quinta-feira, 10 de abril de 2025

Minhas 10 Favoritas do Pink Floyd


Começo hoje uma nova coluna aqui. Ouvindo frequentemente meus discos, após mais de 35 anos colecionando, certo dia me peguei ouvindo Pink Floyd, mais especificamente o Wish You Were Here, e fiquei ali viajando com "Shine On You Crazy Diamond", pensando quanto eu gostava dessa música. Ela me influenciou portanto a criar essa coluna, onde já convido os meus colegas para se unirem, e trazerem suas listas de seus artistas favoritos.

Aqui a ideia não é destrinchar as canções, mas apenas citar quais as dez músicas favoritas de determinado artista, em que álbum ela se encontra (ou se for um single, que assim seja citado) e por que ela é uma de suas favoritas. Seguindo o padrão do Do Pior Ao Melhor, segue então minha lista das 10 canções do Pink Floyd que mais gosto, da décima ao primeiro lugar, e lógico, deixem nos comentários quais as suas listas.

10. "High Hopes" - The Division Bell (1994)

Para mim esta faixa é a última grande criação do Pink Floyd. Gilmour, Wright e Mason fizeram em The Division Bell um álbum muito bom, e "High Hopes" é o seu ápice de beleza. Aquele sino do início junto ao piano de Wright introduzem o que virou um grande clássico, e essencial nas posteriores turnês de Gilmour. A suavidade vocal, o refrão belíssimo e o solo com slide tornam essa faixa ainda mais bela, e fecha minha lista de dez mais podendo, talvez, estar em posições acima.


9. "Take Up and the Stethoscope Walk" - The Piper at the Gates of Dawn (1967)

Pode parecer surpresa para vocês essa faixa aqui, mas ela foi uma das primeiras músicas do Pink Floyd que eu realmente curti, e ainda curto. Inserida no lado B do álbum de estreia do Floyd, o que me chama a atenção e faz ela estar aqui é a crueza da canção, e claro, a viajante sessão instrumental onde Wright, Syd e Mason enlouquecem como nunca antes em suas vidas. É o Floyd psicodélico raiz, como os adoradores de Syd Barrett gostam, conduzidos por um único ser que está consciente ao longo dos 3 minutos da canção, que é o baixo de Waters. E é isso, são apenas 3 minutos de uma insanidade maluca, e que eu adoro!


8. "Us & Them" - The Dark Side of the Moon (1973)

Uma das especialidades do Pink Floyd era criar baladas progressivas marcantes, e "Us & Them" é fácil uma delas. Demorei muito tempo para curtir esta música, mas depois que ela bateu, entrou em minhas favoritas. O dedilhado suave da canção, a interpretação vocal de Gilmour e a participação arrepiante do saxofone de Dick Parry dão todo o charme viajando para uma das mais belas canções que o Floyd já produziu. Oitava posição para ela!


7. "Dogs" - Animals (1977)

Quando ouvi Animals pela primeira vez, fiquei impressionado com a ferocidade de "Dogs". São 17 minutos onde o peso que o Pink Floyd entrega ao ouvinte é muito incomum, e melhor ainda, muito bem feito. Claro que os solos de Gilmour e os viajantes teclados de Wright dão todo o climão viajante que uma música do Pink Floyd precisa ter, tudo isso com uma letra fantástica e um final apoteótico. Tive a oportunidade de ver Waters interpretando ela ao vivo em 2018, em uma das sensações visuais/musicais mais incríveis de minha vida!


6. "Astronomy Domine" - Ummagumma (1969)

Abrindo o álbum de estreia do Floyd está esta faixa, mas a versão que eu gosto é a ao vivo de Ummagumma. E por que? Simples, por que ela é viajante demais, e o momento certo onde o quarteto Gilmour/Waters/Wright/Mason corta seu cordão umbilical junto ao passado lisérgico de Syd, com uma grande interpretação e uma certa homenage ao criador da banda. Os vocais, a guitarra de Gilmour e o alucinante órgão de Wright, além das batidas raivosas de Mason, além do longo trecho de improvisos, dão o toque psicodélico que essa primeira fase do Floyd se tornou tão reconhecida. Musicão perfeitamente para usar um alucinógeno qualquer (até uma ceva serve aqui) e delirar pela casa!

5. "Comfortably Numb" - Pulse (1995)

Se "Us & Them" é fácil uma das baladas mais marcantes do Pink Floyd, "Comfortably Numb" é com certeza A mais marcante. Mas eu não gosto tanto da versão do The Wall como gosto da versão do Pulse. E explico. Nesta apresentação ao vivo, Gilmour parece que se soltou de verdade, e faz do solo um êxtase de arrancar lágrimas. São quase cinco minutos de solo, onde ele usa e abusa da alavanca e bends como poucos têm coragem de fazer. A música, que já é linda naturalmente, ganha ainda mais dramaticidade e beleza graças aos uivos que Gilmour arranca de suas seis cordas, complementado com uma apresentação visual impactante. Versão fantástica, e Top 5 para ela!


4. "Atom Heart Mother" - Atom Heart Mother (1970)

Aaaaaah, Atom Heart Mother. Para mim o melhor disco da banda, e muito por conta da sua faixa-título. Magnífica e perfeita ao longo de suas seis partes e 23 minutos de duração. A presença da orquestra é fundamental para dar mais impacto a esta grande obra, mas não há como não considerar os belos solos de Wright e de Gilmour. O blues no meio da canção, o arrepiante arranjo vocal do coral, e o magistral e épico encerramento da canção são outros grandes momentos de uma obra-prima. Ao vivo, há algumas opções que se aproximam da versão original (principalmente uma registrada somente com o quarteto no Japão e 1971, com Gilmour solando como nunca, assim como a do Hyde Park de 1970 com orquestra, coral, tudo, e que precisam ser lançadas oficialmente), mas a versão de estúdio para mim ainda é a mais poderosa!


3. "The Great Gig In The Sky" - The Dark Side of the Moon (1973)

Tenho uma particular ligação com "The Great Gig in the Sky" que é o desejo póstumo de ser esta canção aquela que deve ser a última tocada no dia da minha cremação (sim, eu tenho uma lista de cinco músicas para alguém deixar rolando enquanto aqueles que gostam de mim se despedem, e vocês irão saber as outras quatro em outros posts). Já ouvi inúmeras versões, e nenhuma delas bate a original de The Dark Side of the Moon. O que Clare Torry faz vocalmente aqui é de arrepiar. Wright conduz a voz da menina com uma delicadeza ímpar, e o crescendo e a coda são de arrancar lágrimas até de um totem. Em 2005 vi a vocalista do The Australian Pink Floyd show band interpretar quase identicamente Clare, fantástico, mas o original é insuperável!


2. "Shine On You Crazy Diamond" - Wish You Were Here (1975)

Só de escrever o nome dessa música já me arrepio. O que coloco aqui é a versão inteira, os dois lados de Wish You Were Here. "Shine On ..." é uma obra-prima sem tirar nem por. A longa introdução no único acorde em Gm que Wright coloca ao ouvinte, a entrada da guitarra de Gilmour abrindo espaço para um solo magnífico, Wright solando no sintetizador, Gilmour solando novamente, um arranjo vocal marcante e outro grande solo de saxofone de Dick Parry estão no lado A, e só isso seria suficiente para a canção estar por aqui. Mas ainda tem o lado B, onde quem manda é Wright, naquela que considero sua melhor performance, com solos e camadas de teclados exclusivos e inesquecíveis. Wright talvez seja o tecladista mais subestimado do rock progressivo, e seu trabalho em "Shine On ..." mostra que ele é sim um dos grandes do instrumento.


