição a t odos os fenômenos que se mant êm
dependent es, cont ingent es, relat ivos ou part iculares.
Em Nicolau de Cusa (1401-1464) e Schelling (1775-1854),
que ou o que cost uma ser designado como realidade
divina, divindade, Deus.
No hegelianismo, diz-se de ou a verdade plena,
simult aneament e idéia e realidade concret a, que se
afirma progressivament e no decorrer do processo
hist órico.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a
4
Nicola ABBAGNANO
Dicionário de filosofia
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a
5
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
ABSOLUTO
[Embora t enha sido Nicolau de Cusa (1401-1464) que
definiu Deus como Absoluto] a difusão da palavra desde o século XVIII – muit o provavelment e é devida à
linguagem polít ica [poder absolut o, monarquia
absolut a, absolut ismo, et c.] onde a palavra significa
clarament e “ sem rest rição” ou “ ilimit ado” .
A grande voga filosófica do t ermo
deve-se ao Romant ismo.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a
6
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
ABSOLUTO
O Romant ismo fixou o uso da palavra
sej a como adjetivo
[sem rest rições, sem limit ações, sem condições]
sej a como substantivo
[realidade desprovida de limit es, suprema,
o “ espírit o de Deus” ].
O t ermo pode ser considerado
como sinônimo de “ infinit o” .
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a
7
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
ABSOLUTO
Immanuel Kant (1724-1804) diferencia dois significados,
Um [mais difundido e menos
preciso]: a palavra qualificaria
uma det erminação a uma coisa
pela própria subst ância ou
essência da coisa.
“ Absolut ament e possível”
significa: “ possível em si
mesmo” , ou “ int rinsecament e
possível” .
Out ro significado
[preferível para Kant ],
“ absolut ament e possível
significa” : “ possível sob
t odas as relações,
ou sob t odos os aspect os” .
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a
8
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
ABSOLUTO
FICHTE fala de Dedução Absolut a,
de At ividade Absolut a, de Saber Absolut o, de
Eu Absolut o, para indicar o
Eu Infinit o, criador do mundo...
Na segunda part e de sua filosofia, procura
int erpret ar o Eu como Deus...
Johann Got t lieb Ficht e
(1762-1814)
“O absoluto é absolutamente aquilo que é,
repousa sobre e em si mesmo absolutamente...
Ele é o que é absolutamente
porque é de si mesmo...”.
Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) filósofo alemão. Influenciado por Kant ,
exerceu fort e influência sobre os represent ant es do nacionalismo alemão, assim
como sobre as t eorias filosóficas de Friedrich Schelling, G.W.F. Hegel e Art hur
Schopenhauer...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a
9
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
ABSOLUTO
A mesma inflação da palavra
se acha em Schelling,
que usa o subst ant ivo
ABSOLUTO para designar o
princípio infinit o da realidade,
ist o é Deus.
Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling
(1775 – 1854)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 10
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
ABSOLUTO
O mesmo uso da palavra
reaparece em HEGEL para quem
o absolut o é ao mesmo t empo o
obj et o e o suj eit o da filosofia e,
embora definido de várias
maneiras, permanece
caract erizado pela sua
infinidade posit iva no sent ido de
est ar além de t oda realidade
finit a e de compreender em si
t oda realidade finit a.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel
(1770 -1831)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 11
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
ABSOLUTO
A palavra permanece ligada a uma fase det erminada
do pensament o filosófico, precisament e à concepção
românt ica do infinit o, que compreende e resolve em
si t oda realidade finit a e não por isso limit ado ou
condicionado por nada, nada t endo fora de si que
possa limit á-lo ou condiciona-lo [...] aquilo que
realiza a si mesmo de modo necessário e infalível.
ABBAGNANO, p. 4.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 12
DAHLHAUS:
A idéia de MÚSICA ABSOLUTA
Algumas definições “rápidas”
[de no máximo quatro linhas]
escolhidas ao longo [da segunda parte] do texto...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 13
A idéia de MÚSICA ABSOLUTA por DAHLHAUS:
Algumas definições “rápidas” escolhidas ao longo do texto
Uma música
liberada de funções,
de textos e de caracteres
nitidamente desenhados
e capaz de elevar-se à
“intuição do infinito”...
Carl Dahlhaus
(1928-1989)
DAHLHAUS, p. 126-127
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 14
O conceito de MÚSICA ABSOLUTA – o
paradigma estético que dominava a
Alemanha como concepção do que desde a
sinfonia e o quarteto de cordas até o drama
musical era a música “em si” – foi uma
idéia de todo o século XIX que representou
o sentir artístico de toda uma época...
Carl Dahlhaus
(1928-1989)
DAHLHAUS, p. 139
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 15
Carl Dahlhaus
(1928-1989)
MÚSICA ABSOLUTA: o rechaço do
principio imitativo – o postulado de que a
música deveria ser descritiva, seja como
pintura da natureza exterior, seja como
representação de afetos ou pintura da
natureza interior, para não cair em um
conjunto de sons vazio e trivial –
[... a música] não é mero veículo de
pensamentos ou de sentimentos
[é linguagem e substância em si mesma]...
DAHLHAUS, p. 140
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 16
DAHLHAUS:
um conceit o út il de AUTONOMIA
a partir de
Carl DAHlHAUS:
Sobre a “ relat iva aut onomia” de la hist ória de la música
In: DAHLHAUS, Carl.
Fundamentos de la historia de la música.
Barcelona: Gedisa. 2003. p.133
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 17
Carl DAHlHAUS: Sobre a “ relat iva aut onomia” de la hist ória de la música
In: DAHLHAUS, Carl. Fundamentos de la historia de la música. Barcelona: Gedisa. 2003. p.133.
Do pont o de vist a hist oriográfico seria út il
[“ út il” , porque não exist e um conceit o “ único” e “ verdadeiro”
de aut onomia] encont rar um caminho int ermediário ent re um
equivalent e de “ música de concert o” [em cont raposição à
“ música corrent e” ] e um conceit o de aut onomia que coincida
com a dout rina de l’ art pour l’ art .
_ Dessa maneira se poderia qualificar de autônoma,
em primeiro lugar, uma composição musical que exija e
possa ser escutada por si mesma, de modo que a forma
predomine sobre a função. Em segundo lugar, a arte em
sentido moderno do conceito, quer dizer, obras que
surgiram livremente quanto ao conteúdo e forma e não
por encargo [livremente concebida e realizada sem
influências de um patrão ou comprador].
DAHLHAUS, 2003, p. 134.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 18
Dicionário HOUAISS
AUTONOMIA
Rubrica: filosofia.
Segundo Kant (1724-1804), capacidade apresent ada pela
vont ade humana de se aut odet erminar segundo uma
legislação moral por ela mesma est abelecida, livre de
qualquer fat or est ranho ou exógeno com uma influência
subj ugant e, t al como uma paixão ou uma inclinação
afet iva incoercível.
Obs.: p.opos. a het eronomia
Rubrica: psicologia.
Preservação da int egridade do eu
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 19
Colóquio MÚSICA E HISTORIOGRAFÍA EN LA OBRA DE CARL DAHLHAUS | Zaragoza_2oo3
Disponível em: aulasdalia@yahoogrupos.com.br
Pilar Ramos (Universitat de Girona)
La crítica feminista al concepto de autonomía en Dahlhaus
Conceit o de AUTONOMIA por DAHLHAUS:
Para nuestro propósito una creación musical es autónoma
1. si consigue elevarse y exigir ser oída por sí misma,
dando así precedencia a la forma sobre la función, y 2. si
constituye una obra de arte en sentido moderno, es decir,
una obra libremente concebida y realizada sin influencias
por parte de un patrón o comprador con respecto a su
contenido o a su forma externa
DAHLHAUS 1983 [1977], p. 109.
DAHLHAUS, C. (1983 [1977]). Chap. 8. The 'relative autonomy' of music history.
Foundations of Music History. Cambridge: Cambridge University Press.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 20
Colóquio MÚSICA E HISTORIOGRAFÍA EN LA OBRA DE CARL DAHLHAUS | Zaragoza_2oo3
Disponível em: aulasdalia@yahoogrupos.com.br
Pilar Ramos (Universitat de Girona)
La crítica feminista al concepto de autonomía en Dahlhaus
Crít ica ao conceit o de música absolut a ::: ment e [masculino] x corpo [feminino]
En su búsqueda de la transcendencia, la música absoluta puso
la mayor fe en las más elevadas facultades de la mente. En este
sentido afirmó la ideología del dualismo mente-cuerpo y la
consiguiente devaluación del cuerpo. Las connotaciones del
cuerpo lo ligan con lo femenino y con las asociaciones
moralmente bajas de la sexualidad femenina. El concepto de
música absoluta ha funcionado por tanto como un medio
ingenioso de elevar la noción masculina de la mente y al mismo
tiempo suprimir el cuerpo, la sexualidad y lo femenino. Lo
llamo ingenioso porque lo ha hecho así bajo la apariencia de
una manifiesta autonomía con respecto a la referencialidad
social subyacente y de esta forma ha hecho su programa mucho
más sutil y difícil de identificar (Citron 1993: 142).
Citron, M. (1993). Gender and the Musical Canon. Cambridge: Cambridge University Press.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 21
Apresent ação sint ét ica
do conceit o de
MÚSICA ABSOLUTA
_ a part ir de DAHLHAUS _
por Vladimir SAFATLE
Vladimir SAFATLE
Depart ament o de Filosofia da USP
O novo tonalismo e o esgotamento da forma crítica como valor estético.
In: DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.).
Ensaios sobre música e filosofia.
São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 75-101. (p.81).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 22
SAFATLE, Vladimir P. O esgotamento da forma crítica como valor estético.
In: Itaú Cultural. (Org.). Rumos: artes visuais 2005-2006. São Paulo: Itaú, 2006, p. 307-314.
Cf. SAFATLE, Vladimir. O novo tonalismo e o esgotamento da forma crítica como valor estético. DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.). Ensaios
sobre música e filosofia. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 75-101. (p.81).
Apresent ação sint ét ica do conceit o de MÚSICA ABSOLUTA
_ a part ir de DAHLHAUS _ por Vladimir SAFATLE:
Grosso modo, podemos chamar de MÚSICA
ABSOLUTA uma cert a noção que via na música
inst rument al, desligada de t ext os, de programas,
de funções rit uais e “ pedagógicas” específicas, o
veículo privilegiado para a expressão ou o
pressent iment o do “ absolut o” em sua
sublimidade e o est ágio de realização nat ural da
racionalidade musical.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 23
SAFATLE, Vladimir P. O esgotamento da forma crítica como valor estético.
In: Itaú Cultural. (Org.). Rumos: artes visuais 2005-2006. São Paulo: Itaú, 2006, p. 307-314.
Cf. SAFATLE, Vladimir. O novo tonalismo e o esgotamento da forma crítica como valor estético. DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.). Ensaios
sobre música e filosofia. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 75-101. (p.81).
É a proximidade com t al t emát ica que permit irá a
SCHOPENHAUER [...] afirmar:
“ Não podemos encont rar na música a
cópia, a reprodução da idéia do ser
t al como se manifest a no mundo” , ela
é “ cópia de um modelo que não pode,
ele mesmo, ser represent ado
diret ament e” ,
Art hur Schopenhauer
(1788 —1860)
1
Pois “ a música, que vai para além das
idéias, é complet ament e
independent e do mundo fenomenal” . 1
SCHOPENHAUER, O mundo como vontade e representação, § 59
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 24
SAFATLE, Vladimir P. O esgotamento da forma crítica como valor estético.
In: Itaú Cultural. (Org.). Rumos: artes visuais 2005-2006. São Paulo: Itaú, 2006, p. 307-314.
Cf. SAFATLE, Vladimir. O novo tonalismo e o esgotamento da forma crítica como valor estético. DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.). Ensaios
sobre música e filosofia. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 75-101. (p.81).
Est e impulso de aut onomização da forma musical será
fundament al para que t eóricos post eriores, como
HANSLICK insist issem em levar t al processo ao
ext remo.
