UMA LOA PARA E. B. BRITO

image CARANGUEJO - E. B. Brito 


Que o desenho é o fundamento do trabalho dos grandes artistas, é sabido por todos. Mas não é só isso. Alguns o elegem como seu principal veículo de criação estética. Daí os grafismos, o tachismo, o bico de pena, as diversas apresentações do desenho, que perpassam os vários nichos da arte contemporânea. 

Assim, os intrigantes desenhos de Emanuel Bezerra de Brito, (que, na sua modéstia de sábio cearense, ele costuma denominar de rabiscos), revelam sua insólita maneira de olhar o mundo, aparentemente caótica, decerto, mas, pontuada por representações de um mergulho interior, que esse artista eleva ao nível de obra de arte, produzindo formas viscerais e telúricas, tais como:

Astral
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Bizunga
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formas que, ao emergirem desse mergulho, vêm ensopadas de um lirismo abstrato e profundamente pessoal.

Essas linhas por vezes  se aproximam da forma tradicional dos arabescos, embora assistemáticas e sem preocupações geométricas, como nesses Caminhos:


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Não lhe escapa, no entanto, um certo figurativismo, nascido da observação de seu entorno, de seu universo pessoal, com grande carga de elementos que transitam entre o sonho e o mítico, como os que se notam em


Ás de Copas
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Vaqueiros
 
 
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Mariamiranda
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e na belíssima                                      
Colombina

 
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Essa espécie de expressionismo lírico, despojado e até mesmo informal, (eu deveria dizer naïf) em sua abordagem técnica, pode sim, ser chamada de a/rabiscos (não apenas rabiscos!), posto que são verdadeiros arabescos intuitivos, mas, de surpreendente beleza, principalmente nos que lembram o que eu chamo de vitrais abstratos, tais como

Andaimes,
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ou em Olhares


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A reiteração de certas composições e traços trazem uma certo ritmo ao seu tracejado, uma musicalidade espontânea, lúdica, casual, que, nos leva à percepção das imensas possibilidades dessa obra, que permeia as mais imprevistas nuanças de uma ars poética, onírica e surreal,

como se vê neste impactante The Wall
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Mais desse abstracionismo lírico os leitores hão de encontrar no blog AbARCA,
que navega serena e altaneira, levada pelas mãos desse artista bissexto e simples,
que guarda um estilo próprio dos grandes mestres.


Um abraço, Manel.


Eurico
setembro/2012

***

P.S.:
Estamos trabalhando juntos em um projeto que vai unir o meu inédito Ser Tão Profundo ao talento do amigo Emanuel.

(Source: euliricoeu.blogspot.com)

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Marina Silva - um símbolo do Brasil

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“-Estavam ali, a rainha e as autoridades do mundo todo… ali pensei em Deus e nos brasileiros, pensei no simbolísmo de ali estarem duas mulheres, eu a e presidente Dilma, representando todo o povo brasileiro, e isso sem importar se é da oposição, se é da situação. Era a representação do Brasil em duas mulheres…”   Marina Silva
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Leymah Gbowee - Nobel da Paz e Marina, símbolos do mundo sustentável
Fonte do texto e das imagens:

FLUSSER CITA CHICO

NOSSA ESPERA

IN: Flusser, V., Pós-História, vinte instantâneos e um modo de usar, São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1983.

 

“A sociedade pré-industrial esperava por colheitas, a industrial pelo progresso. Atualmente não é a espera, é o receio que nos caracteriza. As três sociedades têm três climas existenciais distintos com relação à experiência do tempo: o clima da agricultura é o da paciência, o da indústria é o da esperança, o nosso é o do tédio. Na agricultura há dois períodos: o da ação estival, e o da passividade invernal que é espera. Na indústria há transformação progressiva do ambiente, e espera-se que tal transformação seja aperfeiçoamento. Atualmente esperamos que os aparelhos funcionem conforme programa. Tal tipo de espera é relativamente novo, e merece ser observado fenomenologicamente. Com o propósito de captar nossa vivência do tempo.

