sexta-feira, 25 de abril de 2025
segunda-feira, 21 de abril de 2025
PODE FAZER ENQUADRAMENTO LEGAL DO MEU CASO? - crónica de Yossef Mwetunda
Oito horas e pobres minutos. LIMATAPALO, empresa de construção civil. No
escritório, o telemóvel do patrão toca.
— Bom dia, Boss!
— Bom dia, Ataíde! Está tudo bem?
— Estar até está, Boss! Mas...
— Deixe-me tomar notas para depois fazer o enquadramento legal do seu caso.
— Está bem, Boss.
O papel mais próximo estava empoeirado. A senhora da limpeza ainda não tinha chegado. O patrão sofre de sinusite. Chamou o segurança para dar um jeito. Que jeito? Deitar fora o papel empoeirado, sem levantar poeira, e tirar outro da caixa. Pelo menos toma apontamentos no papel, não na tela.
— Está aí, Ataíde?
— Estou sim, Boss! Aqui a rede não cai.
— Diga lá o que se passa?
— Boss, a páscoa não me poupou!
— Mas, ó Ataíde...
— Boss, é que...
— Ataíde, deixe-me acabar o raciocínio.
— Pode falar, Boss!
— Cristo é que foi espancado, você é que falta ao trabalho, ainda mais hoje que encontramos vestígios de delapidação?
— Boss, na nossa empresa tem máquina de lapidação?
— Esqueça isso, explique o que se passa.
— O Boss sabe que Jesus foi crucificado no meio de dois ladrões, não sabe?
— Sei. Inclusive, um deles foi você.
— Sim, Boss! Aquele que foi salvo na cruz! Assim mesmo, estou a ligar a partir do paraíso para dizer que não preciso mais do emprego.
Silêncio. Silêncio total. Total silêncio. Total.
— Está aí, Boss? Pode fazer enquadramento legal do meu caso?
21.04.25.XXI.08.39
sábado, 12 de abril de 2025
Diário | Influencer digital na TV
"Eu de 3 em 3 meses tiro 1 mês sem acesso à net e às redes sociais para desintoxicar."
"A saúde mental exige, né?"
"É isso. Só mesmo chamadas e SMS. No início foi dificil, mas agora já está natural."
"Ficas sem net, nenhuma, nenhuma? Nem o whatsapp?"
"O whatsapp mantenho-o ligado."
"Só o instagram, facebook, tik tok, então?"
"Sim, desligo tudo. Menos só as redes sociais dos meus clientes. Porque a minha actividade profissional é gestora de marketing digital. Cuido das marcas corporativas e individuais. Então tenho de alimentar e gerir as redes. Alimentar com conteúdos, responder os seguidores."
"Ah, só não entras nas tuas redes então?"
"É. É necessário fazer pausas pela nossa saúde mental".
www.angodebates.blogspot.com | 12 Abril 2025
sexta-feira, 11 de abril de 2025
Um pequeno passo, mas já é alguma coisa no sentido dos direitos culturais. O reconhecimento do espaço oficial e institucional merecido às manifestações artísticas e culturais dos diversos grupos étnicos ou sociolinguísticos que habitam Angola. O desafio agora é operacionalizar o espírito do decreto.
segunda-feira, 10 de março de 2025
Depois de 1 mês no estrangeiro, frio inferior a 10ºC e chuvoso estrangeiro, o cidadão regressa à base e ao terceiro dia de chuva, curto-circuito no prédio gera apagão que vai na sua terceira noite, à luz de lanterna, 29.7ºC de temperatura dentro de casa, água por todo o corpo. E ainda conseguimos sorrir. Moral da estória, devia haver um ministério dos regressados 😆😄
domingo, 16 de fevereiro de 2025
Satisfação e gratidão por concluir no dia 12.02.2025 o Mestrado em Ciências da Comunicação - Especialidade de Comunicação, Marketing e Publicidade, na Universidade Católica Portuguesa, Lisboa

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
[inédito] POEMA EM CONSTRUÇÃO
POEMA EM CONSTRUÇÃO
Prometem chuva amanhã Chuva abundante destes céus É certa amanhã a chuva No altar das previsões, dizem Os homens que nos rodeiam E encerram de toda a parte Mas eu cá prefiro fazer a cama, mãe Antes embalar nas mãos do sono De chover entendem as mulheres O resto só fogos e canivetes Chuva estéril do decreto Nem na poesia mais se fia, mãe Quanto mais no LEAD Ultimamente! E segue o mundo avançado mudo Dos homens Gaza Grandes tão grandes Que sangram nas mãos O grito perdido da criança ferida Desperdiçando o dom Que era deixar quem de direito sangrar Sem violência para bem gerar Naquele lugar, bendito e frutífero local Dez meses menos um mais tarde Todo o saber sem idade é vaidade, mãe Amanhã talvez perceba o alcance Do chão cama que nos moldou Chão terra chão casa de barro Sempre faltou almofada E eu revolto sem te perceber Cada pedra que no lugar punhas Era um cágado afinal, e... “Kambeu ukulu”, minha mãe! Gociante Patissa | L. 06 Fevereiro 2025 | www.angodebates.blogspot.com