Ao afirmar que a música nada mais era do que “ formas
sonoras em moviment o” , Hanslick demonst rava plena
consciência de est ar adent rando em um est ágio
hist órico de racionalização do mat erial musical que
permit ia a consolidação da esfera musical em sua
legalidade própria.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 25
SAFATLE, Vladimir P. O esgotamento da forma crítica como valor estético.
In: Itaú Cultural. (Org.). Rumos: artes visuais 2005-2006. São Paulo: Itaú, 2006, p. 307-314.
Cf. SAFATLE, Vladimir. O novo tonalismo e o esgotamento da forma crítica como valor estético. DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.). Ensaios
sobre música e filosofia. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 75-101. (p.81).
Legalidade própria que o leva a afirmar:
Eduard Hanslick
(1825-1904)
2
“ se se pergunt ar o que se há de
expressar com est e mat erial sonoro, a
respost a reza assim: idéias musicais.
Mas uma idéia musical t razida
int eirament e à manifest ação é j á um
belo aut ônomo, é fim em si mesmo, e
de nenhum modo apenas meio ou
mat erial para a represent ação de
sent iment o e pensament os” . 2
HANSLICK, Do belo musical, p. 42
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 26
Sínt ese do conceit o de
AUTONOMIA DA ARTE
_ a part ir de DAHLHAUS _
por Leopoldo WAIZBORT
Leopoldo WAIZBORT
Professor no Depart am ent o de Sociologia da USP
Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I)
Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Cf. VERMES, 2002, p. 86.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 27
Leopoldo WAIZBORT. Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Autonomia da arte
Sínt ese do conceit o de
_ a part ir de DAHLHAUS _ por WAIZBORT:
Aut onomia da art e [...] ideal românt ico de que a obra
de art e é um out ro mundo, válido por si mesmo e
independent e do que lhe é ext erior. Isso foi formulado
inicialment e por Wackenroder, em conj unt o com Tieck,
e a seguir — est es mais import ant es para Schumann —
por Jean-Paul e Hoffmann. 3
...
3
Cf. VIDEIRA, 2006, p. 71- 79.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 28
Leopoldo WAIZBORT. Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Sínt ese do conceit o de
Aut onomia da art e por WAIZBORT:
É preciso compreender a gênese da aut onomia românt ica
da art e para poder ponderar seu j ust o peso hist órico. A
ênfase na aut onomia cont rapõe-se à idéia t radicional [...]
— desde o miscere ut ile dulce horaciano — de que a obra de
art e deve est ar a serviço da religião, da ut ilidade moral
[“quer dizer, da convivência social dos humanos” (DAHLHAUS,
1999, p. 8)] ou do ent ret eniment o cort ês ou burguês.
A religião da art e românt ica foi uma emancipação da art e,
que deixou de servir a qualquer função que lhe fosse
ext erior, deixou de ser música funcional. Isso se concret iza
sobret udo na música inst rument al, libert a de vínculo com a
língua; apenas ela const it ui-se como música plena e pura.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 29
Leopoldo WAIZBORT. Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Sínt ese do conceit o de
Aut onomia da art e por WAIZBORT:
Os românt icos invert eram em grande medida os ideais
musicais, sobrepondo a música purament e
inst rument al à música vocal, como se vê com clareza
nos t ext os de Hoffmann.
A música inst rument al const rói seu mundo únicament e
a part ir de si mesma, sem necessit ar de um meio
auxiliar como a palavra. A emancipação da música
inst rument al (e não mais obra para est udo e
aprendizagem, para missa ou abert ura de ópera) impôs
uma nova hierarquia dos gêneros; não é acaso que,
após a brilhant e obra pianíst ica inicial, Schumann
t enha ambicionado a sinfonia.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 30
Leopoldo WAIZBORT. Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Sínt ese do conceit o de
Aut onomia da art e por WAIZBORT:
Tal emancipação ret rocede, em suas origens, ao
século XVII, mas ainda por volt a da met ade do
século XVIII não t inha se firmado. Mesmo ao final
daquele século, não est á ainda claro se a música
inst rument al é t ão perfeit a como a música vocal,
t ão capaz de expressão.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 31
Leopoldo WAIZBORT. Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Sínt ese do conceit o de
Aut onomia da art e por WAIZBORT:
De fat o, at é bem longe no século XIX permanece enraizada
a idéia de que música é sobret udo música vocal (o que se
vê nas Lições de est ét ica, de Hegel). Ent ret ant o, o
“ poético” — que o idolat rado Jean-Paul cont rapunha ao
“ prosaico” [DAHLHAUS, p. 69-70] para dist inguir a música
do mero art esanat o —, que define propriament e para
Schumann a arte como arte, desde o início do século XIX
encont ra cada vez mais expressão na música absolut a.
Com Beet hoven a música inst rument al consuma-se em
definit ivo, e é na famosíssima resenha de Hoffmann da
Quint a sinf onia que isso foi formulado de modo mais
definido e hist oricament e influent e (WAIZBORT, 2006, p. 187).
[...]
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 32
Apresent ação sint ét ica do conceit o de
MÚSICA ABSOLUTA
_ a part ir de DAHLHAUS _
por Leopoldo WAIZBORT
Leopoldo WAIZBORT
Professor no Depart am ent o de Sociologia da USP
Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I)
Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 33
Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Apresent ação sint ét ica do conceit o de
MÚSICA ABSOLUTA
_ a part ir de DAHLHAUS _ por WAIZBORT:
Música absoluta. A música aut ônoma assumiu a forma
de música absolut a: [a música inst rument al] por ser
mais indet erminada e sem obj et o, sugeriria o
“ absolut o” , o moment o met afísico, à diferença da
música vocal, mais det erminada. No limit e da est ét ica
românt ica, a música é uma “ revelação” do absolut o.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 34
Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Apresent ação sint ét ica do conceit o de MÚSICA ABSOLUTA _ a part ir de DAHLHAUS _ por WAIZBORT:
Foi Richard Wagner, o criador da
expressão, quem t alvez melhor t enha
definido o problema: a
irredut ibilidade da música absolut a a
qualquer out ra forma de expressão,
daí a sua int raduzibilidade:
“É preciso admitir que a essência da
música instrumental mais elevada
consiste em exprimir em sons aquilo
que não pode ser dito em palavras”.
Richard WAGNER
(1813-1883)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 35
Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Apresent ação sint ét ica do conceit o de MÚSICA ABSOLUTA _ a part ir de DAHLHAUS _ por WAIZBORT:
Como se vê, uma at ualização das afirmações de
Hoffmann e seus companheiros, t odos eles revelando
um apelo met afísico [...];
Com efeit o, a idéia de música absolut a report ou-se à
sinf onia, gênero direcionado para o concert o público,
ao cont rário do quart et o, do t rio, do duo e do solo,
que mant inham o aspect o de execução privada.
A execução pública dos gêneros originalment e privados
implica, como diz Dahlhaus, uma “ t ransformação do
carát er social do gênero” , que precisa ser indicada
com precisão (p.188).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 36
Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Apresent ação sint ét ica do conceit o de MÚSICA ABSOLUTA _ a part ir de DAHLHAUS _ por WAIZBORT:
Gêneros musicais. Em conj unt o com o problema da
aut onomia da música e da música absolut a, a quest ão dos
gêneros musicais est á na alma da música do
classicismo/ romant ismo; [...] A t ransição para a aut onomia,
a emancipação das finalidades impost as est ava ligada com
uma inversão das relações hierárquicas ent re gênero e obra
individual (p.190).
[…] Na música mais antiga, funcional, a obra era em
primeiro lugar um exemplar do gênero […]. Mas,
desde o final do século XVIII, o gênero perdeu
rapidamente substancialidade. […] O conceito de
gênero não antecede mais à obra singular, senão que
se desvanece em um conceito genérico abstrato […].
Carl Dahlhaus. Musikästhetik. 4a. ed., Laaber: Laaber, 1986, p.27.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 37
Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
A idéia da nost algia infinit a
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 38
Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Unendliche Sehnsucht . A idéia da nost algia infinit a foi
formulada por Hoffmann na resenha da Quint a
sinf onia,
Assim, a música instrumental de Beethoven também nos
abre o império do desmedido e imenso. […] A música de
Beethoven põe em movimento o temor, o horror, o abissal,
a dor e desperta precisamente aquela nostalgia infinita,
que é a essência do romantismo. Por essa razão ele é um
compositor puramente romântico [...]
E.T.A. Hoffmann. Fantasiestücke in Callots Manier, pp.51-52;
cf. E.T.A. Hoffmann.Schriften zur Musik - Singspiele. Berlin: Aufbau,1988, p. 24,25.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 39
Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
E, seguindo o coment ário de Dahlhaus, a música
românt ica só se alça à condição de música absolut a,
libert a de fundament ar-se em t ext o, ret rat ar um
carát er, cumprir função, cont ar hist ória ou manifest ar
afet os, na exat a medida em que sua expressão do
“ infinit o” ganha est at ut o de legit imidade:
a música não é mais vazia e sem sent ido se não
cumprir uma função ou exprimir um afet o, mas
j ust ament e o cont rário: por dizer o indizível, exprimir
o inexprimível, ela ganha nova dignidade e novo
est at ut o. Isso significa uma nova definição daquilo que
é música, pois música t orna-se música absolut a. Essa é
a represent ação operant e [...] na t eoria do poét ico de
Jean-Paul e de Wackenroder e Tieck:
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 40
Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006.
Essas sinfonias podem representar um drama tão
colorido, tão variegado, tão intrincado, desenvolvido
de modo tão belo, como o poeta jamais poderia nos
dar; pois elas revelam em uma linguagem enigmática
o mais enigmático, elas não dependem de lei alguma
da verossimilhança, elas não precisam se ligar à
história nem possuir um caráter, elas permanecem em
seu mundo puramente poético.
Cf. DAHLHAUS, p. 126-127
Wilhelm Wackenroder
Werke und Briefe
München: Hanser, 1984, p. 354
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 41
_ 6º capit ulo, p. 89
MÚSICA INSTRUMENTAL E RELIGIÃO DA ARTE
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 42
[epígrafe]
... algumas not as sobre a
RELIGIÃO DA ARTE
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 43
por
Ot ávio Paz
em
O uso e a contemplação
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 44
PAZ, Ot ávio. O uso e a contemplação.
Revista Raiz. Edição nº. 03, p. 82-89. São Paulo: Editora Cultura em Ação Ltda., 2006.
A religião da art e, [...]
brot ou das ruínas do
crist ianismo. A art e herdou
da religião que a precedera
o poder de consagrar as
coisas e dot á-las de uma
espécie de et ernidade: os
museus [as salas de
concert o] são nossos locais
de adoração, e os obj et os
neles exibidos [o
repert ório] est ão à margem
da hist ória.
Ot ávio Paz (1914-1998)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 45
PAZ, Ot ávio. O uso e a contemplação.
Revista Raiz. Edição nº. 03, p. 82-89. São Paulo: Editora Cultura em Ação Ltda., 2006.
[...]
A art e t ornou-se um at o de
heroísmo espirit ual; [...] A
missão do art ist a era
t ransformar o obj et o [...].
Obras de art e [...]
t ornaram-se ídolos, e est es
ídolos foram t ransformados
em idéias...
Ot ávio Paz (1914-1998)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 46
PAZ, Ot ávio. O uso e a contemplação.
Revista Raiz. Edição nº. 03, p. 82-89. São Paulo: Editora Cultura em Ação Ltda., 2006.
Cont emplamos as obras de
art e com a mesma
reverent e admiração –
embora com menores
recompensas espirit uais –
que o sábio da Ant iguidade
dedicava ao céu est relado:
como corpos celest es, essas
pint uras e escult uras são
idéias puras.
Ot ávio Paz (1914-1998)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 47
PAZ, Ot ávio. O uso e a contemplação.
Revista Raiz. Edição nº. 03, p. 82-89. São Paulo: Editora Cultura em Ação Ltda., 2006
A religião da art e é um
neoplat onismo que não ousa
confessar o nome [...] A
religião da art e est á sempre
volt ando para si mesma
[...]: para a negação do
significado em favor do
obj et o. [...] a religião da
art e nos proíbe de
considerar belo o út il; o
cult o à ut ilidade nos leva a
perceber a beleza não como
uma presença, mas como
uma função.
