Reservatorio Convencioal e Nao Convencional PDF
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CHEMISTRY WITHOUT BORDERS: THE ENERGY CHALLENGES. Coal, natural gas and petroleum-based liquid fuels are still
the most widely used energy sources in modern society. The current scenario contrasts with the foreseen shortage of petroleum that
was spread out in the beginning of the XXI century, when the concept of “energy security” emerged as an urgent agenda to ensure
a good balance between energy supply and demand. Much beyond protecting refineries and oil ducts from terrorist attacks, these
issues soon developed to a portfolio of measures related to process sustainability, involving at least three fundamental dimensions:
(a) the need for technological breakthroughs to improve energy production worldwide; (b) the improvement of energy efficiency
in all sectors of modern society; and (c) the increase of the social perception that education is a key-word towards a better use of
our energy resources. Together with these technological, economic or social issues, “energy security” is also strongly influenced by
environmental issues involving greenhouse gas emissions, loss of biodiversity in environmentally sensitive areas, pollution and poor
solid waste management. For these and other reasons, the implementation of more sustainable practices in our currently available
industrial facilities and the search for alternative energy sources that could partly replace the fossil fuels became a major priority
throughout the world. Regarding fossil fuels, the main technological bottlenecks are related to the exploitation of less accessible
petroleum resources such as those in the pre-salt layer, ranging from the proper characterization of these deep-water oil reservoirs,
the development of lighter and more efficient equipment for both exploration and exploitation, the optimization of the drilling
techniques, the achievement of further improvements in production yields and the establishment of specialized training programs for
the technical staff. The production of natural gas from shale is also emerging in several countries but its production in large scale has
several problems ranging from the unavoidable environmental impact of shale mining as well as to the bad consequences of its large
scale exploitation in the past. The large scale use of coal has similar environmental problems, which are aggravated by difficulties
in its proper characterization. Also, the mitigation of harmful gases and particulate matter that are released as a result of combustion
is still depending on the development of new gas cleaning technologies including more efficient catalysts to improve its emission
profile. On the other hand, biofuels are still struggling to fulfill their role in reducing our high dependence on fossil fuels. Fatty acid
alkyl esters (biodiesel) from vegetable oils and ethanol from cane sucrose and corn starch are mature technologies whose market
share is partially limited by the availability of their raw materials. For this reason, there has been a great effort to develop “second-
generation” technologies to produce methanol, ethanol, butanol, biodiesel, biogas (methane), bio-oils, syngas and synthetic fuels from
lower grade renewable feedstocks such as lignocellulosic materials whose consumption would not interfere with the rather sensitive
issues of food security. Advanced fermentation processes are envisaged as “third generation” technologies and these are primarily
linked to the use of algae feedstocks as well as other organisms that could produce biofuels or simply provide microbial biomass for
the processes listed above. Due to the complexity and cost of their production chain, “third generation” technologies usually aim at
high value added biofuels such as biojet fuel, biohydrogen and hydrocarbons with a fuel performance similar to diesel or gasoline,
situations in which the use of genetically modified organisms is usually required. In general, the main challenges in this field could
be summarized as follows: (a) the need for prospecting alternative sources of biomass that are not linked to the food chain; (b) the
intensive use of green chemistry principles in our current industrial activities; (c) the development of mature technologies for the
production of second and third generation biofuels; (d) the development of safe bioprocesses that are based on environmentally benign
microorganisms; (e) the scale-up of potential technologies to a suitable demonstration scale; and (f) the full understanding of the
technological and environmental implications of the food vs. fuel debate. On the basis of these, the main objective of this article is to
stimulate the discussion and help the decision making regarding “energy security” issues and their challenges for modern society, in
such a way to encourage the participation of the Brazilian Chemistry community in the design of a road map for a safer, sustainable
and prosper future for our nation.
*e-mail: jailsondeandrade@gmail.com
Vol. 36, No. 10 Química Sem Fronteiras: o desafio da energia 1541
INTRODUÇÃO até 2035: o Cenário Político Atual (CPA), Novo Cenário de Políticas
(NCP) e o Cenário 450 (C450).
No artigo Química Sem Fronteiras1 os autores, em nome da O CPA considera as políticas governamentais e regulações
Diretoria e Conselho da Sociedade Brasileira de Química, convidam que foram adotadas até meados de 2012 e que permanecerão sem
os Colegas a escreverem textos sobre os grandes desafios atuais e alterações, prevendo, neste caso, um aumento de 1,5% por ano na
futuros do planeta e da humanidade: educação; cidadania plena; demanda global de energia até 2035. Por sua vez, o NCP mantém
mudanças climáticas; produção e qualidade dos alimentos; aces- as regulações atuais e considera novas implementações, mesmo que
so e qualidade da água; segurança energética; preservação de de maneira cautelosa, dos compromissos já promulgados. O NCP
ecossistemas e das espécies; doenças emergentes e qualidade de estima um aumento na demanda energética de 1,2% ao ano. Por outro
vida.1 Nestes, destacam-se os seguintes temas centrais: Educação lado, a racional do C450 é diferente. Ao invés de ser uma projeção
(todos os níveis); Vida (incluindo fármacos e medicamentos); com base em tendências passadas, modificadas por ações políticas
Matérias-primas e Materiais “novos e velhos” (incluindo nanoci- conhecidas, o C450 escolhe um caminho de energia consistente com
ência e nanomateriais); Biodiversidade (incluindo recursos naturais as ações políticas que consideram 50% de chance de alcançar a meta
não-minerais); Energia, Água, Alimentos e Ambiente; Inovação e de limitar o aumento da temperatura média do planeta a dois graus
a Indústria Química. Celsius (2 °C), em comparação com os níveis pré-industriais.5 Esta
Dentre os recursos mais utilizados atualmente para fins energé- meta foi sugerida no Acordo de Copenhagen em 2009.6 Para atingir
ticos encontram-se o carvão, o gás natural e o petróleo, sendo este esse objetivo, a concentração de longo prazo de gases estufa precisará
último o mais empregado na forma de combustíveis líquidos como ser limitada a cerca de 450 partes por milhão de dióxido de carbono
a gasolina e o óleo diesel. Diariamente, estima-se que 336 milhões equivalente (450 ppm CO2-eq). Assim, o nome do cenário é derivado
de litros de petróleo sejam consumidos mundialmente, dos quais, do valor dessa meta. Contudo, o C450 prevê um aumento de apenas
para cada dois litros utilizados, apenas um é descoberto, principal- 0,6 % por ano até 2035.5
mente nos fundos de mares, oceanos e sob densos mantos de gelo. Apenas para comparação, o nível de CO2 na atmosfera de 10 de
O cenário atual contrasta com o do início do século XXI, quando maio de 2013, medido no Observatório em Mauna Loa,7 já atingiu
havia a previsão de escassez do petróleo, quando um novo conceito 400 ppm. Logo, se nos dias atuais, mesmo ainda sem considerar a
emergiu: “segurança energética”, que significa muito mais do que concentração dos outros gases estufa, já se tem 400 ppm de CO2 no
proteger refinarias e oleodutos contra ataques terroristas. Segurança ar, para não ultrapassar a meta do C450 será necessário mudar o
energética pode ser melhor compreendida como a capacidade de paradigma atual de matriz energética internacional. Neste contex-
manter a máquina global funcionando, isto é, produzindo combustí- to, serão considerados a seguir os pontos negativos, positivos e os
veis e eletricidade suficientes, a preços acessíveis, para que todos os principais desafios de ter como prioridade o uso dos combustíveis
países possam, pelo menos, manter sua economia operando e o seu fósseis, tais como petróleo, gás natural e carvão (convencionais e não
povo alimentado.2,3 “Segurança Energética” envolve, pelo menos, convencionais), e/ou dos biocombustíveis considerando-se, sempre
três dimensões: (i) tecnológica, que engloba o desenvolvimento de que possível, os três cenários futuros (CPA, NCP e C450).
