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Faca de Dois Gumes

Chapter 3: Capítulo 3

Notes:

Sim, demorei muito pra postar. Me desculpem por isso, juntou temporada de competição (sou atleta de médio rendimento) com crise depressiva e ficou muito difícil conseguir escrever. Mas aí está!

AVISO DE CONTEÚDO: heterossexualidade compulsória/lesbofobia internalizada

Chapter Text

Fiquei sentada na beira da caverna, observando o Lago do Vaqueiro durante a chuva. A Caverna do Laço era grande e funda o bastante para que eu, Rosalind e os cavalos nos abrigassemos com folga. Por algum motivo, Rosa tinha uma lamparina com óleo que usou para termos alguma fonte de luz.
— Me deixa ver seu braço, Mel.
A voz de Rosalind me trouxe de volta dos meus devaneios para um braço muito dolorido. Olhei para ele e percebi que minha blusa estava rasgada e com bastante sangue. Ela estava de joelhos do meu lado, segurando meu braço delicadamente, observando o ferimento.
— O que…?
— Foi um tiro de raspão. Vou cuidar disso.
Eu a observei enquanto ela se levantava. Ela parou por alguns segundos… Então foi até seu cavalo, de onde tirou uma bolsa. Ela voltou com um sorriso de canto no rosto.
— O que? Achou que eu ia rasgar meu top e fazer uma bandagem? Eu ando com algumas sempre.
Senti minhas bochechas esquentarem.
— Por que você anda com bandagens por aí?
— É uma boa medida quando você é o saco de pancadas favorito dos Pacificadores.
Ela se sentou ao meu lado, tirando a manga da minha blusa xadrez com um puchão. Ela tirou um frasco com um líquido transparente e olhou para mim.
— Vai arder um pouco, ok?
Assenti, logo antes dela derramar aquele líquido em meu braço. Cerrei os dentes sentindo o braço queimar. Eu sabia que era álcool para limpar o máximo que dava naquelas condições.
— Então… Você e Aaron estão saindo?
Olhei para ela com uma sobrancelha erguida.
— Como…?
— Eu ouvi ele te chamar, por isso perguntei se você queria ir dar uma volta. — Ela disse depois de terminar as bandagens. Eu desviei o olhar.
— Nós estamos conversando.
— Não parece ter ido tão bem assim pra você ter fugido correndo.
— A gente… Ainda ta tentando se entender.
Rosalind balançou a cabeça, levantando para guardar seu kit de primeiros socorros.
— Não sei porque você continua nisso.
— Aaron é um cara legal, de uma boa família…
— E é um homem.
Me levantei, irritada.
— Talvez ele seja uma exceção, não? Não é porque…
Parei no meio da frase, notando a mágoa nos olhos de Rosalind. Apertei os lábios, me sentindo culpada mas ao mesmo tempo querendo que ela me entendesse.
— Eu não entendo porque isso, Melissa. Não é como se as pessoas fossem nos apedrejar por isso.
— Mas eu quero ter filhos, eu quero poder ter minha fazenda, meu casamento abençoado por todos Os Santos…
— E uma mulher não poderia te dar isso? — Rosalind falou com uma voz um pouco mais alta e me calei. Lágrimas escorriam dos seus olhos.
— Eu quero ter filhos…
— Órfãos podem ser adotados e criados como filhos. — Ela chegou perto de mim, encostando a testa na minha e segurando minhas mãos junto as suas. — Eu posso te dar a fazenda mais linda que o Distrito 10 já viu. Vamos tirar licença para ter a criação que você quiser. Ovelhas, vacas, cavalos… Porra, eu daria um jeito de ter uma licença de criação de faisões e pavões se você me pedisse. Os Santos iriam abençoar da mesma forma.
Eu levantei meus olhos para ela, também chorando.
— E se as pessoas me odiarem?
— Ninguém te odiaria, abelinha. Ninguém tem nada a ver com isso.
Quando dei por mim, ela estava me abraçando forte enquanto eu chorava copiosamente. Ela beijou o topo da minha cabeça, afagando meus cabelos.
— Porque não dormimos um pouco? Amanhã te levo na cidade pra olharmos melhor esse tiro de raspão ok?
Assenti para ela. Fomos para uma parte da caverna que não estivesse tão úmido e nos deitamos, ela com o braço ao redor dos meus ombros enquanto eu me recostava em seu peito.
— Você me daria uma fazenda de qualquer animal? — Perguntei, a voz ainda chorosa. Pude sentir ela sorrir.
— É claro.
— Quero uma fazenda de borboletas.
Ela riu de forma suave.
— E como iríamos ter uma fazenda de borboletas? Pra que a Capital iria querer elas?
— Não sei… — Respondi sonolenta, sentindo meus olhos pesarem. — Mas seria lindo.
— Então vai ser uma fazenda de borboletas que eu irei te dar. — Ela sussurrou, enquanto os sons dos trovões e dos ventos embalavam meu sono.

