Le Corps Utopique (FOUCAULT)
Le Corps Utopique (FOUCAULT)
Le Corps Utopique (FOUCAULT)
LE COÍiPS L]TOPIOUE
LE CORPS UTOPIOUE
10 sur lui, l'ont fait disparaitre en un tournemain, ont souffié sur rn'y attends, je sais ce qu'est être nu; Pourtant, ce même corps
sa lourdeur, sur sa laideur, et me I'onr restitué éblouissant et qui est si visible, il est retiré, il est capté par une sorte d'invi-
perpétuel. sibilité de laquelle jamais je ne peux le détacher. Ce crâne, ce
Mais mon corps, à vrai dire, ne se laisse pas réduire si facile_ derriêre de mon crâne que je peux tâter, là, avec mes doigts,
ment. Il a, aprês tout, lui-même, ses ressources propres de fan- rnais voir, jamais; ce dos, que je sens appuyé contre la pous-
tastique; il en possêde, lui aussi, des lieux sans lieu et des lieux sée du matelas sur le divan, quand je suis allongé, mais que je
plus profonds, plus obstinés encore que l'âme, que le rombeau, ne surprendrai que par la ruse d'un miroir; et qu'est-ce que
que l'enchantement des magiciens. Il a ses caves et ses greniers, c'est que cette épaule, dont je connais avec précision les mou-
il il a ses plages lumineuses. Ma tête, par
a ses séjours obscurs, v€ments et les positions, mais que je ne saurai jamais voir sans
exemple, ma tête: quelle étrange caverne ouverte sur le monde rne contourner affreusement. Le corps, fantôme qui n'apparait
extérieur par deux fenêtres, deux ouyertures, j'en suis bien sür, qu'au mirage des miroirs, et encore, d'une façon fragmentaire.
puisque je les vois dans le miroir; et puis, je peux fermer l,une Est-ce que vraiment j'ai besoin des génies et des fees, et de la
ou l'autre séparément. Et pourtant, il n'y en a qu'une seule, de mort et de l'âme, pour être à la fois indissociablement visible et
ces ouyertures, car je ne vois devant moi qu'un seul paysage, invisible? Et puis, ce corps, il est léger, il est transparent, il est
continu, sans cloison ni coupure. Et dans cette tête, comment impondérable; rien n'est moins chose que lui: il court, il agit, il
est-ce que les choses se passent? Eh bien, les choses viennent vit, il désire, il se laisse traverser sans résistance par toutes mes
les ailleurs du monde, et à vrai dire il est ailleurs que dans le ,'rrrcigné aux Grecs et qui enseignent maintenant aux enfants)
monde. Car c'est autour de lui que les choses sont disposées, (1r('nous avons un corps, que ce corps a une forme, que cette
c'est par rapport à lui - et par rapport à lui comme par rapport Ir )nnc a un contour, que dans ce contour il y a une épaisseur, un
à un souverain - qu'il y a un dessus, un dessous, une droite, une 1',,itls; bref, que le corps occupe un lieu. C'est le miroir et c'esr le
gauche, un avant, un arriêre, un proche, un lointain. Le corps , ,r,l:rvrc qui assignent un espace à l'expérience profondément
I E CORPS UTOPIQUL
O CORPO UTOPICO
rnc c caminhar; é através desta grade que será preciso falar, olhar,
O CORPO UTOP CO
ser olhado; sob esta pele, deteriorar. Meu corpo é o lugar sem
lrrunlr:ls e as esculturas dos túmulos onde jazem os que desde a
recurso ao qual estou condenado. Penso, afinal, que é contra ele I'l,r,l, Módia prolongam na imobilidade uma juventude que náo
e como que para apagá-lo que fizemos nascer todas as utopias. rrr,rrr p;155x1i. Existem agoÍa, em nossos dias, os simples cubos
A que se deve o prestígio da utopia, abeleza,o deslumbramento nr.ilr)rore, corpos geometrizados pela pedra, figuras regulares
'1,
da utopia? A utopia é um lugar fora de todos os lugares, mas um , I'r.rrrtus sobre o grande quadro negro dos cemitérios. E, nessa
lugar onde eu teria um corpo sem cor?o, um corpo que seria belo, , t,l,rrlt'rle utopia dos mortos, eis que meu corpo torna-se sólido
límpido, transparente, luminoso, veloz, colossal na sua potência, ,rnr() urna coisa, eterno como um deus.
