DISSERTAÇÕES by Laís Barbiero
Laís Carla da Silva Barbiero, 2020
A mobilidade urbana é um tema complexo que abarca inúmeras variáveis que vão desde escolhas admin... more A mobilidade urbana é um tema complexo que abarca inúmeras variáveis que vão desde escolhas administrativas no que se refere aos investimentos em políticas públicas e infraestruturas, até o posicionamento da sociedade frente os novos desafios e quebras de paradigmas na utilização do carro e dos combustíveis fósseis. Seu principal problema encontra-se na rápida e desordenada urbanização que as cidades brasileiras apresentaram ao longo das décadas – sobretudo a partir de 1970 - no espraiamento e segregação socioespacial que aumentou ainda mais as distâncias e tempos de deslocamento entre trabalho e moradia (por exemplo), na escolha do veículo automotor individual como modal prioritário da vida urbana, entre tantos outros que trazem à tona a relevância em se discutir
essa questão. Dentro deste contexto, a bicicleta, além de ser o veículo mais utilizado do mundo, representa uma das soluções que as cidades têm buscado para o problema da circulação e do trânsito. Neste cenário, sua utilização como meio de transporte, pode ser entendida como um ato político necessário ao debate sobre os modos de locomoção no
meio urbano, sobre a humanização e equidade dos espaços, sobre o papel que cada modal representa e a quem eles devem servir, é o que temos visto transparecer nas mudanças provocadas pela pandemia do novo coronavírus. O presente trabalho escolheu como objeto
de análise a mobilidade por bicicleta, no entanto, é preciso entender que esta discussão não deve ser feita senão no âmbito de integração entre os modais disponíveis em determinada localidade - neste caso, o município de Maringá-PR. Esta cidade nasceu sob a lógica da
colonização planejada do norte paranaense, que se deu inicialmente pela companhia inglesa Paraná Plantations Ltd e, desde sua concepção, as ações dos agentes produtores do espaço urbano estiveram presentes de modo muito intenso, especialmente na forma da especulação imobiliária impulsionada por ações do Estado. Em parte, esta característica de empreendimento imobiliário é o que implica a maneira como se desdobrou o planejamento urbano municipal em suas várias nuances, com o advento de leis, políticas públicas e
infraestruturas que vêm - não raramente - ao encontro de interesses privados. Apesar de ser uma “cidade moderna” e planejada, com grande potencial de integração e diversificação de modais, ainda segue a velha lógica do carro como meio de transporte primordial, sendo
pensada para este fim desde o primeiro esboço de plano de construção da cidade durante a década de 1940. Suas avenidas largas e arborizadas, com amplas faixas de circulação e canteiro central com espaço suficiente para a implantação de ciclovias, receberam, antes de
qualquer outra medida, um sistema binário (composto de vias de mão única e sincronização semafórica chamada de “onda verde”), confirmando mais uma vez, a prioridade do modo privado de locomoção como centro dos investimentos públicos. Orgulhosa de ser uma
cidade cujas instituições públicas e privadas se debruçam sobre planos estratégicos numa projeção de décadas à frente, o Plano de Mobilidade, determinado pela Política Nacional de Mobilidade Urbana - PNMU, ainda está em fase inicial de discussão em Maringá, sendo que a primeira audiência pública aconteceu em dezembro de 2019 e ainda não é possível avaliar com exatidão os desdobramentos do mesmo. Assim, pode-se indagar sob qual perspectiva caminha este município: A quem a mobilidade urbana pretende atender na prática? Estariam as bicicletas dentro dos planos da cidade?
