Papers by João Luiz Horta Neto
Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 2019
Neste texto são apresentados e discutidos alguns dos principais conceitos presentes no debate aca... more Neste texto são apresentados e discutidos alguns dos principais conceitos presentes no debate acadêmico sobre a avaliação externa de escolas e sistemas, e sua relação com as políticas públicas. Conceitua-se a avaliação da educação e apresenta-se seus diversos usos, evidenciando o caráter central que ela passa a ocupar. Apresenta-se a seguir, a estrutura de um sistema de avaliação externa. Finalmente, para situar o leitor na realidade brasileira, é apresentado um breve histórico do desenvolvimento das avaliações externas no Brasil, com ênfase no Saeb. O texto baseou-se em uma revisão da bibliografia sobre avaliação educacional externa e da legislação educacional brasileira.
Revista Brasileira de Educação, 2017
RESUMO Visando a mapear e caracterizar iniciativas relacionadas às avaliações em larga escala em ... more RESUMO Visando a mapear e caracterizar iniciativas relacionadas às avaliações em larga escala em desenvolvimento nos municípios brasileiros, desenvolveu-se uma pesquisa com abrangência nacional. Seus resultados são tratados no presente artigo, que se organiza em quatro seções. Inicialmente, apresenta-se uma síntese dos estudos já produzidos sobre a temática e, em seguida, explicitam-se os procedimentos metodológicos. Na terceira seção são discutidos os resultados obtidos por meio de survey, que abarcam informações obtidas de 4.309 municípios brasileiros. Por fim, são expostas conclusões acerca das concepções presentes nas avaliações propostas pelos municípios, bem como os usos dos resultados que as gestões desses entes federados fazem das diversas avaliações existentes, que evidenciam a consolidação da avaliação em larga escala como instrumento de gestão educacional nas municipalidades.
Revista de Educação PUC-Campinas, 2018
O texto, com base em revisão da bibliografia, analisa o movimento da avaliação educacional no Bra... more O texto, com base em revisão da bibliografia, analisa o movimento da avaliação educacional no Brasil e discute uma proposta de incluir no processo avaliativo outros aspectos que não somente os resultados dos testes. Inicialmente, destaca o movimento das políticas educacionais brasileiras em direção aos testes cognitivos, principal instrumento das avaliações educacionais produzidas pelos diferentes níveis de governo. Aborda os principais movimentos que permitiram o desenvolvimento da avaliação, tanto aqueles relativos à construção de seus instrumentos, como a discussão da legislação educacional. Também destaca os princípios basilares do Sistema de Avaliação da Educação Básica, e como esse instrumento foi-se modificando ao longo do tempo para permitir a criação de um indicador educacional como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, e para a definição de metas por escolas. Por fim apresenta a proposta do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, proposto pelo Plano Nac...
Estudos em Avaliação Educacional, 2015
O artigo, que se organiza em quatro seções, apresenta resultados de pesquisa que teve por objetiv... more O artigo, que se organiza em quatro seções, apresenta resultados de pesquisa que teve por objetivos mapear e caracterizar iniciativas relacionadas às avaliações em larga escala em desenvolvimento nos municípios brasileiros. Inicialmente, expõe-se uma síntese de estudos já produzidos sobre a temática e, em seguida, são explicitados os procedimentos metodológicos do estudo. Na terceira seção, discutem-se resultados obtidos na fase preliminar do survey, que abarcam manifestações obtidas de 4.309 municípios. Por fim, são apontadas conclusões acerca de concepções presentes nas avaliações propostas pelos municípios e dos usos dos resultados que as gestões desses entes federados fazem das diversas avaliações existentes, que evidenciam a consolidação da avaliação em larga escala como instrumento de gestão educacional nas municipalidades.
Estudos em Avaliação Educacional, 2014
The purpose of this study is to discuss the uses of the results of Brazilian educational evaluati... more The purpose of this study is to discuss the uses of the results of Brazilian educational evaluations for some actions developed by the Plano de Desenvolvimento da Escola, their possible consequences in the work of schools and how the electronic written media has been approaching this topic. The right to learning and the process of accountability, axes of governmental actions in recent years, are discussed. Next, the development of the tests given to elementary school students between 1990 and 2012, identifying their instruments and principal results, are analyzed. Due to the current importance of the tests as an indicator of educational quality, how electronic communications media treat this quality is also investigated. It is concluded that the tests have been used, basically, as an instrument to define school performance, with undesirable consequences for the work that they and their professionals are doing, such that the focus of the actions has been to seek to improve the performance on the tests.
