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Homens
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E-book52 páginas28 minutos

Homens

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ENFIM, A SÓS

De A a Z, homens de todos os tipos. Para todos os gostos. Reunidos em um mesmo livro. Escrito por uma mulher que sabe o que quer. Solta o verbo na medida. Certa e concisa.
Sylvia Loeb é minha amiga. Ainda bem. Explico: a agudeza com que ela mergulha no universo masculino. Na alma do macho ferido. Do macho amado. Machucado. Uma galeria viril de personagens líricos.
Sim, não é uma reunião de contos raivosos. Vingativos. É um novo olhar lançado. Com precisão e delicadeza. Inclusive ao próprio universo feminino. Sem ser – longe de ser – prosa de "mulherzinha", aviso. E digo: é literatura das boas. Essa que vai nos levando por outros caminhos. Inaugurando, a cada frase, outros sentidos.
Lê-se rapidinho. De Adão a Zenon é um salto. Às vezes mortal, às vezes apenas um salto. De carinho. É um livro afetivo, creio. Um testamento para todos os sexos.
Lembra-me, de alguma forma, escritoras como Ivana Arruda Leite,
que escreveu Falo de Mulher. Ou até as Mulheres geradas por Eduardo Galeano. Sylvia, nesta sua mais que bem-vinda criação, filia-se a esses dois autores, digamos, no que há de melhor neles: pensamento, provocação, evocação.
E sensibilidade à pele, ao toque, ao desmanche.
Livro para deixar qualquer leitor nu. Explico: a cada uma das mininarrativas, foi esta a sensação que eu tive durante a leitura. A de que a autora, misteriosamente, e com que requinte, veio e
tirou, sem medo, a roupa de todos nós.
Homens, humanos, enfim, a sós.

Marcelino Freire
IdiomaPortuguês
Editorae-galáxia
Data de lançamento14 de jun. de 2017
ISBN9788584741670
Homens

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    Homens - Sylvia Loeb

    ADÃO

    Era guarda, égide, fiscalizava, tutelava e escoltava. Adão tinha espírito protetor e dava precedência a alta simetria nas ações. Esse seu mote, sua lei. A frase de Rui Barbosa, pregada na parede do quarto, em frente à cama, o mantra, a luz que o guiava: Para não arrefecerdes, imaginai que podeis vir a saber tudo; para não presumirdes, refleti que, por muito que souberdes, mui pouco tereis chegado a saber. Desempenhar com tanta ciência, adquirir conhecimento exigia dedicação extrema. Na rua aprendeu a língua dos malandros: maloca, não dar mancada, perereca, que é boceta, meter a ronca, pagode, que é farra de arrebentar. Mão de gato, mumunha, parangolé, mocorongo, morar no assunto, manerar, pato, que é otário, pegar um pifa, que é cair de bêbado. Jabaculê, lanterna, lourinha, vamos tomar uma? Fica na moral, vaza daqui, treta, sentar o dedo, que é dar um tiro, cabuloso, o mesmo que sensacional. Cabaço, biroba, barão. Tinha ouvido falar de Cérbero, figura da mitologia grega, cão monstruoso de múltiplas cabeças e cobras ao redor do pescoço que guardava a entrada do reino subterrâneo dos mortos. Identificou-se inteiramente com ele. Poderoso e temível como o monstro, a missão de Adão era assegurar paz, tranquilidade e confiança. Especialista em vários assuntos, sabia reconhecer os efeitos das drogas no organismo do elemento: vermelhidão nos olhos, boca seca, taquicardia. Em vez de prender e espancar dava conselho – a droga tinha o poder de broxar o elemento, o que de modo geral era ouvido com impacto. Não adiantava falar em câncer do pulmão ou atraso nas faculdades mentais; ia direto aos colhões e aí percebia que havia alta simetria nas ações: repressão e medo. Se avaliasse periodicamente os efeitos do método, talvez se decepcionasse, pois tudo indicava que os pivetes voltavam às suas práticas. Nas batidas dos puteiros ou nas vigílias de rua, abordava as mulheres de modo severamente paternal. Sempre o mesmo método: conselhos e ameaças, receita eficaz. Elas sentiam-se protegidas e intimidadas, não poucas se apaixonavam por ele. Quando estava enamorado, procurava saber dos antecedentes criminais da moça: ficha de saúde, exames médicos, relacionamentos anteriores. Encontrou Jakeline, que, além de não lhe fornecer os exames pedidos, tinha passagem pela polícia – furtos, prostituição; não possuía carteira de trabalho nem residência fixa. Magrinha, tímida, de fala infantil,

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