Para se poder viver na sociedade pós-industrial, é preciso que se disponha de “documentos”. Trata-se de símbolos que permitem ao aparelho verificar em qual das repartições o portador está funcionando. Todo “cidadão” tem direito a tais documentos, e o aparelho tem obrigação a fornecê-los. Mas “direito e obrigação” são categorias políticas, tornadas anacrônicas pela funcionalização da sociedade. Não mais funcionam. De modo que quem necessitar de documentos precisa executar determinados gestos apropriados ao funcionamento dos aparelhos. O aparelho competente deve ser alimentado com determinados papéis cobertos de símbolos, chamados arcaicamente “requerimento”, na espera que vomite o documento visado. Está programado para fazê-lo. Tais requerimentos devem ser preenchidos em obediência às regras de jogo do aparelho. Tais regras são formais, e nada têm a ver com o documento em causa. Os papéis do requerimento devem ter determinado tipo, os papéis devem conter determinadas perguntas impressas, e devem ser respondidas em estilo determinado. Tais papéis, chamados “formulários”, devem ser obtidos em determinadas aberturas do aparelho, e, para obtê-los, é preciso que se os requeira. De maneira que a circularidade em espiral do funcionamento revela sua regressão absurda ao infinito. Na prática, no entanto, os formulários são vomitados pelo aparelho com relativa suavidade. Preenchidos os formulários, e alimentados em abertura específica de input, o requerente espera pelo funcionamento programado: pela ejeção do documento requerido por abertura de output.

O gesto do requerente tem estrutura “staccato”: todo movimento é seguido de “pausa”, de espera. Trata-se de gesto característico da automação, tem caráter quântico do tipo “bit”, e constitui mosaico de atos. É constituído de “actomas”. Por exemplo: determinados requerimentos exigem seres munidos de fotografia. As fotografias são vomitadas por aparelhos especializados , chamados “fotomatos”. Estes fornecem fotografias programadas: de formato, cor, fundo, e iluminação programados. O funcionamento do fotomato se passa da seguinte maneira:

São eles caixas pretas munidas de fendas. Numa das fendas é colocada moeda. Isto provoca que se acenda luz que permite ao requerente infiltrar-se em outra fenda. Encontra-se ele agora em cela reminiscente de prisão, e munida de cadeira reminiscente de tortura. O requerente senta na cadeira em atitude programada, e aperta botão que está ao alcance de seu braço. Em seguida sorri idioticamente em direção da parede, e espera até que uma lâmpada lá localizada pisque ironicamente três vezes. Depois se evade da caixa e espera no exterior por dois minutos. No exterior da caixa está colado um modo de usar que lhe informa do tempo de espera. Se a caixa funcionar conforme programa, passados os dois minutos aparecem em outra fenda três fotografias, ainda molhadas de suco aparelhístico, e o requerente as recolhe. Em seguida anexa as ao requerimento.

Seria absurdo querer contemplar as fotografias. São elas tecnoimagens cuja mensagem se dirige, não ao retratado ou pessoa “física” qualquer, mas ao aparelho. Igualmente absurdo querer sacudir a caixa, se esta não funcionar conforme o programa. Todo ato revolucionário seria absurdo. O que é preciso fazer-se em tal caso é requerer a outra repartição do aparelho, a funcionário especializado, que se faça com que o formato funcione.

O que importa em tal observação é a constatação do fato que às fendas no aparelho correspondem fendas no gesto: fendas de tempo. O gesto tem a estrutura em “bits” do programa do aparelho: há nele intervalos. Tais intervalos são tempos de espera. Pois para consciência histórica, processual, tais intervalos são dificilmente suportáveis. Parecem vazios. Não concedem lugar nem à paciência, nem à esperança. Embora em casos extremos a vida do requerente possa depender do funcionamento do fotomato, por exemplo, quando se trata da obtenção de passaporte que permita escapar às ameaças de um aparelho policial, o intervalo de dois minutos não pode ser preenchido de esperança. É tediosamente longo. Tal tédio independe da extensão objetiva do intervalo. Objetivamente, o fotomato abrevia o tempo entra a tomada da fotografia e sua produção ainda mais radicalmente que o concorde abreviou o tempo entre S. Paulo e Londres.

Mas tal progresso objetivo é existencialmente sem interesse, em ambos os casos. O que importa existencialmente que, em ambos os casos, o intervalo seja tempo vazio, parado, o nunc stans dos antigos. Que proporcione a sensação do nada. O tédio é experiência temporal característica do funcionamento.

