Giro Autogestionário 2

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Editor’s Note

INFORM TO DOMINATE!

As never seen before in the history of mankind, we have access to countless


information, either through newspapers, magazines, blogs, etc. With the emergence of
the internet, we can follow the main news from various countries in the world, access
the opinion of several journalists and researchers, as well as know what is happening
anywhere in the world with just a few clicks on the computer or cell phone. The Internet
has become a medium for spreading news and we have never been armed with so much
information. This would be extraordinary if most of the information were not false.
Much of the information that is propagated is false or hides essential parts of
reality. And we can ask ourselves: why does this occur? The answer to this question
leads us to a complex set of determinations, such as the communication capital, the
intellectuals, the state apparatus, political parties, etc. However, this set of
determinations points to a common determination, which is class struggles. The reason
for the diversity of conflicting information about a certain theme, or even, of the diverse
false information, is exactly the diversity of class interests that permeate capitalist
society. As Sartre already said: "not even a stone is neutral"!
Class struggles in capitalism, in turn, assume a greater degree of complexity,
since the struggle between the bourgeoisie and the proletariat invades the set of social
relations, giving rise to social blocs. The social blocs are the most organized and
conscious forms expressed by social classes, which establish strategies that direct their
actions according to their interests. The social blocs arise around the strongest social
classes, especially the bourgeoisie and the proletariat, but also the auxiliary classes of
the bourgeoisie (intellectuality and bureaucracy). Therefore, there are three social blocs:
the dominant, the progressive and the revolutionary. Each one of these blocs constitutes
its own media, being that the dominant bloc is the most solid and the one that has the
greatest capacity of production and dissemination of information, and the revolutionary
bloc, in turn, is marginalized and has little capacity of production and dissemination
(because of its quantity, but also because of the lack of resources and marginalization
via communication capital, state apparatus, etc.).
The dominant bloc aims at the production and dissemination of information that
guarantees the reproduction of capitalism and, in certain cases, the truth has to be left
aside for this. In the same way, this is aimed at by the progressive bloc, which produces
and disseminates information that matches its interest in winning elections, conquering
the state apparatus, positions, recognition, etc. And the revolutionary bloc, on the other
hand, tries to produce and spread information that contributes to human emancipation.
The big issue is that the dominant bloc and the progressive bloc create a flood of
false information, which once existing, is opinion-forming and mobilization-forming.
For these two blocks, truth is, at most, a false value and, therefore, this set of false
information must be fought, without one of these two blocks being reinforced, which
means going to the root of what generates this nebulous heap of false information. This
reveals another problem, which is the biased interpretations of the dominant and
progressive blocks, generating the need to analyze the information, whether it is false or
not, in order to discover what is true, what is false, and what is the interest behind what
is false. Thus, Giro Autogestionário, the Bulletin of the Self-management Movement
[Movimento Autogestionário], is not -and does not pretend to be- "neutral" or
"impartial", but makes it clear that it starts from a specific class perspective: that of the
revolutionary proletariat, the only class perspective that brings the need for truth and
carries out the revolutionary critique of the existing world and the world of false
information and interpretations produced by it!
RÚSSIA, GUERRA ESTATAL E LUTA DE CLASSES

