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Cimento Armado

maio 2021

as vezes me sinto tão cansada que perco a linha dos pensamentos. ultimamente, mais do que nunca, tenho odiado tanto as pessoas. mesmo não sendo muito de odiar ninguém. estou exausta de ser boa o suficiente e, em troca, esperar o mínimo. o mínimo de respeito, de consideração, de empatia, de responsabilidade afetiva. o mínimo do mínimo. estou cansada das desculpas perdidas em meio a uma frase padrão. estou cansada de dizer que ficou tudo bem, que foi tudo bem e está tudo bem. nada ficou bem. as pessoas machucam, arde, cospem e pedem perdão. como se fosse apenas uma palavra. elas voltam e se justificam como se estivessem em uma corte. mas nunca se dão por culpadas. os erros são sempre massageados por teorias egocêntricas demais. estou com os braços cansados de tentar segurar todo mundo na palma da mão enquanto todos fazem merda. e voltam para dizer que não foi a intenção. eu não sinto muito por nenhum sentir muito. exausta demais para passar a mão na cabeça igual o mundo fez com vocês. as pessoas não fazem isso comigo. eu não retorno aos meus erros. eu enterro eles. enquanto isso, aguento gente revivendo a própria versão dos fatos. os acontecimentos são maleáveis em uma realidade paralela onde o próprio importa mais que o outro. nunca precisei passar por cima de ninguém para ter coragem de ser. e me canso a cada brando coletivo que expressa a mediocridade humana que sabe fazer crítica social no papel. se você não tem coragem de assumir seus erros, como quer mudar o mundo? cansei de aceitar desculpas mal ditas de homens malditos. as vezes, eu só queria paz disso tudo. e que os erros deles não recaíssem sobre mim. eles acham que me devem desculpas. mas devem mais do que isso.

21/05/21

tenho eu

e uma mochila que cabe tanto. até o que eu não sabia. de vez quando, deixo os pesos maiores para trás, abrindo espaço para um novo útil. e vem um destino novo. que já é lindo.

sigo na vida fazendo o exercício diário e consciente de olhar para ela com um toque de leveza a cada pessoa meu. para que minha criança interna não entre em colapso. daí eu fico em paz. porque parece ser cada dia a mais, e não a menos.

tu sabe para onde quer ir

mesmo no escuro

sem saber se vai dar?

eu vou

notas avulsas. maio de 2020. me falaram que esse negócio de mapa astral ajuda

saturno de volta e eu tento requebrar com seus anéis.

entendi que eu tenho que fazer tudo.

minha lua em peixes está escondida porque, segundo esse negócio, meu sol em gêmeos é explode e implode. daí falaram que é por isso que sou complicada. mas na real zé, tenho mais é que vazar por aí. sou cheia de água.


mas tem tanta gente rasa.

notas avulsas. dezembro de 2020.

e eu

e eu, borboleta

quem é que voa por mim?

escrevem tantos poemas para todos

mas e eu, borboleta,

quem é que vai lembrar de mim?

(notas avulsas. 25/10/20)


já se passaram quase trinta dias daqueles quase seis anos que você me machucou. seis de que, lentamente, eu me perdi de mim. de súbito, consegui abrir a porta da coragem e dela saiu sangrando eu e você.

você, que volta e meia acordava comigo e me fazia carinho.

eu, que nem sabia quem era quando não te tinha mais nessa troca injusta nossa.

já se passaram quase trinta desde que minha água em demasia virou mar no chão de sua casa, molhando tudo. também fazem mais de trinta desde que reaprendi a nadar sozinha e buscar o ar que me falta.

você encontrou em mim um corpo vazio e me deixou afundar igual âncora. mas, em verdade, até achei beleza aqui no fundo.

espero um dia te perdoar, porque tudo era breve.

