quinta-feira, 10 de abril de 2025

firmeza de seguir...



olho os oiros velhos
no horizonte
é hora de magia
cantam as águas na fonte
aguardo a chegada da noite
e assim me despeço de mais um dia

estamos sempre a começar
passeio os olhos pela vastidão
abro asas e, como gaivota
aceito o destino e continuo
a voar
ou serei gaivota sem destino
demasiado velha para voar
vou ficar vou partir?
se a vida se impõe
o destino é para cumprir

destinei caminhos a percorrer
o que me vai na alma, quem
quer saber?

quando o sol começa a descer
um frio silêncio me aguarda
e a saudade não tarda

natalia nuno


cativa das memórias...

tão perto a noite agressora
um gume frio despoja-me 
do sono
mesquinho deixa-me ao abandono
surgem sombras pavorosas,
obscuras horas
rostos com aversão
nem alento me traz a recordação

penso que a vida 
também foi de verdade
quando o coração parecia um deus
hoje, ainda me dá saudade!

saudade do que já não volta
saudade do que deixou nostálgico
sabor,
repasso de novo a lembrança
do amor

amanhã é sempre perto
para quem o caminho feito
e sempre longe para quem anda
de sonhos coberto

sento-me nos degraus da fantasia
a debruar sonhos
trago um cofre de lembranças
no peito,
olho a luz de dias risonhos,
existo num lugar sem tempo
onde me desconheço

dentro do sonho caminharei
até que se faça de madrugada
ou me seja a memória apagada

natalia nuno



melancolia...



cobre-se a noite de veludo
no meu peito a melancolia
as estrelas alumiando tudo
e eu à espera dum novo dia

já a luz entra pela janela
logo o vento dobra a cortina
a madrugada vem tão bela
quisera ser, sempre menina

esta luz nos olhos me cega
custa-me encarar a realidade
e logo a vida que me pega
sou só, levo comigo saudade

cá dentro da memória vai
e vem um sonho vadio,
o peso do tempo se esvai
o coração é espaço vazio.

o dia sempre amanhece
e me enebria de prazer
na noite saudade acontece
mais o q' tem de acontecer.

natalia nuno

terça-feira, 8 de abril de 2025

inquietude...



são cinzentas as certezas
dos dias iguais
a mente se distancia
ao que não retorna mais

no calor dos sonhos
surge a fantasia
mas no rosto indolente
o tédio pendura-se dia a dia

tudo é irreal e incerto
na noite eterna e muda
nos relógios d'outras horas
ficou o passado
e a saudade em mim que não
desgruda

Cai névoa no olhar
lembro pegadas distantes
ouço o pesar
do coração a todos os instantes
vencido e resignado

regresso ao fundo da memória
invento-me como outrora
velha fogueira que reacende
fogo, do fogo
que ninguém entende.

natalia nuno

sexta-feira, 4 de abril de 2025

remota lembrança...



pairam as abelhas no rosmaninho
mas a casa está desabitada
as flores já não habitam o caminho
tudo é efémero, não resta nada

tudo perdeu força e intensidade
resta a saudade...

paira o cheiro a alfazema
e um vaivém de pássaros chilreia
e eu fazia um poema
enquanto a avó fazia meia

amanhã passa a procissão
vou engomar o saiote com ferro
- de carvão!

levantei cedo minha asa
e ao voltar não sei como calar
a falta que me fazem os de casa
que partiram para não mais voltar

já o pai não faz o baloiço
naquela árvore velha e adormecida
mas o assobio ainda ouço
como se a vida ainda fosse vida

os dias arrastavam-se sonolentos
nas noites chegavam as fragrâncias
estonteantes
e no firmamento estrelas prateadas
distantes.

enquanto a a luz da candeia tremia
- e se ouvia o relógio da igreja dar horas
o sonho alimentava a imaginação
das crianças, ao serão!