novas tecnologias na geração de energia; (ii) econômica, que envolve
a eficiência energética e o consumir de forma diferente, e (iii) social, Gás natural
a percepção do significado da produção e uso da energia inclui,
fortemente, a educação.4 Gás natural é um combustível de origem fóssil, composto majori-
Portanto, seja pela exaustão das reservas, pelos efeitos nocivos tariamente por metano, mas também estão presentes o etano, propano,
causados ao meio ambiente, pela dificuldade dos procedimentos de butano, pentano e hidrocarbonetos mais pesados em quantidades
prospecção ou pelos gases tóxicos gerados na combustão, a busca minoritárias.8 As reservas mundiais existentes de gás natural (oriundo
por “segurança energética” e por fontes renováveis de energia de fontes convencionais) são de 6707 trilhões de pés cúbicos, consi-
tornou-se imprescindível e canalizou esforços em todo o planeta na derando dados atualizados para 2013. Os países que têm as maiores
prospecção de fontes alternativas de energia, com foco especial nos reservas são a China, Estados Unidos, Canadá e Austrália.8,9
biocombustíveis. Nesse sentido, este artigo, foca o desafio energético, Existem reservatórios de gás natural convencional e não conven-
com atenção especial aos combustíveis fósseis (petróleo, gás natural cional. Os reservatórios convencionais são de fácil e de direta extra-
e carvão) e os biocombustíveis. ção, pois as moléculas de metano estão retidas nos poros de minerais
permeáveis. Desde o início da exploração de gás natural, iniciado a
NOVAS FRONTEIRAS DE ENERGIA: DESAFIOS ATUAIS cerca de 100 anos, o gás natural convencional tem sido o único foco
E FUTUROS da indústria de petróleo e gás. Por outro lado, gás natural de fontes
não convencionais trata-se do metano que fica preso ou retido nos
Para se discutir sobre o desafio energético da atualidade e para poros de diferentes formações geológicas que, devido à impermea-
os próximos 20 - 30 anos é preciso, necessariamente, considerar as bilidade destas, não são facilmente extraídos. Fontes de gás natural
possíveis mudanças na matriz energética mundial. Mudanças em um não convencional são o gás de xisto (do inglês shale gas, proveniente
curto espaço de tempo na demanda por energia e na contribuição re- do mineral xisto), clatratos (moléculas de metano presas em clusters
lativa de cada tipo de combustível na matriz energética mundial será formados por moléculas de água, sob alta pressão, presos em camadas
principalmente uma função de condições econômicas, de variação dos profundas dos oceanos), gás natural recuperado de jazidas de carvão
preços associados e de possíveis impactos no ambiente. Entretanto, (do inglês coalbed methane, CBM) e gás natural retido nos poros de
mudanças de longo prazo poderão ocorrer de uma maneira mais efe- diferentes rochas tais como arenito, que são menos permeáveis ainda
tiva, dependendo da forma que ações governamentais poderão afetar do que o xisto (do inglês tight gas). A principal diferença entre esses
os mercados de energia, em resposta aos desafios energéticos futuros. tipos de fontes não convencionais de gás natural é a ocorrência destes
Dessa forma, levando-se em consideração o aumento populacional em diferentes formações geológicas. O gás natural recuperado de
de 1,7 bilhões de pessoas e a expansão econômica mundial de quase fontes não convencionais é de produção mais difícil e de maior custo
140%, a Agência Internacional de Energia (EIA)5 considera três associado à extração. Apenas recentemente foram descobertos novos
cenários possíveis para tentar prever a demanda global de energia reservatórios de gás não convencional em muitos lugares do mundo
1542 da Rocha et al. Quim. Nova
e também foram alcançados o know-how e as tecnologias adequadas em um país perto da autossuficiência de gás natural até 2035. Os
que tornou viável técnica e comercialmente a extração de gás natural. EUA passam de importador para exportador e se tornarão um dos
O gás de xisto é o gás natural que fica retido no xisto. Xisto é países líderes no cenário do mercado mundial de gás natural. Há
uma rocha sedimentar formada pela ação das placas tectônicas sobre atualmente muitas companhias multinacionais nos Estados Unidos
minerais tais como a argila, arenito e o silte, formando um mineral começando a produzir gás de xisto e ainda vem trabalhando para
impermeável, laminado, chamado de folhelhos. A extração do gás ajustar a infraestrutura disponível para transformar o gás de xisto
natural se dá através de um processo chamado de fratura hidráulica (do em gás natural liquefeito (LNG) para poder prontamente exportá-lo.
inglês fracking). A fratura hidráulica é um processo de bombeamento Os principais importadores do gás de xisto americano poderá ser a
de um fluido ou gás através de um poço aberto verticalmente no solo Europa, que apesar de ter reservas de gás de xisto no Reino Unido,
em algumas centenas de metros de profundidade, até encontrar uma França e Polônia, eles não apresentam o know-how e a infraestrutura
região ou camada considerada apropriada para a extração do gás necessária para a extração, nem mesmo há um consenso sobre as
natural, e então é feita uma perfuração horizontal, de alguns metros políticas públicas sobre seus efeitos ambientais, tais como a fratura
de extensão. A pressão gerada provoca o aparecimento de fissuras no hidráulica. O Canadá, por sua vez, que antes era exportador de gás
xisto formadas ao redor do poço. O fluido bombeado, que geralmente natural convencional, está trilhando o mesmo caminho dos Estados
é composto por água, areia e diferentes aditivos, percorre as fraturas Unidos para se desenvolver adequadamente para começar a explo-
geradas e provoca a extração do gás natural proveniente do xisto.10 ração de gás de xisto. A China, que era dependente do gás natural de
Quando chega à superfície, o gás natural está presente na mistura reservas convencionais da Rússia, agora é o país que tem as maiores
de água, lama, metais traço e aditivos usados na fratura hidráulica. reservas de gás de xisto no mundo. A China também está investindo
Processos relativamente similares ao de fratura hidráulica usados para tempo e dinheiro para implementar rapidamente a exploração do
a exploração do gás de xisto são também empregados para a extração gás de xisto e poderá vir a exportá-lo, provavelmente para o Japão e
do gás natural proveniente do arenito (tight gas). A exploração do Oceania, já que a Austrália, apesar de ter reservas apreciáveis de gás
gás natural recuperado de jazidas de carvão ocorre antes da extração de xisto, estas estão um pouco mais distante da costa e próximas a
do carvão. A exploração do metano proveniente dos clatratos ainda grandes centros urbanos, e possui também grandes reservas de gás
é incipiente. natural convencional, o que provavelmente irá atrasar a exploração
Considerando o gradual esgotamento de reservas convencionais do gás de xisto. A Argentina, que tem as maiores reservas da América
de gás natural, vem crescendo o interesse na exploração de gás natural do Sul, se organizou num consórcio de empresas e prevê o início das
proveniente de fontes não convencionais, tais como o gás de xisto. atividades de exploração de gás de xisto entre três ou quatro anos.8,12-14
Conforme pode ser observado na Tabela 1, as reservas mundiais O Brasil possui cerca de 245 trilhões de pés cúbicos de gás de
de gás de xisto, que são tecnicamente viáveis de ser recuperado o xisto comprovados por Serviço Geológico Americano (do inglês
gás natural, são de 7299 trilhões de pés cúbicos.11 Dentre os países United States Geological Service, USGS),15 disponíveis nas bacias
que possuem as maiores reservas estão China, Argentina, Argélia, hidrográficas do Paraná, Solimões e Amazonas,16 Bacia do Recôncavo
Estados Unidos e Canadá. O Brasil aparece em décimo lugar no e Bacia do São Francisco (norte da Bahia e sul de Minas Gerais).
ranque, com 245 trilhões de pés cúbicos de gás de xisto. Para 2035, No final deste ano (2013), serão leiloados pela ANP, blocos de gás
nas projeções sobre gás natural, as fontes não convencionais irão natural para a exploração de gás de xisto nessas bacias brasileiras.17
contribuir com aproximadamente a metade da demanda de todo o Adicionalmente, as estimativas da ANP sugerem que ainda há mais
gás natural mundial. reservas de gás de xisto para serem descobertas ou corretamente
dimensionadas, o que poderia ultrapassar os 500 trilhões de pés
Tabela 1. Os dez primeiros países no ranque de reservas de gás de xisto cúbicos, o que significaria que o potencial de geração de energia iria
tecnicamente viáveis# ser maior do que aqueles provenientes do Pré-Sal.18
Segundo os três cenários de demanda por energia até 2035, o
Gás de xisto
colocação país consumo de gás natural continuará a expandir. Este é o combustível
(trilhões de pés cúbicos)
fóssil de mais rápido crescimento, visto que apresenta algumas van-
1 China 1.115 tagens: a quantidade e as variedades de reservatórios de gás natural
2 Argentina 802 distribuídas em diferentes países; apresenta uma boa probabilidade
3 Argélia 707 de manter os preços em níveis competitivos; é o combustível menos
intensivo em termos de emissão de carbono, sendo então aquele que
4 Estados Unidos 665
o seu uso é menos afetado por políticas de redução de emissões de
5 Canadá 573 gases estufa. No Cenário Político Atual, a demanda mundial de gás
6 México 545 sobe de 3,4 trilhões de metros cúbicos (tm3) para 5,5 tm3, o que pode
representar uma taxa de 1,9 % ao ano em 2035. Por sua vez, no NCP,
7 Austrália 437
haverá um crescimento a uma taxa de 1,9 % ao ano (chegando a 5,0
8 África do Sul 390 tm3). No entanto, para alcançar a meta do aumento da temperatura
9 Rússia 285 global de apenas 2 oC, no Cenário 450, novas políticas mais restritivas
10 Brasil 245 terão que ser tomadas para que o crescimento da demanda por gás
não ultrapasse 0,7 % ao ano.5 Com isso, a contribuição de gás natural
Total no mundo 7.299
para a matriz energética mundial será de 23 % para o CPA, de 24%
#
Dados atualizados pela EIA em 13 de Junho de 2013.11 para NCP e de apenas 22 % no C450 (Figura 1).