1. "Echoes" - Meddle (1971)

"Echoes" desde a primeira vez que ouvi foi com aquela sensação de curiosidade e daquele "puta merda" sendo soltado a cada minuto. A curiosidade vinha de uma descrição que a revista Bizz fazia, dizendo que era uma música simples mas completa (como podia esse paradoxo?), e o "puta merda" sendo soltado é por que ela é surpreendentemente exatamente isto. Cara, "Echoes" é tão simples, mas tão simples, que se torna complexo entender como fizeram algo tão simples em mais de 20 minutos. Que música fantástica, que arranjo, que tudo. Os vocais de Wright e Gilmour encaixados perfeitamente, as sequências de quebradas, os gritos das baleias, o final apoteótico, tudo, tudo em "Echoes" é perfeito, e por isso, primeiro lugar para ela!

domingo, 6 de abril de 2025

System of a Down - Toxicity [2001]

O ano é 2001. No inicio de um novo século, algumas bandas surgem para tentar conquistar espaço no já famigerado mundo do rock. Aqui no Brasil enquanto alguns exaltam a volta de Bruce Dickinson ao Iron Maiden, outros esperam o "tão aguardado" novo disco do Guns N' Roses (que ainda iria demorar 7 anos para sair), o que havia sido espetacularizado ainda mais pela participação de ambos no Rock in Rio de janeiro daquele ano. E outros estão abrindo os ouvidos para ao menos três novas (e surpreendentes) bandas advindas de locais bem aleatórios: Rammstein (Alemanha), Slipknot (Iowa, Estados Unidos) e System of a Down (Armênia/Estados Unidos).

Eu já conhecia as três em 2001, sendo que tinha visto o Rammstein abrir para o Kiss em 1999, em um dos Melhores/Piores shows da minha vida, não curtia Slipknot (e ainda acho a banda bem aquém) e tão pouco apreciava System of a Down. Estava no início da minha licenciatura em Física, concentrado em aprender integrais, as Leis de Gauss, ao mesmo tempo que me preparava para um dos maiores desafios da minha vida, que foi tornar-se pai com 18 anos. Passava boa parte do dia na universidade, já que o curso era diurno (manhã e tarde), e durante o horário do almoço, ia para o Diretório Acadêmico (bons tempos do DA) para estudar e relaxar um pouco de uma ronda diária que eu fazia pelo Campus do Capão do Leão da Universidade Federal de Pelotas, onde localiza-se o curso, catando latinhas (sim, durante um bom tempo catei latas de alumínio e outros materiais de reciclagem como forma de trabalho para sustentar meu filho). Sempre tinha maluquetes de diversos cursos frequentando o DA, e um deles, certo dia, apareceu com um CD-R trazendo diversas canções de diversas bandas. Uma delas me pegou de jeito, era uma faixa chamada "Aerials", com um dedilhado lindo, uns acordes pesados e um vocal estranho mas contagiante. Ali, no DA, começou minha paixão por System of a Down.

Lembro que ouvi aquilo por diversas vezes, e a medida que o tempo passou, fui descobrindo outras músicas, como "Chop Suey", "X", "Prison Song" e "Science", tudo graças ao WinMX e Audio Galaxy, dois sites que permitiam baixar músicas de graça, que demoravam pra caramba para baixar, mas que trazia uma sensação ainda mais gostosa de vitória depois que baixava a música e ficava ouvindo ela no computador ou no CD-R gravado clandestinamente no computador da universidade. A internet era algo ainda engatinhando no Brasil, e as informações que chegavam até nós eram ainda mais precárias, mas não demorou muito para eu descobrir que todas aquelas faixas que eu curtia eram de um mesmo disco: Toxicity!

O tempo passou, adquiri o CD, ouvi bastante, e ainda hoje, com a proximidade dos cinco shows dos caras aqui no Brasil começando hoje em Curitiba, dia 08 no Rio e 10, 11 e 14 em São Paulo (aaaaaaah, como queria estar em um desses :( ), ainda acho este o melhor disco do quarteto formado por Serj Tankian (vocais, teclados), Daron Malakian (guitarras, vocais), Shavo Odadjian (baixo) e John Dolmayan (bateria). Voltando na história da banda, este é o segundo álbum, lançado em 4 de setembro de 2001. Os caras já haviam conquistado Disco de Platina com o seu álbum de estreia, auto-intitulado, de 1998, mas com Toxicity eles conquistaram o mundo. 

São 45 minutos de uma obra pesada, esquizofrênica, maluquete e capaz de conquistar o coração inclusive de garotas que nunca ouviram rock pesado, o que por si só é uma façanha. Com uma produção fantástica de Rick Rubin, e seguindo a ordem das canções, o álbum abre com “Prison Song”, uma ótima escolha com os primeiros acordes pesadíssimos e a voz sussurrada de Tankian, caindo para uma das maiores obras do quarteto, que traz tudo o que um fã do SOAD gosta, ou seja agressividade mesclada com trechos maluquetes, a voz veloz de Tankian, a voz aguda de Malakian e um refrão marcante! Impressiona o peso desta faixa, mas ainda virá mais. "Needles" surge caótica na guitarra de Malakian, com a pancadaria comendo solta e muito mais peso. Aos desavisados, parece que "Prison Song" não acabou, mas não, é uma nova faixa, tão agressiva quanto a anterior, e com mais um refrão marcante, para se cantar a plenos pulmões. Destaco também a absurda performance de Dolmayan aqui. 

"Deer Dance" é mais uma faixa pesadíssima, porém alternando momentos cadenciados em mais etapas, e com Tankian abusando do sotaque armênio, além das melodias vocais lembrarem bastante canções daquela região do mundo. É uma faixa um pouco abaixo das duas primeiras, mas mesmo assim bem interessante, e com um bom uso de harmonias na guitarra durante a segunda parte da canção, inclusive com uso de um banjo, a cargo de Malakian. Chegamos em "Jet Pilot", e mais pancadaria comendo solta. De novo temos referências a Armênia, agora nas batidas da bateria, mas é a alternância entre o peso descomunal da guitarra e os trechos "armênios" que se sobressai em mais uma ótima faixa. "X" é a quinta faixa, alucinante desde o seu início, explodindo em riffs pesadíssimos e batidas furiosas que me remetem ao Sepultura de Chaos A. D.. Tankian explode sua raiva em vocais gritados, guturais e furiosos, e é nessas alturas do campeonato que seu pescoço já está começando a sentir o que pouco mais de 15 minutos de música são capazes de fazer.

O grande clássico "Chop Suey!" então surge com os violões, a linha da guitarra, o crescendo das batidas da bateria com a marcação do baixo, e a grande explosão para colocar a casa abaixo. Tudo devidamente bem encaixado para chegar nos vocais absurdos de Tankian. Que faixa! A mescla do peso com o ritmo lento, incluindo piano e teclados, é incrível e criativo. Ninguém havia feito algo igual até então. É uma violência descomunal mesclada com uma singela canção que somente ouvindo para tentar entender o que ocorre aqui. Essa paulada fantástica ganhou ainda mais créditos pelo hilário videoclipe montado – não oficialmente – com a turma do Chaves cantando essa lindeza de música.  É a mais conhecida composição do quarteto, e também polêmica, já que toca no assunto suicídio e, como o disco foi lançado uma semana antes dos ataques terroristas de 11 de Setembro, criou-se uma espécie de "banimento" para a mesma. Apesar de banida das rádios, o vídeoclipe liderou o álbum no mundo todo

"Bounce" retorna a insanidade de velocidade e vocais alucinantes, caindo bastante o nível, mas talvez por vir depois de uma obra-prima como "Chop Suey!", levando então para "Forest", onde a percussão inicial é o destaque para mais pancadaria, bem melhor que "Bounce", mais agressiva, pesada e boa para pular junto. Os vocais de Tankian aqui também são muito bons de cantar junto, assim como em "ATWA (Air Trees Water Animals)", esta a canção mais lenta de todo o disco, levada apenas pelo dedilhado da guitarra de Malakian e os vocais chorosos de Tankian, apesar de ter seus momentos mais pesados na segunda metade principalmente.

