Academia.eduAcademia.edu

DOSSIÊ I - “Violência de Gênero na Universidade

Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília

Apresentação Apresentação "Para que la violencia del golpe, la violación, el acoso, el ataque incestuoso existan, es necesario que una sociedad haya, previamente, inferiorizado, discriminado, fragilizado al grupo social que es el objeto de violación. Sólo se victimiza a aquel colectivo que es percibido como inferior; de este modo se legitiman todos los actos de discriminación" 1

Apresentação Apresentação “Para que la violencia del golpe, la violación, el acoso, el ataque incestuoso existan, es necesario que una sociedad haya, previamente, inferiorizado, discriminado, fragilizado al grupo social que es el objeto de violación. Sólo se victimiza a aquel colectivo que es percibido como inferior; de este modo se legitiman todos los actos de discriminación”1 (Ana María Fernández -Las lógicas sexuales: amor, política y violencias, Nueva visión, Buenos Aires/AR, 2013). O presente DOSSIÊ I, abordando a temática da “Violência de Gênero na Universidade” tem por objetivo divulgar a produção acadêmica fruto de experiências de pesquisas qualitativas e estudos realizados sobre o tema que ainda não detém significativos resultados e publicações uma vez que as investigações e os trabalhos são recentes. No entanto na conjuntura político-social e acadêmica a questão vem sendo alardeada na grande imprensa, desde 2015, com casos frequentes de assédio e comportamentos abusivos no espaço acadêmico o que contribuiu para despertar o interesse de estudantes de Iniciação Cientifica/IC, da Pós Graduação da FFC – UNESP, campus de Marilia e de pesquisadoras de Universidades do pais2 e do exterior.3 1 “Para que a violência do golpe, a violação, o assedio, o ataque incestuoso exista é necessário que uma sociedade tenha previamente inferiorizado, discriminado, fragilizado o grupo social que é o objeto de violação. Somente se vitimiza o coletivo que e visto como inferior e desde modo legitima-se todos os atos de discriminação” ( tradução livre). 2 O Projeto da UFSCAR “O assedio dentro da universidade e os caminhos para combate-lo” vem sendo desenvovido desde 2020 em parceria com o Coletivo de Mulheres da uuniversidade.. https://www.informasus.ufscar. br/o-assedio-dentro-da-universidade-e-os-caminhos-para-combate-lo/?fbclid=IwAR2bs7pEyHTcRy_pLS3dRZwhL_xf-oRC4c_AZ2RO4yWFEnKNwaeVWj0kZFs; Projeto “Violência contra as mulheres na universidade: uma análise nas instituições de ensino superior no Amazonas” Acesso : 02/06/22 3 University of Missouri /USA, Universidad Nacional Autónoma de Mexico. http://doi.org/10.36311/2447-780X.2022.v8esp2.p7 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. 7 POSSAS, L. M. V. O Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero/LIEG, UNESP4 vem dedicando-se à questão desde 2017 através do projeto intitulado “Sobrevivência(s) e violência de gênero no espaço acadêmico: avanços, ambiguidades e perspectivas/CNPq (2017- 2019) que foi desenvolvido com vários sub projetos de Iniciação Cientifica, com bolsa PIBIC e FAPESP já concluídos5..E devido à complexidade do tema e a publicização dos casos de assedio demos continuidade com um novo projeto intitulado “Violência e Diversidade na Universidade: legitimando o lugar de fala e enfrentando as formas de assédio e discriminação (2020 -2023) que possui com sub projetos PIBIC6 e a tese de Doutorado “ Descolonizando o olhar – Representações Visuais e subjetividades nos coletivos universitários contra a violência de gênero- 2020-2022. UNESP, USP e UNICAMP defendida em junho de 2022. Com base nos resultados dos subprojetos concluídos e as experiências vivenciadas no âmbito na UNESP bem como em outras universidade públicas brasileiras propusemos a organização da coletânea , com artigos inéditos, abordando as relações de gênero e as práticas de violência, de assédio sexual que vem ocorrendo, sistematicamente, nas instituições acadêmicas e, que diante das resistencias que exigem a propositura de uma politica de enfrentamento para com o sexismo associado as práticas machistas de uma sociedade patriarcal, que tem gerado efeitos nocivos nas relações internas da Academia como um todo. As permanências dos atos abusivos ocorrem devido a impunidade e são