ser proveniente de fontes convencionais e não-convencionais. prazo a redução pode ser diluída pelo próprio reajuste do mercado,
Reservatórios não convencionais de petróleo são o óleo de xisto (do considerando de maneira diferente a produção do petróleo proveniente
inglês shale oil, proveniente do xisto betuminoso) e o óleo retido nos de países que fazem e que não fazem parte da OPEC (Organization
poros de diferentes rochas, tais como arenito (do inglês tight oil). of the Petroleum Exporting Countries).11
Enquanto que as reservas mundiais de óleo convencional extraído em O petróleo proveniente do Pré-Sal no Brasil é extraído de ca-
áreas continentais ou de águas oceânicas (baixa e média profundida- madas geológicas ricas em carbonato, localizadas abaixo de uma
des) estão quase que totalmente localizadas no Oriente Médio, Líbia, grossa camada de sal (de até 2000 m de espessura), nas Bacias de
Golfo do México e Rússia, as reservas mundiais de óleo de xisto e Campos e de Santos. Até agora os maiores esforços de exploração
tight oil estão bem distribuídas em várias regiões, com os principais e produção foram efetuados na Bacia de Santos, que possui seis
produtores sendo Rússia, Estados Unidos, China, Argentina e Líbia clusters de exploração de pré-sal operados pela Petrobrás em con-
(Tabela 2). Por sua vez, as reservas de óleo em águas profundas e ultra- junto com algumas multinacionais, tais como as portuguesas Galp e
-profundas do Pré-Sal estão sendo principalmente concentradas no Partex, a holandesa Shell, a britânica BP e a espanhola Repsol. Até
Brasil, mas são também encontradas no Casaquistão, Angola e Gabão. o momento, estão em exploração apenas três poços de petróleo no
pré-sal brasileiro, em poços de estudo piloto na Bacia de Santos, visto
Tabela 2. Os dez primeiros países no ranque de reservas de óleo de xisto que a P&D&I necessários para a extração do petróleo em regiões tão
tecnicamente viáveis# profundas, de cerca de 6000 a 9000 m de profundidade, ainda estão
sendo desenvolvidos, o que demanda um tempo razoável e uma boa
Óleo de xisto
colocação país quantidade de investimentos.21,22
(bilhões de barris)
Os maiores desafios tecnológicos que apresentam a exploração do
1 Rússia 75 petróleo do pré-sal são a caracterização do reservatório de petróleo, a
2 Estados Unidos 58 melhoria da taxa de recuperação do óleo extraído, a necessidade do
3 China 32 desenvolvimento de equipamentos mais eficientes e mais leves para
especificamente perfurar os poços em regiões ultra-profundas, bem
4 Argentina 27
como de encontrar pessoas com as características técnicas apropriadas
5 Líbia 26 para manuseá-las, otimização de procedimentos de construção de
6 Australia 18 poços, logística, obter a geometria correta do furo dos poços, evitando
que a camada de sal bloqueie a passagem do petróleo até a superfície,
7 Venezuela 13
dentre outros detalhes de engenharia.22,23 Os desafios são grandes e
8 México 13 a previsão é que poderão ser necessários investimentos agressivos
9 Paquistão 9 durante dez anos, na ordem de um trilhão de dólares, que significa
10 Canadá 9 cerca de metade do PIB brasileiro de 2010 para a plena exploração do
petróleo do pré-sal das Bacias de Campos e de Santos.24 A Petrobras
Total no Mundo 345
atualmente está investindo próximo de 60 bilhões de dólares entre
Dados atualizados pela EIA em 13 de Junho de 2013.
# 11
2012-2016, com investimentos adicionais dos parceiros da iniciativa
privada para desenvolver e estar apta a explorar 19 plataformas e 500
O óleo de xisto, dependendo das características geológicas de uma poços de petróleo. A estimativa da Petrobrás é de poder extrair cerca
dada região, pode ocorrer em regiões muito próximas das reservas do de 4,2 milhões de barris de petróleo ao dia em 2020.5
gás de xisto, ou mesmo os dois combustíveis podem ser extraídos de As reservas do pré-sal brasileiro estão entre 9 a 15 billhões de
um mesmo reservatório. Tecnicamente, é desejável que entre 15 a 25 barris de petróleo, e se adicionados às reservas atuais de 14,5 bilhões
% do conteúdo das reservas de óleo de xisto seja de gás natural, que de barris de petróleo, proveniente de outros tipos de reservatórios que já
devido aos valores maiores de expansão de gases do que de líquidos, possui, o Brasil ocupará o sétimo lugar no ranque mundial de reservas
facilita o processo de bombeamento do óleo cru para a superfície e comprovadas de petróleo, ficando atrás da Arábia Saudita, Venezuela,
reduz os custos associados à exploração, tornando um poço de ex- Irã, Iraque, Kuwait e Emirados Árabes Unidos.23 Isso certamente mu-
ploração de óleo de xisto favorável economicamente. A exploração dará o cenário geopolítico atual. Nesse mesmo sentido, a geopolítica
do óleo de xisto também é feita pelo processo de fratura hidráulica. global irá também mudar devido a recentes descobertas de gás de xisto
Recentemente publicada pela EIA, foram contabilizados cerca de e óleo de xisto pelo Brasil, Estados Unidos, Canadá, Austrália e China.
345 bilhões de barris de petróleo de reservas mundiais comprovadas Possíveis insatisfações por parte dos países do Oriente Médio e da
de óleo de xisto (Tabela 2).11 A estimativa recentemente, veiculada Rússia, tradicionais exportadores de petróleo para o mundo, dependerão
na mídia para o Brasil, é de 34,8 bilhões de barris de óleo de xisto.16 de muita diplomacia por parte dos políticos no mundo.
Entretanto, em um futuro próximo a quantidade comprovada de barris A EIA sugere que o uso de óleo nas próximas décadas difere
de óleo de xisto muito provavelmente irá aumentar, já que ainda estão consideravelmente por cenário, refletindo diferentes suposições sobre
em andamento avaliações geológicas em muitos lugares do mundo as políticas do governo para conter a crescente demanda por óleo e
(foram avaliados apenas 41 países). diminuir os níveis de emissão dos gases estufa e outros poluentes para
Uma análise feita pela PwC20 sugere que a produção global de atmosfera. Tanto no CPA quanto no NCP o uso de petróleo aumenta
óleo de xisto tem o potencial de alcançar até 14 milhões de barris em termos absolutos até 2035, impulsionado principalmente pelo
por dia em 2035, representando cerca de 12 % do suprimento total de crescimento populacional e econômico nas economias emergentes,
óleo no mundo. Supõe-se que esse aumento poderá reduzir os preços mas cai no Cenário 450, devido a novas regulações que visam limitar
do óleo em 2035 para entre 25 e 40% (US$83-US$100 por barril), o uso de combustíveis fósseis. A contribuição relativa do petróleo na
uma previsão bem menor do que a projeção da EIA de US$ 133 por matriz energética mundial cai nos três cenários, sendo que ocorre de
barril em 2035, devido às reservas de óleo de xisto. As estimativas é maneira mais acentuada no Cenário 450, onde atinge 24% em 2035,
que isso aumente cerca de 2,3-2,7% o nível do PIB mundial em 2035. abaixo de 32% em 2011. A percentagem cai de 27% no CPA para
A EIA pondera que a exploração do óleo de xisto poderá ter efeito 26 % no NCP (Figura 1).5 Em resumo, mesmo com a possível queda
de redução do preço do barril de petróleo a curto prazo, mas a longo na contribuição do petróleo na matriz energética mundial, persistem
1544 da Rocha et al. Quim. Nova
os vários desafios científicos e tecnológicos associados à exploração como principal combustível para conseguir vencer o crescimento da
do petróleo do xisto e do pré-sal. demanda por energia para os próximos anos, o que poderá significar
a participação de 16 % e 47 %, respectivamente, de toda a demanda
Carvão mundial de carvão até 2035.5
Apesar de o carvão ser abundante, relativamente barato e facil-
Historicamente, a humanidade vem usando carvão mineral como mente encontrado, há certos fatores, principalmente ambientais, que
forma de geração de energia mais do que outros combustíveis fósseis. associam aspectos negativos ao seu uso. A sua queima libera para
O carvão é usado principalmente para produção de energia primária, a atmosfera altos níveis de CO2, NOx, SOx, material particulado e
ou seja, para produção de eletricidade para consumidores domésticos, mercúrio, além de gerar cerca de 300 mil toneladas de cinzas por
comerciais e industriais, mas também têm amplo emprego como insu- gigawatt de energia por ano. As termoelétricas são os principais emis-
mo na indústria siderúrgica para a fabricação de ferro, aço e alumínio; sores CO2 tanto em termos absolutos quanto em termos de quilowatts
e também na indústria do cimento, cal e tijolos. Na última década o hora (kWh). Ainda, deve-se levar em conta que o próprio processo
carvão respondeu por 45% da demanda energética mundial.5,25 Se no de mineração do carvão, que geralmente acontece a céu aberto, tem
Brasil o carvão não é a principal fonte de energia utilizada,18 em nível significante impacto ambiental e ecológico. Muitos esforços políticos,
mundial ele é o principal combustível no mix de fontes energéticas econômicos e científicos vêm tentando superar os desafios ambientais
e certamente o segundo mais importante combustível em termos de associados à queima do carvão, tais como melhoria da eficiência
consumo de energia, perdendo apenas para o petróleo.5,25 Enquanto as energética e a captura e sequestro de carbono.4 Segundo a Associação
estimativas de que reservas atuais de óleo e gás convencionais terão Mundial de Carbono (World Coal Association), a eficiência média de
duração entre 46 e 54 anos, estima-se que as reservas mundiais de geração de energia pelas termelétricas ao redor do mundo é de apenas
carvão durem cerca de 120 anos no ritmo atual de demanda energé- 34%, bem abaixo do padrão de 45% de eficiência estabelecida. Isso
tica.25 Por todas essas razões, o carvão é considerado um combustível significa que poderia ocorrer redução na emissão de CO2 por quanti-
central no debate sobre energia. dade de carvão queimado se fossem renovadas as antigas plantas de
O carvão mineral é composto principalmente de hidrogênio, car- termoelétricas, tornando-as mais eficientes. As estimativas são que se
bono, enxofre, nitrogênio e alguns elementos-traço, sendo formado houvesse um aumento na eficiência energética das termelétricas de
pela decomposição de matéria orgânica (resto de árvores e plantas) cerca de 1%, haveria uma redução de cerca de 2-3% nas emissões de
durante milhões de anos, em condições adequadas de temperatura e CO2. Ainda, se houvesse a renovação das termoelétricas de mais de
pressão.26 O carvão pode variar de acordo com seu tempo de formação 30 anos e a substituição daquelas menores que 250 MW por plantas
e maturidade, podendo ser classificado de acordo com o teor de car- maiores, mais novas e mais eficientes haveria uma redução de 5,5%
bono e poder calorífico. O “ranque” de carvão apresentado em ordem da emissão de gases estufa, que é mais do que é previsto no Protocolo
crescente de maturidade, teor de carbono e poder calorífico é: linhito, de Kyoto.25 Entretanto, os investimentos associados à melhoria da
sub-betuminoso, betuminoso e antracito. Os dois primeiros tipos de infraestrutura de termelétricas e em P&D para melhoria da eficiência
carvão são considerados de baixa qualidade (47 % das reservas mun- energética e em procedimentos para o sequestro de carbono a curto
diais, usado principalmente para geração de energia elétrica e alguns ou médio prazo dificilmente serão realidade, pois hoje estas ainda
usos industriais) e os dois últimos, carvão de alta qualidade (53 % não se apresentam completamente desenvolvidas e economicamente
das reservas mundiais, sendo que o antracito corresponde a apenas viáveis em escala comercial.