domingo, 26 de janeiro de 2025
Utilidade Pública | CANDIDATURA ABERTA NA AZULE ENERGY, VAGA NA COMUNICAÇÃO INTERNA
Eis o acesso ao site https://careers.azule-energy.com/job/Luanda-Internal-Communication-Senior-Advisor/1144605455/
quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Resgatar a identidade: Porque o nome 'África' merece ser escrutinado e uma possível alteração - Mail&Guardian
O nome "África" está profundamente enraizado na história europeia e na interação colonial. Os estudiosos remontam as suas origens à antiga nomenclatura grega e romana. Os gregos referiam-se à região norte do continente como Líbia, enquanto os romanos popularizaram "África", derivado do latim aprica (ensolarado) e do grego aphrike (sem frio). No entanto, inicialmente, este termo descrevia apenas as regiões setentrionais do continente, nomeadamente as terras sob influência romana, como Cartago, na atual Tunísia.
Longe de englobar os diversos povos e culturas do continente, o nome "África" surgiu como um descritor geográfico e climático baseado nas experiências e expressões europeias. A sua adoção em todo o continente foi em grande parte um subproduto da expansão e domínio coloniais.
O termo "África" é emblemático de uma experiência ocidental imposta ao continente. Não reflecte nem a autocompreensão nem as ricas identidades dos seus habitantes autóctones.
Nomes históricos como Bantu, Akan e Benin representam melhor o mosaico cultural do continente. No entanto, continua a ter um nome enraizado na conquista colonial e na interação europeia, perpetuando uma narrativa de dominação externa
https://mg.co.za/thought-leader/opinion/2025-01-22-reclaiming-identity-why-the-name-africa-deserves-scrutiny-and-possible-change/
sábado, 18 de janeiro de 2025
Crónica | HÁ CÓLERA NO PARAÍSO
Não podia esta crónica abrir sem expressar condolências sentidas às vítimas do surto de Cólera na periferia de Luanda, bairro Paraíso, município do Cacuaco.
Quando chove cada morador sabe onde lhe dói. No cacimbo também. Luanda é mesmo assim. Há séculos. Uma espécie de picante na língua, o seu doer é ao memo tempo o seu prazer. E a cidade cresce dentro e fora, nas paredes foguetão, na prece ubíqua, natalidade galopante, nas falas que mesclam o mosaico sociolinguístico bantu com o eixo português, mas não um qualquer português. Aqueele noosso, livre e solto da norma, da maiúscula, vogal fechada. A capital é nota dissonante, o bolso do agente que volta meio-cheio ao fim do dia a casa sem causa justa, a passadeira que só reconhece prioridade ao carro.
Luanda é também, como de resto faz crer em qualquer esquina, lugar temente, viveiro de fé e de esperança, fábrica de igrejas, profetas e religiões em série ante a sonolência da régua. Não é insólito que em pleno consultório médico o profissional salte da anamnese para a conversão do aflito paciente. Só que depois há o anoitecer que tudo desmente, o boletim policial na TV não podia ser mais carregado, criminalidade que não lembra o próprio diabo. Enfim. Dialoga-se bem com o Brasil e o Congo neste aspecto do marketing da fé, tanto cristo vendido, para tão pouca multiplicação da bondade, do bom senso.
Há uns anos um amigo de cá relatava jocosamente algo assim. Você a caminho do local de adoração com o seu Jeep, o outro motorista também com o Starlet dele bem podre raspa no teu carro. Aí vocês descem dos carros nos vossos fatos e gravatas. Vai para aquilo da tua mãe! Vai tu também! Normalmente. Depois cada um segue o seu caminho da igreja.
Por estes dias, tendo a consultar ainda mais o aplicativo de meteorologia no telemóvel (a pensar no melhor lugar para o carro e evitar a tampa defeituosa do ramal de esgotos, que cede à pressão e inunda o parque). Para hoje, dava 75% de probabilidade de chuva, por isso apressei-me a ir comprar frutas ao supermercado.