infinito na suâ duração, solto, invisível, protegido, sempre rrans- llrri'm, a mais obstinada talvez, a mais possante dessas utopias
figurado; pode bem ser que a utopia primeira, a mais inextirpá- p.l.n r;trais apagamos a triste topologia do corpo, nos é fornecida,
vel no coraçáo dos homens, consisra precisamente na utopia de ,l, o,l.' .,s confins da história ocidental, pelo grande mito da alma.
um corpo incorporal. O país das fadas, o país dos duendes, dos  .rlrrr;r funciona no meu corpo de maneira maravilhosa. Nele
gênios, dos mágicos, este é o país onde os corpos se rransportam rr ,rIrj;r, certamente, mas sabe bem dele escapar: escapa para ver
táo rápido quanro aluz, o país onde as feridas se curam com um ,r! r ois:rs através das janelas dos meus olhos, escapa para sonhar
bálsamo maravilhoso na duraçáo de um relâmpago, o país onde ,1rr,rrr.l«r durmo, para sobreviver quando morro. Minha alma é
se pode cair de uma montanha e reerguer-se vivo, o país onde se
l,, l,r, t: pura, é branca; e, se meu corpo lamacento - de todo modo
é visível
quando se quiser, invisível quando se desejar. Se existir l,t,r ntuito limpo - yier a sujá-la, haverá sempre uma virtude,
um país feérico, é justamente para que eu seja príncipe encan- lr,rr', r;í uma potência, haverá mil gestos sagrados que a restabele-
tado e que todos os janotas graciosos tornem-se peludos e vilóes , , t.t( ) r'lrl sua pureza primeira. Minha alma durará muito tempo
como pequenos ursos. r lr,ris que muito tempo, quando meu corpo vier a apodrecer.
Mas há também uma utopia que é feita paraapagar os corpos. \'rr',r rrrinha alma! É meu corpo luminoso, purificado, virtuoso,
Essa utopia é o país dos morros, sáo as grandes cidades utópicas ,i1irl, nrrivel, tépido, viçoso; é meu corpo liso, castrado, arredon-
que nos foram deixadas pela civilizaçáo egípcia. Afinal, o que sáo ,1,r,1,, tomo uma bolha de sabáo.
asmúmias? Elas sáo a utopia do corpo negado e transfigurado. A l',is entáo que em virtude de todas essas utopias meu corpo
múmia é o grande corpo utópico que persiste arrayés do tempo. rlr'\,rl)ilr-cceu! Desapareceu como a chama de uma vela que se
Existiram também as máscaras de ouro que a civilizaçáo micênica !r\,,(,1)rrr. A alma, os túmulos, os gênios e as fadas o massacraram,
colocaya sobre os rosros dos reis defuntos: utopia de seus corpos lrr, r.rnr-no desaparecer num átimo, soprarâm sobre seu peso e
gloriosos, possantes, solares, terror dos exércitos. Existiram as srr.r ír':rlclade, e o restituíram a mim deslumbrante e perpétuo.
o CÔRPO UTÓP Co
O CORI'O UIOP]CO
Mas, na verdade, meu corpo náo se deixa reduzir táo facil- rr,r prt'ssãodo colcháo sobre o divá quando me deito, mas que
mente. Afinal, ele tem suas fontes próprias de fantástico; possui, *rnr('nte surpreenderei pelo ardil de um espelho; e o que é este
também ele, lugares sem lugar e lugares mais profundos, mais ,,nrlrro, cujos movimentos e posiçóes conheço com precisáo,
obstinados ainda que a alma, que o túmulo, que o encanrâmento nr,r\ (lue jamais poderei \rer sem me contorcer terrivelmente?
