Submissão: 15/09/2020
Revisão: 30/10/2020
Aprovação: 24/11/2020
Publicação: 28/12/2020
ARTIGO
Camila Jácome1, Anne Rapp Py-Daniel2, Gabriela Prestes-Carneiro3, Myrtle Pearl Shock4,
Claide de Paula Moraes5, Márcio Amaral6, Myrian Sá Leitão Barboza7, Bruna Rocha8,
Vinicius Honorato de Oliveira9, Elaine dos Santos Pinto10
RESUMO
Os acervos arqueológicos constituem relevante patrimônio e fonte de estudo,
imprescindíveis para compreensão do legado histórico e cultural promovido
pelas sociedades pretéritas e presentes. A gestão desses acervos extrapola a
curadoria, implicando compromissos éticos, políticos, educacionais e científicos
junto às diferentes comunidades. Nesse cenário, o Laboratório de Arqueologia
Curt Nimuendajú da UFOPA (Santarém, PA) possui conformação especial devido
à sua localização e por ser acessado por diferentes pessoas, incluindo povos
indígenas e tradicionais. O laboratório atua como um lugar de conexão geracional
e de pluralidade de saberes. Com base nessas peculiaridades, apresentamos o seu
histórico de criação e constituição de suas coleções, além dos desafios inerentes
ao seu processo de gestão.
Palavras-chave: acervos arqueológicos; ensino em Arqueologia; comunidades e
Arqueologia.
Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: camilajacome88@gmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3870-1796.
2
Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: annerpd1@gmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5919-452X.
3
Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: gabi_prestes@hotmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2958-5797.
4
Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: profshock@gmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9129-0442.
5
Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: claide29@gmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3562-0029.
6
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. E-mail: kawayba@gmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3532-899X.
7
Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: myrianbarboza@ufl.edu.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6712-7386.
8
Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: b.c.rocha@gmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4250-0946.
9
Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: vinicius.honorato.oliveira@gmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4176-5451.
10
Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: elaineapolo2018@gmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1993-970X.
1
DOI: https://doi.org/10.24885/sab.v33i3.843
ARTICLE
ABSTRACT
Archaeological collections constitute relevant heritage and study sources,
essential for understanding the historical and cultural legacy promoted by past
and present societies. The management of these collections goes beyond their
curatorship, implying also ethical, political, educational and scientific
commitments vis-à-vis different communities. Within this scenario, UFOPA’s
Curt Nimuendajú Archaeology Lab, situated in Santarém, Pará presents a special
configuration due to its location and because it is accessed by different actors,
including indigenous and traditional peoples. The lab acts as locus for
generational connection and plural knowledge. Based on these specificities, we
present the trajectory of its creation and of the constitution of its collections, in
addition to the challenges inherent to its management.
Keywords: archaeological collections; Archaeology teaching; communities and
Archaeology.
ARTÍCULO
RESUMEN
Los acervos arqueológicos constituyen patrimonios y fuentes relevantes de
estudio, imprescindibles para la comprensión del legado histórico y cultural
promovido por sociedades pretéritas y presentes. La gestión de estos acervos
extrapola la curaduría, implicando compromisos éticos, políticos, educativos y
científicos junto a las diferentes comunidades. En este panorama, el Laboratorio
de Arqueología Curt Nimuendajú de la UFOPA (Santarém, PA) posee una
conformación especial debido a su localización y acceso por diferentes actores y
pueblos indígenas y tradicionales. El laboratorio actúa como un lugar de conexión
generacional y de pluralidad de conocimientos. Basado en estas peculiaridades,
presentamos en este artículo sus antecedentes de creación y constitución de las
colecciones, además de los desafíos inherentes a su proceso de gestión.
Palabras clave: acervos arqueológicos; enseñanza en Arqueología; comunidades
y Arqueología.
Pluralidade dos acervos epistêmicos na Amazônia… | Camila Jácome et al.
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INTRODUÇÃO: ACERVOS EPISTÊMICOS NA AMAZÔNIA
Os acervos arqueológicos e etnográficos, dispostos em museus ou laboratórios de
instituições de pesquisa e ensino, revelam uma pluralidade de saberes, tecnologias,
intercâmbios culturais e estratégias de sobrevivência desenvolvidas por múltiplos povos
em diferentes contextos e temporalidades. Por isso, denominamos "acervos epistêmicos"
o valioso conjunto de material cultural organizado nessas coleções. Os acervos
epistêmicos na Amazônia possuem um papel fundamental na conexão e
compartilhamento de saberes quando são acessíveis. O norte do Brasil é historicamente
desfavorecido em termos de investimentos educacionais, científicos e culturais. Nessas
condições, acervos relacionados à história das populações podem ganhar proporções
ainda maiores nos processos identitários e de autoconhecimento, elementos que já são
comuns à essência do patrimônio arqueológico (WICHERS, 2016), mas que, se
gerenciados de maneira dinâmica e engajada (ALMEIDA, 2018), são potencializados.
Em Santarém (PA), o Laboratório de Arqueologia Curt Nimuendajú apresenta um
cenário especial, pois conecta pessoas das artes, da educação, cientistas, escolares,
estudantes, indígenas, quilombolas, dentre outros, ao mesmo tempo em que está
sobreposto a um grande e importante sítio arqueológico, o sítio Porto, e muito próximo
do sítio Aldeia (Figura 1). Considerando essas particularidades, buscamos desenvolver ao
longo da última década um repertório de ações nas esferas educacionais, científicas e
extensionistas, na tentativa de atender às demandas locais e à nossa responsabilidade
institucional voltada para a tríade do ensino-pesquisa-extensão com ética e qualidade.
Todavia, a gestão desse laboratório é prejudicada devido ao ínfimo orçamento
disponibilizado anualmente e aos problemas de manutenção estrutural decorrentes do
ambiente amazônico. Por outro lado, entendemos que as assimetrias de alteridades,
identidades e epistemologias nos lançam um desafio estimulante para a dinâmica de
gestão do laboratório e de seu acervo, e a interação entre diversas pessoas de dentro e
fora da Universidade.
Figura 1 – Localização dos sítios Porto e Aldeia no contexto urbano da cidade de Santarém e
do Campus Tapajós da UFOPA. Mapa: Ney Rafael Gomes Monteiro, a partir de levantamento
arqueológico de Márcio Amaral (2020).
Pluralidade dos acervos epistêmicos na Amazônia… | Camila Jácome et al.
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Baseado nesse panorama, apresentamos adiante a relevância do laboratório e de sua
reserva no contexto local e regional; o papel do laboratório para formação des 1
estudantes e jovens pesquisadores amazônides; o contexto histórico de sua criação; sua
inserção na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA); e as coleções constituídas
ou herdadas até o momento, oferecendo um panorama dos potenciais que elas
representam para a pesquisa arqueológica amazônica.