Tal é a forma atual da espera. Intervalo tedioso, sem paciência nem esperança. Miniaturização da morte. Pois é obvio que tal experiência temporal nova exige que elaboremos novos modelos do tempo.

Na sociedade agrária o tempo é ciclo: o eterno retorno de semeadura-colheita-semeadura, dia-noite-dia. Nascimento-morte-renascimento. O tempo circula no espaço e ordena as coisas. Repõe ele as coisas no seu lugar justo, do qual se afastaram. Afastar-se é injustiça, “adikia”. O homem, ao viver, desloca as coisas. Comete injustiças. O tempo circular, o destino, recoloca tudo na ordem preestabelecida. Recrimina. Castiga. Se o homem quiser escapar ao castigo merecido, deve sacrificar, pagar multas. Vive magicamente. O tempo circular não dá lugar à causalidade. O dia é causa da noite e efeito da noite. Tanto vale dizer que o sol desperta o galo, quanto dizer que o galo desperta o sol: o modelo circular do tempo é mítico.

Na sociedade industrial o tempo é reta. Sequência de eventos que fluem univocalmente, e que jamais se repetem. Nenhum dia é repetição do precedente, toda colheita é singular, e se há vida depois da morte será diferente da que conhecemos. O tempo linear é “histórico”: progride rumo ao novo. Provêm do passado e demanda o futuro. Ao fluir, arrasta as coisas consigo. Todo momento perdido é oportunidade perdida. Todo momento urge. Todo ato cometido é irreparável. Será causa de efeitos imprevisíveis, mas necessários, isto é: irrevogáveis. Nada é, tudo se torna. Por isso não há presente. O presente não passa de um ponto sem dimensão na reta do tempo. Já passou ao ter advindo. É o tempo da vida histórica, e seu modelo é a causalidade.

Na sociedade pós-industrial o tempo é o abismo. Vórtice do presente que suga tudo. O presente é a totalidade do real. Nele todas as virtualidades se realizam. Se “apresentam”. E o presente está armado. Onde quer que esteja eu, lá é o presente. Tudo advêm ao presente, tudo se apresenta. O tempo não mais flui do passado rumo ao futuro, mas flui do futuro rumo ao presente. E o futuro não está mais na ponta de uma reta: é ele o horizonte do presente, e o cerca de todos os lados. Por onde quer que olhe, lá, está o futuro. Não há mais progresso, nem vanguarda. Todo ato é gesto pelo qual alcanço o futuro para apresentá-lo. Em não importa que direção que aja. E não há passado no significado do modelo linear: o que advém não é o ontem, mas o amanhã. O passado não é senão aspecto do presente. As coisas apresentadas são guardadas no presente. Tal armazém presente é “passado” em dois sentidos: está disponível (memória), ou indisponível (recalque). O passado está presente nessas duas formas. “De maneira que não serve para explicar o presente; o presente é que o explica”.

Pois esta é a dinâmica do modelo pós-industrial do tempo: Onde estou eu, lá está o presente. Eu sou vórtice que suga futuro para apresentá-lo e transformá-lo em passado. Eu sou o abismo dentro do qual o tempo se precipita. Eu sou vacuidade. E vivencio tal vacuidade que sou quando nada se apresenta. Durante os intervalos do meu funcionamento. Podemos visualizar tal modelo, como podemos visualizar os modelos precedentes. Um modelo agrário é visualizável como orbita do sol e da lua. O tempo industrial é visualizável como rio. O tempo pós-industrial é visualizável como campo magnético. E o tédio é visualizável como campo magnético do qual foram retiradas as limalhas de ferro. Dada a nossa experiência do tempo, tal modelo se impõe em todos os campos. É o modelo cibernético do tempo.

O fundamento do modelo é a experiência da espera em tempo vazio. Que é a experiência da nossa própria vacuidade. A análise existencial heideggeriana e sartriana procura um capital. Procuram mostrar que a existência cercada de coisas cheias, demasiadamente cheias de si e que se precipitam nossa carência adentro. Mas tais análises não captam, como o faz a camusiana, o absurdo da vacuidade. Sugerem que o tempo de espera é “disponibilidade” seguida de “decisão” e de “engajamento”. A experiência com o fotomato desmente tal análise da espera. Ao esperarmos destarte somos disponíveis para o aparelho. Nada podemos decidir, e todo engajamento, em prol ou contra o aparelho seria absurdo. A espera é vivenciada como tédio, precisamente por ser intervalo absurdo em funcionamento absurdo.