dos mágicos. Possui, também ele, suas caves e seus celeiros, tem ( ) t orpo, fantasma que só aparece na miragem dos espelhos e,
abrigos obscuros e plagas luminosas. Minha cabeça, por exem- drr(Ll assim, de maneira fragmentária. Preciso, verdadeiramente,
plo, ah minha cabeça: estranha caverna aberta pâra o mundo ,[,r gênios e das fadas, da morte e da alma, para ser ao mesmo
exterior por duas janelas, duas aberturas, sei disso, pois as vejo r('nrl)o indissociavelmente visível e invisível? Ademais, este corpo
no espelho; ademais, posso fechar uma ou outra separadamente. ,' k'vc, é transparente, é imponderável; nada é menos coisa que
E, no entanto, essas aberturas náo sáo senáo uma só, pois náo .'1,': cle corre, age, vive, deseja, deixa-se atravessar sem resistência
vejo diante de mim senáo uma só paisagem, contínua, sem divi- por todas as minhas intençóes. É verdade! Mas somente até o
sáo nem corte. E dentro desta cabeça, como se passam as coisas? ,lr,r t'rn que adoeço, em que se rompe a caverna de meu ventre,
Elas entram lá - e estou muito seguro de que as coisas enrram .nr (lue meu peito e minha garganta se bloqueiam, se entoPem,
na minha cabeça quando eu olho, pois o sol, se for demasiado r,' lt'cham. Até o dia em que a dor de dentes estrala no fundo da
forte e me ofuscar, dilacera até o fundo do meu cérebro e, no
- rrrirrlra boca. Entáo, aí entáo, deixo de ser leve, imponderável etc.;
entanto, essas coisas que entram dentro da minha cabeça perma- rr )r rro-me coisa, arquitetura fantástica e arruinada.
necem no exterior, pois vejo-as diante de mim e eu, por minha Náo, verdadeiramente náo há necessidade da mágica nem
vez, devo me adiantar para alcançá-las. ,1,, ícérico, náo há necessidade de uma alma nem de uma morte
Corpo incompreensível, corpo penetrável e opaco, corpo
l).il;l que eu seja âo mesmo temPo opaco e transparente, visível
aberto e fechado: corpo utópico. Corpo absolutamente visível, ,'irrvisível, vida e coisa: para que eu seja utopia, basta que eu
em um sentido: sei muito bem o que é ser olhado por alguém da r«'irr um corpo. Todas aquelas utopias pelas quais eu esquivava
cabeça aos pés, sei o que é ser espiado por trás, vigiado por cima nr('u corpo encontrâyâm muito simplesmente seu modelo e seu
do ombro, surpreso quando percebo isso, sei o que é estar nu; no
1,,rnto primeiro de aplicaçáo, encontrayam seu lugar de origem
entanto, este mesmo corpo que é táo visível, é afastado, captado n, nreu próprio corpo. Enganara-me, há pouco , ao dizer que as
por uma espécie de invisibilidade da qual jamais posso desven- lropias eram voltadas contra o corpo e destinadas a apagá-lo:
cilhá-lo. Este meu crânio, atrás do meu crânio, que posso tocar ,'l.rs rrascem do próprio corpo e, em seguida, talyez, retornem
com meus dedos, mas nunca ver; este dorso, que sinto apoiado ,,,rrtra ele.