A esquizofrenia de "Science" é estampada pelas notas da guitarra e pelo tempo todo quebrado na bateria. Que música complexa de se tocar, mas como é legal o encaixe vocal com as notas da guitarra. Pancada boa, retomando o bom nível de Toxicity, assim como "Shimmy", outra na qual Dolmayan dá um show a parte, com mais referências melódicas para a música armenia, um refrão foderoso e claro, Malakian destruindo em notas rápidas. A faixa-título é outro grande clássico do álbum. Assim como "Chop Suey!", surge lenta no dedilhado da guitarra, mas logo descamba para uma série de acordes e viradas impressionantes, alternando então entre o ótimo trecho conduzido pelo dedilhado (que levada de bateria, para viajar junto dos vocais de Tankian) e o refrão pesadão que assombra a casa. A segunda metade da canção simplesmente muda tudo, num peso a la Black Sabbath que pouco encontramos nas músicas do SOAD, voltando então para o refrão. Fantástica!

Chegamos na reta final com "Psycho", faixa onde o baixo de Odadjian surge com força, puxando o ritmo de outra faixa perfeita para sair pulando pela casa, mas com um trecho sensacional onde Malakian usa Sitar, além de executar um lindo e melodioso solo, preparando o terreno para o grande finale de Toxicity. Assim, surge "Aerials", digna de vários adjetivos maravilhosos que são dados com razão, e de toda a atenção do ouvinte. O dedilhado inicial da guitarra, a presença tímida do violino, leva para a explosão e talvez a melhor performance vocal da carreira de Tankian, em outro daqueles momentos onde os caras sabem que estão criando uma obra-prima. A música soa com uma melodia triste, mas pesada, que com os vocais dobrados entre Malakian e Tankian só enaltecem a grandeza tocante que está saindo das caixas de som. Que música! Que espetáculo. É difícil para mim saber se ela ou "Chop Suey!" é a melhor do SOAD, mas sem sombra de dúvidas, ambas são as melhores! O álbum encerra com uma faixa escondida, "Arto", com a presença de Arto Tunçboyacıyan nos vocais, em uma canção que é uma adaptação para "Der Voghormia", um hino de igreja tradicional na Armênia, que pouco acrescenta ao compilado geral deste grande disco, mas serve principalmente para registrar uma homenagem à este país. 

Eleito aqui na Consultoria do Rock como melhor disco de 2001, Toxicity fez com que o SOAD se estabeleça de vez na cena musical mundial, refinando as composições criativas que ja haviam sido apresentadas na estreia, mas sem perder a essência sonora, confirmando tudo com a venda de um milhão de discos em apenas seis semanas. Até hoje, Toxicity já foi certificado 6 x platina nos Estados Unidos, em julho de 2022, o que significa seis milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos. Além disso, todos os singles de Toxicity alcançaram o Billboard Hot 100. "Chop Suey!", lançado em 13 de agosto de 2001, atingiu o número 76, "Toxicity", lançado em 22 de janeiro de 2002, o número 70 e "Aerials", que saiu em 11 de junho de 2002, o número 55. 

Há diversos lançamentos especiais de Toxicity. Na França, saiu uma edição com um CD bônus trazendo quatro faixas ao vivo ("Sugar", "War?", "Suite-Pee" e "Know"), registradas em um show do dia 19 de janeiro de 1999, no  Irving Plaza de Nova Iorque, mais "Johnny". No Japão, o álbum veio com "Johnny" no lugar de "Forest". Também existe a Blue Edition, trazendo um DVD bônus com o clipe de "Toxicity" mais versões ao vivo para "Chop Suey", "Prison Song" e "Bounce", e a Red Edition, com um CD-Rom bônus tendo um documentário sobre a produção do disco.

Como curiosidade final, um dia antes do lançamento do disco, em 3 de setembro de 2001, o quarteto havia planejado lançar o Toxicity em um concerto gratuito em Hollywood, Califórnia, como um agradecimento aos fãs. O concerto seria realizado em um estacionamento para 3500 pessoas, mas na hora,  cerca de 10000 fãs apareceram no local, levando ao cancelamento da apresentação pela polícia local pouco antes de começar o show. Durante mais de uma hora, a plateia aguardou a banda, até que uma faixa pendurada no fundo do palco com os dizeres "System of a Down" foi removida pela segurança. Indignada, a plateia invadiu o palco, destruiu o equipamento de turnê e causou um tumulto de 6 horas com prejuízo de mais de 30 mil dólares. Mais uma história para a gigante história do SOAD. Aproveitem os shows!

Track list

1. Prison Song

2. Needles  

3. Deer Dance

4. Jet Pilot

5. X 

6. Chop Suey!

7. Bounce

8. Forest

9. ATWA (Air Trees Water Animals)

10. Science

11. Shimmy

12. Toxicity

13. Psycho

14. Aerials/Arto

quinta-feira, 13 de março de 2025

Cinco Músicas Para Conhecer: Gal Costa E O Frevo




A baiana Gal Costa foi uma das grandes vozes do nosso país. Com uma carreira muito ampla, de mais de 55 anos, ela enveredou por diversos estilos, destacando-se desde o rock até o frevo. Foi nesse último que Gal deixou sua marca em canções que alavancaram seu nome entre a população brasileira, e por que não, mundial. A "gaúcha" (apelido dado pelo conterrâneo Gil) registrou diversas canções nesse estilo, e hoje, em homenagem ao Carnaval, e também à própria Gal, trago aqui cinco dos frevos (conhecidos e raridades) que estão na vasta discografia de Gracinha.

Ney Matogrosso, Guilherme Araújo e Gal Costa no Carnaval de 1978

Deixa Sangrar- Le-gal [1971]

A faixa de Caetano Veloso é um frevo animado, tendo como diferencial a guitarra lisérgica de Lanny Gordin acompanhando o vocal suave da baiana com intervenções maluquetes, e que lembra muito o que foi apresentado em canções de Caetano como "Atrás Do Trio Elétrico" e "A Filha da Chiquita Bacana". Para um disco repleto de rock 'n' roll, é surpreendente a presença de "Deixa Sangrar" em Le-gal, ainda mais entre o rockaço de "Hotel das Estrelas" e o samba-blues lindaço de "The Archaic Lonely Star Blues". Além disso, foi lado B de "Você Não Entende Nada", faixa que entrou depois em uma nova edição de Le-gal devido ao grande sucesso da bolachinha. Tem a importância história de ser a primeira incursão de Gal pelo frevo, e está aqui também por que é uma canção bem bonitinha.

Estamos Aí - 7" [1973]

Essa preciosidade original de Edil Pacheco e Paulo Diniz veio ao mundo em uma raríssima bolachinha de 1973, com "Barato Modesto" no lado B. Um frevo levado pela guitarra e por uma bela melodia vocal de Gal, acompanhada por uma flautinha manhosa e claro, a bateria conduzindo tudo com muita animação. A crítica letra da canção diz "Estamos aí em toda cidade pagando em suor a felicidade ... Vou sair de palhaço, você de careta a verdade deixei na gaveta" consegue se camuflar entre o ritmo festivo da canção, e gruda na cabeça do ouvinte. Boa faixa!

Sem Grilos - 7" [1974]

Outra raridade que saiu em um compacto simples em 1974, e exalta o frevo de forma descarada. "Vamos curtir o frevo diz por onde ir, vamos pelo rumo bom que o frevo seguir" e destacando como o frevo foi do Recife para a Bahia, virando o trio elétrico em Salvador. Destacando os vocais agudos de Gal e os teclados de Perinho Albuquerque, é uma canção simples, com uma letra mais simples ainda (mais um frevo na conta de Caetano, ao lado de Moacyr Albuquerque) e muito bom para curtir com os indicadores apontados para o céu e uma garrafa de samba (a famosa mistura de vodca ou cachaça com Coca-Cola) nas mãos, curtindo o Carnaval!