A PLURALIDADE DO LABORATÓRIO CURT NIMUENDAJÚ
Criado em 2010, o Laboratório Curt Nimuendajú integra o bacharelado em
arqueologia da UFOPA e se encontra instalado no campus Tapajós (Figura 1). A
localização do laboratório sobre o sítio arqueológico Porto possibilita a convivência
contínua entre a comunidade universitária e os artefatos arqueológicos. Ademais,
Santarém possui cerca de 100 sítios conhecidos, muitos não cadastrados, porém ainda
com grandes áreas não prospectadas (RAPP PY-DANIEL et al., 2017). Assim, grande parte
da população do município já teve contato com material cerâmico arqueológico, seja
durante reformas domésticas, seja no plantio de hortas ou roçados, uma realidade comum
em toda Amazônia (BEZERRA, 2018). Mesmo que muitas pessoas não conheçam a
origem desses objetos, a maioria os correlaciona com uma produção indígena antiga.
Muitos dos povos presentes na região hoje, como Munduruku, Apiaká, Tapuia, Borari,
Maytapu, Cara Preta, Tupinambá, Kumaruara, Arapiun, Jaraqui, Tapajó, Tupaiú e Arara
Vermelha, associam esse material à sua ancestralidade.
Ao longo do processo de urbanização, da implementação de fazendas e de
comunidades rurais de Santarém, as descobertas de artefatos antigos sempre estiveram
presentes. Nesse contexto, muitas coleções foram formadas, mas praticamente todas,
deslocadas para diferentes localidades – como Gotemburgo, Filadélfia, Rio de Janeiro,
Belém e São Paulo (SCHAAN, 2007). Esses reiterados episódios de remoção (ALVES,
2019) evocam na população local um sentimento de desapropriação e podem ter
contribuído para a organização autônoma de inúmeras coleções domésticas (SILVA,
2018). Esse “colecionismo doméstico” é antigo e profundamente relacionado à história
de vida das pessoas amazônidas (SCHAAN, 2007; BEZERRA, 2018).
Associado a esse cenário, discentes da UFOPA apresentam perfis plurais, distintos
de quase todas as instituições de ensino superior no Brasil. Cerca de 80% des estudantes
da UFOPA vieram da escola pública, são residentes de áreas periféricas, de comunidades2
rurais próximas; de outros municípios ou de estados vizinhos. Muites deles são indígenas,
quilombolas, ribeirinhes, afrodescendentes e/ou em situação de vulnerabilidade
socioeconômica. Essa realidade é resultante da política de ação afirmativa federal
consolidada3 pela UFOPA desde a sua criação em 2009, que se encontra em constante
Escolhemos a linguagem neutra de gênero, não-binária, para nos referirmos as pessoas sem particularização como
masculino ou feminino. A escolha foi substituir os marcadores o/a (masculino/feminino) por e (neutro), em preposições,
substantivos e adjtetivos. No caso de substantivos que não flexionam por gênero, optamos pela grafia original (por
exemplo: indígenas, quilombolas etc.).
2 Comunidades tradicionais dos rios Tapajós, Arapiuns e do paranã do Maicá.
3 A UFOPA instaurou três vias de ingresso que contemplam a política de ações afirmativas: 1) o Processo Seletivo Especial
Indígena (PSEI); 2) o Processo Seletivo Especial Quilombola (PSEQ); e 3) as vagas destinadas para estudantes em situação
de vulnerabilidade socioeconômica, negros e indígenas também no Processo Seletivo Regular (PSR). Segundo dados da
Pró-Reitoria de Gestão Estudantil (PROGES) de novembro de 2019, a UFOPA possuía, em seu corpo discente, 85% de
alunes oriundos de escolas públicas. Atualmente a universidade possui 534 estudantes indígenas e 316 estudantes
quilombolas ingressantes via PSE. Adicionalmente, existem estudantes indígenas e quilombolas que entraram pelo
processo seletivo regular. A fim de garantir a permanência desses alunes na universidade e sua sobrevivência na cidade de
Santarém, a instituição vem implantando uma política de bolsas e auxílios-permanência. Recentemente foi inaugurado o
Restaurante Universitário que complementará a efetividade dessas ações. Do ponto de vista pedagógico, os cursos de
1
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readequação. Além disso, também temos um quadro de ingresso de alunes LGBTQIA+,
mas que ainda não recebem apoio institucional por meio de ações afirmativas.
Em geral, esses estudantes, conhecem e vêm interagindo com os vestígios
arqueológicos durante boa parte de suas vidas, trazendo consigo relevante "bagagem"
histórica e cultural que é compartilhada entre es demais alunes e servidores. Esse
conhecimento prévio também implica interpretações e apegos sentimentais próprios des
moradores dessa região, o que por sua vez leva a questionamentos de fundo teórico e
prático. Essa interação revigora nossa formação profissional e nos torna arqueólogues
mais sensíveis e atuantes na conjuntura política-sociocultural na qual as comunidades
estão inseridas. Essa experiência também nos converte em aprendizes, uma vez que es
alunes atuam como educadores, compartilhando suas trajetórias coletivas, ensinando sua
leitura do meio ambiente e demonstrando a importância do material arqueológico para
o processo de afirmação identitária e a geração de renda (através do turismo ou
comercialização de réplicas). Essa é uma situação extremamente particular,
principalmente considerando as contribuições da arqueologia moderna no crescimento
exponencial dos acervos e na aplicação das leis de proteção ao patrimônio durante as
etapas de licenciamento ambiental, mas que tem restringido a disponibilização desses
materiais ao público, concentrando-os em poucas instituições (WICHERS, 2016, p. 37).
Os efeitos dessa experiência revelam novos "modos de fazer" arqueologia com o
desenvolvimento de abordagens teóricas e metodológicas inovadoras. Exemplo disso é a
recente conclusão de pesquisas de arqueologias indígenas (NICHOLAS, 2008),
produzidas por estudantes indígenas (WAI WAI, J.; 2017; JESUS, 2018, SILVA, 2018;
WAI WAI, C., 2019; MUNDURUKU, J. B. 4 , 2019; WAI WAI B., 2019), e o
desenvolvimento atual de pesquisas de arqueologias da diáspora africana por estudantes
quilombolas e afrodescendentes. Assim, o estímulo e desafio desse exercício constante de
confronto e de pluralidade epistêmica, nos leva a tentar a construção de uma arqueologia
contra hegemônica, que prioriza a confluência de saberes (SANTOS, 2019).
