Talks by António Pereira
A arqueologia e a arqueobotânica encontram-se num processo de mudança. A separação entre o especi... more A arqueologia e a arqueobotânica encontram-se num processo de mudança. A separação entre o especialista em arqueobotânica e o arqueólogo de campo deixou de ser exequível.
Os estudos paleoetnobotânicos permitem um melhor entendimento dos sítios arqueológicos, do ambiente ruderal, da gestão dos territórios, das atividades económicas e das estratégias de armazenagem das comunidades que habitaram os espaços do noroeste português durante a Idade do Ferro. Para a eficiência destes estudos foi marcante o desenvolvimento de estratégias de recolhas de sedimentos, a revisão de procedimentos laboratoriais e a melhoria dos critérios de diagnóstico taxonómico das várias espécies botânicas.
Durante a Idade do Ferro foi exercida uma grande pressão sobre os recursos vegetais do noroeste português, constituindo-se paisagens humanizadas amplamente desarborizadas.
Apesar de terem sidos elaborados trabalhos anteriores na região, continuam a ser escassos os estudos carpológicos (frutos e sementes), apesar destes terem um papel preponderante na compreensão da ação humana sobre o meio principalmente no que concerne a práticas agrícolas. Os dados atualmente disponíveis sugerem que estas assentavam principalmente no cultivo de cereais, dos quais destacam-se a aveia (Avena), o milho-miúdo (Panicum miliaceum), a cevada de grão vestido (Hordeum vulgare subsp vulgare), os trigos de grão nu (Triticum aestivum/durum) e os trigos vestidos (Triticum turgidum L. subsp. dicoccum e Triticum aestivum L. subsp. spelta). Estes últimos, com relevância, por serem menos exigentes ao nível dos solos, mais tolerantes a condições de pequena e média montanha, a temperaturas baixas e ambientes húmidos. Seriam, por isso uma solução para as condições climáticas que ter-se-ão verificado a partir do século IV a.C. O seu uso poderá corresponder, assim, a uma adaptação por parte das populações da Idade do Ferro de forma a manter colheitas estáveis e garantir a sua sobrevivência. A presença do milho, um cereal de primavera, que se adapta a diferentes solos e temperaturas indica que era natural a existência de duas colheitas por ano.
As leguminosas são menos abundantes no registo carpológico, o que poderá resultar de um fenómeno de preservação diferencial e da escassez de recolhas e sistemáticas de sedimentos durante as escavações arqueológicas. A fava (Vicia faba) é a espécie que surge mais frequentemente. Esta diversidade de cultivos vai em oposição ao que as fontes históricas nos
deixaram, nomeadamente Estrabão que considerava a bolota como o substituto do cereal no fabrico do pão.
Tal como se depreende dos estudos do Crastoeiro, em Mondim de Basto, no vale do Tâmega, entre outros sítios do noroeste português, as estruturas de armazenagem eram preferencialmente subterrâneas, em fossas abertas no substrato rochoso de dimensões consideráveis.
O processo de registo arqueológico é cada vez mais complexo, motivo pelo qual a obtenção de dados fiáveis e coerentes em termos paleobotânicos é urgente em qualquer período cronológico-cultural. Deste modo, ele deve estar cada vez mais direcionado para aquilo que os nossos olhos não vêm sendo, portanto, necessário efetuar recolhas sistemáticas de sedimentos durante os trabalhos de campo, prática ainda não consolidada sistematicamente.