a 1% destas, usado principalmente em siderúrgicas para fabricação No CPA, que assume que não haverá mudanças nas regulações
de ferro e aço). O total de reservas de carvão comprovadas e econo- atuais, a demanda do carvão crescerá 1,9% ao ano até 2035 e des-
micamente viáveis para exploração no mundo é de 861 bilhões de tronará, por volta de 2025, o óleo como principal combustível. O
toneladas, distribuídas em mais de 70 países.18,27 As maiores reservas carvão representará então 31% da matriz energética mundial. No
estão nos Estados Unidos, Rússia, Índia e China.5,25 As reservas de NCP, o carvão mantém seu status como segundo mais importante
carvão americanas são 1,5 vezes maiores que a da Rússia e cerca de combustível, crescerá apenas 0,8% por ano e contribuirá com cerca
duas vezes maiores que as reservas chinesas. Os Estados Unidos, 25% na partilha da matriz energética mundial. Já o Cenário 450,
considerando apenas suas reservas de carvão, têm independência que fundamentalmente baseia-se em processos de descarbonização,
energética de cerca de 250 anos.26 Por outro lado, países com cres- o carvão, contribuindo com apenas 16% para a matriz energética
centes superpopulações tais como a Índia e a China têm o carvão (Figura 1), será parcialmente substituído por gás natural e fontes
Figura 1. Projeções sobre a matriz energética mundial para 2035, considerando três cenários possíveis: Cenário de Políticas Atual (CPA), Novo Cenário de
Políticas (NCP) e Cenário 450 (C450); [Fonte: Energy International Agency]
Vol. 36, No. 10 Química Sem Fronteiras: o desafio da energia 1545
renováveis de energia. O crescimento na demanda total de energia biocombustíveis, sem aumentar a área plantada das culturas tradicio-
para 2035, em termos absolutos, é de 18676 mega toneladas de óleo nais. No entanto, os processos envolvidos na transformação destas
equivalentes (Mtoe) para o CPA, 17197 Mtoe para o NCP e 14793 matérias-primas em energia e bens de consumo ainda enfrentam
Mtoe para C450. Observa-se que para alcançar as metas ambientais dificuldades quando à viabilidade tecnológica, econômica e socio-
no C450, a participação dos combustíveis de origem fóssil é reduzida ambiental, particularmente no que diz respeito à logística.
e é aumentada a participação de bioenergia (produção de energia A expansão da produção de biocombustíveis tem gerado discus-
através da biomassa) chegando a até 15%, e de outros renováveis sões inflamadas sobre aspectos éticos como a segurança alimentar
(energia eólica, geotérmica, célula a hidrogênio e energia solar) e o desmatamento de áreas de grande sensibilidade ambiental e/ou
que juntos contabilizariam 8% e considera-se também um aumento ampla biodiversidade.28 No entanto, é também crescente a constatação
na participação de energia de origem nuclear (11%). Na Figura 2 de que a migração para a era dos biocombustíveis é uma necessidade
pode ser observada a demanda de energia para 2035,5 considerando mundial e que a liderança tecnológica nesta área representa muito
combustíveis renováveis e não-renováveis, para os setores: indústria, em relação ao futuro da geopolítica internacional.
transporte, construção e outros (energia gasta em agricultura e outros Por muito tempo, o Brasil foi visto como um dos principais agen-
setores). Nota-se um evidente decréscimo da demanda de energia tes nesta política de transformação, podendo vir a ser proclamado
quando se compara os três possíveis cenários (CPA, NCP e C450). como a “Arábia Saudita dos biocombustíveis”, mas esta perspectiva
Nos três cenários, o crescimento da demanda do carvão representa vem se perdendo perante o advento de processos de conversão que não
uma importante mudança em relação ao que aconteceu na década pas- dependem da disponibilidade de áreas cultiváveis e que dependem de
sada.5 Logo, decisões político-econômicas sobre qual regulamentação matérias-primas cada vez menos nobres, como efluentes industriais,
irá ser adotada decidirá se a matriz energética mundial continuará águas servidas, lixo orgânico municipal e resíduos agroindustriais
largamente dependente do carvão mineral ou não. Em resumo, consi- ou agroflorestais de grande poder cumulativo e, portanto, de alto
derando a crescente demanda do uso do carvão, especialmente, como impacto ambiental. Em alguns destes casos, vislumbra-se a obtenção
combustível, os desafios vão desde a caracterização adequada deste da biomassa via processos fermentativos e sistemas de produção
insumo, à contaminação ambiental, como foco especial na atmosfera, muito distantes da produção primária da cana-de-açúcar ou de
passando pelo desenvolvimento de novas tecnologias e catalisadores qualquer outro cultivar energético que se possa propor. Este é o caso
para o uso limpo e conversão do carvão.1 da produção de microalgas, cujas perspectivas têm se demonstrado
altamente promissoras apesar da desmotivação gerada por um início
Biomassa excessivamente otimista.
Outra frente de grande impacto neste processo de evolução da
A biomassa, seja de origem vegetal ou animal, tem surgido como matriz energética é a biotecnologia e seu potencial para a quebra de
modelo de matéria-prima para o suprimento da demanda energética paradigmas dificilmente alcançáveis pela química e pela engenharia
mundial de modo sustentável, seja para a geração de calor e ele- de processos. Bioprocessos capazes de converter carboidratos e gases
tricidade, para a produção de combustíveis ou para a produção de de síntese em hidrocarbonetos, ou de extrair biocombustíveis premium
precursores, solventes e outros insumos industriais. Neste cenário, de plantas ou microrganismos de alta produtividade e capacidade de
os biocombustíveis líquidos se oferecem como uma alternativa sus- adaptação a condições extremas de cultivo, encontram-se essencial-
tentável aos derivados de petróleo e, dentre eles, merecem destaque mente baseadas no uso de organismos geneticamente modificados que
as cadeias de produção do etanol e do biodiesel. Governos, indústrias tendem a dominar a maior parte da inovação que se possa produzir
e instituições de pesquisa têm se voltado para o desenvolvimento de nesta e nas próximas gerações. Trata-se da capacidade de desenvolver
rotas tecnológicas que atendam à expansão da demanda por estes organismos de maior capacidade fotossintética, cujo metabolismo
Figura 2. Demanda de energia para 2035, considerando os setores: (a) indústrias, (b) transporte, (c) construção e (d) outros; [Fonte: Energy International Agency]
1546 da Rocha et al. Quim. Nova
possa ter sido desviado para o acúmulo de maiores quantidades de importantes como a Agência de Proteção Ambiental americana (US
materiais de reserva ou de metabólitos secundários como carboidratos, EPA) e por isto representam uma alternativa importante aos perigos
lipídios e hidrocarbonetos, além de enzimas e fármacos muitas vezes de disseminação da transgenia em nosso ecossistema.