Em Aberto, 2019
Julio Jacobo Waiselfisz entrevistado por João Horta Neto em 13 e 14 de janeiro de 2015.
In recent years, there has been a growing interest from the public authorities for external asses... more In recent years, there has been a growing interest from the public authorities for external assessments in the literacy cycle, which makes them central to the debate on school quality at this stage of teaching. On the other hand, these assessments have little power to influence decision-making within schools, frustrating, in part, what appears to be the interest of the bodies responsible for these. Against this background, this article analyzes some of the possible reasons why the results of the literacy cycle assessments are seldom used for school improvement. In addition, it discusses the possible contributions of institutional self-assessment within the literacy cycle. It finds that external assessments should be problematized just as they happen, because they unilaterally produce opinions regarding the quality of the assessments, and, in case schools do not develop their own assessments, they may be victimized by these opinions.
Em Aberto, 2020
Resumo Tem-se observado, nos últimos anos, um crescente interesse do poder público por avaliações... more Resumo Tem-se observado, nos últimos anos, um crescente interesse do poder público por avaliações externas no ciclo de alfabetização, tornando-as centrais no debate sobre a qualidade escolar nessa etapa de ensino. Contraditoriamente, essas ações têm influenciado pouco as tomadas de decisão no âmbito das escolas, frustrando, em parte, o que parece ser o interesse dos órgãos responsáveis pelas avaliações. Perante esse quadro, o presente artigo analisa algumas das possíveis razões que explicariam o fato de os resultados das avaliações do ciclo de alfabetização serem pouco utilizados para a melhoria escolar e discute as prováveis contribuições da autoavaliação institucional. Conclui que é preciso problematizar as avaliações externas tal como são realizadas, porque produzem de modo unilateral juízos acerca da qualidade das instituições, e, se as escolas não desenvolverem suas próprias avaliações, tornam-se reféns desses juízos. Palavras-chave: avaliação da educação básica; avaliação do desempenho institucional; ciclo básico de alfabetização. Em Aberto, Brasília, v. 33, n. 108, p. 175-187, maio/ago. 2020
O texto, com base em revisão da bibliografia, analisa o movimento da avaliação educacional no Bra... more O texto, com base em revisão da bibliografia, analisa o movimento da avaliação educacional no Brasil e discute uma proposta de incluir no processo avaliativo outros aspectos que não somente os resultados dos testes. Inicialmente, destaca o movimento das políticas educacionais brasileiras em direção aos testes cognitivos, principal instrumento das avaliações educacionais produzidas pelos diferentes níveis de governo. Aborda os principais movimentos que permitiram o desenvolvimento da avaliação, tanto aqueles relativos à construção de seus instrumentos, como a discussão da legislação educacional. Também destaca os princípios basilares do Sistema de Avaliação da Educação Básica, Saeb, e como esse instrumento foi-se modificando ao longo do tempo para permitir a criação de um indicador educacional como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, Ideb, e para a definição de metas por escolas. Por fim apresenta a proposta do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, Sinaeb, proposto pelo Plano Nacional de Educação, PNE, que amplia a avaliação para outras dimensões, que não apenas os resultados nos testes, e cria um comitê de governança, trazendo outros atores, além do governo federal, para a discussão sobre os seus instrumentos e os usos de seus resultados.