Outra particularidade que merece destaque diz respeito à configuração espacial do
laboratório sobre um sítio intensamente impactado pelos processos históricos de
urbanização. Nessa configuração, podemos dizer que a universidade se torna a camada
mais recente do sítio. O convívio com o sítio nos permite inspirações e reflexões diversas,
além de representar um laboratório "ao ar livre", pois o utilizamos como sala de aula e
campo de pesquisa para análises diversas. A acessibilidade dos vestígios desse sítio
também tem auxiliado - em âmbito pedagógico, científico e operacional - no
fortalecimento da formação de discentes e docentes.
IMPORTÂNCIA DA RESERVA TÉCNICA NO CONTEXTO LOCAL E REGIONAL
Ao contrário de muitas reservas técnicas que foram constituídas ao longo do tempo
– como, por exemplo, o Museu Paraense Emílio Goeldi (SILVEIRA et al., 2017) –, nosso
acervo é recente. Dentro da arqueologia, da museologia ou mesmo da conservação, uma
série de questionamentos surge sobre o objetivo de manter grandes (ou pequenas)
coleções hermeticamente fechadas dentro de instituições de pesquisa e guarda (LIMA et
al., 2018). Para quê e para quem arqueólogues estão, a longo prazo, trabalhando
(HODDER et al., 1995; SCHAAN, 2007; ROCHA et al., 2013)?
Arqueologia e Antropologia oferecem semestralmente a disciplina Laboratório de Textos, destinada para discentes
indígenas e quilombolas, para auxílio nas leituras e atividades desenvolvidas nas outras disciplinas.
4 Recentemente o aluno egresso Jair Munduruku foi premiado na categoria de melhor trabalho de graduação em
arqueologia da 8ª edição do Prêmio Luiz de Castro Faria (IPHAN), ano de 2020.
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Grande parte da acessibilidade do acervo do Laboratório se dá por sua localização e
pela forma como os sítios e vestígios arqueológicos interagem com a população
amazônida. Gerenciamos uma das principais reservas técnicas (RTs) do interior da
Amazônia5. Quase todos os outros locais que abrigam coleções no interior da Amazônia
são fruto de iniciativas pessoais ou de pequenos coletivos (SCHAAN, 2007; BEZERRA,
2018). É muito comum que es professores, es gestores de cultura e integrantes de igrejas
guardem ou mesmo exponham material. Boa parte das doações que recebemos são
oriundas dessas pequenas coleções locais, quando indivíduos ou coletivos, ao valorizarem
os vestígios arqueológicos, decidem que eles precisam ser guardados por arqueólogues
profissionais.
A presença de um local, dentro da universidade, que congregue acervo arqueológico
e explicitamente o associe às ocupações indígenas, ao mesmo tempo em que valoriza essas
populações e o conhecimento e gestos relacionados ao material, também se configura
como uma mudança de perspectiva importante para a região. A cidade de Santarém, antes
de ter sido elevada a povoado e, posteriormente, à cidade, foi uma missão jesuíta, que, por
sua vez, foi implantada sobre um dos maiores sítios arqueológicos conhecidos das terras
baixas (NEVES, 2015). Santarém está localizada acima de uma das maiores aldeias (ou
talvez devamos chamar de cidades) indígenas da Amazônia. A história oficial local narra
a fundação da cidade a partir da missão jesuítica, provocando maior difusão dessa versão
pelos habitantes locais do que a grande ocupação indígena, verdadeira origem tanto da
missão quanto da cidade.
Um exemplo significativo é que há uma estátua do Padre João Felipe Bettendorff, o
fundador da missão, em uma das praças mais importantes da cidade, a Praça Rodrigues
dos Santos. Enquanto a história indígena, ficou restrita aos poucos fragmentos
arqueológicos e líticos expostos no Centro Cultural João Fona. Em contraponto à
visibilidade da estátua de Bettendorff, o monumento indígena de rememoração de
resistência aos 500 anos após a invasão dos europeus é praticamente "invisível" aos
transeuntes que passam pela movimentada Praça Monsenhor José Gregório, no centro
da cidade. Assim, a invisibilização des indígenas no passado permanece no presente; a
narrativa oficial histórica local é que os povos indígenas de Santarém, em especial, os
Tapajó, foram "extintos" no século XVIII. O movimento indígena do baixo Tapajós está
aí para provar exatamente o contrário (VAZ DE ALMEIDA, 2010), isto é, o quanto esses
povos resistiram e estão presentes em momentos cruciais da história do Pará, como no
movimento da Cabanagem.
Outra particularidade do acervo do laboratório está relacionada às pesquisas des
professores que entendem a arqueologia na Amazônia como História de Longa Duração.
Essa premissa se materializa de uma forma muito particular, por meio da abordagem do
material arqueológico como parte elementar e constituinte da história das populações
indígenas, quilombolas, ribeirinhas, etc. A forma como temos pensado o acesso à reserva
técnica de arqueologia e ao laboratório tem levado em consideração essa diversidade
populacional, o que gera engajamento e compreensão do potencial da cultura material
como elemento essencial para a construção da identidade e historicidade regional. Na
prática, isso se traduz em uma série de ações, como: abertura da reserva técnica e do
laboratório às visitas, mesmo se não preparada para tal (a maior parte são agendadas, mas
muitas visitas são espontâneas); organização dos projetos de pesquisa e extensão que
envolvam a população e que atuem com suas autorizações prévias; incentivo à presença
de diferentes coletives dentro do espaço acadêmico; o repensar da importância do toque
5 Existem também as RTs do
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), no Amazonas, e do Núcleo de
Arqueologia de Marabá, no sul do Estado do Pará, ambas regularizadas e aptas a receber acervo.
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(BEZERRA, 2013); e o uso contínuo das coleções durante as disciplinas práticas. Ademais,
pessoas que visitam ou estudam Arqueologia têm utilizado o material da RT como
referência para a produção de réplicas e experimentações. Todas essas ações demandam
tempo, exigem um conhecimento regional e disponibilidade por parte des professores,
não se pode dizer, portanto, que esse processo é simples e rápido, mas também, que ele
não é possível. Tais ações demandam muito dos servidores envolvidos, mas também
trazem retornos importantes.
As situações com as quais lidamos nos levam a reflexões sobre a funcionalidade de
uma RT/laboratório de arqueologia, assim como a importância desses espaços na atuação
como locais de diálogo e compartilhamento de saberes entre academia e sociedade
(SCHAAN, 2007; LIMA et al., 2018). No Brasil a universidade historicamente se
constituiu como um lugar de exclusão social e mantenedora de um status quo, uma relação
perversa e de continuidade da colonialidade (HOOKS, 2013). Recentemente, diante do
maior acesso de pessoas tradicionalmente excluídas através das políticas de ações
afirmativas, que na UFOPA 6 foram iniciadas antes da lei 12.711/2012, a própria
instituição tem sido questionada e repensada. Como funções sociais, esses "espaços
arqueológicos" ganham novos significados e têm se transformado à medida que as
pessoas que ocupam a universidade também o transformam.
