Fusão do gelo, ebulição da água


"Some say the world will end in fire,
Some say in ice.
From what I’ve tasted of desire
I hold with those who favor fire." Robert Frost


O corpo cede e fica num suspense,
Moléculas e células dão saltos.
Reviram-se do avesso antes que eu pense:
Mil notas musicais, voz em contralto.

Meu nome assim a tempo eu não escuto,
Concentro-me em matar essa saudade.
São séculos de espera num minuto,
Minutos de prazer pra eternidade...

Doente na minh’alma, aceito o assédio,
Agarro-me à esperança, esqueço as normas,
Fitando um ponto fixo na parede.

Placebo eu sei que é, não é remédio,
Não cura, não resolve, não transforma,
Porém o sorvo aos tragos... Mato a sede...


A carta que trazes na manga

"Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca." Hilda Hilst



Posso ser eu que te enche e esvazia:
dona do útero fértil, mulher,
mistério, encanto e o charme que alia
o verso ao gozo e que, terna, te quer.

A que está longe da tua perfeição,
que não é nobre, que é vil sem querer,
que sempre cede, que pede perdão.
A que te excita e arrepia, por ter,

à flor da pele, o desejo por ti;
de cujo blefe o perfume sentiste,
mas que coagula em teu sangue, guri.

Que ao dar-se inteira, no meio desiste,
metade implora , metade sorri,
e é o desafio ao teu censo... O despiste...


(29/11/2010)

Clareia teu olhar

"Ah, vem cá, meu menino
Pinta e borda comigo
Me revista, me excita
Me deixa mais bonita." Ivan Lins



Clareia o teu olhar de negro lume
Vem, deita do meu lado, faz faíscas
Saírem dos meus poros... Vem, me assume.
Eu sou o teu repasto, me petisca.

Jateia no meu corpo teus respingos
Tu, mar revolto, eu, a areia quente.
Preciso-te, amores ou amigos,
Que importa, se no mesmo continente?

Se, feitos um pro outro e encaixadas
A mente, a alma, em quântuns ou matéria.
Se, solo fértil eu e tu, a planta...

Bafeja, me arrepia. Eu, encantada,
Recebo-te de volta, muda e séria.
Tua puta, a mais profana virgem-santa.


(21/10/2010)

Vida

"E sobre nós, esse tempo futuro urdindo, 
urdindo a grande teia. Sobre nós, a vida,
a vida se derramando. Cíclica. Escorrendo." Hilda Hilst


Moldado em vento, era selvagem seu perfil:
Montes, montanhas, geográficas figuras.
Meus pelos todos num só cálido arrepio
E os seus, dançantes...Sua aura, minha cura...

Pacientemente eu fui traçando sua cintura,
Todo o seu dorso, suas pernas, seu quadril.
As suas células e as minhas, criaturas
Semi perdidas num demente desvario.

Na alma dele esteve a minha, uma mistura
De sentimentos, sensações, calor e frio,
A terra fértil tansbordando de ternura.

Fazer amor passou a ser aquele fio
A costurar as nossas mentes, ânsia pura
A desaguar por nossos poros como um rio...


(13/10/2010)

Que ele imagine...






”Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
o que tu pensas gozo é tão finito
e o que pensas amor é muito mais.” Hilda Hilst 


É ele o homem da mulher que me revelo
E é também daquela outra que eu resguardo.
Mantemos frouxos, mas atados, nossos elos,
Sempre seremos de nós dois o outro lado.

É o meu Amor e lhe reservo a alma nua,
Basta lembrá-lo e já deságuo em meus anseios.
Olhos fechados, falo pouco, quando sua,
Que ele imagine o seu perfume nos meus seios.

Sei do fetiche que ele tem por minhas coxas
Ele também sabe o que tenho: seu umbigo.
Ah, sem falar do lado esquerdo do pescoço

Em que seu beijo deixaria marcas roxas.
Mas sendo eu dele e ele meu, juro, eu nem ligo:
Faríamos amor... em alma, carne e osso...

