S í t i o
Ex assedio para tod@s
21 abril 2025
17 janeiro 2025
Realismo Capitalista
Fisher destaca um sintoma social crucial para os tempos atuais, que difere do cinismo ou da apatia: a impotência reflexiva, que teria a estrutura de uma profecia autorrealizável. Na impotência reflexiva, sabemos que as coisas estão piorando, e “sabemos” que não podemos fazer nada a respeito, mas esse saber não é uma mera representação passiva de uma realidade objetiva. Na verdade, contribui ativamente para reforçá-la em uma espiral hipersticional implosiva, produzindo, em parte, o imobilismo que reproduz a condição. Esta experiência é estetizada em termos kafkianos, cada um em seu aprisionamento burocrático.
(...)
Por um lado, um Fisher cada vez mais pragmático e programático estava preocupado em pensar uma política que disputasse o centro do tabuleiro, o mainstream, que pudesse ter efeitos práticos institucionais e avançasse concretamente na direção de consolidar uma base de poder. Esse tipo particular de orientação, diz Fisher, não aposta todas as suas fichas numa transformação repentina e definitiva, e nem concede o terreno do que é “realista” ao inimigo. Trata-se de avaliar sobriamente os recursos que estão disponíveis para nós aqui e agora, e pensar sobre como podemos melhor usá-los e ampliá-los, para nos movermos – “talvez devagar, mas certamente com propósito” – de onde estamos para onde desejamos chegar.
(...)
É a combinação do utópico com o pragmático que tanto se faz necessária hoje: pragmatismo sem utopia leva à resignação rebaixada do neoliberalismo progressista, enquanto utopia sem pragmatismo nos deixa “na posição da bela alma: com as mãos limpas, mas inúteis”.
"Mark Fisher nos ajudou a pensar para além do realismo capitalista"
01 janeiro 2025
Hanukkah invites us to bring light into the world - JVP
Tragically, the Zionist movement chose to put
its faith in human power and national territorial sovereignty, seeking to
create a “Third Jewish Commonwealth” in historic Palestine. In so doing, it
forged a wholly new Jewish identity: an internalization and inversion
of European antisemitic themes of Jewish feebleness. This ideal
prioritized physical strength and militarism, and was often exemplified by the
revival of the Maccabees as Jewish heroes, forsaking the miracle of the oil for
a focus on violent militarism.
This reinterpretation has troubling
implications today, as it echoes in the ongoing violence in Gaza, where
militarism perpetuates suffering and destruction, often using ancient symbols
of Jewish tradition as forms of psychological violence. The enduring message of
Hanukkah — resilience through faith and light — has been overshadowed by this
glorification of force.
One of the most striking examples of this distortion is the sight of menorahs being lit amidst the rubble of Gaza by IDF soldiers. These acts, extensions of the militarization of Hanukkah through Zionism, desecrate the profound message of the holiday. The Hanukkiah, a beacon of hope and divine presence, has been reduced to a tool of domination. Such actions betray the ethical core of Jewish tradition, which calls for the pursuit of justice and collective human dignity
22 dezembro 2024
The lives they lived - NY Times
The Lives They Lived
|
The Mediterranean Sea traces the
25-mile-long stretch of coastal land that makes up Gaza; for many people there,
it is a lifeline. The poet Mahmoud Darwish understood those waters as the sole
possession of Palestinians, writing in his poem “The Strangers’ Picnic”: “I
will embrace a wave and say: Take me to the sea again. This is what the fearful
do: when a burning star torments them, they go to the sea.”
Al-Udaini became a frequent
commentator on Palestine Chronicle TV, which airs on YouTube. She always wore a
niqab, even though she felt it risked impeding her ambitions to become a
prominent voice in the West. Her eye shadow often matched the fabric of her
head scarf, pale pink or shimmery opal, eyes flashing as she delivered her
reports. Her voice was often raspy, carrying the strain of someone deprived of
sleep and time.
After a 2023 interview with a
particularly hostile British journalist was picked up by the Israeli media, Al-Udaini
shared with friends and colleagues that she was receiving threats. Eventually
she moved to a town outside Deir al-Balah, where she and her husband built a
two-story house surrounded by fields and farms. They loved it, even though
electricity and running water had been cut off.
Jenna (J) Wortham is a staff
writer for the magazine who has written about wellness apps and how the
pandemic changed the internet.