RESUMO Visando a mapear e caracterizar iniciativas relacionadas às avaliações em larga es-cala em... more RESUMO Visando a mapear e caracterizar iniciativas relacionadas às avaliações em larga es-cala em desenvolvimento nos municípios brasileiros, desenvolveu-se uma pesquisa com abrangência nacional. Seus resultados são tratados no presente artigo, que se organiza em quatro seções. Inicialmente, apresenta-se uma síntese dos estudos já produzidos sobre a temática e, em seguida, explicitam-se os procedimentos meto-dológicos. Na terceira seção são discutidos os resultados obtidos por meio de survey, que abarcam informações obtidas de 4.309 municípios brasileiros. Por fim, são expostas conclusões acerca das concepções presentes nas avaliações propostas pelos municípios, bem como os usos dos resultados que as gestões desses entes federados fazem das diversas avaliações existentes, que evidenciam a consolidação da avaliação em larga escala como instrumento de gestão educacional nas municipalidades.
Este artigo apresenta proposta para organização do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Bási... more Este artigo apresenta proposta para organização do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Sinaeb), disposto no Plano Nacional de Educação (PNE). Traz o histórico das avaliações educacionais desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) desde 1990, seguido de reflexão acerca de diferentes concepções de qualidade educacional, aspecto central para elaboração desta proposta – desenvolvida em 5 diretrizes e 17 dimensões concernentes à avaliação da qualidade da educação. Considerando a importância da avaliação do desempenho nos testes em larga escala e a necessidade de se observarem outras dimensões, a proposta inclui novos indicadores de avaliação institucional, em consonância com o disposto no PNE. Em se tratando de sistema de avaliação de caráter nacional e não apenas federal, procura-se contemplar a participação dos entes federados e de importantes atores da sociedade diretamente empenhados em favor do direito à educação de qualidade para todos. Desse modo, preveem-se processos avaliativos mais amplos, participativos e diversificados, voltados à produção de mais subsídios para formulação e melhoria das políticas educacionais, bem como para o desenvolvimento de processos educativos mais inclusivos e equitativos.
Entrevista realizada por João Luiz Horta Neto na cidade do Recife, entre os dias 13 e 14 de janei... more Entrevista realizada por João Luiz Horta Neto na cidade do Recife, entre os dias 13 e 14 de janeiro de 2015. Foram 12 horas de conversa gravada, que depois foi degravada destacando-se os aspectos mais marcantes da história do Saeb e as ideias do entrevistado sobre o futuro da avaliação da educação básica no Brasil.
This paper discusses the evolution of Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) and its infl... more This paper discusses the evolution of Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) and its influence on the development of other large-scale testing in Brazil, highlighting the impact of assessments in educational networks, the expansion of large-scale tests in the states and municipalities of the country and the limitation the use that is made of the results, emphasizing the competition between schools and educational networks for better performances, that does not necessarily mean improvements in learning. Further, it discusses the advantages of using a system of indicators, instead of a synthetic index, as the Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), to diagnose, monitor and evaluate basic education, according to the model proposed by Plano Nacional de Educação (PNE) for Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Sinaeb). Finally, it highlights the need that this new evaluation system make use of tools and processes to properly measure the disabilities student’s skills, to develop indicators on special education policies and determine the conditions of accessibility and learning in school realities.
A evolução do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e sua influência no desenvolvimento de outros testes em larga escala no Brasil é analisada com destaque para as repercussões das avaliações nas redes de ensino, a expansão dos testes em larga escala nos estados e municípios e a limitação do uso que se tem feito de seus resultados, enfatizando a competição que se instaura entre as escolas e as redes na busca de melhores desempenhos, sem que isso signifique melhorias da aprendizagem. Também são discutidas as vantagens de se utilizar um sistema de indicadores em vez de um índice sintético, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), para diagnosticar, monitorar e avaliar a educação básica, tendo em vista o modelo de Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Sinaeb) proposto pelo Plano Nacional de Educação (PNE). Por fim, destaca-se a necessidade de esse novo sistema de avaliação valer-se de instrumentos e processos que permitam mensurar de maneira apropriada as habilidades dos estudantes com deficiência, elaborar indicadores sobre as políticas de educação especial e averiguar as condições de acessibilidade e aprendizagem nas realidades escolares.