(01/05/21)

quanto mais revejo minhas escolhas

mais sinto alívio junto delas

como é bom se deixar ir

(o seu último texto)


hoje assisti pela milésima vez Comer, Rezar e Amar e escutei algo que fez muito sentido após semanas conturbadas. a Liz disse “o sofrimento é a consequência de que você tentou”. decidi escrever esse texto, mais para mim, dizendo que tentei, verdadeiramente, fazer o meu amor dar certo. porque ele era certo. eu amei de forma genuína e pura. entreguei e compartilhei o meu sorriso mais íntimo, assim como meu coração e meu corpo. tentei entrar em cada roupa que o seu mundo me dava. e tinha felicidade ao ver que meus amigos e familiares viam amor. eu estava tão desesperada por esse sentimento que aceitei muito, até o que ele não era. engoli as vezes que voltei para casa chorando me perguntando o que havia de errado em mim. ou quando deixei de ver os meus amigos para ver os seus. também as brigas e as discussões que acabavam pior do que começavam. você disse que eu era complicada demais e não iria para frente.

vi que o amor não é ódio. e por mais que as vezes eu tivesse muita raiva, nunca tinha sentido esse amargor. mesmo quando você descontava em mim sua raiva do mundo e eu tentava entender. o meu amor não era dependência. eu escolhi te amar e depois, não querendo, continuei. após a minha dignidade ser pisada, ainda tenho o meu amor. só não sei se a pessoa que amei existiu.

o meu amor nunca foi egoísta. vi que não tem como desamar. a gente só coloca os sentimentos na caixa da vida, segue e pode encontrar um amor maior no caminho. na ausência, notei que muito do nosso tempo junto foi por medo de ficar pior separado. era como um pacto: a gente podia ser infeliz para sempre, já que os momentos de felicidade eram efêmeros. eu podia me apegar a acontecimentos bons e transformar os fantasmas que encarava no espelho quando você ia embora. durante muitas horas, desejei nunca ter amado ninguém.

outro ensinamento de Liz é que amor não é dor. pode ter sofrimento, mas ele não machuca. o término da gente não era o término de mim. então, lidei da melhor forma que podia. nessas últimas semanas, ver que o amor entregue foi reduzido a nada, doeu. porque a gente dá a melhor parte que há em nós esperando, no mínimo, respeito, mas nem isso se cultivou. eu via em você o que queria loucamente que alguém visse em mim. e sorria com o coração.

o meu amor nunca foi falho. quando percebi que você jogou no lixo o que a nossa história te deu, isso manchou ele. o seu ego fez o meu jardim não ter espaço. e, assim, você destruiu as sementes deixadas quando fui embora. eu não me arrependi um dia por ter escolhido quebrar o laço, mas me arrependo hoje de ter esperado você voltar com o resto de mim que eu sentia falta e que fez coisas lindas. porém, nem isso você viu. só existia raiva na sua fala.

perceber o despejo da minha parte mais bela tem sido árduo. tudo o que você dá, para a pessoa errada, não vale nada. não tem como pedir perdão por ser quem se é. atualmente, você só está consumando o que sempre foi, estando em um lugar onde todos são iguais. essa roupa nunca me coube. assim, saí machucada e arrastada no chão. algo que nunca pensei que iria ocorrer com quem partilhei anos de convivência. mas, andei sozinha e o meu amor foi de mão única. mesmo não sendo egoísta, falho, torto. ele foi o melhor que eu podia entregar. e foi de verdade. isso dói mais que qualquer término.

hoje sei que o amor não é violento. o amor não é egoísta, traiçoeiro ou passageiro. e te escrevo essas palavras pensando ser a última vez.

o seu amor foi errado e somente seu. você é quem é. eu sou quem sou. e a vida se encarregará do resto. de mim, você não tem perdão, mas várias frases engasgadas no pescoço. esse foi o seu fim, escolhido por você. o meu, termina comigo, com o sentimento correto que cultivei e torcendo para não ter medo. porque amor nenhum é medo.


Lara

canarinhos-deactivated20210417:

tenho te escrito com calma

palavras em um bloco colorido

presente seu nunca usado

sempre tive pavor dos papéis

em súbito, arranco as folhas

e elas morrem comigo

talvez por preguiça ou algo mais

tenho medo da espera também

porque durante semanas

um animal horrível

vai me perseguir por dentro

ou ainda

serei o próprio animal

a me correr

se essas palavras fossem publicadas

não há resposta

tomo muito tempo tentando nomear

os bichos que sobem na cortina

e me tiram do castelo seguro

que criei

Novembro de 2020

mais do que pensas,

é uma imposição pessoal ser livre

e mais ainda do que isso,

torna-se minha capacidade de compreender

tantas amarras e dor

como é possível em meio a tanta flor brotar o cinza?