12 dezembro 2024
Solidarity in the Age of Digital Genocide
“Whiteness” is the name for the elimination of all persons not designated “white.” That whiteness may or may not correlate to skin tone. It may eliminate by removal. It may be content to let the slow violences (as Rob Nixon has it) of environmental collapse, epidemics and poverty do its work. Or not, as now.
When genocide becomes “fast,” violent and deliberate, as it has since October 7th, whiteness mobilizes, catalyzes, and accelerates. In these past 14 months, it has been enabled by AI, the cloud, drones and “smart” bombs. Digital genocide is not virtual.
(...)
In all cases, “they” (the non-white, non-straight, non-citizen) are to be denied in favor of “us” (the old and new white people). This “us” is the digitally-imagined exclusionary nation, whether in “France for the French,” “Make America Great Again,” or Brexit. Or, in its now exemplary form, the Zionist concept of Israel as a country where only Jews can be citizens."
Solidarity in the Age of Digital Genocide
04 outubro 2024
Diário da Bica
I know my coffee, my mother’s coffee, and the coffee of my friends. I can tell them from afar and I know the differences among them. No coffee is like another, and my defense of coffee is a plea for difference itself. There’s no flavor we might label “the flavor of coffee” because coffee is not a concept, or even a single substance. And it’s not an absolute. Everyone’s coffee is special, so special that I can tell one’s taste and elegance of spirit by the flavor of the coffee. Coffee with the flavor of coriander means the woman’s kitchen is not organized. Coffee with the flavor of carob juice means the host is stingy. Coffee with the aroma of perfume means the lady is too concerned with appearances. Coffee that feels like moss in the mouth means its maker is an infantile leftist. Coffee that tastes stale from too much turning over in the hot water means its maker is an extreme rightist. And coffee with the overwhelming flavor of cardamom means the lady is newly rich.
No coffee is like another. Every house has its coffee, and every hand too, because no soul is like another. I can tell coffee from far away: it moves in a straight line at first, then zigzags, winds, bends, sighs, and turns on flat, rocky surfaces and slopes; it wraps itself around an oak, then loosens and drops into a wadi, looks back, and melts with longing to go up the mountain. It does go up the mountain as it disperses in the gossamer of a shepherd’s pipe taking it back to its first home.
The aroma of coffee is a return to and a bringing back of first things because it is the offspring of the primordial. It’s a journey, begun thousands of years ago, that still goes on. Coffee is a place. Coffee is pores that let the inside seep through to the outside. A separation that unites what can’t be united except through its aroma. Coffee is not for weaning. On the contrary, coffee is a breast that nourishes men deeply. A morning born of a bitter taste. The milk of manhood. Coffee is geography.
Mahmoud Darwish, Memory for Forgetfulness
August, Beirut, 1982
Segredos Oficiais - 2019
O filme de 2019 relata a história verídica de uma agente dos serviços de informação ingleses que em 2002 percebe que os EUA preparam a guerra no Iraque através da intimidação e assédio de outros países de forma a receberem destes apoio à sua iniciativa. Sozinha e colocando o seu trabalho e vida em risco (ainda não tinha acontecido a morte do cientista inglês que fez parte da equipa internacional que foi ao Iraque pesquisar as armas de destruição maciça, e denunciou a mentira dos EUA), vai denunciar o que considera que o Reino Unido devia recusar fazer, acreditando que isso pode evitar ou ajudar a evitar a guerra. Não evitou porque nessa altura como agora, os nossos (Europa e EUA) governos não estavam preocupados com a oposição maioritária das suas populações, que se manifestaram de forma expressiva nas ruas.
Se uma ação corajosa não impediu a guerra pôs-nos a todos do lado do conhecimento. A verdade não vem sempre ao de cima, ela existe porque há seres humanos que dão consequência e significado à sua humanidade.
"Porque os outros calam / mas tu não"
11 setembro 2024
Investigação NY Times
Como Israel abate civis propositadamente desde o início,
How a Single Family Was Shot Dead on a Street in Gaza
20 junho 2024
Os problemas no texto de António Araújo e a arquitetura de Tomás Taveira
1. O circo
mediático que o autor critica e que faz derivar até ao presente, com as fake news e a produção de personas como
Trump, serve a este texto de base de alimento, não deixando Araújo de chafurdar
nalguns pormenores que escolhe em detrimento de outros para viver, ele também,
no que chama circo. Um alimento feito assim farto e para todos.