incomuns em seu metabolismo de origem. Os conflitos entre a produção de combustíveis e energia da bio-
A difusão destas perspectivas de desenvolvimento científico e massa têm sido destacados por muitos autores. Um exemplo um tanto
tecnológico também geram incertezas em vários setores da socie- desastroso no Brasil foi o incentivo inicial dado para a utilização de
dade moderna, particularmente em relação ao conflito de interesses mamona como matéria-prima para a produção de biodiesel. Apesar
de origem econômica e aos efeitos que a transgenia possam causar do início entusiástico da produção de biodiesel a partir da torta de
no ecossistema. Mas é difícil imaginar que o crescente aumento da mamona, a sua contribuição para a produção total de biodiesel no
demanda energética mundial possa ser satisfeito sem que seja utili- Brasil vem sendo negligenciável desde então. A torta de mamona foi
zado o potencial destas tecnologias. O desenvolvimento das cadeias substituída pela soja (80%) e gordura aninal (17%), considerando va-
de produção do etanol e do biodiesel exerceu e ainda exerce grande lores atuais. Algumas das razões para a virtual desistência da produção
importância como mecanismos para deslocar parte de nossa depen- de biodiesel de mamona foram a demanda da mesma para aplicações
dência de derivados do petróleo e assim auxiliar na contenção da industriais vindas especialmente da indústria química. Além disso,
emissão de gases poluentes, particularmente no setor de transportes. a mamona não é utilizada na produção de alimentos devido à ricina,
No entanto, as tecnologias ditas de primeira geração enfrentam algu- toxina presente em quantidades apreciáveis. No entanto, a torta de
ma oposição pela dependência que apresentam sobre matérias-primas mamona pode ser fermentada produzindo etanol e os resultantes
nobres como a sacarose, o amido e óleos vegetais neutros. O aumento compostos do tipo DDGS (do inglês ‘’dried distillery grains with
da demanda por estas matérias-primas intensifica o diálogo “alimento solubles’’). Nesse processo a torta de mamona é desintoxicada, o que
vs. combustível” que vem se estabelecendo em todos os fóruns de permite a sua utilização como uma fonte de óleo para novas aplicações
discussão sobre o tema, com consequências importantes sobre outros da indústria química, a produção de etanol para uso como combus-
temas bastante sensíveis tais como o aumento dos índices de desma- tível e o seu uso como ração para gado de corte.31 No âmbito destes
tamento e a crescente perda de biodiversidade em áreas de proteção diferentes processos e da necessária e desejável integração entre eles,
ambiental.28 Por isto, é absolutamente essencial que haja uma busca cresce no meio científico e empresarial o conceito de biorrefinarias,
pela diversificação destas matérias-primas, em direção a produtos não cujas premissas estão fortemente associadas aos principais pilares da
atrelados ao setor alimentício e que possam ser produzidos em grande química verde.29,32 Neste conceito, toda a matéria-prima processada
escala sem exercer qualquer pressão sobre a organização agrícola e/ em uma planta industrial deve deixá-la na forma de produto, e não
ou agronômica do Estado. Paralelamente a isto, a ordem do dia é a de efluentes ou de qualquer tipo de material de descarte que possam
da demonstração inequívoca de que os biocombustíveis possam ser comprometer a sustentabilidade ambiental do processo. A indústria
produzidos na escala desejada com a sustentabilidade socioambiental petroquímica cumpre esta tarefa com todo o conteúdo de um barril de
exigida, inclusive no sentido de sua real contribuição para a redução petróleo. E os projetos de biorrefinarias, para serem bem sucedidos,
das emissões de gases do efeito estufa ao longo de todo o seu ciclo terão que fazer o mesmo com a diversidade, a heterogeneidade, a dis-
de vida. O conceito de produção industrial de biocombustíveis passa ponibilidade sazonal e a complexidade estrutural da biomassa, fatores
necessariamente por grandes plataformas de transformação, baseadas ainda agravados pelo impacto de problemas de natureza logística.
fundamentalmente em processos químicos, bioquímicos e térmicos Recentemente, a Administração de Informação de Energia dos
de conversão.29 Tais processos têm sido classificados em diferentes Estados Unidos lançou um relatório sobre a expansão da produção de
gerações, cujo princípio está baseado na maturidade tecnológica que biocombustíveis em todo mundo.33 Os dados presentes no relatório
tenham atingido até o momento.30 Assim, processos maduros como mostram que as tecnologias bioquímicas são mais utilizadas que as
a produção de etanol e butanol a partir de sacarose ou amido e de termoquímicas. Dos 59 projetos ali descritos, 61% utilizam a via
biodiesel (ésteres graxos) a partir de óleos vegetais são considerados bioquímica, 28% a via termoquímica e apenas 10% estão baseados
de primeira geração, enquanto que a segunda geração diz respeito na via química. No que tange à produção de etanol celulósico, os
à produção de metanol, etanol, butanol, biodiesel, biogás (metano), processos de pré-tratamento mais utilizados incluem a explosão a
bio-óleo e gases de síntese a partir de matérias-primas menos nobres vapor e o uso de ácidos minerais diluídos, sendo que o processo de
como a lignocelulose e materiais residuais, além de combustíveis sacarificação é geralmente baseado no uso de enzimas comerciais
sintéticos derivados de processos térmicos envolvendo a conversão de empresas líderes do setor, como a Novozymes (Bagsvaerd,
Fischer-Tropsch e hidrotratamento. Dinamarca). Entretanto, algumas empresas, como a Iogen (Boone,
Processos fermentativos avançados responderiam pela terceira EUA) e a Mascoma (Rome, EUA), desenvolveram tecnologia para a
geração e estes estão baseados fundamentalmente no cultivo de mi- produção de suas próprias enzimas in situ. Vários materiais lignoce-
croalgas e outros organismos capazes de fornecer matéria-prima para lulósicos estão sendo utilizados para estes fins, tais como a palha e o
os processos listados acima, com grande potencial para a produção de sabugo de milho, a palha de trigo, resíduos florestais, bagaço de cana,
biocombustíveis de alto valor agregado como querosene de aviação, culturas energéticas, resíduos sólidos urbanos e resíduos de polpação
hidrocarbonetos de desempenho similar ao diesel e o hidrogênio, de madeira. Atualmente, 40 destes projetos estão em operação, 6 estão
situações que normalmente exigem a utilização de organismos ge- em construção, 10 estão sendo planejados, 12 pararam por motivos
neticamente modificados. Outras gerações podem ser discutidas no econômicos e 2 decretaram falência. Destas, apenas duas são comer-
sentido de expandir esta classificação, mas o ponto fundamental desta ciais, sendo elas a Beta Renewable (Crescentino, Itália) e a Borregaard
evolução está na possibilidade da produção destes biocombustíveis Industries AS (Sarpsborg, Noruega). A primeira produz 60000 ton
a partir de organismos GRAS (do inglês “generically regarded as ano-1 de etanol a partir de resíduos agrícolas e culturas energéticas e
safe”). Como a natureza dificilmente provê organismos robustos para está operando desde 2012. Já a segunda produz 15800 ton ano-1 de
processos industriais, iniciativas têm sido orientadas à supressão de etanol a partir de resíduos da polpação de madeira e atua desde 1938.
vias metabólicas ou de etapas cruciais destas vias em organismos de As maiores instalações em construção para a produção de etanol
ocorrência natural, de modo a beneficiar uma via em detrimento a celulósico a partir de processos bioquímicos incluem a Abengoa
outras sem que se utilize de métodos clássicos de modificação gené- (EUA, 75000 ton ano-1), a POET-DSM´s (EUA, 75000 ton ano-1), a
tica. Esta estratégia tem alcançado o reconhecimento de instituições Beta Renewables (Itália, 40000 ton ano-1) e a INEOS Biotechnology
Vol. 36, No. 10 Química Sem Fronteiras: o desafio da energia 1547
(EUA, 24000 ton ano-1). Já para os processos termoquímicos (gasei- ácidos graxos a ésteres graxos simultaneamente, o que propiciaria o
ficação), a principal iniciativa foi atribuída à Enerkem´s (Canadá, emprego de matérias graxas de baixo valor agregado para a produção
30000 ton ano-1). No Brasil, uma planta comercial está em construção de biodiesel.35
no Estado de Alagoas, envolvendo parceria entre a GraalBio e a Beta Apesar da pujança do mercado internacional de biodiesel nestes
Renewables, cujo funcionamento está previsto para o começo de 2014, últimos anos, a perspectiva de manutenção e/ou ampliação de sua
com produção de 65000 ton ano-1 de etanol utilizando como matéria- participação na matriz energética mundial se vê comprometida pela
-prima a palha e o bagaço da cana-de-açúcar. Este processo é baseado aparente escassez de matéria-prima e pela tendência de que estas
em tecnologia desenvolvida pela PROESATM que foi posteriormente estejam sempre ofertadas em custo proibitivo para a produção eco-
adquirida pela Beta Renewables. Segundo testes realizados em escala nomicamente viável deste biocombustível. Neste sentido, a busca
piloto (Itália, 250 ton ano-1), a produção de etanol a partir de diferentes por alternativas neste setor perpassa o conceito de diversificação de
matérias-primas proporcionou altos rendimentos e baixo custo (US$ matérias-primas para revelar a necessidade do desenvolvimento de
1,50 por galão) em processo baseado na fermentação simultânea de novas rotas tecnológicas, muitas delas distantes dos conceitos clás-
pentoses e hexoses, sendo que a lignina residual é utilizada para gerar sicos de esterificação ou transesterificação. Aqui, a perspectiva de
energia para alimentar a planta industrial. evolução está profundamente atrelada aos processos de segunda ou
Outras iniciativas em território nacional têm sido capitalizadas terceira gerações, quiçá de gerações ainda superiores, dos quais se
pela Petrobras, desde o anúncio de sua parceria com a empresa KL destacam a conversão térmica seguida da produção de combustíveis
Technology (depois Blue Sugar) em 2010. Apesar da ainda recente sintéticos de natureza química similar aos derivados do petróleo e o
liquidação da Blue Sugar, tais iniciativas deverão oferecer novas desenvolvimento de processos fermentativos avançados, capazes de
perspectivas para o mercado, já que a empresa trabalha com uma produzir biocombustíveis de alto valor agregado que servirão para
meta de investimento de US$ 2,5 bilhões em tecnologias de produção alimentar nichos específicos como a crescente demanda da indústria
de etanol ainda para o ano de 2013, com o objetivo de absorver pelo aeronáutica por combustíveis de alta estabilidade química, fácil
menos 15% do mercado nacional de etanol nestes próximos anos. integração ao sistema e comprovada sustentabilidade ambiental.
