Talks by Rodrigo Cesar da Silva Magalhaes
O objetivo deste trabalho é analisar a consolidação de uma rede transnacional de médicos e sanita... more O objetivo deste trabalho é analisar a consolidação de uma rede transnacional de médicos e sanitaristas formada durante as atividades de combate à febre amarela nas Américas, identificando os seus personagens de maior destaque e apresentando algumas das suas principais realizações no campo da saúde internacional. Tal rede se constituiu em torno da figura do médico norte-americano Fred L. Soper, que em 1947 foi eleito Diretor da Organização Sanitária Pan-Americana (OSP). Sob a sua direção, as atividades da OSP se expandiram consideravelmente e a organização cresceu em tamanho e importância. Ele levou para o organismo sanitário interamericano uma vasta experiência em saúde internacional, sobretudo na América Latina, onde havia passado 23 dos seus 27 anos de trabalho no campo sanitário, como membro da Divisão de Saúde Internacional da Fundação Rockefeller, participando de campanhas contra enfermidades como a ancilostomíase, a malária e a febre amarela.
A eleição de Soper para a direção da OSP assinalou o controle da Organização por esta rede transnacional, que foi responsável pela proposição da Campanha Continental para a Erradicação do Aedes aegypti, uma tentativa de dar continuidade, no pós-Segunda Guerra Mundial, à campanha contra a febre amarela desenvolvida pela Fundação Rockefeller nas Américas nas décadas de 1920 e 1930. A Campanha Continental sintetizava as ideias e o modelo de campanha de saúde pública defendidos por esta rede transnacional, que giravam em torno da filosofia de erradicação dos vetores, desenvolvida por Soper, no Brasil, nos anos 1930.
A trajetória de Soper é um exemplo daquilo que recentes estudos no campo historiográfico na Europa e nos Estados Unidos designam identidade “transnacional”. Em tais estudos, o conceito de transnacionalidade é aplicado como uma forma de relativizar as fronteiras nacionais e a ideia de Estado Nacional sem, contudo, descartá-las. A perspectiva transnacional, então, embora não ignore a existência do Estado e dos condicionantes nacionais, procura ressaltar outras lealdades além daquelas advindas do pertencimento à nação. De acordo com ela, a atuação de Soper não pode ser analisada única e exclusivamente a partir de sua condição de “norte-americano”. A sua identidade no campo da saúde pública foi forjada na transnacionalidade, ou seja, no diálogo e nas interações que ele estabeleceu com os latino-americanos em geral, e os brasileiros em particular, o que lhe permitiu levar para o organismo sanitário interamericano profissionais com os quais havia negociado, trabalhado e interagido no período em que atuou nas Américas como dirigente da FR. A identidade transnacional de Soper configura-se, então, como uma instância constituída a partir de relações, interações, circulação, interdependência e diálogos, em um circuito que envolve pessoas, recursos, tecnologias e material biológico que extrapolam as fronteiras de nacionalidade e que, portanto, não podem ser dedutíveis dela.
O objetivo deste trabalho é analisar a Campanha Continental para a Erradicação do Aedes aegypti, ... more O objetivo deste trabalho é analisar a Campanha Continental para a Erradicação do Aedes aegypti, uma iniciativa da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para combater o vetor da febre amarela nas Américas, que caracterizou a sua trajetória institucional no pós-Segunda Guerra Mundial. Proposta pelo médico brasileiro Heitor Praguer Fróes – então Diretor do Departamento Nacional de Saúde (DNS) - na I Reunião do Conselho Diretor da Organização, realizada em Buenos Aires, em 1947, a Campanha Continental foi rapidamente aprovada, constituindo-se no primeiro e mais duradouro programa internacional de erradicação de uma doença já implementado. As suas origens, contudo, remontam à Campanha Mundial de Erradicação da Febre Amarela, idealizada em 1914 por Wycliffe Rose, o primeiro Diretor da Comissão de Saúde Internacional (CSI) da Fundação Rockefeller, e iniciada oficialmente em 1918, após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A Campanha da FR se desenvolveu entre as décadas de 1910 e 1930, nas Américas e na África, tendo sido marcada por uma série de inflexões até ser reformulada nos anos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e relançada, em 1947, sob os auspícios da OPAS, que atravessava um momento de expansão dos seus programas e recursos. Na época, a Organização era dirigida pelo médico norte-americano Fred L. Soper, um ex-funcionário da Fundação Rockefeller, com uma longa trajetória de atuação na América do Sul no combate à doenças como a ancilostomíase, a malária e a febre amarela. Desta data até o final dos anos 1960, a meta de erradicar o vetor da febre amarela das Américas foi perseguida, com maior ou menor intensidade, por praticamente todas as Repúblicas americanas. A Campanha Continental para a Erradicação do Aedes aegypti, então, deu continuidade à Campanha da FR contra a febre amarela, implementada no período entre-guerras, sintetizando as importantes transformações do pós-Segunda Guerra Mundial e sinalizando um novo padrão de relacionamento entre as organizações internacionais e o governo norte-americano, e os países da América Latina, especialmente o Brasil, com maior preponderância dos latino-americanos. A minha hipótese é que a Campanha Continental fortaleceu a cooperação interamericana em saúde, estreitando as relações entre as Repúblicas americanas no pós-Segunda Guerra Mundial. Assim, através da análise das origens, do desenvolvimento histórico, dos impactos e das controvérsias suscitadas pela Campanha Continental, com os seus avanços, retrocessos e inflexões, em diferentes contextos políticos e sanitários, eu pretendo discutir a crescente cooperação internacional em saúde que vai se estabelecendo nas Américas ao longo do seu desenvolvimento, bem como os impactos desta cooperação sobre o campo da saúde pública no Brasil.