hoje tudo não passa de lembrança
que teimosa, não me deixa esquecer
ficou tanta coisa por dizer
dessa criança.

natalia nuno


quarta-feira, 2 de abril de 2025

caí exausta...



da tua ausência
continua uma ferida aberta
contra meu peito se aperta,
sinto na pele, cada vez mais fundo
solidão e carência.

quando surge a noite deserta
ressoam memórias de felicidade
e a saudade traz linguagem de flores
leva aos meus olhos o fogo
da ternura

um ar frio, esvoaça pelo quarto
porque razão te perdi
quando estou tão junto a ti!?
tua mão, é trémula amendoeira
alagada pela chuva extraviada
enquanto tudo dorme,
mais uma lágrima derramada.

quantos anos levei numa insólita
espera
quantas sombras cresciam
na minha mágoa
meu corpo adormecido
só de lembrar desespera,
e no olhar lê-se ainda a mágoa.

caí exausta
o dia de hoje em si mesmo
se desdobra
as sombras surgem de longe e de perto
tenho palavras de sobra
nas quais um melro sempre canta
no meu coração feito deserto.

natalia nuno
imagem pinterest


abrindo as palavras...




já se esfumam as recordações
memórias em esquecimento
já se diluem emoções
só a esperança traz algum alento

mistério a vida atravessa
hoje, amanhã uma árdua dança
mas sempre ao olhar regressa
a luz cintilante d' olhar de criança

passamos a vida à procura
dum bem que nunca se alcança
mas sempre um sopro de ternura
fica girando na lembrança


curto ou longo seja o caminho 
a esperança nunca se nega
até ser tempo que não adivinho
- de à terra,
 o corpo fazer entrega.

passam as páginas da vida
por elas passam meus dedos
ao presente minha mão estendida
que firme despede-se sem medos.

natalia nuno





sexta-feira, 28 de março de 2025

o pulsar do tempo...

como não inventar sonhos
se o sol desceu à terra e trouxe
harmonia,
e a linguagem das flores
espalhando alegria?

o olhar perde-se na vastidão
enquanto o sol entra pela cortina
ilumina a terra e meu coração

afasto o rumor da memória
borboletas felizes levam-me as palavras
as fragrâncias no ar dão sinais
que abandono os ais
recolhidos no coração

quanto tempo de vida daria
para evitar todas as marés
de melancolia

ficam memórias em páginas
não escritas
enquanto o rio corre e deixa lamentos
em palavras aflitas,

confidências de pensamentos
de quem lavra uns versos, 
e sonha a cada linha

e chora por dentro enquanto caminha.


natalia nuno





terça-feira, 25 de março de 2025

o céu que avisto da minha janela...



Estende-se a noite dentro dos meus olhos, desencadeia-se um mar de saudade lembrando sonhos remotos, há nevoeiros caídos no coração e chove nele com obstinação, impedindo o sol que brilhava.  A noite deixou de ser constelada, fico desmemoriada e inquieta até que o tempo se encha de ar, cheirando a alecrim, da terra de onde vim, distante, mas ainda lhe ouço os trinados dos pássaros, o coaxar das rãs, e a voz do vento entrando pela chaminé, apagando a candeia. Tudo recordo na quietude da noite com uma lágrima que se detém no rosto, enquanto as sombras das ramagens se unem aos meus pensamentos.

natalia nuno

domingo, 23 de março de 2025

o poeta e sua loucura...



a memória dos dias é quase nada
quando damos conta
já a vida vai a uma ponta
e os olhos não querem ver
até tudo se converter
em silêncio e solidão

quando já é pouca a razão
para viver, rompe a noite
e num gesto de adeus
lá se despede mais um dia
sombras atravessam o ar
e o poeta refugia-se na poesia

como criança perdida
corre-lhe a angústia pelo olhar
e na noite dos tempos
abandona-se do mundo,
surda e muda, esquecida

ouve as lufadas do vento
e a chuva silvando nos vidros
seu céu é um mar cinzento
abre o peito, já nem sabe como caminha
e nem sequer adivinha
como fazer, para sobreviver

degrau a degrau
vai enfrentando a realidade
o frio da vida e o espelho
e a sua delirante saudade

natalia nuno

sexta-feira, 21 de março de 2025

o céu que avisto da minha janela...