Ot ávio Paz (1914-1998)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 48
Pode perdoar-se a um
homem a criação de uma
coisa útil, contanto que
ele não a admire. A única
justificativa para a
criação de uma coisa
inútil é que ela seja
admirada intensamente.
Toda arte é absolutamente
inútil.
Oscar Wilde
Oscar Fingal O'Flahert ie Wills Wilde
(Dublin, 1854 — Paris, 1900).
dramaturgo, escritor e poeta irlandês.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 49
Carl DAHLHAUS:
MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 50
Sext o capit ulo, p. 89
MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE
DAHLHAUS:
_ a RELI GI ÃO DA ARTE: a crença de que a arte, embora obra
dos humanos, é uma revelação caiu em descrédit o... [o
descrédit o geral no “ malvado século XIX” ... defender a religião
dos abusos da art e, e a art e dos abusos da religião...]
_ porém, a religião do sentimento de SCHLEIERMACHER é um
est ágio legít imo da hist ória [da t eologia.... e da art e....]
_ a idéia de religião da art e [j á t ambém nos séculos XVIII/ XIX]
sempre foi percebida como um problema e não como um
simples dogma incontestável...
_ uma est ét ica inspirada na filosofia da religião est a clara como
nunca na t eoria, na METAFÍSICA DA MÚSICA INSTRUMENTAL.
&
[Cf. Est ét ica do sent iment o e met afísica, p. 60 (capít ulo 4)].
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 51
Est ét ica do sent iment o e met afísica (Cf. capít ulo 4).
[p. 63]
... a est ét ica sent iment al, que era uma psicologia exalt ada, foi
subst it uída gradualment e, aos finais do século XVIII, pela est ét ica
românt ica, que falava da música ut ilizando caract eríst icas
met afísicas...
[p. 65]
Precisament e como música aut ônoma, absolut a, liberada dos
“ condicionament os” do t ext o, das funções e dos afet os, alcança
a art e dignidade met afísica como expressão do “ infinit o” .
A est ét ica musical “ aut ent icament e” românt ica é uma
metafísica da música inst rument al.
Cf. VIDEIRA, 2005, p. 60
METAFÍSICA ?
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 52
Dicionário HOUAISS
METAFÍSICA:
no kant ismo, est udo das formas ou leis const it ut ivas
da razão pura, fundament o de t oda especulação a
respeit o de realidades que t ranscendem a
experiência sensível [a t ot alidade cósmica, Deus ou
a alma humana], e font e de princípios gerais para o
conheciment o empírico.
Derivação: por ext ensão de sent ido.
qualquer sist ema filosófico volt ado para uma
compreensão ont ológica [a invest igação t eórica do
ser] , t eológica ou supra-sensível da realidade.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 53
Dicionário AURÉLIO
METAFÍSICA:
[Do grego. met à t à physiká, 'depois dos t rat ados da física'.]
Part e da filosofia, que com ela muit as vezes se confunde, e
que, em perspect ivas e com finalidades diversas, apresent a
as seguint es caract eríst icas gerais, ou algumas delas:
é um corpo de conheciment os racionais (e não de
conheciment os revelados ou empíricos) em que se procura
det erminar as regras fundament ais do pensament o (aquelas
de que devem decorrer o conj unt o de princípios de qualquer
out ra ciência, e a cert eza e evidência que neles
reconhecemos), e que nos dá a chave do conheciment o do
real, t al como est e verdadeirament e é (em oposição à
aparência).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 54
THINES, G. e LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70. P. 586.
At é cert o pont o, a hist ória da filosofia pode ser considerada a sucessão de
fases Metafísicas
O espírito confiante na sua própria
força eleva-se muito além da
experiência e enriquece apenas pela
força do raciocínio o tesouro dos
conhecimentos humanos...
O espírito pretende descobrir a
realidade profunda e não empírica
Pertencem a essas fases
metafísicas:
Platão, Aristóteles, São Tomás,
Descartes, Hegel...
fases Críticas
Como reação desenvolvem-se sistemas
críticos que se preocupam menos em
ouvir o saber do que em garantir a
verdade desse saber. Os pensadores
críticos contestam a possibilidade de
afirmar a existência real de um ser que
não pode ser objeto de qualquer
experiência
Pertencem ao pensamento crítico:
os Sofistas, os Céticos,
o criticismo kantiano...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 55
THINES, G. e LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70. P. 586.
Obj et os t radicionais da met afísica [a necessidade de
exist ência desses obj et os ‘ não físicos’ impõe-se ao
pensament o]:
Deus; o mundo; o eu; a liberdade; a imortalidade...
Obj et os-pensament os ou valores que se agregam ao
pensament o em t orno da música inst rument al –
ult rapassando radicalment e a realidade sensível - nos
remet em à idéias de elevação, excelência, import ância,
maj est ade, proeminência, sobreeminência,
sobrepuj ament o, sobrepuj ança, sublimidade,
supereminência, superioridade, et c., com os quais, em
decorrência de sua perfeição e superioridade absolut as, só
podemos nos relacionar guardando relações de soberania e
de dist ância...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 56
THINES, G. e LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70. P. 586.
Os grandes problemas met afísicos – present es em alguma medida
na discussão em t orno da música inst rument al - são:
... o uno e o múltiplo...
... a aparência e o Ser...
... as relações do corpo e do espírito...
... a existência de Deus...
... a imortalidade da alma...
...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 57
Sext o capit ulo, p. 90
MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE
DAHLHAUS:
&
Schleiermacher: (Sobre a religião, 1799) 4
Três caminhos abert os para alcançar o infinito a partir do finito
A imersão
em si mesmo
&
&
A medit ação esquecida
de si mesma de um
fragment o do mundo
A cont emplação
devot a
da obra de art e...
a visão do infinito por meio da
cont emplação est ética
est á negada à Schleiermacher...
(cit ação, p. 89-90)...
Schleiermacher cunhou o t ermo [Religião da Art e] para algo que int uia
abst rat ament e (suspeit ava embora não t ivesse passado pela experiência),
que, ao mesmo t empo (1799) t omava forma concret a de uma experiência
vit al nas Fant asias sobre a art e de Wackenroder e Tieck...
4
O termo Religião da Arte, parece proceder de Schleiermacher (1799). O termo reaparece em 1805, no
Fenomenologia do espírito de Hegel.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 58
FRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHER (1768—1834) foi um
teólogo pietista, filósofo e pedagogo alemão. Segundo Ricoeur, é
Schleiermacher (em Hermenêutica, arte técnica da interpretação)
quem inicia e realiza o projeto de uma hermenêutica geral (universal),
procedimento usual dos hermeneutas posteriores – Dilthey, Heidegger,
Gadamer... Schleiermacher busca fundamentar a hermenêutica, de
modo que possa situar-se ou ser aplicada em qualquer obra. Conforme
alguns pesquisadores de Schleiermacher, nessa reviravolta, situa-se o
caráter original de uma hermenêutica filosófica, opondo-se aos que
reduzem a uma hermenêutica exclusivamente técnica. Ainda que, ela
também tenha uma preocupação essencialmente técnica, de resolver o
problema da interpretação e da compreensão, Ricoeur afirma que não o
é exclusivamente, pois Schleiermacher fundamenta a hermenêutica
numa dimensão propriamente filosófica. Ele, Schleiermacher,
fundamenta seu projeto, perguntando não apenas como se interpreta tal
ou tal texto, mas, o que significa de modo geral interpretar e
compreender, isto é, pergunta pelas condições de possibilidade e/ou
pelo “como” da efetivação da interpretação. Esta forma de
fundamentar, com a pretensão de fundar uma hermenêutica geral, é o
grande feito do hermeneuta alemão, efetivando a desregionalização da
hermenêutica da área de saberes distintos e restritos, e tornada análoga
a uma ciência que contenha os princípio fundamentais para toda e
qualquer interpretação. Fonte: ADAMS Adair: A hermenêutica de
Schleiermacher em discussão.
SCHLEIERMACHER (1768—1834)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 59
Sext o capit ulo, p. 90
MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE
DAHLHAUS:
O dogma da religião da arte [aut onomia est ét ica e elevação met afísica] foi
formulado por Wackenroder e, com máxima int ensidade por LUDWIG TIECK
(1773-1853).
Pois a arte dos sons [música inst rument al, Sinfonia] é, seguramente, o
mistério último da Fé, a Mística, a Religião totalmente revelada. Tenho,
muitas vezes, a impressão de que ela ainda está a nascer e de que os seus
mestres não podem comparar-se com quaisquer outros...
Sinfonias | Ludwig Tieck
Disponível em: aulasdalia@yahoogrupos.com.br
Do ensaio Sinf onias: t ese fundament al> afirmação da superioridade da música
inst rument al sobre a vocal...
Na música instrumental, contudo, a Arte é independente e livre, fixa para si própria
as suas leis, improvisa na fantasia, brincando, sem um objetivo, e realiza e alcança,
contudo, o objetivo mais elevado; segue inteiramente os seus impulsos obscuros e
exprime o que há de mais profundo, de mais maravilhoso, com o seu brincar. Os
coros plenos, as peças a várias vozes complexamente elaboradas com toda a arte,
constituem o triunfo da música vocal; mas o supremo triunfo, o mais belo louvor dos
instrumentos são as sinfonias (idem).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 60
JOHANN LUDWIG TIECK (1773-1853)
Escritor alemán, que fue uno de los líderes del
romanticismo germánico. Nació en Berlín y estudió en las
universidades de Halle, Gotinga y Erlangen. Aunque
produjo numerosos poemas, obras de teatro y novelas, y
tradujo El Quijote y muchas de las obras de Shakespeare, la
fama actual de Tieck se debe a sus cuentos populares y a
sus versiones satíricas de los cuentos de hadas para el
teatro, como la todavía popular El gato con botas (1797).
Entre sus novelas, que tienden hacia lo mórbido y lo
fantástico, destacan La historia del señor William Lowell
(3 volúmenes, 1795-1796), escrita en forma epistolar; Vida
de poeta (1826) y El joven ebanista (1836). Sus más
conocidos cuentos populares fueron Eckbert el rubio
(1796) y La montaña de las runas (1802).
JOHANN LUDWIG TIECK
(1773-1853)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 61
Sext o capit ulo, p. 90
MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE
DAHLHAUS:
A RELIGIÃO DA ARTE: SCHLEIERMACHER (dá o nome) + WACKENRODER (a experiência
original, ... um amor et erno e ilimit ado...) + TIECK (est abelece o dogma) __ expressão da
nost algia do recolhiment o [refúgio, ret iro] ... uma cont emplação cuj o carát er est ét ico se
t ransforma espont aneament e em carát er religioso
pietismo e sentimentalismo ̶
;
̶
Johann Friedrich REICHARDT
(1752–1814)
Compositor e ensaísta musical
alemão, violinista virtuoso e
tecladista...
Antecedente
(p.90)
;
=
̶ ̶
... escrit ores do pré-romant ismo alemão ....
;
SCHLEIERMACHER (†1834)
WACKENRODER(†1798)
̶ ̶
TIECK (†1853)
Goet he (†1832)
?
HOFFMANN
(†1822)
;
Schumann
(†1856)
... Sempre ansiei essa libertação e esse gosto
de refugiar-me na terra tranqüila da fé, no
verdadeiro território da arte...
... Fecho os olhos e me refugio tranqüilo na terra da
música, como se fosse a terra da fé...
(cit ações, p. 90)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 62
Sext o capit ulo, p. 91
MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE
DAHLHAUS:
[p. 91]... a origem da
Religião da Art e [...] parece
est ar, ao menos em part e, na
capa de piet ismo e
sent iment alismo que foi de
import ância básica para a
pré hist ória de t odo o
Romant ismo.
Piet ismo?