2. Não somos todos seviciados pela arquitetura de
Tomás Taveira como faz decorrer Araújo, presumindo que o seu sentido de gosto
reflete uma mundividência do “bom senso”, tique assaz costumeiro a quem
pretende ou aceita narrativas hegemónicas e logo hierárquicas e de controlo,
estilo “west is the best”. A
arquitetura tem aqui, em vários aspectos, um papel importante. Nos espaços onde
é discutida à produção e usufruto dentro do quadro do capitalismo tardio, da
sua intensa financeirização nas últimas décadas e, na propensão a tudo abarcar,
da gestão do território, urbanização, habitação, aos direitos, como o direito à
cidade e as suas condições de habitabilidade e convivialidade.
“Num
primeiro plano, a Arquitectura é a construção de um cenário onde o jogo
cultural se desenrola, pois, em determinado sentido enquadra, fixa e torna
significativa a vida e as relações humanas. Acresce que esse sentido depende
sempre de um sistema de valores “culturais”. Sem Arquitectura certamente poriamos
em causa a nossa identidade como protagonistas de uma ficção a que chamamos
Mundo. Aliás, a Cultura faz isso mesmo: inventa o mundo como cenário. E ao
inventá-lo dita os termos em que estamos aptos para lidar com ele. É
compreensível, pois, que ofereçamos sempre resistência a qualquer alteração que
ponha em causa a nossa identidade”, (Lucinda Fonseca Correia, O património da memória e do esquecimento,
JA, Jornal Arquitectos, 2017)
3. Uma certa direita ressabiada com o processo
revolucionário pós 25 abril, do apoiante sionista Moedas, elevando os
calcanhares no púlpito da Câmara para que o ouvissem dizer que ia preparar as
celebrações do 25 de novembro pretendendo assim, em jogos de secretaria, fazer
equivaler a importância das duas datas, até a Araújos
&quejandos.
“Com
efeito, e por muito que nos custe a crê-lo, o presente extremismo político e as
suas pulsões totalitárias são herdeiros directos da atmosfera feérica dos anos
80 e da sua divisa, mais tarde levada ao limite, nothing is true and everything is possible. Primeiro, destruíram-se
as noções de verdade, de objectividade, de racionalidade e, a seguir, as
distinções éticas entre o bem e o mal, o certo e o errado. E depois surgiu
Trump” AA
Este
ressabiamento e querer ajustar contas com os processos revolucionários que
alteraram profundamente o país, está no preconceito de classe que creio existir
nos olhos com que António Araújo vê algumas das personalidades sobre as quais
decide fazer a Prova de Vida. No texto sobre Tomás Taveira torna-se mais
evidente porque relaciona as frustrações com as derivas dos anos 80,
afinal a década em que os Zé-ninguéns começaram a chegar em grande número às
universidades, à administração pública, e de repente uma gente sem pedigree
(ver a preocupação em apurar a filogénese da personagem Castelo Branco em
crónica anterior) está em todo o lado. Esta gente, para além de não saber estar
à mesa, ainda vai dar aulas na faculdade, manda bocas ao presidente da
república, mais um pouco e estão no foyer
do São Carlos a largar gases sonoros junto à condessa de Vila Praia de
Âncora&Caribe. O pós-modernismo pop foi longe demais, levou-nos ao
niilismo, da arquitetura de Taveira ao Lux e logo depois das questões de género
ao trumpismo. Tudo uma grande desgraça que não só explica o atraso económico
como a feiura das nossas cidades antes certas e apolíneas.
“todos os
arrivistas odeiam a memória, até porque ela lhes vem lembrar o lugar de onde
vieram e as humilhações sofridas ao longo dos anos” AA
4. Apesar das vítimas, sem sabermos exatamente de
que forma e moldes, António Araújo não estranha o filme de Taveira estar
disponível ao público. O único julgamento e acusação penal que resultou sobre o
escândalo foi o da divulgação sem conhecimento e consentimento das mulheres
envolvidas. Apesar desta condenação aí está a divulgação atual sem que a
Justiça, apesar de uma ação em tribunal a condenar esse facto, nada faça para
impedir o crime, pelo menos aquele ao que se chegou na altura. Hoje talvez
esperássemos ou exigíssemos, enquanto sociedade, que a Faculdade de Arquitetura
onde continuou a dar aulas assumisse uma posição diferente. O
arquiteto viria a ter aí um processo discipular por outros motivos que não o
envolvimento com alunas relacionado com a avaliação das mesmas.