Since the early years of the twentieth century, the countries of the Americas have established am... more Since the early years of the twentieth century, the countries of the Americas have established among themselves an increasing international cooperation in the field of health. The starting point of this process was the creation of the International Sanitary Bureau (ISB) in 1902, the institution which we know today under the name of Pan-American Health Organization (PAHO). The concern of the ISB to enhance the sanitary collaboration between the countries of the continent spurred the launch, in 1922, of the Boletín de la Oficina Sanitaria Panamericana (BOSP), an international periodical dedicated to the health issues in the Americas. Since its creation, the Boletín has become the principal vehicle for diffusion of new ideas, discoveries, programs and efforts in the field of public health in the Americas, sharing knowledge and experiences among all the nations of the continent. With the establishment of the Bulletin, the Americas have gained a singular communication vehicle in the medical press, which quickly became an indispensable tool to link the countries of the region around the promotion of health in national and international levels. In this way, from the analysis of the BOSP, my purpose in this paper is to discuss the increasing international cooperation in health between the countries of the Americas, as well as the transformations which passed the public health in the continent in the period from the early of the 1920s until the end of the World War II. My hypothesis is which in this period the BOSP has become the center and the vehicle for spreading a new sanitary approach and an essential tool for the articulation of the Americas in the area of international health.
Papers by Rodrigo Cesar da Silva Magalhaes
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2021
Resumo O presente artigo discute a adoção de modalidades de ensino remoto no contexto da pandemia... more Resumo O presente artigo discute a adoção de modalidades de ensino remoto no contexto da pandemia de covid-19 e a potencialização das desigualdades educacionais no Brasil.
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2021
Em 1930, Raymond Shannon, entomólogo da Divisão de Saúde Internacional (DSI) da Fundação Rockefel... more Em 1930, Raymond Shannon, entomólogo da Divisão de Saúde Internacional (DSI) da Fundação Rockefeller, verificou a presença, em Natal, do mosquito Anopheles gambiae, o mais letal vetor da malária na África. Nos anos seguintes, a espécie se alastrou por Rio Grande do Norte e Ceará, adaptando-se às condições geográficas e climáticas da região sem, no entanto, causar novos surtos de malária. Preocupadas com outras questões políticas e sanitárias, em particular a febre amarela, as autoridades brasileiras relegaram o combate ao "invasor africano" a segundo plano. As consequências não tardariam. Em 1938, o Nordeste foi palco da maior epidemia de malária já ocorrida nas Américas. É a história da chegada, do "alastramento silencioso" e do extermínio do Anopheles gambiae do Brasil, nos anos 1930, que nos conta o historiador Gabriel Lopes (2020) em seu livro O feroz mosquito africano no Brasil: o Anopheles gambiae entre o silêncio e a sua erradicação (1930-1940), lançado pela Editora Fiocruz. Fruto de sua tese de doutorado, vencedora do Prêmio Oswaldo Cruz de Teses 2017, na categoria Ciências Humanas e Sociais, o livro articula com sucesso os aspectos políticos e científicos, bem como os condicionantes históricos e sanitários, que contribuíram para transformar a questão em um importante projeto de cooperação sanitária internacional entre o governo brasileiro e a Fundação Rockefeller, materializada na criação, em 1939, do Serviço de Malária do Nordeste (SMNE). Inicialmente considerado uma emergência local e combatido de forma paliativa, o Anopheles gambiae se transformou, transcorridos oito anos desde a sua chegada ao país, em uma oportunidade privilegiada de realização de um experimento de erradicação. Na busca por reconstituir esse processo histórico, Gabriel Lopes dialoga com o campo dos animal studies, que tem espécies não humanas como objeto de suas pesquisas (Ritvo, 2002) e reflete Um experimento de erradicação do Anopheles gambiae no Brasil, 1930-1940
História (São Paulo)
This article analyzes the implementation and development of the United States Aedes aegypti Eradi... more This article analyzes the implementation and development of the United States Aedes aegypti Eradication Program from the mid-1950s, an event that marked the country's adhesion to the Continental Campaign for the Eradication of Aedes aegypti, launched by the Pan American Health Organization (PAHO) in 1947. This paper considers that the history of the Continental Campaign is a privileged moment for the understanding of U.S. foreign policy towards Latin America in the context of the Cold War.