Nildo Viana

A guerra é um fenômeno social antigo. As guerras tribais que antecederam as


guerras estatais das sociedades de classes comprovam isso. Com a emergência das
sociedades classistas, a guerra ganhou novas características além da defesa ou luta por
recursos naturais. E na sociedade capitalista, ela fica ainda mais complexa. O atual
conflito entre Rússia e Ucrânia mostra a complexidade desse fenômeno em sua forma
moderna. Uma das novidades da guerra moderna é a necessidade de justificativa e
convencimento da população, o que gera a proliferação de discursos e,
complementarmente, a necessidade de deslegitimar as ações guerreiras dos adversários.
A ação russa é acusada de ser “gratuita”, “irracional”, etc. Mas o que realmente está por
detrás do ataque da Rússia contra a Ucrânia?
O discurso que ultrapassa os clichês e o maniqueísmo aponta para a questão
geopolítica e o lugar estratégico que a Ucrânia tem para os russos, bem como o avanço
da Otan na região. A Otan vem avançando paulatinamente na região e busca a adesão da
Ucrânia, a última fronteira para se chegar à Rússia. Esta, por sua vez, visa manter sua
segurança impedindo que o inimigo se instale na casa do vizinho. Para evitar o conflito,
bastava a Otan e a Ucrânia desistirem da adesão. Isso não aconteceu. Porém, a Rússia
não é qualquer país. Além de suas dimensões e recursos naturais, sua cultura e
tradições, ela é importante para o capitalismo mundial, bem como é uma potência
militar. Se ela não é mais a União Soviética, a superpotência, ainda é uma força
econômica e, mais ainda, militar. A Otan tem 2 mil tanques na Europa e a Rússia tem 20
mil. A Alemanha tem 65 mil soldados e a Rússia tem um milhão. Esses poucos
exemplos, mais o arsenal nuclear, deixam claro a força militar da Rússia e o perigo em
querer confrontá-la. Vladimir Putin, por sua vez, é um presidente determinado e
estrategista, o que torna a situação ainda mais difícil para os adversários. Além disso, a
Rússia, além de ter alguns pequenos aliados, especialmente na região, tem usado
astutamente uma política para amenizar ou neutralizar alguns países e, principalmente,
se aproxima da China, que é um potencial aliado, não só com grande força militar, mas
uma potência econômica que compete com os Estados Unidos pelo primeiro lugar a
nível mundial. As sanções econômicas afetam a Rússia, mas não da forma como se
gostaria e elas, em muitos casos, afetam negativamente os próprios países que as
efetivam. Se fosse mais um pequeno país submetido a mais uma invasão dos EUA, tais
sanções seriam bem mais eficazes, mas não é o caso.
Nesse contexto, ameaçar a Rússia é algo despropositado. Sem dúvida, para tal
existem diversas determinações. Uma dessas determinações é a necessidade de
expansão do capital bélico (ou “indústria bélica”). A Otan é um dos principais
consumidores de armas no mundo e sua expansão significa consumo de armamentos. A
ameaça de guerra, por sua vez, justifica e incentiva a compra de armamentos. A
Alemanha já anunciou “gastos massivos para a defesa”, chegando a 2% do PIB, após a
deflagração do conflito. O capital bélico, como toda empresa capitalista, necessita de
lucro e, para tal, precisa vender, pois só assim realiza a acumulação de capital. O capital
bélico, no entanto, possui um mercado consumidor específico. São os Estados nacionais
os principais compradores de armas, seguido por setores adversários (guerrilhas,
separatistas, etc.). A população civil é um setor diminuto do seu mercado consumidor,
sendo um pouco maior nos Estados Unidos, onde o uso de armas por civis é permitido,
mas em outros países, onde é proibido, é muito restrito. Os criminosos e gangues são
outros consumidores, embora muitas vezes de armas de “segunda mão”. Os Estados
armam seu aparato repressivo interno (aparato policial) e externo (exército). Em épocas
de guerra a destruição massiva de armas gera a necessidade de renovação ampliada do
seu consumo. Assim, a reprodução ampliada do capital bélico é uma das determinações
do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Outra determinação do conflito é a Rússia, que não só visa sua defesa e
impedimento de expansão da Otan, mas também tem interesses expansionistas. No
fundo, a Rússia não só perdeu espaço desde o fim da antiga União Soviética, como isso
vem se ampliando. Então é uma ação defensiva. Contudo, uma vez vitoriosa no conflito
contra a Ucrânia, bem como suas alianças e ações mais recentes, abre espaço para
buscar recuperar o que perdeu. Isso não está explícito, mas a Rússia continua sendo um
país importante para o capitalismo mundial e que tem um capital nacional que precisa
de expansão devido ao processo de reprodução ampliada do capital. O problema é que