A alma transcende

“Por que haverias de querer minha alma na tua cama?
jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.” Hilda Hilst

Roçar de lábios, mero aquecimento
Com gosto de aflição, um gosto urgente.
Mucosas salivando um vinho bento,
Sabor do sumo segregando quente.

Mordidas, dentes se arvorando lentos
E as línguas que espiralam num repente.
Olhos fechados, turvos por momentos,
Na frouxidão dos membros – corpo e mente.

Pele com pele, fricção, fomento,
Serpentes se enroscando suavemente,
Num gesto prenhe que é aguerrido e lento.

Beijos lascivos, tua língua ardente
Segue caminhos por minh’alma adentro
Que só tu sabes e que só tu sentes...

É contigo que eu quero...

(...) Que fantasia louca ,
guardar assim, fechados, nestas mãos,
os beijos que sonhei pra minha boca!...”
Florbela Espanca

Minha boca na tua, no meu o teu lábio,
salivamos sabores, juntamos a essência.
Que indecência de beijo, carinho tão sábio!
Me provoca arrepios e afeta a cadência

dessa música ao fundo, um blues é o que ouço.
E nós dois parecendo dois bichos no cio...
‘Inda lembras do lado melhor do pescoço?
O direito... Pois vem, traz pra cá o arrepio.

Pode ser na tua rede, no chão, tanto faz:
o esboço do quadro mais lindo que existe,
que não é de verdade, mas traz tanta paz!

É pra sempre esse sonho e por ele eu espero.
Utopia, eu bem sei, e, talvez meio triste,
mas eu morro sonhando, é contigo que eu quero.

Vento Norte




”Deixa que o vento corra coroado de espuma,
que me chame e me busque,
galopando nas sombras (...)” Pablo Neruda

Redemoinho com força de homem,
Que excita o corpo e arrepia os cabelos,
Mexe comigo, desperta-me apelos
De sexo, angústia, de sede e de fome.

Bolhas no estômago e febre que ferve
É a inspiração na essência do vento.
Pesa no peito, me move em intentos,
Faz-se poesia, alimenta-me a verve.

É inevitável a comparação,
Provocas em mim o mesmo que o vento,
Os meus desejos mais caros tu apuras.

Meu sentimento eu atrelo à paixão,
Se me bolinas a alma é um alento
E eu gozo... sinto o prazer e a fissura...

Sacratus Est


“Cada pétala ou sépala seja lentamente acariciada, céu;.
e a vista pouse, beijo abstrato, antes do beijo ritual,
na flora pubescente, amor; e tudo é sagrado.”
Carlos Drummond de Andrade

Teu leito, o aconchego que eu previa,
Vestígios meus de outrora estão presentes.
Calor sob a coberta, em noite fria,
Encaixa nossos corpos num repente.

Madrugada sem fim, é a Eternidade
Que vem, nos lassa a alma em fundo corte.
Teu cheiro em mim que deixará saudade,
Nem sono, nem vigília: semi-morte...

Cravando no teu dorso as minhas unhas,
As marcas desses gozos ficarão,
Senão pra sempre, o tempo necessário

Pra que o amor que sempre me propunhas
Se torne um vício e, rente a esta paixão,
Tatue os teus lençóis feito um sudário.

Fogo e água

Meu corpo: halos de luz, prismas e cores,
Com gosto de açafrão e de pimenta;
Tapete só de pétalas de flores,
Fogueira com fagulhas que alimentas...

Fluidificando e água se fazendo:
Mil cachoeiras, rios e oceanos,
Brotando de meus poros e entrevendo
A minha essência em transparentes panos.

É teu, tu sabes, é pra ti que o guardo.
Se asas tu tivesses, já terias
Provado do seu sumo e te queimado

Nas labaredas desse aceso lume,
- Combustão, fogo alto, hipertermia -
Evaporando em chamas teu perfume...

Vontade de ti

O olhar perdido que outro olhar procura
E os dedos pálidos traçando os seios
Vestidos só com véus de gaze pura,
Auréolas rosa, faces e entremeios.