A espera, o tempo parado, revela que somos fenda. Ao enfrentarmos o nada, descobrimos que nada somos. Que tanto Eu como mundo são extrapolações abstratas da concreticidade da experiência do nada. Na espera fazemos “époché” no sentido husserliano. Pois em tais instantes captamos a função dos aparelhos. Funcionam para preencher as fendas que somos. Já que a experiência da vacuidade é a experiência da morte, podemos reformular a função dos aparelhos. Funcionam para diverti-los da experiência da morte. Nas fendas de tal funcionamento a morte reaparece sob forma de tédio. E os aparelhos bombardeiam o tédio com sensações, a fim de reprimi-lo. O tédio é o inimigo do funcionamento porque o desmascara. O tédio é a desmistificação do aparelho.

Há uma “bossa nova” que canta funcionário que espera pelo trem, enquanto sua mulher o espera com o jantar, e na sua barriga espera o filho para nascer e esperar o trem. Tal é a descrição fenomenológica da espera em tempo de funcionamento. É isso que esperamos e que nos espera. É isto que calculam os futurólogos e que os planejadores programam, mas, obviamente, tais cálculos e programas não podem contar com o inesperado. Mal grado as teorias das catástrofes, o inesperado é imprevisível. E todo inesperado é terrificante. Pois apenas o inesperado pode transformar a nossa forma atual de espera. De modo que esperamos que o inesperado, a catástrofe, aconteça. Esperamos pelo que nos aterroriza. Em tal espera, Esperança e receio se amalgamam. Tal é o fundamental “equilíbrio do terror” sob o qual vivemos.”

DA OTICA

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-ou,  para uma teoretica do sensivel-
 
 
Quando um poeta diz
bonina
diz/simulando,  apenas,
esse mundo sensível,
em que habita
dos olhos a menina.

Seria a poesia
a mera luz sobre a retina?

Quando um poeta diz
grená
e o som acaba
de brotar,
bruto,
dos lábios,
trata-se do inútil traduzir
o que há
nos pequeninos vasos
que irrigam isso que se chama
olhar

Poesia é só o sangue a/tingindo um capilar?

Quando um poeta diz
magenta
eis que algo na massa cinzenta,
talvez um nervo-estético,
acorda em nós,
uma voz num vão secreto:
é a genetriz da cor,
a mãe,
a cor-da-cor…

Poesia
é só o ser sensível
que transborda e
acorda?

[Acorda]


Fonte da imagem:
Os nomes e as cores
Scienceblogs.com.br

(Source: euliricoeu.blogspot.com)

navalhai:

“a fim de fazer jus ao nome dessa bodega, desci até a empoeirada casa de máquinas (um porão escuro, abafado e entulhado de scripts) atrás de um conjunto de ferramentas cortantes pra compartilhar com vocês.

desde 2008 venho escrevendo esses programinhas pra fazer cut-ups em arquivos TXT. então resolvi compilar seis deles no que chamei de CUT-UP/BRICOLEUR TOOLKIT. é pra rodar magickamente em qualquer linux/bash (e com algum empenho e artimanhas que desconheço, deve rodar em outros sistemas também).

por exemplo: o vídeo acima, trecho deste documentário sobre o grão-mestre William Seward Burroughs II, mostra uma das técnicas de cut-up preferidas do velho junky, que procurei emular no script cutup1.sh. os outros cinco scripts realizam cortes diferentes e específicos: informações mais detalhadas e instruções de uso estão na página máquinas cut-up e no README.

e eis que já ia saindo, quando, antes de apagar a luz, notei o calço da prateleira: em 2010, por ocasião de uma disciplina de “sociologia da cultura”, escrevi este breve ensaio intitulado Dadaísmo & Bricolagem: os cut-ups de William Burroughs. é uma apresentação do método cut-up, relacionado com alguns pensamentos de Simmel, Benjamin & Lévi-Strauss. e acho que serve bem como introdução ao tema.

boas colagens a todos.”

Nota: no caso de algum link acima falhar clique em Bruno Cardoso

5 notes

nos10ata:
“ “Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um...

nos10ata:

“Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração”


Luiza: Tom Jobim

Vincent van Gogh: La Nuit étoilée, Cyprès et village

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