HISTÓRICO DO LABORATÓRIO DE ARQUEOLOGIA CURT NIMUENDAJÚ
A professora Denise Schaan criou o Laboratório de Arqueologia Curt Nimuendajú
em função de uma série de projetos de salvamento arqueológico que coordenava no sítio
Porto (SCHAAN; ALVES, 2015). Esse sítio se situa, em parte, entre as áreas da antiga
praia da Vera Paz e o Campus Tapajós da UFOPA (Figura 1). Esse sítio foi primeiramente
escavado pelo próprio Curt Nimuendajú na década de 1920 (NIMUENDAJÚ, 2004,
p.130), que registrou um pacote arqueológico com a espessura de 140 cm.
Posteriormente, Frederico Barata realizou coletas de superfície no local (BARATA, 1954).
A própria Praia da Vera Paz, um dos principais balneários da cidade de Santarém, e o sítio
Porto foram muito impactados pela construção do terminal graneleiro da multinacional
Cargill. O licenciamento ambiental relacionado ao patrimônio arqueológico dessa obra
incluiu um projeto de salvamento e levou à primeira reforma do espaço do Laboratório
de Arqueologia (Figura 2), que serviu antes como alojamento para pesquisadores. Mesmo
após a estruturação da UFOPA, Schaan e colaboradores conduziram pesquisas em
Santarém e em municípios ao redor da região do Planalto Santareno, mantendo a UFOPA
como base. Como veremos adiante, o material dessas pesquisas se encontra, em grande
parte, sob a guarda do Laboratório Curt Nimuendajú (UFOPA).
Em 2011, o quadro des professores da UFOPA era de apenas quatro contratados.
Neste período ainda de construção do curso, es professores e estudantes começaram a
utilizar e depois gerenciar as atividades conduzidas no laboratório em parceria com a
equipe da UFPA. Desde então, no laboratório são realizadas pesquisas, ações de extensão
e aulas práticas do curso, além de atividades temporárias des pesquisadores/docentes de
outras instituições. O espaço inicial, de cerca de 128 m2, se mostrou insuficiente para
6A
interiorização do ensino superior no Brasil é uma dessas estratégias que vem mudando a (s) cara (s) da universidade
pública brasileira, em geral branca, elitizada e situada nos grandes centros do sul e sudeste. É nesse contexto que a UFOPA
foi criada em 5 de novembro de 2009, a partir da incorporação dos campi da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da
Universidade Federal Rural (UFRA), situados na cidade de Santarém-PA, Estado do Pará. Ela foi a primeira instituição
federal de ensino superior com sede principal no interior da Amazônia brasileira com objetivo estratégico de repensar e
ampliar a formação acadêmica e a produção de conhecimento científico na região. Essa implantação é um processo longo
e ainda não concluído. A universidade ainda está em processo de construção de seus espaços físicos em Santarém, Juruti,
Oriximiná, Itaituba, Monte Alegre, Óbidos, Rurópolis, Novo Progresso e Alenquer.
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essas atividades de guarda, ensino e pesquisa. Em função disso, um segundo prédio foi
reformado e ampliado pela UFOPA entre 2012 e 2013, que hoje se constitui como
Laboratório 2 (Figura 2). O projeto dessa reforma foi financiado por projetos de Denise
Schaan, enquanto a reforma dos espaços de pesquisa e as melhorias para a qualidade de
guarda do patrimônio arqueológico foram executados pela UFOPA. Inicialmente, em
ambos os laboratórios, havia salas destinadas para reserva técnica de material
arqueológico.
Figura 2 – Os espaços do Laboratório Curt Nimuendajú. Esquerda: o antigo Laboratório 1
(acima) e Laboratório 2 (abaixo). Direita: visão de parte da Reserva 2.
Fotos: Myrtle Pearl Shock (2015) e Anne Rapp Py-Daniel (2020).
Nos últimos anos, diante da ampliação do quadro docente (atualmente onze) e
discente (aproximadamente 150), e do aumento do volume de pesquisas e guarda de
material arqueológico, ficou evidente a necessidade de uma nova ampliação dos espaços.
Em 2017, o Laboratório 2 foi então reformado e expandido com a inclusão de novas salas.
Essa obra gerou três salas de reserva técnica, uma sala de aula e um espaço aberto com
cobertura, onde são realizadas atividades de experimentação arqueológica e limpeza do
material de campo.
O Laboratório 1, que é uma edificação mista de madeira e alvenaria, atualmente está
desativado devido a problemas estruturais. Parte das atividades realizadas no
Laboratório 1, como aulas e pesquisa, foram alocadas em salas do Núcleo Tecnológico de
Laboratórios da UFOPA, ainda em fase de implementação. Assim, todo o acervo
arqueológico da UFOPA está concentrado nas reservas técnicas do Laboratório 2, onde
também estão abrigadas boa parte das atividades de pesquisas, além das disciplinas
práticas e ações de extensão com comunidades diversas.
Pluralidade dos acervos epistêmicos na Amazônia… | Camila Jácome et al.
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O ACERVO DO LABORATÓRIO DE ARQUEOLOGIA CURT NIMUENDAJÚ
A RT do Laboratório está organizada em três espaços destinados a materiais
arqueológicos com características próprias. Na Reserva 1 ficam guardadas amostras de
solo de sítios arqueológicos ainda não processadas. A maior parte dos solos armazenados
fazem parte dos estudos do sítio Porto (Figura 3), que normalmente passam por
peneiramento refinado com auxílio de água. Essa metodologia tem fornecido resultados
excelentes na recuperação de microvestígios líticos, ósseos e paleobotânicos (MORAES
et al., 2014; FÉLIX, 2018), além de reduzir consideravelmente o volume de material
acondicionado.
Figura 3 – Gráfico com a porcentagem de amostras de solo por sítios e/ou região
armazenadas na Reserva Técnica 1 do Laboratório Curt Nimuendajú (UFOPA), oriundas de
diferentes projetos. Elaborado por Camila Jácome (2020).
Na Reserva 2 estão guardados os vestígios inorgânicos (cerâmica, lítico, vidraria e
louça), que constituem a maior parte do acervo. Nessa reserva existem dois tipos de
coleções: aquelas constituídas a partir de pesquisas e as coleções de doação, que
apresentaremos adiante. O acervo constituído anteriormente à fundação da UFOPA
ainda não está organizado segundo os padrões dos projetos desenvolvidos por docentes
dessa instituição. Na Reserva 3 ficam guardados principalmente os materiais de origem
orgânica ou frágeis, como remanescentes humanos, material faunístico e a coleção
paleobotânica. Nessa reserva também foi estabelecida uma série de medidas extras (ex.:
acompanhamento semanal ou mensal, registro fotográfico de praticamente todos os
vestígios, mesmos pequenos fragmentos ósseos etc.) para garantir a estabilidade do
material, normalmente muito frágil (CRONYN, 1990).
