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Carl DAHLHAUS A idéia de Música Absoluta (uma aproximação)

Universidade Est adual de Campinas – Unicamp Programa de Pós Graduação em Música Inst it ut o de Art es SEMINÁRIOS AVANÇADOS | Panorama Hist órico da Est ét ica Musical | Profª. Drª. Lia Tomás segunda part e Carl DAHLHAUS A idéia de Música Absolut a uma primeira aproximação nada absolut a e um t ant o obsolet a Alunos: Almir Côrt es Barret o Sérgio Paulo Ribeiro de Freit as Unicamp, o5 out ubro de 2oo7 Carl DAHlHAUS Die Idee der absolut en Musik (Kassel, 1976) LA IDEA DE LA MÚSICA ABSOLUTA Barcelona, Idea-Books, 1998 (Traducción de Ramón Barce) segunda part e Música inst rument al e religião da art e ________ p. Lógica musical e carát er lingüíst ico ________ p. De t rês cult uras da música ________ p. A idéia do absolut o musical e a prát ica da música programát ica ________ p. Música absolut a e poesia absolut a ________ p. o89 103 116 126 138 XVIII 1700 Palestrina †1594 Monteverdi †1643 †1650 DESCARTES †1677 SPINOZZA SEMINÁRIOS AVANÇADOS Panorama Hist órico da Est ét ica Musical Profª. Drª. Lia Tomás Alunos: Almir Cort es Barret o Sérgio Paulo Ribeiro de Freit as Unicamp, o5 out ubro de 2007 ...1760 ...1780 Revoluções Burguesas 1750 A idéia de MÚSICA ABSOLUTA por Carl Dahlhaus (1928-1989) | alguns nomes e dat as: XIX XX ...... La Querelle des anciens et des modernes ............. Bach †1750 1800 1850 1900 Franz Liszt † 1886 Beethoven †1827 Schumann †1856 Richard Strauss †1949 Mahler †1911 Brahms †1897 Johann MATTHESON (1681-1764) Bruckner †1896 Johann Nicholaus FORKEL (1749-1818) Wagner † 1883 Abade DUBOS (1670–1742) Charles BATTEUX (1713 -1780) Johann Georg SULZER (1720-1779) Ot t o KLAUWELL (1851-1917) Heinrich Christ oph KOCH (1749-1816) RAMEAU (1683-1764) Adolf Bernhard MARX (1795-1866) ROUSSEAU (1712-1778) Hermann KRETZSCHMAR (1848-1924) Johann Got t fried HERDER (1744-1803) Immanuel KANT (1724-1804) Johann Got t lieb FICHTE (1762-1814) Georg Friedrich HEGEL (1770-1831) Christ ian Friedrich Daniel SCHUBART (1739-1791) Georg August GRIESINGER (1769-1845) Got t fried Wilhem FINK (1783-1846) Friedrich Wilhelm Joseph von SCHELLING (1775–1854) Christian Hermann WEISSE (1801-1866) SCHOPENHAUER (1788-1860) Richard WAGNER (1813-1883) Friedrich NIETZSCHE (1844-1900) Eduard HANSLICK (1825-1904) Karl Franz Brendel (1811-1868) August Halm (1869-1929) Ernst BLOCH (1885-1977) Karl Phillipp MORITZ (1756-1793) Arte pela arte 1785-88 Friedrich Daniel Ernst SCHLEIERMACHER (1768 —1834) Johann Ludwig TIECK (1773-1853) Wilhelm Heinrich WACKENRODER (1773-1798) E.T.A. HOFFMANN (1776-1822) Friedrich Richt er, JEAN-PAUL (1763-1825) NOVALIS (1772-1801) GOETHE (1749-1832) Edgar Allan POE (1809 -1849) (poesia pura) St éphane MALLARMÉ (1842-1898) (poésie absolue) Paul VALÉRY (1871-1945) Arnold SCHERING (1877-1941) Hans EISLER (1898 - 1962) Theodor W. ADORNO (1903-1969) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 1 Referências DAHLHAUS, Carl. La idea de la música absoluta. Barcelona: Idea Books, 1999. BARROS, Cassiano de Almeida. A orientação retórica no processo de Composição do Classicismo observada a partir do tratado Versuch einer Anleitung zur Composition (1782-1793) de H.C. Koch. Instituto de Artes, Unicamp, 2006 (Dissertação de mestrado). IRIARTE, Rita (Organização, tradução e notas) Música e literatura no romantismo alemão. Lisboa: Apáginastantas, 1987, pp.54-61. Tradução: Antonieta Maria Lopes. Revisão: Rita Iriarte. Disponível em: aulasdalia@yahoogrupos.com.br TOMÁS, Lia. Vozes dissonantes: precursores da autonomia da música na Antigüidade. In: DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.). Ensaios sobre música e filosofia. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 147-155. VERMES, Mônica. Schumann, Hoffman e o cânone ocidental. In Anais do VI Fórum do Centro de Linguagem Musical – CLM. São Paulo. ECA. USP, 2002. P. 86. VIDEIRA, Mário. Música e filosofia no romantismo alemão. In Anais do VI Fórum do Centro de Linguagem Musical – CLM. São Paulo. ECA. USP, 2005. P. 57. VIDEIRA, Mário. O Romantismo e o Belo Musical. São Paulo: Editora UNESP, 2006. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 2 ... a palavra/ conceit o ABSOLUTO e suas acepções e implicações... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 3 Dicionário HOUAISS ABSOLUTO Rubrica: filosofia Diz-se de ou a realidade plena, ilimit ada, essencial, que não depende senão de si mesma para exist ir, em oposição a t odos os fenômenos que se mant êm dependent es, cont ingent es, relat ivos ou part iculares. Em Nicolau de Cusa (1401-1464) e Schelling (1775-1854), que ou o que cost uma ser designado como realidade divina, divindade, Deus. No hegelianismo, diz-se de ou a verdade plena, simult aneament e idéia e realidade concret a, que se afirma progressivament e no decorrer do processo hist órico. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 4 Nicola ABBAGNANO Dicionário de filosofia Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 5 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982. ABSOLUTO [Embora t enha sido Nicolau de Cusa (1401-1464) que definiu Deus como Absoluto] a difusão da palavra desde o século XVIII – muit o provavelment e é devida à linguagem polít ica [poder absolut o, monarquia absolut a, absolut ismo, et c.] onde a palavra significa clarament e “ sem rest rição” ou “ ilimit ado” . A grande voga filosófica do t ermo deve-se ao Romant ismo. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 6 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982. ABSOLUTO O Romant ismo fixou o uso da palavra sej a como adjetivo [sem rest rições, sem limit ações, sem condições] sej a como substantivo [realidade desprovida de limit es, suprema, o “ espírit o de Deus” ]. O t ermo pode ser considerado como sinônimo de “ infinit o” . Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 7 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982. ABSOLUTO Immanuel Kant (1724-1804) diferencia dois significados, Um [mais difundido e menos preciso]: a palavra qualificaria uma det erminação a uma coisa pela própria subst ância ou essência da coisa. “ Absolut ament e possível” significa: “ possível em si mesmo” , ou “ int rinsecament e possível” . Out ro significado [preferível para Kant ], “ absolut ament e possível significa” : “ possível sob t odas as relações, ou sob t odos os aspect os” . Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 8 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982. ABSOLUTO FICHTE fala de Dedução Absolut a, de At ividade Absolut a, de Saber Absolut o, de Eu Absolut o, para indicar o Eu Infinit o, criador do mundo... Na segunda part e de sua filosofia, procura int erpret ar o Eu como Deus... Johann Got t lieb Ficht e (1762-1814) “O absoluto é absolutamente aquilo que é, repousa sobre e em si mesmo absolutamente... Ele é o que é absolutamente porque é de si mesmo...”. Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) filósofo alemão. Influenciado por Kant , exerceu fort e influência sobre os represent ant es do nacionalismo alemão, assim como sobre as t eorias filosóficas de Friedrich Schelling, G.W.F. Hegel e Art hur Schopenhauer... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 9 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982. ABSOLUTO A mesma inflação da palavra se acha em Schelling, que usa o subst ant ivo ABSOLUTO para designar o princípio infinit o da realidade, ist o é Deus. Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling (1775 – 1854) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 10 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982. ABSOLUTO O mesmo uso da palavra reaparece em HEGEL para quem o absolut o é ao mesmo t empo o obj et o e o suj eit o da filosofia e, embora definido de várias maneiras, permanece caract erizado pela sua infinidade posit iva no sent ido de est ar além de t oda realidade finit a e de compreender em si t oda realidade finit a. Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 -1831) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 11 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982. ABSOLUTO A palavra permanece ligada a uma fase det erminada do pensament o filosófico, precisament e à concepção românt ica do infinit o, que compreende e resolve em si t oda realidade finit a e não por isso limit ado ou condicionado por nada, nada t endo fora de si que possa limit á-lo ou condiciona-lo [...] aquilo que realiza a si mesmo de modo necessário e infalível. ABBAGNANO, p. 4. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 12 DAHLHAUS: A idéia de MÚSICA ABSOLUTA Algumas definições “rápidas” [de no máximo quatro linhas] escolhidas ao longo [da segunda parte] do texto... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 13 A idéia de MÚSICA ABSOLUTA por DAHLHAUS: Algumas definições “rápidas” escolhidas ao longo do texto Uma música liberada de funções, de textos e de caracteres nitidamente desenhados e capaz de elevar-se à “intuição do infinito”... Carl Dahlhaus (1928-1989) DAHLHAUS, p. 126-127 Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 14 O conceito de MÚSICA ABSOLUTA – o paradigma estético que dominava a Alemanha como concepção do que desde a sinfonia e o quarteto de cordas até o drama musical era a música “em si” – foi uma idéia de todo o século XIX que representou o sentir artístico de toda uma época... Carl Dahlhaus (1928-1989) DAHLHAUS, p. 139 Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 15 Carl Dahlhaus (1928-1989) MÚSICA ABSOLUTA: o rechaço do principio imitativo – o postulado de que a música deveria ser descritiva, seja como pintura da natureza exterior, seja como representação de afetos ou pintura da natureza interior, para não cair em um conjunto de sons vazio e trivial – [... a música] não é mero veículo de pensamentos ou de sentimentos [é linguagem e substância em si mesma]... DAHLHAUS, p. 140 Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 16 DAHLHAUS: um conceit o út il de AUTONOMIA a partir de Carl DAHlHAUS: Sobre a “ relat iva aut onomia” de la hist ória de la música In: DAHLHAUS, Carl. Fundamentos de la historia de la música. Barcelona: Gedisa. 2003. p.133 Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 17 Carl DAHlHAUS: Sobre a “ relat iva aut onomia” de la hist ória de la música In: DAHLHAUS, Carl. Fundamentos de la historia de la música. Barcelona: Gedisa. 2003. p.133. Do pont o de vist a hist oriográfico seria út il [“ út il” , porque não exist e um conceit o “ único” e “ verdadeiro” de aut onomia] encont rar um caminho int ermediário ent re um equivalent e de “ música de concert o” [em cont raposição à “ música corrent e” ] e um conceit o de aut onomia que coincida com a dout rina de l’ art pour l’ art . _ Dessa maneira se poderia qualificar de autônoma, em primeiro lugar, uma composição musical que exija e possa ser escutada por si mesma, de modo que a forma predomine sobre a função. Em segundo lugar, a arte em sentido moderno do conceito, quer dizer, obras que surgiram livremente quanto ao conteúdo e forma e não por encargo [livremente concebida e realizada sem influências de um patrão ou comprador]. DAHLHAUS, 2003, p. 134. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 18 Dicionário HOUAISS AUTONOMIA Rubrica: filosofia. Segundo Kant (1724-1804), capacidade apresent ada pela vont ade humana de se aut odet erminar segundo uma legislação moral por ela mesma est abelecida, livre de qualquer fat or est ranho ou exógeno com uma influência subj ugant e, t al como uma paixão ou uma inclinação afet iva incoercível. Obs.: p.opos. a het eronomia Rubrica: psicologia. Preservação da int egridade do eu Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 19 Colóquio MÚSICA E HISTORIOGRAFÍA EN LA OBRA DE CARL DAHLHAUS | Zaragoza_2oo3 Disponível em: aulasdalia@yahoogrupos.com.br Pilar Ramos (Universitat de Girona) La crítica feminista al concepto de autonomía en Dahlhaus Conceit o de AUTONOMIA por DAHLHAUS: Para nuestro propósito una creación musical es autónoma 1. si consigue elevarse y exigir ser oída por sí misma, dando así precedencia a la forma sobre la función, y 2. si constituye una obra de arte en sentido moderno, es decir, una obra libremente concebida y realizada sin influencias por parte de un patrón o comprador con respecto a su contenido o a su forma externa DAHLHAUS 1983 [1977], p. 109. DAHLHAUS, C. (1983 [1977]). Chap. 8. The 'relative autonomy' of music history. Foundations of Music History. Cambridge: Cambridge University Press. