O projecto europeu é uma
necessidade existencial para os Estados desses ex-impérios, onde se incluiu o
português, que integram o projecto. Mais do que uma abdicação da soberania de
Estados nacionais para as instituições europeias, o que se passa é outra coisa:
é a União Europeia (UE) que assegura e torna possível a existência desses Estados.
Sem ela, a existência desses Estados ficaria perigosamente comprometida. Sem a
Europa, esses Estados estão condenados à irrelevância, mesmo ao desaparecimento.
E isso percebe-se. Basta olhar para os grandes actores mundiais – EUA, China,
Rússia, Índia – para compreender que mesmo os maiores países europeus, se
isolados, não têm qualquer possibilidade de fazer parte do jogo político
mundial, aquele onde se decide a vida do cidadão comum.
Se a visão de Snyder for correcta, e ela parece sólida, o crescimento, nos diversos países europeus, das forças nacionalistas, soberanistas e anti europeias é uma pulsão de morte. De morte, não apenas do projecto europeu, mas dos próprios Estados europeus, que existem ancorados na União. As dificuldades que a Inglaterra tem enfrentado desde o Brexit são um sintoma de que a visão de Snyder está correcta. Os europeus – em que só 50% se mostram agradados com a UE – parecem inclinados para essa autodestruição, muito desejada pela Rússia e, agora, pelas hordas MAGA capitaneadas por Trump, Musk e Vance. Se o projecto europeu resulta de uma necessidade existencial dos Estados que o compõem, então a sua destruição é, também, a destruição desses Estados. E é isto que as elites políticas europeias deveriam explicar muito claramente aos seus cidadãos. Esclarecer que o caminho mais rápido para destruição das nações é o nacionalismo levado ao extremo.