recorrentes, principalmente entre professores e alunas gerando conflitos no cotidiano acadêmico e movimentos reativos de enfrentamento às situações de 4 O Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero da UNESP , foi criado em 2010 junto a Faculdade de Filosofia e Ciência /FFC, campus de Marilia. É um espaço de trabalho interdisciplinar formado por pesquisadoras/es da Graduação quanto da Pós-Graduação da UNESP e de outras Universidades, inclusive internacionais. Desenvolve pesquisas financiadas por agências como FAPESP e CNPq. Mantêm parcerias acadêmicas com outras universidades e associações, como o Latin American Studies Association (LASA) por meio do Gender Section e com o GT Gênero ANPUH Nacional. O LIEG veio agregar-se ao Grupo de Pesquisa Cultura e Gênero/CNPq www.culturaegenero.com.br em 2010 atuando através de múltiplas atividades de estudos coletivos, presenciais e virtuais, trabalhando com a produção de publicações, propostas de eventos acadêmicos e pesquisas. Mantêm cronogramas semestrais de discussões de textos, apresentações de livros, autores e perspectivas e, ultimamente cursos de extensão com convidadas /os. O LIEG e o Grupo de Estudos Cultura & Gênero mantêm interfaces com outras áreas das humanidades, embora a prioridade maior se assenta para o estudo de mulheres, das relações de gênero, identidades e feminismos na América latina . História de vida e oralidade são os principais caminhos metodológicos vinculados aos estudos decoloniais e, portanto, com uma ruptura epistemológica na produção historiográfica. 5 Foram eles : como : Violência de gênero no espaço acadêmico: uma análise dos trotes e festas. 1999 -2016. (8/2017 – 7/2018); Gênero e Representações no Espaço Acadêmico: um olhar através da imprensa e mídias digitais (8/2018-7/2019); O espaço acadêmico. A Ouvidoria/Ouvidorias – “o ouvir especializado” (7/20198/2020) e A Universidade rompendo fronteiras: construindo subjetividades individuais e coletivas na prevenção ao assédio sexual” (7/2020 - 3/2021) além de papers apresentados e publicados em eventos acadêmicos nacionais e internacionais. 6 “Enfrentamento de Violência de Gênero na Universidade : situações de Assedio e parcerias necessárias para além das fronteiras” e - Enfrentar o Assedio, a presença da diversidade no espaço acadêmico: reclamar, captar historias a partir de uma pedagogia feminista . ambos com bolsa PIBIC – 2020-2022 8 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. Apresentação constrangimento que exigem soluções!! Os coletivos estudantis7 tem se organizado para apoiar as vitimas e criar redes de solidariedade. Reconheço, que no panorama nacional, casos e mais casos de assedio, estupro são denunciados, a cada momento. Como exemplo, cito o Disque Denuncia SP , junto à Coordenadoria Geral da União e as Ouvidorias das Instituições, inclusive Universitárias, porém a ação é morosa apesar da Lei 10.224, de 15 de maio de 2001, que tipificou o assédio sexual como crime e que completa 20 anos, sendo considerada, ainda um “ estorvo “ jurídico , pelas interpretações que protegem o assediador. O acolhimento às vitimas, seja juridico ou institucional, atraves de investigações assumem os procedimentos legais, porém ainda são letra morta. Mesmo com a criação de comissões e sindicâncias, a maioria dos casos são arquivados e caem no esquecimento. A CGU- Coordenadoria Geral da União afirma que além das subnotificações, de cada 2 entre 3 processos por assedio sexual, na esfera publica federal, terminaram sem qualquer penalidade.(FOLHA, 04/07/22),8 Nesse 1º semestre/22 foram registrados 10.164 denúncias de estupro no Disque Denúncia, que não é a única fonte de denúncias no Brasil. (Gênero e Numero, 13/07/22)9. No entato, vivemos um momento ímpar, de grande visibilidade e comoção junto à opiniao publica. Seriam outros tempos, onde a violência de gênero e as praticas abusivas no âmbito das instituições publicas como bancos10, Assembléia Legislativa11, escritorios12 e hospitais13 , além das Universidade não são mais tolerados e as vitimas passam a dar queixas, apesar do medo e de 7 Os Coletivos Estudantis são movimentos não homogêneos de resistência no interior das Universidades. Surgiram em meados de 2010, no caso da UNESP, assumindo ora bandeiras feministas, ora na defesa de minorias identitárias e contra qualquer tipo de violência de gênero. Agem atraves das redes sociais e possuem a transitoriedade dos cursos de Graduação. POSSAS, 2021; Godinho, 2022. 