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 20 Colóquio MÚSICA E HISTORIOGRAFÍA EN LA OBRA DE CARL DAHLHAUS | Zaragoza_2oo3 Disponível em: aulasdalia@yahoogrupos.com.br Pilar Ramos (Universitat de Girona) La crítica feminista al concepto de autonomía en Dahlhaus Crít ica ao conceit o de música absolut a ::: ment e [masculino] x corpo [feminino] En su búsqueda de la transcendencia, la música absoluta puso la mayor fe en las más elevadas facultades de la mente. En este sentido afirmó la ideología del dualismo mente-cuerpo y la consiguiente devaluación del cuerpo. Las connotaciones del cuerpo lo ligan con lo femenino y con las asociaciones moralmente bajas de la sexualidad femenina. El concepto de música absoluta ha funcionado por tanto como un medio ingenioso de elevar la noción masculina de la mente y al mismo tiempo suprimir el cuerpo, la sexualidad y lo femenino. Lo llamo ingenioso porque lo ha hecho así bajo la apariencia de una manifiesta autonomía con respecto a la referencialidad social subyacente y de esta forma ha hecho su programa mucho más sutil y difícil de identificar (Citron 1993: 142). Citron, M. (1993). Gender and the Musical Canon. Cambridge: Cambridge University Press. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 21 Apresent ação sint ét ica do conceit o de MÚSICA ABSOLUTA _ a part ir de DAHLHAUS _ por Vladimir SAFATLE Vladimir SAFATLE Depart ament o de Filosofia da USP O novo tonalismo e o esgotamento da forma crítica como valor estético. In: DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.). Ensaios sobre música e filosofia. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 75-101. (p.81). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 22 SAFATLE, Vladimir P. O esgotamento da forma crítica como valor estético. In: Itaú Cultural. (Org.). Rumos: artes visuais 2005-2006. São Paulo: Itaú, 2006, p. 307-314. Cf. SAFATLE, Vladimir. O novo tonalismo e o esgotamento da forma crítica como valor estético. DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.). Ensaios sobre música e filosofia. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 75-101. (p.81). Apresent ação sint ét ica do conceit o de MÚSICA ABSOLUTA _ a part ir de DAHLHAUS _ por Vladimir SAFATLE: Grosso modo, podemos chamar de MÚSICA ABSOLUTA uma cert a noção que via na música inst rument al, desligada de t ext os, de programas, de funções rit uais e “ pedagógicas” específicas, o veículo privilegiado para a expressão ou o pressent iment o do “ absolut o” em sua sublimidade e o est ágio de realização nat ural da racionalidade musical. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 23 SAFATLE, Vladimir P. O esgotamento da forma crítica como valor estético. In: Itaú Cultural. (Org.). Rumos: artes visuais 2005-2006. São Paulo: Itaú, 2006, p. 307-314. Cf. SAFATLE, Vladimir. O novo tonalismo e o esgotamento da forma crítica como valor estético. DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.). Ensaios sobre música e filosofia. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 75-101. (p.81). É a proximidade com t al t emát ica que permit irá a SCHOPENHAUER [...] afirmar: “ Não podemos encont rar na música a cópia, a reprodução da idéia do ser t al como se manifest a no mundo” , ela é “ cópia de um modelo que não pode, ele mesmo, ser represent ado diret ament e” , Art hur Schopenhauer (1788 —1860) 1 Pois “ a música, que vai para além das idéias, é complet ament e independent e do mundo fenomenal” . 1 SCHOPENHAUER, O mundo como vontade e representação, § 59 Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 24 SAFATLE, Vladimir P. O esgotamento da forma crítica como valor estético. In: Itaú Cultural. (Org.). Rumos: artes visuais 2005-2006. São Paulo: Itaú, 2006, p. 307-314. Cf. SAFATLE, Vladimir. O novo tonalismo e o esgotamento da forma crítica como valor estético. DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.). Ensaios sobre música e filosofia. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 75-101. (p.81). Est e impulso de aut onomização da forma musical será fundament al para que t eóricos post eriores, como HANSLICK insist issem em levar t al processo ao ext remo. Ao afirmar que a música nada mais era do que “ formas sonoras em moviment o” , Hanslick demonst rava plena consciência de est ar adent rando em um est ágio hist órico de racionalização do mat erial musical que permit ia a consolidação da esfera musical em sua legalidade própria. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 25 SAFATLE, Vladimir P. O esgotamento da forma crítica como valor estético. In: Itaú Cultural. (Org.). Rumos: artes visuais 2005-2006. São Paulo: Itaú, 2006, p. 307-314. Cf. SAFATLE, Vladimir. O novo tonalismo e o esgotamento da forma crítica como valor estético. DUARTE, Rodrigo e SAFATLE, Vladimir (Org.). Ensaios sobre música e filosofia. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2007. p. 75-101. (p.81). Legalidade própria que o leva a afirmar: Eduard Hanslick (1825-1904) 2 “ se se pergunt ar o que se há de expressar com est e mat erial sonoro, a respost a reza assim: idéias musicais. Mas uma idéia musical t razida int eirament e à manifest ação é j á um belo aut ônomo, é fim em si mesmo, e de nenhum modo apenas meio ou mat erial para a represent ação de sent iment o e pensament os” . 2 HANSLICK, Do belo musical, p. 42 Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 26 Sínt ese do conceit o de AUTONOMIA DA ARTE _ a part ir de DAHLHAUS _ por Leopoldo WAIZBORT Leopoldo WAIZBORT Professor no Depart am ent o de Sociologia da USP Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I) Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Cf. VERMES, 2002, p. 86. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 27 Leopoldo WAIZBORT. Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Autonomia da arte Sínt ese do conceit o de _ a part ir de DAHLHAUS _ por WAIZBORT: Aut onomia da art e [...] ideal românt ico de que a obra de art e é um out ro mundo, válido por si mesmo e independent e do que lhe é ext erior. Isso foi formulado inicialment e por Wackenroder, em conj unt o com Tieck, e a seguir — est es mais import ant es para Schumann — por Jean-Paul e Hoffmann. 3 ... 3 Cf. VIDEIRA, 2006, p. 71- 79. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 28 Leopoldo WAIZBORT. Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Sínt ese do conceit o de Aut onomia da art e por WAIZBORT: É preciso compreender a gênese da aut onomia românt ica da art e para poder ponderar seu j ust o peso hist órico. A ênfase na aut onomia cont rapõe-se à idéia t radicional [...] — desde o miscere ut ile dulce horaciano — de que a obra de art e deve est ar a serviço da religião, da ut ilidade moral [“quer dizer, da convivência social dos humanos” (DAHLHAUS, 1999, p. 8)] ou do ent ret eniment o cort ês ou burguês. A religião da art e românt ica foi uma emancipação da art e, que deixou de servir a qualquer função que lhe fosse ext erior, deixou de ser música funcional. Isso se concret iza sobret udo na música inst rument al, libert a de vínculo com a língua; apenas ela const it ui-se como música plena e pura. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 29 Leopoldo WAIZBORT. Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Sínt ese do conceit o de Aut onomia da art e por WAIZBORT: Os românt icos invert eram em grande medida os ideais musicais, sobrepondo a música purament e inst rument al à música vocal, como se vê com clareza nos t ext os de Hoffmann. A música inst rument al const rói seu mundo únicament e a part ir de si mesma, sem necessit ar de um meio auxiliar como a palavra. A emancipação da música inst rument al (e não mais obra para est udo e aprendizagem, para missa ou abert ura de ópera) impôs uma nova hierarquia dos gêneros; não é acaso que, após a brilhant e obra pianíst ica inicial, Schumann t enha ambicionado a sinfonia. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 30 Leopoldo WAIZBORT. Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Sínt ese do conceit o de Aut onomia da art e por WAIZBORT: Tal emancipação ret rocede, em suas origens, ao século XVII, mas ainda por volt a da met ade do século XVIII não t inha se firmado. Mesmo ao final daquele século, não est á ainda claro se a música inst rument al é t ão perfeit a como a música vocal, t ão capaz de expressão. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 31 Leopoldo WAIZBORT. Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Sínt ese do conceit o de Aut onomia da art e por WAIZBORT: De fat o, at é bem longe no século XIX permanece enraizada a idéia de que música é sobret udo música vocal (o que se vê nas Lições de est ét ica, de Hegel). Ent ret ant o, o “ poético” — que o idolat rado Jean-Paul cont rapunha ao “ prosaico” [DAHLHAUS, p. 69-70] para dist inguir a música do mero art esanat o —, que define propriament e para Schumann a arte como arte, desde o início do século XIX encont ra cada vez mais expressão na música absolut a. Com Beet hoven a música inst rument al consuma-se em definit ivo, e é na famosíssima resenha de Hoffmann da Quint a sinf onia que isso foi formulado de modo mais definido e hist oricament e influent e (WAIZBORT, 2006, p. 187). [...] Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 32 Apresent ação sint ét ica do conceit o de MÚSICA ABSOLUTA _ a part ir de DAHLHAUS _ por Leopoldo WAIZBORT Leopoldo WAIZBORT Professor no Depart am ent o de Sociologia da USP Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I) Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 33 Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Apresent ação sint ét ica do conceit o de MÚSICA ABSOLUTA _ a part ir de DAHLHAUS _ por WAIZBORT: Música absoluta. A música aut ônoma assumiu a forma de música absolut a: [a música inst rument al] por ser mais indet erminada e sem obj et o, sugeriria o “ absolut o” , o moment o met afísico, à diferença da música vocal, mais det erminada. No limit e da est ét ica românt ica, a música é uma “ revelação” do absolut o. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 34 Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Apresent ação sint ét ica do conceit o de MÚSICA ABSOLUTA _ a part ir de DAHLHAUS _ por WAIZBORT: Foi Richard Wagner, o criador da expressão, quem t alvez melhor t enha definido o problema: a irredut ibilidade da música absolut a a qualquer out ra forma de expressão, daí a sua int raduzibilidade: “É preciso admitir que a essência da música instrumental mais elevada consiste em exprimir em sons aquilo que não pode ser dito em palavras”. Richard WAGNER (1813-1883) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 35 Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Apresent ação sint ét ica do conceit o de MÚSICA ABSOLUTA _ a part ir de DAHLHAUS _ por WAIZBORT: Como se vê, uma at ualização das afirmações de Hoffmann e seus companheiros, t odos eles revelando um apelo met afísico [...]; Com efeit o, a idéia de música absolut a report ou-se à sinf onia, gênero direcionado para o concert o público, ao cont rário do quart et o, do t rio, do duo e do solo, que mant inham o aspect o de execução privada. A execução pública dos gêneros originalment e privados implica, como diz Dahlhaus, uma “ t ransformação do carát er social do gênero” , que precisa ser indicada com precisão (p.188). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 36 Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Apresent ação sint ét ica do conceit o de MÚSICA ABSOLUTA _ a part ir de DAHLHAUS _ por WAIZBORT: Gêneros musicais. Em conj unt o com o problema da aut onomia da música e da música absolut a, a quest ão dos gêneros musicais est á na alma da música do classicismo/ romant ismo; [...] A t ransição para a aut onomia, a emancipação das finalidades impost as est ava ligada com uma inversão das relações hierárquicas ent re gênero e obra individual (p.190). […] Na música mais antiga, funcional, a obra era em primeiro lugar um exemplar do gênero […]. Mas, desde o final do século XVIII, o gênero perdeu rapidamente substancialidade. […] O conceito de gênero não antecede mais à obra singular, senão que se desvanece em um conceito genérico abstrato […]. Carl Dahlhaus. Musikästhetik. 4a. ed., Laaber: Laaber, 1986, p.27. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 37 Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. A idéia da nost algia infinit a Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 38 Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Unendliche Sehnsucht . A idéia da nost algia infinit a foi formulada por Hoffmann na resenha da Quint a sinf onia, Assim, a música instrumental de Beethoven também nos abre o império do desmedido e imenso. […] A música de Beethoven põe em movimento o temor, o horror, o abissal, a dor e desperta precisamente aquela nostalgia infinita, que é a essência do romantismo. Por essa razão ele é um compositor puramente romântico [...] E.T.A. Hoffmann. Fantasiestücke in Callots Manier, pp.51-52; cf. E.T.A. Hoffmann.Schriften zur Musik - Singspiele. Berlin: Aufbau,1988, p. 24,25. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 39 Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. E, seguindo o coment ário de Dahlhaus, a música românt ica só se alça à condição de música absolut a, libert a de fundament ar-se em t ext o, ret rat ar um carát er, cumprir função, cont ar hist ória ou manifest ar afet os, na exat a medida em que sua expressão do “ infinit o” ganha est at ut o de legit imidade: a música não é mais vazia e sem sent ido se não cumprir uma função ou exprimir um afet o, mas j ust ament e o cont rário: por dizer o indizível, exprimir o inexprimível, ela ganha nova dignidade e novo est at ut o. Isso significa uma nova definição daquilo que é música, pois música t orna-se música absolut a. Essa é a represent ação operant e [...] na t eoria do poét ico de Jean-Paul e de Wackenroder e Tieck: Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 40 Leopoldo WAIZBORT Chaves para ouvir Schumann (Paralipomena à Kreisleriana - I). Novos Estudos. CEBRAP, Sao Paulo, v. 75, p. 185-210, 2006. Essas sinfonias podem representar um drama tão colorido, tão variegado, tão intrincado, desenvolvido de modo tão belo, como o poeta jamais poderia nos dar; pois elas revelam em uma linguagem enigmática o mais enigmático, elas não dependem de lei alguma da verossimilhança, elas não precisam se ligar à história nem possuir um caráter, elas permanecem em seu mundo puramente poético. Cf. DAHLHAUS, p. 126-127 Wilhelm Wackenroder Werke und Briefe München: Hanser, 1984, p. 354 Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 41 _ 6º capit ulo, p. 89 MÚSICA INSTRUMENTAL E RELIGIÃO DA ARTE Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 42 [epígrafe] ... algumas not as sobre a RELIGIÃO DA ARTE Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 43 por Ot ávio Paz em O uso e a contemplação Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 44 PAZ, Ot ávio. O uso e a contemplação. Revista Raiz. Edição nº. 03, p. 82-89. São Paulo: Editora Cultura em Ação Ltda., 2006. A religião da art e, [...] brot ou das ruínas do crist ianismo. A art e herdou da religião que a precedera o poder de consagrar as coisas e dot á-las de uma espécie de et ernidade: os museus [as salas de concert o] são nossos locais de adoração, e os obj et os neles exibidos [o repert ório] est ão à margem da hist ória. Ot ávio Paz (1914-1998) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 45 PAZ, Ot ávio. O uso e a contemplação. Revista Raiz. Edição nº. 03, p. 82-89. São Paulo: Editora Cultura em Ação Ltda., 2006. [...] A art e t ornou-se um at o de heroísmo espirit ual; [...] A missão do art ist a era t ransformar o obj et o [...]. Obras de art e [...] t ornaram-se ídolos, e est es ídolos foram t ransformados em idéias... Ot ávio Paz (1914-1998) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 46 PAZ, Ot ávio. O uso e a contemplação. Revista Raiz. Edição nº. 03, p. 82-89. São Paulo: Editora Cultura em Ação Ltda., 2006. Cont emplamos as obras de art e com a mesma reverent e admiração – embora com menores recompensas espirit uais – que o sábio da Ant iguidade dedicava ao céu est relado: como corpos celest es, essas pint uras e escult uras são idéias puras. Ot ávio Paz (1914-1998) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 47 PAZ, Ot ávio. O uso e a contemplação. Revista Raiz. Edição nº. 03, p. 82-89. São Paulo: Editora Cultura em Ação Ltda., 2006 A religião da art e é um neoplat onismo que não ousa confessar o nome [...] A religião da art e est á sempre volt ando para si mesma [...]: para a negação do significado em favor do obj et o. [...] a religião da art e nos proíbe de considerar belo o út il; o cult o à ut ilidade nos leva a perceber a beleza não como uma presença, mas como uma função. Ot ávio Paz (1914-1998) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 48 Pode perdoar-se a um homem a criação de uma coisa útil, contanto que ele não a admire. A única justificativa para a criação de uma coisa inútil é que ela seja admirada intensamente. Toda arte é absolutamente inútil. Oscar Wilde Oscar Fingal O'Flahert ie Wills Wilde (Dublin, 1854 — Paris, 1900). dramaturgo, escritor e poeta irlandês. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 49 Carl DAHLHAUS: MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 50 Sext o capit ulo, p. 89 MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE DAHLHAUS: _ a RELI GI ÃO DA ARTE: a crença de que a arte, embora obra dos humanos, é uma revelação caiu em descrédit o... [o descrédit o geral no “ malvado século XIX” ... defender a religião dos abusos da art e, e a art e dos abusos da religião...] _ porém, a religião do sentimento de SCHLEIERMACHER é um est ágio legít imo da hist ória [da t eologia.... e da art e....] _ a idéia de religião da art e [j á t ambém nos séculos XVIII/ XIX] sempre foi percebida como um problema e não como um simples dogma incontestável... _ uma est ét ica inspirada na filosofia da religião est a clara como nunca na t eoria, na METAFÍSICA DA MÚSICA INSTRUMENTAL. & [Cf. Est ét ica do sent iment o e met afísica, p. 60 (capít ulo 4)]. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 51 Est ét ica do sent iment o e met afísica (Cf. capít ulo 4). [p. 63] ... a est ét ica sent iment al, que era uma psicologia exalt ada, foi subst it uída gradualment e, aos finais do século XVIII, pela est ét ica românt ica, que falava da música ut ilizando caract eríst icas met afísicas... [p. 65] Precisament e como música aut ônoma, absolut a, liberada dos “ condicionament os” do t ext o, das funções e dos afet os, alcança a art e dignidade met afísica como expressão do “ infinit o” . A est ét ica musical “ aut ent icament e” românt ica é uma metafísica da música inst rument al. Cf. VIDEIRA, 2005, p. 60 METAFÍSICA ? Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 52 Dicionário HOUAISS METAFÍSICA: no kant ismo, est udo das formas ou leis const it ut ivas da razão pura, fundament o de t oda especulação a respeit o de realidades que t ranscendem a experiência sensível [a t ot alidade cósmica, Deus ou a alma humana], e font e de princípios gerais para o conheciment o empírico. Derivação: por ext ensão de sent ido. qualquer sist ema filosófico volt ado para uma compreensão ont ológica [a invest igação t eórica do ser] , t eológica ou supra-sensível da realidade. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 53 Dicionário AURÉLIO METAFÍSICA: [Do grego. met à t à physiká, 'depois dos t rat ados da física'.] Part e da filosofia, que com ela muit as vezes se confunde, e que, em perspect ivas e com finalidades diversas, apresent a as seguint es caract eríst icas gerais, ou algumas delas: é um corpo de conheciment os racionais (e não de conheciment os revelados ou empíricos) em que se procura det erminar as regras fundament ais do pensament o (aquelas de que devem decorrer o conj unt o de princípios de qualquer out ra ciência, e a cert eza e evidência que neles reconhecemos), e que nos dá a chave do conheciment o do real, t al como est e verdadeirament e é (em oposição à aparência). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 54 THINES, G. e LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70. P. 586. At é cert o pont o, a hist ória da filosofia pode ser considerada a sucessão de fases Metafísicas O espírito confiante na sua própria força eleva-se muito além da experiência e enriquece apenas pela força do raciocínio o tesouro dos conhecimentos humanos... O espírito pretende descobrir a realidade profunda e não empírica Pertencem a essas fases metafísicas: Platão, Aristóteles, São Tomás, Descartes, Hegel... fases Críticas Como reação desenvolvem-se sistemas críticos que se preocupam menos em ouvir o saber do que em garantir a verdade desse saber. Os pensadores críticos contestam a possibilidade de afirmar a existência real de um ser que não pode ser objeto de qualquer experiência Pertencem ao pensamento crítico: os Sofistas, os Céticos, o criticismo kantiano... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 55 THINES, G. e LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70. P. 586. Obj et os t radicionais da met afísica [a necessidade de exist ência desses obj et os ‘ não físicos’ impõe-se ao pensament o]: Deus; o mundo; o eu; a liberdade; a imortalidade... Obj et os-pensament os ou valores que se agregam ao pensament o em t orno da música inst rument al – ult rapassando radicalment e a realidade sensível - nos remet em à idéias de elevação, excelência, import ância, maj est ade, proeminência, sobreeminência, sobrepuj ament o, sobrepuj ança, sublimidade, supereminência, superioridade, et c., com os quais, em decorrência de sua perfeição e superioridade absolut as, só podemos nos relacionar guardando relações de soberania e de dist ância... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 56 THINES, G. e LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70. P. 586. Os grandes problemas met afísicos – present es em alguma medida na discussão em t orno da música inst rument al - são: ... o uno e o múltiplo... ... a aparência e o Ser... ... as relações do corpo e do espírito... ... a existência de Deus... ... a imortalidade da alma... ... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 57 Sext o capit ulo, p. 90 MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE DAHLHAUS: & Schleiermacher: (Sobre a religião, 1799) 4 Três caminhos abert os para alcançar o infinito a partir do finito A imersão em si mesmo & & A medit ação esquecida de si mesma de um fragment o do mundo A cont emplação devot a da obra de art e... a visão do infinito por meio da cont emplação est ética est á negada à Schleiermacher... (cit ação, p. 89-90)... Schleiermacher cunhou o t ermo [Religião da Art e] para algo que int uia abst rat ament e (suspeit ava embora não t ivesse passado pela experiência), que, ao mesmo t empo (1799) t omava forma concret a de uma experiência vit al nas Fant asias sobre a art e de Wackenroder e Tieck... 4 O termo Religião da Arte, parece proceder de Schleiermacher (1799). O termo reaparece em 1805, no Fenomenologia do espírito de Hegel. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 58 FRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHER (1768—1834) foi um teólogo pietista, filósofo e pedagogo alemão. Segundo Ricoeur, é Schleiermacher (em Hermenêutica, arte técnica da interpretação) quem inicia e realiza o projeto de uma hermenêutica geral (universal), procedimento usual dos hermeneutas posteriores – Dilthey, Heidegger, Gadamer... Schleiermacher busca fundamentar a hermenêutica, de modo que possa situar-se ou ser aplicada em qualquer obra. Conforme alguns pesquisadores de Schleiermacher, nessa reviravolta, situa-se o caráter original de uma hermenêutica filosófica, opondo-se aos que reduzem a uma hermenêutica exclusivamente técnica. Ainda que, ela também tenha uma preocupação essencialmente técnica, de resolver o problema da interpretação e da compreensão, Ricoeur afirma que não o é exclusivamente, pois Schleiermacher fundamenta a hermenêutica numa dimensão propriamente filosófica. Ele, Schleiermacher, fundamenta seu projeto, perguntando não apenas como se interpreta tal ou tal texto, mas, o que significa de modo geral interpretar e compreender, isto é, pergunta pelas condições de possibilidade e/ou pelo “como” da efetivação da interpretação. Esta forma de fundamentar, com a pretensão de fundar uma hermenêutica geral, é o grande feito do hermeneuta alemão, efetivando a desregionalização da hermenêutica da área de saberes distintos e restritos, e tornada análoga a uma ciência que contenha os princípio fundamentais para toda e qualquer interpretação. Fonte: ADAMS Adair: A hermenêutica de Schleiermacher em discussão. SCHLEIERMACHER (1768—1834) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 59 Sext o capit ulo, p. 90 MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE DAHLHAUS: O dogma da religião da arte [aut onomia est ét ica e elevação met afísica] foi formulado por Wackenroder e, com máxima int ensidade por LUDWIG TIECK (1773-1853). Pois a arte dos sons [música inst rument al, Sinfonia] é, seguramente, o mistério último da Fé, a Mística, a Religião totalmente revelada. Tenho, muitas vezes, a impressão de que ela ainda está a nascer e de que os seus mestres não podem comparar-se com quaisquer outros... Sinfonias | Ludwig Tieck Disponível em: aulasdalia@yahoogrupos.com.br Do ensaio Sinf onias: t ese fundament al> afirmação da superioridade da música inst rument al sobre a vocal... Na música instrumental, contudo, a Arte é independente e livre, fixa para si própria as suas leis, improvisa na fantasia, brincando, sem um objetivo, e realiza e alcança, contudo, o objetivo mais elevado; segue inteiramente os seus impulsos obscuros e exprime o que há de mais profundo, de mais maravilhoso, com o seu brincar. Os coros plenos, as peças a várias vozes complexamente elaboradas com toda a arte, constituem o triunfo da música vocal; mas o supremo triunfo, o mais belo louvor dos instrumentos são as sinfonias (idem). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 60 JOHANN LUDWIG TIECK (1773-1853) Escritor alemán, que fue uno de los líderes del romanticismo germánico. Nació en Berlín y estudió en las universidades de Halle, Gotinga y Erlangen. Aunque produjo numerosos poemas, obras de teatro y novelas, y tradujo El Quijote y muchas de las obras de Shakespeare, la fama actual de Tieck se debe a sus cuentos populares y a sus versiones satíricas de los cuentos de hadas para el teatro, como la todavía popular El gato con botas (1797). Entre sus novelas, que tienden hacia lo mórbido y lo fantástico, destacan La historia del señor William Lowell (3 volúmenes, 1795-1796), escrita en forma epistolar; Vida de poeta (1826) y El joven ebanista (1836). Sus más conocidos cuentos populares fueron Eckbert el rubio (1796) y La montaña de las runas (1802). JOHANN LUDWIG TIECK (1773-1853) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 61 Sext o capit ulo, p. 90 MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE DAHLHAUS: A RELIGIÃO DA ARTE: SCHLEIERMACHER (dá o nome) + WACKENRODER (a experiência original, ... um amor et erno e ilimit ado...) + TIECK (est abelece o dogma) __ expressão da nost algia do recolhiment o [refúgio, ret iro] ... uma cont emplação cuj o carát er est ét ico se t ransforma espont aneament e em carát er religioso pietismo e sentimentalismo ̶ ; ̶ Johann Friedrich REICHARDT (1752–1814) Compositor e ensaísta musical alemão, violinista virtuoso e tecladista... Antecedente (p.90) ; = ̶ ̶ ... escrit ores do pré-romant ismo alemão .... ; SCHLEIERMACHER (†1834) WACKENRODER(†1798) ̶ ̶ TIECK (†1853) Goet he (†1832) ? HOFFMANN (†1822) ; Schumann (†1856) ... Sempre ansiei essa libertação e esse gosto de refugiar-me na terra tranqüila da fé, no verdadeiro território da arte... ... Fecho os olhos e me refugio tranqüilo na terra da música, como se fosse a terra da fé... (cit ações, p. 90) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 62 Sext o capit ulo, p. 91 MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE DAHLHAUS: [p. 91]... a origem da Religião da Art e [...] parece est ar, ao menos em part e, na capa de piet ismo e sent iment alismo que foi de import ância básica para a pré hist ória de t odo o Romant ismo. Piet ismo? Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 63 ABBAGNANO, p. 732-733 PIETISMO Uma reação cont ra a ort odoxia prot est ant e que se det erminou na Europa Set ent rional e especialment e na Alemanha na segunda met ade do século XVIII. [Figuras proeminent es foram Felipe Spencer (1635-1705) e August o Franke (1663-1727)]. Ao enfat izar a dimensão experiencial da fé o piet ismo [caract erizado como ‘ emocional’ ] pret endia volt ar às t eses originárias da Reforma: livre int erpret ação da Bíblia e negação da t eologia; cult o int erior e moral de Deus e negação do cult o ext erno, dos rit os e de t oda organização eclesiást ica; empenho na vida civil e negação das denominadas “ obras” de nat ureza religiosa... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 64 ROMANTISMO E CLASSICISMO | Anat ol Rosenfeld / J. Guinsburg in GUINSBURG, J. O Romant ismo. S.P. : Perspect iva, 1985 PIETISMO Out ro fat or que t ambém pesa nas origens do Romant ismo é um surt o de pietismo que, na Alemanha, de ent ão, se coloca cont ra a ort odoxia prot est ant e oficial, ext remament e racional. De fort e t eor míst ico, recusa os padrões obj et ivos da religião, pregando a experiência fervorosa. Import a-lhe sobret udo a experiência religiosa que se processa na int imidade subj et iva do indivíduo e que o conduz, pelo exercício int enso e sincero da emoção e do sent iment o devot os, ao êxt ase e à cont emplação beat íficas. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 65 ROMANTISMO E CLASSICISMO | Anat ol Rosenfeld / J. Guinsburg in GUINSBURG, J. O Romant ismo. S.P. : Perspect iva, 1985 PIETISMO A espera do moment o de iluminação que deverá revelar-lhe algo da graça divina, o crent e passa a vida observando-se, numa aut o-análise const ant e e minuciosa. Com isso, vai psicologizando nat uralment e a prát ica religiosa, senão a própria religião. [...] Ora, além de cruzar-se no t empo com um moviment o dessa nat ureza, o Romant ismo privilegia, ainda que por via ant es art íst ica e secular, t endências e buscas similares cuj o foco e âmbit o preferenciais t ambém se sit uam no int erior do suj eit o, de seu ego e mundo psíquico, e que t ambém desembocam, com grande freqüência, em aspirações e indagações religiosas. Mais ainda, não há de ser mero acaso ou coincidência que um dos principais precursores da corrent e românt ica t enha sido Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), calvinist a convert ido ao cat olicismo e depois reconvert ido ao credo prot est ant e... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 66 ... a elevação e recolhim ent o est ét ico- religioso det erm inou um novo m odelo de escut a... [ A CONTEMPLAÇÃO ESTÉTI CA COMO RECOLHI MENTO ( p.79) _ capít ulo 5] Coment ário de José Carlos GUTIÉRREZ EXPRESIÓN Y SENTIDO. NIETZSCHE Y LA ESTÉTICA DE LA MÚSICA INSTRUMENTAL Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 67 EXPRESIÓN Y SENTIDO. NIETZSCHE Y LA ESTÉTICA DE LA MÚSICA INSTRUMENTAL | José Carlos GUTIÉRREZ Pont ificia Universidad Cat ólica del Perú ht t p:/ / www.pucp.edu.pe/ revist a/ est udios_filosofia/ num5/ expresion_sent ido.pdf WACKENRODER: La posibilidad de ent ender la música como una est ruct ura significant e por sí misma det erminó, a su vez, la inst auración de un nuevo modelo de escucha y recepción de la obra que exigía, j ust ament e, at ender sólo al caráct er discursivo de las formas. Una idea clara de est e modelo de escucha nos lo ofrece WACKENRODER5 en su novela La singular vida musical del compositor Joseph Berglinger: Cuando Joseph asistía a un gran concierto, se sentaba en un rincón, sin mirar al brillante auditorio de oyentes, y escuchaba con la misma devoción que si estuviera en la iglesia, igualmente en silencio e inmóvil, y con los mismos ojos mirando el suelo ante sí. No se le escapaba el más pequeño sonido, y al final acababa totalmente fatigado y cansado por la tensa atención... WACKENRODER, La singular vida musical del compositor Joseph Berglinger, en: La estética musical del romanticismo, Anuario Filosófico, vol. 29, n 1(1996), p. 237. Cf. DAHLHAUS, p. 81- 82; VI DEI RA, p. 72 ......... 5 WILHELM HEINRICH WACKENRODER (1773-1798). Poeta e historiador da arte alemán. Fue uno de los miembros más influyentes del “Cenáculo de Jena” y refrendario del Tribunal de Berlín. Sus obras, escritas en colaboración con L. Tieck (Efusiones sentimentales de un monje enamorado del arte, 1796) o terminadas por éste (Fantasías sobre el arte para los amigos del arte, 1799), tuvieron gran influencia en la formación del gusto artístico y literario de la nueva cultura del romanticismo. Obras: “La memorable vida musical de Joseph Berglinger”, “De dos lenguajes maravillosos y de su misterioso poder"... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 68 Ent re el rit o y la t ecnología: La banda sonora de nuest ras vidas Juan Pablo GONZÁLEZ / Inst it ut o de Música UC | revist a universit aria / Nº 92 2006 / 47 WACKENRODER: ... cont rast ando con las cont inuas ent radas, salidas y conversaciones de los oyent es arist ocrát icos durant e los conciert os en palacio, el público masivo del XIX desarrolló la audición silenciosa y concent rada que se mant iene hast a el día de hoy. Es como si no dej áramos de sorprendernos por una música que durant e siglos est uvo reservada para los de palacio. El j oven poet a alemán Wilhelm WACKENRODER (1773-1798) anunció est a nueva act it ud de escuchar música, describiéndola con las siguient es palabras: Cierro los ojos a toda la guerra del mundo y tranquilamente me retiro hacia la tierra de la música, como aquella de la fe, donde todas nuestras dudas y sufrimientos se pierden en un mar de sonidos, donde olvidamos todos los gruñidos del hombre, donde ningún parloteo nos marea y todo el temor de nuestro corazón es sanado de una vez al ser gentilmente tocado por la música. Y no sabemos por qué. Wilhelm Heinrich Wackenroder , (1773-1798) (DAHLHAUS, p. 90) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 69 Sext o capit ulo, p. 91 MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE DAHLHAUS: A herança religiosa t am bém t ransparece na Religião da Art e de Wackenroder e Tieck nas caract eríst icas [ e inclusive m aniqueíst as] oscilações do piet ism o ent re: na religião na arte Elevação e recolhim ent o est ét icoreligioso Confiança x desespero diant e da fé x t em or de que a religião da art e não t enha sido senão um a superst ição. ; ( p.91) A partir dessas antíteses DAHLHAUS retoma [completa ou atualiza para os séculos XVIII e XIX] a CADEIA DE ANTÍTESES enunciada nas p. 48-52: a primeira x segunda prática, La Querelle des anciens et des modernes, melodrama francês x melodrama italiano, Rameau x Rousseau, etc... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 70 CADEIA DE ANTÍTESES: 1814: E.T.A. HOFFMANN Velha e nova música religiosa Concorrência hist órico-filosófica ent re art e religiosa x religião da art e Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 71 “…toda a vida era pra ele sonho e pressentimento.” “ O Homem de Areia” (Der Sandmann), E.T.A.HOFMANN ERNST THEODOR AMADEUS HOFFMANN (1776-1822). Nasceu em Königsberg (Prússia), em 24 de janeiro de 1776. Magistrado, crítico musical, diretor de orquestra, caricaturista e literato ilustre. Antes de escrever os seus célebres Contos fantásticos, fora diretor musical do Teatro de Bamberg e diretor de orquestra em Leipzig. Morreu em Berlim, em 25 de junho de 1822. Escreveu artigos notáveis sobre a música de Beethoven, seu contemporâneo, além de óperas, música religiosa, coros à capela, uma sinfonia, 4 sonatas para piano, música de câmara, melodias, bem como numerosos artigos sobre música. E.T.A. HOFFMANN Referências: E. T. A. Hoffmann (1776-1822). Recensão da Quinta Sinfonia de Beethoven. (1810). Disponível em: aulasdalia@yahoogrupos.com.br E. T. A. Hoffmann. Rewiew: Beethoven´s Symphony nº5 in C minor (1810). In: BENT, Ian (ed). Music analysis in the nineteenth century. V.II. Hermeneutic Aprroaches. Cambridge, University Press, 1994. p. 141. BENT, Ian D. Analysis, with a glossary by William Drabkin. London: Macmillan, 1987. p. 22 e 23. VERMES, Mônica. Schumann, Hoffman e o cânone ocidental. In Anais do VI Fórum do Centro de Linguagem Musical – CLM. São Paulo. ECA. USP, 2002. P. 86. VIDEIRA, Mário. Música e filosofia no romantismo alemão. In Anais do VI Fórum do Centro de Linguagem Musical – CLM. São Paulo. ECA. USP, 2005. p. 57. VIDEIRA, Mário. O Romantismo e o Belo Musical. São Paulo: Editora UNESP, 2006. p. 76. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 72 1814: E.T.A. HOFFMANN, Velha e nova música religiosa. DAHLHAUS ( p. 92- 96) : CADEIA DE ANTÍTESES: Concorrência hist órico-filosófica ent re art e religiosa x religião da art e Panoramas diferentes na: & Pintura Antigos................. ............. Modernos Art e religiosa Religião da Art e Momento cristão... Momento romântico “já não é substancialmente cristão....” Pint ores do renasciment o: 6 o mais alt o grau da art e... Em habilidade t écnica os ant igos superam os modernos... A at rofia da subst ância crist ã... * época que vai de Palest rina a Handel “Espírito do cristianismo” “Glória do cristianismo” Música Tempo nostálgico... irremediavelmente passado... monumento de recordação e não de imitação, impossibilidade de uma restauração... ; 6 (os pintores modernos são imitadores dos antigos...) A decadência espirit ual t raz consigo uma decadência t écnica ' Sinfonismo de Beet hoven “Espírito da natureza” “Vislumbre do Infinito” o desenvolvimento técnico atrelado ao desenvolvimento do espírito Em habilidade t écnica os músicos modernos superam os ant igos... ambas significam a mais alt a expressão musical da “época moderna, cristã, romântica” : Hoffmann cita (p.92): RAFAEL Sanzio, pintor italiano (1483-1520); Albrecht DÜRER, pintor alemão, (1471-1528) e Ambrosius HOLBEIN, pintor alemão (1495-1519). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 73 ... é o início da “ Deificação de Beet hoven...” [ROSEN, Formas de Sonat a, pág. 15] ̶ DAHLHAUS, p. 116 ... Modernos ... para HOFFMANN: _o progresso na t écnica composit iva est á ligado ao progresso do espírit o... Na art e o espírit o est á firmement e aderido ao det alhe t écnico (coisa que Hegel não percebe, pois lhe falt a a experiência diret a)... _a música inst rument al (e não a vocal) pode falar das maravilhas do “ reino dist ant e” ... _o espírit o impulsor do mundo se manifest a na riqueza da música inst rument al moderna... _ as sinfonias de Beet hoven [a música inst rument al] são t ambém “ música religiosa” [a religião de uma época que aspira uma espirit ualização ant erior... uma nova música eclesiást ica... de uma religião cuj a subst ância, para além da forma, est á no inominável... ]... represent am o est ágio de desenvolviment o que a crist andade _ graças ao espírit o impulsor do mudo _ alcança... sempre, cont inuament e... as “ maravilhas do reino dist ant e” ... ... “ maravilhosa comunidade de espírit os enlaça, em mist eriosa união, passado, present e e fut uro” ... (p.93-96) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 74 DAHLHAUS ( p. 95) | CADEIA DE ANTÍTESES: O modelo hermenêut ico de Hoffmann [como est et a da música] se orient a pelo encadeament o de dicot omias: antigo pagão clássico momento cristão x x x x moderno cristão romântico momento romântico etc. Modelo que t êm origens (musicais) na prima x seconda prattica e, (na hist ória das idéias), na Querelle anciens x modernes Esse sist ema [que se funda na filosofia da religião (p.99)] & de cat egorias maximament e cont rapost as aparece em & Hegel (†1831) Hoffmann (†1822) 1805 Fenomenologia do espírito [§Religião da Arte]. . . . . . . . . . . 