Gal Costa no Carnaval do Rio em 1994

Balancê - Tropical [1979]

Esta regravação de Braguinha e Alberto Ribeiro, lançada originalmente por Carmem Miranda em 1936, se tornou o maior sucesso dos carnavais no início dos anos 80, e responsável pela primeira venda de mais de um milhão de discos de Gal (no caso, o álbum Tropical, de 1979). Alguns consideram ela uma marchinha de carnaval, mas creio que o arranjo feito para a interpretação de Gal se aproxima muito mais de um frevo comandado pelo saxofone insinuante de Juarez Araujo. Na letra simplória de amor, o folião quer se divertir ao lado de uma morena que o despreza. A simplicidade da canção, e o grudento refrão, destacam-se junto dos belos agudos de Gal. Ainda hoje, muitos "veteranos" de carnavais sacodem-se ao som de um dos maiores hits da carreira da baiana. Como curiosidade, a canção não saiu no EP promocional de Tropical, e tão pouco em compacto simples aqui no Brasil, mas foi lançada em compacto de 7" no Perú, onde foi igualmente um grande sucesso, e foi tema musical da história Currupaco Papaco, lançada na Série Coleção Taba em 1984, onde a canção é a preferida do papagaio que é o personagem central da mesma. 

70 Neles - Mexicoração [1986]

Em 1986, a gravadora Som Livre soltou no mercado a coletânea Mexicoração, com canções de incentivo para a seleção canarinho rumo a Copa do Mundo do México. Entre artistas como Luiz Ayrão, Os Incríveis, Coral do Joab e até o lateral Júnior (Flamengo), quem se destacou mesmo foi Gal com uma revisão para "70 Neles". Composta por Antonio Edgard Gianullo*, Vicente De Paula Salvia e com arranjos de Lincoln Olivetti,  a faixa enaltece o êxito da seleção brasileira na Copa de 1970, também no México, com um refrão grudento que tenta unir os torcedores brasileiros. A canção perambula entre o frevo dos metais e a marchinha de carnaval, mas com muitos sintetizadores. A faixa na época fez tanto sucesso que saiu em um compacto exclusivo em ambos os lados da bolachinha, mas com o fracasso em campo do time de Zico, Sócrates, Falcão, Careca, etc ... acabou ficando obscurecida na discografia de Gal.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Cinco Músicas Para Conhecer: Homenagens À Rita Lee



No dia 31 de dezembro de 1947, nascia Rita Lee. A Rainha do Rock nacional, falecida em 8 de maio de 2023, vítima de câncer, teve uma carreira espetacular, que conquistou fãs não somente anônimos como este que vos escreve, mas também nomes importantes da cena musical nacional. Vários foram os artistas que prestaram sua homenagem à Tia Rita, a "mais bela tradução de São Paulo" na visão de Caetano Veloso, e desta forma, recolho aqui cinco destas homenagens.

"Rita Lee" - Mutantes [1969] (Mutantes)

A primeira banda que homenageou Rita foi o seu próprio grupo, logo no segundo álbum da banda. A faixa, intitulada simplesmente "Rita Lee", é mais uma das grandes amostras do deboche escrachado que o trio Rita, Sergio Dias e Arnaldo Baptista fazia no início de sua carreira. Rita surge como uma menina inocente de 20 anos, infeliz, que sonha em ser feliz e encontrar seu amor, uma letra infantil para uma música infantil, um rock comandado pelo piano de Arnaldo e os vocais de Serginho, mas engraçada e que faz (fez) toda a aura mutante ser enaltecida através dos anos. O deboche vocal e musical vai crescendo junto com a história "comovente" de Rita, que ao final, acaba encontrando o seu par, entre muitos beijos, risadas de felicidade e chamegos, onde outro destaque é o solo de Arnaldo no órgão. Grande faixa dessa fase inicial do trio, que também saiu como lado B num raro compacto promocional da Polydor, tendo "Banho de Lua" no lado A. 

"Rita Jeep" - Negro É Lindo  [1971] (Jorge Ben)

Esta homenagem de Jorge Ben (que havia sido revisitado pelos Mutantes com "A Minha Menina", no primeiro álbum da banda) trata Rita como uma mulher forte, terrivelmente feminina, a qual faz Jorge sentir-se fraco e pedir-lhe para fazer um trato de comunhão de bens. Aprofundando-se mais na letra simples de Jorge (como a maioria de suas músicas), é um atestado de defesa da força da mulher, em plenos anos 70, e que tem no nome de Rita a personagem principal, com ela representando todas as mulheres fortes de nosso país, e a referência do Jeep é uma homenagem a Charles, o Jeep Willys que era de Rita Lee, a qual se definia como uma jeepeira. Em suas próprias palavras para um podcast da Rádio 89 FM, em 2021, "Eu tinha uma afinidade tão grande com o Jeep, que eu via os outros carros eu achava os outros carros horríveis, sem estilo". Musicalmente, é mais um samba-rock de Jorge, com apenas duas mudanças de acordes (C e F na primeira parte, A e D na segunda), destacando uma gatinha manhosa que acompanha o embalo do violão e a voz manhosa de Jorge, mas que embala a casa facilmente, como toda boa faixa do carioca. Saiu como lado A de um compacto (com "Negro É Lindo" no lado B) e abre o álbum Negro É Lindo de 1971. 

"Quando" - Doces Bárbaros [1976] (Doces Bárbaros)

Um dos maiores projetos da música popular brasileira, os Doces Bárbaros uniu nada mais nada menos que Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia, em uma turnê repleta de complicações, mas que acabou resultando em um álbum duplo ao vivo sensacional, assim como um compacto de quatro canções. No show, uma das faixas traz seu apoio para Rita, "Quando", interpretada por Gil e os backing vocals de Gal. Explicitamente, a música começa citando o nome da artista, seguido pelos "tiu, tiu, ru, ru, ru" e riffs que Rita apresentou diversas vezes em sua carreira, passando por apenas mais uma breve frase, citando que "quando a governanta der o bode pode quer que eu quero estar com você, super estar com você", em alusões para as canções "Superstafa" e "Sucesso Aqui Vou Eu", da própria Rita, e a citação para Mônica Lisboa, a empresária que acabou, supostamente, sendo a responsável pelo fim da Tutti Frutti. A segunda parte da canção  exalta uma profecia onde uma mulher lê, na bola de cristal, "uma menina loira que virá de uma cidade industrial, de bicicleta, de bermuda, mutante, bonita, solta, decidida, cheia de vida etc e tal, cantando o yê, yê, yê", ou seja, a própria Rita cuspida e escarrada. Uma faixa rock 'n' roll direta, na linha Tutti Frutti, e que segundo Gil, "Rita era a nossa musa do desvio, do transvio". No ano seguinte, Gil e Rita saíram na turnê Refestança, e "Quando" acabou nunca mais sendo interpretada.

"Rita Lee" - Ponto & Vírgula  [1980] (Ponto & Vírgula)

Este grupo conheci por aqueles acasos da vida. Vasculhando um acervo de uma rádio, na qual fui levado justamente para pegar os discos que quisesse, encontrei este compacto e achei curioso que nunca tinha ouvido falar no tal grupo. Ao ler as informações na contra-capa, me deparo com um certo T. Maia na percussão, e uma faixa intitulada "Rita Lee". Peguei a bolachinha e para minha surpresa, é justamente Tim Maia quem está na percussão do mesmo, o qual tem justamente em "Rita Lee" sua melhor faixa. A faixa é um belo rock no estilo da Tutti Frutti, trazendo várias referências inclusive as canções de Rita ("A Minha Menina", "Arrombou A Festa", "Ovelha Negra" entre outros), e citando como o cantor ficou influenciado pelas performances de Rita, destacando os bons solos de guitarra de Riba. A dupla Ponto E Vírgula (Tukley e Marcelo Fasolo) lançou alguns compactos nos anos 70, tendo sido os responsáveis por criarem a frase "money que é good nóis não have", na faixa "Laika nóis Laika", frase que ficou eternizada posteriormente pelos Mamonas Assassinas, e deixou também eternizada esta justa homenagem para a Rainha do Rock.

