Sentia-me gulosa e fui ao McDonalds de Almada comer um McFlurry de Oreo. O gelado ia-me sabendo bem, enquanto meditava nas calorias e observava à volta, como é costume.
À minha frente, na zona da sombra, afastados duas filas de mesas, um grupo de casais de velhotes convivia em separado. Numa mesa, três senhoras nos seus sessentas, setentas, mostravam fotografias e comentavam-nas. Na mesa imediatamente atrás, três homens pela mesma idade, falavam de locais, estradas e viagens. Percebi que era um grupo de casais costumeiro em excursões, que provavelmente se terão conhecido nesse contexto.
Havia entre eles uma separação enorme, como se depois não saíssem dali, e não fossem para casa dormir juntos na mesma cama. O que eu via, ao contemplá-los, era o enorme muro de interesses que separa homens e mulheres, desde sempre. Aos homens não cabe ver e comentar comentar fotos?! As mulheres não serão capazes de participar em conversas sobre viagens?!
Revivi outros momentos do meu passado: era habitual, no final dos almoços e jantares, e nos piqueniques, haver um momento em que homens e mulheres formavam grupos distintos entre os quais eu circulava livremente, escutando.
As mulheres falavam da vida, de casos da vida. Os homens, de trabalho, de negócios. Ambos contavam histórias do passados: situações insólitas, misteriosas. Histórias de espíritos e de casas assombradas ou de gente enganada, ou maluca. As conversas dos adultos eram ricas em informação sobre mundo, dos dois lados; não podia, portanto, compreender a separação.
Agora, no MacDonalds, com o McFlurry quase no fim, pensava que talvez fosse uma questão de honra masculina. A separação demonstraria respeito pelas mulheres. Não sobrariam dúvidas, para a comunidade, que os homens juntos nas suas conversas não estariam a cobiçar a mulher alheia. E mesmo sendo estes já velhos, a tradição cumpria-se no espaço uniforme e incaracterístico do McDonalds.
Envolvida nestes pensamentos, os três homens levantaram-se, ajeitaram a gola da camisa, passaram pela mesa das mulheres não lhes dedicando qualquer atenção, nem uma palavra, e saíram porta fora. Estas não repararam nos homens que saíam. Continuaram envolvidas nas fotos.
Os dois grupos não estavam relacionados. Não eram casais. Nada tinham nada a ver uns com os outros.
À minha frente, na zona da sombra, afastados duas filas de mesas, um grupo de casais de velhotes convivia em separado. Numa mesa, três senhoras nos seus sessentas, setentas, mostravam fotografias e comentavam-nas. Na mesa imediatamente atrás, três homens pela mesma idade, falavam de locais, estradas e viagens. Percebi que era um grupo de casais costumeiro em excursões, que provavelmente se terão conhecido nesse contexto.
Havia entre eles uma separação enorme, como se depois não saíssem dali, e não fossem para casa dormir juntos na mesma cama. O que eu via, ao contemplá-los, era o enorme muro de interesses que separa homens e mulheres, desde sempre. Aos homens não cabe ver e comentar comentar fotos?! As mulheres não serão capazes de participar em conversas sobre viagens?!
Revivi outros momentos do meu passado: era habitual, no final dos almoços e jantares, e nos piqueniques, haver um momento em que homens e mulheres formavam grupos distintos entre os quais eu circulava livremente, escutando.
As mulheres falavam da vida, de casos da vida. Os homens, de trabalho, de negócios. Ambos contavam histórias do passados: situações insólitas, misteriosas. Histórias de espíritos e de casas assombradas ou de gente enganada, ou maluca. As conversas dos adultos eram ricas em informação sobre mundo, dos dois lados; não podia, portanto, compreender a separação.
Agora, no MacDonalds, com o McFlurry quase no fim, pensava que talvez fosse uma questão de honra masculina. A separação demonstraria respeito pelas mulheres. Não sobrariam dúvidas, para a comunidade, que os homens juntos nas suas conversas não estariam a cobiçar a mulher alheia. E mesmo sendo estes já velhos, a tradição cumpria-se no espaço uniforme e incaracterístico do McDonalds.
Envolvida nestes pensamentos, os três homens levantaram-se, ajeitaram a gola da camisa, passaram pela mesa das mulheres não lhes dedicando qualquer atenção, nem uma palavra, e saíram porta fora. Estas não repararam nos homens que saíam. Continuaram envolvidas nas fotos.
Os dois grupos não estavam relacionados. Não eram casais. Nada tinham nada a ver uns com os outros.