Papers by António Pereira
espanolPublicam-se os objectivos e os resultados dos trabalhos arqueologicos levados a cabo, em 2... more espanolPublicam-se os objectivos e os resultados dos trabalhos arqueologicos levados a cabo, em 2011 e 2012, no povoado fortifi cado denominado Castelo dos Mouros, localizado num esporao sobranceiro ao Douro internacional, na freguesia de Vilarinho dos Galegos, concelho de Mogadouro, distrito de Braganca. Os trabalhos de prospeccao e escavacao ja realizados mostraram um complexo sistema defensivo, com muralha e torreao petreos, reforcados por um fosso e um campo de pedras fincadas, uma das entradas no povoado e diversas reformulacoes arquitectonicas as quais, em associacao com a estratigrafi a revelada e os materiais exumados, indiciam um longo periodo de ocupacao, balizado da Idade do Ferroao periodo romano, colocando-se a hipotese de o local se manter em uso na Idade Media e, eventualmente, na Idade Moderna. EnglishThis article draws upon the objectives and the results of the archaeological work carried out in 2011 and 2012 at the fortifi ed settlement called Castelo dos Mouros. T...
Portugália, 2004
Os achados arqueológicos nas Boucinhas ocorreram em 1989 quando o Sr. Francisco Dantas Viana surr... more Os achados arqueológicos nas Boucinhas ocorreram em 1989 quando o Sr. Francisco Dantas Viana surribava a vertente norte de um pequeno outeiro existente na sua propriedade. Após uma primeira notícia (ALMEIDA et alii, 1994), o local permaneceu, até hoje, como zona ...
Patrocinado pela Câmara Municipal de Mogadouro, arrancou em 2011 um projeto dedicado ao estudo mo... more Patrocinado pela Câmara Municipal de Mogadouro, arrancou em 2011 um projeto dedicado ao estudo monográfico, divulgação científica e valorização do Castelo dos Mouros de Vilarinho dos Galegos, de forma a viabilizar o seu usufruto colectivo. Os trabalhos arqueológicos já realizados neste importante povoado fortificado, implantado num esporão sobranceiro ao Douro internacional, para além de revelarem um complexo sistema defensivo, datado da Idade do Ferro, constituído por uma imponente muralha e torreão, pétreos, reforçados por um fosso e um amplo campo de pedras fincadas, puseram a descoberto uma entrada em corredor e significativas reformulações arquitectónicas as quais, em associação com a estratigrafia revelada e os materiais exumados, indiciam um longo período de ocupação, balizado entre a Idade do Ferro e o período medieval.
Os trabalhos arqueológicos levados a cabo, nos últimos anos, no Castelo dos Mouros de Vilarinho d... more Os trabalhos arqueológicos levados a cabo, nos últimos anos, no Castelo dos Mouros de Vilarinho dos Galegos (Mogadouro), no Nordeste de Portugal, facultaram um conjunto de dados muito relevante para o conhecimento do seu sistema defensivo, constituído por muralha e torreão, pétreos, antecedidos por fosso e pedras fi ncadas. O cruzamento da informação obtida com a leitura e interpretação da planimetria e paramentos das arquiteturas militares, em articulação com os dados estratigráfi cos e datações radiométricas, permitem-nos formular uma hipótese de faseamento para o complexo defensivo do Castelo dos Mouros, hipótese que esperamos corroborar em futuras escavações.
Ficheiro Epigráfico, 2018
New Roman inscription dedicated to Iupiter optimus Maximus Conservator in Hispania citerior (Zava... more New Roman inscription dedicated to Iupiter optimus Maximus Conservator in Hispania citerior (Zava, Mogadouro, Bragança).
Novo altar romano dedicado a Iuppiter Optimus Maximus Conservator na Hispania citerior (Zava, Mogadouro, Bragança).
Ficheiro Epigráfico. Coimbra. 174, n.º 662
Resumen: Basados en los resultados de las excavaciones arqueológicas realizadas en los complejos ... more Resumen: Basados en los resultados de las excavaciones arqueológicas realizadas en los complejos I y II del arte atlántico de Crastoeiro, localizados en el Monte de la Senhora da Graça y partiendo del supuesto de que los individuos no sólo viven en un espacio sino que también están inmersos o incorporados en el, este trabajo tiene como objetivo establecer algunas interpretaciones no sólo sobre la biografía de cada uno de estos loci, sino también, entender los diferentes procesos de interacción de las comunidades locales con el Monte da Senhora da Graça, especialmente aquellos que se relacionan con la elección, la construcción, la frecuencia y las acciones inherentes al uso de estos lugares que designamos arte rupestre.