"A Tal" - Ivan Lins [1986] (Ivan Lins)

Esta faixa, escrita por Ivan em parceria com Vitor Martins, está no álbum de 1986 do cantor, e tem em seus versos a declaração de amor dos artistas por sua musa, em frases como “Sempre provocante / quente, picante, tem sal / Sempre irreverente, sim / descaradamente sensual”. Um rock pesado, com a quadrada bateria dos anos 80, e o comando da guitarra de Heitor T. P. e importante participação dos instrumentos de sopro de Guilherme Dias Gomes. Apesar de não ser citada diretamente, a descrição acaba que é de Rita que Ivan fala na terceira estrofe, "Negra, sempre uma ovelha negra como desejara que ia ser ...". O próprio Ivan, quando soube do falecimento de Rita, prestou homenagem à Rita em seu Facebook/Twitter, dizendo que "Esse roquezinho foi feito em homenagem a ela em 1986, por mim e pelo Vitor. Sempre tivemos forte admiração por ela, grande mulher. Polêmica, inteligente e libertária, sempre foi uma voz essencial na defesa das mulheres". 


segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Tom Jobim - The Man From Ipanema [1995]


Há 30 anos, o mundo perdia um de seus maiores compositores, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, ou simplesmente Tom Jobim. O carioca e multi-instrumentista (exibiu domínio amplo no violão, piano e flauta) se consagrou mundialmente como arranjador, compositor e intérprete, e faleceu por conta de duas paradas cardíacas, causadas por uma embolia pulmoar, após uma operação de emergência, por conta de problemas urinários, aos 67 anos. Mesmo que em um período de vida relativamente curto, comparado com outros artistas, Tom deixou um legado gigante para a música brasileira, e por que não, mundial. Lembro de assistir Tom tocando na Globo, quando pequeno, por diversas vezes, e toda a comoção que sua morte gerou na empresa de televisão, mas confesso que nunca fui um apreciador da música dele, principalmente por sua forma arrastada de cantar. 

Porém, com o passar dos anos, e influenciado por obras de (principalmente) Elis Regina e Gal Costa, bem como Tim Maia e Caetano Veloso (em proporção menor), acabei conhecendo as músicas de Tom com um outro ouvido, assim como ir atrás da vasta obra do carioca me abriu os horizontes para entender por que do enaltecimento do cara pelo mundo, e todo o sucesso que ele fez nos Estados Unidos.

Parte do livreto que acompanha o álbum aqui resenhado,
apresentando Tom ao lado de Baden Powell, Lucia Proença e Vinicius de Moraes

Tom é um dos pais da bossa nova, adaptando a música francesa e o jazz americano junto ao samba carioca, criando um estilo único, complexo, e que só foi sendo aprimorado com o passar dos anos. Com letras que flertam com amor e relacionamentos, indo para tons políticos, principalmente sobre o meio-ambiente, apreciar a obra de Tom na sua totalidade exige uma audição dedicada, mas, para quem quer se iniciar e não tem ideia de onde ir, vá atrás de The Man From Ipanema, coletânea lançada (somente lá fora) em 1995, e que resgata muitos dos pontos altos de artistas e do próprio Tom interpretando suas canções.

São 3 CDs, dividos em Vocals, Instrumentals e Side By Side, e que apresentam Tom para aqueles que desconhecem seus discos, ou até mesmo para os já iniciados em sua obra, de uma forma bastante plural. No total, canções de 10 discos aparecem nas três mídias, sendo eles quatro de Tom (Antonio Carlos Jobim - The Composer Of Desafinado, Plays - 1964; Wave - 1967; Tide - 1970; e Passarim - 1987), a famosa parceria com Elis Regina, Elis & Tom (1974), mais os álbuns Jazz Samba Encore!, parceria do saxofonista Stan Getz com o violonista e compositor brasileiro Luiz Bonfá (1963),  Getz/Gilberto, projeto fantástico que uniu Getz ao violão de João Gilberto, em 1964, e do qual Tom contribui com o piano e/ou violão, The Astrud Gilberto Album (1965), da esposa de João Gilberto, Astrud Gilberto, Elis Especial (1979), coletânea não autoriza de Elis Regina, e o espetacular The Carnegie Hall Salutes The Jazz Masters (1994), trazendo Tom Jobim e outros convidados na apresentação realizada em 6 de abril de 1994 em homenagem aos 50 anos da gravadora Verve.

CD 1, acondicionado em um envelope no formato de peixes

Começando pelo CD 1, com quase 80 minutos de música,  passeamos pela nata da obra de Tom em nada mais nada menos que 23 canções. Pegando aquelas gravadas pelo próprio Tom, temos a bela "Lamento" (de Wave) e nada mais nada menos que sete faixas de Elis & Tom (sendo que o álbum original possui 14 canções), a saber a mega-clássica "Águas De Março", "Chovendo Na Roseira", "Modinha", "Soneto Da Separação", "Retrato Em Branco E Preto", "Inútil Paisagem" e "O Que Tinha De Ser". O timaço que acompanha a dupla aqui é César Camargo Mariano (piano), Luizão Maia (baixo), , Paulinho Braga (bateria), Chico Batera (percussão), Oscar Castro Neves (violão) e Helio Delmiro (violão, guitarras). Quem assistiu o documentário Elis & Tom, Só Tinha De Ser Com Você (2022) percebe o clima de tensão que acompanha a gravação deste que é sem sombra de dúvidas um dos álbuns fundamentais da MPB, e ao ouvir as faixas aqui escolhidas para representar este grande encontro, o quão grande era o talento de Elis Regina para interpretar, como só ela sabia fazer, letras tão belas e pessoais de outros compositores, principalmente nas doloridas “Modinha”, somente Elis e cordas (arrepiante e assustador), “Retrato Em Branco E Preto” e “O Que Tinha de Ser”, essa para cortar os pulsos! Elis também contribui com "Bonita", do álbum Elis Especial, que é apenas ais um pequeno grande acréscimo do talento da gauchinha de voz mais espetacular que o Brasil já teve. 

Por fim, de Passarim saem "Borzeguim", "Passarim", "Luiza", "Anos Dourados (Looks Like December)", "Gabriela" e "Chansong". A line-up aqui conta com um timaço de vozes (Ana Lontra Jobim, Danilo Caymmi, Elizabeth Jobim, Maucha Adnet, Paula Morelenbaum, Paulo Jobim e Simone Caymmi) que enaltecem a inquestionável qualidade de criação e composição de Tom, pois os arranjos e harmonias vocais, mesclados com instrumental aguçadíssimo e uma orquestra em perfeita combinação com os demais músicos, fazem deste não à toa um dos meus álbuns preferidos de Tom. Poderia ter entrado a excelente "Borzeguim", uma letra forte e atemporal (não parece que faz mais de 40 anos que Tom escreveu algo tão poderoso) na versão que Gal Costa lançou em Minha Voz (1982), e também a épica “Matita Perê”, uma de suas obras mais belas e complexas. Mas ok, para quem está conhecendo Tom, foram ótimas escolhas.

Mas não acabou o CD 1, já que ainda temos, de Getz/Gilberto, as excepcionais e exclusivas versões para "Só Danço Samba" e "O Grande Amor", com o destacado Getz no saxofone, além de uma bandaça formada por Tommy Williams (baixo), Milton Banana (percussão) e Tom ao piano, e a delicadíssima voz de Astrud Gilberto com 6 das 11 faixas de The Astrud Gilberto Album em "Amor Em Paz", "Água De Beber", "Dindi", "Photograph", "Meditation" e "O Morro Não Tem Vez". Vale ressaltar o trabalho de tradução das letras de Tom para o inglês, feitas por Ray Gilbert, e a bela banda que acompanha Astrud em seu álbum, a saber Joe Mondragon (baixo), Bud Shank (flauta), João Donato (piano), Milt Bernhart (trombone) e Tom no violão/piano. Difícil saber qual a melhor faixa dessas citadas, mas o fato é que toda a audição do CD 1 é uma experiência fantástica.