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2016
História (São Paulo), 2016
RESUMO O presente artigo analisa as articulações que levaram à proposição da Campanha Continental... more RESUMO O presente artigo analisa as articulações que levaram à proposição da Campanha Continental para a Erradicação do Aedes aegypti, aprovada e implementada pela Organização Sanitária Pan-Americana (OSP) a partir de 1947, em um contexto marcado por uma crescente cooperação dos países latino-americanos na área da saúde. A análise parte da viagem que o médico brasileiro Heitor Praguer Fróes realizou aos Estados Unidos em 1943, relacionando-a com o papel de destaque desempenhado por ele na proposição da Campanha Continental. A viagem de Fróes e os seus desdobramentos no que concerne à luta contra a febre amarela nas Américas nos oferecem uma possibilidade de revisitar a "Política da Boa Vizinhança", dialogando com a literatura existente sobre o tema a partir de suas implicações sobre o campo da saúde pública no continente.
Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde, e Fabiano Santos, do IUPERJ, com o... more Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde, e Fabiano Santos, do IUPERJ, com os quais tive a oportunidade de cursar disciplinas e realizar boas discussões. Ao Gilberto e ao Fabiano agradeço ainda pela participação na banca, pela disponibilidade e pelas valiosas sugestões desde a minha qualificação. Ao professor Fernando Dumas pelos bons conselhos e sugestões em um momento complicado deste trabalho. Agradeço ainda pela participação na banca e pela atenção dispensada ao meu trabalho. À professora Cristina Pereira pela amizade, apoio, livros e pela disponibilidade em discutir comigo temas relacionados ao neo-institucionalismo. À Fiocruz pela bolsa que me concedeu durante a elaboração desta dissertação. Ao meu orientador Marcos Chor Maio pelo apoio, paciência, incentivo, conselhos e sugestões que nunca poderão ser agradecidos o suficiente. Sua amizade e disponibilidade nesses três anos de convivência ajudaram bastante nas diversas etapas deste trabalho. SUMÁRIO INTRODUÇÃO p. CAPÍTULO 1: DESENVOLVIMENTO E AMAZÔNIA NA DÉCADA DE 1940 p. 1.1-A emergência da temática do desenvolvimento no pós-Segunda Guerra Mundial p. 1.1.1-A conjuntura internacional do pós-Segunda Guerra Mundial p.22 1.1.2-Terceiro Mundo, Guerra Fria e Desenvolvimento p. 1.2-A recepção da idéia de desenvolvimento no Brasil p. 1.2.1-Raízes de um projeto de desenvolvimento nacional p. 1.2.2-O debate sobre o desenvolvimento nacional no cenário políticoeconômico brasileiro na virada dos anos 1940 / 1950 p. 1.3-A discussão do desenvolvimento da Amazônia no centro do cenário político nacional na década de 1940 p. 1.3.1-A entrada da Amazônia no discurso oficial na década de 1940 p. 1.3.2-A recuperação da economia amazônica durante a Segunda Guerra Mundial: os "Acordos de Washington" e a "Batalha da Borracha" p. 1.3.3-O cenário amazônico no pós-Segunda Guerra Mundial p.
O presente artigo analisa as articulações que levaram à proposição da Campanha Continental para a... more O presente artigo analisa as articulações que levaram à proposição da Campanha Continental para a Erradicação do Aedes aegypti, aprovada e implementada pela Organização Sanitária Pan-Americana (OSP) a partir de 1947, em um contexto marcado por uma crescente cooperação dos países latino-americanos na área da saúde. A análise parte da viagem que o médico brasileiro Heitor Praguer Fróes realizou aos Estados Unidos em 1943, relacionando-a com o papel de destaque desempenhado por ele na proposição da Campanha Continental. A viagem de Fróes e os seus desdobramentos no que concerne à luta contra a febre amarela nas Américas nos oferecem uma possibilidade de revisitar a "Política da Boa Vizinhança", dialogando com a literatura existente sobre o tema a partir de suas implicações sobre o campo da saúde pública no continente.