1835 Estética... 1810 Recensão da Quinta Sinfonia de Beethoven 1814 Velha e nova música religiosa. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 75 DAHLHAUS (p. 96-97) chama a at enção – em várias passagens do t ext o - para uma necessária diferenciação ent re o pensament o de Hoffmann [para quem a idéia de música absolut a é primordial] e Hegel [para quem a “ música absolut a” t em lugar secundário]: Hegel [se diferenciado de Hoffmann e dos escrit ores românt icos] pert ence à t radição da “ palavra” [palavra pensant e, lógos] – por isso, a concepção da música absolut a [sem palavra, “ linguagem mais além da linguagem” , et c.] é para ele alheia ilusória [para Hegel a hist ória da filosofia da art e culmina na poesia, e a odisséia do espírit o universal culmina na filosofia... e não na música!]... ___ mas, a met afísica românt ica da música inst rument al t em lugar no sist ema est ét ico de Hegel [Hegel (†1831) evident ement e percebe a música de seu t empo]. Um lugar secundário... Para Hegel, se a música é vocal, cont a com o “ cont eúdo” de um “ significado” det erminado; porem, em se t rat ando de música inst rument al, a música expressa soment e um “ ambient e” indet erminado, sugerido, induzido... se a música se ret rai por complet o em si mesma [t endência inat a na música] ela se t orna vazia e abst rat a... _ a música [at ual, inst rument al] se ret irou em seu próprio element o, em t roca perdeu força quant o a int erioridade complet a [a capacidade de expressar um cont eúdo t al e como est e vive na subj et ividade de nosso sent iment o (p. 97)]... o gozo que pode oferecer se limit a a uma única face da art e [mero int eresse pelo aspect o est rit ament e musical... a dest reza t écnica ... coisa que só int eressa aos ent endidos...] “ esvaziada do cont eúdo espirit ual e sua expressão, não pode ser considerada como art e” ... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 76 Em Hegel: __ a música como “ art e” [ou “ t écnica” ] ganha o que perde em “ espírit o” e em “ int eresse subst ancial” [p.93]... __ o que a música perde [em sua int erioridade, ou subj et ividade abst rat a], ganha como “ música” , como expressão de “ si mesmo sem out ro cont eúdo” [p. 97]... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 77 Justamente essa música que tende à abstração [“ absoluto, puro arte musical” ] é que, para amálgama de idéias interior totalmente sem objeto absoluto abstração Wackenroder (†1798) pura arte Hanslick (†1904) Hoffmann (†1822) Hegel (†1831) Tieck (†1853) éa subjetividade “verdadeira” música expressão de si mesmo inteiramente vazio interioridade formal os puros sons ... (p. 97) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 78 ... mas, para Hegel Na medida em que a música se volt a para si mesma, se dist ancia do “ cont eúdo” que para Hegel, se baseia a “ função cult ural” [a música inst rument al, ao cont rário da art e grega (art e clássica), rompe com a ETICIDADE] [p.97] Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 79 Márcia C. F. GONÇALVES (UERJ - Brasil) A Dialética entre Arte e Conceito na Fenomenologia do Espírito de Hegel Revist a Elet rônica Est udos Hegelianos | Revist a Semest ral do Sociedade Hegel Brasileira - SHB. | Ano 2º - N.º 03 Dezembro de 2005. A passagem que exprime clarament e a relação dialét ica ent re art e e conceit o se encont ra no parágrafo “ Die Kunst -Religion” , que descreve não apenas uma “ bela religião” (expressão que Hegel ut ilizava em seus primeiros escrit os para descrever t ant o a religião da ant iga Grécia, quant o a da Roma pré-crist ã), mas algo que é um mist o ent re art e e religião. A religião da art e ou a art e-religião se faz present e na cult ura da Grécia ant iga (pensada por Hegel) como absolut ament e int erligada ao fenômeno da et icidade. ETICIDADE: No hegelianismo, concret ização social, inst it ucional e hist órica, corporificada especialment e na organização perfeit a do Est ado, de impulsos que ant eriorment e foram merament e subj et ivos, individuais, pessoais, em prol do bem e da exist ência moral (HOUAISS). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 80 1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e A escult ura ant iga como ideal do “ plást ico” exterioridade, da aparência plásticoespacial A sinfonia moderna como ideal do “ musical” a música é a arte de interioridade – a arte da idade moderna, cristã e romântica DAHLHAUS ( p. 95- 98) : CADEIA DE ANTÍTESES: Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 81 1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito DAHLHAUS ( p. 95- 98) : CADEIA DE ANTÍTESES: Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e Objetividade finitude limitação... superior como fenômeno est ét ico... [função social, Et icidade] Subjetividade infinita... Interioridade absoluta... superior como grau evolut ivo do espírit o ... (p. 98) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 82 1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e Point de la perfection ... na forma estética a idéia religiosa não só estava simbolizada, mas sim imediatamente presente... (p.101) No sistema e na filosofia da história de Hegel a sinfonia é a Música, [a música instrumental] e pode significar: _ Não captar a realidade externa do fenômeno, mas sim seu significado ideal... _ Expressar um conteúdo tal como esse conteúdo vive na subjetividade do nosso sentimento... DAHLHAUS ( p. 95- 98) : CADEIA DE ANTÍTESES: Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 83 1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e Unidade unitária da forma – afinidade com a fé grega nos deuses que predica deus como materialidade objetiva (limitadas nas antigas estátuas dos deuses plástica) Afinidade com o cristianismo que predica Deus como espírito ↓ Pressiona para alcançar um mais além da “objetividade” e da “finitude” DAHLHAUS ( p. 95- 98) : CADEIA DE ANTÍTESES: Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 84 1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e “A interioridade formal, os puros sons” (Lei do movimento da música) “submergir, retrair” É, ao mesmo tempo um apartar-se e um libertar-se... é um esvaziar e um formalismo, uma perda da substância... “retrair-se a própria liberdade de seu interior”... DAHLHAUS ( p. 95- 98) : CADEIA DE ANTÍTESES: Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 85 1805: HEGEL, Fenomenologia do espírito Concorrência hist órico-filosófica ent re art e clássica x religião da art e A Unidade de idéia e aparência ainda não foi alcançada... Essa unidade se dest rói novament e porque o espírit o, em vez de se fundir com o fenômeno est ét ico, t rat a de superá-lo... DAHLHAUS ( p. 95- 98) : CADEIA DE ANTÍTESES: Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 86 Sext o capit ulo, p. 98 MÚSI CA I NSTRUMENTAL E RELI GI ÃO DA ARTE DAHLHAUS | WEISSE (p. 98-101): Hegel Hanslick 1830 Sistema de estética ̌ Christ ian Hermann Weisse ̶ (1801-1866) 1835 Estética... ... a t eoria de Weisse sobre a música inst rument al t em lugar dent ro do espírit o hegeliano da filosofia do absolut o... ... t eólogo prot est ant e e filósofo ... 1854 Do Belo Musical ... e ant ecipa o formalismo de Hanslick... (p. 100). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 87 (?) espírit o hegeliano da filosofia do absolut o... ESPÍRITO: no hegelianismo, princípio dinâmico, infinit o, impessoal e imat erial que conduz a hist ória da humanidade, e que se concret iza plenament e nest e processo em seu final, quando se manifest a no ser humano como plena razão e liberdade (HOUAISS). ESPÍRITO ABSOLUTO: os graus últ imos da realidade, aqueles em que se revela a si mesma como princípio aut oconscient e infinit o na RELIGIÃO, na ARTE e na FILOSOFIA (ABBAGNANO, p. 3). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 88 Christ ian Hermann Weisse: _ A art e espirit ualment e mais evoluída é t ambém est et icament e mais perfeit a... (p.98). _ É na art e que culmina a odisséia do espírit o universal (e não, como pensava Hegel, na religião e na filosofia para onde o espírit o t ende quando deixa para t raz a art e) (p.99). _ O som no qual se manifest a a idéia é o som inst rument al “ art ificial” , a diferença do som nat ural da voz humana; é essa “ art ificiosidade” que – como coloca Hanslick - t orna a mat éria musical “ capaz de espírit o” (p.99). _ A art ificiosidade inst rument al é capaz de “ limpar” t odo significado finit o e específico, que, como cont eúdo alheio, t urva e est orva o absolut o espirit ual que deve ser most rado... (p. 100). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 89 1830 | Christ ian Hermann Weisse | Sistema de estética ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ Ideal clássico ̶ ̶ progresso Ideal românt ico ..................................................................... Ideal Moderno O moderno (arte) como Um serviço divino da beleza pura... consciência religiosa: ... a religião é art e e a art e é religião... Estabeleceu-se a partir do mito... Estabeleceu-se a partir do cristianismo... Manifestação ideal: Música inst rument al absolut a. (A mais abstrata ... a mais jovem das artes... o som instrumental “artificial” x som da voz natural) cit ação (p. 99-100) absoluto (espírito divino) sem relação imediata com o que desperta no espírito finito do homem _ sentimentos sem objeto, livres de condicionantes terrestres (“atributos do espírito absoluto, divino”) (p.99) Sist ema t ripart ido de Weisse _ metafísica da música instrumental > sacralizada Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 90 1830 | Christ ian Hermann Weisse | Sistema de estética _ Weisse aplica a música inst rument al moderna aquilo que Hegel dizia da ant iga est át ua dos deuses. [que em sua forma est ét ica a idéia religiosa não só est ava “ simbolizada” , mas sim imediat ament e present e] Nela culmina a hist ória universal da art e; no final hist órico surge a origem ont ológica [o ser em si mesmo]... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 91 _ enquant o Hegel considerava a abst ração do cont eúdo como um esvaziament o da música, para Weisse essa abst ração se most ra a verdade da art e... _ Weisse [figura marginal da hist ória da filosofia] é um aut ênt ico apóst olo de uma religião da art e que gira em t orno da idéia de uma art e “ pura” . (p. 101) [fim] Beet hoven, aut ógrafo da primeira página da Sonat a Waldst ein, Op. 53 (1803-04). _ 7º capit ulo, p. 103 LÓGICA MUSICAL E CARÁTER LINGUÍSTICO Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 93 p. 103 | LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO Tent ar explicar a idéia de aut onomia est ét ica exclusivament e pela hist ória social seria insuficient e, pois o pensament o aut ônomo necessit ava além de mot ivos sócio-psicológicos, de um obj et o adequado para agarra-se, nesse caso a música inst rument al de qualidade pública reconhecida. No ent ant o a m úsica concert ist a dos fins do século XVI I I foi concebida dent ro de um a cult ura social de sent im ent o, na qual a classe burguesa procurava ent ender a si m esm a. Era um a est ét ica de represent ação e de ação, um m eio de form ação cult ural. Exemplo: Haydn queria represent ar em suas sinfonias caract eres morais (GRIESINGER) 1 1 Franz Joseph Haydn (1732-1809) GEORG AUGUST GRIESINGER (1769-1845). Minist ro saxônio em Viena e aut or de uma biografia de Haydn (1810). Conheceu Beet hoven a part ir de 1802, ou ant es, e at uou como int ermediário para subscrição da Missa Solemnis pelo rei da Saxônia (Font e: Beet hoven, um compêndio). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 94 p. 104 | LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO Para que a est ét ica românt ica pudesse fazer essa t roca de sent ido de forma consist ent e, ela vai se valer da lógica musical, elegendo os element os t écnicos e est ét icos como caract eríst icas int rínsecas da música: “ um conceit o que est á que est á est reit ament e ligado com a consideração do carát er lingüíst ico” (DAHLHAUS). A música como discurso sonoro, como desenvolviment o de pensament os musicais, exist e para ser escut ada por si própria, sem est ar associada com alguma det erminada finalidade. Esse conceit o não era comum nos fins do século XVIII. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 95 p. 104- 105 | LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO Crít ica da lógica musical (1769) - Herder 2 _ (p.104) Herder Est abeleciment o do conceit o Forkel 3 (duas décadas depois). Esse conceit o defendia o cont ext o harmônico como uma lógica da música, pois o carát er expressivo de um int ervalo depende do mesmo. Exemplo: ré-si bemol sobre sol menor e sobre si bemol maior 2 Forkel (p.105). Johann Got t fried Herder (1744-1803). Escritor alemão, crítico literário e clérigo. Estudou teologia em Königsberg onde absorveu a filosofia de Kant. Chamou a atenção dos intelectuais alemães em um encontro em Riga, com o seu Fragmente über die neuere deutsche Literatur (Fragmentos sobre a nova literatura alemã) publicado em 1767, com o qual praticamente lançou os fundamentos do movimento literário alemão Sturm und Drang (Tempestade e impetuosidade) de cunho nacionalista, que ganhou força por volta de 1770. Goethe, foi seu aluno em Strasburg. Herder publicou em 1772 um de seus trabalhos mais notáveis Über den Ursprung der Sprache (Sobre a origem da linguagem). Neste tratado ele sustenta que a linguagem e a poesia são necessidades espontâneas da natureza humana, mais que dons especiais. Em 1773 reuniu textos de canções populares de toda a Europa em seu Volkslieder, publicado de 1778-79, e fez um ensaio sobre o fortemente expressivo teatro de Shakespeare. Em sua valorização do nacionalismo foi mais longe, estendendo-a a uma interpretação da História em Ideen zur Philosophie der Geschichte der Menschkeit (Idéia sobre a filosofia da história da humanidade). Por influência de Goethe foi nomeado pregador da corte em Weimar, em 1776 e foi, juntamente com Goethe, membro de uma sociedade secreta, os Illuminati, (Maçonaria Iluminada)", ganhou grande prestígio entre nobres e intelectuais na Europa, sendo extinta pelo clamor público, bula papal e, principalmente, interferência do governo da Bavária que instituiu em 1787 pena de morte para os membros renitentes (http://www.cobra.pages.nom.br/fc-herder.html). 3 Johann Nikolaus Forkel (1749 - 1818) - musicista, musicólogo e teórico alemão. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 96 p. 106- 107 | LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO Assim a est ét ica românt ica que via na música inst rument al uma art e musical pura e absolut a, originava um conceit o dist int o de lógica musical (Schlegel). 4 _ associação de composições com pensament os filosóficos de linguagem musical e linguagem falada. Friedrich von Schlegel (1772-1829) 4 Friedrich von Schlegel (1772-1829). Lingüista, crítico literário e filósofo alemão que desenvolveu a concepção de que a poesia deve ser ao mesmo tempo filosófica e mitológica, irônica e religiosa, iniciando o primeiro movimento romântico alemão. Irmão do poeta, tradutor e crítico August Wilhelm von Schlegel (1767-1845). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 97 p. 106- 107 | LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO Se Schlegel t irava a música da esfera sent iment al da sociedade para elevá-la a uma abst ração que ganhava sent ido at ravés de sua cont emplação est ét ica solit ária, não podia buscar a lógica que necessit ava uma música aut ônoma, no conceit o de Forkel, da lógica harmônica. No lugar dest a, Schlegel defende a lógica t emát ica. Uma lógica que era formada em conj unt o, sendo ao mesmo t empo t emát ica e harmônica. Essa disposição t onal e esse processo t emát ico5 são element os que const it uem a forma musical. Friedrich von Schlegel (1772-1829) A forma por sua vez, permit e à música sust ent arse por si própria e possuir aut onomia (Dahlhaus). 5 Cf. RÉTI, Rudolph. The thematic process in music. Westport: Greenwood Press, 1978. SCHOENBERG, Arnold, Fundamentos da composição musical. São Paulo: Edusp, 1991. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 98 O est ado da art e: o t rabalho t emát ico-mot ívico alcançado por Haydn e Beet hoven. A música instrumental pura não tem que produzir por si mesma um texto? E nela não se desenvolve, confirma, varia e contrasta o tema, tal como se faz com o objeto de meditação numa série de idéias filosóficas? SCHELEGEL apud VIDEIRA, 2004, p. 61 A observação de Schelegel est á diret ament e inspirada pelo est ilo de sonat a do século XVIII t ardio e pelo element o que mais evident e aos ouvint es do concert o público: o t rat ament o de t ema. [...] a sonat a chegou a represent ar um padrão que é t ão fundament al, que é como se ela cont ivesse os element os da razão (ROSEN apud VIDEIRA, 2004, p. 61). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 99 LÓGI CA MUSI CAL E CARÁTER LI NGUÍ STI CO Hanslick Meio século mais t arde os conceit os de forma e t ema se sit uariam como cent ro da est ét ica musical at ravés do t rat ado “ Do belo musical” de Hanslick, defendendo a forma como algo absolut o por não possuir det erminações ext ramusicais. O aut or diz que não se devia buscar a essência da música no carát er poét ico (comum às demais art es), e sim na forma sonora, que era especificament e musical. Dahlhaus cit a aut ores como Hanslick, Humboldt , Hegel e Kierkegaard que defendem a idéia de que a música é uma linguagem, afirmando que: A música absolut a é realment e uma linguagem, porém uma linguagem que não est á por cima, e sim por debaixo da linguagem das palavras (p. 113). [fim] Brahms Wagner Bach Beet hoven _ 8º capit ulo, p. 116 DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA Bruckner Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 101 p. 116 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA1 Na met ade do século XIX, a burguesia alemã havia consolidado Bach e Beet hoven como a t radição da grande música, como soberanos do “ reino do espírit o” at ribuído à música inst rument al por Hoffmann, e apresent ando em comum o “ poét ico” que Tieck considerava como essência da “ pura, absolut a art e musical” . Obras emblemáticas: O “cravo bem temperado” de Bach e as Trinta e duas sonatas de Beethoven, obras que foram denominadas na Inglaterra como os 48 e as 32. 1 Paráfrase ao título do livro “Duas culturas da música” de August Halm (1869-1929). Cf. Dahlhaus, p. 121. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 102 p. 116 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA Com Wagner essa associação ganha acent os nacionalist as. Para ele a obra sinfônica de Beet hoven represent ava a quint essência da música2, e j unt ament e com Bach represent ava o “ espírit o Alemão” . Dessa forma o que era uma simples agrupação dos clássicos da música para t eclado, se t ransformou no mit o da música alemã. Mit o do qual Schöenberg vai part icipar t ambém, ao afirmar em 1923 que, com o descobriment o do dodecafônismo se garant ia o predomínio da música alemã por mais 100 anos. 2 Opinião expressa em seu artigo: O que é Alemão? (Was ist deutsch?), escrito em 1865 e publicado em 1878. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 103 p. 118 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA Schumann t inha a idéia ut ópica do surgiment o de uma “ nova era poét ica” , que sint et izasse as t endências do grande passado e avançasse um passo em direção ao reino espirit ual da art e. Ent re o final de século XIX e início do século XX, surgem opiniões divergent es sobre quem represent aria essa nova era, qual composit or viria depois de Bach e Beet hoven? Clara Schumann (1819 - 1896) e Robert Schumann (1810 - 1856) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 104 p. 118 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA Brahms Baseadas em razões hist órico-filosóficas são apont ados Brahms, Wagner ou Bruckner como possibilidades para ocupar esse lugar. No ent ant o t odas essas especulações ocult avam o pensament o de represent ar uma nova era da música Alemã. Wagner Bruckner Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 105 p. 118-119 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA Melodia infinit a: 3 _ uma melodia onde cada not a é expressiva e persuasiva, que não é int errompida para dar lugar a fórmulas e gest os vazios (Wagner). Exemplo: O primeiro movimento da Sinfonia Eróica de Beethoven. (Sinfonia nº. 3, em mi bemol maior, op. 55, 1804). Esse conceit o de melodia infinit a concorda com a idéia da música como linguagem de Hanslick. Wagner, primeirament e, at ribui exclusivament e à Beet hoven o desenvolviment o do carát er lingüíst ico da música inst rument al, porém mais t arde reconhece que Bach t ambém t eve import ância nesse aspect o. 3 Termo surgido num ensaio de Wagner da década de 1870 int it ulado: A música do fut uro (Zukunf t smusik). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 106 p. 118-119 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA Art hur Schopenhauer (1788 —1860) Wagner, imbuído da met afísica de Schopenhauer defendia que a capacidade lingüíst ica da música era liberada por meio das palavras e da encenação, pois est as não negavam o que a música expressava e sim reflet iam o seu significado. “Texto e ação cênica são meras pontes para se chegar à contemplação metafísica do espírito da música.” Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 107 p. 118-120 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA \ Niet zsche Wagner Enquant o Nietzsche defendia Wagner como represent ant e dest a “ nova era poét ica” , Ernst Bloch (1885-1977) e August Halm (1869-1929) defendiam Bruckner como a t erceira cult ura da música. Ernst Bloch Bruckner Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 108 p. 122-123 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA Querela est ét ica do século XVIII: disput a ent re o predomínio da melodia ou da harmonia. _ Cult ura do t ema nas fugas de Bach (melodia) _ Cult ura da forma nas sonat as de Beet hoven (harmonia) A int erpret ação de Bruckner da fuga e da forma sonat a não é apenas uma combinação t écnico-formal, e sim uma incorporação por part e da sonat a, da cult ura t emát ica desenvolvida na fuga. Salient ando t ambém o alt o grau do desenvolviment o da harmonia de Bruckner, que vai t razer um novo cont eúdo para a melodia. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 109 p. 123 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA Ernst Kurt h (1886-1946) fornece uma t eoria e est ét ica da música absolut a at ravés de suas principais obras: • Um livro sobre Bach como t eoria do cont rapont o • Um livro sobre Wagner como t rat ado de harmonia • Um livro sobre Bruckner como t rat ado das formas musicais Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 110 p. 124 | DE TRÊS CULTURAS DA MÚSICA Ao final, essa discussão que se t ornou um problema insolúvel, foi um dos element os que mais impulsionou o desenvolviment o da música absolut a no século XIX e começo do século XX. Dahlhaus [fim] _ 9º capit ulo, p. 126 A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 112 p. 126 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA DAHLHAUS: em meio à apologias e polêmicas & O conceit o de MÚSI CA PROGRAMÁTI CA at ravessa os séculos XVI I I e XI X ‒ Argumentos cambiantes Fenômeno historicamente variável 0 não é o m esm o conceit o, nem = Estilisticamente [evidente]: diferentes meios compositivos usados para descrever, caracterizar ou narrar... [Haydn... Strauss...] ; Esteticamente [menos evidente]: diferentes idéias que sustentam o gênero... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 113 p. 126 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA XVI I I XI X 1800 1850 gênero pict órico expressão do sent im ent o m úsica program át ica o caract eríst ico o puram ent e poét ico - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Música I nst rum ent al absolut a Hanslick Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 114 p. 126 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA XVI I I XI X 1800 gênero pict órico 1796 e 1798 A Criação (Die Schöpfung) Joseph HAYDN (1732- 1809) 1808 Sexta Sinfonia, Pastoral Ludwig van BEETHOVEN (1770 - 1827) Exemplum Classicum Pict órico [ pint ura m usical] : - a arriscada em presa de dot ar a m úsica inst rum ent al de um cont eúdo que descrevesse um fragm ent o da nat ureza ext erior ou represent asse um a cena... Cf. list agem de com posit ores e obras descrit ivist as [ de Vivaldi a Sibelius] em CAZNOK, Yara Borges. Música: entre o audível e o visível. São Paulo: Editora Unesp, 2003. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 115 p. 126 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA XVI I I XI X 1800 m úsica program át ica O PROGRAMÁTICO: a narração musical de um relato. O poema sinfônico [talvez o gênero mais representativo do programático] pode ser descrito como uma obra instrumental baseada em uma narrativa poética ou em uma obra pictórica cuja fonte de inspiração é revelada ao público por meio de um programa [...]. Esse programa não tem função de “ajudar” o ouvinte a reconhecer as passagens descritivas, isso é desnecessário e ingênuo. Sua existência se deve ao anseio muito mais profundo, típico da alma romântica: o encontro total entre compositor, obra e ouvinte. O programa daria acesso aos movimentos afetivos e psicológicos nos quais o compositor estava imerso no momento de sua inspiração. O público teria, assim, facilitada sua almejada comunhão com a subjetividade do artista... CAZNOK, 2003, p. 96-97. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 116 p. 126 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA XVI I I XI X 1800 o caract eríst ico Música feit a “ à maneira de” , emprega um carát er especial gênero, est ilo, nacionalidade, et nia, idiomat ismo, época, et c. t ípico, t al como uma marcha ou alguma dança ... O caract eríst ico é programát ico porque induz o público à algo que est á fora da música... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 117 p. 126- 127 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA XVI I I XI X 1800 o puram ent e poét ico - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1850 Música I nst rum ent al absolut a Hanslick No poét ico musical [sem colocar em perigo a idéia de MÚSICA ABSOLUTA] _ há lugar para est ados de ânimo e inclusive para alusões a assunt os definidos [...] sempre que a música não saia do “ reino do maravilhoso” [onde Hoffmann sit ua a música absolut a] e evit e cair no prosaico (na insignificância do pict órico, do programát ico e do caract eríst ico)... PROSAICO [o opost o do “ purament e poét ico” ] Sem poesia, sem sublimidade; comum, t rivial, corriqueiro. Dest it uindo de nobreza, de belos ideais, aferrado ao lado prát ico e mat erial da vida... HOUAISS Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 118 Assim: ; ; ; ; ; : música absolut a deve ser ent endida t ambém como “ música não prosaica” ! ↓ Alemã Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 119 Música absolut a: música compost a para ser apreciada pelo seu valor int rínseco. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 120 Música absoluta: conceito crítico e filosófico que cuida da atribuição do valor estético. ‒ Música absolut a: música compost a para ser apreciada pelo seu valor int rínseco. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 121 p. 127 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Em 1860 as fort es disput as em t orno da legit imidade e da ilegit imidade da música programát ica se t ravam ent re dois part idos [CADEIA DE ANTÍTESES]: Neoalemães Karl Franz Brendel (1811-1868) ideólogo dos neoalemães x Formalistas Eduard Kanslick (1825-1904) ideólogo dos formalist as _ a est ét ica do “ especificament e musical” _ com a passagem da expressão sent iment al “ indet erminada” ao caract eríst ico e programát ico “ det erminado” , a música progrediu do sent iment o ao espírit o... _ na música o espírit o é forma e a forma é espírit o. _ Liszt complet a o que Beet hoven iniciou... _ a forma não é uma envolt ura ou recept áculo do cont eúdo (a idéia, o assunt o, o sent iment o), é a verdadeira essência da música... Karl Franz Brendel (1811-1868): _ a “ forma sonora em moviment o” é ela mesma o cont eúdo... Historiador da música, escritor e crítico alemão. Assumiu a editoria da Neuen Zeitschrift für Musik, de Schumann, a partir de 1845, até morrer. Figura influente nos círculos musicais alemães, Brendel usou sua posição para fazer campanha em favor da nova escola alemã de Wagner e Liszt e pela unificação cultural da Alemanha. Font e: Wagner, um compêndio, p. 27 _ “ espírit o em um mat erial capaz de espírit o” ... t odo cont eúdo programát ico é um acréscimo “ ext ramusical ” Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 122 p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA XVI I I XI X XX 1900 _ na passagem do XIX para o XX a disput a sobre os proveit os e inconvenient es da música programát ica não se prendem mais aos argument os de Brendel X Hanslick... _ a discussão caiu em um nível de ambigüidade na qual se perderam as linhas mais claras das idéias em quest ão ... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 123 p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Ambigüidade [chave] Quase t odos os defensores apaixonados da música programát ica [os “ pós-neoalemães” ] eram seguidores de Wagner... ‒ Mas Wagner mesmo, desde 1854, [j á assimilando a est ét ica de Schopenhauer], considerava a música programát ica como uma met afísica da música absolut a ! Art hur Schopenhauer (1788 —1860) Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 124 p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA A inversão de SCHOPENHAUER: A opinião (habit ual e fossilizada) de que em uma peça vocal o t ext o expressa o “ sent ido” conceit ualment e capt ado em conj unt o com a música que dot a a peça de “ reflexos sent iment ais” ... Foi reint erpret ada por Schopenhauer em sent ido cont rário: o sent iment o que a música mesma reflet e é aquilo que represent a o aut ênt ico “ sent ido” da obra [na peça vocal!], enquant o que um t ext o poét ico [palavras] ou uma ação cênica, quando “ subj az” a música, permanece t ot alment e secundário. O conceit ual ou cênico aparece como o lado ext erno, e o sent iment o ou afet o como o lado int erno. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 125 p. 128- 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA A opinião habit ual: a música “ ambient a” o t ext o... é uma t rilha sonora para o significado... A opinião de Schopenhauer (Wagner): a cena, a ação, a pant omima, o acont eciment o, o t ext o, o poema, os programas lit erários ou plást icos, o enredo da ópera... são uma espécie de t rilha ext ramusical para a música ... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 126 p. 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA ... a cena, a ação, a pant omima, o acont eciment o, o t ext o, o poema, os programas lit erários ou plást icos, o enredo da ópera... ... estão para a música na mesma relação que um exemplo arbitrário está para um conceito geral... [ p. 129 e 133] Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 127 p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA exemplo arbitrário Nossa hist ória narra as desvent uras de Valfredo ‘ o Medroso’ , Aleixo ‘ o Não me Queixo’ e Cleuzinha Tinhosa nas ruas da cidade baixa dos anos de 1940... conceito geral A AMIZADE Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 128 p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA ... Aquele que se abandona inteiramente à sugestão de uma sinfonia, como que vê passar diante de si todos os acontecimentos possíveis da vida e do mundo: e no entanto, quando se trata de recordar, não pode precisar nenhuma semelhança entre aquela peça musical e as coisas que flutuaram por sua mente... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 129 p. 128- 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA ... Os quadros particulares da vida humana, subjacentes à linguagem geral da música, nunca estão unidos a ela por uma necessidade ou uma correspondência completa... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 130 p. 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA ... O procedimento de ilustrar a música com um texto ou ação cênica não se diferencia substancialmente (mas sim apenas gradualmente) das divagações de uma imaginação que se deixa arrastar em uma sinfonia... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 131 p. 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA ... em ambos os casos, as visões e os conceitos [nos quais se reflete a interioridade, o afeto expressado musicalmente] são secundários e, em princípio, intercambiáveis... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 132 p. 128 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA exemplo arbitrário Nossa hist ória narra as avent uras do gat o Zulu, do lagart o Joaquim e da gralha Cibele nos bosques da Lagoa do Peri no inverno passado... conceito geral A AMIZADE Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 133 a música “ pode” , “ por exemplo” , t er cena, ação, pant omima, dança, acont eciment o ext ramusicais, t ext o, poema, programas lit erários ou plást icos, enredos... sem que isso t oque a MÚSICA ABSOLUTA Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 134 p. 129 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Formalistas Hanslick t ambém considerava os ‘ programas’ como ‘ ext ramusicais’ , agregados est ét icos não necessários para a música inst rument al e negava a subst ancial homogeneidade e a indissociabilidade de t ext o e música na música vocal... Na est ét ica rigorosa da Música Absolut a – sej a em Schopenhauer como em Hanslick – t ant o os ‘ t ext os da música vocal’ como os ‘ programas’ são t rat ados como acident es ‘ ext ramusicais’ , em princípio int ercambiáveis, são ‘ ext ras’ que uma imaginação musical que busca o essencial pode prescindir e desconsiderar. Neoalemães Antítese igualmente rigorosa Franz Brendel : _ da mesma maneira em que ocorre a int eração ent re suj eit o e fenômeno sonoro, o ‘ t ext o’ e o ‘ programa’ fazem part e do ‘ obj et o est ét ico’ que o ouvint e deve ret er conscient ement e para penet rar no “ significado” da obra... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 135 p. 129- 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA †1827 O documento de estética musical mais importante da interpretação wagneriana de Schopenhauer é o ensaio Beet hoven que Wagner escreveu em 1870 por ocasião do centenário de Beethoven... †1860 †1883 Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 136 p. 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA A met afísica de Schopenhauer t ransparece nos escrit os de Wagner: _ A música não é o meio e o drama o verdadeiro obj et ivo da expressão, mas sim, ao cont rário, a música expressa a essência, que apenas se reflet e no fenômeno verbal e cênico... Opera e drama, 1851 Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 137 p. 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA A met afísica de Schopenhauer t ransparece nos escrit os de Wagner: _ O drama musical: “ as ações da música feit as visíveis” Sobre a denominação “drama musical”, 1872 Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 138 p. 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA No ensaio Beet hoven, a respeit o do Quart et o em Dó sust enido menor op. 131, Wagner schopenhaureniano escreve que “se mostrava a imagem de uma jornada de nosso herói...” Mas isso não deve ser ent endido como um ‘ programa’ , nem como uma alusão biográfica... Wagner est ava convencido de que a biografia de um composit or não explica nada de essencial sobre o significado de sua obra... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 139 p. 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA “O largo Adágio introdutório [...] gostaria de designá-lo como o despertar pela manhã de um dia que em seu largo curso não há de cumprir nenhum de nossos desejos, nem um só! Porém, ao mesmo tempo, é a oração de um penitente, um consultar com Deus a fé em um bem eterno”... O que em uma leit ura superficial pode parecer uma ‘ explicação’ da música a part ir da biografia ext erna, é na realidade o esquema de uma biografia ‘ int erior’ , ‘ idealizada’ ... Wagner não reconst it ui a vida de Beet hoven para decifrar o sent ido da música, mas sim, j ust ament e ao cont rário, aprofunda o sent ido da música para capt ar uma biografia ‘ int erior’ ... e essa biografia int erior, segundo Wagner, não pert ence ao fenômeno est ét ico, a “ coisa mesma” ... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 140 p. 130 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Dificilmente perceberemos na audição nada disso (nada do ‘programa’), porque nos sentimos imediatamente obrigados a abandonar toda a analogia determinada, e a perceber só a manifestação imediata de outro mundo... Quem sabe seria possível captar algo desses processos, porém só até certo ponto, quando recuperamos a obra em nossa recordação... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 141 p. 131 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA XVI I I XI X * XX 1900 Assimilação por Wagner da est ét ica schopenhaueriana ; ) A t eoria da música programát ica alcançou uma enorme e complicada configuração na t ent at iva de j ust ificar sua prát ica & Const ruções conceit uais labirínt icas sobre: _o nascimento das obras e sua essência... _ os elementos biográficos e os estéticos... ) Herança que os compositores românticos mais modernos se sentiram ligados... * Sem renunciar os princípios schopenhauerianos (que elevavam a dignidade da música até o incomensurável) junto com a dependência de Wagner Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 142 p. 131-134 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Wagner: _modelo de pensamento platônico da estética tradicional das relações dialéticas entre Linguagem (t ext o, poesia); a dança e a ação cênica; argument os lit erários ou plást icos, programa com pret ensão de pert encer ao obj et o est ét ico... O ‘programa’ é tolerado porque não toca a substância – a essência absoluta - da música que não depende dele... O BELO É A APARÊNCIA SENSORIAL DA IDÉIA (Wagner) MOTIVO FORMAL: a ‘ razão de ser’ ; aquilo que faz a música surgir acont ecer (o que permit e sua realização)... origem empírica e obj et o de validação est ét ica Elementos da composição e da recepção < Não vinculante, porém nem por isso supérflua nem inadequada. : NIETSZCHE _ O Wagner schopenhaueriano separa o “ MOTIVO FORMAL” do “ ser” fenômeno É da ordem do EXEMPLO ARBITRÁRIO ESSÊNCIA ; Mesmo princípio = APARÊNCIA Elementos (programáticos) heterogêneos confundidos uns com os outros O lado empírico externo.... sofre intercambialidade... são as condições decodificadoras que permitem a enunciação da música... associações casuais... PARÁBOLAS HERMENÊUTICAS... É da ordem do CONCEITO GERAL nôumeno A “ vont ade” ; o “ ser” ; a “ idéia” ... obj et o da cont emplação est ét ico- met afísica... (o “ divino” )... : Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 143 p. 133-134 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Past oral Landscape, 1861. Art ist : Asher Brown Durand. Pict ure t aken at : Nat ional Gallery of Art , Washingt on, D.C., USA Inclusive quando o composit or usa imagens para falar de sua obra... Past oral, “ cena j unt o ao arroio” , “ Alegre reunião de camponeses” [...]