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 63
ABBAGNANO, p. 732-733
PIETISMO
Uma reação cont ra a ort odoxia prot est ant e que se
det erminou na Europa Set ent rional e especialment e na
Alemanha na segunda met ade do século XVIII. [Figuras
proeminent es foram Felipe Spencer (1635-1705) e
August o Franke (1663-1727)]. Ao enfat izar a dimensão
experiencial da fé o piet ismo [caract erizado como
‘ emocional’ ] pret endia volt ar às t eses originárias da
Reforma: livre int erpret ação da Bíblia e negação da
t eologia; cult o int erior e moral de Deus e negação do
cult o ext erno, dos rit os e de t oda organização
eclesiást ica; empenho na vida civil e negação das
denominadas “ obras” de nat ureza religiosa...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 64
ROMANTISMO E CLASSICISMO | Anat ol Rosenfeld / J. Guinsburg
in GUINSBURG, J. O Romant ismo. S.P. : Perspect iva, 1985
PIETISMO
Out ro fat or que t ambém pesa nas origens do
Romant ismo é um surt o de pietismo que, na
Alemanha, de ent ão, se coloca cont ra a ort odoxia
prot est ant e oficial, ext remament e racional.
De fort e t eor míst ico, recusa os padrões obj et ivos
da religião, pregando a experiência fervorosa.
Import a-lhe sobret udo a experiência religiosa que
se processa na int imidade subj et iva do indivíduo e
que o conduz, pelo exercício int enso e sincero da
emoção e do sent iment o devot os, ao êxt ase e à
cont emplação beat íficas.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 65
ROMANTISMO E CLASSICISMO | Anat ol Rosenfeld / J. Guinsburg
in GUINSBURG, J. O Romant ismo. S.P. : Perspect iva, 1985
PIETISMO
A espera do moment o de iluminação que deverá
revelar-lhe algo da graça divina, o crent e passa a vida
observando-se, numa aut o-análise const ant e e
minuciosa. Com isso, vai psicologizando nat uralment e a
prát ica religiosa, senão a própria religião.
[...]
Ora, além de cruzar-se no t empo com um moviment o
dessa nat ureza, o Romant ismo privilegia, ainda que por
via ant es art íst ica e secular, t endências e buscas
similares cuj o foco e âmbit o preferenciais t ambém se
sit uam no int erior do suj eit o, de seu ego e mundo
psíquico, e que t ambém desembocam, com grande
freqüência, em aspirações e indagações religiosas.
Mais ainda, não há de ser mero acaso ou coincidência
que um dos principais precursores da corrent e românt ica
t enha sido Jean-Jacques Rousseau (1712-1778),
calvinist a convert ido ao cat olicismo e depois
reconvert ido ao credo prot est ant e...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 66
... a elevação e recolhim ent o est ét ico- religioso
det erm inou um novo m odelo de escut a...
[ A CONTEMPLAÇÃO ESTÉTI CA COMO RECOLHI MENTO ( p.79) _ capít ulo 5]
Coment ário de
José Carlos GUTIÉRREZ
EXPRESIÓN Y SENTIDO. NIETZSCHE Y LA ESTÉTICA DE LA MÚSICA INSTRUMENTAL
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 67
EXPRESIÓN Y SENTIDO. NIETZSCHE Y LA ESTÉTICA DE LA MÚSICA INSTRUMENTAL | José Carlos GUTIÉRREZ
Pont ificia Universidad Cat ólica del Perú
ht t p:/ / www.pucp.edu.pe/ revist a/ est udios_filosofia/ num5/ expresion_sent ido.pdf
WACKENRODER:
La posibilidad de ent ender la música como una est ruct ura significant e por sí misma
det erminó, a su vez, la inst auración de un nuevo modelo de escucha y recepción de la
obra que exigía, j ust ament e, at ender sólo al caráct er discursivo de las formas. Una idea
clara de est e modelo de escucha nos lo ofrece WACKENRODER5 en su novela La singular
vida musical del compositor Joseph Berglinger:
Cuando Joseph asistía a un gran concierto, se sentaba en un rincón, sin
mirar al brillante auditorio de oyentes, y escuchaba con la misma devoción
que si estuviera en la iglesia, igualmente en silencio e inmóvil, y con los
mismos ojos mirando el suelo ante sí. No se le escapaba el más pequeño
sonido, y al final acababa totalmente fatigado y cansado por la tensa
atención...
WACKENRODER, La singular vida musical del compositor Joseph Berglinger,
en: La estética musical del romanticismo, Anuario Filosófico, vol. 29, n 1(1996), p. 237.
Cf. DAHLHAUS, p. 81- 82; VI DEI RA, p. 72 .........
5
WILHELM HEINRICH WACKENRODER (1773-1798). Poeta e historiador da arte alemán. Fue uno de los
miembros más influyentes del “Cenáculo de Jena” y refrendario del Tribunal de Berlín. Sus obras, escritas en
colaboración con L. Tieck (Efusiones sentimentales de un monje enamorado del arte, 1796) o terminadas por éste
(Fantasías sobre el arte para los amigos del arte, 1799), tuvieron gran influencia en la formación del gusto artístico
y literario de la nueva cultura del romanticismo. Obras: “La memorable vida musical de Joseph Berglinger”, “De
dos lenguajes maravillosos y de su misterioso poder"...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 68
Ent re el rit o y la t ecnología: La banda sonora de nuest ras vidas
Juan Pablo GONZÁLEZ / Inst it ut o de Música UC | revist a universit aria / Nº 92 2006 / 47
WACKENRODER:
... cont rast ando con las cont inuas ent radas, salidas y conversaciones de los oyent es
arist ocrát icos durant e los conciert os en palacio, el público masivo del XIX desarrolló la
audición silenciosa y concent rada que se mant iene hast a el día de hoy. Es como si no
dej áramos de sorprendernos por una música que durant e siglos est uvo reservada para los
de palacio. El j oven poet a alemán Wilhelm WACKENRODER (1773-1798) anunció est a
nueva act it ud de escuchar música, describiéndola con las siguient es palabras:
Cierro los ojos a toda la guerra del mundo y
tranquilamente me retiro hacia la tierra de la música,
como aquella de la fe, donde todas nuestras dudas y
sufrimientos se pierden en un mar de sonidos, donde
olvidamos todos los gruñidos del hombre, donde ningún
parloteo nos marea y todo el temor de nuestro corazón
es sanado de una vez al ser gentilmente tocado por la
música. Y no sabemos por qué.
Wilhelm Heinrich Wackenroder , (1773-1798)
(DAHLHAUS, p. 90)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 69
Sext o capit ulo, p. 91
MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE
DAHLHAUS:
A herança religiosa t am bém t ransparece na Religião da Art e de Wackenroder
e Tieck nas caract eríst icas [ e inclusive m aniqueíst as] oscilações do piet ism o
ent re:
na religião
na arte
Elevação e recolhim ent o est ét icoreligioso
Confiança x desespero diant e da fé
x
t em or de que a religião da art e não
t enha sido senão um a superst ição.
;
( p.91)
A partir dessas antíteses DAHLHAUS retoma [completa ou atualiza para os séculos
XVIII e XIX] a CADEIA DE ANTÍTESES enunciada nas p. 48-52: a primeira x segunda
prática, La Querelle des anciens et des modernes, melodrama francês x melodrama
italiano, Rameau x Rousseau, etc...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 70
CADEIA DE ANTÍTESES:
1814: E.T.A. HOFFMANN
Velha e nova música religiosa
Concorrência hist órico-filosófica ent re
art e religiosa x religião da art e
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 71
“…toda a vida era pra ele sonho e pressentimento.”
“ O Homem de Areia” (Der Sandmann), E.T.A.HOFMANN
ERNST THEODOR AMADEUS HOFFMANN (1776-1822). Nasceu em
Königsberg (Prússia), em 24 de janeiro de 1776. Magistrado, crítico
musical, diretor de orquestra, caricaturista e literato ilustre. Antes de
escrever os seus célebres Contos fantásticos, fora diretor musical do
Teatro de Bamberg e diretor de orquestra em Leipzig. Morreu em
Berlim, em 25 de junho de 1822. Escreveu artigos notáveis sobre a
música de Beethoven, seu contemporâneo, além de óperas, música
religiosa, coros à capela, uma sinfonia, 4 sonatas para piano, música de
câmara, melodias, bem como numerosos artigos sobre música.
E.T.A. HOFFMANN
Referências:
E. T. A. Hoffmann (1776-1822). Recensão da Quinta Sinfonia de Beethoven. (1810).
Disponível em: aulasdalia@yahoogrupos.com.br
E. T. A. Hoffmann. Rewiew: Beethoven´s Symphony nº5 in C minor (1810). In: BENT, Ian (ed). Music analysis in
the nineteenth century. V.II. Hermeneutic Aprroaches. Cambridge, University Press, 1994. p. 141.
BENT, Ian D. Analysis, with a glossary by William Drabkin. London: Macmillan, 1987. p. 22 e 23.
VERMES, Mônica. Schumann, Hoffman e o cânone ocidental. In Anais do VI Fórum do Centro de Linguagem
Musical – CLM. São Paulo. ECA. USP, 2002. P. 86.
VIDEIRA, Mário. Música e filosofia no romantismo alemão. In Anais do VI Fórum do Centro de Linguagem
Musical – CLM. São Paulo. ECA. USP, 2005. p. 57.
VIDEIRA, Mário. O Romantismo e o Belo Musical. São Paulo: Editora UNESP, 2006. p. 76.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 72
1814: E.T.A. HOFFMANN, Velha e nova música religiosa.
DAHLHAUS ( p. 92- 96) :
CADEIA DE ANTÍTESES:
Concorrência hist órico-filosófica ent re art e religiosa x religião da art e
Panoramas
diferentes na:
&
Pintura
Antigos................. ............. Modernos
Art e religiosa
Religião da Art e
Momento cristão...
Momento romântico
“já não é substancialmente cristão....”
Pint ores do renasciment o: 6
o mais alt o grau da art e...
Em habilidade t écnica os ant igos
superam os modernos...
A at rofia da subst ância crist ã...
*
época que vai de
Palest rina a Handel
“Espírito do cristianismo”
“Glória do cristianismo”
Música
Tempo nostálgico...
irremediavelmente passado...
monumento de recordação e não de
imitação, impossibilidade de uma
restauração...
;
6
(os pintores modernos
são imitadores dos antigos...)
A decadência espirit ual t raz consigo
uma decadência t écnica
'
Sinfonismo
de Beet hoven
“Espírito da natureza”
“Vislumbre do Infinito”
o desenvolvimento técnico atrelado ao
desenvolvimento do espírito
Em habilidade t écnica
os músicos modernos
superam os ant igos...
ambas significam a mais alt a expressão musical da
“época moderna, cristã, romântica”
:
Hoffmann cita (p.92): RAFAEL Sanzio, pintor italiano (1483-1520); Albrecht DÜRER, pintor alemão, (1471-1528) e Ambrosius
HOLBEIN, pintor alemão (1495-1519).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 73
... é o início da “ Deificação de Beet hoven...”
[ROSEN, Formas de Sonat a, pág. 15] ̶ DAHLHAUS, p. 116
... Modernos
... para HOFFMANN:
_o progresso na t écnica composit iva est á ligado ao progresso do
espírit o... Na art e o espírit o est á firmement e aderido ao
det alhe t écnico (coisa que Hegel não percebe, pois lhe falt a a
experiência diret a)...
_a música inst rument al (e não a vocal) pode falar das
maravilhas do “ reino dist ant e” ...
_o espírit o impulsor do mundo se manifest a na riqueza da
música inst rument al moderna...
_ as sinfonias de Beet hoven [a música inst rument al] são
t ambém “ música religiosa” [a religião de uma época que aspira
uma espirit ualização ant erior... uma nova música eclesiást ica...
de uma religião cuj a subst ância, para além da forma, est á no
inominável... ]... represent am o est ágio de desenvolviment o
que a crist andade _ graças ao espírit o impulsor do mudo _
alcança... sempre, cont inuament e... as “ maravilhas do reino
dist ant e” ... ... “ maravilhosa comunidade de espírit os enlaça,
em mist eriosa união, passado, present e e fut uro” ...
(p.93-96)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 74
DAHLHAUS ( p. 95) | CADEIA DE ANTÍTESES:
O modelo hermenêut ico de Hoffmann [como est et a da música] se orient a pelo
encadeament o de dicot omias:
antigo
pagão
clássico
momento cristão
x
x
x
x
moderno
cristão
romântico
momento romântico
etc.
