abreu’s review published on Letterboxd:
no meio do filme, as três personagens lêem um conto e discutem suas diferentes perspectivas sobre ele.
fiquei curiosa e fui atrás de entender melhor as entrelinhas, pesquisei e vi que se tratava do mito de orfeu e eurídice, retirado de um livro de poesia épica, onde eurídice morre ao ser picada por uma cobra e orfeu desce ao submundo para tentar trazê-la de volta.
orfeu, ao comover hades e perséfone com a sua música, conquista o retorno de eurídice, entretanto, sob uma condição: que ele não a olhasse até que saíssem do submundo. porém, orfeu vai contra os termos negociados, condenando eurídice à morte e a si mesmo a uma vida de luto por sua amada.
e se torna mais interessante o momento em que marianne, heloíse e sophie conversam, pois podemos perceber elas espelhando as suas próprias vivências na interpretação daquele texto.
segundo marianne, orfeu escolheu manter a memória de eurídice consigo, pois ele priorizou capturar um momento transitório para transformá-lo em uma lembrança eterna.
aliás, algo muito semelhante com o que marianne acreditava ser o certo...
o retrato que pintava de heloíse e toda a sua arte num geral, era uma maneira de perpetuar momentos e pessoas.
já heloíse, apresenta uma interpretação mais emocional, sugerindo que exista a possibilidade de orfeu ter sido chamado por eurídice, rejeitando a ideia de que a história se trata de uma tragédia unilateral.
heloíse enxerga o verdadeiro amor como uma via de mão dupla, onde ambos têm responsabilidades para com o outro, mas também, como um sentimento aliado à impulsividade.
uma questão que explica muito a sua resistência perante o seu casamento... ela não recebe, enquanto é obrigada a se doar; ela não pode ser impulsiva, devendo sempre se submeter ao que lhe é imposto.
e para sophie, o mito é prático e autoexplicativo, simplesmente uma tragédia com consequências inevitáveis.
uma ideia que ressalta a sua percepção simples sobre o amor.
sophie enfrenta desafios, como a sua gravidez indesejada, mas aceita que a perda é uma parte inerente da vida.
ou seja, a cena não se resume a uma análise literária, ela reflete as experiências e escolhas das três personagens.