Um conto de Natal
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Sobre este e-book
Charles Dickens
An international celebrity during his lifetime, Charles Dickens (1812–1870) is widely regarded as the greatest novelist of the Victorian era. His classic works include A Christmas Carol, Oliver Twist, David Copperfield, Great Expectations, and A Tale of Two Cities, one of the bestselling novels of all time. When Dickens was twelve years old, his father was sent to debtors’ prison, and the boy was forced to work in a boot-blacking factory to support his family. The experience greatly shaped both his fiction and his tireless advocacy for children’s rights and social reform.
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Avaliações de Um conto de Natal
3 avaliações1 avaliação
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Conheci a história através do filme da Disney. Gostei muito do conto, pois ele propõem que façamos uma reflexão sobre nossas atitudes, consciência social e modo de viver. Antes tarde do que nunca!
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Um conto de Natal - Charles Dickens
Prefácio
Neste pequeno livro fantasmagórico, eu me esforcei para dar uma ideia dos fantasmas, mas não para deixar os meus leitores abalados consigo mesmos, nem com os outros, com a estação do ano, ou comigo. Que eles possam assombrar a casa de vocês de forma agradável e que ninguém queira se livrar deles.
Do amigo fiel e servo de todos vocês,
Charles Dickens, dezembro de 1843.
CAPÍTULO I
O fantasma de Marley
Para começo de conversa, Marley estava morto. Não havia dúvidas quanto a isso. Sua certidão de óbito foi assinada pelo pastor, pelo escrivão do cartório, pelo agente funerário e pelo coveiro. Scrooge – o sovina – também assinou, e olha que na Bolsa de Valores o nome de Scrooge era muito bem aceito em qualquer papel que ele assinasse. O velho Marley estava tão morto quanto a maçaneta de uma porta.
Calma! Isso não quer dizer que eu saiba, por experiência própria, o que poderia haver de particularmente morto na maçaneta de uma porta. Talvez fosse mais adequado considerar a alça do caixão a peça de metal mais funesta do comércio. Mas a sabedoria dos nossos antepassados está em fazer analogias desse tipo e as minhas mãos profanas não devem mudar isso, ou o país estará perdido. Assim, vocês me permitam que eu repita, enfaticamente, que Marley estava tão morto quanto a maçaneta de uma porta.
Mas será que Scrooge sabia que ele estava morto? Claro que sabia. Como poderia ser diferente? Scrooge e ele foram sócios por não sei quantos anos. Scrooge era seu único executor testamentário, o único administrador de seus bens, seu único representante legal, seu herdeiro universal, seu único amigo. Além disso, foi a única pessoa que vestiu luto por ele. E, ainda assim, nem o próprio Scrooge ficou tão imensamente arrasado por causa do triste acontecimento, tanto que, como bom negociante que era, no dia do funeral aproveitou solenemente o fato para fazer o enterro por uma irrecusável pechincha.
A menção ao funeral de Marley me leva de volta ao ponto de partida. Não restam dúvidas de que Marley estava morto. Isso precisa ser entendido claramente, ou nada de espantoso poderia acontecer na história que eu vou contar. Se não estivéssemos perfeitamente convencidos da morte do pai de Hamlet antes da peça de teatro começar, não haveria nada de mais em ele dar um passeio à noite, em meio ao vento que soprava do leste, em suas próprias muralhas, como qualquer outro cavalheiro de meia-idade despreocupado, que de repente saísse para tomar um pouco de ar fresco – digamos, no cemitério de Saint Paul, por exemplo – depois de escurecer, só para, literalmente, surpreender a mente fraca de seu filho.
Scrooge nunca apagou o nome do velho Marley gravado na placa acima da porta do estabelecimento comercial deles. Anos depois, lá estava: Scrooge & Marley. Considerando que a firma ficou conhecida como Scrooge & Marley, às vezes, os clientes novos chamavam Scrooge de Scrooge e, às vezes, de Marley. Mas ele respondia aos dois nomes, pois, para ele, era tudo a mesma coisa.
Pois bem! Mas Scrooge era tremendamente sovina e mão-fechada. Ele era um velho pecador que adorava cobiçar, cercar, acuar, agarrar, apertar e extorquir. Duro e insensível como uma pedra de amolar, de onde nem o aço consegue tirar a menor faísca, discreto, independente e solitário como uma ostra. A frieza dentro dele congelava suas feições envelhecidas, empinava seu nariz pontudo, enrugava suas bochechas, enrijecia seus passos, tornava seus olhos vermelhos, deixava azulados seus lábios finos e se manifestava externamente pelo tom de voz irritante do seu jeito astuto de falar. Um ar gelado cobria-lhe permanentemente a testa, as sobrancelhas e envolvia seu queixo duro. Ele carregava sempre e por toda parte sua própria frieza. Ele resfriava seu escritório nos dias de calor e não o esquentava um grau nem no dia do Natal.
O calor e o frio externos tinham pouca influência sobre Scrooge. O calor do verão não o aquecia e o frio de inverno não o esfriava. Nenhuma rajada de vento soprava mais inclemente do que ele. Nunca uma avalanche despencou mais diretamente sobre o que encontrasse pela frente e não havia chuva intensa mais desagradável. Não havia tempo ruim que pudesse superá-lo. A chuva mais pesada, a neve, a geada e o granizo podiam se gabar de terem vantagem sobre ele em um único aspecto: muitas vezes, caíam generosamente
. Entretanto, Scrooge não conhecia o significado da palavra generosidade
e jamais se comportava dessa maneira.