Modelo que t êm origens (musicais) na
prima x seconda prattica
e, (na hist ória das idéias), na Querelle
anciens x modernes
Esse sist ema [que se funda na filosofia da religião (p.99)]
&
de cat egorias maximament e cont rapost as aparece em
&
Hegel (†1831)
Hoffmann (†1822)
1805
Fenomenologia do
espírito
[§Religião da Arte].
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
1835
Estética...
1810
Recensão da Quinta
Sinfonia de Beethoven
1814
Velha e nova música
religiosa.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 75
DAHLHAUS (p. 96-97) chama a at enção – em várias passagens do t ext o - para uma necessária
diferenciação ent re o pensament o de Hoffmann [para quem a idéia de música absolut a é primordial]
e Hegel [para quem a “ música absolut a” t em lugar secundário]:
Hegel [se diferenciado de Hoffmann e dos escrit ores românt icos] pert ence à
t radição da “ palavra” [palavra pensant e, lógos] – por isso, a concepção da música
absolut a [sem palavra, “ linguagem mais além da linguagem” , et c.] é para ele alheia
ilusória [para Hegel a hist ória da filosofia da art e culmina na poesia, e a odisséia do
espírit o universal culmina na filosofia... e não na música!]...
___ mas, a met afísica românt ica da música inst rument al t em lugar no sist ema
est ét ico de Hegel [Hegel (†1831) evident ement e percebe a música de seu t empo].
Um lugar secundário...
Para Hegel, se a música é vocal, cont a com o “ cont eúdo” de um “ significado”
det erminado; porem, em se t rat ando de música inst rument al, a música expressa
soment e um “ ambient e” indet erminado, sugerido, induzido... se a música se ret rai
por complet o em si mesma [t endência inat a na música] ela se t orna vazia e
abst rat a...
_ a música [at ual, inst rument al] se ret irou em seu próprio element o, em t roca
perdeu força quant o a int erioridade complet a [a capacidade de expressar um
cont eúdo t al e como est e vive na subj et ividade de nosso sent iment o (p. 97)]... o
gozo que pode oferecer se limit a a uma única face da art e [mero int eresse pelo
aspect o est rit ament e musical... a dest reza t écnica ... coisa que só int eressa aos
ent endidos...] “ esvaziada do cont eúdo espirit ual e sua expressão, não pode ser
considerada como art e” ...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 76
Em Hegel:
__ a música como “ art e” [ou “ t écnica” ] ganha o que perde em
“ espírit o” e em “ int eresse subst ancial” [p.93]...
__ o que a música perde [em sua int erioridade, ou
subj et ividade abst rat a], ganha como “ música” , como expressão
de “ si mesmo sem out ro cont eúdo” [p. 97]...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 77
Justamente essa música que tende à abstração [“ absoluto, puro arte musical” ] é que, para
amálgama de
idéias
interior
totalmente sem
objeto
absoluto
abstração
Wackenroder
(†1798)
pura arte
Hanslick
(†1904)
Hoffmann
(†1822)
Hegel
(†1831)
Tieck
(†1853)
éa
subjetividade
“verdadeira”
música
expressão de si
mesmo
inteiramente
vazio
interioridade
formal
os puros sons ...
(p. 97)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 78
... mas, para Hegel
Na medida em que a música se volt a para si
mesma, se dist ancia do “ cont eúdo” que para
Hegel, se baseia a “ função cult ural”
[a música inst rument al, ao cont rário da art e
grega (art e clássica), rompe com a ETICIDADE]
[p.97]
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 79
Márcia C. F. GONÇALVES (UERJ - Brasil)
A Dialética entre Arte e Conceito na Fenomenologia do Espírito de Hegel
Revist a Elet rônica Est udos Hegelianos | Revist a Semest ral do Sociedade Hegel Brasileira - SHB. | Ano 2º - N.º 03 Dezembro de 2005.
A passagem que exprime clarament e a relação dialét ica ent re art e e
conceit o se encont ra no parágrafo “ Die Kunst -Religion” , que descreve
não apenas uma “ bela religião” (expressão que Hegel ut ilizava em seus
primeiros escrit os para descrever t ant o a religião da ant iga Grécia,
quant o a da Roma pré-crist ã), mas algo que é um mist o ent re art e e
religião. A religião da art e ou a art e-religião se faz present e na cult ura
da Grécia ant iga (pensada por Hegel) como absolut ament e int erligada
ao fenômeno da et icidade.
ETICIDADE:
No hegelianismo, concret ização social, inst it ucional e hist órica,
corporificada especialment e na organização perfeit a do Est ado, de
impulsos que ant eriorment e foram merament e subj et ivos, individuais,
pessoais, em prol do bem e da exist ência moral (HOUAISS).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 80
1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito
Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e
A escult ura
ant iga como
ideal do
“ plást ico”
exterioridade, da
aparência plásticoespacial
A sinfonia
moderna como
ideal do
“ musical”
a música é
a arte de
interioridade
– a arte da idade
moderna, cristã e
romântica
DAHLHAUS ( p. 95- 98) :
CADEIA DE ANTÍTESES:
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 81
1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito
DAHLHAUS ( p. 95- 98) :
CADEIA DE ANTÍTESES:
Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e
Objetividade
finitude
limitação...
superior
como
fenômeno
est ét ico...
[função social,
Et icidade]
Subjetividade
infinita...
Interioridade
absoluta...
superior
como grau
evolut ivo
do
espírit o
...
(p. 98)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 82
1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito
Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e
Point de la
perfection
... na forma estética
a idéia religiosa não
só estava
simbolizada,
mas sim
imediatamente
presente... (p.101)
No sistema e na
filosofia da história
de Hegel
a sinfonia é a Música,
[a música
instrumental]
e pode significar:
_ Não captar a
realidade externa do
fenômeno, mas sim
seu significado
ideal...
_ Expressar um
conteúdo tal como
esse conteúdo vive
na subjetividade do
nosso sentimento...
DAHLHAUS ( p. 95- 98) :
CADEIA DE ANTÍTESES:
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 83
1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito
Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e
Unidade
unitária da
forma
– afinidade com a fé
grega nos deuses que
predica deus como
materialidade
objetiva
(limitadas nas antigas
estátuas dos deuses plástica)
Afinidade com o
cristianismo que
predica Deus
como espírito
↓
Pressiona para
alcançar um
mais além da
“objetividade”
e da “finitude”
DAHLHAUS ( p. 95- 98) :
CADEIA DE ANTÍTESES:
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 84
1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito
Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e
“A interioridade formal, os puros sons”
(Lei do movimento da música)
“submergir, retrair”
É, ao mesmo tempo um
apartar-se e um libertar-se...
é um esvaziar e um formalismo,
uma perda da substância...
“retrair-se a própria liberdade de seu interior”...
DAHLHAUS ( p. 95- 98) :
CADEIA DE ANTÍTESES:
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 85
1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito
Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e
A Unidade
de idéia
e aparência
ainda não foi
alcançada...
Essa unidade se
dest rói novament e
porque o espírit o,
em vez de se fundir
com o fenômeno
est ét ico, t rat a de
superá-lo...
DAHLHAUS ( p. 95- 98) :
CADEIA DE ANTÍTESES:
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 86
Sext o capit ulo, p. 98
MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE
DAHLHAUS | WEISSE (p. 98-101):
Hegel
Hanslick
1830
Sistema de estética
̌
Christ ian
Hermann
Weisse
̶
(1801-1866)
1835
Estética...
... a t eoria de Weisse
sobre a música
inst rument al t em lugar
dent ro do espírit o
hegeliano da filosofia do
absolut o...
... t eólogo
prot est ant e
e filósofo ...
1854
Do Belo Musical
... e ant ecipa o
formalismo de
Hanslick...
(p. 100).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 87
(?) espírit o hegeliano da filosofia do absolut o...
ESPÍRITO: no hegelianismo, princípio dinâmico, infinit o,
impessoal e imat erial que conduz a hist ória da humanidade, e
que se concret iza plenament e nest e processo em seu final,
quando se manifest a no ser humano como plena razão e
liberdade (HOUAISS).
ESPÍRITO ABSOLUTO: os graus últ imos da realidade, aqueles em
que se revela a si mesma como princípio aut oconscient e infinit o
na RELIGIÃO, na ARTE e na FILOSOFIA (ABBAGNANO, p. 3).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 88
Christ ian Hermann Weisse:
_ A art e espirit ualment e mais evoluída é t ambém
est et icament e mais perfeit a... (p.98).
_ É na art e que culmina a odisséia do espírit o universal
(e não, como pensava Hegel, na religião e na filosofia para
onde o espírit o t ende quando deixa para t raz a art e) (p.99).
_ O som no qual se manifest a a idéia é o som inst rument al
“ art ificial” , a diferença do som nat ural da voz humana; é
essa “ art ificiosidade” que – como coloca Hanslick - t orna a
mat éria musical “ capaz de espírit o” (p.99).
_ A art ificiosidade inst rument al é capaz de “ limpar” t odo
significado finit o e específico, que, como cont eúdo alheio,
t urva e est orva o absolut o espirit ual que deve ser
most rado... (p. 100).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 89
1830 | Christ ian Hermann Weisse |
Sistema de estética
̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶
Ideal clássico
̶ ̶ progresso
Ideal românt ico ..................................................................... Ideal Moderno
O moderno (arte) como
Um serviço divino da beleza pura...
consciência religiosa:
... a religião é art e e a art e é religião...
Estabeleceu-se
a partir do
mito...
Estabeleceu-se
a partir do
cristianismo...
Manifestação ideal: Música inst rument al
absolut a. (A mais abstrata ... a mais jovem das
artes... o som instrumental “artificial” x som da voz
natural)
cit ação (p. 99-100)
absoluto (espírito divino) sem relação imediata com
o que desperta no espírito finito do homem
_ sentimentos sem objeto, livres de condicionantes
terrestres (“atributos do espírito absoluto, divino”)
(p.99)
Sist ema t ripart ido de Weisse
_ metafísica da música instrumental > sacralizada
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 90
1830 | Christ ian Hermann Weisse | Sistema de estética
_ Weisse aplica a música inst rument al
moderna aquilo que Hegel dizia da ant iga
est át ua dos deuses.
[que em sua forma est ét ica a idéia
religiosa não só est ava “ simbolizada” ,
mas sim imediat ament e present e]
Nela culmina a hist ória universal da art e;
no final hist órico surge a origem ont ológica
[o ser em si mesmo]...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 91
_ enquant o Hegel considerava a abst ração do cont eúdo
como um esvaziament o da música, para Weisse essa
abst ração se most ra a verdade da art e...
_ Weisse [figura marginal da hist ória da filosofia] é um
aut ênt ico apóst olo de uma religião da art e que gira em
t orno da idéia de uma art e “ pura” .
(p. 101)
[fim]
Beet hoven, aut ógrafo da primeira página da Sonat a Waldst ein, Op. 53 (1803-04).
_ 7º capit ulo, p. 103
LÓGICA MUSICAL E CARÁTER LINGUÍSTICO
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 93
p. 103 | LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO
Tent ar explicar a idéia de aut onomia est ét ica exclusivament e
pela hist ória social seria insuficient e, pois o pensament o
aut ônomo necessit ava além de mot ivos sócio-psicológicos, de um
obj et o adequado para agarra-se, nesse caso a música
inst rument al de qualidade pública reconhecida.
No ent ant o a m úsica concert ist a dos fins do
século XVI I I foi concebida dent ro de um a
cult ura social de sent im ent o, na qual a
classe burguesa procurava ent ender a si
m esm a. Era um a est ét ica de represent ação
e de ação, um m eio de form ação cult ural.
Exemplo: Haydn queria represent ar em suas
sinfonias caract eres morais (GRIESINGER) 1
1
Franz Joseph Haydn
(1732-1809)
GEORG AUGUST GRIESINGER (1769-1845). Minist ro saxônio em Viena e aut or de uma biografia de
Haydn (1810). Conheceu Beet hoven a part ir de 1802, ou ant es, e at uou como int ermediário para
subscrição da Missa Solemnis pelo rei da Saxônia (Font e: Beet hoven, um compêndio).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 94
p. 104 | LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO
Para que a est ét ica românt ica pudesse fazer essa t roca de
sent ido de forma consist ent e, ela vai se valer da lógica musical,
elegendo os element os t écnicos e est ét icos como caract eríst icas
int rínsecas da música:
“ um conceit o que est á que est á est reit ament e ligado com a
consideração do carát er lingüíst ico” (DAHLHAUS).