Perante
esta suma indiferença, AA ainda se compara às vítimas do filme pela forma como
a arquitetura de Taveira também o sevicia e abusa, uma analogia que prefigura o
lugar e o respeito que Araújo dedica a quem foi a vítima do crime e sobre o
qual se permite realizar toda uma série de juízos.
5.
O outro maior problema do texto de
António Araújo é desqualificar a obra do arquiteto através da pessoa (como faz
o romancista francês de “O Brutalista”). Seria o mesmo que desqualificarmos
António Araújo enquanto historiador e investigador por ter sido
apoiante de Cavaco Silva ou por manifestar estranhas fixações com a palavra
sodomia.
6. Provavelmente António Araújo não deve andar de
metro e por isso desconhece a estação das Olaias, que, numa dimensão faraónica
nas plataformas, tem a surpreendente característica de não deixar os corpos
humanos que a habitam numa posição minúscula, antes jogando com as entradas de
luz e as cores que atravessam nos vitrais ou transparências para o acesso aos
pisos superiores ou para o exterior. Este jogo, alimentado pela distribuição de
cor nos pavimentos, nas colunas, conseguindo ainda abrir espaço e dialogar com
as muitas obras de arte de outros artistas presentes, faz desta estação um
lugar de explosão de alegria e acolhimento que não encontram paralelo noutras
estações do metropolitano, onde também arquitetos e artistas brincaram com as
cores e o espaço. A estação de Chelas na mesma linha, por exemplo, com jogos de
cores em volumes e reentrâncias muito interessantes, não consegue apesar disso
libertar-se da sensação de um espaço escuro e fechado.
Araújo
refere ainda como a arquitetura de Taveira é indiferente ao espaço ou
pré-existências onde se implanta, também não deve conhecer Chelas, no bairro do
Condado, que um punhado de arquitetos foi chamado a projetar. Os vários
edifícios de Taveira, os únicos que não alpenduram torres altas no topo de
colinas, espécie de pesadelo de marca das nossas periferias mais isoladas, numa
solução de encher muito e desqualificar ao mesmo tempo espaço e pessoas. Aqui
Taveira não construiu em altura, como nas Olaias, porta de entrada para o Vale
de Chelas, ou noutros lugares, e mais ainda, desenha os seus edifícios com os
mesmos pormenores, decorativos e cromáticos que coloca noutros projetos para
habitação de classes altas ou para edifícios de serviços. Em Chelas adequa a
paisagem, o topo de uma colina, com a qualidade construtiva. Outros exemplos de
integração, mas em malha urbana consolidada, como na Av. D. João XXI, em frente
à sede da CGD, onde num vértice da fachada desenha uma chaminé em homenagem à
memória das altas chaminés da gigantesca Fábrica Lusitânia, que ocupava o lugar
hoje ocupado em parte pelo bunker monolítico
da Culturgest. Caído ali como podendo ter caído noutro lugar do universo, num deserto ou no fim de um beco atrás da
principal praça de uma vila qualquer. Ainda em integração ver nas traseiras
deste edifício da João XXI, outro projeto de habitação de Tomás Taveira (Av.
Óscar Monteiro Torres) que não está desintegrado, decorridas já algumas
décadas, com os desenhos de fachadas ao longo do mesmo arruamento, edifícios do
início do século passado, principalmente junto ao Campo Pequeno e das décadas
seguintes a chegar à Av. Roma.
Como para a maioria dos arquitetos há obras excelentes, outras que eram excelentes mas os projetos em torno de urbanização ou novas construções deixaram desadequadas ou com ar inacabado (o topo das Olaias por ex. com a construção do Hotel e com a falta de articulação com os bairros sociais - Portugal Novo), outras más ou de que gostamos menos ou que passámos a integrar como óleo de fígado de bacalhau (Torres das Amoreiras).
As classes sociais
raramente convergem, mas se puderem fazer alianças temporárias no projeto e
construção de uma arquitetura comunitária de múltiplos valores, será preciso
que todos tenham uma consciência do paradoxo e alguma ironia e agudeza de
espírito.
Josina
Almeida, junho 2024
12 junho 2024
04 junho 2024
Junho
Desculpa lá oh Antero mas esqueceste-te do Sto.António nas causas para a decadência dos povos peninsulares. Ainda estamos a defumar os casacos de meia estação e as sardinhas assam ao som do és-a-linda-portuguesa-com-quem-eu- quero-casar, atirando-nos sem apelo para o lugar onde tem de se estar de papo para o ar.