 

Cresce a incerteza e um apertado medo, como um mar tenebroso que às vezes surge na mente, os dias tornam-se rotineiros, inventa-se um sorriso e de novo a paixão pela vida, ou uma cinzenta indiferença e, um caminho parecendo-se com aquele que já nada possui, na lembrança a juventude, onde sentimos a nossa ausência e esquecemos as cartas d'amor, e do quanto amámos, depois chegam as lentas horas em que o olhar ensombra em cada tarde sem luz. Nascem os dias sem horizontes, corre o vento e nada lhe corta a voz, o alento, vem do desejo de que os dias de sol nos incendeiem a vida.

natalia nuno

quinta-feira, 20 de março de 2025

o céu visto da minha janela..



O vento cansado, envelhecido e perturbado, cruzou a noite perdido até de madrugada, tão perdido como eu, que te procuro por lugares estranhos onde nunca estive, o coração sonha e bate agudíssimo e o sonho se desfaz na luz caída da tarde. Palavras ao acaso, e esta paixão a única verdade que me sustém, às vezes estendem-se as lembranças por toda a memória, como uma maldição, outras vezes solitárias não me deixam ficar só e sorrio porque me é grato recordar. Longe dos sonhos, sinto o pulsar do tempo, e o corpo derrubado pelo peso constante dos dias extintos, uma sombra de nostalgia fica entre nós, mas com a mesma veemência continuamos a querer-nos.

natalia nuno

prosas escritas faz tempo, que agora fazem
parte deste meu espaço poético.

terça-feira, 18 de março de 2025

o céu visto da minha janela...



Todo o dia o Sol se despede da minha janela para uma longa viagem deixa rastos de saudade, como se fossem velas acesas quando me disponho a pôr a mesa, e assim se repete quase todos os dias do ano, sempre preciso e contido este nosso encontro. Regressam do fundo da memória, outros pôr do Sol, e a desesperança penetra solitária em mim, com vontade de durar. Fico pespontando sonhos e a esperança veste-se de menina, e traz com ela um aroma familiar que ainda me sustenta com seu calor. E todos os momentos absurdos caem em meu esquecimento.


natalia nuno

o céu visto da minha janela...



Que difíceis se tornam as palavras, nos dias difíceis, sobre o amargor dos dias tristíssimos gastos nas obscuras horas olhando o cinzento do horizonte, que apenas nos deixa um sabor nostálgico e um sorriso vencido. De repente olhas-te na superfície dum espelho furtivamente, e apenas vês um sono que te vence, o ar cansado dos velhos, e o lamento que te invade no silêncio, nele, ficas na dúvida se quem te amou ainda te ama, ou se apenas o amor é recordação desse tempo em que tudo fluía e a esperança se cumpria.


natalia nuno

o sol que avisto da minha janela...



Hoje o sol que mal avisto, olha-me com seu olho negro por detrás das nuvens, deixando-me a sensação que me abandona de vez. Golpeada por uma luz cinzenta, a vida é cada vez mais depressa lavareda sufocante que me queima os sentidos, até que tudo se distancia na memória. Desvanecidas as lembranças fico ouvindo o vento, e contemplo a chuva que corrompe a esperança e o frio nebuloso traz-me o tremor como se fosse a última folha caída da tarde, e impede a alquimia da minha mente, de voltar às lembranças.

natalia nuno

quarta-feira, 12 de março de 2025

avançando às cegas...


