Linguagem técnica, mas acessível para quem não estuda Psicologia. Foi extremamente útil para actualizar conhecimentos em relação a conceitos como "memLinguagem técnica, mas acessível para quem não estuda Psicologia. Foi extremamente útil para actualizar conhecimentos em relação a conceitos como "memória autobiográfica" e "memória colectiva". ...more
"Sou eu, não temas. Não me ouves quebrar em ti todos os meus sentidos? O meu sentir que asas veio a encontrar, voa, branco, à volta da tua face sem ruído"Sou eu, não temas. Não me ouves quebrar em ti todos os meus sentidos? O meu sentir que asas veio a encontrar, voa, branco, à volta da tua face sem ruídos. Não vês a minha alma de silêncio vestida mesmo frente a ti aparecida? Não amadurece minha oração em flor no teu olhar como numa árvore de suave cor?
Eu sou o teu sonho, se sonhador fores. Sou a tua vontade, se velar quiseres e apodero-me da magnificência sem par e arredondo-me como um silêncio estelar sobre a estranha cidade do tempo a passar."...more
"Tens carro, casa e fazes férias na neve, depois num lugar exótico, no verão, e no fim do dia sentes um vazio, possivelmente oriundo da opressão sofri"Tens carro, casa e fazes férias na neve, depois num lugar exótico, no verão, e no fim do dia sentes um vazio, possivelmente oriundo da opressão sofrida pelos teus pais e vizinhos durante toda a vida, impondo e incutindo certos modos de agir normalizadores. Esse «contrato social» resulta de uma força socialista que tenta nivelar todos os indivíduos, puxando-os para o «meio», mas também se intromete de forma lastimável na vida interior de cada um."
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"As forças de alienação nunca foram tão poderosas como atualmente. Estamos sujeitos a um número incrível de estímulos (pela publicidade, pelos filmes, telenovelas, redes sociais, etc.) que nos coloca fora de nós mesmos, capazes de consumir tudo. Ao mesmo tempo pede-nos para nos tornarmos indivíduos emancipados e salvar o mundo, sem os instrumentos (sem o ensino, os regimes económico e político) que nos permitam operar uma revolução dessa natureza. Considero que trabalhamos sob uma nuvem negra que afeta o nosso modo de produção e a nossa vida, ainda que de forma pouco aparente, sem querermos vivamente lidar com o problema. Contrariamente a qualquer pensamento apocalíptico, trata-se de aprender a viver com a morte, reparar, cuidar, viver de outra maneira — algo que tem de ser operado também no plano sensível."
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"A arte não pode ser comparada com a vida e classificada como maior ou menos porque são distintas. A arte é uma atividade intensificadora da vida. Ela permite aumentar as possibilidades de vida e criar resistência, positiva, à codificação da diferença operada pelo capitalismo e massificada pela IA (inteligência artificial). A arte permite estabelecer novas associações, tornando-se essencial para podermos manter o futuro em aberto e aprender a viver com o desastre em que estamos inseridos, quiçá transformar epistemologicamente o sentido da vida e encontrar um novo equilíbrio entre nós e a natureza, à qual pertencemos."...more
"Em cada dia existe um poema ardente como se colhido fosse na descida de um asteróide em chamas.
Seu leque de palavras é de brasa e o próprio movimento qu"Em cada dia existe um poema ardente como se colhido fosse na descida de um asteróide em chamas.
Seu leque de palavras é de brasa e o próprio movimento que lhe cabe alastra a combustão da sua ferida aberta sempre — e nunca suturável."...more
Li este livro entre 2002 e 2003 e as poucas recordações que tinha eram esfumadas, como se vistas através de um nevoeiro denso. A leitura (e releitura)Li este livro entre 2002 e 2003 e as poucas recordações que tinha eram esfumadas, como se vistas através de um nevoeiro denso. A leitura (e releitura) de clássicos como "Crime e Castigo", "Os Irmãos Karamázov", "O Idiota", entre outros que figuram na minha lista de favoritos (não só do autor, mas também da literatura em geral), contribuiu para uma certa indiferença para com este livro — indiferença que é, diga-se já, totalmente infundamentada. Trata-se de uma breve narrativa onde o herói, Aleksei Ivánovitch, descobre as vertigens do jogo: o lado da sedução partilha espaço com o lado do abismo; a cada passo em direcção ao que atrai, desvenda-se também uma imensa vertigem, uma náusea, uma sensação de limite. Dostoiévski é brilhante (e eu leio-o nestas traduções de Nina Guerra e Filipe Guerra, só posso fantasiar com o prazer de ler o autor em russo!) na criação de paisagens interiores, em todos os seu recantos, luzes e sombras, de tal modo que senti essas mesmas vertigens nas mãos e o meu coração pulsante em sincronia com o de Aleksei....more