 

Quando acordei na manhã seguinte, Rosalind não estava ao meu lado. Levantei assustada, mas vi Fúria, seu cavalo, amarrado em um galho do lado de fora, pastando pacientemente. Me levantei e fui devagar para o lado de fora, colocando a mão na frente dos olhos para que o sol quente não me cegasse. Rosalind estava do lado de fora comendo uma toranja. Ela olhou pra mim por cima do ombro e sorriu, fazendo com que a sombra que achei que tivesse visto em seu rosto sumisse, mostrando outra toranja em sua mão.
— Bom dia, dorminhoca. Café da manhã?
Sorri para ela, me sentando ao seu lado e pegando a toranja.
— Tem ideia de que horas são? — Perguntei enquanto comia. Ela olhou para cima, procurando o sol.
— Umas oito horas, no máximo. Da tempo de ir pra Ferradura e voltar pra sua casa antes do almoço.
O sol iluminava os cabelos vermelhos de Rosalind de uma forma adorável. E por um momento, eu voltei para os verões onde eu e Rosa vinhamos para o lago nadar, comer toranjas e colher flores. Eu queria poder parar o tempo exatamente naquele instante, onde nenhuma de nós iriamos nos preocupar com Jogos ou qualquer outra merda do gênero.
Depois de um tempo me levantei e comecei a tirar a blusa. Rosalind quase se engasgou com a toranja, ficando da cor dos seus cabelos.
— Melissa, o que…?
— A gente já ta aqui mesmo. Ia ser um desperdício não nadar um pouco. — Eu respondi sorrindo, tirando os shorts. Então corri e pulei no lago, a água gelada abraçando meu corpo.
Quando voltei a supercífie, Rosalind estava sorrindo, já sem a calça jeans e tirando o top. Ela pulou na água causando uma explosão de água, e emergiu jogando água em minha direção, tal qual quando éramos crianças. Eu ri, nadando para longe dela. Então olhei para trás e não a vi. Minha espinha gelou por um momento.
— Rosalind…? — Perguntei em um sussurro. Então aumentei um pouco mais o tom — Rosalind?!
Então algo agarrou meu pé e senti me puxar. Soltei um grito, me debatendo antes de Rosalind ressurgir na minha frente rindo.
— Calma, foi só uma piada.
Empurrei ela de leve.
Ela deu de ombros, chegando mais perto de mim e encostando sua testa na minha.
— Desculpe, só queria brincar com você. — Ela sussusrrou, passando as mãos pelo meu rosto e pescoço. Um arrepio correu minha espinha e eu suspirei, fechando os olhos. Seus lábios encostaram nos meus, sua mão me puxando mais para perto.
— Você sabe que não tem chance alguma de fazermos alguma coisa aqui né? — Eu sussurrei enquanto ela beijava meu pescoço. Ela riu e se afastou.
— Tudo bem, é justo. Vem, a gente deveria voltar logo. — Ela disse nadando em direção à margem do lago.
Depois que cheguei, percebi que Rosalind estava parava, meio vestida, olhando para algum lugar entre as árvores.
— Rosa…?
Ela levantou a mão para que eu ficasse em silêncio, olhando para os arbustos com uma intensidade que nunca tinha visto antes. Sua outra mão estava segurando o cabo de uma faca presa em sua calça.
Então uma pelagem apareceu entre os arbustos. Antes que eu pudesse falar para Rosalind que era apenas um coelho, a faca voou de suas mãos, se cravando no crânio do animal. Um grito involuntário saiu de minha boca e eu dei um passo para trás. Rosalind então olhou para mim e novamente a sombra que tinha visto em seu rosto desapareceu. Ela parecia uma pessoa diferente.
— Eu te assustei? Desculpa, eu… Eu só…
Rosalind estava a beira das lágrimas, tremendo um pouco. Sua respiração estava totalmente irregular. Ela então ela sentou no chão, ainda tremendo, chorando e abraçando o próprio corpo. Eu estava um pouco em choque, mas corri para pegar sua blusa jogada perto da margem do lago.