Research Reports - Rockefeller Archive Center, Mar 2013
Cadernos de Saúde …, Jan 1, 2010
The article analyzes the formulation, legitimation, and implementation of a policy with an ethnic... more The article analyzes the formulation, legitimation, and implementation of a policy with an ethnic/race approach by the Pan American Health Organization (PAHO). The study includes the emergence of the theme within this international organization, the institutional dynamics related to it, and the proposals focused on the Black population in Latin America. These issues are discussed on the basis of interaction between PAHO and a range of intergovernmental agencies and private organizations working in the international health domain. Participation by PAHO in the ethnic/racial theme provides elements for understanding the dual role played by intergovernmental organizations in the new global scenario, as both social actors and arenas. As an important social actor in the international health field, PAHO has produced and disseminated values and guidelines related to the ethnic/racial theme. As an arena, the organization has proven open to various interests, seeking to work harmoniously with them through its internal administration.
Anais do XIV Encontro Regional da ANPUH-Rio: Memória e Patrimônio, Jan 1, 2010
The aim of this study is to analyze the controversies about the origins, causes and mechanisms of... more The aim of this study is to analyze the controversies about the origins, causes and mechanisms of transmission of yellow fever in a context of institutionalization of microbiology and tropical medicine. Since the mid-nineteenth century, when the disease was first diagnosed in Rio de Janeiro, it has become the major national health problem, mainly because of economic and human losses that caused during its periodic outbreaks. Given its centrality in the discussion of health care caught at the turn of the nineteenth century to the twentieth century, yellow fever was
a key element around which doctors and health workers would discuss the projects for modernization of the country. The disease can be considered, then, the great mediator for entry of microbiology and tropical medicine in the field of public health in Brazil.
O objetivo desse trabalho é analisar as controvérsias sobre as origens, causas e mecanismos de transmissão da febre amarela em um contexto de institucionalização da microbiologia e da
medicina tropical. Desde meados do século XIX, quando foi diagnosticada pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro, a enfermidade transformou-se no grande problema sanitário nacional, sobretudo devido aos prejuízos econômicos e humanos que suas epidemias periódicas causavam.
Dada sua centralidade no debate médico-sanitário travado na virada do século XIX para o XX, a febre amarela constituiu-se em um elemento fundamental em torno do qual médicos e sanitaristas discutiriam os projetos de modernização do país. A enfermidade pode ser considerada, então, a grande mediadora para a entrada da microbiologia e da medicina tropical no campo da saúde pública no Brasil.
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Jan 1, 2007
The article uses the debate surrounding creation of the Instituto Internacional da Hiléia Amazôni... more The article uses the debate surrounding creation of the Instituto Internacional da Hiléia Amazônica (International Institute of the Hylean Amazon – IIHA) as a point of departure for analyzing the
topic of development. We first address post-World War II relations between science and development. Next, we examine the Brazilian government’s initiatives in the Amazon during the 1940s and how the IIHA project was received. Lastly, we analyze the controversies ignited in Brazil by Unesco’s plan. The IIHA project was a catalyst of the development debate in post-World War II
Brazil. The discussions then sparked in Brazil and the project’s denouement solidified a development model for the Amazon that even today underpins initiatives taken in the region.
do debate em torno do projeto de criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica (IIHA). Abordam-se as relações entre ciência e desenvolvimento no pós-Segunda Guerra Mundial. Apresentam-se as iniciativas do Estado brasileiro na Amazônia na década de 1940 e a recepção do projeto IIHA. Analisam-se as controvérsias suscitadas pelo plano da Unesco no Brasil. O projeto do IIHA foi um catalisador do debate sobre o desenvolvimento no pós-Segunda Guerra no Brasil. As discussões que ele motivou no país e o desfecho que teve consolidaram um modelo de desenvolvimento para a Amazônia que permanece pautando as iniciativas relacionadas a essa região na atualidade.
Cadernos de Saúde Pública, Jul 2010
mais amplo e de maior vigor histórico e explicativo. As "evidências" apresentadas soam frágeis fr... more mais amplo e de maior vigor histórico e explicativo. As "evidências" apresentadas soam frágeis frente à magnitude da mudança que repercute até hoje no trabalho da organização.