O CORPO UTOPICO
O CORPO UTOP CO
Em todo caso, uma coisa é certa, o corpo humano é o ator ( )rrÇamos, por exemplo, este conto japonês e a maneira com
principal de todas as utopias. Afinal, uma das mais velhas utopias ,|l( ilrl tatuador faz passar para um universo que náo é o nosso
que os homens contaram para si mesmos náo é o sonho de corpos ,, , r,r l)o da jovem que ele deseja: "O sol dardejava seus raios sobre
imensos, desmesurados, que devorariam o espaço e dominariam , r. (' incendiava o quarto de sete esteiras. Seus raios refletidos
o mundo? É a velha utopia dos gigantes, que enconrramos no rr.r rrrlrcrffcie daáguaformavam um desenho de ondas douradas
coraçáo de tantas lendas, na Europa, .r" Áfri.a, na Oceania, na r,,l,rt'o papel dos biombos e sobre o rosto da jovem profunda-
Âi", erra velha lenda que há táo longo tempo nurre a imaginaçáo irr, nrc adormecida. Seikichi, após puxar a divisória, tomou nas
ocidental, de Prometeu a Gulliver. rr.r()s seus instrumentos de tatuagem. Durante alguns instantes,
O corpo é também um grande ator utópico, quando se trata de p('rrrureceu mergulhado em uma espécie de êxtase. Era entáo que
máscaras, da maquiagem e da tatuagem. Mascarar-se, maquiar-se, , l, plenamente a estranha beleza da jovem. Parecialhe
';rlroreava
tatuar-se náo é, exatamente, como se poderia imaginar, adquirir
1r,rlt'r' ficar sentando diante desse rosto imóvel durante dezenas
outro corpo, simplesmente um pouco mais belo, melhor decorado, r r t'ntcnâs de anos sem jamais sentir cansaço nem fastio. Como
mais facilmente reconhecível: tatuar-se, maquiar-se, mascarar-se ,ru r r( )r'a o povo de Mênfis embelezava a magnífica terra do Egito
é sem dúvida algo muito diferente, é fazer com que o corpo entre ,,,rrr pirâmides e esfinges, assim Seikichi, com todo amor, que-
em comunicaçáo com poderes secretos e forças invisíveis. Máscara, rr.r , rrrbelezar com seu desenho a pele viçosa da jovem. Aplicou-
signo tatuado, pinrura depositam no corpo toda uma linguagem: llrt' cntáo a ponta de seus pincéis coloridos que segurava entre o
toda uma linguagem enigmática, toda uma linguagem cifrada,
;,,,lcg:rr, o anular e o pequeno dedo da máo esquerda e, à medida
secreta, sagrada, que evoca para este mesmo corpo a violência do , nr (lue as linhas eram desenhadas, picava-as com a agulha que
deus, a porência surda do sagrado ou a vivacidade do desejo. A \( lilrrrva na máo direita."
máscara, a tatuagem, a pintura instalam o corpo em ouüo espaço, l. se considerârmos que a vestimenta sagrada ou profana, reli-
fazem-no entrar em um lugar que náo tem lugar diretamente no
fir()sir ou çivilfaz com que o indivíduo entre no espaço fechado
mundo, fazem deste corpo um fragmento de espaço imaginário , l, , r't'ligioso ou na rede invisível da sociedade, veremos entáo que
que se comunicará com o universo das divindades ou com o uni- rrr,l., o que concerne ao corpo - desenho, cor, coroa, tiara, vesti-
verso do outro. Por ele, seremos tomados pelos deuses ou seremos rr('ntrl, uniforme tudo isso faz desabrochar, de forma sensível
-
tomados pela pessoa que acabamos de seduzir. De todo modo, a ilriltizada, as utopias seladas no corpo.
'
máscara, a ratuagem, a pintura sáo operaçóes pelas quais o corpo é Mas talvez fosse preciso descer mais, por baixo da vestimenta,
arrancado de seu espaço próprio e projetado em um espaço ourro. r.rlv..'z fosse preciso atingir a própria carne, e veríamos entáo que,
O CORPO I'TOP
'Ô o CoRPo UTÓP C.)
em certos casos, no limite, é o próprio corpo que retorna Ar t rirrnças, afinal, levam muito tempo para saber que têm
poder utópico conrra si e faz enrrar todo o espaço do religioso unr r,rp«r. Durante meses, durante mais de um ano, elas têm
e do sagrado, todo o espaço do outro mundo, todo o espaço
do 4|. ll,r\ lltrr corpo disperso, membros, cavidades, oriftcios, e tudo
contramundo, no interior mesmo do espaço que lhe é reservado. iirrrr, st' organiza, tudo isso literalmente toma corpo somente
Entáo, o corpo, na sua materialidade, na sua carne, seria como o n,r rn.rli('rn do espelho. De modo mais estranho ainda, os gregos
produto de seus próprios fantasmas. Afinal, o corpo do dançarino rlr I l,,rrre ro náo tinham uma palavra para designar a unidade do
náo é justamenre um corpo dilatado segundo um espaço que lhe ,,,r1',,. I)«lr paradoxal que seja, diante detóia, abaixo dos muros
é ao mesmo rempo interior e exterior? E os drogados também, e rlrllrr.litkrs por Heitor e seus companheiros, náo havia corpos,
os possuídos; os possuídos, cujo corpo tornâ-se inferno; os esti
frr,n l,r:rços erguidos, peitos intrépidos, pernas ágeis, capacetes
matizados, cujo corpo torna-se sofrimento, resgate e salvaçáo, r lrrnl,urÍcs em cima de cabeças: náo havia corpo. A palavra grega
ensanguentado paraíso.