Papers in conferences proceedings by António Pereira
O texto dá a conhecer diversas formas de apropriação do espaço por parte das comunidades pré-hist... more O texto dá a conhecer diversas formas de apropriação do espaço por parte das comunidades pré-históricas de Campo de Caparinho, em Vilar de Perdizes, Montalegre. Pelo tipo de materialidades encontradas (monumentos megalíticos, gravuras rupestres, estelas, entre outros) os autores admitem que o local funcionou como um lugar especial, na longa duração, gerador e, simultaneamente, expressivo de identidade grupal. Defendem, também, que as diferentes expressões de apropriação do lugar de Campo de Caparinho, entre os inícios do 4º e os meados do 3º milénios AC, se efectuam numa profunda interacção e diálogo com o meio envolvente, pelo que admitem a inexistência da dualidade natureza/cultura por parte dos seus utilizadores e construtores.
Uploads
Talks by António Pereira
Os estudos paleoetnobotânicos permitem um melhor entendimento dos sítios arqueológicos, do ambiente ruderal, da gestão dos territórios, das atividades económicas e das estratégias de armazenagem das comunidades que habitaram os espaços do noroeste português durante a Idade do Ferro. Para a eficiência destes estudos foi marcante o desenvolvimento de estratégias de recolhas de sedimentos, a revisão de procedimentos laboratoriais e a melhoria dos critérios de diagnóstico taxonómico das várias espécies botânicas.
Durante a Idade do Ferro foi exercida uma grande pressão sobre os recursos vegetais do noroeste português, constituindo-se paisagens humanizadas amplamente desarborizadas.
Apesar de terem sidos elaborados trabalhos anteriores na região, continuam a ser escassos os estudos carpológicos (frutos e sementes), apesar destes terem um papel preponderante na compreensão da ação humana sobre o meio principalmente no que concerne a práticas agrícolas. Os dados atualmente disponíveis sugerem que estas assentavam principalmente no cultivo de cereais, dos quais destacam-se a aveia (Avena), o milho-miúdo (Panicum miliaceum), a cevada de grão vestido (Hordeum vulgare subsp vulgare), os trigos de grão nu (Triticum aestivum/durum) e os trigos vestidos (Triticum turgidum L. subsp. dicoccum e Triticum aestivum L. subsp. spelta). Estes últimos, com relevância, por serem menos exigentes ao nível dos solos, mais tolerantes a condições de pequena e média montanha, a temperaturas baixas e ambientes húmidos. Seriam, por isso uma solução para as condições climáticas que ter-se-ão verificado a partir do século IV a.C. O seu uso poderá corresponder, assim, a uma adaptação por parte das populações da Idade do Ferro de forma a manter colheitas estáveis e garantir a sua sobrevivência. A presença do milho, um cereal de primavera, que se adapta a diferentes solos e temperaturas indica que era natural a existência de duas colheitas por ano.
As leguminosas são menos abundantes no registo carpológico, o que poderá resultar de um fenómeno de preservação diferencial e da escassez de recolhas e sistemáticas de sedimentos durante as escavações arqueológicas. A fava (Vicia faba) é a espécie que surge mais frequentemente. Esta diversidade de cultivos vai em oposição ao que as fontes históricas nos
deixaram, nomeadamente Estrabão que considerava a bolota como o substituto do cereal no fabrico do pão.
Tal como se depreende dos estudos do Crastoeiro, em Mondim de Basto, no vale do Tâmega, entre outros sítios do noroeste português, as estruturas de armazenagem eram preferencialmente subterrâneas, em fossas abertas no substrato rochoso de dimensões consideráveis.