Uploads
DISSERTAÇÕES by Laís Barbiero
essa questão. Dentro deste contexto, a bicicleta, além de ser o veículo mais utilizado do mundo, representa uma das soluções que as cidades têm buscado para o problema da circulação e do trânsito. Neste cenário, sua utilização como meio de transporte, pode ser entendida como um ato político necessário ao debate sobre os modos de locomoção no
meio urbano, sobre a humanização e equidade dos espaços, sobre o papel que cada modal representa e a quem eles devem servir, é o que temos visto transparecer nas mudanças provocadas pela pandemia do novo coronavírus. O presente trabalho escolheu como objeto
de análise a mobilidade por bicicleta, no entanto, é preciso entender que esta discussão não deve ser feita senão no âmbito de integração entre os modais disponíveis em determinada localidade - neste caso, o município de Maringá-PR. Esta cidade nasceu sob a lógica da
colonização planejada do norte paranaense, que se deu inicialmente pela companhia inglesa Paraná Plantations Ltd e, desde sua concepção, as ações dos agentes produtores do espaço urbano estiveram presentes de modo muito intenso, especialmente na forma da especulação imobiliária impulsionada por ações do Estado. Em parte, esta característica de empreendimento imobiliário é o que implica a maneira como se desdobrou o planejamento urbano municipal em suas várias nuances, com o advento de leis, políticas públicas e
infraestruturas que vêm - não raramente - ao encontro de interesses privados. Apesar de ser uma “cidade moderna” e planejada, com grande potencial de integração e diversificação de modais, ainda segue a velha lógica do carro como meio de transporte primordial, sendo
pensada para este fim desde o primeiro esboço de plano de construção da cidade durante a década de 1940. Suas avenidas largas e arborizadas, com amplas faixas de circulação e canteiro central com espaço suficiente para a implantação de ciclovias, receberam, antes de
qualquer outra medida, um sistema binário (composto de vias de mão única e sincronização semafórica chamada de “onda verde”), confirmando mais uma vez, a prioridade do modo privado de locomoção como centro dos investimentos públicos. Orgulhosa de ser uma
cidade cujas instituições públicas e privadas se debruçam sobre planos estratégicos numa projeção de décadas à frente, o Plano de Mobilidade, determinado pela Política Nacional de Mobilidade Urbana - PNMU, ainda está em fase inicial de discussão em Maringá, sendo que a primeira audiência pública aconteceu em dezembro de 2019 e ainda não é possível avaliar com exatidão os desdobramentos do mesmo. Assim, pode-se indagar sob qual perspectiva caminha este município: A quem a mobilidade urbana pretende atender na prática? Estariam as bicicletas dentro dos planos da cidade?
essa questão. Dentro deste contexto, a bicicleta, além de ser o veículo mais utilizado do mundo, representa uma das soluções que as cidades têm buscado para o problema da circulação e do trânsito. Neste cenário, sua utilização como meio de transporte, pode ser entendida como um ato político necessário ao debate sobre os modos de locomoção no
meio urbano, sobre a humanização e equidade dos espaços, sobre o papel que cada modal representa e a quem eles devem servir, é o que temos visto transparecer nas mudanças provocadas pela pandemia do novo coronavírus. O presente trabalho escolheu como objeto
de análise a mobilidade por bicicleta, no entanto, é preciso entender que esta discussão não deve ser feita senão no âmbito de integração entre os modais disponíveis em determinada localidade - neste caso, o município de Maringá-PR. Esta cidade nasceu sob a lógica da
colonização planejada do norte paranaense, que se deu inicialmente pela companhia inglesa Paraná Plantations Ltd e, desde sua concepção, as ações dos agentes produtores do espaço urbano estiveram presentes de modo muito intenso, especialmente na forma da especulação imobiliária impulsionada por ações do Estado. Em parte, esta característica de empreendimento imobiliário é o que implica a maneira como se desdobrou o planejamento urbano municipal em suas várias nuances, com o advento de leis, políticas públicas e
infraestruturas que vêm - não raramente - ao encontro de interesses privados. Apesar de ser uma “cidade moderna” e planejada, com grande potencial de integração e diversificação de modais, ainda segue a velha lógica do carro como meio de transporte primordial, sendo
pensada para este fim desde o primeiro esboço de plano de construção da cidade durante a década de 1940. Suas avenidas largas e arborizadas, com amplas faixas de circulação e canteiro central com espaço suficiente para a implantação de ciclovias, receberam, antes de
qualquer outra medida, um sistema binário (composto de vias de mão única e sincronização semafórica chamada de “onda verde”), confirmando mais uma vez, a prioridade do modo privado de locomoção como centro dos investimentos públicos. Orgulhosa de ser uma
cidade cujas instituições públicas e privadas se debruçam sobre planos estratégicos numa projeção de décadas à frente, o Plano de Mobilidade, determinado pela Política Nacional de Mobilidade Urbana - PNMU, ainda está em fase inicial de discussão em Maringá, sendo que a primeira audiência pública aconteceu em dezembro de 2019 e ainda não é possível avaliar com exatidão os desdobramentos do mesmo. Assim, pode-se indagar sob qual perspectiva caminha este município: A quem a mobilidade urbana pretende atender na prática? Estariam as bicicletas dentro dos planos da cidade?