A imagem dos representantes das grandes corporações americanas logo atrás de D. Trump na sua tomada de posse ficará para a história. Não necessariamente pela proximidade do mundo dos negócios à política e ao poder, alguém sempre pagou os milhões das campanhas eleitorais, mas sim pela visibilidade dos mesmos. O segredo é muitas vezes a alma do negócio e as influências desenvolvidas nos bastidores são frequentemente mais eficazes.
Também a linguagem arrogante e grosseira de Trump não será
certamente uma estreia absoluta. As famosas gravações da Casa Branca,
divulgadas durante o processo Watergate, mostraram um presidente Nixon bastante
menos elegante verbalmente do que se imaginaria. A diferença aqui é, mais uma
vez, o assumir publicamente essa postura.
Defender interesses nacionais com medidas protecionistas,
mais ou menos camufladas, quando tal é considerado útil, também não é uma
novidade absoluta, mas a diferença aqui não se fica apenas pelo estilo, é a
dimensão e a imprevisibilidade.
Taxas aduaneiras altas são sinónimo de países que não
conseguem ter uma economia competitiva em terreno aberto e quem as paga é quem
importa. Os EUA pertencem agora a esse clube? Depois, e nomeadamente para bens
industriais, que parecem ser o foco principal de Trump, não se ganha dimensão e
competitividade de um dia para o outro. É necessário investimento e
desenvolvimento de conhecimento, coisas que nunca avançam com regras a mudarem todos
os dias. Donald Trump está a comportar-se como um caprichoso e arrogante
dirigente de um país que falha e não encontra o bom remédio dentro de portas,
como lhe compete.
Para a dimensão do país, a aplicação destas medidas
provocaria um impacto dramático na economia mundial… e na própria. Na prática
nem sabemos se irá acontecer mesmo assim, ou se é apenas bluff e tática
negocial. De todas as formas jogar ao poker nesta escala, isso sim, é inédito.