Sentia-se preso. Preso a um lugar, preso a uma certa maneira de assistir à passagem do tempo, sentia-se preso ao corpo que sempre lhe servira de morada. Aquela sensação começava a deixá-lo desconfortável consigo próprio, coisa que havia muito tempo o não apoquentava. Talvez uma viagem pudesse atenuar tão desconfortável sensação. Mas também não lhe parecia que isso pudesse resolver o problema (se é que tudo aquilo poderia ser considerado um problema).
O que fazer, então? Inventar trabalhos estranhos, tarefas impossíveis que pudessem ocupar-lhe os pensamentos? Deitar-se no chão de barriga para cima a olhar o tecto? Ler os livros que tinha na prateleira e que ainda não lera? Pensando bem podia engendrar diversas actividades capazes de atenuar aquela dor que continuava a não conseguir localizar. Mas também aquelas ideias pareciam vir engaioladas. Duvidou que pudesse escapar por essas vias.
Foi então que sentiu aquela friagem subir-lhe corpo acima até se lhe gelar por completo o interior do crânio, como se tivesse chegado um inverno desconhecido que se instalou dentro dele. Gelo, neve e uma tristeza infinita.