SÍNTESE: O objetivo desse trabalho foi pesquisar como os governos subnacionais estariam utilizand... more SÍNTESE: O objetivo desse trabalho foi pesquisar como os governos subnacionais estariam utilizando os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica -Saeb, avaliação externa da educação produzida pelo governo federal no Brasil. Para tanto, escolheu-se o governo do Distrito Federal, onde se localiza Brasília, capital do Brasil, e dentro dele a Secretaria de Educação, gestora de toda a educação básica. Os resultados indicaram que os gestores dessa secretaria defendem a importância de uma avaliação nacional como a do Saeb. Paradoxalmente, os dados gerados pelo Saeb não são utilizados na formulação de suas políticas, e isso parece ter uma íntima relação com as dificuldades de se compreender os resultados produzidos pela avaliação, assim como com as práticas de gestão desses gestores que estão focadas em aspectos meramente operativos.
O caminho entre um sistema de medições para levantar dados sobre a educação até chegar à construç... more O caminho entre um sistema de medições para levantar dados sobre a educação até chegar à construção de um sistema de avaliação da educação básica no Brasil foi longo. As primeiras medições da educação faziam parte do Anuário Estatístico do Brasil e começaram a ser realizadas a partir de 1906. Eram levantados dados sobre os níveis de ensino público e privado existentes na época, quais sejam: superior, profissional, secundário e primário. Os dados eram coletados basicamente no Distrito Federal, na época a cidade do Rio de Janeiro, e forneciam anualmente, até 1918, informações sobre o número de escolas, de pessoal docente, de matrículas e de repetências. Após uma longa interrupção, os dados voltam a ser coletados a partir de 1936, envolvendo agora informações não somente do Distrito Federal, mas de todo o Brasil (IBGE, 2003). Em 1925, a administração da educação ganhou um órgão próprio com a edição do Decreto 16.782 que criou o Departamento Nacional de Ensino vinculado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Menos de um mês depois da vitória da Revolução de 1930, é criado o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública pelo Decreto 19.402, e o antigo Departamento Nacional de Ensino passa a fazer parte do novo ministério. No ano seguinte é aprovado o regulamento que rege o novo ministério, através do Decreto 19.560/31, que definia entre outras medidas a criação da Diretoria Geral de Informações Estatísticas e Divulgação, que seria a responsável pelo levantamento dos dados relativos à educação.
Books by João Luiz Horta Neto
The Education Systems of the Americas, 2020
Throughout the twentieth century and the beginning of the twenty-first century, several reforms s... more Throughout the twentieth century and the beginning of the twenty-first century, several reforms sought to structure the levels of education aiming to adjust the systems to the different political moments of Brazil. This article presents an overview of the development of the Brazilian education system, followed by an analysis of the organization of Brazilian education in the federal, state, and municipal spheres. Specificities of each level of basic and higher education are also discussed based on recent statistical data and on the assessments performed above all by the National Institute for Educational Studies and Research (INEP), a Brazilian government agency. Recent developments are then analyzed such as the implementation of a monitoring system for the goals prescribed in the National Education Plan (2014–2024). One of the remaining challenges is the need to expand the right to education, regarding not only the access and continuation in the education system but also the reduction of inequality in the education system and the right of students not only to learn contents but also to be educated in a human, cultural, and scientific sense.
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A evolução do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e sua influência no desenvolvimento de outros testes em larga escala no Brasil é analisada com destaque para as repercussões das avaliações nas redes de ensino, a expansão dos testes em larga escala nos estados e municípios e a limitação do uso que se tem feito de seus resultados, enfatizando a competição que se instaura entre as escolas e as redes na busca de melhores desempenhos, sem que isso signifique melhorias da aprendizagem. Também são discutidas as vantagens de se utilizar um sistema de indicadores em vez de um índice sintético, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), para diagnosticar, monitorar e avaliar a educação básica, tendo em vista o modelo de Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Sinaeb) proposto pelo Plano Nacional de Educação (PNE). Por fim, destaca-se a necessidade de esse novo sistema de avaliação valer-se de instrumentos e processos que permitam mensurar de maneira apropriada as habilidades dos estudantes com deficiência, elaborar indicadores sobre as políticas de educação especial e averiguar as condições de acessibilidade e aprendizagem nas realidades escolares.