O desenvolvimento de tecnologias viáveis para produção de eta- Em princípio, todo óleo vegetal pode ser utilizado para a produção
nol a partir da biomassa vegetal aumentou muito nos últimos anos. de ésteres graxos, mas nem todos devem ser utilizados como matéria-
No entanto, os processos estudados até o momento para este tipo -prima para a produção industrial de biodiesel. Ao se considerar
de matéria-prima ainda não estão totalmente consolidados. Embora um material graxo para tal fim, pelo menos três aspectos devem ser
muitos estudos tenham sido realizados em escala piloto e de demons- considerados: (i) a viabilidade técnica, econômica e ambiental para
tração, avaliações criteriosas de viabilidade ainda serão necessárias a produção agrícola das oleaginosas; (ii) a viabilidade técnica, eco-
antes da comercialização deste produto no mercado. Neste sentido, nômica e ambiental para a extração do óleo e sua transformação em
a produção em escala comercial envolve alto risco para as empresas biodiesel; e (iii) as propriedades do biocombustível, que devem ser
que desejam desenvolver essas tecnologias, já que os investimentos compatíveis com o seu uso em motores veiculares ou estacionários.
são altos e o retorno inicial é baixo. Além disso, o etanol produzido Se pelo menos um desses três aspectos não for atendido satisfato-
tem que ser de alta qualidade e apresentar preços competitivos aos riamente, o material em questão não poderá ser considerado para a
de fontes convencionais, como o de amido de milho (modelo norte- produção de biodiesel em larga escala.35,36
-americano) e o de sacarose (modelo brasileiro). A soja tem sido a principal matéria-prima utilizada no Brasil por
À luz do estado-da-arte destas tecnologias de conversão, seguem ser este o único agronegócio com escala produtiva suficientemente
como desafio as seguintes questões tecnológicas, para as quais grande para atender a demanda do mercado nacional para B5, que é
soluções definitivas ainda não foram encontradas: redução substan- de aproximadamente 2,5 bilhões de L ano-1.18 Em 2012, a produção
cial do custo de produção das enzimas, adequação do processo de nacional de biodiesel utilizou em média 75,2 % de óleo de soja, 17,2
pré-tratamento à evolução dos processos simultâneos de hidrólise % de gordura bovina, 4,5 % de óleo de algodão e 3,1 % de outros
enzimática e de fermentação, operação da hidrólise enzimática em materiais graxos (óleo de palma, óleo de canola, óleo de fritura usado
alta consistência e baixas cargas enzimáticas, desenvolvimento de e gorduras de frango e porco, entre outros). Portanto, há um clamor
organismos robustos que sejam capazes de fermentar pentoses e pela identificação e viabilização de matérias-primas alternativas
hexoses simultaneamente e com a mesma eficiência, e a valorização que não estejam vinculadas ao mercado alimentício, sem perder a
de coprodutos importantes do processo como a lignina. visão de que o custo da matéria-prima é a variável de maior impacto
As tecnologias de produção que se encontram disponíveis para econômico da indústria de biodiesel, já que representa 70 a 80 % do
a conversão de óleos e gorduras de origem vegetal ou animal em seu custo de produção.35
biodiesel podem ser reunidas no seguinte conjunto de operações: Comparativamente a outras culturas, as microalgas surgem como
(a) transesterificação alcalina de óleos de baixa acidez; (b) transes- bastante promissoras por apresentarem alta produtividade em óleo,
terificação ácida; (c) esterificação seguida de transesterificação; (d) além de necessitarem de menores extensões de terra para a sua pro-
destilação seguida de transesterificação alcalina; (e) neutralização dução. Além da alta produtividade, inúmeras outras vantagens podem
seguida de transesterificação alcalina, acidificação (quebra de sabões) ser apontadas em relação ao cultivo de microalgas, como a ocorrência
e esterificação ácida; (f) hidrólise seguida de esterificação (hidroes- de um ciclo de vida de poucos dias, permitindo colheitas contínuas
terificação); (g) transesterificação e esterificação enzimáticas; (h) e diminuindo a logística de armazenagem, necessária para o caso de
transesterificação in situ (incluindo líquidos iônicos); (i) reações em culturas anuais, e sua habilidade em consumir como insumo para a
condições supercríticas; (j) transesterificação em coluna de destilação fotossíntese o CO2 oriundo de diversas atividades, antrópicas ou não,
reativa; e (k) reações assistidas por microondas ou por ultrassom.34 que contribuem para o aumento do aquecimento global.
Além disto, cada um destes processos pode ser realizado em sistemas Outra importante vantagem é que o cultivo de microalgas pode ser
homogêneos ou heterogêneos, o que dá a exata dimensão da mul- realizado em condições não adequadas para a produção de culturas
tiplicidade de projetos de pesquisa e de desenvolvimento que vêm convencionais, minimizando as modificações causadas aos ecos-
sendo direcionados a este tema. Destes, merece especial menção o sistemas e a competição com a produção de alimentos.36,37 Porém,
interesse pelo desenvolvimento de sistemas catalíticos, preferencial- a produção de microalgas para produção de biocombustíveis ainda
mente heterogêneos, que sejam capazes de converter triacilglicerois e encontra gargalos tecnológicos dos quais depende a sua expansão à
1548 da Rocha et al. Quim. Nova
escala comercial, como: (a) dificuldades na logística de produção em devido às fraturas8,12,42,43 O mesmo pode ser dito quando à explora-
larga escala; (b) dificuldades no uso de organismos geneticamente ção do tight gas, óleo de xisto e tight oil, já que possuem formas de
modificados em sistemas abertos; (c) alto custo na formulação do meio extração muito similares.
(micronutrientes); (d) complexidade no escalonamento industrial de É importante destacar que boa parte das reservas de gás/óleo de
fotobiorreatores; (e) alto custo de produção em sistemas heterotrófi- xisto da Bacia do Paraná no Brasil e parte das reservas do norte da
cos; (f) alta demanda energética para secagem e extração; e (g) alta Argentina estão logo abaixo do Aquífero Guarani, a maior fonte de
acidez do material lipídico isolado. No entanto, é fato que muitos água doce de ótima qualidade da América do Sul. Logo, a explora-
destes fatores não são limitantes quando o cultivo de microalgas está ção do gás de xisto nessas regiões deveria ser avaliada com muita
associado à produção de materiais de maior valor agregado, como cautela, já que há um potencial risco de contaminação das águas
pigmentos, antioxidantes, proteínas, ácidos graxos poli-insaturados, deste aquífero, se não forem tomadas as devidas providências. Em
carboidratos funcionais e outras classes de substâncias biologica- cenários como este, é considerado efetivo o risco de contaminação,
mente ativas.37,38 sendo, portanto, grande o desafio em termos de segurança ambiental
O desenvolvimento de biocombustíveis avançados tem inspirado e imprescindível a realização de estudos e projetos P&D que visem
grande entusiasmo e potencial inovador em todos os setores e/ou tecnologias de exploração mais seguras.
competências associadas ao desenvolvimento científico e tecnoló- A prática de exploração e produção de petróleo e seus derivados
gico de nossa sociedade. O planejamento estratégico de instituições na matriz energética mundial é bem conhecida, por ser considerado
como a Agência Internacional de Energia (EIA) indica que as plantas um dos maiores contribuidores da degradação ambiental, frente aos
atuais de produção de biocombustíveis já são capazes de deslocar riscos inerentes à prática de exploração, como é o caso dos mega-
175 milhões de litros de derivados de petróleo anualmente e que -acidentes e vazamentos de petróleo.44 Para exemplificar, podem ser
esta estimativa deverá ser aumentada em incontáveis 1,9 bilhões de citados recentes vazamentos de petróleo para o ambiente tais como
litros por ano ao serem consideradas as unidades que se encontram o acidente no Golfo do México (explorado pela BP) em maio de
em construção e as que estão em estado avançado de planejamento e 2010 em que quase um trilhão de litros de petróleo vazaram para o
execução orçamentária.33,39 Portanto, trata-se de uma área em franca mar e vazamentos de petróleo na Bacia de Campos (explorado pela
evolução cuja importância estratégica abre excelentes oportunidades Chevron / Petrobrás) ocorridos no final de 2011, março de 2012 e
para químicos e profissões afins. Em resumo, os desafios científicos e março de 2013. Segundo especialistas, acidentes na exploração de
tecnológicos relacionados ao uso de biomassa como fonte de energia petróleo são inerentes ao modelo de extração, produção e transporte
envolvem a prospecção de novas fontes, o uso intenso dos princípios ainda aplicados na atualidade, sendo, portanto, um grande desafio não
da química verde, a produção de biocombustíveis de segunda e ter- somente na redução dos danos causados pelo seu consumo, bem como
ceira geração, o escalonamento de processos de laboratório às plantas no desenvolvimento de melhores tecnologias de refino, exploração,
piloto e, especialmente, do diálogo e/ou enfrentamento da dialética transporte, combustão, armazenamento, consumo, e também na ne-
“alimentos vs. combustível”. cessidade de normatização de uma agenda sustentável nacional.44 O
fato é que ainda hoje não foram desenvolvidos ou não há protocolos
DESAFIOS AMBIENTAIS / ações seguras que possam ser aplicados durante a exploração de
petróleo de modo que possa reduzir as chances ou mesmo evitar
As questões ambientais inerentes ao setor energético mundial e o vazamentos de petróleo. E também ainda não foram desenvolvidos
brasileiro são bastante desafiadoras. Neste sentido, as diversas práticas métodos rápidos e eficientes para a contensão e/ou a minimização
de exploração e produção de combustíveis apresentam suas impli- dos efeitos no ambiente uma vez que vazamentos sejam detectados.