rnr.r (lizcr corpo só aparece em Homero para designar cadáver.
Verdadeiramenre, engânara-me, há pouco, ao crer que o l' ,,,.rrllíver, portanto, o cadáver e o espelho que nos ensinam
corpo jamais estivesse em outro lugar, que era um aqui irreme- lr rrlrrr, que ensinaram aos gregos e agora ensinam às crianças)
diável e que se opunha a toda utopia. 11r(' r('rnos um corpo, que este corpo tem uma forma, que esta
Meu corpo está, de fato, sempreem outro lugar, ligado a todos lrrn.r tcm um contorno, que no contorno há uma espessura, um
os outros lugares do mundo e, na verdade, está em outro lugar ('n) sumâ, que o corpo ocupa um lugar. Espelho e cadáver
Irr'\r):
que náo o mundo. Pois, é em rorno dele que as coisas estáo dis- r- rf n(' ;rsseguram um espaço para a experiência profundamente e
postas, é em relaçáo a ele
- e em relaçáo a ele como em relaçáo a ,'r rliirrrrriamente utópica do corpo; espelho e cadáver é que silen-
um soberano - que há um acima, um abaixo, uma direita, uma t,ill| (' .screnizâm, encerrando em uma clausura
r
- gue, para nós,
esquerda, um diante, um atrás, um próximo, um longínquo. O lr,,;,', ú selada * esta grande cólera utópica que corrói e volatiliza
corpo é o ponto zero do mundo, lá onde os caminhos e os espaços rír\\() corpo a todo instante. Graças a eles, graças ao espelho e
se cruzam, o corpo está em parte alguma: ele está no coraçáo do ,r.lriver, é que nosso corpo náo é pura e simples utopia. Ora,
,r,, ,
mundo, este pequeno fulcro urópico, a partir do qual eu sonho, n, ,,,rrsiderarmos que a imagem do espelho está alojada para
falo, avanço, imagino, percebo as coisas em seu lugar e também r.\ ('r)l um espaço inacessível, e que jamais poderemos estar lá
as nego pelo poder indefinido das utopias que imagino. Meu ,,rr,k cstará nosso cadáver, se considerarmos que o espelho e o
corpo é como a Cidade do Sol, náo tem lugar, mas é dele que ,,r,l,ivcr estáo, eles próprios, em um inatingível outro lugar, des-
sâem e se irradiam todos os lugares possíveis, reais ou utópicos. ,,,1,r'irrros entáo que unicamente as utopias podem fazer refluir
o CoRPo UTÓPICo
O CORPO UTOPICO
nelas mesmas e esconder por um instante a utopia profunda
soberana de nosso corpo.
Seria talvez necessário dizer também que fazer amor é
tir o corpo refluir sobre si, é existir, enfim, fora de toda utopi
com toda densidade, entre as máos do ourro. Sob os dedos
outro que nos percorrem, todas as parres invisíveis de n
corpo póem-se a existir, conrra os lábios do outro os nossos
tornam sensíveis, diante de seus olhos semicerrados, nosso ros
adquire uma certezâ, existe um olhar, enfim, para ver nossas pál-
pebras fechadas. O amor, também ele, como o espelho e
a morte, sereniza a utopia de nosso corpo, silencia-a, acalma_a,
fecha-a como se numa caixa, tranca-a e a sela. É por isso que ele é
parente táo próximo da ilusáo do espelho e da ameaça da morte;
e se, apesar dessas duas figuras perigosas que o cercam, amamos
tanto fazer amor, é porque no amor o corpo está aqui.
O CORPO U]OP CO