No caixa, à frente ia um grupo de chineses. Chegada a minha vez, saúdo. A senhora corresponde e logo atira: Eu gosto muito quando Deus opera maravilha! (Fiquei contente ao ouvir isso, imaginando alguma notícia do tipo Angola saldou de vez a dívida pública para com a China e já podemos contrapor os excessos decorrentes dessa relação com efeitos colaterais esclavagistas e mafiosos). Como?, insisto. Já viste que de manhã havia tanto calor e tanto sol que ninguém ia pensar na chuva, mas de repente escureceu, Deus operou maravilha? Contive-me para não retorquir que já ontem a tecnologia grátis previa essa chuva. Ora, na era digital a fé alheia à tecnologia se calhar contraria o “orai e vigiai”.
Gociante Patissa | Luanda, 18 Janeiro 2025 | www.angodebates.blogspot.com
sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
"ortografia de topónimos tradicionais não deve ocultar , camuflar ainda mais significados etimológicos e culturais"
"A polémica em Angola sobre as regras ortográficas da toponímia nacional de origem bantu, sobretudo no contexto da legislação normativa e da codificação territorial, não se resume ao problema de como escrever: Cuanza ou Kwanza?; às dúvidas sobre letras “K” , “W” e “Y” serem estrangeiras à tradição ortográfica latina e portanto proibidas ou – antes pelo contrário – serem cientificamente recomendadas para representar fonemas em nomes próprios africanos no país da lusofonia oficial. O motivo bem transparente do debate era e, a meu ver , continua a ser , a preocupação (o dever) de preservar o património cultural, a memória colectiva local, e a identidade dos angolanos codificada e enraizada nos topónimos. Os topónimos constituem uma parte do património imaterial de cultura justamente porque são chaves da memória e cultura, âncoras da identidade, e também simbolizam emoções (Tichelaar 2012, UNGEGN 2015; Cantile & Kerfoot 2016, Kostansky 2016a :426). Essas chaves, no decorrer do tempo, gastam-se, perdem a sua nitidez etimológica, a sua motivação semântica, reinterpretam-se, transitam para outras línguas . É um processo natural e universal, e a ortografia de topónimos tradicionais não deve ocultar , camuflar ainda mais significados etimológicos e culturais cobertos de pátina, alguns totalmente esbatidos outros ainda vivos e transparentes"
https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/132993/2/448409.pdf
"O provérbio é a síntese da experiência" - Abreu Paxe
"O provérbio é a síntese da experiência" (Abreu Paxe, escritor e docente angolano. In Caneta, TPA
2, 15.01.2025)
No sentido de que na relação interpessoal, na relação com o meio, os animais e com a natureza de modo geral, os povos, por serem elementos socioculturais, retêm as lições, impressões e referências para construir o provérbio, que geralmente encerra de forma poética a sabedoria popular. Ou a síntese da experiência.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
"A declaração de independência de um país é também um acto cultural" - Tony Nguxi, excerto
"A declaração de independência de um país é
também um acto cultural" (...)"E nós existimos. Como é que uma existência pode ser negada por uma lei escrita, quando a prática é também uma lei, é um exercício que vai produzir a necessidade de comer, a necessidade de casar, etc?! Portanto isso já existe e está regulado."
Tony Nguxi, músico/locutor angolano e artista africanista multifacetado (in Debate sobre Indústrias Culturais - Realidade Actual, TV Girassol, 13.01.2025)
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Porque falham alguns poemas?
"O desafio de um escritor é dar e tirar, dar e tirar. Ou seja, um jogo de sedução com a inteligência do leitor (...) o risco de um poema feito só só de sentimentos é tornar-se excessivamente banal. A racionalização do sentimento é a criação de uma sensação de forma, formalidade. Eu dou uma analogia com a cirurgia, se quisermos. O objectivo de uma cirurgia reconstitutiva (plástica) é fazer o trabalho escondendo a cicatriz. O trabalho seria a racionalidade do poema, a cicatriz seria o sentimento. Ele está lá e ela está lá, mas não deve ser de todo aquilo que é mais evidente. Deve ser a razão a transportar a emoção e, no meu entender, não o contrário"
João Luís Barreto Guimarães (escritor e cirurgião português), in RTP, 08.01.2025
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
Crónica | A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E O DEDO DO KWANYAMA
Abri o ano respondendo a uma pesquisa internacional direccionada sobre algo intrigante, porém cada vez
mais transversal em nossas vidas, como só a Inteligência Artificial (AI).
Enquanto estruturo o pensamento, lembro-me de um dito popular Kwanyama (ou os da carne, grupo sociocultural que habita de um lado e de outro da fronteira que separa as repúblicas de Angola e Namíbia). Em termos aproximados, reza esse dito que o que mata um boi não é a arma (branca, de fogo, o que seja) e sim o dedo que indica, como veremos.