A música como discurso sonoro, como desenvolviment o de
pensament os musicais, exist e para ser escut ada por si própria,
sem est ar associada com alguma det erminada finalidade.
Esse conceit o não era comum nos fins do século XVIII.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 95
p. 104- 105 | LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO
Crít ica da lógica musical (1769) - Herder 2 _
(p.104)
Herder
Est abeleciment o do conceit o Forkel 3 (duas
décadas depois). Esse conceit o defendia o
cont ext o harmônico como uma lógica da
música, pois o carát er expressivo de um
int ervalo depende do mesmo. Exemplo: ré-si
bemol sobre sol menor e sobre si bemol maior
2
Forkel
(p.105).
Johann Got t fried Herder (1744-1803). Escritor alemão, crítico literário e clérigo. Estudou teologia em
Königsberg onde absorveu a filosofia de Kant. Chamou a atenção dos intelectuais alemães em um encontro em
Riga, com o seu Fragmente über die neuere deutsche Literatur (Fragmentos sobre a nova literatura alemã)
publicado em 1767, com o qual praticamente lançou os fundamentos do movimento literário alemão Sturm und
Drang (Tempestade e impetuosidade) de cunho nacionalista, que ganhou força por volta de 1770. Goethe, foi seu
aluno em Strasburg. Herder publicou em 1772 um de seus trabalhos mais notáveis Über den Ursprung der Sprache
(Sobre a origem da linguagem). Neste tratado ele sustenta que a linguagem e a poesia são necessidades espontâneas
da natureza humana, mais que dons especiais. Em 1773 reuniu textos de canções populares de toda a Europa em
seu Volkslieder, publicado de 1778-79, e fez um ensaio sobre o fortemente expressivo teatro de Shakespeare. Em
sua valorização do nacionalismo foi mais longe, estendendo-a a uma interpretação da História em Ideen zur
Philosophie der Geschichte der Menschkeit (Idéia sobre a filosofia da história da humanidade). Por influência de
Goethe foi nomeado pregador da corte em Weimar, em 1776 e foi, juntamente com Goethe, membro de uma
sociedade secreta, os Illuminati, (Maçonaria Iluminada)", ganhou grande prestígio entre nobres e intelectuais na
Europa, sendo extinta pelo clamor público, bula papal e, principalmente, interferência do governo da Bavária que
instituiu em 1787 pena de morte para os membros renitentes (http://www.cobra.pages.nom.br/fc-herder.html).
3
Johann Nikolaus Forkel (1749 - 1818) - musicista, musicólogo e teórico alemão.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 96
p. 106- 107 | LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO
Assim a est ét ica românt ica que via na música
inst rument al uma art e musical pura e
absolut a, originava um conceit o dist int o de
lógica musical (Schlegel). 4
_ associação de composições com
pensament os filosóficos de linguagem
musical e linguagem falada.
Friedrich von Schlegel
(1772-1829)
4
Friedrich von Schlegel (1772-1829). Lingüista, crítico literário e filósofo alemão que desenvolveu a concepção
de que a poesia deve ser ao mesmo tempo filosófica e mitológica, irônica e religiosa, iniciando o primeiro
movimento romântico alemão. Irmão do poeta, tradutor e crítico August Wilhelm von Schlegel (1767-1845).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 97
p. 106- 107 | LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO
Se Schlegel t irava a música da esfera sent iment al
da sociedade para elevá-la a uma abst ração que
ganhava sent ido at ravés de sua cont emplação
est ét ica solit ária, não podia buscar a lógica que
necessit ava uma música aut ônoma, no conceit o
de Forkel, da lógica harmônica.
No lugar dest a, Schlegel defende a lógica
t emát ica. Uma lógica que era formada em
conj unt o, sendo ao mesmo t empo t emát ica e
harmônica. Essa disposição t onal e esse processo
t emát ico5 são element os que const it uem a forma
musical.
Friedrich von Schlegel
(1772-1829)
A forma por sua vez, permit e à música sust ent arse por si própria e possuir aut onomia (Dahlhaus).
5
Cf. RÉTI, Rudolph. The thematic process in music. Westport: Greenwood Press, 1978. SCHOENBERG, Arnold,
Fundamentos da composição musical. São Paulo: Edusp, 1991.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 98
O est ado da art e: o t rabalho t emát ico-mot ívico alcançado por Haydn e Beet hoven.
A música
instrumental
pura não tem
que produzir por
si mesma um
texto? E nela
não se
desenvolve,
confirma, varia e
contrasta o tema,
tal como se faz
com o objeto de
meditação numa
série de idéias
filosóficas?
SCHELEGEL apud
VIDEIRA, 2004, p. 61
A observação de Schelegel est á diret ament e inspirada pelo est ilo de sonat a do
século XVIII t ardio e pelo element o que mais evident e aos ouvint es do concert o
público: o t rat ament o de t ema. [...] a sonat a chegou a represent ar um padrão
que é t ão fundament al, que é como se ela cont ivesse os element os da razão
(ROSEN apud VIDEIRA, 2004, p. 61).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 99
LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO
Hanslick
Meio século mais t arde os conceit os de forma e
t ema se sit uariam como cent ro da est ét ica
musical at ravés do t rat ado “ Do belo musical”
de Hanslick, defendendo a forma como algo
absolut o por não possuir det erminações ext ramusicais. O aut or diz que não se devia buscar a
essência da música no carát er poét ico (comum
às demais art es), e sim na forma sonora, que
era especificament e musical.
Dahlhaus cit a aut ores como Hanslick, Humboldt , Hegel e Kierkegaard que
defendem a idéia de que a música é uma linguagem, afirmando que:
A música absolut a é realment e uma linguagem, porém
uma linguagem que não est á por cima, e sim por debaixo
da linguagem das palavras (p. 113).
[fim]
Brahms
Wagner
Bach
Beet hoven
_ 8º capit ulo, p. 116
DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA
Bruckner
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 101
p. 116 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA1
Na met ade do século XIX, a burguesia alemã havia consolidado Bach
e Beet hoven como a t radição da grande música, como soberanos do
“ reino do espírit o” at ribuído à música inst rument al por Hoffmann, e
apresent ando em comum o “ poét ico” que Tieck considerava como
essência da “ pura, absolut a art e musical” .
Obras emblemáticas:
O “cravo bem temperado” de Bach e
as Trinta e duas sonatas de Beethoven,
obras que foram denominadas na Inglaterra como os 48 e as 32.
1
Paráfrase ao título do livro “Duas culturas da música” de August Halm (1869-1929). Cf. Dahlhaus, p. 121.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 102
p. 116 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA
Com Wagner essa associação ganha acent os nacionalist as. Para ele a
obra sinfônica de Beet hoven represent ava a quint essência da música2, e
j unt ament e com Bach represent ava o “ espírit o Alemão” . Dessa forma o
que era uma simples agrupação dos clássicos da música para t eclado, se
t ransformou no mit o da música alemã.
Mit o do qual Schöenberg vai part icipar t ambém, ao afirmar em 1923
que, com o descobriment o do dodecafônismo se garant ia o predomínio
da música alemã por mais 100 anos.
2
Opinião expressa em seu artigo: O que é Alemão? (Was ist deutsch?), escrito em 1865 e publicado em 1878.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 103
p. 118 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA
Schumann t inha a idéia ut ópica do
surgiment o de uma “ nova era poét ica” ,
que sint et izasse as t endências do grande
passado e avançasse um passo em direção
ao reino espirit ual da art e.
Ent re o final de século XIX e início do
século XX, surgem opiniões divergent es
sobre quem represent aria essa nova era,
qual composit or viria depois de Bach e
Beet hoven?
Clara Schumann (1819 - 1896) e
Robert Schumann (1810 - 1856)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 104
p. 118 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA
Brahms
Baseadas em razões hist órico-filosóficas são
apont ados Brahms, Wagner ou Bruckner
como possibilidades para ocupar esse lugar.
No ent ant o t odas essas especulações
ocult avam o pensament o de represent ar
uma nova era da música Alemã.
Wagner
Bruckner
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 105
p. 118-119 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA
Melodia infinit a: 3
_ uma melodia onde cada not a é expressiva e persuasiva,
que não é int errompida para dar lugar a fórmulas e gest os
vazios (Wagner).
Exemplo:
O primeiro movimento da Sinfonia Eróica de Beethoven.
(Sinfonia nº. 3, em mi bemol maior, op. 55, 1804).
Esse conceit o de melodia infinit a concorda com a idéia da música
como linguagem de Hanslick.
Wagner, primeirament e, at ribui exclusivament e à Beet hoven o
desenvolviment o do carát er lingüíst ico da música inst rument al,
porém mais t arde reconhece que Bach t ambém t eve import ância
nesse aspect o.
3
Termo surgido num ensaio de Wagner da década de 1870 int it ulado: A música do fut uro (Zukunf t smusik).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 106
p. 118-119 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA
Art hur Schopenhauer
(1788 —1860)
Wagner, imbuído da met afísica de
Schopenhauer defendia que a capacidade
lingüíst ica da música era liberada por meio das
palavras e da encenação, pois est as não
negavam o que a música expressava e sim
reflet iam o seu significado.
“Texto e ação cênica são meras pontes para
se chegar à contemplação metafísica do
espírito da música.”
Wilhelm Richard
Wagner (1813-1883)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 107
p. 118-120 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA
\
Niet zsche
Wagner
Enquant o Nietzsche defendia Wagner como represent ant e dest a “ nova
era poét ica” , Ernst Bloch (1885-1977) e August Halm (1869-1929)
defendiam Bruckner como a t erceira cult ura da música.
Ernst Bloch
Bruckner
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 108
p. 122-123 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA
Querela est ét ica do século XVIII: disput a ent re o
predomínio da melodia ou da harmonia.
_ Cult ura do t ema nas fugas de Bach (melodia)
_ Cult ura da forma nas sonat as de Beet hoven (harmonia)
A int erpret ação de Bruckner da fuga e da forma sonat a
não é apenas uma combinação t écnico-formal, e sim
uma incorporação por part e da sonat a, da cult ura
t emát ica desenvolvida na fuga.
Salient ando t ambém o alt o grau do desenvolviment o
da harmonia de Bruckner, que vai t razer um novo
cont eúdo para a melodia.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 109
p. 123 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA
Ernst Kurt h (1886-1946) fornece uma t eoria e est ét ica da
música absolut a at ravés de suas principais obras:
• Um livro sobre Bach como t eoria do cont rapont o
• Um livro sobre Wagner como t rat ado de harmonia
• Um livro sobre Bruckner como t rat ado das formas musicais
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 110
p. 124 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA
Ao final, essa discussão que se t ornou um
problema insolúvel, foi um dos element os que
mais impulsionou o desenvolviment o da música
absolut a no século XIX e começo do século XX.
Dahlhaus
[fim]
_ 9º capit ulo, p. 126
A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA
DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 112
p. 126 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
DAHLHAUS:
em meio à
apologias
e polêmicas
&
O conceit o de MÚSI CA PROGRAMÁTI CA at ravessa os séculos XVI I I e XI X
‒
Argumentos
cambiantes
Fenômeno
historicamente
variável
0
não é o
m esm o
conceit o,
nem
=
Estilisticamente [evidente]: diferentes meios
compositivos usados para descrever, caracterizar ou
narrar... [Haydn... Strauss...]
; Esteticamente [menos evidente]: diferentes idéias que
sustentam o gênero...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 113
p. 126 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
XVI I I
XI X
1800
1850
gênero pict órico
expressão do sent im ent o
m úsica program át ica
o caract eríst ico
o puram ent e poét ico - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Música
I nst rum ent al
absolut a
Hanslick
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 114
p. 126 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
XVI I I
XI X
1800
gênero pict órico
1796 e 1798
A Criação
(Die Schöpfung)
Joseph HAYDN
(1732- 1809)
1808
Sexta Sinfonia, Pastoral
Ludwig van BEETHOVEN
(1770 - 1827)
Exemplum
Classicum
Pict órico [ pint ura m usical] :
- a arriscada em presa de dot ar a m úsica inst rum ent al de um
cont eúdo que descrevesse um fragm ent o da nat ureza
ext erior ou represent asse um a cena...