O desafio de manter a maior estabilidade possível de materiais arqueológicos
orgânicos, ou frágeis em geral, em um contexto tropical úmido tem sido visto como
pedagógico e nos move em um processo de reflexão e de testagem de metodologias que é
contínuo, em que não há protocolo fechado, ainda mais quando não há especialistas em
conservação na equipe (SILVEIRA et al., 2017). Alguns exemplos de ações que estamos
adotando consistem na tentativa de manutenção de materiais sensíveis, de contextos
comuns, em proximidade e no registro contínuo da umidade e temperatura, com
circulação de ar de forma constante, mas sem o uso de ar-condicionado ou
desumidificadores (CRONYN, 1990; FRONER, 2008; MAEKAWA, 2015).
Pluralidade dos acervos epistêmicos na Amazônia… | Camila Jácome et al.
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As reservas técnicas também guardam acervos temporários – como, por exemplo:
um conjunto cerâmico (urnas polícromas) do sítio Tauary, oriundo do Município de
Tefé/AM (MORAES et al., 2020), cuja guarda definitiva é do Instituto de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá; o material do Projeto “Alimentação, manejo da
terra e cultura: uma abordagem paleoetnobotânica da pré-história indígena no nordeste
do Estado do Amazonas", que possui guarda definitiva no Laboratório de Arqueologia da
Universidade Federal do Amazonas; e algumas coleções da região de Monte Alegre, fruto
da parceria da UFOPA com o Museu Paraense Emílio Goeldi, firmado pelo “Projeto
Arqueologia de Monte Alegre – PA”.
Algumas disciplinas e projetos des professores do curso de Arqueologia têm gerado
acervos de experimentações e de referência, que se tornaram fundamentais nas atividades
de ensino do curso. Os diferentes tipos de acervo são continuamente usados em
disciplinas de análise de materiais (cerâmica, lítico, zooarqueologia, paleobotânica etc.),
de pesquisas de iniciação científica e também na elaboração de trabalhos de finalização
de curso (ANDRADE DOS SANTOS, 2015; ARAÚJO, 2020; BRANCHES, 2019;
CORREA CARVALHO, 2016; FÉLIX, 2018; GÓES, 2017; HOSN, 2018; JESUS, 2018;
LIMA, 2017; PINHEIRO, 2018; PINTO, 2018; SANTOS, S. S., 2018; SANTOS, M. F. S.,
2016; SANTOS; PRESTES-CARNEIRO, 2014; SILVA, 2018; SOUSA ALVES, 2020;
TAVARES, 2018; VASCONCELOS JÚNIOR, 2020; WAI WAI, C., 2019; WAI WAI, J.,
2017).
Coleções de pesquisa
O acervo do Laboratório tem uma enorme potencialidade para pesquisa e ensino de
arqueologia da Amazônia devido à sua diversidade e à possibilidade de experimentação
de metodologias de análises não-destrutivas. Esse acervo conta com materiais de mais de
115 sítios arqueológicos7, provenientes de sete microrregiões amazônicas – três delas, no
rio Tapajós, (baixo, médio e alto Tapajós) e as demais, nas regiões do Planalto santareno,
da Floresta Nacional do Tapajós (FLONA) e da cidade de Belterra (Figura 4). Ainda
próximo à cidade de Santarém, temos sítios pesquisados na região do rio Curuá-Una,
afluente do Amazonas; assim como sítios pesquisados na bacia do rio Trombetas (Figura
4).
Temos amostras representativas de materiais tanto de períodos recentes quanto de
períodos anteriores à invasão europeia, como os encontrados no Sítio Porto e na região
do Planalto santareno (Figura 5). Da região do Planalto, foram feitas escavações no sítio
escola da Fazenda Experimental (UFOPA), onde encontramos, além de cerâmica incisoponteada, muito comum em Santarém e na região do baixo Tapajós, um exemplar de um
muiraquitã, um achado muito raro (Figura 5).
7O
quantitativo exato de sítios e materiais está sendo realizado no processo de inventário e curadoria em andamento.
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315
Figura 4 – Porcentagem do material arqueológico presente na Reserva 2 do Laboratório Curt
Nimuendajú, localizado por microrregiões. Elaborado por Camila Jácome (2020).
Figura 5 – Muiraquitã lítico encontrado em atividades do sítio escola (Novo Império I) do
curso de Arqueologia na Fazenda Experimental da UFOPA À esquerda, peça in situ e à direita,
no Laboratório Curt Nimuendajú. Fotos: Camila Jácome (2016).
Ao longo do rio Tapajós, temos exemplares de sítios escavados na região de Itaituba,
com cerâmicas inciso-ponteadas (ROCHA, 2012, 2017) (Figura 6). Também há materiais
vindos de outras regiões da Amazônia, como do município de Iranduba e do rio Madeira
no estado do Amazonas, com exemplares de cerâmica Axinim e Paredão (MORAES,
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316
2013) (Figura 6). Os acervos do médio e alto Tapajós, assim como da Amazônia Central
estão vinculados aos projetos de pesquisa específicos (GÓES, 2017; TAVARES, 2018;
ROCHA, 2012; 2017; HONORATO DE OLIVEIRA, 2015; MORAES, 2013) (Figura 6).
Figura 6 – Vasilhas cerâmicas do acervo do Laboratório de Arqueologia Curt Nimuendajú.
Acima à esquerda, cerâmica Paredão da Amazônia central; à direita, vasilha Axinim,
proveniente do baixo Rio Madeira. Ao centro e abaixo peças de sítios do Alto Tapajós.
Fotos: Claide Moraes (2012) e Bruna Rocha (2016). Desenho: Marcos Brito (2016).
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O material proveniente da região do rio Tapajós, em suas porções baixa, média e
alta, é o mais representativo do acervo, tanto em termos quantitativos quanto em termos
de diversidade de escala microrregional, temporal e de representação das ocupações
humanas.
Em termos quantitativos, a maior parte do material cerâmico também provém do
sítio Porto. Desse sítio, temos várias coleções formadas por pessoas e metodologias
distintas, a mais antiga delas provém da pesquisa da arqueóloga norte-americana Anna
C. Roosevelt (1989). Posteriormente, em 2010, foi formada a coleção do Sítio Porto e
planalto de Belterra, oriunda das escavações de salvamento da UFPA e do projeto Selva
Cultivada, coordenadas por Schaan e Per Stenborg (STENBORG, 2016). A última coleção
do sítio Porto vem das escavações decorrentes de projetos de salvamento associados, a
partir de 2012, às disciplinas de Iniciação à Prática de Campo do próprio bacharelado em
arqueologia. Grande parte dos sítios encontrados no município são caracterizados por
material de estilo Santarém ou Tapajônico (GOMES et al., 2018).