O que mais há a dizer em se tratando de um tema global, mais que um novo normal da era digital e dos telemóveis inteligentes? Afinal, todos os dias consumimos notícias de mais investimentos destinados ao impulso da AI na saúde, educação, ciência, indústria.
Habita-me mesmo uma espécie de sentimentos mistos quanto à Inteligência Artificial, mas não generalizo, sei que há uma vasta gama de possibilidades para o seu uso. As reticências prendem-se com o segmento de criação e desenvolvimento de conteúdos. Como alguns saberão, sempre estive envolvido sobretudo com a escrita (criativa, jornalística e académica). E posto isto, concebo a escrita como um processo mental.
A AI é uma boa ferramenta quando utilizada de forma complementar, porém já tende a ser popularizada como o cerne da questão. E é ali que vejo nebulosidade, na medida em que, entendo eu, se requer algum nível de competência para a pessoa julgar/avaliar os resultados (textos). Se tudo o que a pessoa sabe fazer é dar “Prompt” (comando), se for a única aptidão que alguém aprimora, parece pois inevitável o vácuo na consistência. Intriga-me a confiança cega depositada por vezes no que as ferramentas de AI propõem.
Estive recentemente no Médio Oriente para o curso de uma semana sobre a AI na actividade de Relações Públicas (Comunicação). Lá conheci um entusiasta sírio que, conta ele, gere a sua empresa totalmente com base em aplicativos de AI. Planificação estratégica, contabilidade, interacção com clientes e entregas. Só ele e o telemóvel.
A questão é: confiar cegamente só porque é resultado gerado por AI? No decurso do Mestrado numa das universidades de topo na Europa, chegou-nos a informação de terem sido apanhados quatro candidatos a PhD com tese de doutoramento ilegítima. Agrava o facto de as ferramentas de AI não fornecerem referências (fontes).
Sempre que posso evitar o uso de AI no meu dia-a-dia como Editor de Conteúdos na área de Relações Públicas ou Comunicação Institucional/Estratégica, evito. Se conheço as nossas limitações e relaxo recorrendo às sugestões da AI, o risco é estagnar, creio eu. Haverá sossego ético em colocar na boca dos nossos gestores um conteúdo não autêntico?
Ora, criar conteúdos não é apenas sobre como ter as coisas feitas e rápido, mas também sobre o porquê de ter sido feito de uma determinada forma. Quando peço à AI que crie uma mensagem, não saberei que critérios a ferramenta seguiu. É este o desafio, embora ciente de que a AI veio para ficar. No fim das contas, a Inteligência Artificial ainda é sobre o quão competente o ser humano que a manipula é. O que mata o boi é o dedo que indica.
Gociante Patissa | Luanda, 07 Janeiro 2025 | www.angodebates.blogspot.com | Imagem: AI
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Crónica | “ISTO ERA”
A alma das localidades reside nas várias camadas que pintam suas vivências e referências. O que foi, o que deixou de ser e o que era para manter qual fio do novelo para ligar novas narrativas, novos protagonistas, peças de uma mesma miçanga. E se há quem ama de verdade uma determinada cidade, há que sublinhá-lo, são as gentes da periferia. Só elas sabem o valor de tomar banho e trilhar quilómetros para apreciar a baixa, suas montras, o parque industrial, seus ricos, fazendo cada um desses ires e vires um acontecimento.
Certa vez, recolhida a bagagem no pobre aeroporto da província, abundante província de chuvas e chuviscos sem aviso prévio, apressámo-nos em ocupar os bancos do Land Rover de volante à direita, na porta boneco de criança vermelha, antena gigante no focinho do rádio VHF. Um rádio de se dizer com pulmão de pitbull no modo de roncar, misturado com uma resma de termos estranhos, uns quantos alfas, tangos e sierras e copiados e afins.
No lugar de co-piloto ia uma cinquentona alta, esbelta, cabelos loiros, luzir prateado na dentadura, entre a cura e a estética. Era Susan Dow, australiana chefe da consultoria que nos aguardava para 30 dias ao serviço da Save The Children UK. Recrutara alguns de nós na sequência de um seminário havido em Luanda, sobre a intervenção baseada no direito versus a intervenção baseada na necessidade.