Cf. list agem de com posit ores e obras descrit ivist as [ de Vivaldi a Sibelius] em
CAZNOK, Yara Borges. Música: entre o audível e o visível. São Paulo: Editora Unesp, 2003.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 115
p. 126 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
XVI I I
XI X
1800
m úsica program át ica
O PROGRAMÁTICO: a narração musical de um relato.
O poema sinfônico [talvez o gênero mais representativo do programático]
pode ser descrito como uma obra instrumental baseada em uma narrativa
poética ou em uma obra pictórica cuja fonte de inspiração é revelada ao
público por meio de um programa [...]. Esse programa não tem função de
“ajudar” o ouvinte a reconhecer as passagens descritivas, isso é
desnecessário e ingênuo. Sua existência se deve ao anseio muito mais
profundo, típico da alma romântica: o encontro total entre compositor, obra
e ouvinte. O programa daria acesso aos movimentos afetivos e psicológicos
nos quais o compositor estava imerso no momento de sua inspiração. O
público teria, assim, facilitada sua almejada comunhão com a subjetividade
do artista...
CAZNOK, 2003, p. 96-97.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 116
p. 126 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
XVI I I
XI X
1800
o caract eríst ico
Música feit a “ à maneira de” , emprega um carát er especial gênero, est ilo, nacionalidade, et nia, idiomat ismo, época, et c. t ípico, t al como uma marcha ou alguma dança ...
O caract eríst ico é programát ico porque induz o público à algo que
est á fora da música...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 117
p. 126- 127 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
XVI I I
XI X
1800
o puram ent e poét ico - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
1850
Música
I nst rum ent al
absolut a
Hanslick
No poét ico musical
[sem colocar em perigo a idéia de MÚSICA ABSOLUTA]
_ há lugar para est ados de ânimo e inclusive para alusões a assunt os
definidos [...] sempre que a música não saia do “ reino do maravilhoso”
[onde Hoffmann sit ua a música absolut a] e evit e cair no prosaico (na
insignificância do pict órico, do programát ico e do caract eríst ico)...
PROSAICO [o opost o do “ purament e poét ico” ]
Sem poesia, sem sublimidade; comum, t rivial, corriqueiro.
Dest it uindo de nobreza, de belos ideais, aferrado ao lado prát ico e
mat erial da vida...
HOUAISS
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 118
Assim:
;
;
;
;
;
:
música absolut a deve ser ent endida t ambém como “ música não prosaica” !
↓
Alemã
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 119
Música absolut a: música compost a para ser apreciada pelo seu valor int rínseco.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 120
Música absoluta:
conceito crítico e filosófico que
cuida da atribuição do valor estético.
‒
Música absolut a: música compost a para ser apreciada pelo seu valor int rínseco.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 121
p. 127 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Em 1860 as fort es disput as em t orno da legit imidade e da ilegit imidade da música
programát ica se t ravam ent re dois part idos [CADEIA DE ANTÍTESES]:
Neoalemães
Karl Franz Brendel (1811-1868)
ideólogo dos neoalemães
x
Formalistas
Eduard Kanslick (1825-1904)
ideólogo dos formalist as
_ a est ét ica do
“ especificament e musical”
_ com a passagem da expressão
sent iment al “ indet erminada” ao
caract eríst ico e programát ico
“ det erminado” , a música progrediu
do sent iment o ao espírit o...
_ na música o espírit o é forma e a forma é
espírit o.
_ Liszt complet a o que
Beet hoven iniciou...
_ a forma não é uma envolt ura ou
recept áculo do cont eúdo (a idéia, o
assunt o, o sent iment o), é a verdadeira
essência da música...
Karl Franz Brendel (1811-1868):
_ a “ forma sonora em moviment o” é ela
mesma o cont eúdo...
Historiador da música, escritor e crítico alemão. Assumiu a
editoria da Neuen Zeitschrift für Musik, de Schumann, a partir
de 1845, até morrer. Figura influente nos círculos musicais
alemães, Brendel usou sua posição para fazer campanha em
favor da nova escola alemã de Wagner e Liszt e pela
unificação cultural da Alemanha.
Font e: Wagner, um compêndio, p. 27
_ “ espírit o em um mat erial capaz de
espírit o” ... t odo cont eúdo programát ico é
um acréscimo “ ext ramusical ”
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 122
p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
XVI I I
XI X
XX
1900
_ na passagem do XIX para o XX a disput a sobre os
proveit os e inconvenient es da música programát ica
não se prendem mais aos argument os de Brendel X
Hanslick...
_ a discussão caiu em um nível de ambigüidade na
qual se perderam as linhas mais claras das idéias em
quest ão ...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 123
p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Ambigüidade [chave]
Quase t odos os defensores apaixonados da música programát ica
[os “ pós-neoalemães” ] eram seguidores de Wagner...
‒
Mas Wagner mesmo, desde 1854,
[j á assimilando a est ét ica de
Schopenhauer], considerava a
música programát ica como uma
met afísica da música absolut a !
Art hur Schopenhauer
(1788 —1860)
Wilhelm Richard
Wagner (1813-1883)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 124
p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
A inversão de SCHOPENHAUER:
A opinião (habit ual e fossilizada) de que em uma peça vocal o t ext o
expressa o “ sent ido” conceit ualment e capt ado em conj unt o com a
música que dot a a peça de “ reflexos sent iment ais” ...
Foi reint erpret ada por Schopenhauer em sent ido cont rário:
o sent iment o que a música mesma reflet e é aquilo que represent a o
aut ênt ico “ sent ido” da obra [na peça vocal!], enquant o que um t ext o
poét ico [palavras] ou uma ação cênica, quando “ subj az” a música,
permanece t ot alment e secundário.
O conceit ual ou cênico aparece como o lado ext erno,
e o sent iment o ou afet o como o lado int erno.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 125
p. 128- 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
A opinião habit ual:
a música “ ambient a” o t ext o...
é uma t rilha sonora para o significado...
A opinião de Schopenhauer (Wagner):
a cena, a ação, a pant omima, o acont eciment o,
o t ext o, o poema, os programas lit erários ou plást icos, o enredo da
ópera... são uma espécie de t rilha ext ramusical para a música ...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 126
p. 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
... a cena, a ação, a pant omima, o acont eciment o,
o t ext o, o poema, os programas lit erários ou plást icos,
o enredo da ópera...
... estão para a música na mesma relação que um
exemplo arbitrário está para um conceito geral...
[ p. 129 e 133]
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 127
p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
exemplo arbitrário
Nossa hist ória narra as desvent uras de Valfredo ‘ o Medroso’ ,
Aleixo ‘ o Não me Queixo’ e Cleuzinha Tinhosa nas ruas da
cidade baixa dos anos de 1940...
conceito geral
A AMIZADE
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 128
p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
... Aquele que se abandona inteiramente à sugestão de uma
sinfonia, como que vê passar diante de si todos os
acontecimentos possíveis da vida e do mundo: e no entanto,
quando se trata de recordar, não pode precisar nenhuma
semelhança entre aquela peça musical e as coisas que
flutuaram por sua mente...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 129
p. 128- 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
... Os quadros particulares da vida humana, subjacentes à
linguagem geral da música, nunca estão unidos a ela por uma
necessidade ou uma correspondência completa...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 130
p. 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
... O procedimento de ilustrar a música com um texto ou ação
cênica não se diferencia substancialmente (mas sim apenas
gradualmente) das divagações de uma imaginação que se
deixa arrastar em uma sinfonia...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 131
p. 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
... em ambos os casos, as visões e os conceitos [nos quais se
reflete a interioridade, o afeto expressado musicalmente] são
secundários e, em princípio, intercambiáveis...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 132
p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
exemplo arbitrário
Nossa hist ória narra as avent uras do gat o Zulu, do lagart o Joaquim
e da gralha Cibele nos bosques da Lagoa do Peri no inverno
passado...
conceito geral
A AMIZADE
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 133
a música “ pode” , “ por exemplo” , t er cena, ação, pant omima, dança,
acont eciment o ext ramusicais, t ext o, poema, programas lit erários ou
plást icos, enredos... sem que isso t oque a
MÚSICA ABSOLUTA
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 134
p. 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Formalistas
Hanslick t ambém considerava os ‘ programas’ como
‘ ext ramusicais’ , agregados est ét icos não necessários para a
música inst rument al e negava a subst ancial homogeneidade e a
indissociabilidade de t ext o e música na música vocal...
Na est ét ica rigorosa da Música Absolut a – sej a em Schopenhauer
como em Hanslick – t ant o os ‘ t ext os da música vocal’ como os
‘ programas’ são t rat ados como acident es ‘ ext ramusicais’ , em
princípio int ercambiáveis, são ‘ ext ras’ que uma imaginação
musical que busca o essencial pode prescindir e desconsiderar.
Neoalemães
Antítese igualmente rigorosa
Franz Brendel :
_ da mesma maneira em que ocorre a int eração ent re suj eit o e
fenômeno sonoro, o ‘ t ext o’ e o ‘ programa’ fazem part e do
‘ obj et o est ét ico’ que o ouvint e deve ret er conscient ement e
para penet rar no “ significado” da obra...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 135
p. 129- 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
†1827
O documento
de estética
musical mais
importante da
interpretação
wagneriana de
Schopenhauer
é o ensaio
Beet hoven
que Wagner
escreveu em
1870 por
ocasião do
centenário de
Beethoven...
†1860
†1883
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 136
p. 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
A met afísica de Schopenhauer t ransparece nos escrit os de Wagner:
_ A música não é o meio e o drama o
verdadeiro obj et ivo da expressão, mas
sim, ao cont rário, a música expressa a
essência, que apenas se reflet e no
fenômeno verbal e cênico...
Opera e drama, 1851
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 137
p. 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
A met afísica de Schopenhauer t ransparece nos escrit os de Wagner:
_ O drama musical:
“ as ações da música feit as visíveis”
Sobre a denominação
“drama musical”, 1872
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 138
p. 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
No ensaio Beet hoven, a respeit o do Quart et o em Dó sust enido menor
op. 131, Wagner schopenhaureniano escreve que
“se mostrava a imagem de
uma jornada de nosso herói...”
Mas isso não deve ser ent endido como um ‘ programa’ , nem
como uma alusão biográfica... Wagner est ava convencido
de que a biografia de um composit or não explica nada de
essencial sobre o significado de sua obra...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 139
p. 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
“O largo Adágio introdutório [...]
gostaria de designá-lo como o despertar
pela manhã de um dia que em seu largo
curso não há de cumprir nenhum de
nossos desejos, nem um só! Porém, ao
mesmo tempo, é a oração de um penitente,
um consultar com Deus a fé em um bem
eterno”...
O que em uma leit ura superficial pode parecer uma ‘ explicação’ da
música a part ir da biografia ext erna, é na realidade o esquema de uma
biografia ‘ int erior’ , ‘ idealizada’ ... Wagner não reconst it ui a vida de
Beet hoven para decifrar o sent ido da música, mas sim, j ust ament e ao
cont rário, aprofunda o sent ido da música para capt ar uma biografia
‘ int erior’ ... e essa biografia int erior, segundo Wagner, não pert ence ao
fenômeno est ét ico, a “ coisa mesma” ...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 140
p. 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Dificilmente perceberemos na audição nada
disso (nada do ‘programa’), porque nos
sentimos imediatamente obrigados a
abandonar toda a analogia determinada, e a
perceber só a manifestação imediata de
outro mundo...
Quem sabe seria possível captar algo
desses processos, porém só até certo ponto,
quando recuperamos a obra em nossa
recordação...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 141
p. 131 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
XVI I I
XI X
*
XX
1900
Assimilação por
Wagner da
est ét ica
schopenhaueriana
;
)
A t eoria da música programát ica
alcançou uma enorme e
complicada configuração na
t ent at iva de j ust ificar sua prát ica
&
Const ruções conceit uais labirínt icas sobre:
_o nascimento das obras e sua essência...
_ os elementos biográficos e os estéticos...