8 Ver “ Dois terços dos processos por assedio, na administração federal, terminam sem punição”. https://www1. folha.uol.com.br/mercado/2022/07/dois-tercos-dos-processos-por-assedio-sexual-na-administracao-federal-terminam-sem-punicao.shtm Acesso : 07/2022 9 Ver no site www.generonumero.media.13/07/22. 10 Presidente da Caixa Econômica Federal foi exonerado do cargo , após denúncia de assedio de funcionária. 29/06/22. https://g1.globo.com/politica/blog/valdo-cruz/post/2022/06/29/acusado-de-assedio-sexual-presidente-da-caixa-deve-deixar-o-cargo-nesta-quarta-feira.ghtml Deputada Isa Penna /PSOL, discorre a respeito de sua denúncia de assédio contra deputado da Alesp, que foi afastado pela Comissão de Ética. ALESP, 03/02/21. https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=417496 11 12 Assédio contra advogadas inclui intimidações e ofensas e entra na mira da OAB. FOLHA, 8/03/22. https:// www1.folha.uol.com.br/poder/2022/03/assedio-contra-advogadas-inclui-intimidacao-e-ofensas-e-entra-na-mira-da-oab.shtml 13 Médico é afastado do hospital após denúncia de assédio sexual. Vídeo mostra o momento que medico anestesista estupra gravida no Rio de |Janeiro. Metrópoles, 11/07/22. https://www.metropoles.com/brasil/video-mostra-momento-em-que-medico-anestesista-estupra-gravida-no-rj Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. 9 POSSAS, L. M. V. serem mal compreendidase até perseguidas. Observo que as mulheres , no caso estudantes, criaram redes de acolhimento e ganham força junto às comunidades univesritárias. Muitas delas aderem como testemunhas oculares e fortalecem o sentido de que ´”Violar nossos corpos é crime!!!” Um caso recente ocorreu na UNESP, campus de Bauru, no inicio do mês de julho de 2022, onde as estudantes fizeram a denúncia de assedio de um professor e organizaram uma manifestação envolvendo outros cursos do campus, recebendo apoio dos colegas dos campi da UNESP, em repudio ao comportamento abusivo 14 praticado pelo docente literatura, que em entrevista aos jornais , negou o ocorrido. A Direção da Faculdade de Arquitetura, Arte, Comunicação e Design/ FAAC emitiu em sequência, uma manifestação de repúdio e a instalação de uma Comissão de Sindicância, com prazo de 60 dias para a apuração: “A Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) informa que na manhã desta quarta-feira (06), a pedido da Comissão de Sindicância instituída para investigar as acusações de assédio sexual que recaem sobre um docente da universidade, após discussão sobre os fatos e documentos que instruem o processo, deliberou pelo afastamento preliminar oficial do referido servidor pelo período de 180 dias, conforme legislação em vigor. O prazo para a conclusão das atividades da Comissão é de 60 dias, assegurados o contraditório e a ampla defesa. Por oportuno, A FAAC reitera que toda e qualquer prática de assédio não é tolerada e ressalta a importância da formalização de denúncias, nos vários canais, como a Ouvidoria da Unesp. (Instagran: https://www. instagram.com/p/CfrOrPHue4-). Segundo Francois Vergè (2021, p26) “a escassez de pesquisas sobre violências sexuais e sexistas perpetradas contra mulheres e homens, principalmente racializados, obscurece o fato que elas, as violências, estão disseminadas e a recorrência dos estupros das mulheres são como arma de dominação racial e virilista e estão indissociáveis do imperialismo e do racismo”. Vergè, ao dar um exemplo, quando em 2017 foi convidada por uma universidade da Costa leste dos Estados Unidos, para conduzir um seminário, relata que havia um contraste entre o excesso de discursos sobre os mecanismos O fato ocorreu no dia 02/07/22. A noticia circulou com ampla divulgação na imprensa local e nacional.: EDUCAÇÃO do R7, ( 02/07/22) Estudantes da Unesp impedem professor acusado de assédio de dar aula em Bauru’. https://noticias.r7.com/educacao/estudantes-da-unesp-impedem-professor-acusado-de-assedio-de-dar-aula-em-bauru-02072022?amp .Acesso em 04/07/22. O Jornal da Cidade /JCNET, com manchete de 1ª pagina informava: “Aluna da Unesp acusam professor de assedio e realizam manifestação “ Banner com mensagens de cunho sexual , supostamente enviadas pelo docente à alunas foi exposta no campus: professor nega. 02/07/22. https://www.jcnet.com.br/noticias/geral/2022/07/807263-alunas-da-unesp-acusam-professor-de-assedio-e-realizam-manifestacao.html Acesso em 04/07/22. A Unesp de Bauru, afasta professor acusado de assedio. FOLHA, 07/07/2 https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2022/07/unesp-de-bauru-afasta-professor-acusado-de-assedio-sexual.shtml - Acesso:08/07/22 14 10 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. Apresentação de segurança do campus, a proteção para as estudantes, com a presença da polícia privada que oferecia uma ostentação visual em contraste com os relatos das suas/ seus estudantes, aquelas/aqueles que usavam véu, negras/negros, queer, latinas/ latinos que não se sentiam em segurança. A presença do assedio no mundo universitário é hoje uma realidade comprovada. Graduandas e pós graduandas são levadas a evadir-se, mudar de orientador e até renunciar a cargos /empregos, uma vez que as promoções, na maioria das vezes, estão vinculadas às relações sexualizadas. Os testemunhos de sobrevivência aos assédios físicos, morais e psicológicos nos campi das universidades apresentam-se variadas e nuançados pelas formas de aproximação, toques íntimos, elogios e convites individuais e íntimos , na maioria , sem o devido consentimento. O contexto atual é mais favorável, e as vítimas começaram a ter a coragem, em um primeiro momento, de denunciar, fazer queixa, reclamar junto aos setores existentes, no caso as Ouvidorias locais. No entanto, essa coragem inicial, logo se desfaz diante das omissões, silenciamentos institucionais. Logo sentem-se marginalizadas e acuadas, sentindo-se muitas vezes como culpadas por terem provocado as aproximações, gestos e convites indesejáveis. Reverbera cada vez mais o percentual das denúncias nas universidades brasileiras diante da diversidade discente que com a possibilidade de acesso através de vagas por cotas, oriundos de escolas públicas pluralizou as demandas e, por efeito exacerbou o racismo, a homofobia frente às vivências identitárias e subjetividades de gênero no espaço acadêmico. (MALDONADO-TORRES, 2007; AMARAL e NAVES. 2020) 15 Analisar cada caso, foi alvo de pesquisas e que nos motivou a realizar essa proposta de publicar coletivamente uma antologia de artigos de nível académico de modo a permitir que possamos coletivamente partilhar, sentir e refletir as experiências vivenciadas pelas estudantes que deram seus relatos e fizeram pesquisa rsobre o tema. Partimos de uma metodologia que garantisse não só o lugar de fala (RIBEIRO, 2017), mas o entendimento de uma conjuntura circunscrita latino-americana, onde a herança colonial, sobretudo a colonialidade de gênero (LUGONES, 2014), nos impele a indagar sobre a permanência de diversas formas de assédio e violência reproduzidas por aparatos sócio-políticos Professor da UDESC acusado de assediar alunas é demitido da instituição - 24/02/2022; Professor da USP é demitido após denúncias de assédio sexual – 31/12/2021- FOLHA. Professor universitário do Rio é acusado de cometer abusos morais e sexuais nos últimos 14 anos – 13/12/2021- Fantástico/TV GLOBO.; ‘Cai em depressão’, afirma estudante afroindígena que denunciou assédio moral sexista e racista de professor da PUC-Rio – 15/12/2021- O GLOBO; Universidade demite professor que perguntou se aluna vai levar lubrificante ‘quando for estuprada’ - 26/11/2021- UNIFAMZ. 15 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. 11 POSSAS, L. M. V. e históricos existentes enquanto relações de ser, saber e poder hegemônicos integrados ao sistema-mundo capitalista colonial-moderno (ASSIS, 2014) Ao assumir a presença de uma abordagem decolonial (SANTOS, 2022; VÈRGES, 2021)16 impulsionou -nos na proposição de debruçarmos sobre as reclamações/queixas, como nos sugere AHMED( 2021)17 em sua metodologia de captar os movimentos reativos existentes nas instituições( no caso nas Universidades) para propor alternativas de enfrentamento no âmbito acadêmico. Temos observado situações de constrangimento, de conflitos, de processos de resistência à persistência de uma estrutura rígida, moldada na concepção heteronormativa, racista e LGBTQIA+fóbica que deslegitima outras formas de existir e de viver, outras corporalidades (BUTLER, 2020). Como feministas e estudiosas de gênero, compete-nos liderar e abraçar uma “pedagogia feminista” que nos permita ser as estragaprazeres institucionais que Ahmed tão bem descreve e procura animar em seu Living a Feminist Life (2017) agora em português Viver uma Vida Feminista18. O trabalho prossegue, buscando espaços outros de atuação, como cursos de extensão, rodas de conversa diálogos com centros universitários nacionais e da América Latina19 que, cientes do mesmo problema, vem exigindo a propositura de protocolos, portarias e regulamentos internos de prevenção e enfrentamentos à toda situação de violência de gênero, racismo e homofobia. È possível observar algumas mudanças nesse sentido, principalmente no âmbito jurídico20 .. O trabalho do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero/ LIEG no âmbito da UNESP é colaborar com as pesquisas realizadas, sensibilizar gestores , formar parcerias e propor alternativas de superação para todo e qualquer caso de discriminação e comportamentos abusivos21. A abordagem decolonial refere-se ao conjunto heterogêneo de contribuições teóricas e investigativas sobre a colonialismo-colonização/colonialidade, no anos 90. Detêm-se sobre a necessidade de revisões historiográficas, os estudos de caso, a recuperação do pensamento crítico latino-americano, as formulações (re) conceitualizadoras, como as revisões das indagações teóricas. O pensamento decolonial afasta -se da lógica de um único mundo possível (lógica da modernidade capitalista) e se abre para uma pluralidade de vozes e caminhos. Busca o direito à diferença e a uma abertura para um pensamento diversificado de modo a colocar luz para outros sujeitos, atores que foram silenciados. UGONES, 2008; GONZALEZ (1988) 16 17 Em seu livro Complaint! (2021 a autora sugere um trabalho de pesquisa a partir d elaboração de um mapeamento de circulação das denúncias nos órgão hierárquicos internos, bem como o tempo das decisões em cada um deles e as sugestões oferecidas e a coleta de relatos orais, das .s testemunhas, das/dos sobreviventes 18 Viver uma Vida Feminista , pela Ubu Editora , 1ª edição, em 28 março 2021. ZANELLO, V.; ALMEIDA, T.M. C. de .Panoramas da violência contra mulheres nas universidades brasileiras e latino americanas. Editora da OAB Nacional e UNB/Brasília. 17 de janeiro de 2022. https://www.oab.org. br/publicacoes/pesquisa?termoPesquisa=panoramas# 19 A RESOLUÇÃO No 351 de 28 DE Outubro de 2020, do Conselho Nacional de Justiça, instituiu, , no âmbito do Poder Judiciário, a Política de Prevenção e Enfrentamento do Assédio Moral, do Assédio Sexual e da Discriminação. https://atos.cnj.jus.br/files/original192402202011035fa1ae5201643.pdf Acesso: 12/01/2021 20 21 Em 27/07/2022 foi aprovada na UNESP a Portaria de n.68 que Institui a Política Educativa de Enfrentamen- 12 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. Apresentação Nesse Dossiê I, contamos com os seguintes artigos: • Escuta feminista e a revelação de violências invisíveis: análise dos movimentos estudantis na FFC/UNESP Marília, no período 2013 – 2019 que foi marcado pelo crescimento no número de acusações e denúncias de violência registradas na Ouvidoria da Unesp e, concomitantemente ao recrudescimento das agressões, da atuação dos movimentos estudantis de resistência coletiva e a falta de apoio e suporte nas agendas de prioridade da instituição; • Decolonizando o olhar – análise de imagens criadas pelos coletivos contra a violência de gênero na universidade, evidenciando como a universidade tem se mostrado um local de violências relacionadas ao gênero de alunas, alunos e alunes, alvos constantes de abusos físicos, morais e psicológicos por parte de colegas, professores e funcionários e dar visibilidade a essas agressões, através de mobilizações de estudantes com os coletivos em redes sociais digitais onde compartilham posts cujo intuito é revelar sua luta em construir espaços acadêmicos livres de preconceitos e violências de gênero e suas interseccionalidades; • Experiências femininas na Universidade: violência de gênero e resistência feminista. Neste ensaio, o objetivo foi refletir sobre violência de gênero e resistência feminista na Universidade por meio de metodologias autobiográficas, a fim de relatar experiências em dois