Cadernos de Saúde Pública, Jul 2010
The article analyzes the formulation, legitimation, and implementation of a policy with an ethnic... more The article analyzes the formulation, legitimation, and implementation of a policy with an ethnic/race approach by the Pan American Health Organization (PAHO). The study includes the emergence of the theme within this international organization, the institutional dynamics related to it, and the proposals focused on the Black population in Latin America. These issues are discussed on the basis of interaction between PAHO and a range of intergovernmental agencies and private organizations working in the international health domain. Participation by PAHO in the ethnic/racial theme provides elements for understanding the dual role played by intergovernmental organizations in the new global scenario, as both social actors and arenas. As an important social actor in the international health field, PAHO has produced and disseminated values and guidelines related to the ethnic/racial theme. As an arena, the organization has proven open to various interests, seeking to work harmoniously with them through its internal administration.
Pan American Health Organization; International Agencies; International Cooperation; Ethnic Groups
*************************************************************************
O artigo analisa o processo de formulação, legitimação e implementação de uma política de recorte racial no âmbito da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). O trabalho compreende a emergência do tema no interior da organização internacional, a dinâmica institucional em torno da questão e as propostas centradas na população negra na América Latina. Essas são abordadas com base nas interações estabelecidas entre a OPAS e um conjunto de agências intergovernamentais e organizações privadas com atuação relevante no domínio da saúde internacional. O envolvimento da OPAS com a temática étnico-racial fornece elementos para entendimento do duplo papel desempenhado por organizações intergovernamentais no novo cenário global: como atores sociais e arenas. Como ator social importante no campo da saúde internacional, a OPAS produziu e disseminou valores e enunciados prescritivos relacionados com a temática étnico-racial. Como arena, a organização mostrou-se permeável a interesses de origens variadas, com sua burocracia interna procurando movimentar-se em sintonia com os mesmos.
Organização Pan-Americana da Saúde; Agências Internacionais; Cooperação Internacional; Grupos Étnicos
História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Dec 2007
"The article uses the debate surrounding creation of the Instituto Internacional da Hiléia Amazôn... more "The article uses the debate surrounding creation of the Instituto Internacional da Hiléia Amazônica (International Institute of the Hylean Amazon – IIHA) as a point of departure for analyzing the topic of development. We first address post-World War II relations between science and development. Next, we examine the Brazilian government's initiatives in the Amazon during the 1940s and how the IIHA project was received. Lastly, we analyze the controversies ignited in Brazil by Unesco's plan. The IIHA project was a catalyst of the development debate in post-World War II Brazil. The discussions then sparked in Brazil and the project's denouement solidified a development model for the Amazon that even today underpins initiatives taken in the region.
Keywords: Amazon; Instituto Internacional da Hiléia Amazônica; development; post-World War II; Brazilian Congress.
*************************************************************************
Analisa o tema do desenvolvimento a partir do debate em torno do projeto de criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica (IIHA). Abordam-se as relações entre ciência e desenvolvimento no pós-Segunda Guerra Mundial. Apresentam-se as iniciativas do Estado brasileiro na Amazônia na década de 1940 e a recepção do projeto IIHA. Analisam-se as controvérsias suscitadas pelo plano da Unesco no Brasil. O projeto do IIHA foi um catalisador do debate sobre o desenvolvimento no pós-Segunda Guerra no Brasil. As discussões que ele motivou no país e o desfecho que teve consolidaram um modelo de desenvolvimento para a Amazônia que permanece pautando as iniciativas relacionadas a essa região na atualidade.
Palavras-chave: Amazônia; Instituto Internacional da Hiléia Amazônica; desenvolvimento; pós-Segunda Guerra Mundial; Congresso Nacional."
Book Chapter by Rodrigo Cesar da Silva Magalhaes
ALVES, José Jerônimo de Alencar (Org.). Múltiplas Faces da História das Ciências na Amazônia. 1a ed. Belém: Editora Universitária da UFPA, 2005, p. 287-307., 2005
Uploads
Talks by Rodrigo Cesar da Silva Magalhaes
A eleição de Soper para a direção da OSP assinalou o controle da Organização por esta rede transnacional, que foi responsável pela proposição da Campanha Continental para a Erradicação do Aedes aegypti, uma tentativa de dar continuidade, no pós-Segunda Guerra Mundial, à campanha contra a febre amarela desenvolvida pela Fundação Rockefeller nas Américas nas décadas de 1920 e 1930. A Campanha Continental sintetizava as ideias e o modelo de campanha de saúde pública defendidos por esta rede transnacional, que giravam em torno da filosofia de erradicação dos vetores, desenvolvida por Soper, no Brasil, nos anos 1930.