— Ei, Rosalind, o que houve? O que aconteceu? — Eu perguntei colocando a blusa ao seu redor. Ela continuava tremendo muito, com espasmos acontecendo pelo seus braços e pernas, a respiração totalmente irregular.
— E-eu… Eu não q-queria ter mat-tado… Eu….
Olhei em direção ao coelho, deitado na relva, então olhei para Rosalind novamente. Parecia algo relacionado as memórias dela de quando Rosa estava na Arena.
— Ei, nós estamos bem. Você está bem. Esse é o Distrito 10. Ninguém mais vai machucar você, Rosa. — Eu sussurrei, segurando suas mãos. Ela voltou seus olhos para mim. Meu primeiro impulso foi querer me afastar. Seu olhar era totalmente desesperado e doloroso, como uma presa ferida. Aos poucos, no entanto, consegui ver uma sombra de reconhecimento passando por seus olhos. Sua respiração, entrecortada e rápida, aos poucos voltou ao normal. Sorri para Rosalind, me ajoelhando em sua frente.
— Viu? Ta tudo bem. Esse é o Lago do Vaqueiro, no Distrito 10. Viemos pra cá durante a chuva ontem, dormimos na Caverna do Laço… — Tentei pensar mais coisas que pudessem de alguma forma ajudá-la a lembrar onde estava. — Sou eu, Melissa, sua melh…
— Não ouse se referir a si mesma como minha melhor amiga. — Ela sussurrou, os ombros parando de tremer aos poucos. Senti minhas bochechas corarem, mesmo que mais ninguém estivesse ali conosco para ouvir.
— Você quer discutir isso agora? Mesmo?
Ela então dirigiu a mim um sorriso fraco.
— Não. Mas nem pense em falar assim se estamos só nós duas.
Rosalind então recostou-se em uma árvore, de olhos fechados e rosto voltado para o céu, respirando fundo várias vezes. Eu afrouxei um pouco minha mão na dela, mas senti um leve apertão de Rosalind.
— Fica. Você me acalma. — Ela sussurrou.
Sem saber bem o que fazer, me sentei ao lado dela, a observando.
— Isso acontece com frequência? — Perguntei, observando seus musculos pararem de tensionar.
— Menos do que quando eu cheguei.
Assenti, mesmo que ela não pudesse me ver. Naquele momento, só sentia raiva. Nunca tinha visto Rosalind assim desde que nos conhecíamos. Nunca tinha visto ela tão… Frágil. Rosa sempre fora a garota que batia nos garotos que tentavam puxar suas tranças vermelhas quando eramos crianças. Era sempre a menina que queria apostar corridas de cavalo com os rapazes, que falava palavrões em alto e bom som, que defendia os mais fracos de bullies. Ver ela assim, encolhida, tremendo…
Não que eu morresse de amores pela Capital antes, mas agora eu sabia que definitivamente os odiava mais que tudo.
— No que está pensando? — Ela me perguntou, me tirando do meu devaneio e me olhando de canto de olho. Dei de ombros.
— Nada demais.
— Que tipo de nada faz você ficar com essa cara de que comeu algo estragado?
Rolei os olhos, bufando. Odiava ser tão expressiva as vezes.
— Eu só… Eu odeio eles pelo que fizeram com você.
Rosalind se virou para me encarar. Seus lábios e nariz estavam vermelhos de chorar, seus olhos começavam a inchar. Mas ela sorriu para mim.
— A raiva é o que vai nos tirar desse buraco, Mel.
Desviei os olhos, mas ela segurou delicadamente meu rosto.
— Você não deveria ficar falando isso.
— Quem vai me ouvir aqui? Duvido que os Pacificadores estejam procurando a gente, eles tem coisas mais importantes pra se preocupar. Ladrões de gado, de carne, essas coisas.
Dei de ombros. Mesmo que soubesse disso, não queria ficar falando esse tipo de coisa em voz alta. Pra mim, todo cuidado é pouco.
— Bom, me sinto melhor. Sério, de verdade. Vamos — Rosalind disse se levantando, ainda com cara de choro, e terminando de se vestir. Suspirei, sabendo que não iria adiantar tentar convencê-la de ficar mais um tempo ali. Terminei de colocar minhas roupas, fui até meu cavalo e montei, seguindo o trote rápido que Rosalind tinha colocado seu cavalo para andar.