não é possível expandir para lugares que já estão sob domínio de outros. A maior fatia
do bolo, ou o bolo quase todo, está nas mãos dos Estados Unidos e seus aliados
europeus. E a Europa é o elo mais fraco, militarmente falando, dessa aliança. Então, por
detrás da ação russa, além de geopolítica, há interesses econômicos.
A China tem interesses semelhantes e por isso uma aliança entre ambas é
provável, se já não existir. Ela é a segunda maior potência militar do mundo, só
perdendo para os EUA, detém a maior marinha do mundo e vem fazendo investimentos
crescentes em vários setores e com um programa de modernização até 2035. Assim,
uma aliança entre Rússia e China torna a situação mundial equilibrada no plano militar.
O domínio absoluto dos EUA está ameaçado economicamente pela China e, agora,
militarmente por sua aliança com a Rússia, mudando o cenário mundial. Rússia e China
possuem ambições imperialistas e o obstáculo é os EUA, que mantém seu sonho de
“dono do mundo”. A Rússia fatalmente ressurgiria das cinzas com o avanço do seu
capital nacional. A China, com o seu capitalismo misto (capitalismo estatal e
capitalismo privado) possui uma situação econômica privilegiada, pois une a
competição e altos lucros do capitalismo privado com o planejamento e estratégia do
capitalismo estatal. A expansão mundial chinesa já está prevista e é uma realidade no
plano econômico, ao lançar seus tentáculos não só na Ásia, mas também na África e em
diversas outras regiões do mundo. Isso significa que os interesses da Rússia e da China
são outra determinação do conflito com a Ucrânia, indo além da mera defesa e “temor”
do avanço da Otan. O avanço da China sobre Taiwan mostra que a época da moderação
dos adversários dos EUA terminou.
Os EUA, por sua vez, vêm perdendo espaço. No plano econômico, a China vem
tendo um desenvolvimento econômico superior e existem previsões que em 2025 já
teria ultrapassado os EUA. Caso isso se concretize, o que pode ser adiado ou não pelos
últimos contratempos da economia chinesa, é mais um motivo para o país do bang-bang
se armar e usar outras estratégias além das meramente econômicas. O poderio
econômico da China e suas estratégias expansionistas no mercado mundial, bem como
sua potencial aliança com a Rússia, tornam a Ucrânia um país estratégico para os EUA e
seus aliados. Por detrás da expansão da Otan está não apenas o capital bélico, mas
também o imperialismo norte-americano, que é outra determinação do conflito. O
planeta terra é finito, mas a acumulação de capital quer ser infinita, e se antes se contava
a anedota de Cecil Rhodes, que “se pudesse anexaria os planetas”, hoje há muitos
projetos para a conquista do espaço. Num planeta finito, o poder está distribuído e
alguns querem manter ou aumentar o seu quinhão e outros querem redistribuição.
Por detrás disso tudo, temos a luta de classes. Os Estados nacionais são aparatos
do capital. No fundo, quem efetiva a guerra é o capital. É ele que domina os Estados. As
determinações da guerra que colocamos anteriormente remetem todas para interesses do
capital nacional (EUA, China, Rússia, europeus, etc.), bem como do capital bélico, que
é predominantemente norte-americano. Os EUA condenam o ataque russo à Ucrânia,
mas sabem que tanto a expansão da Otan quanto a resposta russa expressam seus
interesses. Por detrás do discurso “humanitário”, os EUA escondem seus interesses
mesquinhos. Isso tudo significa que a guerra estatal e imperialista serve aos interesses
da burguesia. E quem vai morrer na guerra serão, fundamentalmente, os soldados e
indivíduos das classes inferiores. A guerra renova o capital e seu domínio e por isso é
do seu interesse, mesmo sendo uma faca de dois gumes, pois pode gerar ascensão das
lutas sociais, bem como suas consequências podem gerar até tentativas de revoluções.
Para o proletariado só pode ter algum valor se ela promover efeitos indesejados. A
guerra fortalece a irracionalidade, o nacionalismo, e enfraquece a percepção dos reais
interesses por detrás dela e de que é um produto do capitalismo e para sua reprodução,
além de dividir o proletariado mundial por nações. A guerra estatal é burguesa e por isso
deve ser combatida antes de sua deflagração, inclusive para evitar milhares (ou milhões)
de mortes, apesar de ser uma luta inglória, tendo em vista o poder de propaganda do
capital. O caminho a seguir é tentar fortalecer o proletariado, combater os discursos
falsos, o nacionalismo, etc. e, ao mesmo tempo, preparar estratégias para o caso de uma
guerra ampliada ou mundial e defender a união mundial do proletariado contra a
sociedade geradora de guerras e destruição, ou seja, contra o capitalismo.

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