A trajetória de Soper é um exemplo daquilo que recentes estudos no campo historiográfico na Europa e nos Estados Unidos designam identidade “transnacional”. Em tais estudos, o conceito de transnacionalidade é aplicado como uma forma de relativizar as fronteiras nacionais e a ideia de Estado Nacional sem, contudo, descartá-las. A perspectiva transnacional, então, embora não ignore a existência do Estado e dos condicionantes nacionais, procura ressaltar outras lealdades além daquelas advindas do pertencimento à nação. De acordo com ela, a atuação de Soper não pode ser analisada única e exclusivamente a partir de sua condição de “norte-americano”. A sua identidade no campo da saúde pública foi forjada na transnacionalidade, ou seja, no diálogo e nas interações que ele estabeleceu com os latino-americanos em geral, e os brasileiros em particular, o que lhe permitiu levar para o organismo sanitário interamericano profissionais com os quais havia negociado, trabalhado e interagido no período em que atuou nas Américas como dirigente da FR. A identidade transnacional de Soper configura-se, então, como uma instância constituída a partir de relações, interações, circulação, interdependência e diálogos, em um circuito que envolve pessoas, recursos, tecnologias e material biológico que extrapolam as fronteiras de nacionalidade e que, portanto, não podem ser dedutíveis dela.
Papers by Rodrigo Cesar da Silva Magalhaes
a key element around which doctors and health workers would discuss the projects for modernization of the country. The disease can be considered, then, the great mediator for entry of microbiology and tropical medicine in the field of public health in Brazil.
O objetivo desse trabalho é analisar as controvérsias sobre as origens, causas e mecanismos de transmissão da febre amarela em um contexto de institucionalização da microbiologia e da
medicina tropical. Desde meados do século XIX, quando foi diagnosticada pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro, a enfermidade transformou-se no grande problema sanitário nacional, sobretudo devido aos prejuízos econômicos e humanos que suas epidemias periódicas causavam.
Dada sua centralidade no debate médico-sanitário travado na virada do século XIX para o XX, a febre amarela constituiu-se em um elemento fundamental em torno do qual médicos e sanitaristas discutiriam os projetos de modernização do país. A enfermidade pode ser considerada, então, a grande mediadora para a entrada da microbiologia e da medicina tropical no campo da saúde pública no Brasil.
topic of development. We first address post-World War II relations between science and development. Next, we examine the Brazilian government’s initiatives in the Amazon during the 1940s and how the IIHA project was received. Lastly, we analyze the controversies ignited in Brazil by Unesco’s plan. The IIHA project was a catalyst of the development debate in post-World War II
Brazil. The discussions then sparked in Brazil and the project’s denouement solidified a development model for the Amazon that even today underpins initiatives taken in the region.
do debate em torno do projeto de criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica (IIHA). Abordam-se as relações entre ciência e desenvolvimento no pós-Segunda Guerra Mundial. Apresentam-se as iniciativas do Estado brasileiro na Amazônia na década de 1940 e a recepção do projeto IIHA. Analisam-se as controvérsias suscitadas pelo plano da Unesco no Brasil. O projeto do IIHA foi um catalisador do debate sobre o desenvolvimento no pós-Segunda Guerra no Brasil. As discussões que ele motivou no país e o desfecho que teve consolidaram um modelo de desenvolvimento para a Amazônia que permanece pautando as iniciativas relacionadas a essa região na atualidade.
Pan American Health Organization; International Agencies; International Cooperation; Ethnic Groups
*************************************************************************
O artigo analisa o processo de formulação, legitimação e implementação de uma política de recorte racial no âmbito da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). O trabalho compreende a emergência do tema no interior da organização internacional, a dinâmica institucional em torno da questão e as propostas centradas na população negra na América Latina. Essas são abordadas com base nas interações estabelecidas entre a OPAS e um conjunto de agências intergovernamentais e organizações privadas com atuação relevante no domínio da saúde internacional. O envolvimento da OPAS com a temática étnico-racial fornece elementos para entendimento do duplo papel desempenhado por organizações intergovernamentais no novo cenário global: como atores sociais e arenas. Como ator social importante no campo da saúde internacional, a OPAS produziu e disseminou valores e enunciados prescritivos relacionados com a temática étnico-racial. Como arena, a organização mostrou-se permeável a interesses de origens variadas, com sua burocracia interna procurando movimentar-se em sintonia com os mesmos.
Organização Pan-Americana da Saúde; Agências Internacionais; Cooperação Internacional; Grupos Étnicos
Keywords: Amazon; Instituto Internacional da Hiléia Amazônica; development; post-World War II; Brazilian Congress.