A Ferradura tinha o formato de… Bom, uma ferradura. Era ali que estava a prefeitura, bem no meio, a escola, algumas lojas que nós moradores dos campos jamais teríamos dinheiro para comprar diariamente, algumas poucas casas e, em uma das pontas, a entrada da tal vila dos vitoriosos que eles tinham decidido construir uns três anos atrás. Rosalind havia ganho uma casa espaçosa ali para morar com os pais e seus quatro irmãos, mas eu não tinha estado lá ainda. Tinha visto de fora apenas.
A casa branca tinha dois andares, cerca branca, uma tentativa de gramado que já estava ressecando graças ao clima quente do Distrito 10 e telhado de telhas azuis. Era, no mínimo, uma casa simpática. Rosalind pulou a cerca e me deu a mão para me ajudar a passar, me levando até a porta da cozinha.
— Mãe, Mel foi baleada! — Rosalind gritou assim que abriu a porta. Arregalei os olhos e dei uma cotovelada em seu braço. — Ai! O que foi? É verdade.
Como imaginado, dona Flora surgiu afobada na cozinha, o cabelo ruivo preso em um coque. Ela usava um avental sujo de tinta, o que significava que ela tinha voltado ao seu hobby de pintar quadros. Uma mancha de tinta verde estava em sua testa.
— O que???
— É, de raspão no braço. Queria o kit de primeiros socorros. — Rosalind disse dando de ombros, se encostando no batente da porta. Dona Flor fechou a cara, jogando uma toalha que estava no ombro no rosto de Rosa.
— Ficou maluca de chegar gritando isso em casa? Eu poderia ter morrido do coração Rosalind! — Ela então parou e olhou para mim, que estava timidamente encostada na bancada da cozinha, abrindo um enorme sorriso. — Oi querida, como vai? Bom te ver de novo! Vou buscar o kit ok? Sente-se e me deixe olhar isso.
Sentei em um dos bancos e olhei ao redor, admirando a cozinha da nova casa. Era bem espaçosa, com eletrodomésticos de ponta diretamente da Capital. Ela só… Não parecia uma casa. É uma coisa estranha, mas aquela casa não parecia uma casa. Era tão limpa, branca e clara, sem nenhum traço de personalidade. Eu lembrava da antiga casinha de Rosalind, que mesmo não sendo grande era cheia da personalidade da família, com quadros de dona Flora pela parede, brinquedos dos irmãos espalhados pela casa… Essa era apenas um espaço sendo usado para eles dormirem.
— Sua casa nova é bem…
—- Merda?
—- Eu ia dizer que é bem bonita, na verdade.
Rosalind rolou os olhos e se sentou no balcão.
— É, acho que sim. Mas não parece minha casa. Não é minha casa.
Toquei suavemente seu joelho, vendo aquela sombra passar novamente por seus olhos. Mas tão rápido quanto ela apareceu, a sombra sumiu e ela sorriu pra mim.
— Minha família ainda mantém a fazenda. Posso te levar lá, qualquer dia desses.
Sorri ainda mais para ela, deitando a cabeça em sua perna.
— Por favor. Sempre gostei da fazenda da sua família.
Dona Flora então chegou com uma enorme caixa branca, que colocou em cima da bancada enquanto dava um leve tapinha no braço de Rosalind para que ela saísse.
— Nada de sentar em cima da bancada, pode sair.
Rosalind saiu rindo, se encostando de novo no batente da porta.
