Parte 1: Dependência
As relações humanas nos tornam seres
complexos, e se formos mais à fundo e estudarmos as convenções sociais
familiares chegaremos a conclusão que somos todos loucos. Muitas vezes me deparo em
meio a várias teorias para entender o porquê fulano é assim e ciclano é
“assado”.
É fato que somos fruto da criação/educação
que tivemos e das escolhas que tomamos no decorrer da vida. Todos os dias temos
que decidir entre manter o mesmo caminho ou mudar a direção. Algumas
vezes nossas escolhas cruzam com outras pessoas, outras vezes impactam apenas
em nossas próprias vidas. Mas voltando ao assunto inicial, muitas das nossas
decisões impactam na vida familiar.
Agora que estou grávida talvez comece a
entender um pouco mais a fundo a respeito de laços e vínculos. A primeira
pergunta a ser respondida é... por que ter filhos? No meu caso, tudo foi
planejado e tem seguido o curso “natural”
da vida... estudei, consegui emprego, encontrei alguém para dividir minha vida,
compramos nossa casa, casamos, e agora vamos colocar no mundo alguém para dar seguimento às nossas
conquistas... vamos dar vida a alguém que marcará nossa passagem por este mundo...
Seria essa a resposta, então?! Talvez essa seja a solução momentânea que posso
dar, afinal, tenho um longo caminho a percorrer e a única certeza é a de que
minhas visões de mundo podem mudar de uma hora para outra através das
experiências vividas.
Deve ser muito difícil para uma mãe/pai não
contaminar os filhos com suas frustrações e experiências ruins. Alguns temem
que sua cria torne a repetir seus erros, outros querem se realizar através dos
filhos, e há ainda os que querem controlar e tê-los apenas para si para suprir
suas carências.
Essa relação de dependência entre pais e
filhos deve ser avaliada com calma. Principalmente quando os papéis se
invertem. A princípio os filhos precisam dos pais para absolutamente tudo,
desde suas necessidades físicas e fisiológicas até a orientação e o
investimento financeiro. Ao decorrer do tempo, a situação se inverte devido às
limitações no período de envelhecimento... a saúde passa não ser mais a
mesma... o tempo parece passar mais depressa... o idoso fica cada vez mais
lento, e o mundo, que está em constante transformação, não espera por
ninguém...
Vou fazer uma analogia para ver se fica mais
fácil a compreensão do que quero transmitir... Pense: Passarinho que viveu numa gaiola
e foi solto para desbravar os céus... vai ser feliz se tiver que voltar viver
preso na mesma gaiola?
Vamos expandir esta idéia...
Nascemos dentro de uma gaiola e lá
permanecemos até iniciarmos a fase adulta. Neste meio tempo aprendemos o certo
e o errado e somos impulsionados a ir em busca do céu. Começamos a tomar decisões
e buscamos aprender com experiências externas. Descobrimos o mundo... e sentimos
necessidade de ter a própria gaiola... mas essa não será exatamente igual a
antiga, será feita de acordo com nossos princípios, regras e experiências.
Levando em consideração este ciclo, para os
que precisam entrar em uma gaiola construída por outro pássaro, é necessário
voltar a ser passarinho e a desistir de sua antiga gaiola (se ela existir). É preciso desistir
do comando e deixar-se levar pela experiência de dependência da mesma forma que
aconteceu no início da vida. Se
você depende do outro e vai mudar-se para a gaiola dele, não pode querer levar
consigo sua própria gaiola dentro da bagagem. Não há espaço para duas gaiolas
num mesmo ambiente, exceto se elas forem colocadas lado a lado.
Somos todos dependentes dentro do círculo
social familiar. Precisamos apenas saber discernir entre o momento de liderar e
o momento de ser liderado. É muito mais fácil deixar-se orientar na fase jovem
do que na fase idosa. Talvez pedir a alguém que já viveu tanto tempo para começar
do zero seja algo extremamente complicado... mas talvez seja esse o sentido da
vida... não ter medo de recomeçar com as condições que possui... nada nesta vida
é permanente.
Reminiscências do passado só têm valor
sentimental. A vida continua e não vai parar porque você adquiriu limitações
físicas. É preciso aprender a conviver com isso. É como muitos deficientes
físicos de sucesso pensam. É necessário encontrar uma forma de ser feliz dentro das próprias
condições e compreender que a ajuda que vem do “outro” nem sempre virá da forma que desejamos. Apenas
para esclarecer meu ponto de vista, um pai/mãe nunca deve abandonar o filho, e
vice-versa. A
relação deve ser estreita entre ambas as partes e acordadas de forma que todos
possam se beneficiar com uma boa convivência.
Converso muito com meu marido e aprendemos
que a convivência de adultos debaixo do mesmo teto só é possível se todos:
... tiverem a mesma visão de mundo
... puderem respeitar o espaço “do outro”
... estiverem dispostos a
ouvir “o outro”
... reconhecerem seus próprios erros.