Vazio o leito, parco de ternura,
Meu flanco e ventre mornos, com receios,
Querendo dar-se, sendo criaturas:
Desejos cutelados pelo meio.

Carótidas vertendo nas fissuras
E os nervos entre as veias e os veios:
Filões sobre camadas tão escuras!

Lençóis intactos, alvos e tão feios!
Raízes vão brotando na brancura,
Não há mais corpo ou alma... só anseios...

Magmah

Sinfônica

Ambos plenos de fluidos, seivas e humores,
Nessa noite tivemos todas as d’antes,
Em gemidos e suspiros delirantes...
Imantados, amantes, mais do que amores.

Com luxúria, mistérios arremessados
Sobre corpos febris e mentes tortuosas.
Entre auréolas, cores rosadas, mucosas,
Só magia, nós dois sonhando acordados.

E sentíamos cheiros, vinham na voz,
Doces hálitos frescos e alaridos.
Os mormaços no ventre, dentro de nós:
Fronteiriços, predestinados e ardidos.

Desvairados, sem limites... estafermos...
Sensação de, um dentro do outro, cabermos.

Magmah

Delíquio

Pr’o deleite do amor da minha vida,
Liquefaço-me em riachos de prazer.
Nossa aura, junto aos corpos, colorida,
Tons vermelhos de paixão a derreter.

Faço amor com languidez e com malícia,
Serpenteando sobre as dele minhas curvas.
Sem conflitos, castidade e impudícia
Já se fundem nesse mar de ondas turvas.

Somos água nessa hora e, sem limite,
Escorremo-nos em fluidos livremente,
Saciando a nossa sede com apetite.

Nessa Morte, bem coladas, nossas bocas
Passam, d’uma para a outra, num bafejo,
A ilusão da eternidade que é tão pouca!


Magmah

Magma

Percebo a febre em ti, vitais desejos,
Mormaços e tormentas corporais.
E em mim há sempre a ânsia por teus beijos,
Vestal cheia de impulsos animais.

Sem pejo e então repletas de pruridos,
Nossas almas, qual ímãs, porta aberta
Pra viagem laborada nos sentidos,
Imagens e gemidos... descobertas...

Nós dois subjugados por paixão,
As auras enroscadas qual treliça.
Vestido tu com o lume da atração
E eu, com a transparência da cobiça.

Meu sexo, magma dentro de um vulcão;
Presente aí no teu, a erupção.


Magmah

Rodopiando

Um sopro de lascívias que ressoa
E acende os teus desejos à surdina;
Borboleta, acrobata ou bailarina
Que salta, que volteia e sobrevoa.

Num rastro de luxúria perfumada
E um canto, que é inaudível, a se ouvir,
Meu sexo vai em pétalas florir
Irei eu te ofertar, extasiada...

Preenche os vácuos, m'impede a fuga
E faz alvorecer toda essa bruma.
Encharca minha alma com tua espuma,
Envolve-a com fragrâncias, lava e enxuga.

Migrei com o vento para, num só passo,
Rodopiarmos juntos nesse abraço.


Magmah

Pelos vãos da madrugada

Cerradas pálpebras, cobrindo o amanhecer
Que se infiltrava na cortina transparente.
Um beijo doce nos meus lábios fez ceder
A lassidão que me mantinha inconsciente.

Quimera em quadro tão lascivo agora eu pinto:
Carícias quentes e volúpia sobre o leito,
Suspiros mudos no silêncio do recinto,
Olhares turvos e o teu peso no meu peito.

Semi-real era essa noite e seus clamores...
Molhada em ondas dos teus mares, a minh’alma
Foi aquecida por desejos e rubores.

Libidos soltas nessa imagem tão sonhada!
No lusco-fusco das paredes do meu quarto,
Nossos orgasmos pelos vãos da madrugada.


Magmah

Foste Morpheu

Lançada ao ar em véus de vento quente,
Levito sobre nuvens no meu sonho.
Há fios de seda a me enlaçar a mente,
- Vem cá sonhar comigo - eu te proponho.