... Tudo isso são apenas represent ações met afóricas... – e não obj et os imit ados pela música – represent ações que não podem nos informar de nenhum aspect o sobre a essência met afísica da música... NIETZCHE Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 144 p. 134 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Discussões da últ ima fase da música programát ica Ot t o Klauvel 1 A música programát ica renuncia as leis da formalíst ica musical e se amolda às considerações ext ramusicais... Richard St rauss É uma est upidez despachar como “ carent e de forma” o que não responde a um esquemat ismo fixo... 1 KLAUWELL, OTTO ADOLF (1851-1917). Profesor y compositor alemán. Fue alumno del Conservatorio de Leipzig, del cual fue luego profesor de piano, teoría e historia de la música y por último subdirector. Es autor de numerosas obras; entre las principales podemos mencionar: óperas (Das Mädchen vom See, Die Heimlichen Richter), oberturas, obras de música de cámara y para piano, canciones, etc. Asimismo, publicó obras de musicología y teóricas, tales como: Der Fingersatz der Klavierspiels, Die Formen der Instrumentalmusik, Geschichte der Sonate, Die Historische Entwicklung des musikalischen Kanons, Geschichte der Programm-musik, etc. http://www.LaEnciclopedia.com. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 145 p. 134 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Um programa poético pode muito bem impulsionar à novas formas... [...] é indiferente se um programa atua como “impulsor” ou não... [ao fim e ao cabo a música tem que ser feita de qualquer forma] Richard St rauss (1864 - 1949) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 146 p. 134-135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Se a forma musical – segundo Schopenhauer e Niet zsche – deve valer como “ forma essencial” (com um programa como reflexo do mundo fenomênico) – e não como “ forma aparent e” (com um cont eúdo programát ico como subst ância) -, ent ão deve fundament ar-se a si mesma. O “ em si ínt imo” da música programát ica – “ que não t em lugar” – é a música absolut a. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 147 p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Discussões da últ ima fase da música programát ica Em 1896, Gust av Mahler (1860-1911) reflet e sobre o sent ido dos programas e dos t ít ulos para suas 1ª e 2ª sinfonias... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 148 p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Discussões da últ ima fase da música programát ica Em 1896, Gust av Mahler (1860-1911) reflet e sobre o sent ido dos programas e dos t ít ulos para suas 1ª e 2ª sinfonias... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 149 p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA São document os eloqüent es da confusão que ent rou a t eoria da música programát ica herdeira da est ét ica schopenhaueriana... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 150 p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Mahler diferencia ent re programa “ ext erior” e “ int erior” : Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 151 p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Programa ext erior O ext erior pode assumir a função de ser um impulso para a concepção de uma obra e t ambém de fio condut or para sua recepção: Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 152 p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Programa ext erior ... na marcia funebre o impulso externo me veio do famoso desenho “O enterro do caçador”... é irrelevante o que se representa – o que conta é somente a disposição de ânimo que deve expressarse ... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 153 p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Programa ext erior Para Mahler [Wagner, St rauss] o programa [ext erior] é est et icament e irrelevant e: como um andaime, que se ret ira quando a casa que aj udou a const ruir est á t erminada... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 154 A composição engoliu o programa Adorno sobre a Sinfonia nº1 em ré maior, Titan (1884-1888; ver. 1906), de Gustav Mahler. O título original faz alusão ao romance Titan de Jean Paul. CSAMPAI, Attila e HOLLAND, Dietmar. Guia básico dos concertos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995. Theodor W. ADORNO (1903-1969) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 155 p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Se o programa ext erior se apresent a como uma série de ilust rações... & um element o superado / um veículo provisório Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 156 p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Se o programa ext erior se apresent a como uma série de ilust rações... & um element o superado / um veículo provisório O int erior é um processo de sensações... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 157 p. 135 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Programa int erior Minha necessidade de expressar-me musicalmente – sinfonicamente – começa ali onde imperam as sensações obscuras, no portal que leva ao outro mundo: o mundo em que as coisas já não se desmoronam por efeito do tempo e do lugar... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 158 p. 136 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Programa int erior ... chamei o primeiro movimento de “horas fúnebres”, e, se você quer saber, esse herói da minha Sinfonia em ré maior (Titan), que levo aqui ao túmulo e cuja vida, desde uma atalaia mais alta, capto em um espelho puro.... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 159 p. 136 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Programa int erior ... Ao mesmo tempo coloca-se a grande pergunta: Por que viveste? Por que sofreste? Será que tudo isso não é mais que uma grande e terrível mentira? Broma: zombaria, brincadeira, escárnio ... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 160 p. 136 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA O “ herói” não é o t it ã de Jean Paul 2... nem o próprio Mahler... e sim, mais propriament e, um “ argument o est ét ico” da música que – como o “ narrador” na novela ou o “ eu lírico” na poesia – pert ence a int egridade est ét ica da própria obra... 2 Johann Paul Friedrich Richter (Jean Paul, 1763-1825). Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 161 p. 136 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Programa int erior O programa “ int erior” não se há de buscar em um cont eúdo biográfico... Esse programa consist e em um “ processo sensorial” de sent iment os in abst ract o: “ obscuras sensações” ... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 162 p. 136 | A IDÉIA DO ABSOLUTO MUSICAL E A PRÁTICA DA MÚSICA PROGRAMÁTICA Os sent iment os liberados a part ir do exercício empírico formam a subst ância at ravés de cuj a sacralização – na est ét ica de Wackenroder e de Wasse – a musica absolut a se eleva à int uição do absolut o e escapa a acusação de ser uma “ forma vazia” . [fim] _ 10º capit ulo, p. 138 MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE” Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 164 p. 138-139| MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE” É difícil t raçar fios hist órico-ideológicos ent re a est ét ica musical românt ica alemã e a poesia simbolist a francesa. Os esforços em se est abelecer uma relação document al ent re os t ermos t êm sido em vão. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 165 p. 139 | MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE” O t ermo de Valéry “ poésie absolue” inclui uma reminiscência do conceit o de música absolut a, convert ido em lugar comum no século XX, [...], porém a denominação, que é post erior, nada diz sobre possíveis implicações de est ét ica musical na idéia poet ológica para a qual Mallarmé originalment e e j á desde 1863 se serviu do t ermo “ poesia pura” que vem se mant endo predominant e at é hoj e... Paul VALÉRY (1871-1945) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 166 p. 139 | MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE” No ent ant o essa relação é absolut ament e secundária, o int eressant e é perceber o parent esco do pensament o est ét ico ent re música e lit erat ura. Esquemat izar as relações est rut urais ent re est ét ica musical e t eoria poét ica para poder afirmar que o conceit o de música absolut a foi uma idéia present e em t odo século XIX. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 167 p. 140 | MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE” No início do romant ismo alemão o sonho da poesia absolut a se sonha j unt o com a música absolut a. Ambos const it uem um mundo à part e por si mesmo, são uma met áfora do universo. A “ poesia pura” , um ideal do romant ismo alemão surge como um meio para explicar a manifest ação do “ purament e poét ico” da música absolut a. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 168 p. 140 | MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE” Se fosse possível fazer as pessoas entendem que com a linguagem se passa o mesmo que com as fórmulas matemáticas. – Constituem um mundo por si – jogam somente consigo mesma, não expressam nada mais que sua maravilhosa natureza, e justamente por isso são tão expressivas – justamente por isso refletem em si o peculiar jogo de relações das coisas. NOVALIS (1772-1801) (NOVALIS, 1798 apud DAHLHAUS, p. 140). GEORG PHILIPP FRIEDRICH, Freiherr (Barão) von Hardenberg. Pseudônimo: NOVALIS (17721801). Um dos mais importantes representantes do romantismo alemão de finais do século XVIII. Por vezes chamado do “profeta do Romantismo”, tem como central imagem das suas visões uma flor azul, que mais tarde se transformou como símbolo de saudade entre os Românticos. A “Flor Azul” era inatingível e assim o continuará. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 169 Mallarmé (para Degas, diletante literário): A poesia não se faz com idéias, mas sim com palavras. Cit ado em DAHLHAUS, p. 140. (paráfrase) A música não se faz com idéias, mas sim com sons. Não é com idéias que se fazem versos, mas com palavras. Cit ado em BOULEZ, 1995, p. 30. St éphane Mallarmé (1842-1898) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 170 p. 142 | MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE” A exigência da música inst rument al de ser vist a como uma “ art e pura” se apoiou nos modelos poét icos, que aj udaram a criar uma nova consciência musical, e viceversa, pois na poesia os versos separados seduzem mais por sua essência sonora do que por dizer algo conceit ual ou sent iment al. O element o musical na poesia não é adorno, e sim, subst ância. Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 171 p. 143... | MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE” Retomada de vários pontos do livro... Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 172 p. 146... | MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE” Por isso não tem nenhuma outra arte cuja matéria prima está em si mesma tão preparada do espírito celestial como a música Wilhelm Heinrich Wackenroder (1773-1798) Carl DAHLHAUS | A idéia de música absolut a 173 p. 146... | MÚSICA ABSOLUTA E “ POÉSIE ABSOLUE” O paradoxo de que o reconheciment o sobre si mesmo significa elevação é a dialét ica que est á no fundo t ant o da poésie absolue quant o da música absolut a. Carl Dahlhaus [fim] Universidade Est adual de Campinas – Unicamp Programa de Pós Graduação em Música Inst it ut o de Art es SEMINÁRIOS AVANÇADOS | Panorama Hist órico da Est ét ica Musical | Profª. Drª. Lia Tomás Alunos: Almir Côrt es Barret o Sérgio Paulo Ribeiro de Freit as Unicamp, o5 out ubro de 2oo7 segunda part e Carl DAHLHAUS A idéia de Música Absolut a uma primeira aproximação nada absolut a e um t ant o obsolet a