)
Herança que os compositores românticos
mais modernos se sentiram ligados...
*
Sem renunciar os princípios
schopenhauerianos (que elevavam a
dignidade da música até o
incomensurável) junto com a dependência
de Wagner
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 142
p. 131-134 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Wagner:
_modelo de
pensamento
platônico
da estética
tradicional
das
relações
dialéticas
entre
Linguagem (t ext o, poesia); a dança e a ação cênica;
argument os lit erários ou plást icos, programa com pret ensão
de pert encer ao obj et o est ét ico...
O ‘programa’ é tolerado porque não toca a substância
– a essência absoluta - da música que não depende dele...
O BELO É A APARÊNCIA SENSORIAL DA IDÉIA (Wagner)
MOTIVO FORMAL: a ‘ razão de ser’ ; aquilo que faz a música
surgir acont ecer (o que permit e sua realização)... origem
empírica e obj et o de validação est ét ica
Elementos da
composição
e da
recepção
<
Não
vinculante,
porém nem
por isso
supérflua
nem
inadequada.
:
NIETSZCHE
_ O Wagner schopenhaueriano separa o “ MOTIVO FORMAL” do “ ser”
fenômeno
É da ordem do EXEMPLO ARBITRÁRIO
ESSÊNCIA
;
Mesmo princípio
=
APARÊNCIA
Elementos (programáticos) heterogêneos confundidos uns com os outros
O lado empírico externo.... sofre intercambialidade...
são as condições decodificadoras que permitem a enunciação da
música... associações casuais... PARÁBOLAS HERMENÊUTICAS...
É da ordem do CONCEITO GERAL
nôumeno
A “ vont ade” ; o “ ser” ; a “ idéia” ... obj et o da cont emplação
est ét ico- met afísica... (o “ divino” )...
:
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 143
p. 133-134 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Past oral Landscape, 1861. Art ist : Asher Brown Durand. Pict ure t aken at : Nat ional Gallery of Art , Washingt on, D.C., USA
Inclusive quando o composit or usa imagens para falar de sua obra... Past oral,
“ cena j unt o ao arroio” , “ Alegre reunião de camponeses” [...]... Tudo isso são
apenas represent ações met afóricas... – e não obj et os imit ados pela música –
represent ações que não podem nos informar de nenhum aspect o sobre a
essência met afísica da música...
NIETZCHE
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 144
p. 134 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Discussões da últ ima fase da música programát ica
Ot t o Klauvel 1
A música programát ica renuncia as leis da formalíst ica
musical e se amolda às considerações ext ramusicais...
Richard St rauss
É uma est upidez despachar como “ carent e de forma”
o que não responde a um esquemat ismo fixo...
1
KLAUWELL, OTTO ADOLF (1851-1917). Profesor y compositor alemán. Fue alumno del Conservatorio de
Leipzig, del cual fue luego profesor de piano, teoría e historia de la música y por último subdirector. Es autor de
numerosas obras; entre las principales podemos mencionar: óperas (Das Mädchen vom See, Die Heimlichen
Richter), oberturas, obras de música de cámara y para piano, canciones, etc. Asimismo, publicó obras de
musicología y teóricas, tales como: Der Fingersatz der Klavierspiels, Die Formen der Instrumentalmusik,
Geschichte der Sonate, Die Historische Entwicklung des musikalischen Kanons, Geschichte der Programm-musik,
etc. http://www.LaEnciclopedia.com.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 145
p. 134 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Um programa poético pode
muito bem impulsionar à novas
formas...
[...]
é indiferente se um programa
atua como “impulsor” ou não...
[ao fim e ao cabo a música tem que ser feita de qualquer forma]
Richard St rauss
(1864 - 1949)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 146
p. 134-135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Se a forma musical – segundo
Schopenhauer e Niet zsche – deve valer
como “ forma essencial” (com um
programa como reflexo do mundo
fenomênico) – e não como “ forma
aparent e” (com um cont eúdo
programát ico como subst ância) -, ent ão
deve fundament ar-se a si mesma.
O “ em si ínt imo”
da música programát ica –
“ que não t em lugar” –
é a música absolut a.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 147
p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Discussões da últ ima fase da música programát ica
Em 1896,
Gust av Mahler (1860-1911)
reflet e sobre o sent ido dos
programas e dos t ít ulos para suas
1ª e 2ª sinfonias...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 148
p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Discussões da últ ima fase da música programát ica
Em 1896,
Gust av Mahler (1860-1911)
reflet e sobre o sent ido dos
programas e dos t ít ulos para suas
1ª e 2ª sinfonias...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 149
p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
São document os eloqüent es da
confusão que ent rou a t eoria da
música programát ica herdeira da
est ét ica schopenhaueriana...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 150
p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Mahler diferencia ent re
programa “ ext erior”
e “ int erior” :
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 151
p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Programa ext erior
O ext erior pode assumir a função de ser
um impulso para a concepção de uma
obra e t ambém de fio condut or para sua
recepção:
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 152
p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Programa ext erior
... na marcia funebre o impulso externo
me veio do famoso desenho “O enterro do
caçador”... é irrelevante o que se
representa – o que conta é somente a
disposição de ânimo que deve expressarse ...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 153
p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Programa ext erior
Para Mahler [Wagner, St rauss] o
programa [ext erior] é est et icament e
irrelevant e:
como um andaime, que se ret ira quando
a casa que aj udou a const ruir est á
t erminada...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 154
A composição engoliu o programa
Adorno
sobre a Sinfonia nº1 em ré maior,
Titan (1884-1888; ver. 1906),
de Gustav Mahler.
O título original faz
alusão ao romance
Titan de Jean Paul.
CSAMPAI, Attila e HOLLAND, Dietmar. Guia básico dos
concertos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995.
Theodor W. ADORNO (1903-1969)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 155
p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Se o programa
ext erior se
apresent a como uma
série de
ilust rações...
&
um element o
superado /
um veículo
provisório
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 156
p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Se o programa
ext erior se
apresent a como uma
série de
ilust rações...
&
um element o
superado /
um veículo
provisório
O int erior é um
processo de
sensações...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 157
p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Programa int erior
Minha necessidade de
expressar-me musicalmente
– sinfonicamente – começa
ali onde imperam as
sensações obscuras, no
portal que leva ao outro
mundo: o mundo em que as
coisas já não se
desmoronam por efeito do
tempo e do lugar...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 158
p. 136 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Programa int erior
... chamei o primeiro
movimento de “horas
fúnebres”, e, se você quer
saber, esse herói da minha
Sinfonia em ré maior
(Titan), que levo aqui ao
túmulo e cuja vida, desde
uma atalaia mais alta,
capto em um espelho
puro....
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 159
p. 136 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Programa int erior
...
Ao mesmo tempo coloca-se
a grande pergunta: Por que
viveste? Por que sofreste?
Será que tudo isso não é
mais que uma grande e
terrível mentira?
Broma: zombaria, brincadeira, escárnio ...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 160
p. 136 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
O “ herói” não é o t it ã de Jean Paul 2... nem o próprio
Mahler... e sim, mais propriament e, um “ argument o
est ét ico” da música que – como o “ narrador” na novela
ou o “ eu lírico” na poesia – pert ence a int egridade
est ét ica da própria obra...
2
Johann Paul Friedrich Richter (Jean Paul, 1763-1825).
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 161
p. 136 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Programa int erior
O programa “ int erior” não se há
de buscar em um cont eúdo
biográfico... Esse programa
consist e em um “ processo
sensorial” de sent iment os in
abst ract o:
“ obscuras sensações” ...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 162
p. 136 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA
Os sent iment os liberados a part ir do
exercício empírico formam a
subst ância at ravés de cuj a sacralização
– na est ét ica de Wackenroder e de
Wasse – a musica absolut a se eleva à
int uição do absolut o e escapa a
acusação de ser uma “ forma vazia” .
[fim]
_ 10º capit ulo, p. 138
MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE”
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 164
p. 138-139|
MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE”
É difícil t raçar fios hist órico-ideológicos ent re a
est ét ica musical românt ica alemã e a poesia
simbolist a francesa.
Os esforços em se est abelecer uma relação
document al ent re os t ermos t êm sido em vão.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 165
p. 139 |
MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE”
O t ermo de Valéry “ poésie
absolue” inclui uma reminiscência
do conceit o de música absolut a,
convert ido em lugar comum no
século XX, [...], porém a
denominação, que é post erior,
nada diz sobre possíveis
implicações de est ét ica musical na
idéia poet ológica para a qual
Mallarmé originalment e e j á desde
1863 se serviu do t ermo “ poesia
pura” que vem se mant endo
predominant e at é hoj e...
Paul VALÉRY (1871-1945)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 166
p. 139 |
MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE”
No ent ant o essa relação é absolut ament e
secundária, o int eressant e é perceber o parent esco
do pensament o est ét ico ent re música e lit erat ura.
Esquemat izar as relações est rut urais ent re est ét ica
musical e t eoria poét ica para poder afirmar que o
conceit o de música absolut a foi uma idéia present e
em t odo século XIX.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 167
p. 140 |
MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE”
No início do romant ismo alemão o sonho da poesia
absolut a se sonha j unt o com a música absolut a. Ambos
const it uem um mundo à part e por si mesmo, são uma
met áfora do universo.
A “ poesia pura” , um ideal do romant ismo alemão surge
como um meio para explicar a manifest ação do
“ purament e poét ico” da música absolut a.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 168
p. 140 |
MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE”
Se fosse possível fazer as pessoas
entendem que com a linguagem se passa
o mesmo que com as fórmulas
matemáticas. – Constituem um mundo
por si – jogam somente consigo mesma,
não expressam nada mais que sua
maravilhosa natureza, e justamente por
isso são tão expressivas – justamente por
isso refletem em si o peculiar jogo de
relações das coisas.
NOVALIS (1772-1801)
(NOVALIS, 1798 apud DAHLHAUS, p. 140).
GEORG PHILIPP FRIEDRICH, Freiherr (Barão) von Hardenberg. Pseudônimo: NOVALIS (17721801). Um dos mais importantes representantes do romantismo alemão de finais do século XVIII.
Por vezes chamado do “profeta do Romantismo”, tem como central imagem das suas visões uma flor
azul, que mais tarde se transformou como símbolo de saudade entre os Românticos. A “Flor Azul”
era inatingível e assim o continuará.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 169
Mallarmé (para Degas, diletante literário):
A poesia não se faz com idéias,
mas sim com palavras.
Cit ado em DAHLHAUS, p. 140.
(paráfrase)
A música não se faz com idéias,
mas sim com sons.
Não é com idéias que se fazem
versos, mas com palavras.
Cit ado em BOULEZ, 1995, p. 30.
St éphane Mallarmé (1842-1898)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 170
p. 142 |
MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE”
A exigência da música inst rument al de ser vist a como
uma “ art e pura” se apoiou nos modelos poét icos, que
aj udaram a criar uma nova consciência musical, e viceversa, pois na poesia os versos separados seduzem mais
por sua essência sonora do que por dizer algo
conceit ual ou sent iment al. O element o musical na
poesia não é adorno, e sim, subst ância.
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 171
p. 143... |
MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE”
Retomada de vários pontos do livro...
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 172
p. 146... |
MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE”
Por isso não tem nenhuma outra arte cuja
matéria prima está em si mesma tão preparada
do espírito celestial como a música
Wilhelm Heinrich Wackenroder
(1773-1798)
Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 173
p. 146... |
MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE”
O paradoxo de que o
reconheciment o sobre si
mesmo significa elevação é a
dialét ica que est á no fundo
t ant o da poésie absolue
quant o da música absolut a.
Carl Dahlhaus
[fim]
Universidade Est adual de Campinas – Unicamp
Programa de Pós Graduação em Música
Inst it ut o de Art es
SEMINÁRIOS AVANÇADOS | Panorama Hist órico da Est ét ica Musical | Profª. Drª. Lia Tomás
Alunos:
Almir Côrt es Barret o
Sérgio Paulo Ribeiro de Freit as
Unicamp, o5 out ubro de 2oo7
segunda part e
Carl DAHLHAUS
A idéia de Música Absolut a
uma primeira aproximação nada absolut a e um t ant o obsolet a