*************************************************************************
Analisa o tema do desenvolvimento a partir do debate em torno do projeto de criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica (IIHA). Abordam-se as relações entre ciência e desenvolvimento no pós-Segunda Guerra Mundial. Apresentam-se as iniciativas do Estado brasileiro na Amazônia na década de 1940 e a recepção do projeto IIHA. Analisam-se as controvérsias suscitadas pelo plano da Unesco no Brasil. O projeto do IIHA foi um catalisador do debate sobre o desenvolvimento no pós-Segunda Guerra no Brasil. As discussões que ele motivou no país e o desfecho que teve consolidaram um modelo de desenvolvimento para a Amazônia que permanece pautando as iniciativas relacionadas a essa região na atualidade.
Palavras-chave: Amazônia; Instituto Internacional da Hiléia Amazônica; desenvolvimento; pós-Segunda Guerra Mundial; Congresso Nacional."
Book Chapter by Rodrigo Cesar da Silva Magalhaes
A eleição de Soper para a direção da OSP assinalou o controle da Organização por esta rede transnacional, que foi responsável pela proposição da Campanha Continental para a Erradicação do Aedes aegypti, uma tentativa de dar continuidade, no pós-Segunda Guerra Mundial, à campanha contra a febre amarela desenvolvida pela Fundação Rockefeller nas Américas nas décadas de 1920 e 1930. A Campanha Continental sintetizava as ideias e o modelo de campanha de saúde pública defendidos por esta rede transnacional, que giravam em torno da filosofia de erradicação dos vetores, desenvolvida por Soper, no Brasil, nos anos 1930.
A trajetória de Soper é um exemplo daquilo que recentes estudos no campo historiográfico na Europa e nos Estados Unidos designam identidade “transnacional”. Em tais estudos, o conceito de transnacionalidade é aplicado como uma forma de relativizar as fronteiras nacionais e a ideia de Estado Nacional sem, contudo, descartá-las. A perspectiva transnacional, então, embora não ignore a existência do Estado e dos condicionantes nacionais, procura ressaltar outras lealdades além daquelas advindas do pertencimento à nação. De acordo com ela, a atuação de Soper não pode ser analisada única e exclusivamente a partir de sua condição de “norte-americano”. A sua identidade no campo da saúde pública foi forjada na transnacionalidade, ou seja, no diálogo e nas interações que ele estabeleceu com os latino-americanos em geral, e os brasileiros em particular, o que lhe permitiu levar para o organismo sanitário interamericano profissionais com os quais havia negociado, trabalhado e interagido no período em que atuou nas Américas como dirigente da FR. A identidade transnacional de Soper configura-se, então, como uma instância constituída a partir de relações, interações, circulação, interdependência e diálogos, em um circuito que envolve pessoas, recursos, tecnologias e material biológico que extrapolam as fronteiras de nacionalidade e que, portanto, não podem ser dedutíveis dela.
a key element around which doctors and health workers would discuss the projects for modernization of the country. The disease can be considered, then, the great mediator for entry of microbiology and tropical medicine in the field of public health in Brazil.
O objetivo desse trabalho é analisar as controvérsias sobre as origens, causas e mecanismos de transmissão da febre amarela em um contexto de institucionalização da microbiologia e da
medicina tropical. Desde meados do século XIX, quando foi diagnosticada pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro, a enfermidade transformou-se no grande problema sanitário nacional, sobretudo devido aos prejuízos econômicos e humanos que suas epidemias periódicas causavam.
Dada sua centralidade no debate médico-sanitário travado na virada do século XIX para o XX, a febre amarela constituiu-se em um elemento fundamental em torno do qual médicos e sanitaristas discutiriam os projetos de modernização do país. A enfermidade pode ser considerada, então, a grande mediadora para a entrada da microbiologia e da medicina tropical no campo da saúde pública no Brasil.
topic of development. We first address post-World War II relations between science and development. Next, we examine the Brazilian government’s initiatives in the Amazon during the 1940s and how the IIHA project was received. Lastly, we analyze the controversies ignited in Brazil by Unesco’s plan. The IIHA project was a catalyst of the development debate in post-World War II
Brazil. The discussions then sparked in Brazil and the project’s denouement solidified a development model for the Amazon that even today underpins initiatives taken in the region.
do debate em torno do projeto de criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica (IIHA). Abordam-se as relações entre ciência e desenvolvimento no pós-Segunda Guerra Mundial. Apresentam-se as iniciativas do Estado brasileiro na Amazônia na década de 1940 e a recepção do projeto IIHA. Analisam-se as controvérsias suscitadas pelo plano da Unesco no Brasil. O projeto do IIHA foi um catalisador do debate sobre o desenvolvimento no pós-Segunda Guerra no Brasil. As discussões que ele motivou no país e o desfecho que teve consolidaram um modelo de desenvolvimento para a Amazônia que permanece pautando as iniciativas relacionadas a essa região na atualidade.