Figura 7 – Escavações no contexto do sítio escola no campus Tapajós (UFOPA), no sítio
arqueológico Porto. Acima e abaixo, foto geral e de detalhe de conjunto de vasilhas cerâmicas
exumadas in situ. Fotos: Anne Rapp Py-Daniel (2018, 2019).
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318
Coleções formadas por doações
O Laboratório possui, ao todo, 18 coleções provenientes de doações. A composição
dessas coleções é diversa e inclui material cerâmico e lítico dos sítios Aldeia e Porto e de
outras localidades de Santarém, e de comunidades do baixo Tapajós e Amazonas. Essas
doações trouxeram para a reserva materiais históricos (louças, grés, vidro), etnográficos
(cerâmicas, cestarias diversas, plumagens, adornos corporais, raladores etc.) e objetos
elaborados por ceramistas da região. As duas maiores são as coleções Juma Janaína e a
coleção que pertencia ao Museu Esperança, do Instituto Esperança de Ensino Superior
(IESPES).
A coleção Juma Janaína 8 é composta por material cerâmico e lítico da cultura
Santarém (Figura 8). Essa coleção foi doada pelo primeiro coordenador do Laboratório,
egresso do curso de Arqueologia, e pioneiro dos projetos de pesquisa em Santarém e
regiões do entorno, Márcio Amaral, que colaborou com as arqueólogas Denise Schaan e
Anna C. Roosevelt e outros professores do curso. As peças que compõem essa coleção
foram resgatadas em superfície e organizadas ao longo de três décadas. Elas são oriundas
de áreas urbanas e rurais, locais impactados por construções diversas, obras públicas,
processos erosivos causados por desmatamento, extração ilegal de terra preta e
agricultura mecanizada na região do planalto, nos municípios de Santarém, Belterra e
Mojuí dos Campos (AMARAL, 2017; 2018).
Figura 8 – Peças da Coleção Juma Janaína. No alto à esquerda, calibradores sulcados e/ou
furadores ou calibradores de furos e à direita, pequenos contenedores líticos polidos. Abaixo,
aplique de borda em cerâmica tapajônica e disco perfurado lítico decorado por incisão.
Fotos: Claide Moraes (2020).
8A
coleção foi batizada de Juma Janaína em homenagem à filha mais nova de Márcio Amaral.
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Recentemente, recebemos uma doação do Museu Esperança, que fazia parte do
IESPES. Essa coleção conta com 218 itens, sendo estes materiais de períodos antigos e
recentes, principalmente da região dos rios Tapajós e Trombetas-Mapuera (Figura 9).
Figura 9 – Acervo da coleção doada pelo Museu Esperança (IESPES) exposto para estudantes
de Arqueologia na cerimônia de doação. Na foto9 é possível observar cerâmicas e lâmina de
machado arqueológicos; réplicas históricas de cerâmica tapajônica e peças etnográficas, como
remo e arco e flecha.
Coleções de referência
Além de ter, ao longo dos anos, estruturado coleções representativas da região,
docentes do curso foram aos poucos constituindo coleções que podem ser usadas para
identificação de material ósseo e botânico. Essas coleções são essenciais para a formação
des discentes, sobretudo em contextos de reservas técnicas recentes, em que não há
exemplares suficientes de todas as espécies. Apesar das dificuldades de construção de
coleções de referência, elas são ferramentas imprescindíveis na multiplicação do
conhecimento in situ de áreas ainda recém iniciadas na arqueologia amazônica, como a
paleoetnobotânica, a zooarqueologia e a bioarqueologia.
Nos sítios amazônicos, o material orgânico é extremamente fragmentado; há
ausência de livros de anatomia de fauna e flora local com o detalhamento necessário para
identificação das espécies a partir de fragmentos; há poucos bancos de dados com as
diversidades anatômicas existentes etc. Diante disso, a constituição desse acervo evita que
esses tipos de materiais arqueológicos, em geral frágeis, sejam manuseados em demasia.
A coleção de referência de plantas conta com material carbonizado de 49 famílias e
94 gêneros, composta por sementes, frutos e/ou raízes/tubérculos, totalizando 435
amostras. A coleção é produto do projeto intitulado “Carvão oriundo de manejo indígena
da Amazônia” (COMIDA), iniciativa realizada em colaboração com diferentes
instituições para coleta de plantas atuais.
A coleção de referência de animais vertebrados conta atualmente com um total de
225 esqueletos. Desses esqueletos, 199 são de peixes, 13 de répteis, 8 de mamíferos e 5 de
aves. A grande maioria dos animais é proveniente da região de Santarém, com exceção de
peixes que foram coletados no rio Guaporé (Rondônia) e na região de Trinidad (Bolívia).
9 Fonte: http://www.ufopa.edu.br/ufopa/comunica/noticias/pecas-do-museu-esperanca-sao-apresentadas-no-
laboratorio-de-arqueologia/. Acessado em 09/09/2020
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Coleções experimentais
Apesar das imensas possibilidades de produção de peças comparáveis com
exemplares antigos e da realização de testes para pensar em marcas de uso e alterações
por desgaste, na arqueologia brasileira a inclusão de experimentações ainda representa
iniciativas tímidas nos estudos arqueológicos (SOUZA, 2014).
Na UFOPA implementamos, através de uma disciplina optativa no currículo da
graduação, um programa de experimentações que tem apresentado vários
desdobramentos interessantes. Como é uma disciplina optativa, ela vem sendo
frequentada por estudantes de arqueologia e antropologia, com forte participação de
estudantes indígenas, quilombolas e de outras comunidades tradicionais. Como exemplo
de atividade realizada, numa dessas oportunidades, discutimos as possibilidades
experimentais para melhor entendimento da produção e uso das raras pontas de projétil
líticas lascadas encontradas em contexto arqueológico amazônico (Figura 10). Os
participantes indígenas chamaram atenção para o fato de que a ponta é uma parte muito
pequena do artefato e que só através dela seria muito difícil entender o arco e a flecha.
Nossa atividade então se desdobrou em oficinas de lascamento para produção de réplicas
de pontas. O aluno egresso Jaime Xamen Wai Wai se propôs a complementar a
experiência com uma oficina demonstrativa do modo Wai Wai de confeccionar flechas.
Ao produzir exemplares híbridos de flechas Wai Wai com pontas de sílex, tivemos a
oportunidade de partir para os testes de eficiência. As pontas líticas, após alguns disparos,
se fragmentaram, em alguns casos inviabilizando uma reavivagem.