Fazíamo-nos ao Huambo pela primeira vez num contexto em que o País ensaiava a transição da emergência para o desenvolvimento, com o Programa Alimentar Mundial (PAM) na iminência de dar por finda a pertinência da assistência humanitária às populações do interior da província, muitas das quais regressadas da Zâmbia. Em Outubro de 2005, nos três anos que se seguiram ao fim das três décadas de guerra civil era impensável desafiar as quatro centenas de crateras que moravam no lugar do asfalto ido de Benguela. De peixe não salgado só o carapau das peixarias, que sabia a sal e cheirava a metal, tais eram os longos meses que o pitéu passava nas câmaras de congelação.
A nossa cicerone fazia um ponto prévio, assente no trauma das palavras-chave do cicerone de quando ela conhecera a cidade, altura em que tudo sobre a vida da localidade se narrava no pretérito imperfeito. “Isto era”. Contava a mulher que ao fim de duas horas, já lhes doía a cabeça. Huambo era a cidade do “Isto era”. Com as devidas distâncias, ultimamente o Lobito, "cidade em marcha" ontem, tende a beirar o idêntico.
A conduzir da zona alta para a baixa, a retina cobra contentores de lixo. A tentação de ligar e choramingar ao novo Administrador, nosso amigo por sinal, coça. Nada grave, só a modalidade mudou, agora é recolha de moto porta-a-porta. Isto era Angases, indústria de oxigénio e afins, agora é loja do eritreu. Isto era era Indagro, concessionária de Mazda, agora só o pó manda. Isto era Zuid, gigante de electrodomésticos. Isto era restaurante célebre junto à Casa do Pessoal do Porto do Lobito. Isto era Stand Foto, isto era Foto Cine, isto era Angola Telecom. Isto era Avozinha Trading. Isto era Tamariz. Isto era…
À cidade do Lobito já só pedimos que nos ajude a ajudá-la a envelhecer com dignidade.
Gociante Patissa | 25 de Dezembro de 2024 | www.angodebates.blogspot.com
sábado, 21 de dezembro de 2024
Prenda de fim de ano: escritor angolano Gociante Patissa disponibiliza para download grátis PDF de suas obras de prosa e poesia
A quem possa interessar, reiteramos a habitual prenda de quadra festiva disponibilizando para download grátis o link wetransfer https://we.tl/t-iDRiAz4f3U (válido para 7 dias a contar de hoje) com obras no formato PDF do escritor angolano Gociante Patissa, que por acaso ainda não sei bem quem é o tipo 😂🔥 Festas felizes a todos e todas
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
Lançada 8.ª edição da Revista "Tuba! Informe" do Ondjango Feminista
A convite da Xano Maria, que faz parte da liderança do Ondjango Feminista, assisti hoje, no Elinga Teatro, Luanda, ao lançamento da oitava edição da Tuba! Informe, uma colectânea de ensaios com periodicidade anual. Para a edição 2024, em formato de livro impresso com 82 páginas, o tema escolhido é “Pobreza, Igualdade, Género: Um olhar sobre os Diretos das Mulheres”.
Acompanhei com atenção especial as prelecções e inquietações à reflexão social feitas por membros da organização feminista e por três das sete autoras que assinam os ensaios, sem esquecer o lindo poema de abertura recitado pela jovem Joyce Zau. Florence Kapita, com um ensaio sobre o Custo de Vida, coloca Benguela no mapa do crivo das políticas Públicas, ao passo que a kamba Leopoldina Fekayamãle consta da ficha técnica pela edição e revisão.
Como a sessão começou com algum atraso, não consegui ficar até ao final nem degustar aqueles kitutes típicos de fortalecer laços (o famoso networking), mas deu para sair de lá com a esperança renovada no poder da sociedade civil enquanto movimento de pressão produtor de pensamento crítico de qualidade. É um sector que conheço bem e foi a escola de muitos de nós, num contexto socioeconómico e sociopolítico mais complexo e menos arejado do que o actual. Isso mesmo cuidei de transmitir à Xano Maria, pelo impacto social do projecto e da Tuba!
Gostei ainda mais do facto de o livrito ter distribuição gratuita, o que me ilibou em certa medida. Afinal, não sou o único utópico que advoga gratuitidade no acesso à informação e análise, ainda que para tal se utilize acabamento tipográfico simples. Foi de resto a bandeira do Boletim Informativo A Voz do Olho, veículo que de 2003 a 2010 produzimos na AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade), com sede no Lobito, província de Benguela.
Gociante Patissa | 13 Dezembro 2024 |
Foto: selfie do mano Guilhotina Verbal, um rapper lobitanga emprestado às burocracias e geografias luandenses.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
sábado, 7 de dezembro de 2024
quinta-feira, 28 de novembro de 2024
[poema inédito] LETRA ÁRABE NA AREIA
LETRA ÁRABE NA AREIA