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A evolução do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e sua influência no desenvolvimento de outros testes em larga escala no Brasil é analisada com destaque para as repercussões das avaliações nas redes de ensino, a expansão dos testes em larga escala nos estados e municípios e a limitação do uso que se tem feito de seus resultados, enfatizando a competição que se instaura entre as escolas e as redes na busca de melhores desempenhos, sem que isso signifique melhorias da aprendizagem. Também são discutidas as vantagens de se utilizar um sistema de indicadores em vez de um índice sintético, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), para diagnosticar, monitorar e avaliar a educação básica, tendo em vista o modelo de Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Sinaeb) proposto pelo Plano Nacional de Educação (PNE). Por fim, destaca-se a necessidade de esse novo sistema de avaliação valer-se de instrumentos e processos que permitam mensurar de maneira apropriada as habilidades dos estudantes com deficiência, elaborar indicadores sobre as políticas de educação especial e averiguar as condições de acessibilidade e aprendizagem nas realidades escolares.
Para medir o desempenho cognitivo dos alunos, um dos objetivos do Saeb, o Ministério da Educação (MEC) apropriou-se de estudos, pesquisas e trabalhos realizados, desde os anos 1970, por diversos pesquisadores, com destaque para aqueles ligados à Fundação Carlos Chagas, que atuavam principalmente em pesquisas de avaliação de programas educacionais e testes para os grandes vestibulares. O teste de desempenho cognitivo foi o instrumento que deu mais visibilidade ao Saeb, pois mediu, pela primeira vez em escala nacional, o desempenho dos alunos do que é hoje o ensino fundamental. No entanto, seu engenhoso desenho abarcava outros treze instrumentos que envolviam, por exemplo, dados estatísticos, estudos de gestão escolar, estudos de custo-aluno e estudos sobre os professores. A ideia central era contar com uma série de indicadores e, a partir deles, fornecer um retrato sobre a educação do País, por regiões e estados. Com isso, buscavam-se dados que fornecessem informações para subsidiar o desenvolvimento e o acompanhamento das políticas educacionais relativas aos sistemas de ensino. Outra característica do Saeb era a descentralização, envolvendo a participação das secretarias estaduais de educação na discussão e no desenvolvimento de seus instrumentos.
Vinte e cinco anos se passaram, mudanças importantes ocorreram no cenário político nacional – inclusive com diferentes partidos políticos e coalizões políticas comandando o governo federal –, e mesmo assim nenhuma das edições do Saeb deixou de acontecer, apesar das modificações que foi sofrendo ao longo de sua existência. Dessa forma, esta é uma das ações educacionais mais longevas, junto com programas como o da merenda escolar e o Programa Nacional do Livro Didático.
O tema Saeb já mereceu uma Em Aberto (número 66, editado em 1995) cujo título foi “O futuro do Saeb e a consolidação de políticas públicas”. Nada mais oportuno do que revisitar o tema.
Atualmente, as informações produzidas pelo Saeb são objeto de disputas e controvérsias. De um lado, podem ser utilizadas para o diagnóstico, o planejamento, a intervenção e o monitoramento da educação escolar, a fim de melhorar o ensino ofertado ao disponibilizar dados relevantes sobre os êxitos e os problemas encontrados nessa atividade. De outro, tais informações podem viabilizar, conforme a perspectiva política e ideológica pela qual são apreendidas, o ranqueamento, a estigmatização e a responsabilização vertical de escolas e de seus profissionais, por exemplo. Diante dessas possibilidades, é preciso refletir sobre os limites e desafios dos usos dos resultados dessa avaliação.
Passado um quarto de século, é importante discutir as concepções originais e as alterações pelas quais essa avaliação passou. Para tanto, faz-se necessário apresentar e discutir as bases sobre as quais o Saeb foi criado, algo que ainda não está completamente detalhado pela literatura. Ao lado disso, também é importante dar voz aos principais atores que estiveram no centro do processo de sua institucionalização, com vistas a realçar as diferentes perspectivas que foram se acrescentando ao longo de sua maturação, confrontando-as com aquelas que foram deixadas de lado. Tão importante quanto as duas perspectivas anteriores é apontar desafios para o futuro, debatendo também o papel que teve o Saeb no desenvolvimento de outros testes pelo governo federal e naqueles desenvolvidos por estados e municípios. Avançando na discussão, é fundamental olhar para o futuro e discutir o papel que o Saeb tem a desempenhar, quais os desafios a enfrentar e como ele deve se estruturar para continuar contribuindo com a educação brasileira.