A partir dessa experiência, Xamen Wai Wai voltou para a terra indígena com o
seguinte questionamento para os mais velhos: quais são os motivos para que os indígenas,
atualmente, não utilizem pontas líticas em suas flechas? As respostas foram unânimes:
pontas orgânicas (osso e madeira) têm maior durabilidade, pois permitem várias
reavivagens. Essa pequena experiência abriu margem para pensarmos nos vários
contextos antigos em que as pontas líticas são extremamente raras ou ausentes,
mostrando que durabilidade no contexto arqueológico não necessariamente significa
durabilidade durante o uso.
Figura 10 – Atividades de experimentação de produção de pontas de flecha lítica e vegetal
com professores e estudantes do Cursos de Arqueologia e Antropologia, ocorrida em 2014. À
esquerda, Vinicius Honorato lascando uma réplica de ponta e à direita, Walter Wai Wai, na
época discente de Antropologia, experimentando lançá-la em um alvo.
Fotos: Bruna Rocha (2013).
Experiências semelhantes vêm sendo conduzidas com lascamento, picoteamento,
polimento, corte e perfuração de variadas matérias primas líticas. Vários testes dos
exemplares experimentais produzidos vêm sendo conduzidos com outras matérias
orgânicas com objetivos de testar tanto eficiência quanto desgaste pelo uso. Algumas das
Pluralidade dos acervos epistêmicos na Amazônia… | Camila Jácome et al.
321
experiências se transformam em testes mais controlados, que se desdobraram em
trabalhos de iniciação científica e trabalhos de conclusão de curso.
Por exemplo, Amaral (2017) 10 utilizou experimentação controlada para testar a
viabilidade de utilização de furadores líticos, polidos e lascados, além de furadores
orgânicos, para a produção de furos dos muiraquitãs e contas de colar. Santos (2015)
utilizou experimentação para testar marcas de uso de artefatos cuja funcionalidade como
furadores ou dentes de tábuas de ralar foram levantadas através de análises tecnológicas.
Várias cadeias operatórias envolvendo a produção e uso de cerâmicas também são
objeto de várias experiências. Por exemplo, Esquerdo e Moraes (2013) desenvolveram
amostras controladas para testar variedades e proporções de antiplásticos em diferentes
amostras de argila. Marcião (2019) e Silva (2019) estão dando continuidade a essa
experiência, incluindo novas variáveis na análise e comparando as amostras
experimentais com coleções arqueológicas.
Finalmente, um trabalho inédito para os contextos amazônicos foi desenvolvido por
Santos, Pinto e Rapp Py-Daniel (no prelo), em que são analisados os processos de
movimentação e decomposição em contexto de réplicas de estruturas de enterramento
contendo acompanhamentos orgânicos e cerâmicos com cadáveres de frangos.
Além dessas experiências tão diversificadas, temos como resultados as coleções que
podem ser utilizadas em outras disciplinas do curso de arqueologia e várias outras
atividades didáticas e de extroversão de conhecimento com diversos públicos. Um
exemplo são os kits pedagógicos 11 utilizados como suporte às visitas recebidas no
Laboratório e as atividades extensionistas realizadas nas escolas do município (Figura
11).
Figura 11 – Kit pedagógico com materiais de referência para atividades de extensão em
arqueologia. Fotos: Myrtle Shock (2020).
10 Esse
trabalho rendeu a Márcio Amaral a premiação na categoria de melhor trabalho de graduação em arqueologia pelo
Prêmio Luiz de Castro Faria, do IPHAN, no ano de 2018.
11 Os kits pedagógicos foram produzidos dentro do projeto “Arqueologia nas Escolas: História da Amazônia”, coordenado
por Anne Rapp Py-Daniel e Myrtle Pearl Shock, em parceria com Vinicius Honorato. O projeto recebeu a Menção
Honrosa, em 2019, no Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade do IPHAN e foi criado a partir de uma colaboração entre
professores da UFOPA e pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi.
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322
PROBLEMAS, IMPASSES E TENTATIVAS DE SOLUÇÃO DA RESERVA
Enfrentamos situações similares às de muitas instituições públicas que guardam
acervos no Brasil, e muitos dos impasses enfrentados por essas instituições estão
relacionados às esferas administrativas (SILVEIRA et al. 2017) que não conhecem as
necessidades, as resoluções ou as leis relacionadas ao Patrimônio Arqueológico
Brasileiro. Sendo assim, o principal fator limitante é a restrição orçamentária e alguns
dos procedimentos morosos da administração pública, no que tange ao uso do recurso.
O impacto disso afeta diretamente todos os aspectos das condições de preservação dos
acervos e espaços prediais. As soluções para esses problemas ainda são paliativas.
No que se refere à administração interna do Laboratório, ela é composta pela
coordenação e por servidores de áreas técnicas (uma administrativa e um especialista em
cartografia), além de uma comissão científica. A coordenação e a comissão científica são
compostas por professores, que se dividem nestas tarefas e nas de ensino e pesquisa,
sendo que a Universidade reconhece esse trabalho de forma muito parcial. Essa situação
tem gerado uma sobrecarga de trabalho para docentes e como solução optamos por
compartilhar algumas atividades de organização e gestão com o colegiado do curso.
O orçamento do Laboratório está diretamente vinculado ao do Curso de
Arqueologia, que, por sua vez, recebe recursos via distribuição fixa entre todos os cursos
do Instituto de Ciências da Sociedade. A distribuição do recurso considera o número de
discentes, docentes, projetos de pesquisa e o tempo de permanência de discentes no curso,
e não a infraestrutura que precisa ser gerenciada. Isso torna o orçamento do Laboratório
e da RT muito restrito. Ao longo dos anos, atividades de obras e compras de
equipamentos tiveram que vir diretamente da Reitoria ou via emenda parlamentar. Essa
questão dificulta a compra de material, a contratação de profissionais experientes na
construção de banco de dados de acervos patrimoniais ou mesmo de pessoal qualificado
para atuação dentro das RTs. No que tange toda a região norte do país e em particular o
interior da Amazônia, há muita dificuldade em encontrar empresas que se apresentem
nos pregões para compra ou contratação, e muitas vezes elas desistem de fornecer os
materiais em função dos altos custos de frete e transporte. Essa situação nos obrigou, ao
longo dos anos, a ter que participar de forma extremamente ativa dentro dos processos
universitários de gestão de recursos, forçando professores a se especializarem nos portais
de compra do governo federal.