O CD 2, acondicionado em um envelope no formato de flor

Passamos para o CD 2, com as faixas instrumentais, onde destacam-se os álbuns Wave e Tide, que juntos entregam 7 das 15 canções do CD. Do primeiro saem "Wave", "Mojave", "Triste" e "Captain Bacardi". Aos perdidos, são faixas nas quais Tom une o jazz americano ao samba brasileiro, essencialmente por conta dos músicos estadunidenses que o acompanham aqui (Ron Carter no baixo, Claudio Slon na bateria, Jimmy Cleveland e Urbie Green no trombone, mais um naipe de metais e cordas, bem como a percussão de Dom Um Romão). Músicas de arranjos complexos, belos, e que facilmente se apresentam como o ápice da criatividade de Tom, assim como as três faixas de Tide, a saber a faixa-título, "Sue Ann" e "Tema Jazz". Se Wave é um grande álbum de jazz/samba, Tide já é um álbum mais conservador, com Tom acompanhado por uma orquestra, Ron Carter ao baixo e Hermeto Paschoal na flauta, sendo este o principal nome nos improvisos de "Tema Jazz", fácil candidata a melhor deste álbum em especial. Mas se você quer realmente saber de onde vem as origens de Tom, concentre-se nas 7 faixas de Antonio Carlos Jobim, The Composer of Desafinado, Plays. Este é o primeiro álbum solo de Tom, gravado em Nova Iorque no ano de 1963, e nas faixas escolhidas para esta coletânea, estão "Amor Em Paz", "Chega De Saudade", "Samba De Uma Nota Só", "O Morro Não Tem Vez", "Meditation", "Água De Beber" e "Só Danço Samba". Fica claro aqui que Tom era um músico exímio, e que suas canções, mesmo tendo belas letras, funcionam melhor com ele somente no piano, acompanhado pelos exímios arranjos orquestrais, e deixando então as interpretações vocais para outros artistas. Fecha o CD dois a versão de "O Morro Não Tem Vez (Favela)" retirada do álbum Jazz Samba Encore!, e que por si só já vale toda a audição do CD, afinal, Getz e Bonfá simplesmente estraçalham aqui.

O CD 3, acondicionado em um envelope no formato de folha

O CD 3 ataca com diferentes versões para as mesmas canções, destacando as faixas de Antonio Carlos Jobim - The Composer of Desafinado, Plays, as quais, instrumentais, são "Desafinado", "The Girl From Ipanema", "Corcovado", "Insensatez" e "Vivo Sonhando", fechando portanto as 12 canções originais deste disco todas na coletânea aqui representada. Porém, estas cinco faixas em especial surgem com outras versões. "Desafinado", que com Jobim é privilegia o piano do músico, aparece também na interpretação de Getz/Gilberto, já com a voz manhosa de Gilberto, e com a exímia versão registrada no citado show do Carnegie Hall, tendo Tom ao lado de Joe Henderson (saxofone), Charlie Haden (baixo) e Al Foster (bateria), na qual Henderson dá um espetáculo a parte. A dupla Getz/Gilberto também manda ver na versão definitiva de "The Girl from Ipanema", com João dividindo os vocais com a esposa Astrud (ele em português, ela em inglês), que na versão de The Composer of Desafinado ... possui um grandioso arranjo orquestral, "Corcovado" (outra com os vocais de João e Astrud, e um banho de Getz) e "Vivo Sonhando (Dreamer)", esta com os vocais de João e tipicamente bossa-novista, totalizando 6 das 8 faixas originais deste discaço. Complementam o CD a versão de Tide para "The Girl From Ipanema", totalmente instrumental, que lembra bastante a versão de The Composer of Desafinado ... a espetacular interpretação de Elis para "Corcovado", e as inebriantes interpretações de Astrud Gilberto para "Insensatez" e "Vivo Sonhando", fechando 8 das 11 faixas originais daquele disco, assim como o Getz e Bonfá acompanhando os vocais de Maria Toledo em "Insensatez", e as performances no Carnegie Hall para  "Insensatez", com Tom ao piano e vocais e Pat Metheny arransando no violão, e "The Girl From Ipanema", esta última retirada do raro VHS lançado no mesmo nome, e que até então nunca havia sido lançada em CD ou LP somente com Tom no vocal e piano. 

Um pouco mais do livreto, agora destacando Elis Regina e Tom

A grande surpresa deste CD 3 é que ao acabar a décima sétima faixa, no caso a versão de "Vivo Sonhando" feita por Astrud Gilberto, temos alguns segundos de puro silêncio, para então, em uma faixa escondida, comerçamos a ouvir as vozes de Elis e Tom em estúdio, criando "Águas De Março" entre muitas risadas e conversas. A discussão de quem canta "é o pé, e o chão" é hilária, com Elis falando "nossa senhora, please ..." e Tom dizendo "não, eu tô errado, que sacanagem hein", seguindo por mais erros, risadas e Tom brincando com Elis dizendo "vamos prestar atenção nesta bosta!". São pouco mais de 4 minutos de uma audição até então inédita, demonstrando a parceria que surgiu entre estes dois gigantes, e que depois acabou sendo uma das grandes atrações do lançamento No Céu Da Vibração - Parte 2 (1974-1980) da Folha de São Paulo (2014).

No recheado livreto de 60 (!) páginas, fotos diversas e entrevistas com o próprio Antonio Carlos Jobim, Oscar Castro-Neves, Gene Lees e Creed Taylor, assim como a biografia de Tom por Sergio Cabral, track list comentado por Oscar Castro-Neves e Liner Notes por Gene Lees, relatando como conheceu Tom e foi o responsável por traduzir e adaptar diversas de suas canções para o inglês.  A entrevista de Oscar Castro-Neves, conduzida por Richard Seidel, foi feita em agosto de 1995, pouco antes do lançamento do álbum, assim como a de Creed Taylor, essa conduzida por Gene Lees. A primeira concentra no fato de como Oscar e Tom se conheceram, e como surgiu a amizade entre eles, realizando diversos projetos (Elis & Tom, o filme Gabriela, entre outros), com destaque para a criação da palavra bossa-nova por outro grande nome da música nacional, Newton Mendonça, na canção "Desafinado".  arte de The Man From Ipanema também é muito bela. Já na segunda, temos Creed trazendo o processo de gravação do ábum Getz/Gilberto e de sua vinda ao Brasil para gravar outros álbuns de Tom. Na parte dos textos, com certeza a atração maior vai para a entrevista de Tom conduzida por Gene Lees, feita em 1974, na qual o carioca faz uma ampla retrospectiva de sua vida e carreira. 

Outra imagem do livreto, destacando a super
Banda Nova que acompanhou Tom nos anos 80

A arte de The Man From Ipanema também é muito bela. Os 3 CDs vêm em um livreto encadernado, cada um em um "envelope" especial que remetem a natureza, sendo o CD 1 no envelope em formato de peixe, o CD 2 no formato de flor e o terceiro CD em formato de folha, bastante caprichado. Um álbum mais que especial, que celebra a grande obra de um grande artista, e que se você tiver a sorte de encontrar em algum Mercado Livre ou Shopee da vida, e esteja afim de conhecer quem foi Tom Jobim, pegue sem medo!