Dona Flor tinha estudado para ser médica, mas largou a carreira quando se casou com o pai de Rosalind, Enrico. Ela costumava atender pessoas mais humildes que não tinham como pagar por um médico, mas não sabia se ela continuava fazendo isso agora que morava na Ferradura.
Ela tirou a atadura e prontamente passou alguma coisa que fez com que eu me encolhesse de dor.
— Eu sei que arde, mas é pra limpar o ferimento ok? Você deu sorte, foi realmente um tiro de raspão e não tem muito mais o que fazer além de limpar. — Ela me entregou um pequeno frasco. — É álcool. Vai arder, mas seria bom você limpar pelo menos uma vez por dia, principalmente depois do trabalho. Pode bater aqui em casa se acabar antes de cicatrizar.
— Claro. Obrigada, dona Flora.
— Não precisa me agradecer querida. — Ela disse sorrindo e se levantando. — Vai ficar pra almoçar? Enrico foi comprar um pouco de carne.
Comprimi os lábios e olhei para Rosa. Flora provavelmente entendeu o que meu silêncio queria dizer, porque suspirou e olhou para Rosalind.
— É claro que os pais dela não sabem que Mel está aqui.
Rosalind suspirou.
— Eu vou levar Mel pra casa.
Flora cruzou os braços.
— Não vai não. Depois que ela chegar em casa, você vai estar sozinha. E se aqueles Pacificadores quiserem bater em você de novo, hein? — Flora olhou para mim com pesar nos olhos. — Desculpe querida, é só que…
— Rosalind me contou. Não se preocupe, eu posso voltar sozinha.
— Mas ela não precisa voltar sozinha, eu vi o cavalo do irmão dela na casa da Dove!
Nós três olhamos para a direção daquela voz, que vinha de um dos irmãos mais novos de Rosalind, Bugs. Bom, claro que o nome dele não era esse, mas não existia criança no Distrito 10 que conhecesse mais sobre insetos que ele.
— Oi Bugs! — Eu disse sorrindo e indo até ele. Bugs tinha 10 anos, densos cachos alaranjados e sardas por todo corpo. Ele sorriu para mim, deixando a mostra a janelinha que seu dente de leite tinha deixado. Me ajoelhei na sua frente. — Meu irmão ta na Dove?
— Sim! Eu vi o cavalo dele lá. Eu te levo se você quiser.
Rosalind foi até ele, dando um leve peteleco em sua testa.
— Eu vi ela primeiro, tampinha. — Ela olhou para a mãe. — Acho que vou estar segura levando ela até a casa da prefeita e voltando, mãe.
Dona Flora suspirou, passando a mão nos cabelos.
— Tudo bem. Mas seja rápida. — Ela se virou pra mim mais uma vez, sorrindo docilmente. — Venha almoçar conosco qualquer dia desses, está bem? Sinto falta de você correndo por essa casa como quando vocês eram crianças. E traga sua família, muito tempo que não os vejo.
Assenti sorrindo enquanto seguia Rosa para fora.
— Ela parece bem preocupada com você. — Eu disse enquanto ela abria o pequeno portão da cerca. Rosalind deu de ombros.
— Não tenho como julgar ela, levando em conta que eu chego dia sim dia não machucada.
— Você precisa aprender a controlar essa língua. — Eu disse olhando para ela. Rosalind parou por alguns segundos, abrindo a boca pronta para retrucar. Mas então ela apenas suspirou e voltou a andar.
— Esquece, você não entende ainda.
E com isso nos encaminhamos em um silêncio não tão confortável até a prefeitura.