sinto a liberdade tocar meu esqueleto todos os dias. finjo que não penso, que não existe. mas cada passo meu, vem a necessidade da êxtase. como se fosse impossível viver pisando no mesmo chão. eu ainda quero sair por aí sentindo o vento no rosto. e cada vez que fecho os olhos, sonho com o dia de me pertencer. a coragem é abrupta e as vezes não ínfima. nada me basta, mas é tão difícil soltar.

dos dias que a gente se sabota

hoje vi não podia ser nada mais do sou. nada além disso. sufoca e dói.

não posso pertencer a um corpo que nunca foi meu. não posso querer mudar uma alma que nunca me preencheu. não posso segurar a mão de alguém que quis andar sozinho, por aí, descontraído.

não posso fingir que não gosto do que gosto. não posso ter medo de dizer o que penso. não posso anular a maneira que me preencho. é verdade, sempre fui grande demais pra gente pequena demais, mesmo que, quase todas as vezes, eu me veja como um grão de areia no meio do mar.

não posso dizer que li o que não li ou vi o que eu não vi.

a verdade é que nunca vou ser quem você pensa que sou ou quer que eu seja.

eu só sou o infinito do que posso ser.

se quiser usar palavras difíceis, tudo bem.

eu me contento com meu simplismo interiorano.

talvez minha alma seja leve demais e sozinha demais para querer sempre alguém por perto, por mais que eu romantize tudo que toco.

as vezes me apaixono por gente que nem nasceu, mas eu só imaginei diversos cenários inéditos antes de dormir.

porque no fundo, é tão gosto pensar nos possíveis caminhos.

mas te digo que não posso.

eu nunca vou ser nada além de mim.

nunca vou preencher a pessoa que te transborda e nem a fortaleza que você colocou.

meu castelo caí com qualquer vento e minha mãe sempre me ensinou a pegar os tijolos.

tô pegando um por um e construindo um castelo novo, sem idealizações, com cada rachadura e cicatriz. porque é isso que sou. tenho marcas espalhadas por cada centímetro de mim. mas você nem viu.

tudo bem, eu entendo que cada um idealiza o que pode. eu também sou assim.

mas hoje eu fiz as pazes comigo.

eu não vou ser nem aquela, nem a outra.

o dia que me enxergar, eu também decido te ver.

tu é o avesso do que esperavam, mas eu nunca te duvidei. em verdade acompanhei tu tirando os cacos encrustados na pele e fazendo poesia. tu fazia poesia com seus pedaços. e mesmo triste, ainda restava uma arte que vinha de dentro do peito. tu é daquelas almas que dizem obrigada mesmo com lamento. sei que você de vez ou outra se depara com um caco que deixou guardado. e sei que tu sabe que não é sobre fazer desaparecer todos eles, mesmo que tu queira. e eu te digo, vive, mesmo que com eles. mesmo passando da conta do vinho, tu ainda passa da conta também da verdade e da irreverência. já te vi dando tanto baile na vida e hoje penso que ela não ousaria te enrolar. tu sempre foi rio e mar. deságua nos outros e em si. e ainda sim, com muito medo de molhar, suas lágrimas caem dizendo: não se preocupa, tá tudo bem. nem te vejo e ouso dizer que te sinto. como um amigo precisando de uma mão, estendo a minha como se pudesse te levantar. mesmo que a gente caía junto. pelo menos somos de rir no buraco.

do tempo em que chorar é rir

sendo a diferença tão sutil

eu nem sei o que sentir

se amor é dor, é amor, ou só dor

sobre: algumas pessoas mal sabem a imensidão que são

algumas vezes enxerguei mais profundo, mergulhei fundo e bati

bati porque eu também tenho medo de voar

mesmo você me apresentando todo o céu

mas é amor, e doía

é amor, eu me perdia

amor? eu me submetia

só que eles não são melhores, maiores

eu me merecia

quando você para de se encolher

e escolhe se caber: é amor

se você vier me perguntar por onde andei no tempo em que você sonhava de olhos abertos

lhe direi: amigo, eu me desesperava

belchior