Contra-capa do CD

Track list

Vocals

1-01 Antonio Carlos Jobim– Passarim

1-02 Stan Getz / João Gilberto Featuring Antonio Carlos Jobim– Só Danço Samba (Jazz Samba)

1-03 Elis  & Tom – Águas De Março (Waters Of March)

1-04 Astrud Gilberto – Amor Em Paz (Once I Loved)

1-05 Antonio Carlos Jobim – Lamento

1-06 Antonio Carlos Jobim – Luiza

1-07 Elis & Tom – Chovendo Na Roseira ("Double Rainbow" And "Children's Games")

1-08 Antonio Carlos Jobim – Anos Dourados (Looks Like December)

1-09 Stan Getz / João Gilberto Featuring Antonio Carlos Jobim – O Grande Amor

1-10 Astrud Gilberto – Água De Beber

1-11 Elis & Tom – Modinha

1-12 Antonio Carlos Jobim – Borzeguim

1-13 Elis & Tom – Soneto Da Separação

1-14 Antonio Carlos Jobim – Gabriela (From The Film Gabriela)

1-15 Elis & Tom - Retrato Em Branco E Preto (Portrait In Black And White) ("Zingaro")

1-16 Astrud Gilberto – Dindi

1-17 Elis & Tom - Inútil Paisagem (Useless Landscape)

1-18 Astrud Gilberto – Photograph

1-19 Antonio Carlos Jobim – Chansong

1-20 Astrud Gilberto – Meditation

1-21 Elis & Tom - O Que Tinha De Ser

1-22 Astrud Gilberto – O Morro Não Tem Vez (Aka "Favela")

1-23 Elis Regina – Bonita


Instrumentals

2-01 Antonio Carlos Jobim – Wave

2-02 Antonio Carlos Jobim – Tide

2-03 Antonio Carlos Jobim – Amor Em Paz (Once I Loved)

2-04 Antonio Carlos Jobim – Chega De Saudade (No More Blues)

2-05 Antonio Carlos Jobim – Sue Ann

2-06 Antonio Carlos Jobim – Samba De Uma Nota Só (One Note Samba)

2-07 Antonio Carlos Jobim – Mojave

2-08 Antonio Carlos Jobim – O Morro Não Tem Vez (aka "Favela")

2-09 Antonio Carlos Jobim – Tema Jazz

2-10 Antonio Carlos Jobim – Meditation

2-11 Antonio Carlos Jobim – Triste

2-12 Antonio Carlos Jobim – Água De Beber

2-13 Antonio Carlos Jobim – Só Danço Samba (Jazz Samba)

2-14 Antonio Carlos Jobim – Captain Bacardi

2-15 Stan Getz / Luiz Bonfá – O Morro Não Tem Vez (aka "Favela")


Side By Side

3-01 Antonio Carlos Jobim – Desafinado (Off Key)

3-02 Stan Getz / João Gilberto Featuring Antonio Carlos Jobim – Desafinado

3-03 The Carnegie Hall Jazz Band – Desafinado

3-04 Antonio Carlos Jobim – The Girl From Ipanema

3-05 Stan Getz / João Gilberto Featuring Antonio Carlos Jobim – The Girl From Ipanema

3-06 Antonio Carlos Jobim – The Girl From Ipanema

3-07 The Carnegie Hall Jazz Band – The Girl From Ipanema

3-08 Antonio Carlos Jobim – Corcovado (Quiet Nights Of Quiet Stars)

3-09 Stan Getz / João Gilberto Featuring Antonio Carlos Jobim – Corcovado

3-10 Elis & Tom – Corcovado

3-11 Antonio Carlos Jobim – Insensatez (How Insensitive)

3-12 Astrud Gilberto – Insensatez

3-13 Stan Getz / Luiz Bonfá – Insensatez (Instrumental, 1963)

3-14 The Carnegie Hall Jazz Band – Insensatez

3-15 Antonio Carlos Jobim – Vivo Sonhando (Dreamer)

3-16 Stan Getz / João Gilberto Featuring Antonio Carlos Jobim – Vivo Sonhando

3-17Astrud Gilberto – Vivo Sonhando

Hidden Track

3-18 Elis & Tom – Águas De Março (Studio Outakes)

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

UFO - At The BBC "ON AIR" 1974 - 1985 [2013]

Há alguns anos, trouxe aqui resenhas sobre os boxes que a Chrysalis lançou no início da década passada, chamados The Chrysalis Years, cobrindo o período que o grupo britânico UFO esteve sob as alças da gravadora. A série de três caixinhas trouxe uma série de canções inéditas e/ou raras, como relato estes textos (box 1, box 2, box 3).

Estes boxes saíram entre 2011 e 2013, e ainda em 2013, a Chrysalis colocou mais uma caixinha no mercado. Batizada AT The BBC "ON AIR" 1974 - 1985, trata-se de um compilado de cinco CDs mais um DVD retomando o que algumas das principais participações do UFO em transmissões da famosa e tradicional rádio inglesa, entre os anos de 1974 e 1985, exatamente o período que a banda esteve na gravadora. Mas será que vale apena investir os seus suados tostões em mais uma caixa do UFO? É o que tento responder aqui. 

Começando pelo CD 1, o mesmo resgata duas apresentações da banda para a BBC, começando com o show no BBC In Concert at the Hippodrome, Golders Green, em Londres, no dia 8 de junho de 1974,  que foi ao ar no dia 15 de junho do mesmo ano. A formação aqui é Phil Mogg (vocais), Pete Way (baixo), Andy Parker (bateria) e o novato Michael Schenker (guitarras), sendo esta uma das primeiras apresentações do alemão junto a banda. O show ocorreu pouco depois do lançamento de Phenomenon, terceiro disco de estúdio do grupo, e que é responsável por ceder cinco de suas oito canções para o show (a saber "Oh My", "Built For Comfort", "Space Child", "Rock Bottom" e "Doctor Doctor"). São versões fieis as gravações de estúdio, mas com destaque para uma "Rock Bottom" ainda sem tantos improvisos, onde é perceptível que Schenker ainda estava totalmente tímido no palco. Ao mesmo tempo, "Built For Comfot", "Rock Bottom" e "Doctor Doctor" já são velhas conhecidas dos fãs do UFO, pois foram lançadas no álbum BBC Radio 1 Live In Concert (1992), e "Built For Comfort" e "Doctor Doctor" reapareceram, junto de "Oh My" e "Space Child", no álbum  BBC The Archive Series - In Session And Live In Concert (1999). Portanto, nada de novo aqui.

O segundo show é a participação no BBC Radio Bob Harris Session at BBC Maida Vale Studio 4 em 2 de outubro de 1974, transmitido no dia 18 do mesmo mês, e com a mesma formação do show anterior. São apenas três canções dessa feita, "Rock Bottom", "Time On My Hands" e a rara "Give Her The Gun", faixa que saiu apenas como compacto (tendo "Sweet Little Thing" no lado B), e que por si só é um pequeno achado ouvir ela ao vivo. Destaco novamente a ótima versão de "Rock Bottom", já com mais improvisos, e com um final meio abrupto. Mas, as três faixas já estão presentes no já citado  BBC The Archive Series - In Session And Live In Concert e também no box The Chrysalis Years (1973-1979) (2011). Outro ponto negativo é que o CD possui apenas 40 minutos. Dava para a Chrysalis ter caprichado e lançado mais algumas canções aqui.

O segundo CD leva para mais duas apresentações do UFO, começando pelo show no BBC In Concert at Paris Theatre, Londres, no dia 11 de dezembro de 1975, e transmitido no dia 24 de jneiro de 1976. A novidade na formação está na presença de Danny Peyronel aos teclados e vocais, e é inegável que o argentino dá uma nova cara ao grupo, principalmente pela marcante presença do piano elétrico. São seis faixas, "Let It Roll", "Doctor Doctor", "Mother Mary", "Out in the Street", "Shoot Shoot" e "Rock Bottom", todas elas revitalizadas pela presença de Peyronel, e com quatro delas já apresentadas em  BBC The Archive Series - In Session And Live In Concert ("Let It Roll", "Mother Mary" "Out in the Street" e "Shoot Shoot")

O segundo show  é a participação no BBC John Peel Session at BBC Maida Vale Studio 4, registrado em 1 de junho de 1977 e transmitido no dia 17 do mesmo mês. As três canções também estão presentes no CD  BBC The Archive Series - In Session And Live In Concert e no box The Chrysalis Years (1973-1979), ou seja, mais nenhuma novidade para os fãs. E, assim como o CD 1, o CD 2 peca por ter somente pouco mais de 40 minutos, e é a conclusão da fase Schenker nesta compilação, já que a partir de então, teremos a fase Paul Chapman em destaque. 