Pan American Health Organization; International Agencies; International Cooperation; Ethnic Groups
*************************************************************************
O artigo analisa o processo de formulação, legitimação e implementação de uma política de recorte racial no âmbito da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). O trabalho compreende a emergência do tema no interior da organização internacional, a dinâmica institucional em torno da questão e as propostas centradas na população negra na América Latina. Essas são abordadas com base nas interações estabelecidas entre a OPAS e um conjunto de agências intergovernamentais e organizações privadas com atuação relevante no domínio da saúde internacional. O envolvimento da OPAS com a temática étnico-racial fornece elementos para entendimento do duplo papel desempenhado por organizações intergovernamentais no novo cenário global: como atores sociais e arenas. Como ator social importante no campo da saúde internacional, a OPAS produziu e disseminou valores e enunciados prescritivos relacionados com a temática étnico-racial. Como arena, a organização mostrou-se permeável a interesses de origens variadas, com sua burocracia interna procurando movimentar-se em sintonia com os mesmos.
Organização Pan-Americana da Saúde; Agências Internacionais; Cooperação Internacional; Grupos Étnicos
Keywords: Amazon; Instituto Internacional da Hiléia Amazônica; development; post-World War II; Brazilian Congress.
*************************************************************************
Analisa o tema do desenvolvimento a partir do debate em torno do projeto de criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica (IIHA). Abordam-se as relações entre ciência e desenvolvimento no pós-Segunda Guerra Mundial. Apresentam-se as iniciativas do Estado brasileiro na Amazônia na década de 1940 e a recepção do projeto IIHA. Analisam-se as controvérsias suscitadas pelo plano da Unesco no Brasil. O projeto do IIHA foi um catalisador do debate sobre o desenvolvimento no pós-Segunda Guerra no Brasil. As discussões que ele motivou no país e o desfecho que teve consolidaram um modelo de desenvolvimento para a Amazônia que permanece pautando as iniciativas relacionadas a essa região na atualidade.
Palavras-chave: Amazônia; Instituto Internacional da Hiléia Amazônica; desenvolvimento; pós-Segunda Guerra Mundial; Congresso Nacional."
Mundial, bem como o impacto que ele provocou sobre os planos voltados para o desenvolvimento da Amazônia que já eram discutidos no Brasil desde o início da década de 1940. Nesse sentido, minha investigação terá como foco o processo de recepção do IIHA no Brasil. Acredito que a partir do momento em que começou a ser debatido no país, o projeto do IIHA foi capturado pela discussão sobre o desenvolvimento da Amazônia que já se desenrolava no plano nacional. Durante a tramitação do
projeto no Congresso Nacional, as visões conflitantes sobre esse tema se fizeram sentir, com os parlamentares se apoiando em determinados mecanismos institucionais para fazer valer seus posicionamentos. As polêmicas suscitadas, então, mobilizaram militares, intelectuais, jornalistas e cientistas para as discussões sobre o desenvolvimento da Amazônia. É esse processo que analisarei nesta dissertação. Considero que, ao identificar as visões antagônicas que surgiram neste momento em torno do plano de criação do Instituto da Hiléia, poderei traçar um panorama de como a questão do desenvolvimento da Amazônia era tratada no país entre o final dos anos 1940 e o início da década seguinte.
*************************************************************************
das ciências e da saúde, desenvolvida sob a orientação de Marcos Chor Maio, no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (PPGHCS/COC/Fiocruz), entre 2009 e 2013. Trata da Campanha Continental para a Erradicação do Aedes aegypti, o primeiro e mais duradouro programa internacional de erradicação já implementado. As origens desse programa remontam ao ano de 1914, quando Wycliffe Rose, o primeiro diretor da Comissão de Saúde Internacional (CSI) da Fundação Rockefeller, idealizou a Campanha Mundial de Erradicação da Febre Amarela. Iniciada oficialmente em 1918, após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Campanha se desenvolveu entre as décadas de 1910 e 1930, nas Américas e na África, tendo sido marcada por uma série de inflexões até ser reformulada nos anos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e relançada, em 1947, sob os auspícios da Organização
Sanitária Pan-Americana (OSP), com o nome Campanha Continental para a Erradicação do Aedes aegypti. Desse momento até o fim dos anos 1960, a meta de erradicar o vetor da febre amarela das Américas foi perseguida, com maior ou menor intensidade, por praticamente todas as repúblicas americanas.