contextos, na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” , campus de Franca e na Universidade Federal da Bahia. • A gente não vai acreditar nessa neguinha! Violência sexual, de gênero, raça e classe na universidade, com objetivo de evidenciar a relevância do tema da violência de gênero no ambiente universitário, pontuando as possibilidades de análise a partir da interseccionalidade e dos marcadores sociais da diferença, em um estudo comparativo entre instituições universitárias do Brasil e Chile; • E para finalizar temos o artigo “Todavía cargando este fardo: Situación actual de la violencia de género en las universidades en EE.UU” que trata de uma outra realidade e nos oferece uma visão panorâmica dos casos de violência de gênero nas universidades to ao assédio moral, assédio sexual, importunação sexual, formas de discriminações e preconceitos em relação à origem, cor, gênero, orientação sexual, religião ou crença, nível sócio-econômico, condição corporal física ou psíquica no âmbito da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP. https://www.feb. unesp.br/#!/ouvidoria/legislacao-complementar/ Acesso:05/08/22 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. 13 POSSAS, L. M. V. estado-unidenses, a partir das denúncias divulgadas no documentário The Hunting Ground [El Coto de Caza, en español2015)] até o presente .Assume como fundamentação as proposições teóricas de Sara Ahmed em Complaint! (2021), apresentando quais são os impedimentos para enfrentar a violência de gênero nas universidades estado-unidenses e a necessidade imperativa de reformar o atual sistema, Com objetos, espaços e abordagens distintas o tema Violência de Gênero na Universidade, é analisado a partir de múltiplos olhares, de experiências vivenciadas em espaços e cursos distintos, tendo como denominador comum a violência de gênero e a academia bem como propostas de enfrentamento e superação de um cotidiano acadêmico muitas vezes hostil. REFERÊNCIAS: ALMENDRA, Javiera Cubillos. Reflexiones sobre el proceso de investigación. Una propuesta desde el feminismo decolonial. Athenea Digital - 14(4): 261-285, diciembre 2014. AMARAL, Isabela Grossi Amaral e NAVES, Flávia. O Enfrentamento das opressões de gênero numa universidade pública: o papel dos coletivos estudantis na ótica do feminismo decolonial. IN: Revista Brasileira de Estudos Organizacionais – v. 7, n. 1, p. 877-910, Jan-MaiI/2020 ASSIS, Wendell Ficher Teixeira. Do Colonialismo à Colonialidade: expropriação territorial na periferia do capitalismo. CADERNO CRH, Salvador, v. 27, n. 72, p. 613-627, Set./Dez. 2014. BUTLER, Judith. Corpos que importam. Os limites discursivos do sexo. https://firebook.com.br/ ler-online-ebook-pdf-corpos-que-importam-os-limites-discursivos-do-sexo/ GELEDES, Instituto da mulher negra. Violência contra mulher e a omissão das universidades brasileiras. Publicado: 04/10/2014. Acesso em: 19/01/2020. GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, n° 92-93. LUGONES, María. Colonialidad y Género. Tabula Rasa. Bogotá - Colombia, No.9: 73-101, juliodiciembre 2008. _________. Rumo a um feminismo descolonial. Estudos Feministas, Florianópolis, 22(3): 320, setembro-dezembro/2014 MALDONADO-TORRES, Nelson. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón. El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, 2007. 14 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. Apresentação POSSAS, Lidia M.V. A Universidade e as relações de Poder: os Coletivos Estudantis e as estratégias de sobrevivência. IN: BANDEIRA, A; POSSAS, L. e NASCIMENTO, A. Gênero; Identidades políticas no século XXI. Recife, PE/EDUPE, 2021; RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte (MG): Letramento: Justificando, 2017 SANTOS, Boaventura Sousa. A universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da universidade. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2011. __________. Poscolonialismo, Descolonialidad y Epistemologías del Sur. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO ; Coimbra : Centro de Estudos Sociais - CES, 2022 pag. 11-31 VÈRGES, Françoise. Uma teoria feminista da violência. São Paulo, UBU Editora, 2021 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. 15 POSSAS, L. M. V. 16 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022.