Ninguém o parava na rua para cumprimentá-lo, com olhar alegre: Meu caro Scrooge, como vai você? Quando vai nos visitar?
. Nenhum mendigo lhe pedia esmolas, nenhuma criança perguntava as horas a ele, nenhum homem ou nenhuma mulher alguma vez em toda a vida lhe perguntaram o caminho para esse ou aquele lugar. Até os cães-guia dos cegos pareciam conhecer e evitar Scrooge. Quando o viam chegando, puxavam seus donos para os becos e as portas de entrada recuadas, e então abanavam os rabos como se dissessem: É melhor não enxergar do que ter o mau-olhado de um mestre das trevas!
.
Scrooge, porém, não se importava com essas coisas, pois era exatamente disso que ele gostava. Seguir solitário por caminhos cheios de vida, avisando a toda simpatia humana para se manter a distância, era o que Scrooge e especialistas chamavam de dar a mínima
.
Certo dia – na véspera de Natal, o melhor de todos os dias do ano –, o velho Scrooge estava sentado, fazendo a contabilidade em seu escritório. Fazia um frio intenso e cortante. O tempo estava nublado e sombrio. Ele escutava as pessoas indo e vindo de um lado para o outro no beco do lado de fora, assoprando os dedos, esfregando as mãos no peito e batendo os pés nas pedras do calçamento para se aquecerem. Os relógios da cidade tinham acabado de badalar três horas, mas já estava anoitecendo – o dia todo havia sido escuro – e velas eram acesas nas janelas dos escritórios vizinhos, como manchas avermelhadas no ar escurecido e quase palpável desse entardecer. O nevoeiro entrava por todas as frestas e buracos das fechaduras. Era tão denso lá fora que, embora a viela fosse muito estreita, as casas do lado oposto pareciam meros fantasmas. Ao ver essa nuvem encardida baixar, escondendo tudo, alguém poderia achar que a natureza estava passando mal e que uma tempestade em larga escala estava se formando.
A porta da sala do escritório onde Scrooge fazia a contabilidade estava aberta para que ele pudesse ficar de olho em seu empregado, que copiava cartas em uma pequena e tristonha saleta, um cubículo mais parecido com uma cacimba, quase uma alcova. Scrooge mantinha aceso o fogo bem fraco em seu aquecedor, mas o braseiro do empregado era tão minguado que parecia ter apenas a brasa de um carvão, pois ele não conseguia reabastecê-lo. Scrooge guardava o balde de carvão em sua própria sala e cada vez que o empregado entrava com a pá, o patrão ameaçava demiti-lo. Assim, o empregado se enrolava no cachecol branco e tentava se esquentar no calor da chama da vela. Mas, como se pode imaginar, esse esforço era em vão.
– Feliz Natal! Deus o abençoe, tio! – uma voz alegre exclamou.
Era o sobrinho de Scrooge, que entrou tão rapidamente que esse foi o primeiro sinal que ele teve de sua chegada.
– Bolas! – Scrooge rosnou. – Bobagem!
O sobrinho de Scrooge estava tão aquecido pela rápida caminhada em meio ao nevoeiro e à geada, que seu rosto corado e bonito brilhava, seus olhos faiscavam e sua respiração ainda soltava fumaça de vapor.
– O Natal é bobagem? – o sobrinho de Scrooge estranhou. – Tem certeza de que está dizendo isso?
– Tenho! – Scrooge prosseguiu. – Feliz Natal… Que direito você tem de ser feliz? Que motivo você tem para ser feliz? Você não passa de um pobretão.
– Muito bem! – o sobrinho retrucou alegre, sem se abalar. – Que direito o senhor tem de ser triste? Que razão tem para ser rabugento? O senhor é muitíssimo rico.
Sem ter melhor resposta pronta para retrucar ao impulso do momento, Scrooge repetiu bah
, seguido de bobagem
.
– Não fique zangado, tio! – o sobrinho emendou.
– Como eu não poderia ficar, quando vivo num mundo de tolos como você? – revidou o tio. – Feliz Natal
! Fora com essa história de Feliz Natal
! O que é a época do Natal para você, senão a hora de fazer despesas sem ter dinheiro para pagar as suas contas? É tempo de perceber que você ficou um ano mais velho e nem um segundo mais rico! É o momento de fazer o balanço das suas contas e ver que todos os itens referentes aos últimos 12 meses aparecem negativos e contra você. Ah! Se eu pudesse fazer o meu testamento… – Scrooge argumentou, indignado. – Todo idiota que brinca com Feliz Natal
nos lábios deveria ser fervido na calda do seu próprio pudim e enterrado com uma estaca de pinheirinho cravada no coração. Deveria mesmo!
– Tio! – o sobrinho exclamou, indignado.
– Sobrinho! – o tio respondeu com firmeza – Comemore o Natal do seu jeito e deixe-me comemorá-lo do meu.
– Comemorar do seu jeito… – o sobrinho de Scrooge repetiu. – Mas o senhor não o comemora