Uma das questões que atualmente estamos tentando solucionar é a construção de
um Banco de Dados em que as informações sobre as diversas coleções do acervo possam
ser apresentadas ao público de maneira padronizada e digital, permitindo acessos
remotos. Os limites que enfrentamos para a efetivação dessa ferramenta são
orçamentários, de pessoal, de tempo e ausência de documentação das coleções
depositadas anteriormente à criação da UFOPA. A curadoria desse material passa por
questões muito semelhantes à construção do Banco de Dados, visto que nem sempre
temos condições para comprar os materiais necessários para as atividades. Além disso,
parte da curadoria tem sido empreendida em parceria com estudantes bolsistas, atividade
que fica restrita aos seus horários de disponibilidade e à vigência das bolsas. Todo o resto
fica diretamente sob responsabilidade des professores e, eventualmente, des discentes
que integram projetos de pesquisa. Isso é somado a outro elemento problemático para a
gestão do acervo, a ausência de pessoal com especialização em Arqueologia, Museologia
e Conservação. No cenário atual brasileiro, concursos e contratações têm ficado cada vez
mais difíceis.
A ausência de documentação dos projetos anteriores à formação da UFOPA é uma
questão especialmente delicada. Um exemplo dessa situação é uma das coleções do sítio
Porto, que foi de responsabilidade da arqueóloga Anna C. Roosevelt, na primeira década
Pluralidade dos acervos epistêmicos na Amazônia… | Camila Jácome et al.
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dos anos 2000. Não temos nenhum relatório de campo e/ou de curadoria dos materiais
arqueológicos. Por ser uma coleção de tamanho considerável, todo o processo de
inventário deve ser feito a fim de "escavar" informações. Para além de uma questão de
gestão de acervo, a falta de documentação é particularmente problemática para uma
instituição de ensino, que, como mencionado, usa seu acervo para formação des
discentes. Assim, os trabalhos des docentes e discentes que foram realizados sobre outras
coleções do Sítio Porto sofrem com essa ausência de informações, limitando às
possibilidades interpretativas.
Outra questão que está em processo de adequação e para a qual não possuíamos
formação prévia é a conservação preventiva dos acervos. As normativas de gestão do
patrimônio, principalmente as últimas portarias do IPHAN, solicitam conhecimentos e
equipes interdisciplinares. Contudo a realidade do laboratório de Arqueologia Curt
Nimuendajú, assim como de muitos outros, não é essa. Para mitigar tal situação e
fomentar o debate sobre a importância da conservação para discentes do curso, temos
tido apoio de especialistas da área, que vêm colaborando através de cursos de formação
complementar. Assim, em 2018, foi realizado o evento "Conservação e restauro de
materiais arqueológicos e históricos” com especialistas da área da conservação, restauro
e arqueologia da Amazônia. Nesse evento solicitamos recomendações des profissionais
sobre ações importantes a serem realizadas sobre nosso acervo que, assim como a
portaria nº 196/2016 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, servem
de guias para as ações que empreendemos, mas que não substituem a atividade que deve
ser contínua e exercida por profissionais da conservação.
Associada a essa situação, temos percebido que nem todas as orientações em
manuais são pertinentes a países e regiões que enfrentam precariedade em seu sistema de
fornecimento de energia elétrica. Por exemplo, temos que ter uma atenção contínua com
as oscilações de energia, frequentes na região, e, assim, repensar a necessidade de manter
os acervos em ambientes mais secos ou frios, pois em vez de auxiliar na manutenção do
acervo, a oscilação de temperatura e umidade pode acelerar o processo de deterioração.
Essas circunstâncias têm nos levado a manter controles contínuos visuais (fotos) e
descritivos, principalmente com o material frágil e/ou de origem orgânica, e têm servido
como instrumento pedagógico e científico para discussões em nossas atividades de
ensino e pesquisa conforme mencionamos anteriormente. Entretanto, mais uma vez, a
participação de um especialista em conservação no quadro de profissionais seria
fundamental e permitiria ações mais efetivas e permanentes.
PERSPECTIVAS E CONSIDERAÇÕES FINAIS
As coleções arqueológicas e etnográficas do acervo do Laboratório de Arqueologia
Curt Nimuendajú pertencem aos povos que as fabricaram e/ou às populações que hoje,
de alguma forma, se identificam com esses materiais. Se as ações que formaram as
coleções em reservas técnicas foram preconcebidas por ideários racistas, colonialistas e
machistas (WICHERS, 2018), é nosso papel questionar e transformar essas práticas.
Fundamentados nesses questionamentos e considerando o panorama particular e
especial dos acervos e das comunidades com as quais o Laboratório interage e a região
em que ele se encontra, propusemos também no presente artigo o termo “acervos
epistêmicos".
Conceituamos esses acervos como epistêmicos justamente porque esse complexo de
material cultural conflui em uma pluralidade de saberes, envolvendo saber-fazer e
processos de resistência históricos dos povos envolvidos. Para além disso, acreditamos
que novas epistemologias, subjetividades, ontologias, teorias e metodologias devem ser
repensadas pela academia para que de fato dialoguem com as epistemologias femininas,
Pluralidade dos acervos epistêmicos na Amazônia… | Camila Jácome et al.
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negras, indígenas, quilombolas e de outros povos não ocidentais com os quais os acervos
estão relacionados (ALVES, 2019; BARBOZA et al., 2019).
Neste artigo não foi nosso objetivo apresentar uma nova proposta teóricometodológica de gestão de acervos, mas, ao contrário, colocar em evidência que novos
cenários de gestão precisam ser construídos e que metodologias de acesso, estudo,
pesquisa e interação junto às populações locais precisam ser desenvolvidas de maneira
colaborativa considerando as especificidades de cada contexto. Dessa maneira,
acreditamos que poderemos contribuir para a integração da diversidade de saberes e para
a verdadeira ressignificação dessas coleções. Esse autoquestionamento é essencial e fruto
das nossas experiências enquanto docentes, estudantes e servidores tecniques, atuando
em uma universidade pública na Amazônia e sob contextos arqueológicos, socioculturais
e geopolíticos peculiares.
Na última década, o Laboratório vem tentando se reinventar juntamente com a
universidade e a comunidade não acadêmica do oeste do Pará. Atividades de pesquisa,
ensino e extensão estão sendo desenvolvidas em parcerias com escolas, museus, oficinas
de artesãos, Casas e Terreiros de matriz africana, associações des moradores, de
indígenas e de quilombolas, além de outras instituições de ensino e pesquisa da região. O
Laboratório atua como um lócus de conexão geracional e de pluralidade de saberes,
constantemente desafiado pelas dinâmicas de alteridades e identidades e pelas dimensões
epistemológicas de interpretação. Nossa motivação é essa diversidade de sujeitos e,
pensando na hegemonia do discurso científico global, o maior desafio consiste em refletir
conjuntamente e propor formas contra hegemônicas de acesso e de guarda
compartilhada dessas coleções de “acervos epistêmicos".
Pluralidade dos acervos epistêmicos na Amazônia… | Camila Jácome et al.
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