cações e desafios ambientais. Dentre elas a utilização do gás natural Este assunto merece maior atenção dos governos e dos pesquisadores
como fonte de energia pode ser considerada de certa forma bastante em geral, e de investimento em P&D&I para o desenvolvimento de
amigável, quando comparado às outras fontes fósseis de energia. É novas e eficazes práticas para a resolução desse problema.
estimado que a queima de gás natural emita uma quantidade de CO2 Por sua vez, o petróleo proveniente do Pré-Sal agrega na sua
de cerca de 1,5 vezes menor daquela emitida pelo carvão e o petróleo,8 cadeia de produção e exploração desafios ambientais ainda maiores.
e por esta razão tem o seu uso menos afetado por políticas nacionais Os principais desafios ambientais estão relacionados ao processo de
de redução de emissões de gases estufa. Sua queima apresenta uma exploração e perfuração de poços em águas profundas, às atividades
combustão limpa, baixa presença de contaminantes, reduzida emis- sísmicas de prospecção, gerenciamento de gás carbônico inerente
são de poluentes, maior facilidade de transporte e manuseio, maior ao processo, gerenciamento de acidentes e vazamentos em longas
segurança e melhor rendimento térmico, o que possibilita redução distâncias. O processo de exploração do petróleo e perfuração de
de despesas com a manutenção e melhor qualidade de vida para a poços aumenta a turbidez da água, promove o soterramento do leito
população.40,41 submarino, a contaminação química e alteração dos níveis de salini-
Ao contrário da exploração de fontes convencionais de gás natu- zação de águas e sedimentos, podendo desta forma alterar o gradiente
ral, a exploração do gás de xisto vem sendo olhado com desconfiança de contaminação química e da concentração de matéria orgânica,
por diferentes setores da sociedade devido aos possíveis efeitos de- tendo como principal consequência variações na abundância e diver-
letérios ao ambiente, tais como a contaminação de lençóis freáticos, sidade biológica. Não obstante, as atividades sísmicas realizadas no
águas subterrâneas e superficiais pelos aditivos usados (o que pode vir processo de prospecção promovem interferência na ecolocalização
a afetar os ecossistemas aquáticos). Além disso, a quantidade massiva de golfinhos, baleias e tartarugas.45
de água usada durante o processo para extrair gás natural que pode Adicionalmente, junto ao petróleo retirado das camadas carboná-
afetar o suprimento de água potável e água de diversos outros usos, ceas do Pré-Sal há um elevado teor de gás carbônico, que frente ao
a complexidade do tratamento e a reutilização de grandes volumes aquecimento global traz preocupação no que tange a elevação da tem-
de água usada durante a fratura, possíveis derramamentos de água peratura global. Com esse, há o desafio de gerenciar o destino deste
contaminada e vazamentos de metano para a atmosfera, visto que gás durante o processo de exploração para que ele não seja descartado
é um potente gás estufa, a emissão para a atmosfera de compostos na atmosfera. Uma das tecnologias deslumbradas para tanto é a sua
orgânicos voláteis (COV) proveniente dos aditivos, e a possibilidade reinjeção no próprio reservatório, o que promoveria uma elevação
de ocorrência de abalos sísmicos nas redondezas do reservatório da pressão dentro das camadas carbonáceas podendo colaborar no
Vol. 36, No. 10 Química Sem Fronteiras: o desafio da energia 1549
processo de exploração, aumentando o volume recuperável de óleo pouca ou nenhuma modificação nestes motores. O uso do etanol pode
e gás.46 Entretanto, sabe-se que esta tecnologia não oferece níveis de reduzir as emissões de CO, CO2, NO e NO2, com uma leve penalização
segurança adequados, uma vez que a qualquer momento este gás pode do trabalho líquido do ciclo e aumento do consumo de combustível.
vazar. Adicionalmente, o carbono estocado no fundo do oceano pode Todavia, é o grande desafio avaliar os impactos reais em todo ciclo
contribuir com a acidificação dos mares, ocasionando riscos para a de uso de misturas diesel/etanol e diesel/etanol/aditivos, sejam elas
cadeia alimentar. Se hoje já se identifica um grande risco ambiental focadas na injeção direta de etanol na câmara de combustão, misturado
na exploração de jazidas de petróleo existentes, o risco existente na ao óleo diesel, ou na injeção indireta de etanol na admissão, com o
exploração do Pré-Sal tende a ser ainda mais desafiador, uma vez que óleo diesel injetado diretamente na câmara de combustão.
a longa distância da costa dificulta uma ação imediata, a identificação Entretanto, quando se considera a quantidade de água necessária
do vazamento pelas autoridades responsáveis, o remanejamento e para a produção de biodiesel, a perspectiva não é tão animadora
gerenciamento do dano e aumento da permeabilidade de desastres assim. Estimativas de uso de água quando se considera a produção
em águas profundas. de biodiesel de soja é da ordem de 13,9 – 27,9 bilhões de litros por
Uma das formas de produção de energia mais agressivas ao meio MWh de energia, enquanto são necessários apenas 10 - 40 litros de
ambiente é a queima do carvão. A queima desta matéria-prima libera água por MWh para a extração do petróleo ou de 170 - 681 litros de
para a atmosfera altos níveis de gases considerados poluentes, como água por MWh para a extração do óleo de xisto.54,55 Considerando-se
é o caso do CO2, NOx, SOx, material particulado e mercúrio, além ainda a grande quantidade de terra necessária56,57 e também a grande
deste promover a geração de toneladas de cinzas ao ano. O processo quantidade de fertilizantes aplicadas às plantações (que também libera
de produção, da extração até a combustão, provoca significativos NH3 e gases estufa para a atmosfera e pesticidas para corpos d’água
impactos socioambientais, sendo que a atividade geralmente acontece e solos)58,59 associadas à produção de soja ou de outro cultivar para a
a céu aberto.4 A ocupação do solo exigida pela exploração das jazidas produção de biodiesel, os benefícios ambientais iniciais associados
interfere na vida da população, nos recursos hídricos, na flora e fauna à queima do biodiesel são minimizados. Logo, quando se pensa em
locais, ao provocar barulho, poeira e erosão. O transporte gera polui- biomassa para geração de energia se deve expandir o dilema “ali-
ção sonora e afeta o trânsito. O efeito mais severo, porém, é o volume mentos x combustíveis” para o trilema “alimentos x combustíveis x
de emissão de gases como os NOx e CO2, oriundos da combustão. meio ambiente”.
Estimativas apontam que o carvão é responsável por cerca de 30% e
35% do total de emissões de CO2, principal agente do efeito estufa.47 Mudanças climáticas
Os desafios ambientais futuros na utilização do carvão estão
diretamente atrelados a investimentos em obras de mitigação, em A discussão e debate sobre as mudanças climáticas, desenvolvi-
desenvolvimento de tecnologias mais limpas de exploração, busca por mento e desafios energéticos tem como ponto central o impacto do uso
uma melhor eficiência energética e tecnologia de queima utilizada e de combustíveis fósseis no clima da Terra. De certa forma, pode-se
renovação das atuais termoelétricas. A busca por melhores tecnologias enfatizar que a mudança do clima está diretamente ligada às operações
está focada na redução de impurezas, diminuição de emissões de de petróleo e gás. Podem ser destacados seis indicadores-chaves de
gases NOx e SOx, de partículas com nitrogênio e enxofre e redução mudanças climáticas que são reflexo do desenvolvimento de petró-
da emissão de CO2 por meio da captura e armazenamento de carbono. leo e gás e, estes, são utilizados como “termômetro” para avaliar o
Por outro lado, os desafios atuais e futuros na utilização da impacto do uso das energias e controlar o setor energético quanto a
biomassa são amplos e promissores. A biomassa utilizada para fins sua produção, exploração e transporte. Os indicadores são: os níveis
energéticos, quando se fala em termos de emissão de CO2, NOx e de CO2, a acidez e temperatura das águas dos oceanos, os padrões de
SOx, pode ser considerada ambientalmente amigável, mais limpa, precipitação, a taxa de elevação do nível do mar, a intensidade das
renovável, pelo fato de agregar e atribuir valor aos resíduos utilizados tempestades, e o regime de ondas.60
em processo preexistentes, além de permitir o aumento na geração Os cenários futuros exibem grandes aumentos na produção
de empregos no campo.48 mundial de combustíveis fósseis (principal fonte de emissão de CO2),
Atualmente, no Brasil, a concentração de 5% de biodiesel adi- o que afeta significativamente as mudanças climáticas antrópicas.