regressam de longe as aves
deixam mundo atrás de si
também meu corpo em viagem
leva saudade de ti

desperta um vento adormecido
faz tempo, em meu peito retido

pensamentos em turbilhão
já não suporto o vazio das horas
nem o frio da solidão
já nem sei como caminho, com
tempestades apontadas ao coração

já não entendo o voo dos pássaros
nem o riso das águas a marulhar
e nem os olhos já sabem
- o porquê de chorar!

tão perdida
há uma sombra que me prende
e aqui fico nesta prisão
abre-se o chão,
chuva torrencial cai

as mãos inertes 
e na garganta nem um ai.

vou avançando às cegas
na penumbra do nada
que é mestra na ruína,
é esta sina, algo turvo
que m ferve na memória.

natalia nuno 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

o rumor das palavras...



nos traços do meu caminho
a névoa permanece,
cada vez com mais intensidade
reviver o vivido dói

cresce pela manhã a saudade
e pela última luz da tarde tocada
já o sol se foi!

sei que a vida é fugaz pressentimento
da morte, do lamento, e do nada

há sentimentos intemporais
mas o tempo corrompe a esperança
sigo errante, chora demais
em mim a criança.

sinto bater o frio
enquanto semeio palavras
e a noite avança!

meu corpo envelhecido
esquece os golpes do cansaço
não quer quebrar, decidido!
compreende quanta luta inútil
quanto passo,
quanta aceitação,
felizmente ainda me devolve
o sonho, a quebrar a solidão.

natalia nuno
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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

o amor que me coube...





como a fome que tenho de viver
igual a tanto d' amor que me coube
é com a mesma que procuro saber
se foi bastante, e a tanto me soube
 
deixo resvalar o  meu pensamento
seja como um mar que nunca acaba
um mar calmo, ou um mar violento
ou sede cinzenta q' em mim desaba

vou caindo no charco da solidão
trago a dor que não pude escolher
dor vai e volta, e não esquece não
é pedra alojada no coração a doer

a vida adormece mas ainda aguarda
procura ainda o sol com intensidade
que o amor adormece  não tarda
tão perto, quanto longe, vira saudade.

natalia nuno

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

o inverno é novidade...



parti para longe de mim,
naquele instante, que me dói
lembrar
meu sonho ficou mudo
foi o fim de tudo!
vil inverno, inimigo a chegar

quando o destino nos tortura
quando o ocaso nos abandona
quando as noites já não trazem doçura
a loucura, é dor dum grande vazio
solidão onde cresce o frio

parti para longe de mim
quando a vida me agrediu
agora na solidão me vejo assim
e olho-me,
como alguém que nunca se viu

varro minhas folhas secas
deste outono que de mim se despede
o inverno é novidade
deixo soltar a saudade
da vida, que foi ensaio breve

esqueço os sonhos que almejei
nada me devolve a imagem perdida
sou uma sombra
em busca de mim mesmo
assim é, o vazio entediante da vida.

natalia nuno
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domingo, 9 de fevereiro de 2025

sombra duma sombra...

 



de costas viradas aos sonhos
relembro instantes amargos
e esqueço os dias risonhos

remendo meus olhos tristes
rio, choro meu olhar torvo
e nem comigo estou de acordo

vou caindo, sempre caindo
como uma pedra no charco
assim vou levando meu barco

despertam sombras no espelho
desgastando-me a cada olhar
olho-as até, a dignidade me deixar

quando a dor persistente me traz
que a memória dos dias é nada
na garganta do tempo sinto-me parada

não me chegam já as palavras
com que me possa refugiar no poema
voltarei noutra vida com outro tema

sou forte como as raízes do vento
caminho com a morte à espreita
não sei quanto tempo!? mas aguento!

natália nuno




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

mais espinhos que rosas...





nesta viagem sem retorno
águas passaram, muitas águas
mas a sede aguentei!
e eis que dei,
pelas aves redobrando
o canto, como música aos ouvidos

em meus sentidos
mais espinhos do que rosas
trago caídas as folhas ao chão
e em versos palavras mimosas,
trago entusiasmo, também hesitação

acolho-me à sombra do que há-de vir
um dia partirei
- e nada levarei!