Os panos sobre o corpo em tons de rosa,
Imagens surreais e impermanentes.
Eu vôo, vasta, viva e tão viçosa,
Em vestes vaporosas, transparentes.

Mil beijos, mil abraços, meio a medo.
Não restam mais tabus e nem segredos
E amamo-nos qual fosse realidade.

Eu toco a tua alma com saudade
E sinto arrepiar o corpo teu.
Festim de fantasias com Morpheu...


Magmah

Faz teu ninho

Antes que eu me desfaça em agonia,
Vem e me toma, não deixes ser tarde.
Preenche-me o cerne e a casa vazia,
Penetra a minh’alma em sopro qu’arde.

Pois nessas horas me deságuo em mar
De surtos e de vagas impetuosas;
Em massas e ondas já a palpitar,
Espúria, marulhando, orbes tortuosas.

Vem, beija aqui meu ventre, meu umbigo,
E dorme no meu colo, de mansinho.
Eu esperei tanto pra estar contigo!

Descansa teu andar no meu caminho
Que é feito de prazeres bem antigos.
Sereno, após o gozo, faz teu ninho...


Magmah

Violeta e Colibri

A rosa, envolta em fogo, já queimando,
Pistilo solitário então beijou.
Corando a face e o olho acastanhando,
Jardim aqui em mim se agigantou.

Ficaste vendo florir o açafrão,
- Violeta e colibri, pura magia -
Eu esperava por essa emoção
E já previa que isso era poesia.

Maduras, firmes curvas, ondulantes,
Perfume que do caule lacrimou,
Em pétalas e folhas - desvario –

Corola de narciso palpitante,
Em frêmitos convulsos desaguou
E o fio que era tão frágil se partiu...


Magmah

Noites quentes

Se sinto o pôr-do-sol chegar mais cedo,
Aqui, o corpo lasso e a alma ardente
Já clamam pelos teus, meus olhos quedos,
Nas horas de luxúria, noites quentes...

Se vem um vento morno e traz a chuva,
Eu logo me reporto àqueles dias.
Na boca sinto o gosto já da uva:
Do vinho ao desalinho em que me vias.

Meus lábios ressecados e descrentes
Desejam só nos teus matar a sede.
Espero-te e essas noites me consomem...

Sou tua em meus sentidos mais dementes,
Contigo deito em sonhos numa rede.
- Meu êxtase e meu gozo num só homem.


Magmah

Aconchego

Volúpia, êxtase e bem-querer,
Era sabido que hoje tu vinhas.
Qual vinho forte pra derreter
O frio na alma que antes eu tinha.

O seio morno no qual te aninhas
Já arrepiado pra te acolher.
Sagrado arroubo, tortuosas linhas,
Sublime círculo a te aquecer.

Safira é a cor desse entardecer...
Olho pro céu e essa chuva é minha,
Bênção divina ao nosso prazer,
Molhando o gozo que se avizinha.

Vermelhas dálias tu vais colher,
Serão meus lábios a te envolver.


Magmah

Cativa

Se me beijares na hora certa,
Prendo-te então aqui nos meus braços.
Meu rosto rubro já traz os traços
Do bel prazer e a alma toda aberta.

A espera louca dentre os lençóis
Descerrou muros, te fez meu dono.
A me aquecer e roubar-me o sono
Teus toques rudes são como sóis.

Meu lábio quente, mia pele nua
Clamam por ti e já sou cativa.
Esses desejos me fazem viva.

Deita o teu corpo por sobre o meu,
Espalha luz e fulgor - tu és lua
E eu sou a terra - sou toda tua...


Magmah

Fluidos

Sinais de amor tracei no corpo teu,
Do teu cinzel em mim ficaram traços.
Pousei por sobre ti molhado abraço,
Em gotas de suor, no apogeu.

A mesma água jorra de teus poros,
Um gosto bom que eu lembro e ainda sinto,
Semelha-se ao sabor do vinho tinto.

Cenário pra enfeitar nossos apelos,
Performance de lírios delicados,
Verteu em mel, perfume almiscarado,
Essência do meu ventre em teus cabelos.