cionado ao óleo diesel é compulsória e existem pretensões para au- Os limites à disponibilidade de combustíveis fósseis irão definir a
mentar esta concentração para redução da importação de óleo diesel, capacidade que a humanidade irá afetar o clima. Porém, este limite
necessária para atender a demanda nacional. Contudo, o aumento necessita ainda de muitos estudos para chegar a conclusões sobre as
do teor de biodiesel praticado no Brasil poderá ser inviável devido à futuras concentrações atmosféricas de CO2. Dessa forma, é importante
disponibilidade de matéria-prima para sua produção ser insuficiente entender que o setor energético e o problema das alterações antrópicas
para atendimento da demanda nacional em teores superiores a 5%. do clima estão fortemente ligados e precisam ser tratados como dois
Além disso, quando considera-se a emissão de compostos não- desafios entrelaçados.61
-regulamentados, tais como hidrocarbonetos policíclicos aromáticos O carvão, gás natural e gás de xisto certamente terão um papel
(HPA)49 e compostos carbonílicos50,51 em misturas binárias (diesel / importante nos cenários futuros de energia, mas estes serão modulados
biodiesel) e ternárias (diesel / biodiesel / etanol) observa-se, muitas pelas fortes pressões ambientais contrárias ao seu uso (Cenário 450),
vezes, que quando utiliza-se quantidades acima de 25 – 50 % de em todo o mundo. De fato, já estão surgindo propostas radicais, como
biodiesel nas misturas há um aumento da emissão desses poluentes, a feita por John Tidwell em um evento sobre mudanças climáticas,
quando comparados à emissão do diesel de origem fóssil. segundo as quais o que realmente tem de ser feito com os combustíveis
Neste sentido, o etanol surge como um grande desafio e forte fósseis é deixá-los em repouso, por mais alguns milhões de anos, para
candidato para ser utilizado não só como combustível de motores evitar o agravamento das mudanças climáticas. Além disso, segundo
ciclo Otto, mas também em motores ciclo Diesel. A utilização direta John Tidwell, “Uma das maiores e mais baratas alternativas para a re-
do etanol nos motores a Diesel exige mudanças na constituição do dução, em todo o mundo, das emissões de gases do efeito estufa como
motor e utilização de aditivos para melhorar a ignição, neste último o carbono é o estudo da eficiência energética dos veículos e edificações
caso o próprio biodiesel pode ser utilizado como aditivo melhorador das grandes cidades”. Portanto, é de extrema importância o incentivo,
da miscibilidade de etanol no óleo diesel.52,53 Porém, o uso de misturas desenvolvimento e fomento a P&D&I que possuam focos voltados para
diesel/etanol, mostra-se uma alternativa mais viável, necessitando de a eficiência energética do setor automotivo, bem como para produção
1550 da Rocha et al. Quim. Nova
e uso de combustíveis renováveis. Neste cenário, as matérias-primas emissão de GEE.66 Através deste tipo de programa, as empresas,
naturais de origem vegetal ou animal, de fontes renováveis, adquirem vinculadas principalmente ao setor energético, são capazes de ma-
também uma importância especial ao lado das matérias-primas minerais pear e desenvolver seus inventários de emissões de CO2 equivalente,
muito abundantes. A intensificação na produção de biomassa é uma definindo três escopos diferentes de emissão (Escopo 1: emissões
exigência dos esforços de mitigação dos efeitos da mudança do clima, diretas de GEE; Escopo 2: Emissões indiretas de GEE de energia;
uma vez que não existe alternativa viável em curto prazo para a fixação e outras emissões indiretas de GEE). Através do uso deste tipo de
de grandes quantidades de gás carbônico.62 ferramenta as empresas e governos podem entender, quantificar e
O CO2 é o gás de efeito estufa mais importante, e este vem gerenciar suas emissões. Assim, através do histórico desenvolvido,
apresentando um aumento de emissões sem precedentes. Entre os poderão ser traçados desafios internos para a redução das emissões
anos 90 do século passado e o período de 2000 a 2005, sua emissão de GEE, o que direta ou indiretamente poderá fomentar o mercado
passou da faixa de 22,0 a 25,0 Gt CO2 por ano para valores entre 25,3 de crédito de carbono.
e 29,0 Gt CO2 por ano.63 Segundo a EIA, tendências de emissões mais
recentes também não são animadoras. Em 2011, as emissões de CO2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
relacionadas com a energia aumentaram 3,2%, atingindo um recorde
de 31,2 Gt CO2. Como nos anos anteriores, o carvão foi responsável De acordo com as Considerações Finais do artigo Química sem
pela maior parte (71%) das emissões de CO2 globais adicionais, Fronteiras,1 o objetivo principal deste trabalho é estimular a reflexão,
seguido pelo óleo (17%) e gás natural (12%). Em 2035, as emissões discussão e proposição de ações relacionadas ao “desafio energético”
no CPA prevê um aumento para 44,1 Gt de CO2. A taxa anual de e à “segurança energética” que permitam à Química no Brasil con-
crescimento das emissões de CO2 no CPA é de 1,5%, mais do dobro tribuir para um futuro próspero, mais seguro e melhor para a nação.
que no NCP (0,7%), que prevê emissões de 37 Gt de CO2 em 2035.
No C450, haverá um pico de emissões antes de 2020 de cerca de 32,4 AGRADECIMENTOS
Gt de CO2 e, em seguida, cair para 22,1 Gt de CO2 em 2035. No CPA
a concentração atmosférica de gases de efeito estufa se estabiliza Os autores agradecem a Sociedade Brasileira de Química e a
em torno de 950 ppm de CO2-eq e em 660 ppm CO2-eq no NCP. No revista Química Nova.
C450 é prevista a estabilização da concentração atmosférica em 450
ppm CO2-eq. Considerando esses níveis de concentração atmosférica REFERÊNCIAS
em termos de CO2 equivalentes, no CPA há uma probabilidade de
50% de haver um aumento de 5,3 oC na temperatura do planeta em 1. Pinto, A. C.; Zucco, Z.; Galembeck, F.; de Andrade, J. B.; Vieira, P. C.;
relação aos níveis pré-industriais. Por sua vez, no NCP o aumento Quim. Nova 2012, 35, 2092.
de temperatura média é de 3,6 °C, o que ainda é quase o dobro do 2. Roberts, P.; The End of Oil: On the Edge of a Perilous New World,
sugerido pelo C450 (2 oC).5 Houghton Miflin Company: New York, 2004.
Neste contexto, o desafio que se tem pela frente é muito grande 3. Goodstein, D.; Out of Gas: The End of the Age of Oil, W.W. Norton
diante do modelo de desenvolvimento econômico atual, o qual, de &Company: New York, 2004.
certa forma, não coopera na redução das emissões globais. Através 4. Hegedus, L. L.; Temple, D. S.; Viewing America’s Energy Future in
deste cenário chega-se a conclusão que o aumento da temperatura do Three Dimensions, RTI Press International: USA, 2011.
planeta é inevitável e o risco ambiental permanece, fazendo com que 5. Energy International Agency, World Energy Outlook 2012, EIA: France,
a adoção de políticas e acordos internacionais se tornem prioridade 2012.
e urgentes. 6. Copeganhen Accord, United Nations Framework on Climate Change,
Uma proposta foi apresentada no Quarto Relatório (4th 18 de Dezembro de 2009.
Assessment Report – AR4) do Painel Intergovernamental sobre 7. http://co2now.org/current-co2/co2-now/, acessada em Junho 2013.
Mudanças Climáticas (IPCC) para a estabilização das emissões de 8. www.eia.gov/energy_in_brief/article/about-shale-gas.cfm, acessada em
CO2 entre 350 e 400 ppm. Para muitos, pode à primeira vista parecer Junho 2013.
inatingível de alcançar reduções da ordem de 50-85% para 2050, 9. h t t p : / / w w w . e i a . g o v / c f a p p s / i p d b p r o j e c t / I E D I n d e x 3 .
quando se comparam as metas colocadas no Protocolo de Kyoto de cfm?tid=3&pid=3&aid=6, acessada em Junho 2013.
redução de emissões de GEE (gases de efeito estufa) de 5,2%. Porém, 10. www.capp.ca/canadaIndustry/naturalGas/ShaleGas/Pages, acessada em
há um portfólio de tecnologias já disponíveis e de outras que deverão Junho 2013.
ser disponibilizadas para comercialização nas próximas décadas 11. www.eia.gov/analysis/studies/worldshalegas/, acessada em Junho 2013.
que, por sua vez, proporcionarão os meios para que os processos de 12. KPMG, Shale Gas – A Global Perspective, KPMG Global Energy Insti-
mitigação sejam tomados.64 Além disso, ao longo dos próximos 40 tute: Suíça, 2011.
anos, possivelmente as infraestruturas atuais de suprimento e de uso 13. British Petrol, BP Energy Outlook 2030, BP: Great Britain, 2013.
de energia deverão ser substituídas em virtude do término de suas 14. ExxonMobil, The Outlook for energy: A view to 2040, 2013.
vidas úteis, devendo favorecer a entrada de novas tecnologias mais 15. www.energy.usgs.gov, acessada em Junho 2013.
eficientes energeticamente, como também de fontes energéticas 16. Campos, J. R.; EUA avaliam reserva de gás de xisto em três rios
menos intensivas em carbono.63,65 brasileiros, Revista Valor Econômico, 11 de Junho de 2013.
Os cenários projetados no longo prazo para o quadro de emis- 17. Luna, D.; Fonte Polêmica de energia, gás de xisto terá leilão no Brasil
sões futuras, e o cumprimento ou não de metas focam em cenários em outubro, Folha de São Paulo, 16 de abril de 2013.
de baixo carbono. Os esforços brasileiros neste direcional podem 18. www.anp.gov.br, acessada em Junho 2013.
ser exemplificados pelo lançamento do Programa Brasileiro GHG 19. h t t p : / / w w w . e i a . g o v / c f a p p s / i p d b p r o j e c t / I E D I n d e x 3 .
Protocol (do inglês, Greenhouse gases protocol) que busca promover cfm?tid=5&pid=57&aid=6, acessada em Junho 2013.
a cultura corporativa de mensuração, publicação e gestão voluntária 20. PwC, Shale Oil: the next energy revolution, PwC: United Kingdom,
das emissões de Gases de efeito Estufa (GEE) no Brasil, proporcio- 2013.
nando aos participantes acesso a instrumentos e padrões de qualidade 21. The impact of Pre-salt, A long term perspective, Oxford Analytica:
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