somente o que trouxe
meu corpo um rio despido
entregue á terra mãe
tão pouco importa esse pouco
que tenha trazido,
partirei, despojada 
de quanto amor dei, também.


natalia nuno







sábado, 1 de fevereiro de 2025

sonho...




a noite se afoga
na cidade adormecida
noite de névoa foscamente abatida

traz mensagem 
dum dia de chuva cinzento
com as folhagens cheias de tremores
transparentes e o lamento
das fontes cantando
redobrando seu canto turbulento

no ar um aroma a terra
lenta e só, a lua se despedia,
descendo no silêncio estrelado
agitava-se -me o coração de ânsia

o silêncio entrou em mim
como se nunca, nunca terminasse
julgou-se o dono do meu mundo
até à eternidade
como se nesta embriaguez me ficasse,
morrendo lentamente de saudade

frágil e indefesa minha asa
recorda-me a vida que encontrei
leva-me a caminho de casa
mas sei, 
que existe medo e nostalgia
que será caminho para o abandono
já não sei se é noite se é dia!
ou sonho de que fui acordada
e me empurra e extingue no nada

natalia nuno


quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

o pranto e o sorriso...

as minhas memórias aos pedaços
entra o vento pela porta antiga
morrem as rosas lá fora
eu, e os meus cansaços
e a nostalgia que em mim mora
a dizer-se e a não ser
- minha amiga!

um jogo estéril
a vida a tolher-me
escrevo poemas sem sabor
algumas lágrimas a querer
que a luta me cause dor,

palavras que são embargo
o sorriso amargo
no olhar pálida a luminosidade
na boca um travo
de saudade

tantas vezes a tristeza presente
momentos angustiantes
sensação de que nada se sente
outras tantas o sorriso
o prazer desses eternos
instantes

quando invocam a esperança 
e o sol dança na nossa mão
parecendo incendiar-nos a vida
e o coração.

natalia nuno 

sábado, 25 de janeiro de 2025

grito entre trevas...



nem na noite mais escura
o sol deixa de brilhar
o que me faz querer viver?
chegou à mente o inverno
de repente, 
sinto-me insegura
invocada por estranho poder

fico sem consolo ou protecção
tudo parece cair ao chão
aonde ir, aonde ir?
talvez a razão desta saudade
sejam as palavras a ruir 
tiram-me o sonho
levam-me à realidade

palavras tão só o que são
sombras e solidão
trago os olhos no esquecimento
e sequer sabem porque choram
é confusão o que contemplam
que já tudo ignoram...

natalia nuno 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

o frio da vida...



por estreitos caminhos
espreito os céus
sem nenhuma certeza, 
apenas um sentimento vazio
e na alma um cinzento frio

soltam-se dos meus dedos
as vogais
e na garganta ficam-se os ais

teço a vida
com um punhado de nadas
gasto o tempo a pensar
no que fiz
os sonhos, são águas paradas
lento desagregar
dum fogo feliz

preciso de florear caminhos
já que a morte neles espreita
minhas mãos são aves
sem ninhos
já nada semeiam estão desertas

uiva a insistência do esquecimento
mas não cala a dor
- do pensamento.

natalia nuno







terça-feira, 14 de janeiro de 2025

imensa a noite...

olho as migalhas de pão
na mesa
olho as paredes desenhadas
de humidade
livros com gretas nas lombadas
o relógio pendurado 
não trabalha
parou à hora da tristeza,
não tenho mais memórias
Deus me valha!