Os ecos nas paredes tão sonoros
E um fogo qu’arde e queima a pele nua,
Sagrado esse ferir em ânsias cruas...


Magmah

Artifícios

Eu quero-te do modo que quiseres...
Inteira já me tens, sou feito a lua,
Há fases em que escondo, mas sou tua
E finjo que não há outras mulheres.

Permito que o meu corpo tu reclames,
Que insone tu visites o meu leito.
E dou-me toda, te amo do meu jeito,
Ainda que só mintas que me ames.

Consciência vai-se e vira pelo avesso...
Roçando a tua pele nos meus lábios,
Meus sensos, que me pareciam sábios,
Transformam-se em luxúria e eu esqueço

Que isso não é sonho, é um arremedo,
Nós simulamos juntos, em segredo.


Magmah

Sinestésicos Desejos

Você vem, me prova da pele a textura.
E o fresco do aroma no olfato, qual fosse
Almíscar, vapor que é tão brando e tão doce,
Penetra-me o dorso e escorre em ternura.

Eu sorvo em sua boca do sumo que trouxe:
Prazer de beber de uma taça que é pura
Um vinho em saliva com gosto agridoce,
Que adentra-me os lábios e é fruta madura.

Licores, seus fluidos, genuínos olores,
E o sal do suor é o tempero que resta
No mel que açucara esses nossos sabores.

Suspiros, falsetes, libertas serestas...
Dois corpos descansam, banquete de amores,
Saciado o desejo e cansados da festa.


Magmah

Abraçando o Sonho

Teu corpo abraça o meu eternizado,
E o sol se aquece sobre esse teu peito.
Estrelas nascem, céu enluarado,
E a chuva desce mansa além do leito.

Mergulho, nado em lago tão profundo,
Invado, escalo montes, desço então
Aos mais secretos vãos desse teu mundo,
E para essas ardências dou vazão.

Tão ternas, tão suaves e amorosas,
Clareiras minhas, pétalas de rosas,
Acolhem teu prazer em abstração.

Ocultas, aguerridas, vigorosas,
São rochas ígneas em ebulição,
Teus fluidos, um vulcão em erupção...


Magmah

Véus

Em teu deserto verde e tão florido,
A sede que é ancestral e me consome
Resseca em puros poros, é libido;
Só verte em gota, aumenta a minha fome.

Devassa e pura sou, eu não menti,
Arfei e suspirei no ventre teu.
Abri as minhas portas para ti
E a angústia minha assim se arrefeceu.

Desnudas-te pro meu deslumbramento...
São êxtases que nos proporcionamos,
Vazios num tempo incerto e consumado.

Tu, macho, nesse céu de encantamento,
Já teces, todo ardente, flor em ramos
Pra mim, tua fêmea em véus enluarados.


Magmah

Nuvens em Fogo

Sou flor que abre em tuas mãos e te dou viço,
Colhes lírios e petúnias no meu dorso.
Com tuas carícias, me inquieto e me contorço
- Dois beija-flores no ar, em rebuliço.

Recitas nomes e termos tão diversos,
Tão lascivos como o toque de tuas palmas!
Noite adentro desnudamos nossas almas
E é tão sublime fazer amor em versos!

Nós escalamos colina ao pôr-do-sol,
Romper da aurora, descemos pelo prado.
Nuvens em fogo e um céu todo dourado,
Nosso gozo se assemelha ao arrebol.

Tens meus caminhos e eu te conheço a sina,
Dou-te meus ais, meus desejos de menina.


Magmah

Púrpura Rosa

A púrpura rosa que aquece o meu ventre
Colore-me a aura em mistério e segredo.
Meu ser escraviza em prisão e degredo
Invade-me sempre e eu consinto que entre.

É febre abrasiva que vem, me consome,
Afagos lascivos, preguiça e langor...
Meu corpo enfraquece carente de amor,
Debruço-me ao leito e murmuro teu nome.