O guitarrista que teve a (difícil) missão de substituir o alemão está presente nos CDs 3, 4 e 5. O CD 3 resgata o show completo do grupo na BBC In Concert at Hammersmith Odeon, em 4 de fevereiro de 1980, tendo além de Mogg, Way, Parker e Chapamn, a presença de Paul Raymond (teclados, guitarras, vocais). São 70 minutos de apresentação, destacando as canções do então recente disco do grupo, No Place To Run, as quais são uma rara oportunidade de serem conferidas ao vivo (a saber "Lettin' Go", "Young Blood", "No Place To Run" e "Mystery Train"). Porém, oito das doze canções do CD já haviam aparecido anteriormente no acima citado BBC Radio 1 Live In Concert, e todas elas estão nos CDs 1 e 2 do box The Chrysalis Years (1980-1986). Portanto, até aqui, são três CDs com canções que já apareceram em outros lançamentos do grupo. 

O disco 4 leva o grupo para a turnê de Mechanix, com o show no BBC In Concert at Hammersmith Odeon em 28 de janeiro de 1982, tendo uma hora de apresentação, e trazendo na formação Mogg, Way, Parker, Chapman e a novidade Neil Carter (teclados, guitarras, saxofone). O repertório traz como novidades faixas como "Doing It All For You", "Long Gone", "The Wild, The Willing And The Innocent", "We Belong To The Night Tonight" e o mega-sucesso "Let It Rain", todas representando o UFO pós-Schenker (dos lançamentos The Wild, The Willing and The Innocent e Mechanix), mas para um conhecedor dos lançamentos dos caras, este é o mesmo show lançado em Regenerator  - Live 1982 (2001), fechando portanto quatro CDs sem nada inédito, apesar de que os CDs citados não são tão fáceis de se encontrarem.

Encerra o box em termos de CDs o show até então inédito da banda no Knebworth Fayre, no dia 22, de junho de 1985, e que é o diferencial em At the BBC "On AIR" 1974-1985. A banda havia se reformulado totalmente, tendo agora Mogg, Raymond, Paul Gray (baixo), Jim Simpson (bateria) e Atomik Tommy 'M' nas guitarras. As faixas são "Blinded By A Lie" (do contestado Making Contact), "Heavens Gate", "Wreckless" (ambas de Misdemeanor), "Love To Love", "Night Run", "Only You Can Rock Me", "Lights Out" e "Doctor Doctor". A qualidade de gravação é ótima, e chamo a atenção para a excelente performance de Tommy 'M'. Conhecido como um dos grandes "fritadores" de guitarra nos anos 80, o que é bem representado nos solos de "Blinded By A Lie" e "Heaven's Gate" - essa com uma pequena citação a "Shoot Shoot" -, onde ele abusa de notas velozes e muita alavancada, por outro lado ele respeita e muito os solos e riffs originais, seja em "Only You Can Rock Me", "Lights Out" e em especial na espetacular versão de "Love To Love", que apesar de Tommy dar sua cara ao solo, mantém aquele feeling que o fã do UFO tanto curte. Em tempo, a introdução da linda "Wreckless" feita por ele é digna de nota! Outro destaque positivo vai para o solo de sintetizadores que Raymond apresenta no início de "Doctor Doctor", encerrando este belo show, que tem total de pouco mais de 50 minutos, com um longo improviso e interação com a plateia apresentando os membros da banda que leva a faixa beirar os 9 minutos.

Fecha o box um DVD com três apresentações do grupo na BBC. A primeira tem o UFO no programa Old Grey Whistle Test, transmitida em 16 de janeiro de 1972. Na segunda parte, a banda aparece três vezes no Top of the Pops, com "Doctor Doctor" (1 de fevereiro de 1979); "Young Blood" (10 de janeiro de 1980), e já com Carter, "Lonely Heart" (15 de janeiro de 1980), sendo esta um playback na cara dura. Por fim, é a vez do grupo se apresentar no Oxford Road Show de 29 de janeiro de1982, com mais três faixas: "We Belong to the Night", "Let It Rain" e "Too Hot To Handle". Das 8 canções, apenas "Doctor Doctor" já havia sido lançada anteriormente, no DVD The Broadcast Archives (2005).

Cada mídia vem em um envelope especial, e ambas estão armazenadas em um Cardboard box comum a outros lançamentos da Chrysalis. Acompanha ainda um encarte de 16 páginas, tendo uma entrevista com Mogg e Raymond comentando sobre cada uma das apresentações do box e informações gerais do mesmo. Se você não é um colecionador do UFO, a caixa é totalmente desnecessária, até por que dificilmente um fã da banda aprecia a fase Tommy M. Por outro lado, se você é daqueles que deseja ter toda a obra do grupo, e tem curiosidade de conhecer como o UFO se apresentava ao vivo com o guitarrista, invista então seus trocados para garantir 50 minutos de novidades em sua prateleira. 

Disc One: In Concert 1974

CD1-1 Oh My 3:45

CD1-2 Built For Comfort 3:53

CD1-3 Space Child 4:04

CD1-4 Rock Bottom 8:52

CD1-5 Doctor Doctor 4:25

Bob Harris Session 1974

CD1-6 Rock Bottom 7:09

CD1-7 Time On My Hands 3:14

CD1-8 Give Her The Gun 4:11


Disc Two: In Concert 1975

CD2-1 Let It Roll 4:58

CD2-2 Doctor Doctor 4:42

CD2-3 Mother Mary 4:04

CD2-4 Out In The Street 5:12

CD2-5 Shoot Shoot 3:48

CD2-6 Rock Bottom 7:07

John Peel Session 1977

CD2-7 Too Hot To Handle 3:51

CD2-8 Lights Out 4:57

CD2-9 Try Me 4:47


Disc Three: In Concert 1980

CD3-1 Lettin' Go 3:46

CD3-2 Young Blood 4:43

CD3-3 No Place To Run 4:45

CD3-4 Out In The Street 4:58

CD3-5 Cherry 4:10

CD3-6 Only You Can Rock Me 4:19

CD3-7 Love To Love 8:19

CD3-8 Mystery Train 5:44

CD3-9 Doctor Doctor 5:47

CD3-10 Too Hot To Handle 4:59

CD3-11 Lights Out 6:20

CD3-12 Rock Bottom 12:43


Disc Four: In Concert 1982

CD4-1 We Belong To The Night 4:20

CD4-2 Let It Rain 3:00

CD4-3 Long Gone 4:53

CD4-4 The Wild, The Willing And The Innocent 4:55

CD4-5 Only You Can Rock Me 4:21

CD4-6 No Place To Run 5:15

CD4-7 Love To Love 8:18

CD4-8 Doing It All For You 3:58

CD4-9 Makin' Moves 4:48

CD4-10 Too Hot To Handle 6:17

CD4-11 Mystery Train 8:38


Disc Five: Live At Knebworth 22nd June 1985 (Previously Unreleased On CD, First Broadcast On The Friday Rock Show)

CD5-1 Blinded By A Lie 4:33

CD5-2 Heavens Gate 5:11

CD5-3 Wreckless 6:27

CD5-4 Love To Love 7:39

CD5-5 Night Run 5:41

CD5-6 Only You Can Rock Me 6:48

CD5-7 Lights Out 6:05

CD5-8 Doctor Doctor 8:42


Disc Six: BBC TV DVD

Old Grey Whistle Test 1979

DVD-1 Doctor Doctor

DVD-2 Cherry (Previously Unreleased)

Top Of The Pops 1979 - 1981

DVD-3 Doctor Doctor (Previously Unreleased)

DVD-4 Young Blood (Previously Unreleased)

DVD-5 Lonely Heart (Previously Unreleased)

Oxford Road Show 1982

DVD-6 We Belong To The Night (Previously Unreleased)

DVD-7 Let It Rain (Previously Unreleased)

DVD-8 Too Hot To Handle (Previously Unreleased)



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...