no corredor uma jarra
deitada ao chão,
imensa a noite
os olhos secos de tanta
solidão

apagou-se o lume na lareira
dissolve-se minha última esperança
tento adormecer as chagas
da lembrança

perco a minha mão direita
já não me importo com as sombras
estou sem palavras,
as teias rodeiam-me a cabeça
não sei que fazer antes
que enlouqueça

ouço o murmúrio da humanidade
que me desfaz o coração,
olho as fotos dos que partiram
- para sempre,
e me deixaram saudade

recordo ainda que seja
o resto de mim,
não posso esquecer-me
nem ninguém pode deter-me
vou sobreviver até ao fim

natalia nuno




sábado, 11 de janeiro de 2025

a minha força...



só em ti força minha
me liberto da amargura, 
ninguém mais adivinha
como nos meus dias
é sempre noite escura.

que se instala com raízes
e abalroa meu amanhecer
apoquenta meu sentir
até quase enlouquecer!

rodeia-me o mundo desolado
penosos são os sonhos
resta um... e anda extraviado!

na memória vozes de mar
pesadelos, donde não posso escapar.

horas vacilantes
onde a dor cresce densa
querendo tirar-me a força
a todos os instantes,
grudando com insistência.

fico só com meu destino
por entre a noite e a insónia
as sombras são uma ameaça,
o pensamento um peregrino
até ao último alento!?
dia a dia a morte me abraça

determinada e livre,
caminho passo a passo
enquanto o coração vive
ou chegue a ele o cansaço.

natalia nuno
rosafogo



quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

presente sem retorno...

lágrimas que são tão finas
caídas quase em torrente
caem dos olhos cristalinas
dói o coração que as sente

voltam à tona as tristezas
na madrugada molhada
e são tantas as incertezas
que da vida sigo cansada

não há pra mim surpresas
nem oásis onde descansar
foi-se o sabor das certezas
deu-se o colapso de amar

minha voz já não vai longe
apagada em nuvem ardente
silenciosa como a do monge
q' em silêncio reza p'la gente

meus sonhos são incolores
escuto o mente e o coração
onde vivem restos d' amores
sobre o crepúsculo do verão

natalia nuno

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

ouso libertar-me...





os poemas florescem,
nem sempre bons, nem sempre maus
transbordam de sentimentos
galgam distâncias como naus
sorriem em meu olhar
que pouco sabe de maldade
nele mora pra sempre a saudade

poemas são entradas de luz
são claridade
são como um grito vindo do vazio
forças oceânicas trepidantes de saudade
são fogo que cruza o horizonte
instante arrebatado, sonho e realidade

poemas são velas para a aventura
deixam o pensamento inundado
e o sorriso ébrio de ternura

palavras num instante arrebatadas
nesta já longa caminhada de
sombras, e ansiedades irmanadas.

natalia nuno







vaivém de sombras...



leve e fugaz inspiração
e a saudade que não me sabe
aquietar
sempre uma tenaz obsessão
a de continuar...

as horas caindo
e eu ainda nesta lentidão
que vai para além da vida
de consciência adormecida
cega à maldade do mundo

esta pausa faz-me esquecer a mágoa
por perder a esperança...
deixo-me entre os aromas das flores
como quando era criança

entre a luz da tarde 
e o mágico fulgor da poesia,
face ao horror e à violência
deixo adormecida a consciência
no meu coração um oásis
de esperança
vai vibrando fundo

aguardando, a paz volte ao mundo.

natalia nuno

sábado, 4 de janeiro de 2025

mistério...



cada pulsação é uma quimera
coroo o meu dia de palavras
há borboletas à minha espera
que levantam meu desejo
de seguir no silêncio, 
no qual habita
o sopro da minha voz.

já a vida corre veloz
continua o coração a pulsar
apesar da solidão crescente
dos anos decorridos,
e dos sonhos feridos
visita-me o futuro
a alertar
como vai ser difícil e duro.

sobressalta-se o olhar
tento saber o que vem nesse «aviso»
sorrio-lhe com esperança, saúde
é tudo que preciso
mas ele, afasta-me do mistério
que esconde e, não quer revelar

diz-me apenas que há  poemas
ainda por conquistar.

natalia nuno