Total descontrole, a chama se acende
Sem tempo ou compasso, afeta-me o tino,
A pele amortece e me leva ao delírio.

Em gozo sublime minh’alma se rende.
Exposta à luxúria em tal desatino,
Viajo em estrelas... que doce martírio!


Magmah

Vapores

Com banho de óleos pra te endoidecer
Dissipo-te eflúvios de orquídeas dos seios.
Um leito de pétala enfeita os anseios
E adorna o desejo que vem num crescer.

Qual virgem, me estendo por sobre os lençóis,
E dôo-me inteira, num curto desmaio.
Clareiam o meu corpo assim de soslaio,
São brancos, são puros, os mais alvos sóis.

Tu sorves aos goles o sumo da taça
E reclina-te exausto e vazio de amor.
Arisca, sou mansa, me alterno em escalas,

Sou ninfa-amazona, tua presa e tua caça,
Já aquecida e perfumada com o olor
Dos haustos e vapores que tu exalas.


Magmah

Sal

Em teus prados, colinas e desertos,
E na vasta floresta de teus pelos
Passeiam minhas mãos, lábios abertos,
Na glória de apalpá-los e mordê-los.

Nesses vales brotam botões de flores
Tão belos, tão maduros, tão devassos.
Espalham-se e perfumam meus langores
Absinto que embriaga e deixa traços.

Eu te sorvo e te provo calmamente,
Deixo marcas, vestígios dos meus dentes,
E o sal do teu suor mata minha fome.

Nós somos macho e fêmea nessa dança,
Bailamos sem pecado ou temperança.
- Chama acesa e fagulha que não some.


Magmah

Nirvana

Teus lábios, em perjúrios e gemidos,
Versejam como em forma de oração,
Descerram as cortinas da libido,
Tu unges minhas curvas com tuas mãos.

Calor do ventre teu nas minhas ânsias
Inflama nossos corpos que se arvoram,
Envolvem-se e preenchem reentrâncias,
E em êxtase teus beijos me devoram.

Os músculos que moldam tua nudez
São másculos, são fortes, sumarentos.
Me guardas e eu sei que não te cansas

Dos frêmitos e abraços sonolentos.
Ao fim dessa sublime e insana dança,
Repousas em tua plácida altivez!


Magmah

Prenhe de Vida

Venho inspirada e cercada de flores,
Meio aos langores, me dispo sem medo.
De meus desvelos a fonte e pudores,
Tu chegas e desvendas meu segredo.

Busco o mistério e em teus olhos o miro,
Boca entreaberta e a palavra calada.
Fogo, luxúria e o gozo em suspiro,
Num piscar d’olhos, me fazes amada.

Lábios que acendem a chama em folguedo
E mãos que tecem no afago, o ardor.
Qual verso que veste de lira a escrita.

Construo rimas e faço o enredo,
Prenhe de vida e entregue ao amor.
E, nos teus braços, me torno bendita.


Magmah

Sedução

Aproximo-me pra te seduzir,
Toco tua alma, delicadamente.
E fios de seda faço então surgir,
Entrelaçando o teu inconsciente.

Em meus cabelos trago raras flores,
Sussurro versos de um amor pungente.
Beijos perfumados, langues vapores,
E no teu ninho me faço presente.

Com carinhos e um doce murmurar,
Meigos afagos, suaves segredos,
Domino teus sonhos, deixas-me entrar.
Eu te escravizo e venço teus medos.


Magmah

O fruto

Olhos penetram repletos de luz,
Beleza rara em perfil e semblante.
És uma estrela, teu brilho seduz,
Lábios e mãos, um calor abrasante.

Ramos de oliva tu tranças – desvelo -
Deusas do Olimpo vêm pra te olhar;
Coroas com rosas os meus cabelos,
Vieste a esse mundo só pra m’encantar.

Apolo te inveja, Afrodite te quer,
Cobram de Eros que uniu a nós dois,
Apesar de sermos homem, mulher,
Dar-nos o amor que é finito depois...

Antes que Cronos nos peça o tributo
Somos felizes, provamos do fruto...


Magmah