O processo de registo arqueológico é cada vez mais complexo, motivo pelo qual a obtenção de dados fiáveis e coerentes em termos paleobotânicos é urgente em qualquer período cronológico-cultural. Deste modo, ele deve estar cada vez mais direcionado para aquilo que os nossos olhos não vêm sendo, portanto, necessário efetuar recolhas sistemáticas de sedimentos durante os trabalhos de campo, prática ainda não consolidada sistematicamente.
Papers by António Pereira
Novo altar romano dedicado a Iuppiter Optimus Maximus Conservator na Hispania citerior (Zava, Mogadouro, Bragança).
Ficheiro Epigráfico. Coimbra. 174, n.º 662
Papers in conferences proceedings by António Pereira
Os estudos paleoetnobotânicos permitem um melhor entendimento dos sítios arqueológicos, do ambiente ruderal, da gestão dos territórios, das atividades económicas e das estratégias de armazenagem das comunidades que habitaram os espaços do noroeste português durante a Idade do Ferro. Para a eficiência destes estudos foi marcante o desenvolvimento de estratégias de recolhas de sedimentos, a revisão de procedimentos laboratoriais e a melhoria dos critérios de diagnóstico taxonómico das várias espécies botânicas.
Durante a Idade do Ferro foi exercida uma grande pressão sobre os recursos vegetais do noroeste português, constituindo-se paisagens humanizadas amplamente desarborizadas.
Apesar de terem sidos elaborados trabalhos anteriores na região, continuam a ser escassos os estudos carpológicos (frutos e sementes), apesar destes terem um papel preponderante na compreensão da ação humana sobre o meio principalmente no que concerne a práticas agrícolas. Os dados atualmente disponíveis sugerem que estas assentavam principalmente no cultivo de cereais, dos quais destacam-se a aveia (Avena), o milho-miúdo (Panicum miliaceum), a cevada de grão vestido (Hordeum vulgare subsp vulgare), os trigos de grão nu (Triticum aestivum/durum) e os trigos vestidos (Triticum turgidum L. subsp. dicoccum e Triticum aestivum L. subsp. spelta). Estes últimos, com relevância, por serem menos exigentes ao nível dos solos, mais tolerantes a condições de pequena e média montanha, a temperaturas baixas e ambientes húmidos. Seriam, por isso uma solução para as condições climáticas que ter-se-ão verificado a partir do século IV a.C. O seu uso poderá corresponder, assim, a uma adaptação por parte das populações da Idade do Ferro de forma a manter colheitas estáveis e garantir a sua sobrevivência. A presença do milho, um cereal de primavera, que se adapta a diferentes solos e temperaturas indica que era natural a existência de duas colheitas por ano.
As leguminosas são menos abundantes no registo carpológico, o que poderá resultar de um fenómeno de preservação diferencial e da escassez de recolhas e sistemáticas de sedimentos durante as escavações arqueológicas. A fava (Vicia faba) é a espécie que surge mais frequentemente. Esta diversidade de cultivos vai em oposição ao que as fontes históricas nos
deixaram, nomeadamente Estrabão que considerava a bolota como o substituto do cereal no fabrico do pão.
Tal como se depreende dos estudos do Crastoeiro, em Mondim de Basto, no vale do Tâmega, entre outros sítios do noroeste português, as estruturas de armazenagem eram preferencialmente subterrâneas, em fossas abertas no substrato rochoso de dimensões consideráveis.
O processo de registo arqueológico é cada vez mais complexo, motivo pelo qual a obtenção de dados fiáveis e coerentes em termos paleobotânicos é urgente em qualquer período cronológico-cultural. Deste modo, ele deve estar cada vez mais direcionado para aquilo que os nossos olhos não vêm sendo, portanto, necessário efetuar recolhas sistemáticas de sedimentos durante os trabalhos de campo, prática ainda não consolidada sistematicamente.
Novo altar romano dedicado a Iuppiter Optimus Maximus Conservator na Hispania citerior (Zava, Mogadouro, Bragança).
Ficheiro Epigráfico. Coimbra. 174, n.º 662