Para este número foram selecionados diferentes atores, pedindo-se a eles contribuições sobre o período que vivenciaram em relação à avaliação educacional e quais perspectivas veem para o futuro dela.
Deram sua contribuição para esse número, os seguintes autores: João Luiz Horta Neto, Rogério Diniz Junqueira, Adolfo Samuel de Oliveira, António Teodoro, Candido Gomes, Maria Inês Pestana, Maria Helena Guimarães de Castro, Reynaldo Fernandes, Alicia Bonamino, Luiz Carlos de Freitas, José Francisco Soares, Pâmela Félix Freitas, Valéria Aparecida de Souza Siqueira, Ocimar Munhoz Alavarse, Julio Jacobo Waiselfisz, Ana Paula de Matos Oliveira Rocha, Adriano Souza Senkevics, José Roberto de Souza Santos e Viviane Fernandes Faria Pinto.
Inicialmente o desenho do Saeb envolvia um conjunto amplo de instrumentos, que possibilitassem, através de suas diferentes medidas, realizar juízo de valor sobre a Educação Básica brasileira, daí o uso dos termos Sistema de Avaliação.
Com o passar dos anos, assim como no restante do mundo, os testes cognitivos, um dos seus instrumentos, ganham centralidade na discussão sobre a qualidade da educação e seus resultados foram utilizados para estimular a competição por desempenhos crescentes. No Brasil, ganha impulso com as discussões envolvendo a elaboração da BNCC.
Nesse período de discussão da BNCC dois caminhos foram perseguidos: um que enxergava o processo educacional de forma holística em que as políticas educacionais fossem marcadas pelas discussões democráticas envolvendo grandes parcelas da sociedade e outro marcado pelas discussões envolvendo unicamente especialistas, muitos deles com ligações fortes com o desenvolvimento e aplicação de testes cognitivos. Como resultado dessa disputa, emerge ainda mais forte o uso dos testes como o único instrumento capaz de alterar a realidade educacional.
Os resultados dos questionários produzidos pelo Saeb destacam o
quanto tem avançado o uso dos testes nos níveis subnacionais, grande parte deles seguindo a mesma lógica do Saeb. Tudo indica que estão sendo usados para controlar o trabalho docente e incentivar a competição por melhores desempenhos. Parte-se do princípio de que melhores desempenhos nos testes significam melhores aprendizados e consequentemente elevação da qualidade.
Neste cenário conturbado, os pesquisadores do Inep desenvolvem a proposta do Sinaeb. Para materializar o que havia sido determinado pelo PNE, eles convidam vários educadores e juntos travaram intensos debates durante quase dois anos para construir uma proposta de avaliação abrangente, que superasse o paradigma dominante. A proposta construída foi regulamentada por portaria, mas com o golpe contra a presidente Dilma a portaria foi revogada seis meses depois de publicada. Até mesmo um texto
acadêmico que apresentava a proposta foi censurado pela presidência do Inep, no dia seguinte ao de sua publicação como se quisessem apagar qualquer vestígio da proposta inicial. Mesmo assim a proposta do Sinaeb volta a ser apresentada quando se discutia justamente a adequação do Saeb à BNCC, em 2018 e seus princípios foram incorporados à Matriz do Saeb.
Apesar de haver uma Matriz que leve em consideração que o produto da escola é o aluno educado (PARO, e que a esse produto devem estar associados parâmetros de qualidade abrangentes, ainda não foi possível disponibilizar para a sociedade indicadores que ampliem o olhar sobre a qualidade da educação.
As disputas em torno da centralidade dos testes cognitivos, os quatro anos do governo Bolsonaro que praticamente paralisaram o Inep e a crescente perda de pesquisadores do Instituto têm sido um empecilho para isso. No entanto, os quatro questionários do Saeb, redesenhados à luz da nova Matriz, conseguem, apesar de forma ainda limitada, oferecer elementos para ampliar as discussões sobre a qualidade para além dos testes cognitivos.